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HISTOLOGIA DO SISTEMA ENDÓCRINO Apresentação e resolução dos objetivos de aprendizagem baseado no livro “HISTOLOGIA – Texto e Atlas: Correlações com Biologia Celular e Molecular” Ross & Pawlina Identificar através de fotomicrografias e/ou cortes histológicos a estrutura dos folículos da tireoide. Entender a importância das relações entre as faces celulares dos tireócitos. Identificar através de fotomicrografias e/ou cortes histológicos a estrutura geral da suprarrenal. Diferenciar as regiões: cortical e medular, a irrigação sanguínea e a função de cada camada celular. (Glomerular, fascicular e reticular) e células medulares. Identificar através de fotomicrografias e/ou cortes histológicos a estrutura geral do pâncreas endócrino, destacando a estrutura das ilhotas de Langerhans. Identificar através de fotomicrografias e/ou cortes histológicos a estrutura geral da hipófise, incluindo a diferenciação da neuro e adenohipófise reconhecendo os principais tipos celulares. Identificar através de fotomicrografias e/ou cortes histológicos a estrutura geral paratireoide. Glândula tireoide A glândula tireoide está localizada na região anterior do pescoço, adjacente à laringe e à traqueia consiste em dois grandes lobos laterais conectados por um istmo, uma fina faixa de tecido tireoidiano. Os dois lobos, medindo, cada um deles, aproximadamente 5 cm de comprimento, 2,5 cm de largura e 20 a 30 g de peso, estão situados em cada lado da laringe e parte superior da traqueia. O istmo cruza a superfície anterior da segunda e terceira cartilagens traqueais. Com frequência, um lobo piramidal estende-se superiormente a partir do istmo. A glândula é circundada por uma cápsula fina de tecido conjuntivo A glândula tireoide desenvolve-se a partir do revestimento endodérmico do assoalho da faringe primitiva. A glândula tireoide começa a se desenvolver durante a quarta semana de gestação, a partir de um primórdio que se origina como um espessamento endodérmico do assoalho da faringe primitiva. O primórdio cresce no sentido caudal e forma uma invaginação semelhante a um ducto, conhecida como ducto tireoglosso. Este desce pelo tecido do pescoço até o seu destino final, em frente da traqueia, onde se divide em dois lobos. Durante essa migração descendente, o ducto tireoglosso sofre atrofia, deixando um remanescente embriológico, o lobo piramidal da tireoide, que está presente em cerca de 40% da população. Em torno de 9 semanas de gestação, as células endodérmicas diferenciam-se em placas de células foliculares, que se dispõem em folículos. Em aproximadamente 14 semanas, os folículos bem desenvolvidos revestidos por células foliculares contêm coloide dentro do lúmen. Durante a sétima semana, as células epiteliais que revestem a invaginação das quartas bolsas faríngeas (branquiais) (algumas vezes denominada quintas bolsas faríngeas), conhecidas como corpos ultimobranquiais, começam a sua migração em direção à glândula tireoide em desenvolvimento e são incorporadas nos lobos laterais. Após a sua fusão com a tireoide, as células do corpo ultimobranquial se dispersam entre os folículos, dando origem às células parafoliculares, que se tornam incorporadas no epitélio folicular. O folículo tireoidiano constitui a unidade estrutural e funcional da glândula tireoide. Composição do folículo: Epitélio folicular (parede formada por epitélio simples cuboide ou colunar baixo) Coloide (massa gelatinosa que preenche o interior dos folículos, composta majoritariamente por tireoglobulinas) Obs.: As superfícies apicais das células foliculares estão em contato com o coloide, enquanto as superfícies basais repousam sobre uma lâmina basal típica. O epitélio folicular é composto de dois tipos de células: foliculares e células parafoliculares. Células foliculares (principais): produção dos hormônios tireoidianos T4 e T3 Células parafoliculares (céls. C): secretam calcitonina, um hormônio que regula o metabolismo do cálcio Obs.: observa-se uma extensa rede de capilares