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1 POTENCIAL DE APLICAÇÃO DO CIMENTO HIDRATADO FRENTE ÀS PROPRIEDADES FISICO - QUIMICAS DO CONCRETO NÃO ESTRUTURAL1 Amanda Gonçalves Tomaz2 Jamille Maia Braúna3 Sanderson de Oliveira Marques4 RESUMO Na área da construção civil um dos problemas mais presente é a falta de cuidados na estocagem do cimento. O mesmo permanece estocado de forma inadequada e consequentemente, as reações de hidratação irão ser responsáveis pela formação de Ca2+ hidratáveis, o que certamente acarretará a queda de rendimento quanto às propriedades mecânicas do concreto. Conforme as normas brasileiras, é recomendável executar ensaios quanto às propriedades físicas e químicas do cimento após 3 meses da data de sua fabricação. O cimento hidratado tem por definição ser o cimento que é petrificado ao contato prolongado com ar e umidade. Contudo, parâmetros como porosidade, absorção e umidade superficial são totalmente importantes no momento da fabricação do concreto logo que será feita a aplicação direta desse material e, consequentemente, irá modificar o fator água/cimento do concreto e suas propriedades mecânicas. Por essa razão, o objetivo desse trabalho será avaliar o potencial de substituição parcial de componentes presentes no concreto pelo cimento hidratado, de forma a potencializar o uso desse rejeito e entender os mecanismos que afetam o calor de hidratação em presença dos materiais. Conforme a metodologia prevista, o cimento será submetido a diferentes tempos de estocagem e de exposição ao meio externo, de forma a modificar suas propriedades físico-químicas para então ser aplicado e substituído parcialmente o cimento do concreto e consequentemente ensaios de resistência à compressão. De acordo com os resultados, ficou evidenciada a forte dependência do tempo de hidratação do cimento em relação às propriedades físicas, químicas e mecânicas do concreto. Ensaios de resistência à compressão (Mpa) mostram uma redução de 14,98% após um período de estocagem de 180 dias do cimento hidratado e substituição parcial em 25%. Isso pode ser justificado em virtude que quando os grãos de cimento assumem uma maior granulometria atribuída a sua hidratação, a hidratação do aluminato de cálcio (C3A) demora, e assim, a interação com os agregados diminuem, causando uma menor resistência à compressão. Palavras-chave: Cimento hidratado, concreto, resistência a compressão. 1 INTRODUÇÃO O campo da construção civil, apesar de sua importância dentro da economia mundial, nem sempre esteve muito ligado a questões relacionadas a perdas e 1 Artigo apresentado à Universidade Potiguar – UnP, como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Engenharia Civil. 2 Graduanda em Engenharia Civil pela Universidade Potiguar – amandatomaz321@gmail.com 3 Graduanda em Engenharia Civil pela Universidade Potiguar – jamillebrauna@hotmail.com 4 Graduando em Engenharia Civil pela Universidade Potiguar – sanderson.oliveira93@gmail.com 2 desperdícios, nos últimos anos, as questões oriundas a políticas da qualidade têm ocupado um espaço expressivo nas discussões do meio profissional da construção civil e tem tido presença continua nestas discussões a ocorrência de perdas em todo o processo de produção da edificação, sejam elas de materiais, mão-de-obra, equipamentos etc (FORMOSO, 1996). Sendo assim, a indústria da construção civil ficou defasada em relação a outros segmentos industriais quando se trata do assunto, e ainda apresenta números preocupantes em relação a perdas e desperdícios. Segundo Juliboni; 2002, de acordo com dados da Associação Brasileira de Cimento Portland, publicou que o Brasil, no ano de 2000, produziu 39,6 milhões de toneladas de cimento e foram consumidos 39,4 milhões de toneladas, tornando-se o sexto maior produtor mundial. No período de janeiro a setembro de 2001, a produção brasileira foi de 28,703 milhões de toneladas, assim divididas: 28,4 % foram para as concreteiras e fabricantes de artefatos de cimento, pré-moldados, produtos à base de fibrocimento e argamassas industrializadas, 29,3% para construtores, empresas privadas, órgãos públicos, entre outros e 42,3% terminaram no consumidor particular. “Com o crescimento da tecnologia do concreto pela introdução de novos componentes e adições minerais, observa-se que a produção dos blocos de concreto também passa por um processo de avanço significativo” (BRAVO, 2014). Além