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173 Recurso de Agravo de Instrumento

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Excelentíssimo Doutor Desembargador Presidente do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
M. A. da S., brasileira, solteira, aposentada, portadora do RG 0.000.000-SSP/SP e do CPF 000.000.000-00, titular do e-mail mas@gsa.com.br, residente e domiciliada na Rua Manoel Joaquim Ferreira, nº 00, fundos, Jardim Juliana, cidade de Mogi das Cruzes-SP, CEP 00000-000, por seu Advogado que esta subscreve (mandato incluso), com escritório na Rua Francisco Martins, nº 00, Centro, Mogi das Cruzes-SP, CEP 00000-000, onde recebe intimações (e-mail: gediel@gsa.com.br), vem respeitosamente à presença Vossa Excelência, não se conformando, data venia, com a r.decisão do Meritíssimo Juiz de Direito da Vara da Fazenda Pública do Foro de Mogi das Cruzes, expedida nos autos do processo que move em face de Município de Mogi das Cruzes, da mesma agravar por instrumento, com pedido liminar, observando-se o procedimento dos arts. 1.015 a 1.020 do Código de Processo Civil, em conformidade com as inclusas razões.
Para tanto, junta cópia de TODO O PROCESSO de primeiro grau (petição inicial; procuração ad judicia; documentos pessoais; declaração de pobreza; decisão agravada; certidão de intimação). Observa, ademais, que agravado deve ser intimado na pessoa de sua Procuradora, Dra. F. C. L. A., OAB/SP 000.000, com escritório junto à Secretaria Municipal de Assuntos Jurídicos, situada na Avenida Narciso Yague Guimarães, nº 00, Centro Cívico, Mogi das Cruzes-SP, CEP 00000-000, que não juntou instrumento de procuração por estar legalmente dispensada.
O subscritor da presente declara, sob as penas da lei, que as cópias que formam o presente instrumento conferem com o original (art. 425, IV, CPC).
Requer a concessão dos benefícios da justiça gratuita, por ser pessoa pobre na acepção legal do termo, conforme declaração de pobreza já juntada aos autos principais e reproduzida neste instrumento.
Requer, por fim, seja o presente recurso recebido e regularmente processado.
Termos em que
p. deferimento.
M.Cruzes/São Paulo, 00 de junho de 0000.
Gediel Claudino de Araujo Junior
OAB/SP 000.00
RAZÕES DO RECURSO
Processo nº 0000000-00.0000.0.00.0000
Ação de obrigação de fazer
Vara da Fazenda Pública do Foro de Mogi das Cruzes
Agravante: M. A. da S.
Agravado: Município de Mogi das Cruzes
Egrégio Tribunal
Colenda Câmara
Dos fatos:
Em 00 de dezembro de 0000, a agravante ajuizou ação de obrigação de fazer cumulada com preceito cominatório em face do Município de Mogi das Cruzes asseverando, em apertada síntese, de que era portadora de doença auditiva e que não possuía condições financeiras para adquirir aparelho auditivo necessário para seu tratamento de saúde; impossibilitada, como se disse, de comprar o aparelho auditivo fez requerimento administrativo junto ao Município de Mogi das Cruzes, onde reside. Após aguardar por meses, a recorrente recebeu resposta negativa. Inconformada, a paciente buscou a tutela jurisdicional requerendo fosse, em liminar, o Município obrigado a lhe fornecer o aparelho necessário ao seu tratamento.
Recebida a exordial, o douto Magistrado de primeiro grau determinou a emenda da exordial, com escopo de incluir a Fazenda do Estado de São Paulo no polo passivo da ação. Inconformada, a requerente agravou da referida decisão.
Em juízo de retratação, o Juiz a quo deferiu a liminar, fls. 37/38, determinando que o réu, Município de Mogi das Cruzes, fornecesse no prazo de 10 (dez) dias o aparelho auditivo à requerente, conforme orientação médica, sob pena de multa diária no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais).
Intimado da r.decisão, o réu peticionou nos autos, fls. 48/49, argumentando sobre a impossibilidade de atendimento da ordem judicial e informando, ainda, sobre Programa de Órtese e Prótese que mantinha em parceria com o Estado, dizendo que com escopo de cumprir a ordem judicial por este meio tinha inscrito a paciente no referido programa, marcando-se avaliação na Santa Casa de São Paulo para o dia 00.00.0000.
Diante dos argumentos da agravada, o douto Magistrado de primeiro grau reformou sua decisão, fls. 53, a fim de aceitar que o cumprimento da liminar, ou seja, a entrega do aparelho auditivo, se desse por meio do referido programa.
Não obstante as suas muitas dificuldades de locomoção, a agravante compareceu na referida consulta; aguardou por horas, foi maltratada e finalmente recebeu a notícia de que seria incluída em lista de espera (mais uma).
Tais fatos foram informados ao Juiz, fls. 90/91; contudo este ao invés de se compadecer da requerente, vítima, mais uma vez, das mazelas da burocracia estatal, preferiu REFORMAR, mais uma vez, a sua decisão agora simplesmente para INDEFERIR O PEDIDO LIMINAR, declarando que o laudo médico juntado aos autos não era bastante para aferir a necessidade do uso do aparelho.
Em resumo, estes os fatos.
