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P á g i n a | 12 Revista Transdisciplinar Logos e Veritas, Vol. 02, nº 06, 2015, pp. 12-30, ISSN 2318-9614 As grandes teorias linguísticas: revisão teórica - II Fábio Macedo Simas Resumo: O propósito deste artigo é analisar as diversas escolas teóricas que permeiam o universo da linguística como ciência da linguagem. A presente abordagem contemplou as correntes teóricas conforme o processo histórico que delineou o papel de cada uma no cenário científico. Ressalta-se, portanto, o registro de que a linguística tem sua origem na filosofia grega e no remoto pensamento indiano, que será explicado nas linhas abaixo. Palavras-chave: Linguística. Linguagem. Filologia. Saussure. Schlegel. Abstract: The purpose of this article is to analyze the different theoretical schools that permeate the universe of linguistics as a science of language. This approach included the theoretical currents as the historical process that outlined the role of each one in the scientific field. It is noteworthy, therefore, the record that the language has its origin in Greek philosophy and in the remote Indian thought, which will be explained in the lines below. Keywords: Linguistics. Language. Philology. Saussure. Schlegel. 1 - O gerativismo de Noam Chomsky Entende-se por gerativismo, a forma de fazer linguística empreendida por Noam Chomsky a partir dos anos de 1950, nos EUA. Muitos autores acreditam que a gramática gerativa, como também é conhecida a teoria chomskiana, constitui, na verdade, mais que uma teoria ou postulado, mas um verdadeiro programa de investigação científica. A teoria formalista 1 passa por vários momentos e transformações, mas seus postulados centrais não se alteram. Segundo Neto (2007, p.97), o programa de Chomsky pretende, há mais de cinquenta anos, construir um mecanismo computacional capaz de formar e transformar representações, simulando o conhecimento linguístico de um falante de uma língua natural, que está registrado em sua mente/cérebro. Por isso é que se pode 1 Diversos autores denominam a teoria gerativa de formalista. Todavia, outros vários consideram formalistas as teorias que divergem do funcionalismo e incluem, além do gerativismo, os diversos estruturalismos praticados. Vale considerar o primeiro capítulo de CUNHA, M. A. F. et. al , Linguística funcional: teoria e prática. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. P á g i n a | 13 Revista Transdisciplinar Logos e Veritas, Vol. 02, nº 06, 2015, pp. 12-30, ISSN 2318-9614 dizer que, apesar dos diversos momentos teóricos, a base do programa continua a mesma, pois não houve alteração nos seus objetivos. Tal programa inicia-se com o que se chama de teoria padrão, através da publicação de Sintactic Structures, em 1971. Esse livro é fruto de anotações de Chomsky para um curso de graduação no MIT americano, onde lecionava. Foi através dessa obra que seu autor deixou claro o fato da sintaxe ser o centro de análise de uma língua. O objetivo do linguista norte-americano era elaborar um modelo computacional capaz de explicar todas as frases gramaticais de uma língua no plano de sua estrutura sintática, o que chamou de gramática dos constituintes – um conjunto finito de regras que podem formar um conjunto infinito de sentenças/frases. Em outro momento, Chomsky lança o que chamou de modelo padrão. Ele propõe um modelo mais profundo que o anterior introduzindo dois novos conceitos à sua teoria: as distinções entre competência e desempenho; e entre estrutura profunda e estrutura superficial. A primeira dicotomia tem relação com a famosa oposição língua/fala saussuriana. Competência seria análoga à língua, e desempenho, à fala. Enquanto a competência é o conhecimento inato que o falante tem da linguagem, o desempenho mostra-se como o uso desse conhecimento. Tal hipótese disserta ainda, que as produções das crianças não são simples imitações de adultos, pois existem produções que não se verificam na fala dos adultos, por isso são originais. Portanto, defende-se que as crianças possuem suas próprias regras de fala, mas com o convívio com os adultos vão moldando sua fala às regras deles. Todavia, Chomsky pretende partir do desempenho, para ir em direção à gramática (estrutura sintática). Saussure pretendia, como já outrora exposto, descrever a língua, e não a fala. A teoria gerativa advoga haver algo anterior à língua dos estruturalistas, i.e., a capacidade que os falantes possuem de produzir os enunciados possíveis de uma língua. Acredita-se então, que a linguagem é algo inato ao ser humano. Os corpora não são o ponto de partida, como para os estruturalistas, mas o ponto de chegada da análise linguística. Enquanto o estruturalismo constitui-se como teoria descritiva, o gerativismo aparece como teoria explicativa dos fatos que determinam a produção/aquisição da língua. Para Chomsky, a