do mais com a adição de cimento hidratado (cimento petrificado ao contato prolongado com ar e umidade) frente à substituição pelo cimento convencional. Na maioria dos casos, as adições melhoram as propriedades do material cimentício, dificultando a penetração de água, reduzindo o calor de hidratação, polindo a estrutura de poros, tornando o concreto mais resistente ao ataque por cloretos e sulfatos, como apresentado respectivamente por Ampadu e colaboradores (1999) e Silveira (1996). Enfim, em muitas situações, as adições minerais moldam o concreto às várias necessidades construtivas. Também alteram a trabalhabilidade do concreto, facilitando seu adensamento e, por consequência, favorecendo para o prolongamento da vida útil da estrutura, conforme (NEVILLE & BROOKS 2013). “Há também a possibilidade de redução do pico de calor de hidratação do concreto, dando maior viabilidade às concretagens de grandes volumes, como grandes blocos de fundações e até mesmo barragens” (ALVES, 1993). 3 De acordo com as normas brasileiras, é recomendável executar ensaios quanto às propriedades físicas e químicas do cimento após 3 meses da data de sua fabricação. Entretanto, é extremamente comum esse material permanecer estocado de forma não recomendada e consequentemente, reações de hidratação serem responsáveis pela formação de Ca2+ hidratáveis (figura 1), o que certamente acarretará a queda de rendimento quanto às propriedades mecânicas do concreto como mostrado por PANDOLFELLI E COLABORADORES (2011). Figura 1 - Reações de hidratação. Fonte: Microscopia eletrônica de varredura reproduzida por Mehta, P. K. e Monteiro P. J.M. Concreto: Estrutura, propriedade e materiais, 1994. Nesse contexto, a aplicação do cimento hidratado, pode favorecer parâmetros como porosidade, absorção e umidade superficial devido a sua granulometria são fatores relevantes no momento da confecção do concreto. Eles interferem diretamente no seu fator água/cimento. Um agregado mal saturado impacta diretamente na sua trabalhabilidade, uma vez que o agregado irá absorver a água destinada à sua hidratação. Um agregado com excesso de água irá consequentemente ter sua massa aumentada de maneira indesejável e, certamente interferir na estabilidade do concreto: Tempo de pega, resistência à compressão, aderência, dentre outras. Por essa razão, esse trabalho visa avaliar o potencial de substituição parcial do cimento no concreto pelo cimento hidratado, de forma a 4 otimizar o uso desse rejeito e entender os mecanismos que afetam o calor de hidratação desse sistema em presença desse material. 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO CIMENTO Os materiais utilizados na composição dos diferentes tipos cimentos estão assim definidos: 1) clínquer Portland – produto constituído em sua maior parte de silicatos de cálcio com propriedades hidráulicas; 2) gesso – sulfato de cálcio; 3) escória de alto forno – produto do tratamento do minério de ferro em alto forno, obtido sob forma granulada por resfriamento brusco; 4) materiais pozolânicos– materiais silicosos ou sílico-aluminosos que por si mesmos possuem pouca ou nenhuma atividade aglomerante, mas quando finalmente divididos e na presença de água reagem com hidróxido de cálcio, à temperatura ambiente, para formar compostos com propriedades hidráulicas; 5) materiais carbonáticos – materiais finamente divididos constituídos em sua maior parte de carbonato de cálcio (TAVARES, 1997). O cimento Portland é um material polvoroso, constituído de silicatos e alumínios de cálcio, quase sem cal livre. Esses silicatos e aluminatos complexos, ao serem misturados com água, hidratam-se e produzem o enrijecimento da massa, que pode oferecer elevada resistência mecânica, o mesmo resulta da moagem do clínquer (PETRUCI, 1998). O cimento Portland é o resultado da calcinação de uma mistura de calcário, composto por CaCO3, e materiais argilosos, à base de SiO2, Al2O3e Fe2O3, onde também estão presentes outros constituintes secundários, como: óxido de magnésio, fosfatos, álcalis, etc. A mistura proporcionada dos constituintes principais (aproximadamente 3:1), além de outros (areia, cinza de pirita, etc.), é calcinada em forno rotativo a uma temperatura em torno de 1500 °C. Resultam-se então novos compostos químicos que se aglomeram em grãos de clínquer (NEVILLE, 2002). 