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Livro A ciência linguística conceitos básicos

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A CIÊNCIA LINGUÍSTICA: 
CONCEITOS BÁSICOS
Maringá
2010
EDITORA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
 
 REITOR: Prof. Dr. Mauro Luciano Baesso
 VICE-REITOR: Prof. Dr. Julio César Damasceno
 DIRETORA DA EDUEM: Profa. Dra. Terezinha Oliveira
 EDITORA-CHEFE DA EDUEM: Profa. Dra. Sonia Silva Marcon
 
CONSELHO EDITORIAL
 PRESIDENTE: Profa. Dra. Terezinha Oliveira
 EDITORES CIENTÍFICOS: Profa. Dra. Ana Lúcia Rodrigues
 Profa. Dra. Angela Mara de Barros Lara
 Profa. Dra. Analete Regina Schelbauer
 Prof. Dr. Antonio Ozai da Silva
 Profa. Dra. Cecília Edna Mareze da Costa
 Prof. Dr. Eduardo Augusto Tomanik
 Profa. Dra. Elaine Rodrigues
 Profa. Dra. Larissa Michelle Lara
 Prof. Dr. Luiz Roberto Evangelista
 Profa. Dra. Luzia Marta Bellini
 Prof. Me. Marcelo Soncini Rodrigues
 Prof. Dr. Márcio Roberto do Prado
 Prof. Dr. Mário Luiz Neves de Azevedo
 Profa. Dra. Maria Cristina Gomes Machado
 Prof. Dr. Oswaldo Curty da Motta Lima
 Prof. Dr. Raymundo de Lima
 Profa. Dra. Regina Lúcia Mesti
 Prof. Dr. Reginaldo Benedito Dias
 Profa. Dra. Rozilda das Neves Alves
 Prof. Dr. Sezinando Luiz Menezes
 Profa. Dra. Valéria Soares de Assis
 
 EQUIPE TÉCNICA
 FLUXO EDITORIAL Edneire Franciscon Jacob
 Mônica Tanamati Hundzinski
 Vania Cristina Scomparin
 
 PROJETO GRÁFICO E DESIGN Luciano Wilian da Silva
 Marcos Kazuyoshi Sassaka
 Marcos Roberto Andreussi
 
 MARKETING Marcos Cipriano da Silva
 
 COMERCIALIZAÇÃO Gerson Ribeiro de Andrade
 Paulo Bento da Silva
 Solange Marly Oshima
COPYRIGHT © 2016 EDUEM
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo parcial, 
por qualquer processo mecânico, eletrônico, reprográfico etc., sem a 
autorização, por escrito, do autor. Todos os direitos reservados desta 
edição 2016 para a editora.
EDUEM - EDITORA DA 
UNIV. ESTADUAL DE MARINGÁ
Av. Colombo, 5790 - Bloco 40
Campus Universitário
87020-900 - Maringá - Paraná
Fone: (0xx44) 3011-4103
Fax: (0xx44) 3011-1392
http://www.eduem.uem.br
eduem@uem.br
Maringá
2010
FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM LETRAS - EAD
Cristiane Carneiro Capristano 
(Organizadora)
3
A Ciência Linguística: 
conceitos básicos
Endereço para correspondência:
Eduem - Editora da Universidade Estadual de Maringá
Av. Colombo, 5790 - Bloco 40 - Campus Universitário
87020-900 - Maringá - Paraná
Fone: (0xx44) 3011-4103 / Fax: (0xx44) 3011-1392
http://www.eduem.uem.br / eduem@uem.br
Coleção Formação de Professores em Letras - EAD
 Apoio técnico: Rosane Gomes Carpanese
 Edna Barbosa Bergstron
 Normalização e catalogação: Ivani Baptista CRB - 9/331
 Revisão Gramatical: Manoel Messias Alves da Silva
 Edição, Produção Editorial e Capa: Carlos Alexandre Venancio
 Eliane Arruda
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Copyright © 2010 para o autor
2a reimpressão - 2016 - Revisada
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo 
mecânico, eletrônico, reprográfico etc., sem a autorização, por escrito, do autor. Todos os direitos 
reservados desta edição 2010 para Eduem.
A ciência linguística: conceitos básicos / Cristiane Carneiro Capristano, 
 organizadora. -- Maringá : Eduem, 2010. 
 120p. 21cm. (Formação de Professores em Letras – EAD; n. 3) 
 ISBN 978-85-7628-246-4
 1. Linguística – Conceitos. 2. Ciência linguística - Estudo e ensino. I. Capristano, 
Cristiane Carneiro, org. 
 
CDD 21. ed. 410
C569
5
Sobre os autores
Apresentação da coleção
Apresentação do livro
Capítulo 1
A ciência linguística: objeto, objetivos e métodos
Cristiane Carneiro Capristano 
Capítulo 2
Panorama dos estudos linguísticos
Juliano Desiderato Antonio / Sonia Aparecida Lopes Benites
 
Capítulo 3
A visão saussuriana de linguagem
Cristiane Carneiro Capristano / Dulce Elena Coelho Barros 
 
Capítulo 4
As concepções de linguagem
Sonia Aparecida Lopes Benites
 
Capítulo 5
Gramática e ensino
Cristiane Carneiro Capristano / Dulce Elena Coelho Barros
> 7
> 9
> 11
> 13
> 35
> 63
> 89
> 101
umárioS
7
SONIA APARECIDA LOPES BENITES 
Mestre em Letras pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) -1978, 
Doutora em Letras pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita 
Filho (Unesp/Assis) e Pós-Doutora em Linguística pela Universidade Estadual 
de Campinas (Unicamp). É professora de graduação e pós-graduação na 
Universidade Estadual de Maringá (UEM), desenvolvendo pesquisas em duas 
linhas: Ensino-aprendizagem de línguas e Estudos do Texto e do Discurso. 
Integra três grupos de pesquisa inscritos no CNPq: GEPOMI Grupo de Estudos 
Político-midiáticos (UEM), Leitura e Literatura na Escola (Unesp Assis/UEL/
UEM/PUCRS/UFG) e Questões de teoria e análise em Análise do Discurso 
(Unicamp).
JULIANO DESIDERATO ANTONIO 
Mestre em Linguística e Língua Portuguesa pela Universidade Estadual 
Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp/Araraquara) e Doutor em Linguística 
e Língua Portuguesa pela mesma universidade. É professor de graduação 
e pós-graduação na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Sua linha de 
atuação é a de Descrição Linguística, com ênfase no Funcionalismo. Participa 
do grupo de pesquisa do CNPq Gramática de usos do português do Brasil e 
é líder do Grupo de Pesquisas Funcionalistas do Norte/Noroeste do Paraná 
(CNPq/UEM).