fenestrados, derivados das artérias tireóideas superior e inferior, circundando os folículos, responsável - junto com capilares linfáticos de fundo cego no TC interfolicular - por transportar os hormônios a partir da glândula A função da glândula tireoide é essencial para o crescimento e o desenvolvimento normais. O principal componente do coloide é a tireoglobulina, uma forma inativa de armazenamento dos hormônios tireoidianos. O principal componente do coloide é uma grande glicoproteína (660 kDa) iodada, denominada tireoglobulina, que contém cerca de 120 resíduos de tirosina. É uma forma inativa de armazenamento dos hormônios tireoidianos, e não um hormônio. A síntese de hormônio tireoidiano envolve diversas etapas. 1- O precursor da tireoglobulina é sintetizado no RER das células epiteliais foliculares. A tireoglobulina é glicosilada no complexo de Golgi após tradução no RER, antes de ser acondicionada em vesículas e secretada por exocitose no lúmen do folículo. 2- As células epiteliais foliculares transportam ativamente o iodeto do sangue para dentro de seu citoplasma, utilizando simportadores de sódio/iodeto (NIS; do inglês, sodium/iodide symporters) dependentes de ATPase. O NIS é uma proteína transmembrana de 87 kDa que medeia a captação ativa de iodeto na membrana basolateral das células epiteliais foliculares. Em seguida, os íons iodeto sofrem rápida difusão para a membrana celular apical. A partir desse local, os íons iodeto são transportados até o lúmen do folículo pelo transportador de iodeto/cloretode 86 kDa, denominado pendrina, que se localiza na membrana apical da célula. Em seguida, o iodeto é imediatamente oxidado a iodo, a forma ativa do iodeto. Esse processo ocorre no coloide e é catalisado pela enzima tireoide peroxidase (TPO) ligada à membrana. 3- Um ou dois átomos de iodo são então adicionados aos resíduos de tirosina específicos da tireoglobulina. Esse processo ocorre no coloide, na superfície microvilosa das células foliculares, e também é catalisado pela tireoide peroxidase (TPO). A adição de um átomo de iodo a um único resíduo de tirosina forma a monoidotirosina (MIT). A adição de um segundo átomo de iodo ao resíduo de MIT forma um resíduo de di-iodotirosina (DIT). 4- Os hormônios tireoidianos são formados por reações de acoplamento oxidativas de dois resíduos de tirosina iodados próximos um do outro. Por exemplo, quando dois resíduos de DIT e MIT vizinhos sofrem uma reação de acoplamento, ocorre formação de T3; quando dois resíduos de DIT reagem entre si, há formação de T4. Após a iodação, a T4 e a T3, bem como os resíduos de DIT e MIT que ainda estão ligados a uma molécula de tireoglobulina, são armazenadas como coloide no lúmen do folículo. 5- Em resposta ao TSH, as células foliculares captam a tireoglobulina a partir do coloide por um processo de endocitose medida por receptor. 2 vias: • Na via lisossômica, a tireoglobulina é internalizada e transportada dentro de vesículas endocitóticas para os endossomos jovens. Essas vesículas finalmente amadurecem em lisossomos ou fundem-se com lisossomos existentes. A reabsorção da tireoglobulina nesse estágio pode ser confirmada pela existência de grandes vesículas endocíticas, denominadas gotículas de reabsorção de coloide, na região apical das células foliculares. Em seguida, a tireoglobulina é degradada por proteases lisossômicas em seus constituintes de aminoácidos e carboidratos, deixando livres as moléculas de T4, T3, DIT e MIT (ver a via marcada com 5L na Figura 21.17). Em condições fisiológicas, trata-se de uma importante via de reabsorção de coloide • Na via transepitelial, a tireoglobulina é transportada intacta da superfície apical para a superfície basolateral das células foliculares. Para entrar nessa via, a tireoglobulina liga-se a seu receptor, a megalina, um membro de 330 kDa da família dos receptores endocíticos de LDL. A megalina é uma proteína transmembrana expressa na superfície apical das células epiteliais foliculares voltadas diretamentepara o coloide. A tireoglobulina internalizada pela megalina evita a via lisossômica, e as vesículas endocíticas são liberadas na membrana basolateral das células foliculares. Em condições patológicas de alta estimulação de TSH ou semelhante ao TSH, a expressão da megalina aumenta, e grandes quantidades de tireoglobulina seguem a via transepitelial. Essa via pode reduzir o grau de liberação de T4 e de T3 pelo desvio da tireoglobulina da via lisossômica. Os pacientes com doença de Graves ou outras doenças da tireoide apresentam quantidades detectáveis de tireoglobulina circulante que contém porções do receptor de megalina. 