2.2 CALOR DE HIDRATAÇÃO DO CONCRETO O concreto é uma mistura de base cimentícia, sendo sua principal característica a reação química entre a água e o cimento, na qual ocorre horas após 5 a mistura sendo responsável pela aderência dos materiais e pela resistência adquirida pela estrutura (PACELLI, 1981). Assim definindo o calor de hidratação como a energia liberada em decorrência desta reação exotérmica, ou seja, quanto maior o volume de concreto, maior o calor liberado pela mistura, que pode ser dissipado na atmosfera ou absorvido pela própria massa de concreto. Segundo Kadri; Duval (2009) o calor de hidratação é de grande significância porque a taxa e o calor total de hidratação dar informações sobre as reações iniciais de hidratação. Além disso, o calor da hidratação ocasiona um substancial crescimento de temperatura em estruturas de concreto maciças de alta resistência durante a cura. Este efeito é importante para os níveis de temperatura acima 60° C, nesse caso, as tensões térmicas geradas quando o concreto esfria pode superar a resistência à tração do concreto levando a rachaduras termicas. 2.3 FATORES QUE INFLUENCIAM AS PROPRIEDADES MECÂNICAS DO CONCRETO Dentre as diferentes propriedades mecânicas do concreto, a resistência à compressão, resistência à tração e módulo de elasticidade representam os principais parâmetros que ditam a qualidade do concreto. Conforme o trabalho mostrado por Evangelista; Brito (2007), foi analisado o uso de agregados finos de concreto reciclado para substituir parcial ou globalmente agregados finos (areia) na produção de concreto. Contudo, foi implementada uma campanha experimental para monitorar o comportamento mecânico desse concreto. A partir dos resultados, é razoável supor que o uso de agregados finos de concreto reciclado não compromete as propriedades mecânicas do concreto, com taxas de substituição de até 30%. Em um estudo de Sagoe-Crentsil e Brown (2001), foi descoberto que o processamento de agregados de concreto reciclado produz partículas esféricas mais suaves do que as produzidas no laboratório, o que melhora a trabalhabilidade do concreto. Ensaios de resistências à compressão e à tração de concreto endurecido não mostrou diferença entre o concreto com agregados e concreto feito com agregados naturais. Investigação da durabilidade apontou que os agregados reciclados causaram maiores valores de retração de secagem e reduziu a abrasão 6 (resistência) em cerca de 12%. A absorção de água e carbonatação (taxas) mostraram insignificante diferença entre o concreto reciclado e convencional. De acordo com Neville (1995) e Coutinho AS (1994) o módulo de elasticidade do concreto está diretamente relacionado a rigidez dos agregados graúdos, a rigidez da argamassa, sua porosidade e ligação. Portanto, para pequenas parcelas de substituição, é possível que a rigidez geral não influenciou, porque a rigidez da argamassa é apenas um dos diversos fatores, enquanto que para a substituição total a argamassa suporta uma perda tão grande de rigidez que o concreto (módulo de elasticidade) é consideravelmente afetado. 2.4 POTENCIAL DE APLICAÇÃO DE MATERIAIS ALTERNATIVOS NO CONCRETO Com a carência dos agregados naturais em regiões das grandes cidades, estão sendo desenvolvidos os agregados artificiais: Cinza do bagaço de cana de açúcar, cinza da folha da bananeira, cinza da casca do arroz, resíduo cerâmico moído, borracha de pneus usados, nano tubos de carbono são exemplos de materiais alternativos para adição ao cimento Portland. Cordeiro et al (2009) analisaram as cinzas do bagaço da cana-de-açúcar produzidos em condições de queima controlada e submetidas a um programa de moagem. Com base nos resultados obtidos, os autores concluíram que a cinza do bagaço da cana-de-açúcar se apresenta como matéria prima com potencial para a produção de pozôlana, especificamente, a cinza produzida com queima controlada a 600° C em forno resistivo em moinho planetário. Segundo os autores a elevada atividade pozolanica da cinza do bagaço pode ser destinada a presença de sílica amorfa, ao reduzido tamanho de partículas, à elevada superfície especifica e à reduzida perda ao fogo. “A folha da bananeira apresenta atividade pozolânica quando calcinada a uma temperatura de 850° C, sob fluxo de ar, e tempo de queima de 1h” (KANNING,2010). A cinza da folha da bananeira quando adicionada em argamassa de cimento Portland desenvolvem resistências mecânicas maiores que a argamassa de referência e argamassa com adição de cinza volante, porem menor que a argamassa com adição de sílica ativa (KANNING,2013). 