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Universidade Federal do Rio Grande do Norte Escola de Ciências e Tecnologia Equações Diferenciais Parciais (EDP) Cap. 12, Kresyszig Jefferson Soares da Costa 2 Conceitos Básicos Uma Equação Diferencial Parcial (EDP) é uma equação envolvendo uma ou mais derivadas parciais de uma função (desconhecida), que chamaremos de u e que depende de duas ou mais variáveis. Equação Diferencial Parcial A ordem da derivada mais alta é chamada de ordem da EDP. Uma EDP é linear se ela é do primeiro grau na função desconhecida u e em suas derivadas parciais, Caso contrário, ela é chamada de não-linear. Chamamos uma EDP linear de homogênea se cada um de seus termos contém u ou uma de suas derivadas parciais. De outro modo, dizemos que a equação é não-homogênea. 3 Conceitos Básicos Exemplos de EDP 4 Conceitos Básicos Uma solução de uma EDP em alguma região R do espaço das variáveis independentes é uma função que tem todas as suas derivadas parciais aparecendo na EDP em algum domínio D contendo R e que satisfaz à EDP em qualquer ponto de R. Soluções de uma EDP Geralmente uma EDP possui várias soluções. Por exemplo as funções u = x2 – y2, u = excos(y), u = sen(x)cosh(y), u = ln(x2 + y2) são soluções da mesma EDP. Esta restrição é feita através de condições adicionais que surgem do problema. Podemos impondo que a solução u assuma valores dados no contorno da região R (condições de contorno). Ou, quando o tempo t é uma das variáveis, que u (ou ut = ∂u/∂t ou ambas) possa(m) ser determinada(s) em t = 0 (“condições iniciais”). 5 Conceitos Básicos Sabemos que, se uma EDO é linear e homogênea, então, a partir de soluções conhecidas, podemos obter outras soluções por superposição. O mesmo é válido para EDP’s e o procedimento é completamente análogo, de forma que temos: Teorema da superposição 6 Conceitos Básicos Exemplo 01 Encontre soluções u da EDP uxx – u = 0 dependentes de x e y. Solução Percebemos que não existem derivadas de u com relação y, podemos resolver a EDP (uxx – u = 0) como uma EDO (u’’ – u = 0) Resolvendo u’’ – u = 0 temos sua equação característica será: λ 2 −1= 0 λ = ±1 De forma que a solução seria u = Aex + Be-x , nesta caso como estamos tratando uma EDP temos que as constantes A e B são funções de y, assim a solução geral será. 7 Conceitos Básicos Exemplo 02 Encontre soluções u da EDP uxy = -ux . Solução Fazemos ux = p, ficamos com: Cuja solução será: Por integração temos que a solução geral será: Onde ƒ(x) será ∫c(x)dx, podemos perceber que ƒ(x) e g(y) são arbitrários 8 Modelagem: Corda Vibrante, Equação da Onda Como uma primeira e importante EDP, determinaremos a equação que rege as pequenas vibrações transversais de uma corda elástica, como uma corda de violino. Consideremos a corda situada ao longo do eixo x, esticada com um comprimento L e fixada nas extremidades x = 0 e x = L. Então, estendemos a corda e, num instante qualquer, que chamaremos de t = 0, nós a soltamos, deixando-a vibrar, O problema consiste em determinar as vibrações da corda, ou seja, achar sua deflexão u(x, t) em um ponto x e em qualquer instante t > 0 Problema da corda vibrante 9 Modelagem: Corda Vibrante, Equação da Onda Problema da corda vibrante Suposições Físicas: 1. A massa da corda por unidade de comprimento é constante (“corda homogênea”). A corda é perfeitamente elástica e não oferece resistência à deflexão. 2. A tensão causada pelo esticamento da corda, presa pelas suas extremidades, é tão grande que a ação da força gravitacional na corda (que tenta puxá-la um pouco para baixo) pode ser desprezada. 