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Impressões iniciais sobre o novo Código de Processo Civil - Material de apoio final

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Impressões iniciais sobre o novo Código de Processo Civil
Palestra do Professor Paulo Renato Bezerra
Material de apoio
O novo Código de Processo Civil (NCPC)
Parte Geral
Das normas processuais civis
Da função jurisdicional
Dos sujeitos do processo
Dos atos processuais
Da tutela provisória
Da formação, da suspensão e da extinção do processo
Parte Especial
Do Processo de Conhecimento e Cumprimento de sentença
Do Processo de Execução
Dos Processos nos Tribunais e dos Meios de Impugnação das Decisões Judiciais
Livro Complementar
Disposições finais e transitórias
2. Noções iniciais
- Há anos, clama-se por um novo processo que corresponda aos desafios desse novo tempo. Há a necessidade de um aggiornamento da teoria processual.[1: “Giorno”, em italiano, significa “dia”; a expressão, assim, traduz a ideia de atualização; o termo foi utilizado durante o Concílio Vaticano II com o intuito de que houvesse uma atualização da Igreja Católica, segundo o Papa João XXIII.]
- O Código que agoniza recepcionou um juiz “historiador”, angustiado apenas pela reconstrução do passado, refletindo os anseios de uma época em que a função do Direito era somente “garantir a livre circulação das ideias, das pessoas e, particularmente, dos bens”. Vejam, por exemplo, a estrutura do Código quanto à instrução probatória e os poderes atribuídos ao juiz para deferir a produção de provas que ele considerasse essenciais à (re)construção de alguma verdade. Afinal, os fatos (o que houve no mundo real) deveriam ser re(produzidos) no processo, de modo a colaborar com a correta aplicação da lei à solução da lide.[2: GOMES, Diego J. Duquelsky. Entre a lei e o direito: uma contribuição à teoria do direito alternativo. trad. Amilton Bueno de Carvalho e Salo de Carvalho. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2001. p. 17]
Nesse contexto, o Código de Processo Civil de 1973 trazia a ideia de um juiz neutro, imparcial, equidistante das partes para, após cognição ampla, plena e exauriente, dizer o direito ao caso concreto com certeza, reconstruindo o passado (historiador) e declarando o valor indenizatório devido ao dano causado.[3: PEREIRA FILHO, Benedito Cerezzo. A atuação do juiz no novo Código de Processo Civil. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2015-mar-30/benedito-cerezzo-atuacao-juiz-codigo-processo-civil]
- Inexistia intervenção e, muito menos, interação do juiz (Estado) com as partes. Sua postura é exatamente o contrário: de equidistância. “É defeso ao juiz emitir ordens às partes”.[4: LIEBMAN, Enrico Tulio. Processo de execução. 4. ed., São Paulo: Saraiva, 1980.]
- A noção conceitual de jurisdição, embora não esteja errada, ratifica a ideia de um magistrado dotado de poderes, representante do Estado, que figura na relação processual para dizer o direito a quem faz jus. De fato, essa é precipuamente a função da jurisdição como “poder/dever” do Estado, contudo a aplicação da norma à realidade prática, sem uma relação de proximidade com as partes no desiderato de cooperarem, juntas, para a solução da lide, tornando a decisão, inclusive, mais legítima, parecia não ter sido o objetivo do CPC/1973.
- Não há permissão para o juiz atuar “a não ser no plano normativo, e assim apenas objetivando afirmar a vontade da lei e a autoridade do Estado-legislador”.[5: MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela dos direitos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 37.]
- Mas o Estado evoluiu indubitavelmente. De mero limitador do poder público e garantidor de direitos mínimos relacionados à liberdade, sob todos os seus aspectos, passou a ser um Estado provedor; os direitos, sobretudo os sociais, que inicialmente foram festejados, passaram a ser concretizados (a própria ideia de valores meramente simbólicos foi substituída pela necessidade de efetivação de preceitos). 
- E se hoje é possível reconhecer a “era dos direitos”, o que alguns atribuem se tratar de Estado Constitucional de Direito, é preciso um novo processo para corresponder a esses novos desafios. É a evolução do Estado fundado na lei para o Estado baseado na Constituição.
- “As transformações do papel do Estado obrigam, irremediavelmente, à adoção de um novo papel também do direito”.[6: GOMES, Diego J. Duquelsky. Entre a lei e o direito: uma contribuição à teoria do direito alternativo. trad. Amilton Bueno de Carvalho e Salo de Carvalho. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2001. p. 19]
- O antigo princípio da subsunção passa a conviver com o da criação. A interpretação judicial é iluminada de requinte constitucional.
- O direito fundamental à adequada tutela jurisdicional exige do juiz uma postura capaz de dar proteção condizente com os preceitos normativos previstos na norma de direito material. Ainda que o processo se ressinta de técnica processual para tal mister, caberá ao juiz empregar esforços para, em respeito ao direito fundamental de proteção, atender efetivamente o que lhe é pleiteado.[7: PEREIRA FILHO, Benedito Cerezzo. A atuação do juiz no novo Código de Processo Civil. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2015-mar-30/benedito-cerezzo-atuacao-juiz-codigo-processo-civil]
3. Princípios do Novo CPC
“A lei processual é a lei que determina as minúcias por meio das quais se realiza a justiça. Toda lei processual, todo texto particular que regula um tramite do processo é, em primeiro lugar, o desenvolvimento de um princípio processual; esse princípio é em si mesmo, um partido adotado, uma escolha entre vários postulados análogos feito pelo legislador para assegurar a realização da justiça, enunciada pela Constituição”.[8: COUTURE, Eduardo J. – Interpretação das Leis Processuais – Coleção Philadelpho Azevedo. Tradução Dra. Gilda Maciel Correa Meyer Russomano, 1956, pág. 50. ]
Novo CPC:
Art. 1º O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código.
Princípio da Conciliação e da Mediação
Conciliação
Há presença de um terceiro que auxilia as partes na resolução do conflito. 
Pode ser extrajudicial ou judicial.
A ideia é manter aberto o canal de diálogo.
A conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da independência, da imparcialidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da decisão informada (empoderamento, normalização do conflito, autonomia privada).
Mediação
É um método de resolução de conflitos em que duas ou mais partes recorrem a uma terceira pessoa imparcial – o mediador – com o objetivo de se trabalhar o conflito de forma a, se possível, chegarem a um acordo satisfatório para todos os envolvidos na disputa.
O mediador não tem poder de decisão, mas facilita a comunicação na busca da construção AUTÔNOMA de uma resposta que satisfaça as partes.
Novo CPC:
Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. 	
§ 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei. 	
§ 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. 	
§ 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial. 	
Art. 165.  Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição.
Art. 168.  As partes podem escolher, de comum acordo, o conciliador, o mediador ou a câmara privada de conciliação e de mediação.
Art. 174.  A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios criarão câmaras de mediação e conciliação, com atribuições relacionadas à solução consensual de conflitos no âmbito administrativo (...).
- A audiência de conciliação e mediação
Art. 334.  Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e nãofor o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência.
§ 4o A audiência não será realizada:
I - se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição consensual;
II - quando não se admitir a autocomposição.
§ 5o O autor deverá indicar, na petição inicial, seu desinteresse na autocomposição, e o réu deverá fazê-lo, por petição, apresentada com 10 (dez) dias de antecedência, contados da data da audiência.
§ 8o O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com multa de até dois por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União ou do Estado.
- Prazo para contestação
O prazo para oferta da contestação, pelo novo CPC, começa a contar da audiência de conciliação ou de mediação, ou da última sessão de conciliação, quando qualquer parte não comparecer ou, comparecendo, não houver autocomposição; ou do protocolo do pedido de cancelamento da audiência de conciliação ou de mediação apresentado pelo réu; ou de acordo com o modo como foi feita a citação, nos demais casos.