7 A cinza da casca de arroz (CCA) segundo Hoffmann (2010) é um resíduo que possui em sua composição 92% de sílica, uma combinação entre componentes como silício e oxigênio. Esta sílica possui elevada dureza, podendo ser utilizada em diversas industrias inclusive na produção de cimento. A sílica pura pode ser aproveitada em concretos como forma de melhorar as suas propriedades no estado de endurecimento e fresco. Segundo Mehta (1992) o uso de CCA além de acelerar o ganho de resistência contribui diretamente na redução da segregação. Outro uso para a CCA e a produção de argamassa, que utiliza um traço de 1:1:6, obtendo um melhor desempenho há 28 dias com adição de 9% de CCA (BEZERRA 2011). De acordo com Gonçalves (2007) a utilização do resíduo cerâmico ocasiona um aumento na capacidade de deformação, pois os sais hidratados decorrentes da reação pozolânica do hidróxido de cálcio e o RC devem possui uma rigidez menor que a dos sais hidratados apenas do cimento. Sukontasukkul; Chaikeaw (2006) indicaram que a substituição de agregados por borracha para a produção de peças de concreto para pavimentação, pode gerar um material durável, viável e capaz de absorver mais energia quando submetido a impacto. Segundo Schindler; Kevin (2004) a temperatura de cura tem um impacto na taxa de hidratação. Quanto mais alta a temperatura do concreto, mais rápido a taxa de hidratação, e mais rapidamente o calor é gerado no concreto. Quanto maior o teor de cimento, maior o aumento de temperatura potencial no concreto. O cimento influencia o processo de hidratação através de sua composição e fineza. De acordo com Garcia (2014) além de vantagens com a diminuição de custos,as adições minerais promovem maior sustentabilidade na cadeia produtiva do cimento. 2.5 CIMENTO HIDRATADO “Quando a água é adicionada ao cimento, cada um dos seus compostos da mistura seca se torna hidratado, o que contribui para o produto final” (STAPLES, 2011). A reação de hidratação consome uma quantidade específica de água, a água não incluída na reação de hidratação continua nos poros da microestrutura, entretanto o cimento também pode sofrer hidratação estando ainda embalado, isso porque ele é extremamente sensível à umidade sendo esta a principal causa do 8 empedramento. A umidade pode penetrar no saco de cimento e causar aglomeração das partículas (Figura 2) deixando o cimento endurecido. Por isso, é fundamental mantê-lo em local completamente seco e protegido e não o deixar estocado por longos períodos, Segundo a NBR 12655. “Após 3 meses da sua fabricação, já é recomendável realizar um ensaio de laboratório para checar a qualidade” (NEVILLE,1997). Segundo Aïtcin (2000), as fases dos silicatos e dos aluminatos hidratados começam a criar ligações interpartículas, que gera o endurecimento gradativo do cimento. Após algumas horas, ocorre a redução da velocidade à reação. Isto deve- se ao fato de alguns grãos de cimento que não reagiram estarem cobertos por uma camada de hidratos, camada esta que dificulta as moléculas de água chegarem às partes não hidratadas. O produto gerado é pouco solúvel na água, como se confirma pela estabilidade do cimento hidratado em contato com a água. Figura 2 – Modelo de hidratação para o cimento Portland Fonte: Adaptado de KANPUR (2007) A figura 2 demonstra de forma microscópica o comportamento químico e expõe um fato interessante: Devido a umidade em períodos alternados várias 9 reações irão agredir toda a estrutura do referido aglomerante, modificando-o quimicamente e consequentemente sua forma estrutural (agregando o pó e formando inúmeras formas geométricas de vários formatos e dimensões). 3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 MATERIAIS O cimento que será utilizado é CP II-Z-32 Cimento Portland. Conforme as especificações o material apresenta densidade absoluta de 3,14 g/cm³ e densidade aparente de 0,99 g/cm³. O agregado miúdo utilizado na pesquisa será levado a estufa e retirado após 24 horas, atendendo a NBR 7211, será areia fina com modulo de finura de 2,4. E agregado graúdo será a brita 2 com diâmetro de 19 mm. O cimento hidratado utilizado será coletado e triturado no aparelho los angeles para a obtenção do pó do cimento e em seguida será passado em uma peneira de 0,15 mm. 3.2 DETERMINAÇÃO GRANULOMÉTRICA DAS PARTÍCULAS A distribuição relativa do tamanho das partículas da areia de acordo com a NBR 7217 será realizada através de peneiramento à seco. A areia irá ser disposta em um conjunto de peneiras com diâmetros variando de 4,75 mm ao fundo (representado 0,15 mm), onde posteriormente serão submetidas à vibrações controladas no agitador mecânico de peneiras, em ciclos de 5 minutos. 