DULCE ELENA COELHO BARROS
Mestre em Linguística e Língua Portuguesa pela Universidade Estadual 
Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp/Araraquara) e Doutora em 
Linguística pela Universidade de Brasília (UnB). É professora de graduação 
na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Tem experiência na área de 
Linguística, com ênfase em Análise do Discurso Crítica. Atua principalmente 
nos seguintes temas: discurso parlamentar, argumentação, contexto 
social e gramática. Integra o Grupo de Pesquisa Estudos de discurso, 
pobreza e identidade – rede latino-americana de estudos do discurso 
( REDLAD– UnB/CNPq)
obre os autoresS
A CIÊNCIA LINGUÍSTICA: 
CONCEITOS BÁSICOS
8
CRISTIANE CARNEIRO CAPRISTANO
Mestre em Estudos Linguísticos pela Universidade Estadual Paulista 
Júlio de Mesquita Filho (Unesp/São José do Rio Preto) e Doutora 
em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas 
(Unicamp). É professora de graduação na Universidade Estadual de 
Maringá (UEM). Desenvolve pesquisas na área de Linguística, atuando 
principalmente nos seguintes temas: letramento, escrita, aquisição da 
escrita e relação fonologia/convenções ortográficas. Integra o Grupo 
de Pesquisa Estudos sobre a linguagem (CNPq).
9
Os 54 títulos que compõem a coleção Formação de Professores em Letras fazem 
parte do material didático utilizado pelos alunos matriculados no Curso de Licenciatu-
ra em Letras, habilitação dupla, Português-Inglês, na Modalidade a Distância, da Uni-
versidade Estadual de Maringá (UEM). O curso está vinculado à Universidade Aberta 
do Brasil (UAB) que, por seu turno, faz parte das ações da Diretoria de Educação a 
Distância (DED) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior 
(Capes). 
A UEM, na condição de Instituição de Ensino Superior (IES) proponente do curso, 
assumiu a responsabilidade da produção dos 54 livros, dentre os quais 51 títulos fica-
ram a cargo do Departamento de Letras (DLE), 2 do Departamento de Teoria e Prática 
da Educação (DTP) e 1 do Departamento de Fundamentos da Educação (DFE). O pro-
cesso de elaboração da coleção teve início no ano de 2009, e sua conclusão, seguindo 
o cronograma de recursos e os trâmites gerais do Fundo Nacional de Desenvolvimento 
da Educação (FNDE), está prevista até 2013. É importante ressaltar que, visando a 
atender às necessidades e à demanda dos alunos ingressantes no Curso de Graduação 
em Letras-Português/Inglês a Distância, da UEM, no âmbito da UAB, nos diferentes 
polos, serão impressos 338 exemplares de cada livro. 
A coleção, não obstante a necessária organicidade que aproxima e estabelece a 
comunicação entre diferentes áreas,busca contemplar especificidades que tornam o 
curso de Letras uma interessante frente de estudos e profissional. Deste modo, as 
três principais instâncias que compõem o curso de Letras na modalidade a distância 
(Língua Portuguesa, Teoria da Literatura e Literaturas de Língua Portuguesa e 
Língua Inglesa e Literaturas Correspondentes) são contempladas com livros que 
são organizados tendo em vista a construção do saber de cada área. Semelhante cons-
trução não apenas trabalha conteúdos necessários de modo rigoroso tal como seria 
de esperar de um curso universitário, como também atua decisivamente no sentido de 
proporcionar ao aluno da Educação a Distância a autonomia e a posse do discurso de 
modo a realizar uma caminhada plenamente satisfatória tanto em sua jornada acadê-
mica quanto em sua vida profissional posterior. Isso só é possível graças à competência 
e comprometimento dos organizadores e autores dos livros dessa coleção, em sua 
maior parte ligados aos departamentos da Universidade Estadual de Maringá envol-
vidos neste curso, além de convidados que enriqueceram a produção dos livros com 
sua contribuição. A excelência e a destacada contribuição científica e acadêmica desses 
presentação da ColeçãoA
A CIÊNCIA LINGUÍSTICA: 
CONCEITOS BÁSICOS
10
autores e organizadores são outros elementos que garantem a seriedade do material 
e reforça a oportunidade que se abre ao aluno da Educação a Distância. Além disso, o 
material produzido poderá ser utilizado por outras instituições ligadas à Universidade 
Aberta do Brasil, abrindo uma perspectiva nacional para os livros do curso de Letras 
a Distância.
Além do trabalho desses profissionais, essa coleção não seria possível sem a con-
tribuição da Reitoria da UEM e de suas Pró-Reitorias, do Centro de Ciências Humanas, 
Letras e Artes da UEM e seus respectivos representantes e departamentos, da Diretoria 
de Educação a Distância (DED) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do 
Ensino Superior (Capes) e do Ministério da Educação (MEC). Todas essas esferas, de 
acordo com suas atribuições, foram de suma importância em todas as etapas do traba-
lho. Diante disso, é imperativo expressar, aqui, nosso muito obrigada.
Por último, mas não menos importante, registramos nosso agradecimento especial 
à equipe do NEAD-UEM: Pró-Reitoria de Ensino, Coordenação Pedagógica e equipe 
técnica, pela dedicação e empenho, sem os quais essa empreitada teria sido muito 
mais difícil, se não impossível.
 
Rosângela Aparecida Alves Basso,
Organizadora da coleção. 
11
Este livro, como o próprio título sugere, é uma obra introdutória que visa a permi-
tir ao aluno/leitor uma primeira aproximação com alguns dos principais conceitos que 
atravessam e constituem a Linguística. Mas não só. Nele, o aluno/leitor verá também 
delinearem-se discussões sobre fatos históricos que cercaram a construção da Linguís-
tica como ciência, ponderações sobre seus fundamentos teóricos e metodológicos, 
bem como reflexões sobre o ponto de vista que essa ciência tem assumido diante desse 
particular objeto de conhecimento que é a linguagem humana. 
Neste livro, nosso objetivo é, ainda, o de possibilitar ao aluno/leitor a apreensão de 
um conjunto de conhecimentos que possa favorecer o desenvolvimento de uma visão 
científica, crítica e reflexiva sobre os fenômenos linguísticos. Desejamos, portanto, 
que, a partir dos debates instaurados ao longo dos cinco capítulos que compõem essa 
obra, o aluno/leitor seja capaz de assumir uma posição diferenciada frente à visão ex-
clusivamente prescritiva e normativa da linguagem que predomina no senso comum 
– visão que, em última instância, fornece-nos uma concepção de linguagem falseada e 
fundamentada em suposições muitas vezes equivocadas. 
Embora os capítulos que formam este livro sejam independentes, o aluno/leitor 
observará que eles dialogam entre si. Esse diálogo pode ser notado, por exemplo, no 
fato de alguns tópicos serem explorados, embora com propósitos distintos, em mais 
de um capítulo, tal como o tópico gramática. Essa recorrência temática emerge da 
importância que atribuímos a certos tópicos para o entendimento do recorte singular 
que a ciência Linguística tem feito em sua tarefa de compreender e explicar as múlti-
plas e diferentes faces da linguagem humana. 