- É requisito da petição inicial a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação (art. 319).
- Há expressamente menção à conciliação nos procedimentos especiais relacionados às ações de família (art. 694).
Princípio da Razoável Duração do Processo
- Antes da EC n. 45/2014 este princípio era uma decorrência do Devido Processo Legal.
- O conceito de duração razoável é indeterminado, devendo ser analisado caso a caso. Nesta averiguação devem ser observadas:
	1 – A estrutura do órgão jurisdicional.
	2 - A complexidade da causa.
	3 – O comportamento das partes e do juiz.
 
Como se deve compreender a segunda parte do inciso LXXVIII do art. 5º? “A todos, no âmbito judiciário e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”.
1 – É preciso que o legislador crie técnicas de combate à mora processual.
2 – É preciso que as normas estejam adequadas à rápida tramitação.
Novo CPC:
Art. 4o As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa.
Art. 6o Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. (princípio da cooperação, princípio da efetividade e princípio da primazia pela decisão de mérito)
Ordem cronológica de conclusão e razoável duração do processo
Novo CPC:
Art. 12.  Os juízes e os tribunais deverão obedecer à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão.
§ 1o A lista de processos aptos a julgamento deverá estar permanentemente à disposição para consulta pública em cartório e na rede mundial de computadores.
- Exceções: sentenças proferidas em audiência, homologatórias de acordo ou de improcedência liminar do pedido; o julgamento de processos em bloco para aplicação de tese jurídica firmada em julgamento de casos repetitivos; sentenças sem resolução de mérito; as que fixam aplicação de precedentes (art. 932); o julgamento de embargos de declaração e de agravo interno; as preferências legais e as metas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça; os processos criminais, nos órgãos jurisdicionais que tenham competência penal; a causa que exija urgência no julgamento, assim reconhecida por decisão fundamentada.
Inconstitucionalidade?
Violação à autogestão da magistratura;
Afronta à separação dos poderes;
Desobediência à Isonomia material.
Novo CPC:
Art. 8o Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.
Princípio do contraditório
- O contraditório possui dupla dimensão (ou três dimensões):
	1 – Direito de Participação.
	- Manifestação evidente do princípio democrático; direito à informação e à reação (relacionada à visão formal: “ouça-se a outra parte”): informação e reação já seriam duas dimensões.
	2 – Aspecto Substancial.
É o poder de não só participar, como de influenciar no processo, argumentando e produzindo provas (não surpresa).
 Viola o contraditório, no seu aspecto substancial, a regra de que o juiz pode punir o litigante de má-fé, ex officio, sem antes ouvi-lo.
 É a garantia de que o seu contraditório é qualificado.
Contraditório X Liminares
- Importa em uma mitigação e não em uma denegação do contraditório, que fica apenas postecipado, para após a preservação do direito.
- A garantia de que as liminares são provisórias faz com que não haja ofensa ao contraditório. 
 
Novo CPC:
Art. 9o Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida.
Parágrafo único.  O disposto no caput não se aplica:
I - à tutela provisória de urgência;
II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III;
III - à decisão prevista no art. 701.
Art. 10.  O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. (princípio da não surpresa e o exemplo do erro médico)
Observação: A expressão “de ofício” não significa que o juiz está autorizado a realizar atos de poder sem ouvir a parte prejudicada, apenas lhe confere a possibilidade de agir sem requerimento de parte.
Impede que, em “solitária onipotência”, o juiz aplique normas ou embase a decisão sobre fatos completamente estranhos à dialética defensiva de uma ou de ambas as partes.
 
Princípio da Cooperação
 Uma decorrência do contraditório participativo.
- Gera para o magistrado o dever de atuação em diálogo, obedecendo as seguintes diretrizes:
 	1 – O juiz tem o dever de consulta:
- Se foi o juiz quem suscitou a questão, mesmo que possa decidir de ofício, tem o dever de consultar as partes.
- Não é admissível decisão que se fundamenta em ponto sob o qual não houve manifestação da parte. Ex: Lei de execução fiscal, art. 40, par. 4º: Na execução fiscal, o juiz pode conhecer de ofício a prescrição, mas só poderá decidir com base nela se ouvir a fazenda pública.
	2 – Dever de esclarecimento:
- Se há dúvida acerca da compreensão do requerimento da parte, o juiz tem o dever de pedir esclarecimento.
- Não pode se manifestar de uma forma obscura.
Novo CPC:
Art. 6º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.
Princípio da Fundamentação
 O direito de ampla participação e influência atua, sob outra ótica, como um limite ao poder do juiz, gerando a existência de um dever de debate por parte do julgador, mesmo nos casos em que seja possível e recomendável a sua atuação de ofício.
 Tudo que o juiz decidir fora do debate travado pelas partes implica surpreendê-las, ofendendo o caráter dialético e democrático do processo.
 A fundamentação da decisão judicial não deve se constituir apenas em uma justificativa racional do entendimento do julgador. 
 Deve demonstrar também que o juiz não só tomou ciência do conteúdo do debate travado no processo e de todas as questões suscitadas, mas também que todas elas foram apreciadas séria e detidamente.
A construção participativa da fundamentação das decisões judiciais: dever de considerar os argumentos aduzidos pelas partes
Novo CPC:
Art. 11.  Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade.
Art. 485: § 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I - se limitar à indicação,à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento.
 
No processo jurisdicional democrático, não pode mais ser vista como expressão da vontade única do julgador e sua fundamentação não pode ser vislumbrada como mecanismo formal de legitimação de um entendimento que este tinha antes mesmo do debate travado no processo. 
 Pelo contrário, deve-se buscar legitimidade a partir da consideração dos aspectos relevantes e racionais suscitados por todos os participantes.
 
Princípio da Preclusão
- O novo CPC alterou o sistema de preclusões, que não se operam para as decisões que não puderem ser objeto do agravo de instrumento. Com isso, similarmente ao que ocorre no processo do trabalho, a impugnação dessas decisões que não são imediatamente recorríveis deve ser reunida na futura e eventual apelação, ou em resposta a ela, conforme o impugnante seja recorrente ou recorrido (art. 1.009).
 
Outros exemplos:
Art. 63, § 4º: Citado, incumbe ao réu alegar a abusividade da cláusula de eleição de foro na contestação, sob pena de preclusão.
Art. 293. O réu poderá impugnar, em preliminar da contestação, o valor atribuído à causa pelo autor, sob pena de preclusão; o juiz decidirá a respeito, impondo, se for o caso, a complementação das custas.
Princípio da Instrumentalidade das Formas
- É um instrumento de realização do direito material.
- Um (sonhar o direito: direito material) não se sobrepõe ao outro (realizar o direito: direto processual).
- Os atos processuais solenes, tendo sido praticados sem observância das formalidades impostas por lei, ainda assim serão válidos, desde que atinjam sua finalidade essencial. Diferença entre o direito civil e o direito processual civil.
- Embora parte da doutrina já entenda existentes os negócios jurídicos processuais no Código de 1973, o Novo CPC inaugurou uma faceta muito mais ampla de gestão cooperativa no âmbito do processo.
- A regra do art. 190 abre a possibilidade de uma flexibilização do procedimento, para que os litigantes, de comum acordo, estabeleçam prazos diferenciados, ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, durante o processo e eventualmente até antes dele. O art. 191, inclusive, faz referência a um calendário, particularizado para a causa em curso, como costumam permitir os regulamentos das câmaras arbitrais, em cujos processos a autonomia da vontade sempre foi mais influente.
4. A aplicação do novo CPC
EFICÁCIA DA LEI PROCESSUAL NO TEMPO
Os princípios gerais são o da irretroatividade (segurança jurídica, ato jurídico perfeito, direito adquirido e coisa julgada) e o da aplicação da lei nova aos atos pendentes no processo em curso (‘tempus regit actum’). 