3. A corda executa pequenos movimentos transversais num plano vertical, isto é, cada partícula da corda move-se de modo estritamente vertical, de modo que a deflexão e a inclinação em cada ponto da corda sempre permanecerão pequenas em valores absolutos 10 Modelagem: Corda Vibrante, Equação da Onda Problema da corda vibrante Para obter a EDP da corda vibrante, devemos analisar as forças atuando sobre uma porção muito pequena da corda. Vamos estudar o movimento da corda nas duas direções x e y. Como não temos movimento da direção horizontal em x temos: Já na direção de y utilizaremos a segunda lei de Newton, pela segunda lei de Newton temos: Dividindo a expressão acima por T2cos(b) = T1 cos(a) = T, obtemos: 11 Modelagem: Corda Vibrante, Equação da Onda Problema da corda vibrante Como tan(a) e tan(b) são as inclinações da corda em x e x + Δx temos que: Dividindo a expressão referente ao balanço de forcas na direção de y por Δx ficamos com: Se tomarmos Δx → 0 ficamos com Que é denominada equação de onda unidimensional e T/ρ é representado por c2 para indicar que é uma constante necessariamente positiva 12 Solução por Separação de Variáveis. Uso da Série de Fourier Vamos agora resolver a equação de onda unidimensional, mas primeiramente temos que para a solução da equação (u(x, t)) ter significado físico vamos impor algumas condições. Solução por Separação de Variáveis. Uso da Série de Fourier Vamos impor duas condições de contorno. Vamos impor duas condições iniciais, a forma do movimento da corda dependerá de sua deflexão inicial (u(x, 0)), que chamaremos de f(x), e de sua velocidade inicial (ut(x, 0)), que chamaremos de g(x). 13 Solução por Separação de Variáveis. Uso da Série de Fourier Finalmente para resolver o nosso problema vamos seguir o seguinte algoritmo que consiste em 3 passos. Passo 01: Pelo método da separação de variáveis ou método do produto faremos u(x, t) = F(x)G(t), obtemos de (1) duas EDOs: uma para F(x) e outra para G(t). Passo 02: Achamos soluções dessas EDOs que satisfazem as condições de contorno . Passo 03: Finalmente, usando séries de Fourier, faremos uma composição das soluções obtidas no Passo 2 para obtermos a solução de (1) que satisfaz ambas (2) e (3), ou seja, a solução de nosso modelo da corda vibrante. Solução por Separação de Variáveis. Uso da Série de Fourier 14 Solução por Separação de Variáveis. Uso da Série de Fourier Usando o método do separação de variáveis (Passo 01) ficamos com: Solução por Separação de Variáveis. Uso da Série de Fourier Nossa EDP se tornou: Dividindo tudo por c2FG e igualando a uma constante k, ficamos com: 15 Solução por Separação de Variáveis. Uso da Série de Fourier Multiplicando a expressão anterior pelos denominadores ficamos com duas EDO: Solução por Separação de Variáveis. Uso da Série de Fourier De modo que este k é denominado constante de separação Vamos agora satisfazer as condições de contorno do problema (Passo 02) Determinemos agora soluções F e G para as equações acima, de modo que u = FG satisfaça as condições de contorno, ou seja: 16 Solução por Separação de Variáveis. Uso da Série de Fourier Primeiro, resolvemos para o caso trivial Se G ≡ 0, então u = FG ≡ 0, o que não tem interesse. Logo, G ≠ 0, neste caso temos que as condições de contorno ficarão: Soluçãopor Separação de Variáveis. Uso da Série de Fourier Para k = 0, a solução geral será F = ax + b e obtemos a = b = 0, de modo que F ≡ 0 e u = FG ≡ 0, o que não tem qualquer interesse. Para valores positivos de k = u2, uma solução geral é De modo que F ≡ 0, devemos então fazer k negativo (k = -p2), ficamos com a equação F’’ + p2F = 0, cuja solução é bem conhecida. Impondo as condições de contorno ficamos com: 17 Solução por Separação de Variáveis. Uso da Série de Fourier Desta forma é necessário que B ≠ 0, logo ficamos com sen(pL) = 0, assim ficamos com Solução por Separação de Variáveis. Uso da Série de Fourier Fazendo B = 1, obtemos um número infinito de soluções F(x) = Fn(x), onde: Agora vamos obter G(t), temos que k = -p2 = -(nπ/L)2, isto significa: De modo que a solução geral para G(t) será: 18 Solução por Separação de Variáveis. Uso da Série de Fourier Logo, as soluções gerais são são un(x, t) = Fn(x)Gn(t) = Gn(t)Fn(x), que escrevemos como: Solução por Separação de Variáveis. Uso da Série de Fourier Essas funções são chamadas de autofunções, ou funções características, e os valores λn = cnp/L são chamados de autovalores, ou valores característicos, de uma corda vibrante. O