O livro está organizado da seguinte maneira: no primeiro capítulo, é examinado o 
modo como alguns paradigmas teóricos da Linguística delimitaram seu objeto de es-
tudo, estabeleceram objetivos e defenderam certos dispositivos metodológicos, ações 
que, juntas, permitiram o alçamento da Linguística como disciplina científica. Esse 
olhar retrospectivo é acompanhado da reflexão sobre alguns caminhos que a Linguís-
tica contemporânea tem trilhado e do debate sobre o ponto de vista assumidamente 
descritivo/explicativo que tem caracterizado essa ciência. 
O segundo capítulo, por sua vez, apresenta um panorama de como os estudos lin-
guísticos se desenvolveram ao longo da história e coloca em cena diferentes propostas 
teóricas que surgiram após o estabelecimento da Linguística como ciência, no início 
presentação do livroA
A CIÊNCIA LINGUÍSTICA: 
CONCEITOS BÁSICOS
12
do século XX. É intenção dos autores deste capítulo oferecer uma visão não cumula-
tiva da constituição histórica desta disciplina; uma visão, portanto, que contemple as 
mudanças e as rupturas que caracterizaram os diferentes momentos que se sucederam 
nos estudos sobre a linguagem.
O terceiro capítulo traz uma discussão sobre as contribuições de Saussure, consi-
derado por muitos como o “pai” da Linguística moderna. Nele, o propósito central é 
dar ênfase para alguns conceitos que balizaram a construção do chamado projeto saus-
suriano, tais como os conceitos de valor linguístico, língua, fala e signo linguístico. 
No quarto capítulo, são abordadas diferentes formas de conceber a linguagem, não 
só aquelas propostas por linguistas, mas, também, concepções aventadas por outros 
estudiosos, tais como filósofos, psicólogos, antropólogos e sociólogos. Neste capítulo, 
intenciona-se permitir que o aluno/leitor confronte essas diferentes concepções com 
aquelas que ele traz de sua experiência cotidiana – essas últimas atreladas, em geral, 
ao senso comum e que, muitas vezes, carecem de rigor teórico e científico. 
No quinto e último capítulo, esboça-se uma reflexão sobre a relação entre gramá-
tica e ensino, com o fito de possibilitar ao aluno/leitor reavaliar sua(s) própria(s) con-
cepção(ções) de gramática e, correlativamente, reexaminar seu posicionamento frente 
ao papel dos fatos gramaticais no ensino de Língua Portuguesa. 
Em todos os capítulos, o aluno/leitor encontrará várias indicações de leitura com-
plementar e referências bibliográficas variadas que, certamente, permitirão o aprofun-
damento dos debates que serão mobilizados pela leitura do livro.
Esperamos que este livro possa vir a se constituir como ponto de partida – mas 
não de chegada! – para a formação linguística de seus alunos/leitores e contribua de 
maneira efetiva para que eles possam conhecer mais e melhor dessa inquietante capa-
cidade humana: a linguagem. 
Cristiane Carneiro Capristano
Organizadora
13
Cristiane Carneiro Capristano
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O propósito deste capítulo é o de introduzir o leitor no debate sobre algumas 
possibilidades de abordagem científica da linguagem humana. Para tanto, nas linhas 
que seguem, fazemos um esboço de alguns dos principais paradigmas teóricos da Lin-
guística, observando, em especial, como cada um deles definiu e delimitou seu objeto 
de estudo, estabeleceu objetivos e elaborou e defendeu certos dispositivos metodoló-
gicos. Por inúmeras razões, tais como limites de espaço e complexidade do assunto, 
o esboço será parcial e lacunoso. Com o intuito de permitir ao leitor preencher as 
lacunas deste texto e, assim, ter uma visão mais abrangente dos fatos colocados em 
foco, no transcursodo capítulo são indicadas algumas referências bibliográficas que 
tratam das temáticas abordadas. 
Neste capítulo, primeiramente, fazemos uma discussão sucinta a respeito de como 
certo campo de estudos pode ser reconhecido como ciência, discussão essa que é 
acompanhada da reflexão sobre a problemática que envolve a delimitação de um ob-
jeto de estudo. Em seguida, são feitas algumas considerações sobre estudos que serão 
nomeados aqui como “pré-saussurianos”, em alusão a um texto de Faraco (2004). Nes-
se momento, procuramos mostrar que, embora seja consenso entre vários estudiosos 
de que o estudo científico da linguagem humana teve início nos períodos iniciais do 
século XX, a partir da publicação do livro Curso de Linguística Geral e de seus efeitos 
sobre os pesquisadores da época, muito antes desse marco histórico a linguagem hu-
mana já era alvo de vários estudos. Posteriormente, são examinadas contribuições de 
Saussure e Chomsky. Nesse momento, damos relevo ao modo como esses estudiosos 
idealizaram um objeto de estudo, estabeleceram objetivos e métodos para a Linguísti-
ca. O capítulo é finalizado com duas reflexões: (a) considerando alguns caminhos que 
a Linguística contemporânea tem trilhado, a partir, justamente, de algumas exclusões 
A ciência linguística: 
objeto, objetivos 
e métodos
1
A CIÊNCIA LINGUÍSTICA: 
CONCEITOS BÁSICOS
14
feitas pelos chamados paradigmas formais (gerativista e estruturalista); (b) fazendo 
uma reflexão sobre o que a Linguística não é, enfocando a diferença entre o ponto de 
vista normativo/prescritivo e o ponto de vista assumidamente descritivo/explicativo 
que tem caracterizado a ciência Linguística. 
Sobre a problemática do objeto,
[...] Tomada em seu todo, a linguagem é multiforme e heteróclita; cavaleiro de 
diferentes domínios, ao mesmo tempo física, fisiológica e psíquica, ela pertence 
além disso ao domínio individual e social; não se deixa classificar em nenhuma 
categoria de fatos humanos, pois não se sabe como inferir sua unidade (SAUS-
SURE, 1971, p. 17).
Os estudiosos são unânimes em afirmar que uma das mais lembradas qualidades 
da Linguística foi e, de certo modo, ainda é, a sua cientificidade. Dada essa sua caracte-
rística, convém indagar: quais fatores são responsáveis por tornar um campo de saber, 
tal como os estudos sobre a linguagem, uma ciência? Parece consenso, também, que a 
resposta a essa questão leva em conta, de alguma forma, a tríade objeto, objetivo e mé-
todo. Em outras palavras, o reconhecimento de uma ciência está fortemente atrelado 
à delimitação de um objeto de estudo, à proposição de objetivos e ao estabelecimento 
de uma metodologia “própria e adequada à delimitação dos traços fundamentais do 
objeto selecionado” (BORBA, 1998, p. 301).