 
SISTEMAS POSSÍVEIS
- UNIDADE PROCESSUAL: aplicação completa de lei nova aos processos pendentes ou imunização completa de tais processos à lei nova.
- FASES PROCESSUAIS: respeito às fases já encerradas ou em curso (postulatória, ordinatória, instrutória, decisória), impondo-se lei nova às fases subseqüentes.
- ISOLAMENTO DOS ATOS PROCESSUAIS: preservam-se os atos e situações processuais já realizados, disciplinando lei nova os atos e situações a partir de sua vigência. É o sistema adotado nacionalmente.
O sistema adotado tanto pelo Código de Processo Penal (art. 2°) como pelo Código de Processo Civil (NOVO CPC, art. 14) é o sistema do isolamento dos atos. 
Novo CPC:
Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada.
 5. As partes e os atos processuais no novo CPC
	CPC de 1973
(Lei nº 5.869/73)
	Novo CPC
(Lei nº 13.105/2015)
	Art. 12. Serão representados em juízo, ativa e passivamente:
I - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Territórios, por seus procuradores;
II - o Município, por seu Prefeito ou procurador;
	Art. 75.  Serão representados em juízo, ativa e passivamente:
I - a União, pela Advocacia-Geral da União, diretamente ou mediante órgão vinculado;
II - o Estado e o Distrito Federal, por seus procuradores;
- Os Estados e o Distrito Federal poderão ajustar compromisso recíproco para prática de ato processual por seus procuradores em favor de outro ente federado, mediante convênio firmado pelas respectivas procuradorias (art. 75, §4º, NCPC).
A Advocacia Pública
Novo CPC:
Art. 182. Incumbe à Advocacia Pública, na forma da lei, defender e promover os interesses públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, por meio da representação judicial, em todos os âmbitos federativos, das pessoas jurídicas de direito público que integram a administração direta e indireta.
Art. 183. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público gozarão de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais, cuja contagem terá início a partir da intimação pessoal.
§ 1º A intimação pessoal far-se-á por carga, remessa ou meio eletrônico.
- A questão do prazo em dobro vale para a Advocacia Pública, para o Ministério Público, para a Defensoria Pública e, ainda, para o litisconsórcio em que os litisconsortes estejam representados por advogados distintos, vinculados a escritórios distintos (e em processos físicos).
A Defensoria Pública
Novo CPC:
Art. 185.  A Defensoria Pública exercerá a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos dos necessitados, em todos os graus, de forma integral e gratuita.
Art. 186.  A Defensoria Pública gozará de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais.
§ 1o O prazo tem início com a intimação pessoal do defensor público, nos termos do art. 183, § 1o.
§ 2o A requerimento da Defensoria Pública, o juiz determinará a intimação pessoal da parte patrocinada quando o ato processual depender de providência ou informação que somente por ela possa ser realizada ou prestada.
§ 3o O disposto no caput aplica-se aos escritórios de prática jurídica das faculdades de Direito reconhecidas na forma da lei e às entidades que prestam assistência jurídica gratuita em razão de convênios firmados com a Defensoria Pública.
A Defensoria Pública exercerá a função de curador especial (art. 72, parágrafo único);
Suspensão do prazo que não implica férias de servidores públicos.
Novo CPC:
- Férias dos advogados, sem necessidade de manifestação do Tribunal ou do CNJ.
Art. 220.  Suspende-se o curso do prazo processual nos dias compreendidos entre 20 de dezembro e 20 de janeiro, inclusive.
§ 1o Ressalvadas as férias individuais e os feriados instituídos por lei, os juízes, os membros do Ministério Público, da Defensoria Pública e da Advocacia Pública e os auxiliares da Justiça exercerão suas atribuições durante o período previsto no caput.
§ 2o Durante a suspensão do prazo, não se realizarão audiências nem sessões de julgamento.
- Obrigação de restituir os autos no prazo do ato a ser praticado:
Art. 234.  Os advogados públicos ou privados, o defensor público e o membro do Ministério Público devem restituir os autos no prazo do ato a ser praticado.
§ 1o É lícito a qualquer interessado exigir os autos do advogado que exceder prazo legal.
§ 2o Se, intimado, o advogado não devolver os autosno prazo de 3 (três) dias, perderá o direito à vista fora de cartório e incorrerá em multa correspondente à metade do salário-mínimo.
§ 3o Verificada a falta, o juiz comunicará o fato à seção local da Ordem dos Advogados do Brasil para procedimento disciplinar e imposição de multa.
§ 4o Se a situação envolver membro do Ministério Público, da Defensoria Pública ou da Advocacia Pública, a multa, se for o caso, será aplicada ao agente público responsável pelo ato.
Recurso Extemporâneo?
Novo CPC:
Art. 1.026, §5º: Se os embargos de declaração forem rejeitados ou não alterarem a conclusão do julgamento anterior, o recurso interposto pela outra parte antes da publicação do julgamento dos embargos de declaração será processado e julgado independentemente de ratificação.
Art. 218.  Os atos processuais serão realizados nos prazos prescritos em lei.
(...)
§ 4o Será considerado tempestivo o ato praticado antes do termo inicial do prazo.
	CPC de 1973
(Lei nº 5.869/73)
	Novo CPC
(Lei nº 13.105/2015)
	Art. 81. O Ministério Público exercerá o direito de ação nos casos previstos em lei, cabendo-lhe, no processo, os mesmos poderes e ônus que às partes.
Art. 82. Compete ao Ministério Público intervir:
I - nas causas em que há interesses de incapazes;
II - nas causas concernentes ao estado da pessoa, pátrio poder, tutela, curatela, interdição, casamento, declaração de ausência e disposições de última vontade;
III - nas ações que envolvam litígios coletivos pela posse da terra rural e nas demais causas em que há interesse público evidenciado pela natureza da lide ou qualidade da parte.
	Art. 176.  O Ministério Público atuará na defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses e direitos sociais e individuais indisponíveis.
Art. 177.  O Ministério Público exercerá o direito de ação em conformidade com suas atribuições constitucionais.
Art. 178.  O Ministério Público será intimado para, no prazo de 30 (trinta) dias, intervir como fiscal da ordem jurídica nas hipóteses previstas em lei ou na Constituição Federal e nos processos que envolvam:
I - interesse público ou social;
II - interesse de incapaz;
III - litígios coletivos pela posse de terra rural ou urbana.
Parágrafo único.  A participação da Fazenda Pública não configura, por si só, hipótese de intervenção do Ministério Público.
	CPC de 1973
(Lei nº 5.869/73)
	Novo CPC
(Lei nº 13.105/2015)
	Art. 172. Os atos processuais realizar-se-ão em dias úteis, das 6 (seis) às 20 (vinte) horas.
§ 1o Serão, todavia, concluídos depois das 20 (vinte) horas os atos iniciados antes, quando o adiamento prejudicar a diligência ou causar grave dano.
§ 2o A citação e a penhora poderão, em casos excepcionais, e mediante autorização expressa do juiz, realizar-se em domingos e feriados, ou nos dias úteis, fora do horário estabelecido neste artigo, observado o disposto no art. 5o, inciso Xl, da Constituição Federal. 
§ 3o Quando o ato tiver que ser praticado em determinado prazo, por meio de petição, esta deverá ser apresentada no protocolo, dentro do horário de expediente, nos termos da lei de organização judiciária local.
	Art. 212.  Os atos processuais serão realizados em dias úteis, das 6 (seis) às 20 (vinte) horas.
§ 1o Serão concluídos após as 20 (vinte) horas os atos iniciados antes, quando o adiamento prejudicar a diligência ou causar grave dano.
