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Os tres tipos de governo Montesquieu

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A teoria dos três tipos de governo
em Montesquieu
Uma das características de O Espírito das Leis é a ampla diversidade dos temas tratados. Montesquieu escreve a obra com a pretensão de analisar as dimensões histórica, social e política das leis, investigando-as da forma mais ampla possível, tentando incorporar á obra as mais diferentes expressões das leis, dos usos e dos costumes dos povos da terra. 
Metodologicamente, o autor utiliza-se de um aparelho conceitual que propõe dar a diversidade dos fenômenos jurídicos uma ordem que permita a essa realidade ser pensada. A variedade das leis segundo os costumes diversificados dos povos não representa um problema, antes traduz a própria natureza dos costumes. Essa variedade pode ser explicada, considerando-se que as leis próprias de cada sociedade são causalmente determinadas. Assim sendo, caberia ao analista identificar as causas particulares das leis de uma determinada sociedade para em seguida isolar aqueles princípios intermediários que se situam entre a diversidade particular de uma cultura e os conceitos universalmente válidos.
Um aspecto a ser destacado tem relação com o tempo que o livro levou para ser elaborado. As épocas diferentes e as inovações por conta das observações feitas durantes as viagens do autor dão ao livro não uma composição incoerente, mas a reunião de trecho de data e de inspiração diferentes. Tome-se, por exemplo, o livro XI sobre a Constituição da Inglaterra e a separação dos poderes que deve ter sido escrito após sua viagem ä Inglaterra. Outro exemplo são os livros de sociologia que aborda as causas físicas ou morais das leis, provavelmente escritos ainda mais tarde (Aron, 2000:21).
A primeira parte da obra está constituída pelos livros de I ao XIII - nela o autor constrói a sua análise acerca dos três tipos de governo. Essa parte é também traduzida como a sua teoria política.
As três modalidades de governo
 A república = democracia ou aristocracia
A monarquia
O despotismo
Antes de apreciar o conjunto das análises sobre as razões e as práticas desses três tipos de governo faz-se necessário assinalar a influência de Aristóteles na construção da peça formada pelos treze primeiros livros. No entanto é importante ressalvar Montesquieu não segue ortodoxamente os escritos aristotélicos. Muito embora não se possa negar essa influência visível da escola clássica da filosofia, Montesquieu faz alusão, critica e inova o pensamento de Aristóteles acerca das formas de governo. Raymond Aron entende que Montesquieu tanto se aproxima como se afasta dos filósofos clássicos. A análise dos tipos de governo concentra-se nos livros II ao VIII.
Critérios para a definição dos tipos de governo
Vale mencionar que Montesquieu abandona aquela distinção aristotélica de governo puro e impuro. Toda forma de governo é para Montesquieu uma organização normal, uma vez que cada um possui sua própria natureza e é animado por princípios e causas físicas e sociais.
Um outro aspecto importante é que o estudo do filósofo francês sobre as formas de governo se distinguia da visão aristotélica distinguia a superestrutura política das bases sociais.
A contribuição decisiva de Montesquieu consiste precisamente em retomar o problema na sua generalidade e combinar a análise dos regimes com a análise das organizações sociais, de tal modo que cada governo apareça, ao mesmo tempo, como uma sociedade determinada (Aron, 2000:23). 
A natureza e o princípio dos governos
Natureza: Aquilo que faz com que o governo seja o que é (estrutura particular do governo)
Princípio: Aquilo que faz o governo agir do modo que age (as paixões humanas que movimentam o governo). Deve-se considerar a própria observação que o autor faz acerca desses princípios:
Tais são os princípios dos três governos, o que não significa que, em determinada república, se seja virtuoso, mas sim que se deveria sê-lo. Isso também não prova que numa certa monarquia, a honra reine e que, num dado Estado despótico, o medo vigore: mas sim que a honra e o medo deveriam existir, sem o que o governo seria imperfeito (Livro II, p.47)
Governo, exercício do poder e sentimentos políticos
	Governo
	Forma
	Princípio
	República democrática
	O povo possui o poder soberano
	Virtude
	República aristocrática
	O poder soberano em mãos de um grupo
	Virtude
	Monarquia
	O monarca ou o príncipe é a fonte de todo o poder político e civil, segundo leis estabelecidas
	Honra
	Despotismo
	O poder exercido sem leis, por um só 
	Temor
Critério 1- A natureza de cada governo é determinada pelo número dos que detém a soberania:
Suponho três definições, ou antes, três fatos: um que o governo republicano é aquele em que o povo, como um todo, ou somente uma parcela do povo, possui o poder soberano: a monarquia é aquele em que um só governa, mas de acordo com leis fixas e estabelecidas, enquanto, no governo despótico, uma só pessoa, sem obedecer a leis e regras, realiza tudo por sua vontade e seus caprichos (Livro II, cap. 1, p.31).