O problema reside no fato de não ser fácil delimitar um objeto de estudos para a 
Linguística. Obviamente, poderíamos afirmar que a Linguística é o estudo científico da 
linguagem humana, no entanto, com a assunção dessa proposição, nos deparamos ao 
menos com um problema. Isso porque a linguagem humana é um fenômeno comple-
xo e multifacetado; nela se entrecruzam vários fatos que, em última instância, permi-
tem que a linguagem humana seja descrita e/ou considerada cientificamente a partir de 
diferentes perspectivas: física, fisiológica, biológica, filosófica, psicológica, sociológica 
etc. Foi exatamente a constatação desse fato que levou Saussure (1971) a afirmar que: 
outras ciências trabalham com objetos dados previamente e que se pode con-
siderar, em seguida, de vários pontos de vista; em nosso campo nada de seme-
lhante ocorre. [...] Bem longe de dizer que o objeto precede o ponto de vista 
[...] é o ponto de vista que cria o objeto (SAUSSURE, 1971, p. 15). 
Assim, não haveria um objeto pronto e natural delimitado a priori que possa ser 
apreendido pelo pesquisador. Será apenas a opção teórica assumida pelo estudioso 
que permitirá recortar esse fenômeno complexo e, nesse gesto, criar um objeto de 
estudo. Vejamos o que dizem Dascal e Borges Neto (1991, p. 45) a esse respeito: 
15
[...] não há um ‘objeto natural’ delimitado anteriormente a qualquer opção ou 
trabalho teórico ‘prontinho’ para ser investigado. Se assim fosse, o progresso 
das teorias a respeito da linguagem consistiria em nada mais do que uma suces-
são linear de aproximações, que nos levaria pouco a pouco, a uma descrição e a 
uma compreensão cada vez mais perfeita desse objeto. [...] cada opção teórica 
recorta o ‘mundo’ dos fenômenos de forma diferente e, desta maneira, consti-
tui – ‘cria’ – o seu objeto de estudos. Por isso, a sucessão de teorias não é uma 
aproximação linear da verdade sobre um objeto previamente dado. 
Convém destacar que a inexistência de um “objeto natural e pronto” não é prer-
rogativa dos estudos sobre a linguagem humana. A irredutibilidade dos fenômenos à 
apreensão científica é também fato constatado em outras áreas do saber. Ocorre que os 
fatos do chamado “mundo natural”, ao serem capturados pelo olhar do cientista, são 
irremediavelmente afetados por ele. Ou seja, em ciência, em nome de um certo rigor, 
ficamos, na maioria das vezes, impedidos de abrigar todas as facetas que constituem 
os fenômenos com os quais nos deparamos no processo de investigação; o que nos 
resta é um objeto de estudo que resulta de um corte sempre moldado pelo gesto do 
“cortador”.
Para nossa reflexão, é necessário reter o seguinte: é justamente a determinação de 
um ponto de vista que preceda a delimitação do objeto que permite identificar uma 
abordagem propriamente linguística e diferenciá-la das demais disciplinas que, de 
uma forma ou de outra, interessam-se (ou interessaram-se) pelo fenômeno linguístico. 
Como veremos neste capítulo, cada momento histórico da Linguística correspondeu 
a uma forma de delimitação de um objeto que, por sua vez, determinou o recalque 
de certos aspectos do fenômeno linguístico e a escolha/exclusão de certos objetivos e 
métodos.
“Estudos pré-saussurianos”
Conforme adiantamos, parece ser consensual entre os estudiosos a ideia de que o 
estudo científico da linguagem humana teve início nos períodos iniciais do século XX, 
quando foi publicado, em francês, o livro Curso de Linguística Geral (doravante CLG), 
do professor suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913). O livro foi publicado três anos 
após a morte de Saussure por Charles Bally e Albert Sechehayes que reuniram, nesse 
livro, anotações de aulas ministradas por Saussure no período de 1907 a 1911. 
Não seria sensato, no entanto, considerar que a Linguística, assim como qualquer 
outra ciência, tenha sido iniciada com “data e hora marcada” e seja produto do tra-
balho exclusivo de um pesquisador. Ao contemplarmos a história de constituição dos 
saberes a respeito da linguagem humana, descobrimos, como destaca Petter (2002, 
p. 12), que o interesse pela linguagem é bastante antigo e pode ser examinado em 
A ciência linguística: 
objeto, objetivos 
e métodos
A CIÊNCIA LINGUÍSTICA: 
CONCEITOS BÁSICOS
16
mitos, lendas, cantos, rituais ou em trabalhos eruditos que buscavam conhecer essa 
capacidade humana. Esse interesse, sem dúvida, deixou suas marcas na forma como, 
na atualidade, explicamos, interpretamos e descrevemos o funcionamento da lingua-
gem humana. 
No entanto, grande parte dos estudos e reflexões sobre a linguagem feitos antes 
da publicação do livro de Saussure, desde a Antiguidade Clássica até o início do sé-
culo XIX, foi assinalada por atributos que não permitiam caracterizar esses estudos 
como científicos – pelo menos, não no sentindo que atribuímos a esse termo/concei-
to na atualidade – uma vez que eles não tinham como interesse primordial a lingua-
gem em si mesma e, em geral, estavam comprometidos com outras exigências, ligadas 
aos campos de saber do qual emergiam: dos estudos filosóficos, lógicos, retóricos, 
históricos etc. Se pensarmos apenas nas reflexões sobre a linguagem que parecem ser 
fundadorasda chamada Linguística ocidental, será possível verificar que: 
Durante séculos, dos pré-socráticos aos estóicos e aos alexandrinos, e depois 
no renascimento aristotélico que estende o pensamento grego até o fim da 
idade média latina, a língua permaneceu como objeto de especulação e não de 
observação (BENVENISTE, 1995, p. 20).
Benveniste (1995) afirma que os estudiosos, nesse longo período, não tinham 
como preocupação central a descrição ou o estudo da língua(gem) por si mesma, nem 
mesmo o interesse em verificar, por exemplo, se as categorias fundadas com base em 
gramáticas gregas ou latinas poderiam ser as mesmas para outras línguas – e, analoga-
mente, para todas elas. O mesmo aconteceu, de seu ponto de vista, durante o século 
XVIII – conferir mais informações a respeito dessa temática no capítulo Panorama dos 
estudos linguísticos. 
Foi apenas no final do século XVIII, com a descoberta do sânscrito – língua sagrada 
da cultura indiana que, à época, estava preservada apenas em livros sagrados –, que 
os estudos sobre a linguagem começaram a ganhar certa autonomia e, principalmente 
por essa razão, muitos historiadores reconhecem esse período, chamado período his-
tórico-comparativista, como o primeiro paradigma real da Linguística – o que significa 
dizer que os estudos históricos e comparativos teriam sido os primeiros estudos verda-
deiramente científicos sobre a linguagem humana. 