§ 2o Independentemente de autorização judicial, as citações, intimações e penhoras poderão realizar-se no período de férias forenses, onde as houver, e nos feriados ou dias úteis fora do horário estabelecido neste artigo, observado o disposto no art. 5o, inciso XI, da Constituição Federal.
§ 3o Quando o ato tiver de ser praticado por meio de petição em autos não eletrônicos, essa deverá ser protocolada no horário de funcionamento do fórum ou tribunal, conforme o disposto na lei de organização judiciária local.
	CPC de 1973
(Lei nº 5.869/73)
	Novo CPC
(Lei nº 13.105/2015)
	Art. 39. Compete ao advogado, ou à parte quando postular em causa própria:
I - declarar, na petição inicial ou na contestação, o endereço em que receberá intimação;
II - comunicar ao escrivão do processo qualquer mudança de endereço.
Parágrafo único. Se o advogado não cumprir o disposto no no I deste artigo, o juiz, antes de determinar a citação do réu, mandará que se supra a omissão no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, sob pena de indeferimento da petição; se infringir o previsto no no II, reputar-se-ão válidas as intimações enviadas, em carta registrada, para o endereço constante dos autos.
	Art. 106.  Quando postular em causa própria, incumbe ao advogado:
I - declarar, na petição inicial ou na contestação, o endereço, seu número de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil e o nome da sociedade de advogados da qual participa, para o recebimento de intimações;
II - comunicar ao juízo qualquer mudança de endereço.
§ 1o Se o advogado descumprir o disposto no inciso I, o juiz ordenará que se supra a omissão, no prazo de 5 (cinco) dias, antes de determinar a citação do réu, sob pena de indeferimento da petição.
§ 2o Se o advogado infringir o previsto no inciso II, serão consideradas válidas as intimações enviadas por carta registrada ou meio eletrônico ao endereço constante dos autos.
	CPC de 1973
(Lei nº 5.869/73)
	Novo CPC
 (Lei nº 13.105/2015)
	Art. 40, § 2º  Sendo comum às partes o prazo, só em conjunto ou mediante prévio ajuste por petição nos autos, poderão os seus procuradores retirar os autos, ressalvada a obtenção de cópias para a qual cada procurador poderá retirá-los pelo prazo de 1 (uma) hora independentemente de ajuste.
	Art. 107, § 2o Sendo o prazo comum às partes, os procuradores poderão retirar os autos somente em conjunto ou mediante prévio ajuste, por petição nos autos.
§ 3o Na hipótese do § 2o, é lícito ao procurador retirar os autos para obtenção de cópias, pelo prazo de 2 (duas) a 6 (seis) horas, independentemente de ajuste e sem prejuízo da continuidade do prazo.
§ 4o O procurador perderá no mesmo processo o direito a que se refere o § 3o se não devolver os autos tempestivamente, salvo se o prazo for prorrogado pelo juiz.
6. A Gratuidade da Justiça
Novo CPC:
Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas, despesas processuais e honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.
Súmula 481 do STJ: Faz jus ao benefício da justiça gratuita a pessoa jurídica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais.
§ 2o A concessão de gratuidade não afasta a responsabilidade do beneficiário pelas despesas processuais e pelos honorários advocatícios decorrentes de sua sucumbência. (bem como pelas multas processuais que lhe sejam impostas)
§ 3o Vencido o beneficiário, as obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser executadas se, nos 5 (cinco) anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário.
A assistência do requerente por advogado particular não impede a concessão de gratuidade da justiça (art. 99, §4º).
 Deferido o pedido, a parte contrária poderá oferecer impugnação na contestação, na réplica, nas contrarrazões de recurso ou, nos casos de pedido superveniente ou formulado por terceiro, por meio de petição simples, a ser apresentada no prazo de 15 (quinze) dias, nos autos do próprio processo, sem suspensão de seu curso (art. 100).
Novo CPC:
Art. 101. Contra a decisão que indeferir a gratuidade ou a que acolher pedido de sua revogação caberá agravo de instrumento, exceto quando a questão for resolvida na sentença, contra a qual caberá apelação.
- Prazos para interposição de agravode instrumento e apelação de acordo com o Novo CPC: 15 dias (art. 1.002, §5º: Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para responder-lhes é de quinze dias). 
7. Jurisdição e Competência
O Novo CPC realizou mudanças pontuais, adequando a regra ao entendimento já consolidado na jurisprudência e, em outros casos, às novas realidades sociais.
Na atividade jurisdicional, há o incentivo à conciliação, através da previsão de audiências de conciliação e de mediação.
Tanto as hipóteses de incompetência absoluta quanto as de incompetência relativa devem/podem ser impugnadas através de preliminar de contestação (art. 64).
- O momento em que se identifica a competência de determinado juízo a ser aplicada em um caso concreto, denomina-se fixação de competência (art. 43 do Novo CPC).
 	1 – Momento da fixação: o do registro ou da distribuição da petição inicial;
 	2 – Perpetuatio Jurisdicionis: regra de estabilidade; a causa fica onde está, não importando as modificações de fato (mudança de domicílio do réu) e de direito (ampliação do teto de competência em razão do valor da causa) que ocorrem posteriormente.
 	3 – Exceção à Perpetuatio: se for suprimido o órgão judiciário; quando for alterada a competência absoluta.
	CPC de 1973
(Lei nº 5.869/73)
	Novo CPC
(Lei nº 13.105/2015)
	Art. 99. O foro da Capital do Estado ou do Território é competente:
I - para as causas em que a União for autora, ré ou interveniente;
II - para as causas em que o Território for autor, réu ou interveniente.
Parágrafo único. Correndo o processo perante outro juiz, serão os autos remetidos ao juiz competente da Capital do Estado ou Território, tanto que neles intervenha uma das entidades mencionadas neste artigo.
	Art. 51.  É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autora a União.
Parágrafo único.  Se a União for a demandada, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou no Distrito Federal.
Art. 52.  É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autor Estado ou o Distrito Federal.
Parágrafo único.  Se Estado ou o Distrito Federal for o demandado, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou na capital do respectivo ente federado.
	CPC de 1973
(Lei nº 5.869/73)
	Novo CPC
 (Lei nº 13.105/2015)
	Art. 100. É competente o foro:
I - da residência da mulher, para a ação de separação dos cônjuges e a conversão desta em divórcio, e para a anulação de casamento;
	Art. 53.  É competente o foro:
I - para a ação de divórcio, separação, anulação de casamento e reconhecimento ou dissolução de união estável:
a) de domicílio do guardião de filho incapaz;
b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz;
c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal;
O Novo CPC também conduziu a regulamentação sobre conflito de competência para o final do Código, na parte que trata de competência originária dos tribunais, a partir do art. 951.
 Além da impugnação à gratuidade judiciária e à incompetência relativa poderem ser suscitadas como preliminares de contestação, a impugnação ao valor da causa também passa para a mesma sistemática (art. 293).
8. Honorários sucumbenciais
- Honorários progressivos/cumulativos:
Art. 85.  A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor.
§ 1o São devidos honorários advocatícios na reconvenção, no cumprimento de sentença, provisório ou definitivo, na execução, resistida ou não, e nos recursos interpostos, cumulativamente.
- Honorários nas causas em que a Fazenda Pública for parte:
Art. 85, § 3o Nas causas em que a Fazenda Pública for parte, a fixação dos honorários observará os critérios estabelecidos nos incisos I a IV do § 2o e os seguintes percentuais:
I - mínimo de dez e máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido até 200 (duzentos) salários-mínimos;
II - mínimo de oito e máximo de dez por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido acima de 200 (duzentos) salários-mínimos até 2.000 (dois mil) salários-mínimos;
III - mínimo de cinco e máximo de oito por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido acima de 2.000 (dois mil) salários-mínimos até 20.000 (vinte mil) salários-mínimos;
IV - mínimo de três e máximo de cinco por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido acima de 20.000 (vinte mil) salários-mínimos até 100.000 (cem mil) salários-mínimos;
V - mínimo de um e máximo de três por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico obtido acima de 100.000 (cem mil) salários-mínimos.