6- As células foliculares produzem predominantemente T4, com uma razão entre T4 e T3 de 20:1. A maior parte da T4 e T3 é desacoplada da tireoglobulina na via lisossômica, e apenas quantidades insignificantes de T4 e T3 são liberadas das células ligadas à tireoglobulina. Tanto a T4 quanto a T3 atravessam a membrana basal e entram nos capilares sanguíneos e linfáticos. A maior parte dos hormônios liberados liga-se imediatamente a uma proteína plasmática específica (54 kDa), a globulina de ligação da tiroxina (TBG) (cerca de 70%), ou a uma fração de pré-albumina da proteína sérica, denominada transtiretina (cerca de 20%). A T4 tem uma ligação mais forte à TBG, enquanto a T3 liga-se mais fortemente à transtiretina. Aproximadamente menos de 10% dos hormônios liberados estão ligados a uma fração inespecífica da albumina, deixando apenas quantidades pequenas (em torno de 1%) de hormônios circulantes livres que são metabolicamente ativos. Os hormônios circulantes livres também atuam no sistema de retroalimentação que regula a atividade secretora da tireoide. Um terço da T4 circulante sofre conversão em T3 em órgãos periféricos, como o rim, o fígado e o coração. A T3 é cinco vezes mais potente que a T4, e é a principal responsável pela atividade biológica por meio de sua ligação aos receptores nucleares nas células-alvo. O transporte através da membrana celular é essencial para a ação e o metabolismo dos hormônios tireoidianos. Os hormônios tireoidianos são transportados através das membranas celulares por várias moléculas transportadoras de hormônios tireoidianos. O hormônio tri-iodotironina (T3) é biologicamente mais ativo que a tiroxina (T4). receptor nuclear de tireoide específico // T3 + afinidade, liga-se mais rapidamente -> biologicamente mais ativa que a T4 Obs.: T3 liga-se às mitocôndrias, aumentando a produção de ATP. Regula atividade biológica e efeito metabólico <-> relacionado c/ [T3] intracelular ***Diversos fatores têm impacto na concentração intracelular de T3. Incluem a concentração sérica de T3, que depende da taxa de conversão da T4 em T3 nos órgãos periféricos; o transporte dos hormônios tireoidianos através da membrana celular por transportadores especializados de hormônios da tireoide; e a existência de enzimas iodotironina desiodinases, que ativam ou inativam os hormônios tireoidianos. Por exemplo, duas desiodinases, denominadas D1 e D2, convertem a T4 na T3 mais ativa, enquanto a terceira enzima, denominada D3, degrada a T4 na forma inativa de rT3 (T3 reversa) e DIT. Tanto a T3 quanto a T4 são desiodadas e desaminadas nos tecidos-alvo, conjugadas no fígado e, em seguida, transferidas para a bile, na qual são excretadas no intestino. Os hormônios conjugados e livres também são excretados pelos rins. Estrutura dos folículos da tireoide Além disso, internamente à MB, existem as células parafoliculares (ou células C) responsáveis pela secreção do hormônio calcitonina. Porém há uma certa dificuldade para observá-las no MCOP. Os hormônios tireoidianos desempenham papel essencial no desenvolvimento normal do feto. hipotireoidismo congênito Função anormal da tireoide: correlações clínicas O hipotireoidismo pode ser causado por um aporte de iodo insuficiente na dieta (bócio por deficiência de iodo, bócio endêmico) ou por uma de várias doenças autoimunes hereditárias, como tireoidite autoimune (tireoidite de Hashimoto). A tireoidite autoimune caracteriza-se pela existência de autoimunoglobulinas anormais dirigidas