3.3 TRAÇOS UTILIZADOS PARA O CONCRETO A Tabela 1 mostra o traço de referência para obtenção dos corpos de prova utilizando a substituição parcial do cimento pelo cimento hidratado (petrificado) há 120 dias e 180 dias. Esses traços serão avaliados em função do fator água/cimento (0,6) e tempos pré-estabelecidos de exposição (dias). 10 Tabela 1 – Traços utilizados para a confecção dos corpos de prova de concreto. Material utilizado Traços a serem utilizados (Kg) T0 T1 (25%) T2(50%) T3 (75%) Cimento 1 0,750 0,500 0,250 Cimento hidratado 0 0,250 0,500 0,750 Areia 2 2 2 2 Brita 2 2 2 2 Fonte: Autores (2018). 3.4 ENSAIOS A COMPRESSÃO DOS CORPOS DE PROVA Os corpos de prova cilíndricos de dimensões padronizadas serão submetidos ao ensaio de resistência à compressão aos 28 dias, sendo retirados da cura em imersão um dia antes da realização do ensaio para retificação das faces. Os ensaios de resistência à compressão serão conduzidos conforme especificações da NBR 5739 - Ensaio de compressão de corpos-de-prova cilíndricos. 3.5 METODOLOGIA A Tabela 2 mostra os níveis de concentração de cimento hidratado e fator água-cimento para a geração da superfície de resposta em função da variável de resistência à compressão. Tabela 2 - Níveis de concentração fator água-cimento para a geração da superfície de resposta em função da variável de resistência à compressão. Fonte: Autores (2018). Experimentos Níveis Concentração de Cimento hidratado 120 dias e 180 dias Fator A/C 1 25 0,6 2 50 0,6 3 75 0,6 11 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 DETERMINAÇÃO DO SLUMP TEST O Ensaio de Abatimento do Tronco de Cone mede a consistência e a fluidez do material, permitindo que se controle a uniformidade do concreto. Segundo a NBR NM 67 especifica o ensaio como um método para determinar a consistência do concreto fresco através da medida de seu assentamento, em laboratório e obra. Foram realizados ensaios de abatimento através do Slump test, para analisar a consistência e trabalhabilidade. Foram moldados três (3) corpos de prova para cada traço, com rompimento e análise da resistência à compressão na idade padrão de 28 dias. A figura 3, demonstra exemplos dos testes feitos durante a confecção dos corpos de prova moldados. Figura 3 – Ensaios de consistência para avaliação da trabalhabilidade: (a) Cimento anidro e (b) cimento hidratado. Fonte: Autores (2018). A figura 3 mostra as diferenças visíveis entre o concreto utilizando o cimento anidro e com a adição parcial do cimento hidratado respectivamente. Logo, devido a não reação do cimento hidratado com a água o resultado é um slump test com abatimento muito maior que o esperado, consequentemente, havendo uma alta 12 exsudação. A figura 4 a seguir apresenta os valores do abatimento dos traços estudados. Figura 4 – Valores tronco de cone (slump test). Fonte: Autores (2018). Pode-se concluir que o aumento da concentração de cimento hidratado irá interferir significativamente no abatimento de tronco de cone em períodos de exposição próximos ou superiores à 180 dias e com substituição de 75% (Cimento hidratado), onde pode-se observar uma mudança significativa de 5 cm de abatimento para aproximadamente 22 cm. Esse comportamento pode ser atribuído a não reação do cimento hidratado com água, logo a água da mistura tornará o concreto fluido e de difícil trabalhabilidade. 4.2 ENSAIOS DE RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO As análises foram executadas com o intuito de avaliar a resistência da adição do cimento hidratado (25%, 50%, 75%) no concreto não estrutural. Para este propósito, foram realizados ensaios de resistência à compressão, objetivando avaliar o potencial de substituição parcial de componentes presentes no concreto pelo cimento hidratado, de forma a avaliar o uso desse rejeito e entender os mecanismos que afetam o calor de hidratação desses sistemas em presença desses materiais. 