- E quando houver omissão na decisão quanto aos honorários?
- E se a decisão já tiver transitado em julgado?
9. Intervenção de Terceiros
O Novo CPC realizou mudanças pontuais, tratando a oposição como procedimento especial, regulamentado a partir do art. 682.
 Houve a inclusão da figura do amicus curiae e do incidente de despersonalização da pessoa jurídica.
 O amicus curiae pode ser tanto pessoa natural quanto jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada.
 A intervenção do amicus não implica alteração de competência nem autoriza a interposição de recursos, ressalvadas a oposição de embargos de declaração e do recurso contra a decisão que julgar o incidente de resolução de demandas repetitivas.
 A nomeação à autoria deixa de ser intervenção de terceiro mas seu objeto (alegação de ilegitimidade) persiste, agora, no capítulo relacionado à contestação, a partir do art. 338.
Impressões iniciais sobre o novo Código de Processo Civil
Palestra do Professor Matusalém Jobson
Material de apoio
10. DO PROCESSO ELETRÔNICO.
Deixe-se claro que a via eletrônica não é um procedimento, mas uma forma de se exercer o procedimento!
“Percebe-se, de imediato, em decorrência da diversidade de níveis de informatização do sistema jurisdicional e mesmo dos profissionais, o Novo CPC adotou um modelo misto, indicando, a um só tempo, como serão praticados os atos processuais em autos de processo de papel e/ou eletrônico.”[9: THEODORO JR., Humberto; NUNES, Dierle; BAHIA, Alexandre Melo Franco; PEDRON, Flávio Quinaud. Novo CPC: fundamentos e sistematização. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 149.]
Art. 198. As unidades do Poder Judiciário deverão manter gratuitamente, à disposição dos interessados, equipamentos necessários à prática de atos processuais e à consulta e ao acesso ao sistema e aos documentos dele constantes. Parágrafo único. Será admitida a prática de atos por meio não eletrônico no local onde não estiverem disponibilizados os equipamentos previstos no caput. 
Art. 199. As unidades do Poder Judiciário assegurarão às pessoas com deficiência acessibilidade aos seus sítios na rede mundial de computadores, ao meio eletrônico de prática de atos judiciais, à comunicação eletrônica dos atos processuais e à assinatura eletrônica.
Art. 213. A prática eletrônica de ato processual pode ocorrer em qualquer horário até as 24 (vinte e quatro) horas do último dia do prazo.
Art. 228. § 2º Nos processos em autos eletrônicos, a juntada de petições ou de manifestações em geral ocorrerá de forma automática, independentemente de ato de serventuário da justiça.
Art. 229. Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal, independentemente de requerimento. § 2º Não se aplica o disposto no caput aos processos em autos eletrônicos.
Art. 246. A citação será feita: I – pelo correio; II – por oficial de justiça; III – pelo escrivão ou chefe de secretaria, se o citando comparecer em cartório;IV – por edital; V – por meio eletrônico, conforme regulado em lei. § 1º Com exceção das microempresas e das empresas de pequeno porte, as empresas públicas e privadas são obrigadas a manter cadastro nos sistemas de processo em autos eletrônicos, para efeito de recebimento de citações e intimações, as quais serão efetuadas preferencialmente por esse meio. § 2º O disposto no § 1º aplica-se à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e às entidades da administração indireta.
Art. 288. A petição deve vir acompanhada de procuração, que conterá os endereços do advogado, eletrônico e não-eletrônico, para recebimento de intimações.
Art. 320. A petição inicial indicará: I – o juízo a que é dirigida; II – os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número no cadastro de pessoas físicas ou no cadastro nacional de pessoas jurídicas, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu;
Art. 472. O juiz nomeará perito especializado no objeto da perícia e fixará de imediato o prazo para a entrega do laudo. § 2º Ciente da nomeação, o perito apresentará em cinco dias: I – sua proposta de honorários; II – seu currículo, com a comprovação de sua especialização; III – seus contatos profissionais, em especial o endereço eletrônico, para onde serão dirigidas as intimações pessoais.
Art. 536. O cumprimento provisório da sentença será requerido por petição dirigida ao juízo competente. Não sendo eletrônicos os autos, será acompanhada de cópias das seguintes peças do processo, cuja autenticidade poderá ser certificada pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade pessoal:
Art. 727. Verificado o desaparecimento dos autos, eletrônicos ou não, pode o juiz, de ofício, qualquer das partes ou o Ministério Público, se for o caso, promover-lhes a restauração.
Art. 1.007, § 3º É dispensado o recolhimento do porte de remessa e de retorno no processo em autos eletrônicos.
11. PROCESSO DE CONHECIMENTO
Fixação de um procedimento comum
Acaba a subdivisão do procedimento comum em ordinário e sumário. Ou o procedimento é comum ou é especial.
A. PETIÇÃO INICIAL. INDEFERIMENTO DA INICIAL.
Art. 330. A petição inicial será indeferida quando: I – for inepta; II – a parte for manifestamente ilegítima; III – o autor carecer de interesse processual; IV – não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321. § 1º Considera-se inepta a petição inicial quando: I – lhe faltar pedido ou causa de pedir; II – o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedido genérico; III – da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão; IV – contiver pedidos incompatíveis entre si.
B. IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DO PEDIDO
NCPC Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu, julgará liminarmente improcedente o pedido que contrariar: I – enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça; II – acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos; III – entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência; IV – enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local. § 1º O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar, desde logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição.
C. AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO
D. DA RESPOSTA DO RÉU
No modelo do CPC/73, pode o réu, no prazo da defesa, apresentar:
1. Contestação
2. Exceção de incompetência
3. Impugnação ao valor da causa
4. Impugnação à concessão de justiça gratuita
5. Exceção de impedimento ou suspeição
6. Reconvenção
NCPC Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar: I – inexistência ou nulidade da citação; II – incompetência absoluta e relativa; III – incorreção do valor da causa; IV – inépcia da petição inicial; V – perempção; VI – litispendência; VII – coisa julgada; VIII – conexão; IX – incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização; X – convenção de arbitragem; XI – ausência de legitimidade ou de interesse processual; XII – falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar; XIII – indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça. 
§ 5º Excetuadas a convenção de arbitragem e a incompetência relativa, o juiz conhecerá de ofício das matérias enumeradas neste artigo. 
§ 6º A ausência de alegação da existência de convenção de arbitragem, na forma prevista neste Capítulo, implica aceitação da jurisdição estatal e renúncia ao juízo arbitral.
E. DAS PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES
NCPC Art. 350. Se o réu alegar fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, este será ouvido no prazo de 15 (quinze) dias, permitindo-lhe o juiz a produção de prova. 
NCPC Art. 351. Se o réu alegar qualquer das matérias enumeradas no art. 337, o juiz determinará a oitiva do autor no prazo de 15 (quinze) dias, permitindo-lhe a produção de prova.
F. DO JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO
Da Extinção do Processo 
Art. 354. Ocorrendo qualquer das hipóteses previstas nos arts. 485 e 487, incisos II e III, o juiz proferirá sentença. Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput pode dizer respeito a apenas parcela do processo, caso em que será impugnável por agravo de instrumento. 
Do Julgamento Antecipado do Mérito 
Art. 355. O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença com resolução de mérito, quando: I – não houver necessidade de produção de outras provas; II – o réu for revel, ocorrer o efeito previsto no art. 344 e não houver requerimento de prova, na forma do art. 349. 
