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TRABALHO RELAÇÕES ETNICOS RACIAIS NO BRASIL

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CURSO DE PSICOLOGIA
DISCIPLINA RELAÇÕES ETINICO RACIAL NO BRASIL
ALUNO LUIZ H. BERTÉ
SINTESE – O ÍNDIO BRASILEIRO
FOZ DO IGUAÇU
2018
O Brasil é um país conhecido por sua diversidade e riqueza cultural, abrigando diversos povos e seus costumes, culturas e religiões, porém outrora, antes de sua colonização havia um povo que habitava nestas terras e faziam dela sua morada, os índios que chamavam esta terra de lar, hoje já não são os mesmos e sua população reduziu de maneira significativa, assim como também o país já sofreu várias modificações, em todos os sentidos.
“Estimativas demográficas apontam que por volta de 1500, quando da chegada de Pedro Álvares Cabral a terra hoje conhecida como Brasil, essa região era habitada pelo menos por 5 milhões de índios. Hoje, essa população está reduzida a pouco mais de 700.000 índios em todo Brasil, segundo dados de 2001 do IBGE. A Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e a Fundação Nacional da Saúde (FUNASA) trabalham com dados ainda muito inferiores: pouco mais de 300.000 índios.”
De modo entender mais sobre a população indígena, segundo uma definição das Nações Unidas, de 1986,
“as comunidades, os povos e a nações indígenas são aqueles que, contando com uma continuidade histórica das sociedade anteriores à invasão e à colonização que foi desenvolvida em seus territórios, consideram a si mesmos distintos de outros setores da sociedade, e estão decididos a conservar, a desenvolver e a transmitir às gerações futuras seus territórios ancestrais e sua identidade étnica, como base de sua existência continuada como povos, em conformidade com seus próprios padrões culturais, as instituições sociais e os sistemas jurídicos.”
Diante disso, e com base em dados históricos, juntamente com a evolução global, avanços da tecnologia e o Brasil como um país em desenvolvimento, é fato que muito da cultura indígena se perdeu, embora se lute muito, por parte do povo indígena, para preservação da mesma e de seu espaço, tanto geográfico, como social e consequentemente nas leis que garantam seus direitos, vemos pouco avanço.
Ainda existem povos indígenas brasileiros que estão fora dos dados levantados, segundo o IBGE são denominados “índios isolados”, já os dados da FUNASA referem-se às informações dobre as populações indígenas que vivem nas terras indígenas. Segundo dados do Sistema de Informação de Atenção à Saúde Indígena (SIASI), o contingente populacional habitante das terras indígenas reconhecidas pelo governo brasileiro e cadastrado pelo sistema é de 374.123 índios, distribuídos em 3.225 aldeias, pertencentes a 291 etnias e falantes de 180 línguas divididas por 35 grupos linguísticos (FUNASA, Relatório DESAI, 2003:3). Dos 374.123 indígenas atendidos pela FUNASA, 192.773 são homens e 181.350 são mulheres.
A partir desses dados, pode-se refletir sobre a forma isolada que se encontram os povos indígenas, considerando que sua forma de viver, seus costumes e crenças, que são consideradas estranhas em relação ao que a sociedade brasileira vivencia hoje em dia. Desde a última década do século passado o Brasil vem passando por um processo de “reetinização”, onde os povos indígenas por pressão política, religiosa e social, por discriminação, esconderam ou abdicaram de seus costumes tradicionais, de forma a se manterem na sociedade, como uma estratégia de sobrevivência, agora vem reassumindo sua identidade e retomando suas tradições indígenas. Um dos fatores que dificultam a permanência dos povos indígenas é a capacidade de acompanhar o desenvolvimento, no que tange a suprir suas necessidades básicas, como alimentação, terra para moradia e plantação, acesso à saúde, saneamento básico, escolaridade e de forma manter sua cultura. 