13 A Tabela 3 mostra os resultados obtidos através do ensaio de resistência a compressão com concentrações de cimento hidratado com 120 e 180 dias de exposição em ambiente aberto. Tabela 3 – Resultados de ensaio de resistência a compressão referente aos corpos de prova com cimento hidratado de 120 e 180 dias de exposição. Fonte: Autores (2018). De acordocom os resultados apresentados na Tabelas 3, fica evidenciado que há uma forte dependência da composição do cimento Portland anidro em comparação com o cimento hidratado (Exposto à luz e umidade), tendo em vista os valores de resistência à compressão obtidos. Pode ser verificado que as substituições parciais de cimento por cimento hidratado nas proporções de 25, 50 e 75% promove uma diminuição gradativa na resistência à compressão, à medida que há o aumento desse percentual. Esse fato pode ser justificado em função da reação entre o cimento e a água de amassamento, onde ao entrar em contato com o Resultados de Ensaio de resistência a compressão com concentrações de cimento hidratado de 120 e 180 dias (28 dias de cura) TRAÇOS TRAÇOS UTILIZADOS (Kg) RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO (MPa) 120 dias RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO (MPa) 180 dias Traço de referência T0 Cimento 1 Cimento hidratado 0 Areia 2 Brita 2 24,7 T1 Cimento 0,750 Cimento hidratado 0,250 Areia 2 Brita 2 21,0 18,7 T2 Cimento 0,500 Cimento hidratado 0,500 Areia 2 Brita 2 18,03 21,4 T3 Cimento 0,250 Cimento hidratado 0,750 Areia 2 Brita 2 13,33 19,8 14 cimento a água irá reagir hidratando-o. O cimento hidratado por sua vez tende a cristalizar junto às partículas de clínquer no processo de hidratação, revestindo-as. Logo devido o cimento hidratado já ter passado por esse processo, os grãos de clìnquer não irão ser revestidos e a água que tem por função revestir e reagir com o cimento não terá importância na mistura, reduzindo, portanto, a resistência à compressão dos corpos de prova. A Figura 5 mostra a microscopia eletrônica de varredura dos grãos de Clinker não Hidratados. Figura 5 – Modelo ilustrativo da microscopia eletrônica de varredura dos grãos de Clinker não Hidratados Fonte: Adaptado de Vieira (2014) A Figura 6 mostra os ensaios de resistência à compressão (MPa) dos copos de prova à base de cimento anidro e hidratado. Figura 6 – Valores de resistência à compressão dos corpos de prova contendo cimento anidro e hidratado em diferentes períodos de exposição. Fonte: Autores (2018). 15 Conforme pode ser visualizado na Figura 6, à medida que se aumenta o período de exposição do cimento à fatores externos (calor, luz e umidade) é observada uma redução dos valores de resistência à compressão comparados ao de referência. Isso pode ser justificado em função da falta de reação entre o cimento e a água de amassamento presente na mistura, logo no momento que e adicionado mais cimento hidratado, a parcela de cimento não reagente aumenta, consequência disso é o imediato crescimento dos poros (vazios) entre os substratos (Cimento, areia, brita) contribuindo diretamente para redução da resistência a compressão. A não reação do cimento hidratado com água, será responsável por uma maior fluidez e uma menor trabalhabilidade, conforme discutido na seção 4.2. O cimento ao entrar em contato com a umidade do local, é responsável por promover uma hidratação mais rápida do aluminato de cálcio (C3A), conforme pode ser visualizado na equação 1. Equação 1 Isto ocorre tão rapidamente que o concreto pode ficar tão rígido, a ponto de não ser trabalhável, havendo uma grande liberação de energia na forma de calor. Ao passo que, quando os grãos de cimento assumem uma maior granulometria atribuída a sua hidratação, a hidratação do aluminato de cálcio (C3A) demora, e assim, a interação com os agregados diminuem, causando uma menor resistência à compressão. De acordo com a literatura, quanto menor o tamanho do grão de cimento mais rapidamente o grão se hidrata totalmente, onde a quantidade de grãos de cimento parcialmente hidratados vai diminuindo com o tempo (Fujji et al., 2015). O acompanhamento da reação química do cimento em associação com a umidade do local é de extrema importância para detalhamento do seu efeito nas primeiras horas de hidratação e consequentemente, nas propriedades mecânicas do concreto. A figura 7 demonstra as diferenças aparentes dos corpos de prova de traço de referência e o corpo de prova com 180 dias de exposição com 75% de cimento hidratado. 