estrutura profunda deve possuir todos os elementos necessários para que a sentença seja interpretada semanticamente, e a estrutura superficial, por sua vez, deve possuir as informações para a leitura fonética da sentença. Isso ocorre devido ao fato P á g i n a | 14 Revista Transdisciplinar Logos e Veritas, Vol. 02, nº 06, 2015, pp. 12-30, ISSN 2318-9614 do linguista entender gramática como “um sistema de regras que une sinais fonéticos às interpretações semânticas”. (Chomsky, 1966, p.12) Surgem, então, algumas dissidências relativas às regras propostas pelo modelo transformacional, principalmente no que concerne à distância entre as estruturas superficiais e profundas. Assim, Chomsky promove novos escritos e reformulações para seu programa. Nasce a regra dos princípios e parâmetros Um dos últimos assuntos tratados por Chomsky, a Teoria dos Princípios e Parâmetros postula que a gramática é regida por Princípios ou “Leis”, que são constantes usados em todas as línguas, contendo os Parâmetros ou “Leis” que têm representações nas línguas em que se encontram, ocasionando divergências entre os diversos idiomas e as transformações dentro de uma mesma língua. . 2 Muito evocada, principalmente até os anos de 1980, o gerativismo ainda encontra espaço para pesquisa. Começou a perder terreno a partir do surgimento das teorias discursivas da fala, do texto e da interação, o que causou um choque teórico entre as teorias, na medida em que essas propunham análise de textos como um todo em detrimento às sentenças descontextualizadas do programa de Chomsky. Entretanto, os modelos gerativistas são até hoje muito utilizados por estudiosos da psicologia e daqueles que trabalham com aquisição da linguagem, alem de auxiliar os estudiosos da linguística computacional. 2 - As teorias funcionalistas Como já salientado na seção que trata dos estruturalismos, a escola funcionalista nasce em André Martinet com o Círculo Linguístico de Praga, mas tomou diferentes rumos, principalmente por meio de estudiosos norte-americanos como Talmy Givón, Johanna Nicholson, entre outros. Entretanto, o funcionalismo nasce da necessidade de perceber a língua como instrumento de comunicação e não mais como um sistema autônomo indiferente às mudanças e aos falantes em seu uso. A esse respeito, afirmam Areas e Martelotta (2003, p. 20): 2 Muito há que se comentar a respeito de Noam Chomsky e seus postulados, mas, por motivo de espaço, procuramos mostrar um breve resumo do que seria esse programa de investigação e suas principais colaborações para a ciência da linguagem. Alguns pontos como a semântica gerativa, a teoria X-barra, dentre outros, ficaram de fora de nossa análise, mas não pormenor relevância. P á g i n a | 15 Revista Transdisciplinar Logos e Veritas, Vol. 02, nº 06, 2015, pp. 12-30, ISSN 2318-9614 O pólo funcionalista caracteriza-se pela concepção da língua como um instrumento de comunicação, que, como tal, não pode ser analisada como um objeto autônomo, mas como uma estrutura maleável, sujeita a pressões oriundas das diferentes situações comunicativas, que ajudam a determinar sua estrutura gramatical. Apresenta-se uma tentativa de fazer uma linguística que fosse também da parole/desempenho e não só da langue/competência. Na verdade, a proposta é de que não há como separar a língua do falante. Principalmente a partir da década de 1970, nos EUA, os estudiosos da linguagem perceberam que não havia outra possibilidade de se estudar a língua e seus processos evolutivos, se não o fizessem por meio do uso. Logo, seria impossível estudá-la através da teoria gerativa, em voga nesse país até os dias atuais. Por isso, pode-se afirmar que um dos fatores que mais motivou os linguistas funcionalistas foi a verificação dos processos responsáveis pelas mudanças linguísticas, pois se percebeu que ela não é aleatória, como propunham os estruturalistas, mas motivada. Em outras palavras, percebe-se que o signo linguístico não é arbitrário, a partir do momento que a situação extralinguística é levada em conta. Para os funcionalistas, o falante não inventa arbitrariamente sequências novas de sons, mas utiliza-se de material já existente na língua. Se assim não fosse, o custo cognitivo seria muito alto tanto para o falante quanto para o ouvinte. Então, palavras como braço, em o braço da cadeira, ou diretor, significando aquele que dirige algo, possuem motivações dentro do discurso e também no cérebro dos falantes para se realizarem. Braço possui motivação semântica, enquanto diretor possui motivação morfológica. Um campo promissor e bastante estudado pelos funcionalistas é a sintaxe, onde é bem aceita a idéia da não arbitrariedade do signo. Em orações coordenadas num período composto, por exemplo, a ordem em que essas orações são colocadas diz respeito à ordem em que as ações acontecem na realidade, ou à ordem que o falante deseja regularizar por