conjunto {λ1, λ2,...,} é chamado de espectro Vemos que cada un representa um movimento harmônico cuja frequência corresponde a λn/2π = cn/2L ciclos por unidade de tempo. Esse movimento é chamado de n-ésimo modo normal da corda 19 Solução por Separação de Variáveis. Uso da Série de Fourier Vamos agora concluir a solução da EDP (Passo 03). As autofunções un, satisfazem a equação de onda e as condições de contorno, no entanto uma unica un não satisfará as condições iniciais. Felizmente a equação de onda é linear e homogênea de modo que uma combinação linear de soluções também será solução, então ficamos: Solução por Separação de Variáveis. Uso da Série de Fourier Satisfazendo a condição inicial de deslocamento inicial ficamos com: Escolheremos os Bn’s de modo que u(x, 0) se torne a série senoidal de Fourier de f(x) tal que : 20 Solução por Separação de Variáveis. Uso da Série de Fourier Satisfazendo à Condição Inicial de Velocidade Inicial, temos que: Solução por Separação de Variáveis. Uso da Série de Fourier Fazendo t = o e tomando uma série de Fourier senoidal para g(x) temos que: 21 Solução por Separação de Variáveis. Uso da Série de Fourier No caso da Velocidade Inicial ser identicamente igual a zero (g(x) = 0). Neste caso teremos que todos os Bn* serão zero. Teremos que: Solução por Separação de Variáveis. Uso da Série de Fourier Consequentemente teremos que: Ou seja o u(x ,t) será da forma 22 Solução por Separação de Variáveis. Uso da Série de Fourier Exemplo 01 Ache a solução da equação da onda correspondente à deflexão inicial triangular. 23 Solução por Separação de Variáveis. Uso da Série de Fourier Exemplo 01 (cont.) Como g(x) = 0, logo Bn* = 0, nos resta apenas calcular o Bn*, para isto temos: Solução bn = 2 L [ 2k L xsen( nπ x L )dx +0 L/2 ∫ 2kL (L − x)sen( nπ x L )dx]L/2 L ∫ Consequentemente a Solução geral será: 24 Solução por Separação de Variáveis. Uso da Série de Fourier Exemplo 01 (cont.) 25 Equação do Calor: Solução por Séries de Fourier Estudamos anteriormente a equação de onda, passaremos agora a analisar outra EDP muito importante, a denominada Equação do calor. Esta equação é da seguinte forma Equação do Calor: Solução por Séries de Fourier Onde u(x, y, z, t) representa a temperatura para um corpo de material homogêneo, c2 é a difusividade térmica, K a condutividade térmica, σ o calor específico e ρ a massa específica do material do corpo. Esta equação também é denominada equação de difusão, a principio estudaremos o caso onde u(x, t) (equação do calor unidimensional) 26 Equação do Calor: Solução por Séries de Fourier Ao observar esta EDP percebemos que ela apresenta duas derivadas em x (uxx), porém diferentemente da equação de onda apresenta apenas uma derivada em t (ut). Equação do Calor: Solução por Séries de Fourier As condições de contorno do problema serão: Como o problema só possui uma derivada com relação a t, precisamos de apenas uma condição inicial. O Método de solução será o mesmo utilizado para equação de onda, baseado em 3 passos: Usar o método de separação de variáveis, impor as condições iniciais e de contorno e por fim encontrar a solução geral com o auxilio de séries de Fourier. 27 Equação do Calor: Solução por Séries de Fourier Vamos agora resolver a EDP, no Passo 01 fazemos u(x, t) = F(x)G(t) substituindo na EDP ficamos com FĠ = c2F’’G com Ġ = dG/dt e F =d2F/dx2 Equação do Calor: Solução por Séries de Fourier Igualando a Equação acima a uma constante k = -p2. Isto nos fornece diretamente duas EDO’s 28 Equação do Calor: Solução por Séries de Fourier Vamos agora resolver as EDOs e satisfazer as condições de contorno e iniciais (Passo 02). Equação do Calor: Solução por Séries de Fourier Uma solução geral para F’’ + p2F = 0 será: Impondo as condições de contorno ficaremos com: O que implica em: E consequentemente teremos 29 Equação do Calor: Solução por Séries de Fourier Fazendo B = 1, ficamos com as seguinte soluções Equação do Calor: Solução por Séries de Fourier Como p = nπ/L, para Ġ + c2P2G = 0, ficamos com: Esta EDO