Segundo Faraco (2004, p. 29), “a Linguística comparativa e histórica desenvolveu 
um método de manipulação de dados linguísticos enquanto dados linguísticos”, ou 
seja, diferentemente dos estudos sobre a linguagem que antecederam esse período, 
a linguagem humana passou a ser observada e avaliada “em si mesma e por si mes-
ma”, desvinculada de outros interesses. A novidade das pesquisas sobre linguagem 
17
no século XIX, quando comparada a estudos anteriores, estava centrada no esta-
belecimento do chamado método comparativo que, segundo Weedwood (2002, p. 
103), consistia em uma série de princípios que permitiam que línguas particulares 
fossem sistematicamente comparadas. Nessa comparação sopesava aspectos dos sis-
temas fonéticos dessas línguas, suas estruturas gramaticais e seus vocabulários e o 
intuito era o de “demonstrar que eram [as línguas] ‘genealogicamente’ aparentadas” 
( WEEDWOOD, 2002, p. 103). Supunha-se, nesse sentido, que línguas particulares 
como o latim, o grego, o germânico e o persa poderiam ser comparadas e, dessa 
comparação, chegaríamos à descoberta de uma língua mais antiga, da qual aquelas 
teriam procedido. 
Os estudos sobre a linguagem humana, nesse período, fixavam-se, pois, quase que 
exclusivamente na face histórica das línguas: tinham a história como perspectiva funda-
mental e apostavam no entendimento da evolução das formas linguísticas, por meio 
da reconstituição, feita por comparações e inferências, da origem de cada uma delas. 
Faraco (2004) afirma que a Linguística comparativa e histórica foi inaugurada por 
Bopp, em seus trabalhos sobre o sistema de conjugação da língua sânscrita em com-
paração com a língua grega, latina, persa e germânica, mas foi sistematizada, de fato, 
pelos chamados neogramáticos – grupo de linguistas da Universidade de Leipzig (Ale-
manha) que, nos anos finais do século XIX, passaram a questionar os pressupostos 
tradicionais da prática histórico-comparativa e estabeleceram orientações metodoló-
gicas e postulados teóricos diferentes para o estudo da mudança linguística. Para uma 
reflexão mais detalhada sobre esse período, conferir capítulo Panorama dos estudos 
linguísticos, neste volume. 
O reconhecimento do período de pesquisas históricas e comparativas como o pri-
meiro paradigma real da Linguística está estreitamente ligado à constatação de que, 
nesse período, era possível distinguir um objeto – as línguas historicamente constituí-
das –, um objetivo – a necessidade de estabelecer correlações sistemáticas que apon-
tassem para uma origem comum entre as línguas – e, por fim, um método – a com-
paração de dados linguísticos – que permitiam avaliar esses estudos como científicos. 
Convém destacar que a apresentação que fizemos pode levar o leitor a concluir 
que, durante o século XIX, havia certa homogeneidade entre os estudos sobre a lingua-
gem humana, ou seja, que os estudiosos seguiam basicamente, os mesmos princípios. 
Essa conclusão, talvez autorizada pelo recorte que vimos realizando, está, entretanto, 
bastante distante da realidade. Nesse período da história da Linguística, assim como 
em outros momentos subsequentes, havia discordâncias entre os estudiosos sobre a 
constituição de seu objeto de estudo – discordâncias que, evidentemente, tinham efei-
tos nos objetivos traçados e na metodologia empregada. Essas discordâncias, se não 
A ciência linguística: 
objeto, objetivos 
e métodos
A CIÊNCIA LINGUÍSTICA: 
CONCEITOS BÁSICOS
18
implicaram a constituição de “objetos” radicalmente diferentes, deram a esse “objeto” 
um caráter complexo1.
A delimitação de um objeto para a Linguística: as contribuições de 
Saussure 
[ ] Saussure é em primeiro lugar e sempre o homem dos fundamentos. Vai 
por instinto aos caracteres primordiais, que governam a diversidade dos dados 
empíricos. Naquilo que pertence à língua, pressente certas propriedades que 
não se encontram em nenhum outro lugar a não ser aí. Com o que quer que a 
comparemos a língua aparece sempre como diferente. Mas em que é diferente? 
Considerando essa atividade, a linguagem, na qual tanto fatores estão associa-
dos [...] ele se pergunta: a qual deles pertence a língua? (BENVENISTE, 1995, 
p. 35).
Embora reconhecendo que a Linguística, instituída como disciplina científica, teve 
suas origens no decurso do século XIX, por meio dos estudos comparativos e históri-
cos, não podemos ignorar a radical alteridade da proposta de Saussure relativamente 
aos estudos linguísticos feitos até a sua época – mesmo se considerarmos que ele 
nada mais fez do que sintetizar e dar corpo a uma série de intuições já presentes nos 
estudos sobre a linguagem feitos por seus pares e antecessores. O modo como con-
cebeu e idealizou o objeto de estudos da Linguística, definiu certos objetivos e, de 
certa maneira, determinou formas de abordagem do fenômeno linguístico, contribuiu 
para a construção de uma ciência sincrônica e imanente da linguagem ou, em outras 
palavras, por meio de suas propostas “[...] não houve mais razões para não se construir 
uma ciência autônoma a tratar exclusivamente da linguagem [...] e sob o pressuposto 
da separação estrita entre a perspectiva histórica e não-histórica” (FARACO, 2004, p. 
28). Quais foram, então, as contribuições de Saussure? 
Já destacamos anteriormente que Saussure considerava que a linguagem huma-
na era multiforme e heteróclita; cavaleiro de diferentes domínios. Para além dessa 
característica fundamental, do ponto de vista saussuriano ela seria, também, a facul-
dade, própria do ser humano, de produzir sentidos, de “comunicar-se”. Designaria, 
então, todas as formas de comunicação (verbais e não verbais) e teria uma abrangência 
universal, pois envolveria vários domínios: seria ao mesmo tempo física, fisiológica e 
1 Existe uma farta bibliografia que apresenta e discute esse período da Linguística Histórico-
-Comparativa. Recomendamos a leitura dos seguintes textos introdutórios: BORBA, F. S. Breve 
história da Linguística. In: _____. Introdução aos estudos linguísticos. Campinas, SP: Pontes, 
1998. p. 301-317; FARACO, C. A. Estudos pré-saussurianos. In: BENTES, A.; MUSSALIN, 
F. (Org.) Introdução à Linguística: fundamentos epistemológicos. São Paulo: Cortez, 2004, p. 
27-52; WEEDWOOD, B. História concisa da Linguística. São Paulo: Parábola, 2002. 
19
psíquica, pertencendo concomitantemente ao domínio individual e social. 
Por ser heteróclita e multifacetada, a linguagem, segundo Saussure, não poderia 
ser transformada em objeto de estudos de uma ciência,nem mesmo ser apreendida 
como uma unidade. Assim, para que se pudesse estudar a linguagem humana seria 
preciso, segundo o autor, colocar-se no terreno da língua (langue), uma vez que ape-
nas a língua (langue) seria suscetível de uma definição autônoma justamente por cons-
tituir um objeto bem definido no conjunto heteróclito dos fatos da linguagem. Assim, 
Saussure retira do todo da linguagem a língua (langue), definida em seus termos como 
um sistema de signos, e a elege como o objeto precípuo da Linguística. 