motivo proposital ou aparente. Por conseguinte, existe motivação para que isso ocorra. Tal fenômeno é formalmente denominado pelos funcionalistas de iconicidade, i.e., quando existe algum tipo de motivação para que algo se realize na língua. Em relação à iconicidade, define Trask (2006, p.141): é “A relação direta entre a forma de uma palavra e seu significado. A norma que prepondera nas línguas é a da arbitrariedade. [...] Há, contudo, exceções e essas exceções apresentam graus variáveis de iconicidade.” P á g i n a | 16 Revista Transdisciplinar Logos e Veritas, Vol. 02, nº 06, 2015, pp. 12-30, ISSN 2318-9614 Outra dicotomia revisitada pelos funcionalistas foi sincronia x diacronia. Para esse grupo de estudiosos, a tendência é que se deve adotar uma visão pancrônica da mudança, uma vez que ao lado de fenômenos que mudam com o tempo, existem outros que possuem certa regularidade nas línguas. Afirmam Areas e Martelotta (2003, pp. 27 e 28): Nesse sentido, pode-se dizer que o funcionalismo tende a adotar uma concepção pancrônica de mudança, observando não as relações sincrônicas entre seus elementos ou as mudanças percebidas nesses elementos e nas suas relações o longo do tempo, mas as forças cognitivas e comunicativas que atuam no indivíduo no momento concreto da comunicação e que se manifestam de modo universal, já que refletem os poderes e as limitações da mente humana para armazenar e transmitir informações. A teoria funcionalista é responsável pelo surgimento de diversos termos deveras utilizados na linguística hodierna. Um deles é iconicidade, já conferido anteriormente. Todavia, existem outros que não podem ficar à margem deste estudo. São eles: gramaticalização, função, figura, fundo e informatividade. 3 Gramaticalização é o nome que se dá a um processo que se ocupa da mudança linguística. Os processos de regularização do uso da língua iniciam-se de modo casual e somente após um longo processo, por meio do uso e da repetição dentro de determinada comunidade linguística, é que dada forma se estabiliza e passa a fazer parte da gramática 4 da língua. Todavia, o oposto pode ocorrer, determinada forma pode voltar da gramática ao discurso, o que se denomina discursivização. O termo função recebe diversas abordagens ao longo dos estudos linguísticos, ao ponto de Neves (1997, p.5) afirmar que “O termo função apresenta tal variedade de empregos que, com chamar-se “funcional” a uma teoria linguística, não se consegue 3 Evidentemente, os estudos funcionalistas não se esgotam nessa formalização, mas vale salientar a proposta inicial deste artigo de destacar as teorias linguísticas em linhas gerais. 4 Para diversos autores funcionalistas, o termo gramática não se refere à normatização, mas ao conjunto de regularidades decorrentes de pressões cognitivas e de uso. (cf. CUNHA, M. A. F. et. al , Linguística funcional: teoria e prática. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.) P á g i n a | 17 Revista Transdisciplinar Logos e Veritas, Vol. 02, nº 06, 2015, pp. 12-30, ISSN 2318-9614 caracterizá-la realmente.” Já Kato5 (1998) afirma haver certo consenso no que tange às funções gramaticais (sujeito,objeto, predicado); funções semânticas (agente, paciente, locativo, tempo, animado, humano, definido/indefinido...); e funções textuais (tópico/ foco, ou tema/rema, figura/fundo). O primeiro grupo proposto por Kato refere-se às funções da gramática normativa tradicional, às famosas funções sintáticas tão ensinadas por professores de ensino fundamental e médio. Já o segundo e o terceiro grupos parecem mais coerentes com a maioria dos funcionalistas, já que dependem da língua em uso para emergirem. Nichols (1984, p.101), de maneira seminal, já tratava do assunto advogando cinco sentidos para o termo função – relacionados com cinco diferentes componentes da gramática – que são: função/interdependência, função/propósito, função/contexto, função/relação e função/significado. A autora observa, entretanto, que “a maioria das obras funcionalistas usa função apenas nos sentidos de propósito e de contexto”, e não distingue entre os dois. Outros diversos autores dedicaram seus estudos ao termo função. Não se pode deixar de fazer digna menção aos estudos das funções da linguagem do psicólogo Karl Buhler, e dos linguistas Roman Jakobson e M. A. K. Halliday. Apesar de abordagens um pouco diversas, os três autores observam o termo função dentro de uma perspectiva funcionalista por que consideram a língua em uso. 6 A respeito de figura/fundo, vejamos o que dizem Cunha et al (2003, p.39): Por figura entende-se aquela porção do texto narrativo que apresenta a sequência temporal de eventos concluídos, pontuais, afirmativos, realis, sob a responsabilidade de um agente, que constitui a comunicação central. Já fundo corresponde à descrição de ações e eventos simultâneos à cadeia da figura, além da descrição de estados, da localização dos participantes da narrativa e dos comentários avaliativos. 