contra a tireoglobulina (TgAb), a tireoide peroxidase (TPOAb) e o receptor de TSH (TSHAb). Os resultados consistem em apoptose das células da tireoide e destruição folicular. Os baixos níveis de hormônio tireoidiano circulante estimulam a liberação de quantidades excessivas de TSH, causando hipertrofia da tireoide por meio da síntese de mais tireoglobulina. O hipotireoidismo do adulto, antigamente denominado mixedema (em virtude da aparência edemaciada da pele), caracteriza-se por lentidão mental e física. O edema que ocorre nos estágios graves do hipotireoidismo é causado pelo acúmulo de grandes quantidades de ácido hialurônico (também conhecido como hialuronam) na matriz extracelular do tecido conjuntivo da derme. No hipertireoidismo (bócio tóxico ou doença de Graves), ocorre liberação de quantidades excessivas de hormônios tireoidianos na circulação. Os indivíduos com doença de Graves apresentam níveis detectáveis de autoanticorpos. Essas imunoglobulinas (IgG) anormais ligam-se aos receptores de TSH nas células foliculares e estimulam a atividade da adenilato ciclase. Em consequência, o cAMP em níveis aumentados das células foliculares leva à estimulação contínua das células e à secreção aumentada de hormônio tireoidiano. Em virtude da retroalimentação negativa, os níveis de TSH na circulação estão geralmente normais. No entanto, com essa estimulação, a glândula tireoide sofre hipertrofia, e o hormônio tireoidiano é secretado em taxas anormalmente altas, causando aumento do metabolismo. A maioria das manifestações clínicas está associada a um aumento da taxa metabólica e da atividade nervosa simpática. Incluem perda de peso, sudorese excessiva, taquicardia e nervosismo. As manifestações visíveis incluem protrusão do bulbo do olho e retração das pálpebras, em consequência da atividade simpática aumentada e do maior depósito de matriz extracelular no tecido adiposo localizado atrás do bulbo do olho (Figura B.21.4.1 A). A glândula tireoide está aumentada. As características microscópicas consistem na existência de células foliculares colunares que revestem os folículos da tireoide. Em virtude da alta utilização de coloide, observa-se uma tendência à depleção do folículo nas áreas de contato com a superfície apical das células foliculares (Figura B.21.4.1 B). O tratamento da doença de Graves consiste em cirurgia para remoção da glândula tireoide ou em radioterapia por meio da ingestão de iodo radioativo (I131), que destrói a maior parte das células foliculares ativas. Glândula Suprarrenal Tecido parenquimatoso dividido em duas regiões distintas: - O córtex é a porção secretora de esteroides. Situa-se abaixo da cápsula e constitui quase 90% da glândula por peso. - A medula é a porção secretora de catecolaminas. Situa-se abaixo do córtex e forma o centro da glândula. As células parenquimatosas do córtex e da medula são de origem embriológica diferente. - Células corticais: origem = células do mesênquima mesodérmico - Células medulares: origem = células da crista neural que migram p/ glândula durante o desenvolvimento Suprimento sanguíneo Topografia e suprimento sanguíneo da glândula suprarrenal. Este desenho mostra a localização da glândula suprarrenal esquerda no polo superior do rim esquerdo. A gordura perirrenal foi removida nesta imagem para mostrar o suprimento sanguíneo do órgão. Observe que a glândula suprarrenal é suprida por três artérias. A artéria suprarrenal média origina-se diretamente da aorta, enquanto as artérias suprarrenais superior e inferior originam-se das artérias frênica inferior e renal esquerda, respectivamente. O sangue drena para a veia suprarrenal que, no lado esquerdo, desemboca na veia renal esquerda e, no lado direito, desemboca diretamente na veia cava inferior. Na cápsula, as artérias ramificam-se e dão origema três padrões principais de distribuição do sangue: - Capilares capsulares (que suprem a cápsula) - Capilares sinusoidais corticais fenestrados (suprem o córtex e drenam p/ capilares sinus/fenestr. Medulares - Arteríolas medulares (transporte de sangue arterial p/ capilares sinusoides medulares) Drenagem. Capilares cort/medul. Veias coletores adrenomedulares Veia adrenomedular central Veia suprarrenal (esq. VRE/ dir. VCI) As células cromafins localizadas na medula da suprarrenal são inervadas por neurônios simpáticos pré-sinápticos. Células cromafins: grandes células epitelioides, de coloração pálida Quando impulsos nervosos transportados pelas fibras simpáticas alcançam as células cromafins secretoras de catecolaminas, elas liberam seus produtos secretores. As células cromafins da medula da suprarrenal exercem função secretora. - céls. c/ gdes vesículas e região central densa: secretoras de norepinefrina - céls c/ vesículas menores, mais homogêneas e menos densas: secretam epinefrina Obs.: estão organizadas em grupamentos ovoides e cordões interconectantes curtos A exocitose das vesículas secretoras é desencadeada pela liberação de acetilcolina dos axônios simpáticos pré-sinápticos que fazem sinapse com cada célula cromafim. Os glicocorticoides secretados no córtex induzem a conversão de norepinefrina em epinefrina nas células cromafins. As catecolaminas, juntamente com os glicocorticoides, preparam o corpo para a resposta de “luta ou fuga”. Zonalidade do Córtex da Adrenal Regulados pelo ACTH, sendo q na ZF as céls estão dispostas em cordões retilíneos longos e o citoplasma é pouco corado; já nas céls da ZR o citoplasma é bastante corado e a disposição destas se dá por cordões anastomosados Regulado pelo SRAA (Angio II), além do ACTH; céls em grupamentos ovoides Fotomicrografias do córtex e da medula da glândula suprarrenal humana. Obs.: Os glicocorticoides também deprimem as respostas imunes e inflamatórias e, em consequência destas últimas, inibem a cicatrização das feridas. A hidrocortisona, uma forma sintética do cortisol, é usada no tratamento de alergias e inflamação. A hidrocortisona deprime a resposta inflamatória ao suprimir a produção de interleucinas 1 (IL-1) e de IL-2 pelos linfócitos e macrófagos. Os glicocorticoides também estimulam a destruição dos linfócitos nos linfonodos e inibem a mitose nos linfoblastos transformados. Feocromocitoma e a célula cromafim As células cromafins (assim denominadas por reagirem com sais de cromato) da medula da suprarrenal constituem parte do sistema de captação e descarboxilação de precursores amínicos (APUD; do inglês, amine precursor uptake and decarboxylation) das células. Acredita-se que a reação cromafim envolva a oxidação e a polimerização das catecolaminas contidas nas vesículas secretoras dessas células. Classicamente, as células cromafins foram definidas como derivadas do neuroectoderma, inervadas por fibras nervosas simpáticas pré-sinápticas e capazes de sintetizar e secretar catecolaminas. O feocromocitoma, um raro tumor derivado de células cromafins, produz quantidades excessivas de catecolaminas. Como as células cromafins também são encontradas fora da medula da suprarrenal, nos gânglios simpáticos paravertebrais e pré-vertebrais, bem como em outros locais, os tumores podem originar-se fora da glândula suprarrenal. Esses feocromocitomas extrassuprarrenais são denominados paragangliomas, visto que os grupos dispersos de células cromafins que se localizam entre os componentes do sistema nervoso autônomo (SNA) ou próximo deles são denominados paragânglios. Podem ocorrer sintomas episódicos, relacionados com os efeitos farmacológicos da secreção excessiva de catecolaminas. Por conseguinte, os feocromocitomas podem precipitar hipertensão arterial potencialmente fatal, arritmias cardíacas, ansiedade e medo de morte iminente. A maioria dos feocromocitomas contém predominantemente células cromafins, que secretam norepinefrina em comparação com a medula normal da suprarrenal, que compreende cerca de 85% de células secretoras de epinefrina. A estimulação dos receptores alfa-adrenérgicos resulta em elevação da pressão arterial, aumento da contratilidade cardíaca, glicogenólise, gliconeogênese e relaxamento intestinal. A estimulação dos receptores beta-adrenérgicos