Para Saussure, a língua seria, então, um sistema de valores cujos elementos só 
podem ser determinados em razão de suas relações com outros elementos do mesmo 
sistema e por suas funções no interior desse sistema. Os conceitos de sistema, de 
relação, de valor e de funcionalidade – como veremos, mais adiante, no Capítulo in-
titulado A visão saussuriana de linguagem – são fundamentais para compreendermos 
seus postulados e sua particular forma de conceber o modo como a Linguística deveria 
delimitar-se e definir-se a si própria (SAUSSURE, 1971, p. 13). 
A partir do conceito de língua supramencionado, Saussure forja um ponto de vista 
nitidamente sincrônico sobre o fenômeno linguístico, em oposição ao ponto de vista 
histórico que prevalecia até então. Nessa abordagem sincrônica, um determinado es-
tado de uma língua é isolado de suas mudanças através do tempo e passa a ser exami-
nado como um sistema homogêneo, que possui uma ordem própria, completamente 
independente daquilo que, nesta perspectiva, lhe é exterior. 
É necessário notar que a língua saussuriana – esse conjunto de elementos que se 
relacionam organizadamente dentro de um todo – é também concebida como a parte 
social da linguagem, produto do trabalho coletivo do homem, instrumento psíquico cria-
do e fornecido pela coletividade, exterior aos indivíduos falantes – que, portanto, não 
podem modificá-la. A língua, tal como delineada no projeto saussuriano, obedeceria a 
leis de um contrato social estabelecido pelos membros da comunidade; seria, assim, 
um tesouro depositado pela prática da fala em todos os indivíduos pertencen-
tes a mesma comunidade, um sistema gramatical que existe virtualmente em 
cada cérebro ou, mais exatamente, nos cérebros dum conjunto de indivíduos, 
pois a língua não está completa em nenhum, só em massa ela existe de modo 
completo (SAUSSURE, 1971, p. 21).
Esse conceito de língua opõe-se, por sua vez, a uma espécie de resíduo da pro-
posta saussuriana: ao conceito de fala (parole). Ao definir a língua tal como exposto 
nas linhas anteriores, Saussure deixa em segundo plano as manifestações individuais 
de nossa capacidade linguística, ou, ainda, abdica do ato individual de vontade e 
A ciência linguística: 
objeto, objetivos 
e métodos
A CIÊNCIA LINGUÍSTICA: 
CONCEITOS BÁSICOS
20
inteligência, no qual os falantes colocariam em uso o sistema da língua com o pro-
pósito de exprimir seu pensamento pessoal, bem como de todo o mecanismo psico-
físico que permite aos falantes exteriorizarem as combinações permitidas pela língua 
(SAUSSURE, 1971, p. 22).
Na proposta saussuriana, língua e fala, apesar de metodologicamente disjuntas, 
estão estreitamente ligadas e se implicam mutuamente: “a língua é necessária para que 
a fala seja inteligível e produza todos os seus efeitos; mas esta é [também] necessária 
para que a língua se estabeleça” (SAUSSSURE, 1971, p. 27). Existe, pois, uma interde-
pendência entre língua e fala: é, por exemplo, “ouvindo o outro que aprendemos a lín-
gua materna; ela se deposita em nosso cérebro somente após inúmeras experiências” 
(SAUSSURE, 1971, p. 27), embora, para efeitos de estudo, a fala esteja numa posição 
muito diferente da língua: sua natureza acessória e acidental não permitiria alçá-la a 
objeto de estudo da Linguística. 
Assim, podemos dizer que, para Saussure, a tarefa do linguista deveria ser a de es-
tudar e descrever a realidade linguística em seus elementos formais próprios, a partir 
de uma sincronia. O foco é, pois, a realidade intrínseca da língua, como ela funciona 
ou, ainda, como seus elementos constitutivos, independentemente de qualquer fator 
exterior, relacionam-se entre si – e apenas entre si. 
Ao conceber as relações entre linguagem, língua e fala – e, consequentemente, 
a própria caracterização do fenômeno linguístico – e ao estabelecer as tarefas fun-
damentais da Linguística da maneira como vimos expondo até aqui, Saussure fez, 
portanto, escolhas e renúncias – como a escolha da língua e a renúncia da fala e da 
linguagem como objeto de estudo; a escolha de um ponto de vista eminentemente 
sincrônico e a renúncia de uma abordagem diacrônica (histórica) do fenômeno lin-
guístico, dentre outras escolhas e renúncias que serão abordadas posteriormente. 
Veremos, em capítulos ulteriores, que muito do desenvolvimento contemporâneo da 
ciência Linguística deve-se justamente à crítica às escolhas saussurianas e ao investi-
mento em suas renúncias. 
Convém salientar que as ideias de Saussure encontraram terreno fértil entre mui-
tos estudiosos e, em certo sentido, foram responsáveis, direta ou indiretamente, pela 
constituição de um campo bastante heterogêneo de pesquisas tradicionalmente cha-
mado de Estruturalismo. Neste campo heterogêneo de saber, conjugaram-se nume-
rosos estudos sobre a estrutura e funcionamento da linguagem humana. Em geral, a 
literatura especializada reconhece a existência de duas grandes correntes: o chamado 
Estruturalismo Europeu – que mais diretamente desenvolveu os pressupostos teóri-
co-metodológicos alinhavados no projeto saussuriano – e o chamado Estruturalis-
mo Americano – desenvolvido nos Estados Unidos, no período de 1920 a 1950, cuja 
21
referência principal é Leonard Bloomfield. Para uma reflexão pormenorizada sobre as 
diferentes propostas estruturalistas, conferir o Capítulo Panorama dos estudos lin-
guísticos, neste volume2. 
Podemos dizer que, de certa forma, o que uniu esse campo heterogêneo de pes-
quisa foi a proposta, diversamente levada a efeito, de estudar a estrutura e o fun-
cionamento da língua, entendida sempre como um sistema autônomo e homogêneo 
– subjacente a e determinante das manifestações individuais –, cujas propriedades e 
regularidades eram possíveis de ser apreendidas por meio de procedimentos descri-
tivos de descoberta. É possível afirmar, também, que os estruturalistas, cada um a sua 
maneira, romperam de forma definitiva com o paradigma histórico e comparatista do 
século XIX, principalmente porque projetaram um olhar exclusivamente descritivo e 
sincrônico sobre a linguagem humana. 
Em síntese: a Linguística, tal como idealizada por Saussure e, depois, desenvolvida, 
embora de formas às vezes bastante diferentes, pelos chamados estruturalistas, tinha 
como objeto a língua – entendida como um sistema formal e abstrato de signos lin-
guísticos; seu objetivo era a depreensão da estrutura das línguas ou, ainda, a descrição 
da funcionalidade do sistema linguístico; e o método, por sua vez, era predominante-
mente descritivo. 