5 KATO, Mary A. Funcionalismo em sintaxe. DELTA , São Paulo, v. 14, n. spe, 1998 . Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-44501998000300011&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 31 Out 2007. 6 Para melhor verificação dos três estudos, ver Neves (op. cit., pp.9-14) P á g i n a | 18 Revista TransdisciplinarLogos e Veritas, Vol. 02, nº 06, 2015, pp. 12-30, ISSN 2318-9614 Em termos práticos, as informações que se destacam como mais relevantes no discurso, em determinada situação discursiva, constituem a figura. Tudo que aparece como secundário, detalhista, constitui o fundo. Como já adiantou Kato (1998), figura, corresponde ao que também se denomina tema, tópico, informação nova etc., assim como fundo corresponde à rema, a comentário, à informação velha etc. Por sua vez, um texto pode ter graus de informatividade, a depender de quem são os interlocutores. Pode-se afirmar que uma sentença como O sol é sempre azul, possui baixo grau de informatividade se considerarmos que todo falante em potencial conhece o céu e suas propriedades de cor. Por outro lado, dependo da informação que se queira transmitir e de quem são os interlocutores, o grau de informatividade pode variar. Se um médico relatar a um leigo como foi a cirurgia que efetuou, utilizando-se do jargão médico, certamente o grau de informatividade será baixo para tal ouvinte. Entretanto, se seu interlocutor for outro cirurgião, o oposto ocorrerá. Dessa forma, pode-se chegar a duas conclusões: a) a teoria funcionalista é recente e por isso ainda ocupa lugar de potencial destaque nos estudos linguísticos por dialogar com teorias discursivas que consideram a língua como instrumento comunicativo e de interação; b) a teoria funcionalista é outra teoria que oriunda de divergências e comparações com o estruturalismo de Saussure, uma vez que defende certas divergências com a escola saussuriana, principalmente no que concerne à língua, à arbitrariedade do signo (teorias da mudança), entre outros diversos aspectos. 3 - As linguísticas enunciativas e discursivas – a concretização dos estudos da parole. As linguísticas enunciativas possuem o fundamento comum de existirem em oposição à linguística da língua, com o desejo de estudar, principalmente, os fatos de “fala7”. Por sua vez, as chamadas linguísticas discursivas pretendem realizar uma análise além dos limites da frase. As principais representações dessas teorias residem na Análise da Conversação, na Análise do Discurso e na Linguística Textual. Opta-se por discorrer 7 Apesar de também preocupar-se com a fala, o funcionalismo fica de fora dessas abordagens por tratar, principalmente, da mudança linguística. Todavia, considera, como exposto, a interação e o discurso, mas em diferentes perspectivas. P á g i n a | 19 Revista Transdisciplinar Logos e Veritas, Vol. 02, nº 06, 2015, pp. 12-30, ISSN 2318-9614 sobre elas numa mesma seção pelo fato de dialogarem no que concernem aos fatos de língua falada/escrita. Entende-se, canonicamente, por enunciação “colocar em funcionamento a língua por um ato individual de utilização”, conforme Benveniste (1989, p.82). Já Maingueneau (1998, p.53) afirma ser o “pivô da relação entre a língua e o mundo”. Todavia, as origens dos estudos enunciativos reportam às primeiras décadas do século XX com Charles Bally e Mikhail Bakhtin, mas foram calados pela emergência da teoria estruturalista de Saussure, que passou a dominar os estudos linguísticos na mesma época. Para o linguista russo, um signo não existe senão em seu funcionamento social, pois cada forma é portadora de sentido e esse é proveniente de uma produção social. No que tange à análise da conversação, o texto de Grice (1975 apud DASCAL, 1982) inova os estudos linguísticos com a teoria das máximas conversacionais, tão relevantes para trabalhos posteriores de análise da conversação. Vale salientar que autores como Kato (1986), por exemplo, ainda o citam quase que quarenta anos depois de sua primeira publicação. Em relação ao trabalho seminal de Grice (op. cit.). Antes de postular suas máximas conversacionais, o referido autor faz distinção entre dois grupos: formalistas e informalistas. O primeiro grupo acredita que a simbologia formal da lógica possui vantagens sobre as contrapartes em línguas naturais, pois, através de seus sistemas de símbolos, é possível formar inúmeros sistemas de fórmulas. De fato, a quantidade possível de fórmulas via símbolos lógicos é imensa. Todavia, ao mesmo tempo em que esses padrões podem ser dos mais simples, o oposto também é verdadeiro, pois a lógica do sentido dos símbolos não possui um padrão de obviedade. Outro argumento utilizado por esse grupo é o de que a linguagem natural não é suficiente para a verdade, porque abre caminho para os implícitos – o que Grice vai chamar