resulta em aumento da frequência e da contratilidade cardíacas. O tratamento de escolha consiste na ressecção cirúrgica do tumor. É necessário efetuar monitoramento cuidadoso com alfa e betabloqueadores durante a cirurgia para evitar a ocorrência de crises hipertensivas. Em resumo, os feocromocitomas são frequentemente descritos de acordo com a “regra dos 10”: •10% são extrassuprarrenais (paragangliomas) e, destes, 10% residem fora do abdome •10% ocorrem em crianças •10% são múltiplos ou bilaterais •10% não estão associados à hipertensão •10% são malignos •10% são familiares •10% sofrem recidiva após remoção cirúrgica •10% são encontrados de modo incidental durante exames de imagem não relacionados. Pâncreas Endócrino O pâncreas endócrino é um órgão difuso que secreta hormônios que regulam os níveis de glicemia. Ilhotas de Langerhans – 1 a 3 milhões: aprox.. 1-2% do volume do pâncreas humano. Presença de capilares fenestrados. Embrio.: As células endócrinas definitivas das ilhotas desenvolvem-se entre 9 e 12 semanas de gestação. Nos cortes corados pela H&E, as ilhotas de Langerhans aparecem como agrupamentos de células de coloração pálida, circundadas por ácinos pancreáticos de coloração mais intensa. Funções dos hormônios pancreáticos A insulina, que é o principal hormônio secretado pelo tecido das ilhotas, diminui os níveis de glicemia. O glucagon, secretado em quantidades apenas menores que a insulina, aumenta os níveis de glicemia. A somatostatina inibe a secreção de insulina e de glucagon. Regulação da atividade das Ilhotas - As ilhotas apresentam inervação tanto simpática quanto parassimpática. - A estimulação parassimpática (colinérgica) aumenta a secreção tanto da insulina quanto do glucagon, enquanto a estimulação simpática (adrenérgica) aumenta a liberação do glucagon, mas inibe a da insulina. Esse controle neural da insulina e do glucagon pode contribuir para a disponibilidade de glicose circulante em reações ao estresse. Estrutura da Ilhota de Langerhans destacada em fotomicrografia. Glândula Hipófise A hipófise apresenta dois componentes funcionais: •O lobo anterior (adeno-hipófise), constituído pelo tecido epitelial glandular •O lobo posterior (neuro-hipófise), constituído pelo tecido secretor neural. Essas duas porções apresentam origem embriológica diferente. A adeno-hipófise deriva de uma evaginação do ectoderma da orofaringe em direção ao cérebro (bolsa de Rathke). A neuro-hipófise origina-se de uma invaginação (o futuro infundíbulo) do neuroectoderma do assoalho do terceiro ventrículo (o diencéfalo) do cérebro em desenvolvimento (Figura 21.5). A adeno-hipófise consiste em três derivados da bolsa de Rathke: •A pars distalis, que compreende a maior parte do lobo anterior da hipófise e que se origina da parte espessada da parede anterior da bolsa •A pars intermedia, uma delgada parte remanescente da parede posterior da bolsa, que está em contato com a pars distalis •A pars tuberalis, que se desenvolve a partir das paredes laterais espessadas da bolsa e que forma um colar ou bainha em torno do infundíbulo. O infundíbulo embrionário dá origem à neuro-hipófise. A neuro-hipófise é formada pelas seguintes partes: •A pars nervosa, que contém os axônios neurossecretores e suas terminações •O infundíbulo, que é contínuo com a eminência mediana e contém os axônios neurossecretores que formam o trato hipotálamo-hipofisário. Suprimento sanguíneo - artérias hipofisárias superiores suprem a pars tuberalis, a eminência mediana e o infundíbulo. Esses vasos originam-se das artérias carótidas internas e artéria comunicante posterior do círculo arterialdo cérebro (círculo de Willis) - As artérias hipofisárias inferiores suprem principalmente a pars nervosa. Esses vasos originam-se exclusivamente das artérias carótidas internas. Uma observação funcional importante é a de que a maior parte da adeno-hipófise não tem suprimento arterial direto. O sistema porta-hipotálamo-hipofisário fornece a ligação crucial entre o hipotálamo e a hipófise Pars Tuberalis, Infundíbulo e