As contribuições do paradigma gerativista
Podemos dizer que, de certa forma, foi como uma reação ao chamado estrutura-
lismo que surgiu, na década de 50, nos Estados Unidos, um movimento de estudos 
da linguagem, encabeçado pelo linguista Noam Chomsky – professor de Linguística 
do Massachusetts Institute of Technology –, que propunha outra forma de conceber 
o objeto de estudos da Linguística e, correlativamente, passou a estabelecer outros 
objetivos e métodos. Nesse sentido, a chamada Gramática Gerativa (doravante GG) é 
entendida como outro paradigma científico no âmbito da ciência Linguística.
Em geral, costuma-se considerar que o marco histórico da GG é a publicação, em 
1957, de Syntactic Struture, livro no qual Chomsky desenvolve o conceito de gramá-
tica gerativa, conceito marcadamente distante da ideia de língua que era desenvolvi-
da no âmbito do chamado estruturalismoamericano. Segundo Borges Neto (2004), 
em Syntactic Struture, a preocupação principal de Chomsky estava voltada para a 
2 Para um aprofundamento da discussão sobre as contribuições de Saussure e dos estruturalistas, 
recomendamos, também, a leitura de: SAUSSURE, F. Curso de Linguística geral. São Paulo: 
Cultrix, 1971; ILARI, R. O estruturalismo linguístico: alguns caminhos. In: BENTES, A.; 
MUSSALIN F. (Org.) Introdução à Linguística: fundamentos epistemológicos. São Paulo: 
Cortez, 2004. p. 53-92. 
A ciência linguística: 
objeto, objetivos 
e métodos
A CIÊNCIA LINGUÍSTICA: 
CONCEITOS BÁSICOS
22
necessidade de se supor a existência de algo anterior à língua tal como entendida pelos 
estruturalistas: a capacidade que os falantes têm de produzir exatamente os enuncia-
dos que podem ser produzidos em uma língua. Ou ainda, da perspectiva chomskyana, 
os falantes de uma língua possuem “um conhecimento partilhado sobre os enuncia-
dos que podem e não podem ser produzidos, e é justamente esse conhecimento que 
precisa ser descrito e explicado pela teoria linguística” (BORGES NETO, 2004, p. 99).
O principal argumento para a defesa desse conhecimento partilhado está centrado 
na noção de criatividade linguística. Para Chomsky, os falantes de uma língua detêm 
a habilidade de produzir sentenças as quais nunca foram expostos, habilidade que de-
notaria que os falantes possuem um conhecimento que está muito além daquele que 
é possível adquirir por meio do contato com dados da experiência. Assim, para ele.
A linguagem humana se baseia numa propriedade elementar que também 
parece ser uma propriedade biologicamente isolada: a propriedade da infi-
nidade discreta, manifestada da forma mais pura pelos números naturais 1, 
2, 3,... As crianças não aprendem essa propriedade do sistema numeral. A 
menos que a mente já possua os princípios básicos, nenhuma quantidade de 
evidências poderia fornecê-lo; [...] Do mesmo modo, nenhuma criança tem 
de aprender que há sentenças de três palavras e sentenças de quatro palavras, 
mas não sentenças de três palavras e meia, e que é sempre possível construir 
uma mais complexa, com uma forma e significados definidos. Tal conheci-
mento tem que nos chegar pela ‘mão original da natureza’ (the original hand 
of nature), segundo expressão de David Hume, como parte do nosso dote 
biológico (CHOMSKY, 1998, p. 18).
É possível observar que o argumento de Chomsky – e, também, dos estudiosos que 
assumiram a sua proposta de que haveria um conhecimento partilhado, de natureza 
universal, biológica e, portanto, inata, que precederia a nossa capacidade de produzir 
as sentenças de uma língua – fundamenta-se também na complexidade que envolve 
a aquisição de língua. Para ele, no processo de aquisição de língua, as crianças têm 
acesso a dados linguísticos parciais, limitados e pobres, uma vez que elas são expostas 
normalmente a uma fala precária, fragmentada, cheia de frases truncadas, altamente 
ambíguas ou incompletas. Entretanto, ainda assim, levam um tempo relativamente 
curto para adquirir sua língua materna (mais ou menos de 18 a 24 meses) e o conheci-
mento que adquirem sobre ela é altamente complexo e sofisticado. 
Tal paradoxo (o Dilema de Platão!) só poderia ser explicado, do ponto de vista 
de Chomsky, se supormos que as crianças possuem, como parte de uma herança ge-
nética, um conhecimento linguístico que permita especificar a forma da gramática de 
uma língua humana possível e que, ao mesmo tempo, possibilite às crianças supera-
rem a qualidade inferior dos dados linguísticos aos quais elas são expostas (DASCAL; 
BORGES NETO, 1991, p. 39).
23
Na proposta chomskyana, o pressuposto é, então, o de que grande parte do co-
nhecimento linguístico que os falantes demonstram possuir é interna à mente/cérebro 
humanos. Chomsky conclui, a partir desse pressuposto, que um estudo apropriado 
da linguagem humana precisa tratar de seu construto mental. Assume, então, a tarefa 
de descrever esse conhecimento implícito dos falantes, ou ainda, as propriedades e os 
princípios do estado inicial da faculdade de linguagem e, para tanto, busca construir 
um aparato formal, a chamada gramática gerativa (ou gramática universal). Essa 
gramática deveria ser capaz de gerar “regras de boa-formação de uma língua qualquer 
L e de relacionar esse aparato formal a algum conjunto de princípios gerais (que deter-
minem o que pode valer como ‘gramática gerativa’ para as línguas em geral)” (BORGES 
NETO, 2004, p. 100-101).
Nesse empreendimento, a Linguística, tal como idealizada por Chomsky, tem como 
desafio mostrar que todas as línguas são variações de um mesmo tema e, ao mesmo 
tempo, registrar as propriedades de cada uma das línguas particulares (CHOMSKY, 1998, 
p. 24). Precisa, pois, dar uma explicação satisfatória para as propriedades da língua, le-
vando em consideração o que o falante da língua sabe. Analogamente, tem que mostrar 
que cada língua particular é a manifestação específica do estado inicial uniforme.
Vê-se, nas linhas precedentes, que Chomsky adota uma visão inatista da linguagem 
e a coloca num domínio cognitivo e biológico; passa a considerar que o linguista deve 
se preocupar em descrever e, sobretudo, explicar esse componente inato que vai carac-
terizar a competência linguística dos indivíduos: sua gramática gerativa. A ação dos 
indivíduos particulares – ou, ainda, o uso concreto que eles fazem da linguagem em 
situações concretas – não é posta em causa. Para o quadro da teoria gerativa, as ações 
individuais colocariam em jogo variáveis de natureza social e psicológica que seriam in-
dependentes do conhecimento gramatical da língua. Em outras palavras, as expressões 
linguísticas (sua estrutura, sua organização e seu conteúdo) pronunciadas em condi-
ções naturais seriam “determinada [s] por uma combinação muitas vezes complexa de 
fatores que têm apenas parcialmente a ver com a competência” (RAPOSO, 1992, p. 31). 