de implicaturas – e a linguagem natural é “metafisicamente marcada” (op. cit., p.82). Assim, esse grupo propõe a formulação de uma linguagem que mescle línguas naturais e símbolos lógicos. Por outro lado, o segundo grupo (dos informalistas) critica o primeiro pelo fato de o mesmo propor uma medida científica à língua. Isso ocorre em razão de a lógica ser unívoca e simbólica (falso x verdadeiro). Em outras palavras, para os formalistas a língua só existe para servir à ciência. P á g i n a | 20 Revista Transdisciplinar Logos e Veritas, Vol. 02, nº 06, 2015, pp. 12-30, ISSN 2318-9614 Além do mais, a linguagem humana, ao utilizar-se das línguas naturais, é polissêmica, ambígua, cheia de implícitos (implicaturas, segundo o próprio autor mais adiante no artigo). Portanto, parece não ser possível aferir-lhe um caráter lógico. Grice (op. cit.) também nos mostra que, muitas vezes, outros elementos – não linguísticos – são necessários para a depreensão do sentido na utilização das línguas naturais. Principalmente no que concerne aos implícitos, ou implicaturas. Todavia, IMPLICAR, para o supracitado autor, é diferente de DIZER. Este verbo está no plano do que é verdadeiramente dito, o linguístico. Já aquele pode utilizar-se também do que não está linguisticamente explicitado. Assim, antes de dissertar sobre suas máximas conversacionais, para chegar ao contrato cooperativo, o linguista faz distinção entre dois subtipos de implicaturas: a convencional e a conversacional. A primeira é aquela em que o conhecimento linguístico e convencional (comum à determinada comunidade de falantes) é suficiente para depreender a significação do que está implícito. Já a segunda (não-convencional) parece englobar tudo aquilo que colabora para a realização de um ato comunicativo qualquer, ou seja, o contexto. Contudo, o autor fala em “traços gerais do discurso”(op.cit. p. 86), mas não define o que é discurso, o que nos deixa, de certa forma, livres para entender que há outros elementos extralinguísticos depreendidos via contexto. Após essas considerações, estabelece- se a máxima que vai reger todas as outras: o PRINCÍPIO DE COOPERAÇÃO. “Faça sua contribuição conversacional tal como é requerida (...)” (op. cit., p.86). Em outras palavras, os interactantes de uma dada conversa precisam de propósitos comuns, mutuamente aceitos, para que a conversação seja relevante para ambos. Eis as máximas: a) Máxima da Quantidade – a informação deve ser dada em justa medida. A quebra dessa máxima pode acarretar, por exemplo, em informação incompleta, ou até mesmo em excesso de informação. b) Máxima da Qualidade – Um locutor não pode falar sobre aquilo que julga ser falso. Todavia, desobedecer a essa máxima pode ser intencional. Exemplo disso é a linguagem publicitária que, muitas vezes, abre mão da veracidade, a fim de vender determinado produto. P á g i n a | 21 Revista Transdisciplinar Logos e Veritas, Vol. 02, nº 06, 2015, pp. 12-30, ISSN 2318-9614 c) Máxima da Relação – “Seja relevante”. O próprio autor nos revela que essa máxima é, no mínimo, perigosa, pois o conceitode relevância é vago. O que é relevante para um dado falante, ou em uma situação de fala, pode não ser para outro. d) Máxima do Modo – Precisa-se ser claro naquilo que se fala. A maneira como o discurso é construído pode acarretar sentidos diferentes. A ambiguidade é um exemplo de violação dessa máxima. Vale ressaltar, porém, que a ambiguidade pode ser um recurso, a propaganda também nos serve de exemplo. Esse gênero explora, com certa frequência, o duplo sentido. Para Grice, o abandono ou a transgressão das máximas conversacionais pode ser proposital ou não, suscitando mal-entendidos propositais ou descuidos por parte dos falantes. Alguém pode, por exemplo, não conhecer a quantidade necessária de informação e produzir um ato de fala que, provavelmente, não será compreendido pelo interlocutor (violação da máxima da quantidade). Além disso, quando se quer omitir certas informações, muitas vezes para proteger a face de alguém, também há razão para se violar a máxima da quantidade. No citado artigo, o autor ainda nos brinda com uma série de exemplos em que as máximas são violadas. Todavia, vale lembrar que a violação é, na grande maioria das vezes, intencional. O trabalho de Grice ainda afirma haver outras máximas envolvidas nos atos de fala que envolvem regras sociais e de polidez. De certo, essas existirão em face da necessidade do contexto/situação comunicativa. Numa situação de formalidade, por exemplo, há estratégias linguísticas e não linguísticas envolvidas no processo comunicativo. Alguns contextos formais exigem, dentre outros fatores, certa economia e polidez no modo de produzir o ato comunicativo. A análise da conversação envolve os trabalhos do que tradicionalmente denomina- se Análise do Discurso norte-americana. Já a outra análise do discurso, a de linha