Do Julgamento Antecipado Parcial do Mérito 
Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles: I – mostrar-se incontroverso; II – estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 355. § 1º A decisão que julgar parcialmente o mérito poderá reconhecer a existência de obrigação líquida ou ilíquida. § 2º A parte poderá liquidar ou executar, desde logo, a obrigação reconhecida na decisão que julgar parcialmente o mérito, independentemente de caução, ainda que haja recurso contra essa interposto. § 3º Na hipótese do § 2º, se houver trânsito em julgado da decisão, a execução será definitiva. § 4º A liquidação e o cumprimento da decisão que julgar parcialmente o mérito poderão ser processados em autos suplementares, a requerimento da parte ou a critério do juiz. § 5º A decisão proferida com base neste artigo é impugnável por agravo de instrumento. 
Do Saneamento e da Organização do Processo 
Art. 357. Não ocorrendo nenhuma das hipóteses deste Capítulo, deverá o juiz, em decisão de saneamento e de organização do processo: 
I – resolver as questões processuais pendentes, se houver; 
II – delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a atividade probatória, especificando os meios de prova admitidos; 
III – definir a distribuição do ônus da prova, observado o art. 373; 
IV – delimitar as questões de direito relevantes para a decisão do mérito; V – designar, se necessário, audiência de instrução e julgamento.
 § 1º Realizado o saneamento, as partes têm o direito de pedir esclarecimentos ou solicitar ajustes, no prazo comum de 5 (cinco) dias, findo o qual a decisão se torna estável. 
§ 2º As partes podem apresentar ao juiz, para homologação, delimitação consensual das questões de fato e de direito a que se referem os incisos II e IV, a qual, se homologada, vincula as partes e o juiz. 
§ 3º Se a causa apresentar complexidade em matéria de fato ou de direito, deverá o juiz designar audiência para que o saneamento seja feito em cooperação com as partes, oportunidade em que o juiz, se for o caso, convidará as partes a integrar ou esclarecer suas alegações. 
§ 4º Caso tenha sido determinada a produção de prova testemunhal, o juiz fixará prazo comum não superior a 15 (quinze)dias para que as partes apresentem rol de testemunhas. 
§ 5º Na hipótese do § 3º, as partes devem levar, para a audiência prevista, o respectivo rol de testemunhas. 
§ 6º O número de testemunhas arroladas não pode ser superior a 10 (dez), sendo 3 (três), no máximo, para a prova de cada fato. 
§ 7º O juiz poderá limitar o número de testemunhas levando em conta a complexidade da causa e dos fatos individualmente considerados. 
§ 8º Caso tenha sido determinada a produção de prova pericial, o juiz deve observar o disposto no art. 465 e, se possível, estabelecer, desde logo, calendário para sua realização. 
§ 9º As pautas deverão ser preparadas com intervalo mínimo de 1 (uma) hora entre as audiências.
G. AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO
H. PROVAS
Mantem a regra da atipicidade das provas
Regra geral mantida, do ônus estático da prova, em que cabe ao autor a prova dos fatos constitutivos e ao réu os fatos impeditivos, modificativos e extintivos do direito.
Teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova. 
NCPC Art. 373, § 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.
É possível a prova negociada? Sim. É possível que as testemunhas façam seus relatos por escrito, por exemplo.
NCPC Art. 373, § 3º A distribuição diversa do ônus da prova também pode ocorrer por convenção das partes, salvo quando: I – recair sobre direito indisponível da parte; II – tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito. § 4º A convenção de que trata o § 3º pode ser celebrada antes ou durante o processo.
No modelo cooperativo, o poder instrutório do juiz é suplementar. Como regra, cabe à parte requerer a prova. Não sendo suficiente ou sendo impertinente a prova requerida, deve o juiz, além de fixar o ponto controvertido, dizer qual a prova necessária a ser produzida. O juiz deve ser colaborador das partes na busca da verdade possível ou da verdade razoável. (Niklas Luhmann)
Tipificação da prova emprestada, da testemunha técnica e da ata notarial.
Interrogatório informal x depoimento pessoal
As testemunhas serão comunicadas pelo próprio advogado.
O perito tem que ser especializado no objeto da perícia
Art. 472. O juiz nomeará perito especializado no objeto da perícia e fixará de imediato o prazo para a entrega do laudo. § 1º Incumbe às partes, dentro de quinze dias contados da intimação do despacho de nomeação do perito: I – arguir o impedimento ou a suspeição do perito, se for o caso; II – indicar o assistente técnico; III – apresentar quesitos. § 2º Ciente da nomeação, o perito apresentará em cinco dias: I – sua proposta de honorários; II – seu currículo, com a comprovação de sua especialização; III – seus contatos profissionais, em especial o endereço eletrônico, para onde serão dirigidas as intimações pessoais.
I. DA DECISÃO JUDICIAL 
Definição de sentença e de decisão interlocutória
1º momento – Sentença era o ato que extinguia o processo, com ou sem resolução de mérito. Critério topológico.
2º momento – Sentença era o ato do juiz que se amoldava a uma das hipóteses dos arts. 267 e 269 do CPC. Critério do conteúdo.
Obs: Nessa época houve bastante discussão sobre a possibilidade de haver mais de uma sentença no 1º grau. Qual era o ato do juiz que exclui um dos litisconsortes liminarmente? Qual o recurso cabível? Seria possível uma apelação por instrumento?
3º momento – Sentença é o ato do juiz que encerra uma fase do processo, implicando uma das hipóteses dos arts. _______. O NCPC adota o critério topológico com o critério do conteúdo.
Decisão interlocutória é qualquer ato do juiz, com carga decisória, que não seja sentença. Deixa de ser o ato que resolve incidentes do processo. Com isso, vê-se que é adotado pelo NCPC a tese da decisão interlocutória que resolve definitivamente o mérito, fazendo, com isso, coisa julgada.
No NCPC, cabe ao juiz enfrentar todos os fundamentos invocados pelas partes?
É entendimento pacífico dos tribunais de que não é necessário que o juiz enfrente todas as teses e questões levantadas pelas partes, basta que decidam fundamentadamente. 
No NCPC, em seu art. 489, §1º, inciso IV, “Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador.”
Intimação pessoal antes da extinção do processo sem resolução de mérito.
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: II – o processo ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes; III – por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias; § 1º Nas hipóteses descritas nos incisos II e III, a parte será intimada pessoalmente para suprir a falta no prazo de 5 (cinco) dias.
Sentença de extinção sem resolução de mérito. Apelação. Efeito regressivo.
NCPC Art. 485, § 7º Interposta a apelação em qualquer dos casos de que tratam os incisos deste artigo, o juiz terá 5 (cinco) dias para retratar-se.
J. DA COISA JULGADA
Qual a natureza jurídica da coisa julgada?
No Código de 1973, afirmava-se textualmente se tratar de eficácia da sentença, a qual tornava imutável e indiscutível a sentença. (art. 467)
No NCPC, adota-se concepção há muito defendido pela doutrina, de que a coisa julgada é qualidade da decisão. Por isso, no texto do art. 502, reza que “Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso.”
A coisa julgada pode se dar sobre uma decisão interlocutória?
No modelo do CPC/73, apenas a sentença tinha a capacidade de se tornar imutável e indiscutível. No NCPC, não importa o tipo do provimento judicial, pois é o conteúdo que se torna imutável, não sendo relevante se através de uma decisão interlocutória ou de uma sentença, apenas que seja de mérito.
NCPC Art. 502. Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso.
O que é abrangido pela coisa julgada?
A regra do Código de 73 era de que somente o decisum está acobertado pela coisa julgada. Se quisesse estender a autoridade da coisa julgada para prejudicial, necessário o manejo da ação declaratória incidental.