terá solução geral: Com Bn sendo uma constante, assim a solução será: 30 Equação do Calor: Solução por Séries de Fourier Devida a linearidade desta EDP, se possuirmos n soluções da EDP a combinação linear destas soluções também será solução, nesta caso ficamos com: Equação do Calor: Solução por Séries de Fourier Impondo as condições iniciais ficamos com: Encontrando os coeficientes Bn* por meio de Séries de Fourier (Passo 03) temos que: 31 Equação do Calor: Solução por Séries de Fourier Encontre a temperatura u(x, t) numa barra de cobre de 80 cm de comprimento e isolada lateralmente, considerando que a temperatura inicial seja de 100sen(px/80)°C e que extremidades estejam mantidas a 0°C. Quanto tempo será necessário para que a temperatura máxima caia a 50°C?. Dados físicos sobre o cobre: massa específica 8,92 gm/cm3, calor específico 0,092 cal/(gm° C), condutividade térmica 0,95 cal/(cm s °C). Exemplo 01 Solução Pela condição inicial do problema temos que: De cara temos que B1 = 100, B2 = B3 = B4 = 0, precisamos ainda calcular λ12, que será λ12 = c2π2/L2, vamos calcular primeiramente c2 32 Equação do Calor: Solução por Séries de Fourier Com L = 80 cm, temos que λ12 será. Exemplo 01 (cont.) Desta forma a temperatura variará com a posição e o tempo da seguinte forma De modo que para calcular o tempo necessário para a temperatura máxima seja 50 ºC será: 33 Equação do Calor: Solução por Séries de Fourier Encontre a temperatura numa barra de comprimento L, lateralmente isolada e cujas extremidadessão mantidas numa temperatura 0, supondo que a temperatura inicial seja Exemplo 02 34 Equação do Calor: Solução por Séries de Fourier Sabemos que Bn será: Exemplo 02 (cont.) Solução Ficamos então com: Temos que Bn = 0, se n for par, para n impar ficamos com: 35 Equação do Calor: Solução por Séries de Fourier Exemplo 02 (cont.) Assim o comportamento da temperatura u(x, t) será: 36 Equação do Calor: Problema bidimensional e estacionário Vamos considerar agora a Equação do calor no bidimensional Equação do Calor: Problema bidimensional e estacionário Vamos analisar agora o caso estacionário, ou seja ∂u/∂t = 0, nossa equação se reduz a chamada equação de Laplace. Este problema consiste numa EDP a ser considerada em alguma região R do plano xy e uma dada condição de contorno sobre a curva C de R. Este é um problema de valor de contorno (PVC). 37 Equação do Calor: Problema bidimensional e estacionário Podemos dizer que um problema de contorno será. Equação do Calor: Problema bidimensional e estacionário No nosso caso temos um Problema de Dirichlet em um Retângulo R, Consideremos um problema de Dirichlet para a equação de Laplace num retângulo R, supondo que a temperatura u(x, y) seja igual a uma dada função f(x) no lado superior e igual a 0 nos outros três lados do retângulo 38 Equação do Calor: Problema bidimensional e estacionário Vamos resolver este problema por separação de variáveis, substituindo u(x, y) por F(x)G(y) na EDP. Isto resulta em. Equação do Calor: Problema bidimensional e estacionário Depois disso obtemos: Que impondo as condições de contorno ficamos: Ficamos com k = (nπ/a)2, e as soluções não nulas serão: 39 Equação do Calor: Problema bidimensional e estacionário Com k = (nπ/a)2, a EDO para G(y) ficará. Equação do Calor: Problema bidimensional e estacionário Cujas soluções serão: Impondo as condições de contorno (u = 0) no lado inferior de R implica em Gn(0) = An + Bn = 0, ou seja ficamos com Bn = -An, o que implica em: Fazendo 2An = An*, ficamos com: 40 Equação do Calor: Problema bidimensional e estacionário A solução geral será: Equação do Calor: Problema bidimensional e estacionário Impondo a condição de contorno do lado superior (u(x, b) = f(x)), ou seja y = b, ficamos com: De modo que os coeficientes de Fourier bn para f(x) são dados por: 41 Equação do Calor: Problema bidimensional e estacionário Assim a solução geral do problema será: Equação do Calor: Problema bidimensional e estacionário Com An* dado por:
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