Com isso, a criação de organizações indígenas formais que representem os seus interesses perante a sociedade nacional de global, com influencias políticas e representantes nas câmaras do governo, de forma a garantir seus direitos e ajudar na implantação de políticas públicas, por meio das quais possam ser constituídas alianças para resolverem suas demandas, constitui um passo importante na redefinição do lugar dos povos indígenas no Brasil. A consolidação do movimento indígena, a oferta de políticas públicas específicas e a recente crescente revalorização das culturas indígenas estão possibilitando a recuperação do orgulho étnico e a reafirmação da identidade indígena. Neste sentido, os povos indígenas brasileiros de hoje são sobreviventes e resistentes da história de colonização europeia, estão em franca recuperação do orgulho e da autoestima identitária e, como desafio, buscam consolidar um espaço digno na história e na vida multicultural do país. 
Com o surgimento do movimento indígena organizado a partir da década de 1970, os povos indígenas do Brasil chegaram à conclusão de que era importante manter, aceitar e promover a denominação genérica de índio ou indígena, como uma identidade que une, articula, visibiliza e fortalece todos os povos originários do atual território brasileiro, porém cada região e cada povo possui uma tribo que carrega consigo uma particularidade, seja na crença, na linguagem e idiomas particulares e nomes que identificam seu povo como, por exemplo, Guarani, Yanomami, Kulina, etc. Embora o termo índio seja uma forma de se referir a um determinado grupo, deve-se respeitar a individualidade e subjetividade de cada grupo indígena como também de cada índio que compõem a sua tribo, que participaram para o desenvolvimento do país e que preservaram e continuam preservando a riqueza natural do mesmo, juntamente com sua multiplicidade de vida cultural coletiva e individual.
“O processo de reafirmação das identidades étnicas, articulado no plano estratégico pan-indígena por meio da aceitação da denominação genérica de índios ou indígenas, resultou na recuperação da autoestima dos povos indígenas, perdida ao longo dos séculos de dominação e escravidão colonial. O índio de hoje é um índio que se orgulha de ser nativo, de ser originário, de ser portador de civilização própria e de pertencer a uma ancestralidade particular”.
Isto posto, cabe a população, diante das politicas públicas, da conscientização, respeitar a diversidade cultural e colaborar para a socialização, considerando que as terras indígenas estão cada vez mais próximas dos polos centros e das cidades em constantes desenvolvimento, para que todos possam compartilhar dos recursos naturais e dos direitos garantidos por constituição, bem como realizar seus deveres como cidadãos. Deve-se considerar o direito e desejo do indígena em abdicar suas origens e tornar-se um cidadão “civilizado”, de ingressar na cultura brasileira que difere de seus costumes tradicionais, de forma a ter acesso à educação de qualidade, inserção no mercado de trabalho e capacitação para isso e condições para adquirir moradia na cidade. 
A sociedade brasileira majoritária, permeada pela visão evolucionista da história e das culturas, continua considerando os povos indígenas como culturas em estágios inferiores, cuja única perspectiva é a integração e a assimilação à cultura global. Os povos indígenas, com forte sentimento de inferioridade, enfrentam duplo desafio: lutar pela autoafirmação identitária e pela conquista de direitos e de cidadania nacional de global. Outra perspectiva sustentada em relação aos povos indígenas é a visão de um índio cruel, bárbaro, canibal, animal selvagem, preguiçoso, traiçoeiro e tantos outros adjetivos e denominações negativas, visão essa que surgiu desde a chegada dos portugueses, embora algumas culturas antigas de povos indígenas cultuavam o canibalismo entre outros costumes que fogem da realidade de hoje, porém assim como a sociedade brasileira, muita coisa evoluiu das tradições indígenas.
Em relação à organização indígena, cada povo possui um modo próprio de organizar suas relações sociais, políticas e econômicas, as internas ao povo e aquelas com outros povos com os quais mantem contato. Em geral, a base da organização socialde um povo indígena é a família extensa, entendida como uma unidade social articulada em torno de um patriarca ou de uma matriarca por meio de relações de parentesco ou afinidade política ou econômica. Utilizando-se dessa organização, os povos indígenas protegem seus legados e ampliam seu território e poder econômico se associando com outras tribos por meio de casamentos arranjados pelos chefes das tribos, como também mantém a riqueza de suas terras e plantações, cultura musical, linguística, artes, que contribuem para um patrimônio cultural nacional e mundial. A riqueza da diversidade sociocultural dos povos indígenas presenta uma poderosa arma na defesa dos seus direitos e hoje alimenta o orgulho de pertencer a uma cultura própria e de ser brasileiro originário.