Critério 2- A natureza de cada governo não depende somente do número dos que detém o poder soberano, mas também do modo como este é exercido:
Montesquieu mostra na comparação entre o exercício do poder de um monarca e de um déspota que o aspecto relevante não repousa no número dos que exercem o poder, mas no fato de como o exercem. Na monarquia um exerce o poder com base em leis predeterminadas; no despotismo o poder político é exercido sem leis e sem regras.
Critério 3- Um tipo de governo não é suficientemente definido pela característica quase jurídica da posse do poder soberano. Cada tipo de governo se caracteriza, além disso, pelo sentimento sem o qual não pode durar ou prosperar:
Segundo Montesquieu o funcionamento, que ele denomina perfeito, de cada governo vai depender do sentimento que estaria movimentando as práticas do poder de cada um deles (Livro II, p.47). O autor define três sentimentos políticos fundamentais e cada um assegura a existência de um tipo de governo onde a república depende da virtude, a monarquia da honra e o despotismo do medo.
Os sentimentos políticos e as formas de governo
	Governo
	Sentimento político
	Sentido
	República
	 Virtude
	Não é virtude moral, mas política. Respeito ás leis e devotamento do indivíduo á coletividade
	Monarquia
	 Honra
	É filosoficamente uma falsa honra. O respeito de cada um á sua posição na sociedade
	Despotismo
	 Temor
	Um sentimento infrapolítico. No caso de despotismo, o medo sustenta um Estado corrupto, que é a negação mesma da política. Os súditos que só obedecem por medo quase não são mais homens
O governo republicano democrático
Uma categoria de análise característica no estudo de Montesquieu sobre os governos é a associação da estrutura política com o tamanho do território. Assim sendo, para o autor:
É de natureza de uma república que seu território seja pequeno; sem isso ela dificilmente pode subsistir (...) os interesses individualizam; um homem sente, em primeiro lugar, que poderá ser feliz, poderoso, sem sua pátria, e, logo que só poderá ser poderoso sobre as ruínas da pátria (...) numa grande república o bem comum é sacrificado a mil considerações, é subordinado ás exceções, depende dos acidentes. Numa república pequena, o bem comum é mais bem percebido, mais bem conhecido, mais próximo de cada cidadão; os abusos são menos amplos e, conseqüentemente, menos protegidos (Livro VIII, cap XVI, p.120).
 Decerto não seria possível negar uma certa relação entre a extensão territorial e ordem pública. Isto parece evidente. Rousseau, também chegou a tocar nessa relação, embora que de modo menos incisivo: “No entanto, não se poderia dizer que a extensão dos Estados seja totalmente indiferente aos costumes dos cidadãos (1993:93)”. Por outro lado, as nações que ocupam territórios de dimensões continentais e o próprio governo internacional praticado pelospaíses industrializados deixam claro que o governo pode ajustar-se ao tamanho do território.
O exercício da democracia, ou seja, a atuação do povo como monarca passa pelos sufrágios, por meio dos quais a vontade do popular se expressa. Uma vez que na democracia, a vontade do soberano é o próprio soberano, as leis que estabelecem o direito de sufrágio são fundamentais (Livro II, cap. I, p.31).
A democracia pode ser exercida direta e indiretamente:
O povo que possui o poder soberano deve fazer por si mesmo tudo o que pode realizar corretamente e, aquilo que não pode realizar corretamente, cumpre que o faça por intermédio se seus ministros (Livro II, cap. I, p. 32).
É uma lei fundamental na democracia que só o povo institua as leis. Como não poderia ser diferente, um poder social tem seu centro de autoridade relacionado ao estabelecimento e á imposição das leis. A experimentação é uma forma primorosa de dar vigência ás leis. Chamando o exemplo de Roma e de Atenas, Montesquieu enaltece a atitude política em que o senado estatui leis por um prazo experimental de um ano, e elas só seriam perpetuadas pela vontade do povo (Livro II, cap. I, p.33).