16 Figura 7 – Comparativo do corpo de referência x corpo com 180 dias de exposição com 75% de cimento hidratado. Fonte: Autores (2018). A figura 7 mostra que os corpos de prova apresentam estilos de ruptura diferentes (Colunar e cônica), onde a provável causa deste fenômeno são as diferenças estruturais dos mesmos, pois, o corpo de referência apresenta baixa porosidade, justificada pela reação do cimento com a água de amassamento. Em contrapartida, a substituição do cimento pelo cimento hidratado é responsável pelo aumento de vazios dentro da estrutura, causada pela baixa reatividade entre o cimento hidratado e a água de amassamento, o que certamente favorecerá a diminuição do grau de coesão entre os agregados do concreto. 5. CONCLUSÃO O cimento hidratado ainda representa um entrave para a construção civil, principalmente, devido à perda de suas propriedades físico-químicas, conforme menciona o trabalho. A hidratação prematura do cimento irá influenciar nas propriedades mecânicas do concreto: Absorção de água, resistência à compressão e trabalhabilidade. A utilização de 25% de substituição do cimento pelo cimento hidratado foi responsável por reduzir o parâmetro de resistência à compressão em 14,98% do concreto, onde foi observado que a trabalhabilidade também foi prejudicada formando uma mistura bastante fluida. A redução da resistência foi T0 - Corpo de referência T3 - Corpo com 180 dias de exposição com 75% de cimento hidratado 17 relativamente baixa e trabalhos futuros poderão explorar substituições inferiores (3 a 10 %) para ser analisado a viabilidade do cimento hidratado na construção civil. 18 ABSTRACT In the area of construction one of the most present is the lack of care in cement storage. The same remains stored inappropriately, and consequently, the hydration reactions will be responsible for the formation of Ca2 + hydratable, which certainly will cause the fall of yield with regard to mechanical properties of concrete. As the Brazilian standards, it is recommended that you perform tests regarding the physical and chemical properties of cement after 3 months of your date of manufacture. The hydrated cement has by definition be the cement that is petrified by prolonged contact with air and moisture. However, parameters such as porosity, absorption and surface humidity are totally important at the time of manufacture of concrete as soon as will be made to direct application of this material and, consequently, will modify the water/cement factor of concrete and its mechanical properties. For this reason, the objective of this work will be to assess the potential of partial replacement of components present in concreteby hydrated cement in order to potentialize the use of this decline and to understand the mechanisms that affect the heat of hydration in the presence of the materials. According to the methodology, the cement will be subjected to different storage times and exposure to external environment, in order to modify their physical-chemical properties to be applied and replaced partially concrete and cement consequently compressive strength tests. According to the results, it was evident the strong dependence on time of cement hydration in relation to physical, chemical and mechanical properties of concrete. Test of compressive strength (Mpa) show a reduction of 14.98% after a storage period of 180 days of hydrated cement and partial replacement in 25%. This can be justified on the basis that when the cement grains take a bigger granulometry attributed to your hydration, hydration of the calcium aluminate (C3A) delay, and so, the interaction with the aggregates decreases, causing less resistance to compression. Keywords: hydrated Cement, concrete, resistance to compression. 19 REFERÊNCIAS AÏTCIN, P. Cements of yesterday and today: concrete of tomorrow. Cement and concrete research, v. 30, n. 9, 2000, p. 1349-59. A.L. Fujji, D.R. Torres, R.C.O. Romano, M.A. Cincotto, R.G. Pileggi, “Impact of superplasticizer on the hardening of slag Portland cement blended with red mud”, Construc. Buil. Mater. 101(2015) 432-439 ALVES, J. D. Manual de tecnologia do concreto – 3ª edição, editora ufg, Goiânia, 1993. AMPADU, K. O.; TORII, K.; KAWAMURA, M. – beneficial effect of fly ash chloride diffusivity of hardened cement paste – cement and concrete research. V. 29, n. 4, p. 585-590, abril de 1999. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 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