Eminência Mediana A. Hipof. Sup. Capilares Fenestrados (Plexo Capilar Primário) Veia Porta Hipofisária Plexo Capilar Secundário Pars Distalis Drenagem: A maior parte do sangue proveniente da hipófise drena no seio cavernoso, na base do diencéfalo, e, em seguida, para a circulação sistêmica. Desenvolvimento da hipófise. A. A hipófise desenvolve-se a partir de duas estruturas diferentes: um divertículo ectodérmico do teto da orofaringe (bolsa de Rathke) e uma extensão descendente do neuroectoderma no assoalho do diencéfalo. Este desenho mostra a relação entre essas duas estruturas em um embrião de 6 meses. B. A hipófise com 10 semanas de desenvolvimento mostra o tecido ectodérmico da orofaringe em estreita proximidade com o tecido neural. A bolsa de Rathke está prestes a perder a sua conexão com a orofaringe. C. As células da bolsa de Rathke dividem-se e diferenciam-se rapidamente na pars distalis e envolvem o infundíbulo que, juntamente com a pars nervosa, forma o lobo posterior de origem neuroectodérmica da hipófise. A adeno-hipófise regula outras glândulas endócrinas e alguns tecidos não endócrinos. Cromófilas: acidofílicas: eosina: PRL e GH Basofílicas: hematoxilina: FSH, LH, TSH e ACTH A neuro-hipófise é uma extensão do sistema nervoso central (SNC) que armazena e libera produtos secretores do hipotálamo. Ptuícitos (cél. da glia): núcleo Fibras Nervosas (formam os núcleos hipotalâmicos SO e PV; e os “corpúsculos” de Heidigg) Secreção de ADH e ocitocina Fotomicrografia que distingue Adeno e Neuro Hipófises Glândula Paratireoide – Células principais: secreção de PTH (regulador homeostático do Ca²+) Origem embrionária: Superiores (e o corpo ultimobranquial) – 4ª bolsa faríngea Inferiores (e o tim) – 3ª bolsa faríngea Fotomicrografia da estrutura geral das paratireoides OUTRAS CORRELAÇÕES CLÍNICAS 1. A ocorrência de anormalidades nos mecanismos de sinalização que coordenam e controlam a função de múltiplos órgãos e processos biológicos constitui a base de muitas doenças endócrinas. A bioquímica clássica, a fisiologia e os avanços na biologia celular e molecular e na genética, combinados com observações clínicas, são capazes de explicar os mecanismos de ação hormonal e das doenças endócrinas. As doenças endócrinas podem ser classificadas em quatro categorias principais: •Produção excessiva de hormônios. A causa mais comum de superprodução de hormônios consiste em aumento no número total de células que produzem um hormônio específico. Um exemplo desse mecanismo é o hipertireoidismo (doença de Graves; Boxe 21.4). Em resumo, a existência de anticorpos anormais que simulam a ação do TSH estimula um aumento pronunciado no número de células da tireoide. Em alguns casos, a secreção hormonal aumentada está relacionada com uma anormalidade genética que afeta a regulação da síntese e liberação de hormônio. Além disso, a ocorrência de mutação nos genes supressores tumorais e em proto-oncogenes pode levar à proliferação de células mutantes que produzem o hormônio específico. Isso ocorre comumente nas células da adeno-hipófise •Produção deficiente de hormônios. A produção deficiente de hormônios pode resultar da destruição de um órgão endócrino por um processo patológico (p. ex., tuberculose das glândulas suprarrenais) ou autoimunidade (p. ex., doença de Hashimoto, em que anticorpos anormais são dirigidos contra as células produtoras de hormônios tireoidianos, destruindo-as). Além disso, as anormalidades genéticas que levam ao desenvolvimento anormal das glândulas endócrinas (p. ex., hipogonadismo hipogonadotrópico), a síntese anormal de hormônios (p. ex., deleção do gene do GH) ou a regulação anormal da secreção hormonal (p. ex., hipoparatireoidismo associado à mutação do receptor sensor de cálcio expresso nas células das paratireoides) podem causar níveis séricos diminuídos ou ausência de hormônios ativos. A lesão iatrogênica das glândulas endócrinas, como a que ocorre quando a glândula paratireoide é removida durante a tireoidectomia (remoção da glândula tireoide) também pode ser responsável •Respostas teciduais alteradas aos hormônios. Essa categoria de doença endócrina frequentemente é causada por uma variedade de mutação genética nos receptores hormonais (p. ex., TSH, LH e PTH). Nos pacientes diabéticos, a resistência à insulina nos músculos e no fígado é causada principalmente por sinais que se originam do tecido adiposo (Capítulo 9) •Tumores das glândulas endócrinas. Os tumores das glândulas endócrinas são, em sua maioria, hormonalmente ativos e responsáveis pela superprodução de hormônios. No entanto, alguns tumores de glândulas endócrinas não produzem hormônios, mas comprimem os órgãos vizinhos ou causam destruição de outros órgãos, em consequência de metástases. Um exemplo desse tipo de tumor é o câncer de tireoide, que pode metastatizar pelo corpo sem apresentar sinais de produção excessiva de hormônios tireoidianos (hipertireoidismo). Os hormônios são utilizados no tratamento das doenças endócrinas. Um uso comum é a terapia de reposição hormonal, quando uma glândula endócrina específica não é desenvolvida ou deixa de produzir o hormônio necessário. Os hormônios e seus análogos sintéticos podem ser usados para suprimir os efeitos de outros hormônios. Em geral, os hormônios tireoidianos e esteroides podem ser administrados por via oral, enquanto os hormônios proteicos (p. ex., insulina, GH) precisam ser injetados. Inovações tecnológicas recentes, incluindo minibombas computadorizadas e injeções intramusculares de depósitos, tornaram a terapia mais viável para os pacientes. 2. A ausência ou a produção diminuída de ADH levam a uma condição conhecida como diabetes insípido, que se caracteriza por poliúria (produção de grandes volumes de urina diluída – até 20 ℓ por dia) com urina hipotônica e insípida. Os indivíduos com essa condição apresentam sede extrema, o que possibilita compensar a perda de água, ingerindo grandes quantidades de líquidos. Essa doença resulta comumente de traumatismos cranioencefálicos, tumores ou outras lesões que podem danificar o hipotálamo ou a neurohipófise. Essa forma de doença é classificada como diabetes insípido hipotalâmico, em contraste com o diabetes insípido nefrogênico, no qual a secreção de ADH está normal ou elevada, mas há ausência de resposta renal aos níveis circulantes de ADH. Em geral, o diabetes nefrogênico é um distúrbio congênito relacionado com a mutação dos canais de água de aquaporina 2 (AQP-2) ou diferentes mutações do receptor V2 de ADH nos túbulos renais. O diabetes insípido hipotalâmico é geralmente tratado com a administração de análogos sintéticos de ADH (desmopressina), enquanto o tratamento do tipo nefrogênico dessa doença tem por objetivo reduzir o volume do débito urinário. São encontrados níveis anormalmente elevados de ADH na síndrome de secreção inapropriada de hormônio antidiurético (SIADH; do inglês, syndrome of inappropriate antidiuretic hormone secretion), que se caracteriza por hiponatremia (baixos níveis séricos de sódio), diminuição da osmolalidade sérica associada à excreção urinária excessiva de sódio e osmolalidade urinária elevada. Na SIADH, o nível elevado de ADH aumenta a absorção de água, levando, assim, à produção de urina concentrada, incapacidade de excretar água e hiponatremia que resulta mais do excesso de água do que da deficiência de sódio. O aumento da secreção de ADH pode estar relacionado com distúrbios do SNC (tumores, lesões, infecções ou acidentes vasculares encefálicos), doenças pulmonares (pneumonia, doença pulmonarobstrutiva crônica, abscesso pulmonar ou tuberculose), tumores que secretam ADH (carcinoma de pequenas células do pulmão, tumores do pâncreas, timoma ou linfomas) e determinados fármacos (anti-inflamatórios, nicotina, diuréticos e muitos outros). O tratamento da SIADH depende da etiologia subjacente e inclui restrições hídricas, bem como tratamento farmacológico. Atualmente, dispõe-se de um antagonista do receptor V2 de ADH (conivaptana) para melhorar a hiponatremia e aumentar a diurese de água livre, sem perda de outros íons na urina de pacientes com SIADH.