Deste modo, podemos concluir que não existe uma identidade cultural única brasileira, mas diversas identidades que, embora não formem um conjunto monolítico e exclusivo, coexistem e convivem de forma harmoniosa, facultando e enriquecendo as várias maneiras possíveis de indianidade, brasilidade e humanidade.
Em relação às pesquisas que não obtiveram dados, estima-se que existam atualmente	 46 evidências de “índios isolados” no território brasileiro, das quais apenas 12 foram confirmadas até hoje pela FUNAI. “Índios isolados” é uma terminologia usada pela FUNAI para designar aqueles com os quais ela não estabeleceu nenhum contato. Em geral, não se sabe ao certo quem são, onde estão, quantos são e que línguas falam. Algumas poucas informações reunidas baseiam-se em vestígios e evidências pontuais ou em relatos de pessoas.
Sobre fatos que ameaçam a existência dos povos indígenas, que permeiam pela história do Brasil, que exterminaram boa parte da população indígena e que ainda afetam direta e indiretamente os mesmos. Vemos que,
“Um dos fatores que contribuíram para o processo de dominação e de extermínio dos povos indígenas do Brasil foi a habilidade com que os colonizadores portugueses usaram a seu favor os desentendimentos internos entre os diferentes grupos étnicos, fosse provocando brigas entre eles ou usando-os para comporem seus exércitos para atacarem grupos rivais”. 
Hoje em dia ainda há disputas internas e externas ao grupo indígena em relação à posse de terras, mas de outra perspectiva, considera-se o fator psicológico e emocional que enfrenta o índio diante da sociedade que por vezes o exclui e que o mesmo não se encaixa e não possui um suporte para compreender todo esse processo, diante do preconceito e de rivalidades políticas e econômicas que impedem uma socialização e uma abordagem mais humanizada em relação à população indígena. Vemos que em determinadas regiões brasileiras quase não há nenhum índio e nas que estão presentes, os mesmo são excluídos e até mesmo há um perigo de extinção. Garantir o direito às suas terras e ao básico para sua sobrevivência e dar suporte para manter seus recursos, é de suma importância para garantir a sua existência e a inegável contribuição para a rica cultura brasileira.
Em nível regional, na Amazônia, o Projeto Demonstrativo dos Povos Indígenas (PDPI), que faz parte do Ministério do Meio Ambiente, e o Projeto Integrado de Proteção das Terras Indígenas na Amazônia Legal (PPTAL), pertencente à Fundação Nacional do Índio (FUNAI), são alguns exemplos particulares da existência e da capacidade de mobilização e pressão do movimento indígena amazônico. Outros movimentos e projetos se estendem pelo país de forma a proteger e preservar o índio e sua cultura, um plano no ministério da educação é a implantação de matérias na grade curricular envolvendo a temática da relação étnico racial no Brasil, de forma a conscientizar e ensinar sobre a diversidade cultural do país. 
As primeiras associações indígenas foram quase todas elas fundadas com o objetivo específico de articular a luta das comunidades e dos povos indígenas pela defesa dos seus direitos, principalmente o direito à terra, à educação, à saúde e às alternativas econômicas. Deste modo, pode-se afirmar que a sua tarefa primordial foi quase exclusivamente a da luta política pela defesa dos direitos coletivos. Com o passar do tempo, no entanto, elas assumiram outras funções e tarefas mais técnicas, executivas e administrativas, com a prestação de serviços na área de saúde através dos convênios com a FUNASA, funções que por lei são do Estado.
Legitimar e organizar o processo de luta pelos direitos e preservação dos povos indígenas é um recurso que se expande cada vez mais, onde instruídos e acompanhados pela lei, reivindicam cada vez mais o que lhes é de direito. Embora a questão política atual do país não contribua muito para o desenvolvimento desse trabalho que já perdura por anos, a falta de um representante político é sentida, e se faz necessário uma figura pública que lute pelas minorias indígenas. É fundamental que os dirigentes indígenas encarregados pela luta dos direitos e responsáveis pela execução de projetos tenham um mínimo de formação e de qualificação técnica, de forma que possam ter acesso a isso, caso o representante técnico seja não-indígena, as organizações indígenas devem exigir que estes estejam capacitados para essa complexa tarefa.