Um Estado popular possui característica singular. Nele, quem manda executar as leis sente que ele próprio a elas estará submetido e que delas sofrerá o peso. Por esta razão, num Estado popular, é preciso uma força a mais: a virtude (Livro III, cap. I, p.41).
O patriotismo é a força que alimenta o regime democrático. Este torna a maior das ambições, o desejo de prestar á pátria serviços maiores que os outros cidadãos. Nas palavras do autor, ao nascer, o indivíduo contrai uma dívida com a pátria, a qual jamais poderá pagar (Livro V, cap.I, p.62).
O governo republicano aristocrático
O que distingue o governo aristocrático do democrático. Como já se observou, Montesquieu atribui que ambos requerem a força do sentimento político da virtude: a virtude é tão necessária no governo popular quanto na aristocracia; muito embora, nesta ela não seja tão absolutamente requerida (Livro III, cap. IV, p.43).
Duas questões são colocadas na comparação entre uma e outra forma de república:
a) Primeiramente, a aristocracia é possuidora de uma força que a democracia não tem:
Os nobres formam um corpo que, por sua prerrogativa e interesse particular, reprime o povo: basta que existam leis para que, a esse respeito, sejam executadas (Livro III, cap. I, p.43).
b) Depois, o corpo aristocrático experimenta um dilema quando as ocasiões requerem que os aristocratas reprimam a si mesmos:
Porém, como se coibirão os nobres? Os que devem nadar executar as leis contra seus colegas sentem imediatamente que agem contra eles próprios. Cumpre, portanto que, neste corpo, haja virtude, pela natureza da constituição (...) Ora um corpo semelhante apenas pode reprimir-se de duas maneiras> ou por uma grande virtude que faz com que os nobres se achem de algum modo iguais a seu povo, coisa que pode formar uma grande república; ou por uma virtude menor, isto é, certa moderação que torna os nobres, pelo menos, iguais entre si, o que faz a sua conservação (Livro III, cap. IV, p.43).
O lugar e o papel do povo na aristocracia é situado por Montesquieu como estado de prostração:
Quando os nobres são muito numerosos é necessário um senado que regulamente os negócios que o corpo de nobres não poderia resolver e que prepare os quais ele resolve. Neste caso, podemos dizer que a aristocracia existe, de alguma forma, no senado, a democracia no corpo de nobres e que o povo nada é (Livro II, cap. III, p.34).
Na aristocracia, muito mais que na democracia, pode haver a abertura para a concentração de poder nas mãos de um cidadão (nobre). Isto constituiria uma monarquia ou mais que uma monarquia, pois naquela a constituição limita o poder do monarca; já na república esse poder exorbitante leva a um abuso maior, pois as leis que não o proveram nada fizeram para limitá-lo (Livro II, cap. III, p. 34).
A melhor e a pior aristocracia:
Portanto, as famílias aristocráticas, na medida do possível, devem fazer parte do povo. Quanto mais uma aristocracia aproximar-se da democracia, tanto mais perfeita será ela; tornar-se-á menos perfeita á medida que se aproximar da monarquia (Livro II, cap. III, p.35).
A mais imperfeita de todas é aquela em que a parte do povo que obedece permanece na escravidão civil dos que comandam, como na aristocracia da Polônia, em que os camponeses são escravos da nobreza ( Livro II, cap. III, p.35).
A moderação é na aristocracia a virtude equivalente ao patriotismo na democracia:
A moderação é, portanto a alma desses governos. Refiro-me á que se baseia sobre a virtude e não á que decorre de uma covardia e preguiça da alma ( Livro II, cap. III, p.43).
O governo monárquico
Na classificação feita por Montesquieu acerca das formas de governo, em duas o poder é exercido de forma grupal (por todos e por alguns), como são os casos da democracia e da aristocracia. Os dois outros tipos de gestão do poder são exercidos isoladamente por um só indivíduo, como são os casos da monarquia e do despotismo.
Na monarquia não há espaço para o exercício plural do poder: o príncipe é a fonte de todo o poder político e civil (Livro II, cap.IV, p. 35).
No entanto mesmo concentrando em si todo o poder político e civil, a monarquia não concede á pessoa que governa o direito de impor sua vontade sem o respaldo de leis previamente fixadas. Essa forma de governo deve ser exercida de acordo com as leis fundamentais (Livro II, cap.IV, p. 35).