Da liminar:
Ab initio, consoante permissivo do art. 1.019, I, do Código de Processo Civil, requer-se seja deferido o efeito ativo ao presente recurso, com escopo de conceder a tutela provisória, no sentido de DETERMINAR ao Município de Mogi das Cruzes que forneça o aparelho auditivo indicado pelo médico da paciente no prazo improrrogável de 20 (vinte) dias, sob pena de responder por multa diária de R$ 500,00 (quinhentos reais), valor este a ser sequestrado das contas municipais a fim de custear o aparelho auditivo. Este pedido se justifica na medida em que a mantença, mesmo que momentânea, da respeitável decisão guerreada, implicará em sérios prejuízos para a recorrente.
Inegável a presença do fumus boni juris, em razão das reiteradas decisões deste Egrégio Tribunal sobre o tema, sempre no sentido de reconhecer a obrigação do ente público de fornecer ao cidadão os meios necessários ao seu tratamento de saúde; já o periculum in mora se apresenta na simples percepção de que a paciente tem seu estado de saúde agravado dia a dia pela impossibilidade do uso do referido aparelho.
Registre-se, ainda, que a atitude dúbia do ilustre Juiz de Primeiro grau, que vem se curvando aos frágeis argumentos da agravada, tem aumentado dia a dia os riscos de piora da saúde da paciente, uma senhora de 74 (setenta e quatro) anos de idade, que é obrigada a conviver com uma alta campainha na sua cabeça em razão da falta do aparelho auditivo. Não se deve olvidar que ela espera nas filas da burocracia oficial, seja da Prefeitura, seja do Estado, há mais de 6 (seis) anos.
Ela está ficando louca (a campainha na sua cabeça é insuportável); mas quem não estaria nessas circunstâncias?
Do mérito:
A respeitável decisão guerreada não pode permanecer. Ao fundamentá-la, o douto Magistrado de primeiro grau argumentou que se faz necessária a realização de perícia para verificação da necessidade da autora em fazer uso desse aparelho.
Ora, a Dra. C. S. de S., médica Otorrinolaringologista, CRM-SP 00000, do Ambulatório Médico de Especialidades Maria Zélia, da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, declarou, COM TODAS AS LETRAS, que a paciente M. A. de S. tem perda auditiva neurossensorial com indicação de uso de aparelho auditivo, fls. 12.
Diante do referido laudo, qual novidade espera o douto Magistrado de um novo laudo? Uma declaração de que há casos mais graves e que, portanto, a Sra. M. pode esperar na fila por mais alguns anos?
Com certeza há casos mais graves, que devem e precisam ser atendidos, mas isso em nada muda o direito da agravante, uma senhora de 74 (setenta e quatro) anos de idade, que convive com uma alta campainha na sua cabeça; ela precisa, segundo a sua médica, e tem o direito, segundo a Constituição Federal, de ter o aparelho agora.
Oportuna a citação das palavras do eminente Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Dr. José Luiz Gavião de Almeida, proferidas no recente julgamento da Apelação nº 0004581-61.2011.8.26.0038 (DJ 19.02.2013), in verbis: “nem se diga que o aparelho requerido não seria necessário ou poderia ser substituído por outro, pois o médico que assiste o paciente, acompanhando a evolução da doença, é que tem aptidãopara avaliar e prescrever o que entende ser o mais adequado, pouco importando se faz parte do quadro de servidores públicos, ligados ao SUS, ou não” (grifo nosso). 
Não se deve, ainda, argumentar sobre eventual irreversibilidade da decisão que concede a liminar, visto que o aparelho pode ser devolvido. Nesse sentido a lição do ilustre Desembargador deste Egrégio Tribunal, Dr. Urbano Ruiz, expressa no julgamento do agravo de instrumento nº 0010769-19.2013.8.26.0000 (DJ 18.02.2013), in verbis: “Inexiste, de outra parte, o perigo de irreversibilidade, de vez que o aparelho pode ser devolvido, caso a final se comprove que a autora dele não precisa”.
Data vênia, mas o argumento no sentido de que seria necessária a realização de mais uma perícia técnica parece uma pobre desculpa de quem deseja indeferir o pedido da cidadã, mas não tem argumentos para enfrentar o forte entendimento jurisprudencial que se firmou ao longo dos anos a favor dos pacientes e contra o Estado.
Resume bem este entendimento jurisprudencial as palavras do Ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, proferida em liminar de ação intentada pelo Estado de Santa Catarina (petição nº 1.246-1): “Entre proteger a inviolabilidade do direito à vida, que se qualifica como direito subjetivo inalienável assegurado pela própria Constituição da República (art. 5º, ‘caput’), ou fazer prevalecer, secundário do Estado, entendo – uma vez configurado esse dilema – que razões de ordem ético-jurídica impõem ao julgador uma só e possível opção: o respeito indeclinável à vida”.
Resta provado nos autos que a recorrente, uma senhora de 74 (setenta e quatro) anos de idade, tem necessidade de uso de aparelho auditivo, fls. 12; provou-se, ainda, que ela não possui condições financeiras de adquirir com suas próprias forças o referido aparelho, fls. 13 e 14. Nenhuma nova perícia irá mudar estes fatos, mesmo porque não existe cura para a perda de audição.
Ante todo o exposto, requer-se o provimento do presente recurso para o fim de reformar a r. decisão do douto Juízo de primeiro grau, determinado, em antecipação de tutela, ao Município de Mogi das Cruzes que forneça, no prazo de 20 (vinte) dias, à recorrente aparelho auditivo (conforme prescrição medica), sob pena de multa diária no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais), valor este que deverá ser sequestrado das contas municipais para custear a compra e manutenção do aparelho auditivo (ambos os ouvidos).
Termos em que
p. deferimento.
M. Cruzes/São Paulo, 00 de junho de 0000.
Gediel Claudino de Araujo Junior
OAB/SP 000.00

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