francesa, além de analisar a língua em sua situação de uso, engloba outros fatores extralinguísticos tais como ideologia, cultura, política, sujeito etc. A esse respeito, posicionam-se Paveau & Sarfati (2006, p. 202): O termo análise do discurso tem origem na tradução de discourse analysis, expressão construída por Harris (1952), que lhe dá o sentido de estudo da dimensão transfrástica, aproximadamente no sentido de linguística textual. De maneira geral, para os anglo- P á g i n a | 22 Revista Transdisciplinar Logos e Veritas, Vol. 02, nº 06, 2015, pp. 12-30, ISSN 2318-9614 saxões, a análise do discurso corresponde à análise conversacional [...] [a escola francesa é] a disciplina que estuda as produções verbais no interior de suas condições sociais de produção. Essas são consideradas como partes integrantes da significação e do modo de formação dos discursos. A análise do discurso distingui-se da linguística textual, cujo objeto é o funcionamento interno do texto, e da análise literária que, mesmo considerando o contexto, não repousa sobre o postulado da articulação entre o linguageiro e o social. Todavia, como doravante apresentado, a Linguística Textual (LT) hodierna não se preocupa tão somente com o funcionamento interno do texto, uma vez que o conteúdo interno de um texto depende daquilo que ocupa o ambiente extralinguístico. A LT, em dado momento, se propõe a investigar a constituição, o funcionamento, a produção e a compreensão dos textos em uso. Em relação à chamada escola francesa de análise do discurso, entende-se que nasceu do já relatado esforço de se criar uma linguística dos usos, da parole. Contudo, definir ou construir um histórico para tal linha de pesquisa, constitui tarefa complexa, haja vista a variedade de aparato teórico e de contextos epistemológicos. Nessa perspectiva, a análise do discurso, bem como outras linhas de pesquisa, consolidou o diálogo da linguística com outras disciplinas, uma vez que envolveu o contexto, a situação de produção e, principalmente, o sujeito em sua análise. Certamente, a Análise do Discurso abriu caminhos para a análise dos fatos da língua em sua atividade. Todavia, carece ainda de aparato teórico mais consistente para fundamentar uma análise mais objetiva desses fatos – principalmente a escola francesa-, uma vez que constitui disciplina que dialoga com tantas outras e observa o sujeito falante, pensante, ator, (i)responsável por seus atos etc., ou seja, tão complexo. Quanto à Linguística Textual, observa-se que o termo Linguística do Texto foi utilizado pela primeira vez por Herald Weinrich, autor alemão que postula que toda a Linguística deve ser necessariamente Linguística do Texto. A LT também participa do grupo de teorias que pretende realizar os estudos do discurso. Num primeiro momento, a LT surge da necessidade de se realizar uma análise para além dos domínios da frase, mas chegar a uma análise que fosse de todo o texto, pois o P á g i n a | 23 Revista Transdisciplinar Logos e Veritas, Vol. 02, nº 06, 2015, pp. 12-30, ISSN 2318-9614 produtor/locutor não produz frases, mas sim texto. 8 Nesse período, é importante verificar os mecanismos que envolvem os componentes intratextuais, tais como a coesão e a referenciação. O segundo momento da LT diz respeito à formação das chamadas “gramáticas textuais”. Uma vez que todo usuário da língua possui uma “competência textual”, então se justifica a tarefa de criar uma gramática textual que dê conta dessa competência do usuário. Fávero & Koch (1983) apud Bentes (2007) afirmam que as gramáticas textuais deveriam ter três tarefas: a) Verificação do que faz com que um texto seja um texto, ou seja, a busca da determinação de seus princípios de constituição, dos fatores responsáveis por sua coerência, das condições em que se manifesta a textualidade. b) Levantamento de critérios para a delimitação de textos, já que a completude é uma das características essenciais do texto; c) Diferenciação de várias espécies de texto Atualmente, verifica-se que essas têm sido algumas das tarefas dos professores de língua portuguesa dos ensinos fundamental e médio das escolas brasileiras, pois diversos livros didáticos contemporâneos espelham-se nos pressupostos teóricos da LT. Todavia, segundo Bentes (op. cit., p.251), era um “projeto ambicioso e pouco produtivo, pois não contemplou algumas questões, tais como as regras capazes de descrever todos e apenas todos os tipos de texto.” Chega-se então, à terceira fase da LT: a fase denominada teoria do texto. Como apresentado a priori, esse momento da LT se propõe a investigar a constituição, o funcionamento, a produção e a compreensão dos textos em uso. Seus principais postulados são: Tratamento dos textos no seu contexto pragmático; Âmbito de investigação do texto ao contexto; Da gramática do texto para a noção de textualidade9. 