A partir da década de 1990, no embalo da nova Constituição de 1988, ocorreu o fenômeno da multiplicação de organizações indígenas formais, institucionalizadas e legalizadas por todo o Brasil. Essas organizações começaram a assumir cada vez mais as funções que o Estado deixou de desempenhar diretamente, em especial nas áreas da saúde, educação e auto sustentação. Com isso, outras discussões passaram a fazer parte da agenda das organizações indígenas, como aquelas direcionadas ao discurso étnico do desenvolvimento “étno-sustentável” e da autogestão territorial.
Durante este tempo de luta por direitos, o movimento indígena obteve algumas conquistas:
Direitos conquistados na Constituição de 1988;
Ratificação da Convenção 169 / OIT em 2003;
Participação política: 3 prefeitos, 3 vice-prefeitos e 76 vereadores;
Programas governamentais inovadores: PPTAL (Projeto de Proteção às Terras Indígenas da Amazônia Legal), PDPI, DSEI’s (Distrito Sanitário Especial Indígena), Carteira Indígena;
Proposta de educação escolar indígena específica e diferenciada (bilíngue, pluricultural, autônoma e autogestada pelos índios);
Demarcações de terras, principalmente na Amazônia.
Nos últimos 20 anos, os povos indígenas do Brasil, com o apoio de seus movimentos, suas lutas por direitos, mobilizações e parte da pressão política e social, conquistaram gradativamente seu status político de cidadania brasileira, onde na prática, possuem a possiblidade de usufruir dos direitos garantidos aos cidadãos brasileiros, enquanto continuam adotando seus modos de viver, de manifestar sua cultura e de autopreservação. No âmbito político e social contemporâneo, esse avanço do movimento indígena define o início de políticas públicas e processos de autonomia do povo indígena que possibilitam novas conquistas e um caminhar para um futuro com mais possibilidades de igualdade. Fundamentalmente apoiar-se em uma interação entre os povos e diversas culturas que abrangem o Brasil, de modo a que todos possam participar como iguais e que não haja exclusão cultural e política, como potencial de garantir e defender direitos que atendam a todos.
Com base nisso, pode-se imaginar uma interação entre culturas que possibilitam uma apropriação de novos conhecimentos para todos e de mais desenvolvimento interno no país, e que as gerações futuras nasçam e cresçam em uma sociedade mais igualitária e humana, onde não se restrinja apenas as classes dominantes, mas também as minorias.
Contudo, ainda há muita luta pela conquista e preservação de direitos, segundo os dados fornecidos pelo Departamento Fundiário (DAF) da FUNAI, em agosto de 2006, existem no Brasil 612 terras indígenas com algum grau de reconhecimento por parte do órgão, totalizando uma extensão de 106.373.144ha, ou seja, 12,49% dos 851.487.659,90ha do território brasileiro. A AmazôniaLegal é a região brasileira que concentra a maior parte das terras indígenas em número e extensão. São 405 terras indígenas, que somam 103.483.167ha, ou seja, 98,61% de todas as terras indígenas do país, ou ainda 20,67% da região amazônica. 
O processo de reconhecimento e regularização de terras indígenas no Brasil é repleto de complexidade política, técnica, administrativa e jurídica. A Constituição Federal de 1988, atualmente em vigor, reconhece explicitamente aos povos indígenas o direito originário de posse e uso exclusivo de suas terras tradicionalmente ocupadas. 
Conclui-se que fazendo parte da população brasileira, os indígenas, assim como todos os outros povos que compõem a diversidade brasileira, devem ser respeitados e mantidos, com suas particularidades e subjetividade do sujeito, que integram a construção histórica e cultural do Brasil. Cabe a todos, independente da causa que esteja incluído, mas tomar posse daquelas que buscam atribuir os direitos de cada cidadão, bem como poder aplicar seus deveres perante a sociedade.

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