O poder monárquico, a despeito de exercido unilateralmente por um só governante, não poderá concretizar a administração política sem o apoio de forças auxiliares, aos quais Montesquieu denomina poderes intermediários, subordinados e dependentes:
Os poderes intermediários, subordinados e dependentes, constituem a natureza do governo monárquico, isto é, daquele em que uma só pessoa governa baseada em leis fundamentais (Livro II, cap.IV, p. 35).
Entre os poderes intermediários possíveis, o mais natural e certamente o mais importante é o da nobreza (magistrados, conselheiros). Ela é parte da essência da monarquia: sem monarquia não há nobreza, sem nobreza não há monarca (Livro II, cap.IV, p. 35).
Montesquieu destaca a importância de um repositório de leis atuando paralelamente aos poderes intermediários. Os cuidados deste repositório são responsabilidade de corpos políticos. Estes anunciam as leis quando criadas e relembram-nas quando esquecidas. Outra razão que justifica esse repositório de leis é a o desprezo que a nobreza tem sobre o governo civil, aliado a ignorância natural e a desatenção dos nobres (Livro II, cap.IV, p. 36).
Diferentemente do governo republicano, á monarquia falta-lhe virtude e sobra-lhe honra:
Nas monarquias, a política manda fazer as grandes coisas com o mínimo de virtude possível (...) O Estado subsiste independentemente de amor pela pátria, do desejo da verdadeira glória, da renúncia a si mesmo, do sacrifício aos interesses mais caros e de todas estas virtudes heróicas que encontramos nos antigos e das quais apenas ouvimos falar (Livro III, cap. V, p.43).
A honra enquanto o sentimento político dominante no governo monárquico se explica pela própria natureza deste tipo de governo. A monarquia é um regime que supõe preeminências, categorias, distinções. Ela só sobrevive na medida em que consegue manter essas diferenciações. Desta forma poder-se-ia dizer que se na república vigora o sentimento da pátria comum de todos os indivíduos, na monarquia sobrevive o sentimento de classe. Esta é a razão porque Montesquieu afirma que a natureza da honra é exigir preferências e distinções. A honra designa os anseios específicos dos indivíduos e das classes, estando associado ao lugar que o indivíduo ocupa na sociedade monárquica (Livro III, cap. V, p.45).
O caráter dos súditos em todos os lugares e em todos os tempos:A ambição na ociosidade, a baixeza no orgulho, o desejo de enriquecer sem trabalhar, a aversão pela verdade, a lisonja, a traição, a perfídia, o abandono de todos os compromissos, o desprezo pelos deveres do cidadão, o medo pela virtude do príncipe, a esperança em suas fraquezas e, mais do que tudo isso, o perpétuo ridículo lançado sobre a virtude, formam, creio, o caráter da maioria dos cortesãos, observados em todos os lugares e em todos os tempos (Livro III, cap. V, p.43).
O governo despótico
A principal característica do governo despótico é a administração política sem o amparo de leis constituídas e fundamentais. A vontade do governante déspota consiste na própria lei de maneira que a conduta política dos cidadãos converter-se-ia em submissão aos caprichos da vontade pessoal daquele que governa.
Montesquieu caracteriza a natureza do exercício do poder despótico:
Da natureza do poder despótico resulta que o único homem que o exerce. O faça também exercer por um só. Um homem cujos cinco sentidos dizem incessantemente que ele é tudo e os outros nada são, é naturalmente preguiçoso, ignorante e voluptuoso (Livro II, cap.V, p. 36).
A instauração do despotismo está vinculada á supressão de todas as leis. Não havendo leis, não há garantias de direitos nem normas fundamentais da conduta dos indivíduos. A insegurança se torna um sentimento dominante, em razão da ausência de leis; e sem as garantias das leis o povo teme. A força do despotismo reside na ação de enfraquecimento da lei. Não seria conciliável uma convivência entre o déspota e a lei social e política, pois a fraqueza de um implica no fortalecimento do outro. Como bem assinala Montesquieu, o déspota só é poderoso porque foi capaz de suprimir as leis. O déspota não observa regulamento algum e seus caprichos destroem todos os demais (Livro III, cap.VIII, p. 45).
Em um governo despótico todos os homens são iguais não porque sejam livres, mas porque todos são escravos. Por esta razão:
A honra não constitui o princípio dos Estados despóticos; sendo todos os homens iguais não se podem antepor uns aos outros; sendo todos os homens escravos, ninguém pode antepor-se a coisa alguma (Livro III, cap.VIII, p. 45).