8 Nesse contexto, o texto é a unidade linguística mais elevada, a partir da qual seria possível chegar a unidades menores a serem classificadas. 9 Beaugrande e Dressler são os autores dos sete princípios de textualidade, que são: Coesividade; Coerência; Intencionalidade; Aceitabilidade; Informatividade; Situcionalidade e Intertextualidade. P á g i n a | 24 Revista Transdisciplinar Logos e Veritas, Vol. 02, nº 06, 2015, pp. 12-30, ISSN 2318-9614 A LT também se apresenta como teoria multidisciplinar, uma vez que provoca mudança na concepção de língua – agora, sistema atual e não virtual; colabora para uma nova concepção de texto – não mais um produto, mas um processo; e aceita mudança de objetivos – análise e explicação da unidade texto em funcionamento e não como unidade formal e abstrata. 4 - O cognitivismo em linguística As ciências da cognição, emlinhas gerais, ocupam-se dos estudos relacionados às questões da estrutura e do funcionamento da mente humana. Passam pela filosofia, pela psicologia, pelos estudos de aquisição da linguagem, pelas ciências da computação e da inteligência artificial e, obviamente, pela linguística. Assim como as teorias interacionistas, as ciências da cognição tomam força a partir da década de 50 do século passado, como reação às teorias behavioristas que postulavam estudos altamente descritivos a partir de reações humanas a determinados estímulos, ou seja, sem nenhuma explicação a respeito de como a mente humana participa dos processos relacionados à linguagem. Todavia, Koch & Cunha-Lima (2007, p. 252) afirmam que: As ciências cognitivas, partindo de inovações na investigação da natureza do raciocínio lógico-matemático, introduzidas principalmente por lógicos, mostraram que investigar os processos inteligentes e a inteligência em geral é uma empreitada científica possível. Os processos mentais e a mente foram reabilitados como objetos de investigação, e seu estudo tornou-se o objetivo fundamental dessa nova ciência. Isso se confirma facilmente quando examinamos os títulos de alguns dos principais livros que pretendem introduzir leitores não especializados às ciências cognitivas: A nova ciência da mente (Gardner, 1985) ou Como a mente funciona (Pinker, 1997). Em outras palavras, estudar a mente tornou-se possível, revogando princípios anteriores que refutavam o estudo da mente por acreditarem ser campo de impossível acesso. Ainda segundo as mesmas autoras, as ciências cognitivas pretendem responder a algumas perguntas, tais como: Como o conhecimento está representado e estruturado na P á g i n a | 25 Revista Transdisciplinar Logos e Veritas, Vol. 02, nº 06, 2015, pp. 12-30, ISSN 2318-9614 mente? Como a memória se organiza? Como a mente se estrutura? Ela é dividida em partes independentes que se coordenam ou existe conexão entre todas as partes? Qual a origem dos nossos conhecimentos? São eles inatos ou derivam da experiência? Assim, os chamados cognitivistas clássicos, preocupam-se com os fatores internos, mentais do processamento linguístico, enquanto sociolinguistas, analistas do discurso, entre outros, mantêm preocupação com fatores externos à mente. Todavia, a partir da década de oitenta, surge um outro grupo de cognitivistas. Adeptos da cognição clássica e insatisfeitos com seus modelos, ou ex-gerativistas dissidentes, procuram estabelecer uma outra abordagem para os estudos cognitivistas a partir do diálogo entre fenômenos, que são cognitivos em geral, e a linguagem em particular “como fenômenos capazes de oferecer modelos da interação e da construção de sentidos cognitivamente plausíveis ou cognitivamente motivados e, ao mesmo tempo, como fenômenos que acontecem na vida social” – como afirmam as Koch e Cunha-Lima (op. cit. P. 255). Alguns dos autores que advogam tal prática nova são George Lakoff, Ronald Langacker e Leonard Talmy . A espinha dorsal dos estudos da cognição são as noções de representação mental, i.e., qualquer objeto do conhecimento só tem existência se representado na mente do agente cognitivo, e de computação simbólica, cujos postulados advogam que os processos cognitivos são manipulações regidas por regras de símbolos ou representações de objetos, reais ou imaginários. Não é coincidência que uma das obras de Noam Chomsky intitule-se Regras e representações. Surgem, então, os modelos computacionais chomskianos e que foram herdados e recortados pela linguística computacional. Outro campo inserido nos estudos cognitivistas é a questão da aquisição da linguagem. Chomsky, como já abordado, considera a faculdade da linguagem inata ao ser humano. De acordo com Scarpa (2006, p. 207): “O argumento básico de Chomsky é: num tempo bastante curto (mais ou menos dos 18 aos 24 meses), a criança, que é exposta normalmente a uma fala precária, fragmentada, cheia de frases truncadas ou incompletas, é capaz de dominar um conjunto complexo de regras ou princípios básicos que constituem a gramática