O NCPC, no art. 503, prescreveu que apenas a questão principal forma coisa julgada, mas permite a extensão da coisa julgada à questão prejudicial, desde que:
a) dessa resolução dependa o julgamento do mérito; 
b) a seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se aplicando no caso de revelia; 
c) o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la como questão principal.
NCPC Art. 503. A decisão que julgar total ou parcialmente o mérito tem força de lei nos limites da questão principal expressamente decidida. § 1º O disposto no caput aplica-se à resolução de questão prejudicial, decidida expressa e incidentemente no processo, se: I – dessa resolução depender o julgamento do mérito; II – a seu respeito tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se aplicando no caso de revelia; III – o juízo tiver competência em razão da matéria e da pessoa para resolvê-la como questão principal. § 2º A hipótese do § 1º não se aplica se no processo houver restrições probatórias ou limitações à cognição que impeçam o aprofundamento da análise da questão prejudicial.
Qual o fundamento para se estender a coisa julgada à questão e premissa da decisão?
A Relatora-Geral do Anteprojeto do NCPC, Teresa Arruda Alvim Wambier, assim justifica: 
“Por diversas razões, nós entendemos ser esta a melhorescolha. Duas delas merecem menção: a) não é logico, e é contra o bom senso, admitir que haja dois entendimentos sobre a mesma causa petendi em duas ações diferentes, para gerar consequências diversas; b) a regra vigente deixa a porta aberta para ações futuras, em que a mesma causa petendi pode ser vista de outra maneira. Então, de fato, a primeira ação não terá resolvido completamente e para sempre o problema basilar. Além do mais, isso pode ocasionar a sobrecarga dos Tribunais.”[10: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. O que é abrangido pela coisa julgada no direito processual civil brasileiro: a norma vigente e as perspectivas de mudança. Revista de Processo. Vol. 230/2014. P. 75-89. Abr/2014.]
No modelo do NCPC, o alcance da coisa julgada para além do pedido das partes (questões prejudiciais e premissas), não afeta o princípio da congruência, o qual atrela o juiz ao pedido, já que só pode ser julgado o que fora postulado, ante o princípio dispositivo?
No NCPC, o juiz tem um papel colaborativo na solução da lide, podendo, em algumas situações, como no espectro da coisa julgada, em nome de um maior interesse público, estender a imutabilidade e indiscutibilidade às questões e premissas.
O Brasil adotou o modelo de coisa julgada da Common Law?
Apenas parcialmente. Lá todos os pedidos decorrentes da mesma causa de pedir devem ser, de pronto, formulados, pois a coisa julgada se forma sobre todos os pedidos e defesas que derivam da mesma causa petendi. (Claim preclusion). Isso nós não adotamos. Por sua vez, adotamos, com o NCPC, a collateral estoppel, em que as questões de decidir são atingidas pela coisa julgada, desde que haja: a) debate sobre elas entre as partes; b) decisão explícita sobre ela; e c) relação de fundamentalidade entre a questão e o pedido, ou seja, é necessário que a questão seja fundamental para a resolução da demanda.
NCPC Art. 508. Transitada em julgado a decisão de mérito, considerar-se-ão deduzidas e repelidas todas as alegações e as defesas que a parte poderia opor tanto ao acolhimento quanto à rejeição do pedido. (Princípio do deduzido e do dedutível!)
A coisa julgada é por capítulo ou somente da última decisão transitada em julgado?
O trânsito em julgado é único, não havendo que se falar em coisa julgada de um único capítulo da sentença, mas de preclusão.
O tema, todavia, causa acesa polêmica na doutrina e na jurisprudência. Há uma corrente que defende a existência sim de diferentes coisas julgadas, a denominada coisa julgada progressiva.
Para melhor compreensão do tema, observe-se o seguinte exemplo:
Mário ingressou em juízo com ação contra Ana em que postula reparação por danos morais, danos materiais e pede, ainda, a condenação da ré ao pagamento das despesas processuais. A sentença é totalmente procedente. Ana, todavia, apelou apenas do capítulo que a condenou ao ressarcimento de danos morais.
Pergunta-se: 
Os demais capítulos não impugnados transitaram em julgado? São passíveis de execução?
Se cabível execução contra o capítulo não impugnado, será ela provisória ou definitiva?
O prazo para a ação rescisória se inicia com a formação de cada coisa julgada (para quem defende a possibilidade da formação de várias) ou somente com a última coisa julgada?
Atualmente, o STJ e o STF têm entendimento diverso sobre o assunto. 
Segundo o STJ, para quem a matéria está inclusive sumulada, não há o que se denomina de coisa julgada progressiva. Abaixo a súmula e alguns julgados:
SÚMULA Nº 401: O prazo decadencial da ação rescisória só se inicia quando não for cabível qualquer recurso do último pronunciamento judicial.
PROCESSUAL CIVIL - AÇÃO RESCISÓRIA - PRAZO DECADENCIAL - ART. 495 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - TERMO A QUO - TRÂNSITO EM JULGADO DA DECISÃO PROFERIDA SOBRE O ÚLTIMO RECURSO INTERPOSTO, AINDA QUE DISCUTA APENAS A TEMPESTIVIDADE DE RECURSO - PRECEDENTES – EMBARGOS REJEITADOS. I - Já decidiu esta Colenda Corte Superior que a sentença é una, indivisível e só transita em julgado como um todo após decorrido in albis o prazo para a interposição do último recurso cabível, sendo vedada a propositura de ação rescisória de capítulo do decisum que não foi objeto do recurso. Impossível, portanto, conceber-se a existência de uma ação em curso e, ao mesmo tempo, várias ações rescisória no seu bojo, não se admitindo ações rescisórias em julgados no mesmo processo. II - Sendo assim, na hipótese do processo seguir, mesmo que a matéria a ser apreciada pelas instâncias superiores refira-se tão somente à intempestividade do apelo - existindo controvérsia acerca deste requisito de admissibilidade, não há que se falar no trânsito em julgado da sentença rescindenda até que o último órgão jurisdicional se manifeste sobre o derradeiro recurso. Precedentes. (STJ; EREsp 441252 / CE; 2004/0065582-3; GILSON DIPP; CE - CORTE ESPECIAL; DJ 18/12/2006) (grifos nossos).
RECURSO ESPECIAL - PROCESSO (...) AÇÃO RESCISÓRIA - PRAZO PARA PROPOSITURA - TERMO INICIAL - TRÂNSITO EM JULGADO DA ÚLTIMA DECISÃO PROFERIDA NOS AUTOS - INCIDÊNCIA DA SÚMULA N.º 401/STJ - COISA JULGADA 'POR CAPÍTULOS' - INADMISSIBILIDADE -  SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA - DISTRIBUIÇÃO DOS ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA PROPORCIONALMENTE À PERDA SOFRIDA PELAS PARTES - ESCÓLIO JURISPRUDENCIAL - DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADA - RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E IMPROVIDO. (...) III - Interpretando-se o disposto no artigo 495 do Código de Processo Civil, o termo inicial da contagem do prazo bienal para a propositura da ação rescisória, será o trânsito em julgado da última decisão posta no último recurso eventualmente interposto, momento em que já não cabe qualquer insurgência quanto à decisão rescindenda. Incidência da recente Súmula nº 401/STJ. Observância, na espécie. IV - Não se admite, por consequência, a chamada "coisa julgada por capítulos", uma vez que tal entendimento resultaria em grave tumulto processual, tornando possíveis inúmeras e indetermináveis quantidade de coisas julgadas em um mesmo feito (...) (STJ; REsp 1004472 / PR; 2007/0264388-2; MASSAMI UYEDA; T3 - TERCEIRA TURMA; DJe 23/11/2010) (grifos nossos).
Já para o STF: é possível sim a coisa julgada progressiva. Há uma súmula, a de nº 354, datada de 13.12.1963, que já consagrava a tese:
SÚMULA Nº 354: Em caso de embargos infringentes parciais, é definitiva a parte da decisão embargada em que não houve divergência na votação.