A associação do despotismo com o medo: O medo é necessário num governo despótico e o seu papel consiste em aniquilar qualquer probabilidade de revolução. O governante usa arbitrariamente o seu poder desregrado com a finalidade de inibir a coragem e extinguir o menor sentimento de ambição (Livro III, cap.VIII, pp. 45,46).
Um outro aspecto, relacionado á associação do medo com o despotismo é a instrumentalização daquele para instauração da tranqüilidade. No entanto a paz aí buscada restringe-se ao silêncio (Livro III, cap.VIII, p. 45).
Despotismo e religião. Sempre parece ter havido uma tendência da religião acomodar-se ou emprestar estatuto sagrado ao poder político dominante. No entanto para Montesquieu, nos Estados despóticos, a religião tem mais influência do que em qualquer outro: é um temor adicionado ao temor (Livro V, cap.XIV, p.72).
A corrupção dos três tipos de governo
	Governo
	Princípio
	Corrupção
	República
Democrata
	Virtude
(igualdade)
	Quando se perde o princípio da igualdade ou quando se pretende levá-lo ao extremo (abuso), procurando cada um ser igual aquele que escolheu para comandá-lo. O povo não podendo suportar o próprio poder que escolheu, quer fazer tudo por si só: deliberar pelo senado, executar pelos magistrados e destituir todos os juízes. Caso tais pretensões se concretizem, ninguém se submeterá aa ninguém. Os costumes e o amor pela ordem desaparecerão. Enfim, não mais existirá a virtude. A perda ou o abuso da igualdade ocorre na desregulamentação da democracia.
	República
Aristocrática
	Virtude (moderação)
	Quando o poder dos nobres torna-se arbitrário. Nesse caso a república só subsiste em relação aos nobres e somente entre eles. O Estado republicano se torna em Estado despótico que possui vários déspotas. Estabelece-se aí um grande fosso entre o corpo que governa e o corpo governado. A extrema corrupção da aristocracia ocorre quando esta se torna uma oligarquia - a nobreza se torna hereditária e sem moderação.
	Monarquia
	Honra
	A monarquia arruína-se quando um príncipe crê que mostra mais seu poderio transformando a ordem das coisas do que seguindo, quando suprime as funções naturais de uns para outorgá-las arbitrariamente a outros, e quando aprecia mais seus caprichos que suas vontades. A monarquia arruína-se quando o príncipe, relacionando tudo unicamente a si, chama Estado á sua capital, capital á sua corte, e corte á sua única pessoa. Enfim, ela se arruína quando um príncipe desconhece sua autoridade, sua situação, o amor dos súditos, e quando não percebe que o monarca deve julgar-se em segurança, como um déspota deve crer-se em perigo. Quando isto ocorre a honraria ocupa o lugar da honra, a infâmia e a dignidade convivem, ao invés de respeito os súditos são tratados com arbitrariedade, a severidade ocupa o lugar da justiça e reina a idéia de que o que faz com que deva ao príncipe faz com que não se deva nada á pátria. 
	Governo despótico
	Medo
	O princípio do governo despótico corrompe-se sem cessar, porque é corrompido por sua natureza. Os outros governos perecem porque acidentes particulares violam seu princípio; este perece por seu vício interior, quando causas acidentais não impedem seu princípio de se corromper. Ele só se mantém, portanto, quando circunstâncias provenientes do clima, da religião, da situação ou do temperamento do povo forçam-no a seguir a mesma ordem e a submeter-se a alguma regra. Essas coisas forçam sua natureza sem mudá-la; sua ferocidade permanece; essa está, por algum tempo, domada.
Bibliografia
Montesquieu, Charles Louis de Secondart, Baron de la Bréde et de. Do Espírito das Leis. São Paulo, Abril Cultural (Os Pensadores), 1979.
Aron, Raymond. As Etapas do Pensamento Sociológico, São Paulo, Martins Fontes, 1999. 
Montesquieu, Charles Louis de Secondart, Baron de. O Espírito das Leis: as formas de governo, a federação, a divisão dos poderes, presidencialismo versus parlamentarismo; introdução e notas de Pedro Vieira Mota, São Paulo, Saraiva, 2000.
Rousseau, Jean-Jacque. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. São Paulo, Martins Fontes, 1993.

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