internalizada do falante.” Um renomado autor sobre o processo de aquisição da linguagem é Jean Piaget. Argumenta que a aquisição e o desenvolvimento da linguagem derivam do desenvolvimento do raciocínio na criança. Segundo Piaget, a linguagem aparece na superação do estágio sensório-motor, por volta dos 18 meses, pela seguinte ordenação: P á g i n a | 26 Revista Transdisciplinar Logos e Veritas, Vol. 02, nº 06, 2015, pp. 12-30, ISSN 2318-9614 A) Desenvolvimento da função simbólica; B) Desenvolvimento da representação; Os processos envolvidos são: 1) descentralização das ações em relação ao corpo próprio; 2) coordenação gradual das ações; 3) permanência do objeto; Enfim, as ciências da cognição constituem objeto ainda obscuro no campo da linguística e da ciência de modo geral, pois muito há de se descobrir a respeito dos processos que envolvem a mente humana. Mais uma vez, é preciso reforçar a necessidade de se calcar em arcabouço teórico consistente, a fim de dar crédito ao trabalho e não cair no mesmo erro de muitos trabalhos: a não definição de um recorte teórico bem definido e coerente. 5 - Novos rumos da linguística Como já abordado neste artigo, o surgimento de novos trabalhos no campo da ciência depende de dois pilares centrais: tradição e inovação. Em outras palavras, não se desenvolve ciência sem recorrer àquilo que já foi dito a respeito de determinado assunto, por meio de argumentos de autoridades, e não se é aceito se o estudo não for acrescido de algo que seja novo, relevante para a ciência de modo geral. Outro aspecto importante a se destacar, é o fato de que todas as teorias abordadas neste artigo são passíveis de uso hodiernamente, embora algumas não estejam mais no centro dos estudos linguísticos, principalmente no Brasil. Todavia, percebe-se que há uma tendência de diálogo no contato entre as diversas teorias. Já advogamos anteriormente, o fato de todas as teorias beberem em fontes saussurianas, já que Saussure constitui um programa de investigação consistente e coerente até os dias de hoje. Não se deve perder de vista também, o contato da Linguística com a educação, principalmente no que tange os processos de aquisição da linguagem e o ensino de línguas, sejam estrangeiras ou maternas. A chamada Linguística Aplicada deve ser, na verdade, o diálogo das diversas teorias como o ensino. A ciência possui, além do caráter descritivista P á g i n a | 27 Revista Transdisciplinar Logos e Veritas, Vol. 02, nº 06, 2015, pp. 12-30, ISSN 2318-9614 e explanatório, seu lado prático, cobrado pela própria sociedade, e não deve ser diferente com a ciência da linguagem. Muitos professores de língua portuguesa, por exemplo, encontram-se atordoados por tão grande quantidade de estudos linguísticos com pouca, ou nenhuma, abordagem prática para a sala de aula. Conforme Bittencourt (2002), os professores de Língua Portuguesa encontram-se inseguros acerca do que devem ensinar aos seus alunos. Os motivos são diversos, mas perpassam, principalmente, a questão do número de teorias linguísticas, cujos variados recortes do mesmo objeto - linguagem verbal - levam a diferentes proposições. A professora propõe alguns prováveis questionamentos dos docentes de nossa língua, tais como (Op. Cit., p.1): a) Que devo ensinar na disciplina de Língua Portuguesa, tendo em vista que o aluno já conhece a língua ao chegar à escola?b) Como tornar o aluno um efetivo produtor/intérprete de textos? c) Devo ensinar gramática? d) Caso a resposta à pergunta anterior seja negativa, o que devo, então, ensinar? e) Caso a resposta seja positiva, como devo ensinar gramática? Além da denominada Linguística Aplicada ao Ensino, as ciências da cognição ainda constituem campo aberto a diversos estudos, devido à complexidade e amplitude da mente humana. Além do mais, a linguística computacional procura desenvolver modelos cada vez mais condizentes com a nossa realidade, e a psicolinguística – entre outros campos – procura desvendar cada vez mais os mistérios do comportamento da mente e do comportamento humano por meio da linguagem. Assim, conclui-se que nenhuma escola pode ser considerada fechada ou acabada. Muito pelo contrário, a partir de estudos anteriores é que surgem novas aspirações e tendências. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AREAS, E. K, & MARTELOTTA, M. E. A visão funcionalista da linguagem no século XX. In: CUNHA, M. A. F. et. al (org), Linguística funcional: teoria e prática. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. BENTES, A.C. Linguística Textual. In: BENTES, A.C. & MUSSALIM F. (orgs) Introdução à Linguística, domínios e fronteiras. São Paulo, Cortez Editora: 2007. Vol.1. P á g i n a | 28 Revista Transdisciplinar Logos e Veritas, Vol. 02, nº 06, 2015, pp. 12-30, ISSN 2318-9614 BENVENISTE, É. Problemas de linguística geral I e II. 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