Mais recentemente, quando do julgamento de questão de ordem na Ação Penal nº 470/MG (“Mensalão”), em 13.11.2013, o STF reafirmou a tese, nos seguintes termos:
2. Sempre que a sentença decide pedidos autônomos, ela gera a formação de capítulos também autônomos, que são juridicamente cindíveis. O julgamento da demanda integrada por mais de uma pretensão exige um ato judicial múltiplo de procedência ou improcedência dos pedidos. Doutrina. 
4. (sic) No direito processual penal, o julgamento múltiplo ocorre em razão da diversidade dos fatos típicos imputados e das regras próprias ao concurso material de crimes, em que se exige sentença de estrutura complexa, com condenações múltiplas.
 5. É plena a autonomia dos capítulos, a independência da prova e a especificidade das penas impostas aos condenados para cada um dos crimes pelos quais estão sendo processados.
 6. O trânsito em julgado refere-se à condenação e não ao processo. A coisa julgada material é a qualidade conferida pela Constituição Federal e pela Lei à sentença/acórdão que põe fim a determinada lide, o que ocorre com o esgotamento de todas as possibilidades recursais quanto a uma determinada condenação e não quanto ao conjunto de condenações de um processo. No mesmo sentido, o artigo 467 do Código de Processo Civil; e o artigo 105 da Lei de Execuções Penais. Este entendimento já se encontra de longa data sedimentado nesta Corte, nos termos das Súmulas 354 e 514 do Supremo Tribunal Federal. 
7. A interposição de embargos infringentes com relação a um dos crimes praticados não relativiza nem aniquila a eficácia da coisa julgada material relativamenteàs condenações pelos demais crimes praticados em concurso de delitos, que formam capítulos autônomos do acórdão. Descabe transformar a parte irrecorrível da sentença em um simples texto judicial, retirando- lhe temporariamente a força executiva até que seja finalizado outro julgamento, que, inclusive, em nada lhe afetará.
Pouco tempo depois, em 25.03.2014, o STF, ao julgar o RE 666589 / DF, relator o Min. MARCO AURÉLIO, reiterou mais uma vez a adoção da tese da coisa julgada progressiva, asseverando que:
Essa distinção provoca reflexos no cumprimento do ato – que pode ser realizado de modo independente –, assim como – e esta é a questão central deste processo – no trânsito em julgado, que se mostra passível de ocorrer em momentos separados presentes os capítulos autônomos da decisão. Conforme Dinamarco, ‘podem variar, em relação aos diversos capítulos de uma só sentença, os momentos em que cada um deles passa em julgado’”.
NCPC Art. 975. O direito à rescisão se extingue em 2 (dois) anos contados do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo.
NCPC Art. 502. Denomina-se coisa julgada material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso.
NCPC Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada. § 1º Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que não tenham sido solucionadas, desde que relativas ao capítulo impugnado. Observe-se que aqui fica evidenciada a formação da coisa julgada do capítulo não impugnado, pois deixa claro que não haverá efeito translativo para o capítulo não atacado, o que o torna impossível de modificação, portanto, com a cristalização do julgado.
11. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E EXECUÇÃO
Criam-se disposições gerais do cumprimento de sentença!
Forma de intimação do devedor para cumprimento da sentença
NCPC Art. 513 § 2º O devedor será intimado para cumprir a sentença: 
I – pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu advogado constituído nos autos; 
II – por carta com aviso de recebimento, quando representado pela Defensoria Pública ou quando não tiver procurador constituído nos autos, ressalvada a hipótese do inciso IV; 
III – por meio eletrônico, quando, no caso do § 1º do art. 246, não tiver procurador constituído nos autos; 
IV – por edital, quando, citado na forma do art. 256, tiver sido revel na fase de conhecimento. 
§ 3º Na hipótese do § 2º, incisos II e III, considera-se realizada a intimação quando o devedor houver mudado de endereço sem prévia comunicação ao juízo, observado o disposto no parágrafo único do art. 274. 
§ 4º Se o requerimento a que alude o § 1º for formulado após 1 (um) ano do trânsito em julgado da sentença, a intimação será feita na pessoa do devedor, por meio de carta com aviso de recebimento encaminhada ao endereço constante dos autos, observado o disposto no parágrafo único do art. 274 e no § 3º deste artigo.
A Decisão judicial transitada em julgado pode ser levada a protesto?
Art. 517. A decisão judicial transitada em julgado poderá ser levada a protesto, nos termos da lei, depois de transcorrido o prazo para pagamento voluntário previsto no art. 523. § 1º Para efetivar o protesto, incumbe ao exequente apresentar certidão de teor da decisão. § 2º A certidão de teor da decisão deverá ser fornecida no prazo de 3 (três) dias e indicará o nome e a qualificação do exequente e do executado, o número do processo, o valor da dívida e a data de decurso do prazo para pagamento voluntário. § 3º O executado que tiver proposto ação rescisória para impugnar a decisão exequenda pode requerer, a suas expensas e sob sua responsabilidade, a anotação da propositura da ação à margem do título protestado. § 4º A requerimento do executado, o protesto será cancelado por determinação do juiz, mediante ofício a ser expedido ao cartório, no prazo de 3 (três) dias, contado da data de protocolo do requerimento, desde que comprovada a satisfação integral da obrigação. 
“O protesto interessará a quem realiza empréstimos ou financiamentos, pois estas pessoas (físicas ou jurídicas) desejam saber a real capacidade da outra parte, no que tange ao cumprimento de suas obrigações. Assim, os interessados em geral, sobretudo os órgãos de proteção ao crédito (Associação Comercial, Serasa, etc.) solicitam dos tabelionatos de protesto as relações de pessoas que possuem protestos, lançando-os em seus bancos de dados. Com isso, tem-se maior segurança jurídica, pois, em um exemplo prático, uma empresa financeira só irá realizar um empréstimo se o contratante estiver com seu “nome limpo na praça”.”[11: Trecho retirado do site do Cartório Ayres, localizado em São Vicente/SP.]
É possível a inclusão do executado no cadastro de inadimplentes?
NCPC Art. 782. § 3º A requerimento da parte, o juiz pode determinar a inclusão do nome do executado em cadastros de inadimplentes
O cumprimento voluntário não mais se dá de ofício pelo juiz.
Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de decisão sobre parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do exequente, sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de custas, se houver. 
Existe formalidade para esse requerimento?
Art. 524. O requerimento previsto no art. 523 será instruído com demonstrativo discriminado e atualizado do crédito, devendo a petição conter: I – o nome completo, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica do exequente e do executado, observado o disposto no art. 319, §§ 1º a 3º; II – o índice de correção monetária adotado; III – os juros aplicados e as respectivas taxas; IV – o termo inicial e o termo final dos juros e da correção monetária utilizados; V – a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso; VI – especificação dos eventuais descontos obrigatórios realizados; VII – indicação dos bens passíveis de penhora, sempre que possível.
Não efetuado o pagamento voluntário, acresce-se a multa de 10%, mais honorários de 10%
§ 1º Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo do caput, o débito será acrescido de multa de dez por cento e, também, de honorários de advogado de dez por cento. 
A partir de quando flui o prazo para a impugnação do executado?
Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente de penhora ou nova intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação. 
O que muda na execução judicial de pagar contra a fazenda pública?
Deixa-se de ter um processo de execução, para se ter uma fase de cumprimento de sentença;
A fazenda pública passa a ser intimada e não citada;
E a intimação é para impugnar a execução, e não embargar como antes;
A impugnação é nos próprios autos.
Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu representante judicial, por carga, remessa ou meio eletrônico, para, querendo, no prazo de 30 (trinta) dias e nos próprios autos, impugnar a execução,

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