Assim, de forma semelhante ao que ocorreu na proposta saussuriana, os atos indivi-
duais de linguagem (o desempenho ou a performance, na ótica da GG) se tornam um 
resíduo da teoria. A teoria gerativa, em seu empenho em estudar a gramática gerativa 
– e, consequentemente a competência linguística dos falantes – faz uma abstração 
dos diversos fatores em jogo nos atos de fala concretos. Nesse sentido, impõe-se a 
consideração de “um falante-ouvinte ideal, situado em uma comunidade linguística 
completamente homogênea” (RAPOSO, 1992, p. 33).
A teoria gerativa, entretanto, diverge fundamentalmente da proposta saussuriana e 
das propostas estruturalistas que a precederam. Tal divergência não se reduz à maneira 
A ciência linguística: 
objeto, objetivos 
e métodos
A CIÊNCIA LINGUÍSTICA: 
CONCEITOS BÁSICOS
24
particular como, na GG, são definidos os objetivos e o objeto da Linguística. Também 
em termos metodológicos, as duas propostas são diferentes. Enquanto as teorias es-
truturalistas eram, em geral, explicitamente descritivas, a GG se pretendia explicativa, 
no sentido de que os fenômenos deviam ser deduzidos de um conjunto de princípios 
gerais. Assim, a preocupação não é mais, como no estruturalismo, a de “descrever os 
dados que se revelam à percepção dos linguistas, mas trata-se de encontrar princípios 
gerais a partir dos quais as descrições dos dados observáveis possam ser logicamente 
derivadas” (BORGES NETO, 2004, p. 100).
Convém destacar que, segundo Borges Neto (2004), o programa de investigação da 
GG define que a tarefa fundamental do linguista é “a criação de sistemas computacio-
nais que sirvam de modelo para o conhecimento linguístico dos falantes/ouvintes de 
uma língua” (p. 97). Borges Neto afirma também que a pretensão da GG é a de cons-
truir “um mecanismo computacional capaz de formar e transformar representações, 
que ‘simule’ o conhecimento linguístico de um falante de uma língua natural, regis-
trado em sua mente/cérebro” (2004, p. 97). Para o autor, podemosassim sintetizar as 
diferentes propostas gerativistas:
 
A história da GG conhece três grandes “estratégias” na delimitação do conhe-
cimento sobre a língua presente na mente/cérebro dos falantes. Num primeiro 
momento (Teoria de SS [Syntactic Struture]), a gramática deveria gerar direta-
mente as sentenças da língua (em suas formas superficiais). [...]. No segundo 
momento (Teoria-padrão), a gramática passa a gerar objetos abstratos que são 
interpretados nas sentenças da língua (na sua forma fonética e no seu significa-
do), ou seja, o conjunto de objetos abstratos gerados pela gramática é projeta-
do na língua, descrevendo-a enquanto um conjunto de significantes possíveis 
relacionados a um conjunto de significados possíveis [...]. Aqui, a noção de gra-
mática gerativa sofre uma pequena modificação com relação ao sentido anterior 
[...]. Permanece, no entanto, o compromisso com a noção de língua, uma vez 
que a gramática vai gerar tantos objetos abstratos quantas forem as sentenças 
da língua e nenhum a mais. [...]. No terceiro momento (P&P [Princípios e Pa-
râmetros]), a gramática gera objetos abstratos que explicitam as propriedades 
que os falantes levam em consideração no momento de emitir juízos de gra-
maticalidade sobre objetos linguísticos. As sentenças de uma língua qualquer 
constituem apenas um subconjunto desse conjunto de objetos linguísticos e, 
portanto, em nenhum momento, e sob nenhum critério, é possível dizer que 
a gramática gera as sentenças da língua – no máximo, é possível dizer que a 
gramática permite (licencia), entre outras coisas, as sentenças de uma língua 
dada (BORGES NETO, 2004, p. 124-125).
Embora a configuração do sistema computacional tenha sido alterada ao longo do 
desenvolvimento da teoria – como é razoável supor pela síntese feita por Borges Neto 
–, seus axiomas fundadores, sobre os quais tratamos anteriormente, permaneceram (e 
25
ainda permanecem!) constantes3. 
A título de síntese, podemos afirmar, então, que a Linguística, tal como idealizada 
por Chomsky e desenvolvida por seus inúmeros seguidores, tinha (e tem) como objeto 
a gramática gerativa – entendida como um sistema formal de regras, depositada na 
mente/cérebro de um falante/ouvinte ideal, um objeto, nesse sentido, psicológico; seu 
objetivo tem sido o de descrever e, principalmente, explicar a estrutura supostamente 
sintática dessa gramática gerativa (ou universal); o método, por sua vez, é predomi-
nantemente indutivo explicativo – procura-se mostrar como o fenômeno linguístico 
deriva de leis gerais, situadas a um nível mais profundo: a mente humana. 
Alguns caminhos da linguística contemporânea
As perspectivas teóricas exemplificadas nas duas últimas seções pelos trabalhos 
fundadores de Saussure e Chomsky, de cunho essencialmente formalista, optaram, 
metodologicamente, pela descrição de um sistema de signos, no caso de Saussure, 
e pela explicação de uma gramática gerativa, no caso de Chomsky. Ambas as pers-
pectivas, embora reconhecendo a heterogeneidade e a complexidade do fenômeno 
linguístico, optaram por excluir, do âmbito da pesquisa Linguística o uso, o sujeito 
falante, o contexto, a história. Fizeram isso, na crença de que o uso, o sujeito falante, 
o contexto, a história seriam regulados por um sistema homogêneo (Saussure) ou por 
uma gramática gerativa (Chomsky). 
Atualmente, algumas pesquisas e pesquisadores estão justamente construindo seus 
objetos de estudo e estabelecendo seus objetivos e métodos através da crítica às ex-
clusões e às renúncias da chamada Linguística Formal – aqui representada pelas con-
tribuições de Saussure e de Chomsky. Dentre elas, podemos citar, a título apenas de 
exemplificação e correndo o risco de uma simplificação excessiva, as seguintes: (a) a 
Pragmática, disciplina que considera o ato de fala como uma ação que se faz ao dizer, 
e, assim, traz para a análise da língua os atos que se fazem com a linguagem, passando 
a considerar que o sentido de um enunciado não está circunscrito às palavras, mas de-
pende das pessoas, das circunstâncias, das intenções dos falantes; (b) a Sociolinguís-
tica, campo do saber que estabelece para si a tarefa de lidar com a heterogeneidade 
muitas vezes conflitante das línguas naturais, considerando-as como profundamente 
afetadas pelo espaço, pelo tempo, pelos indivíduos e pelos grupos; (c) a chamada, 
genericamente, Teoria da Enunciação, que traz para a análise dos enunciados as mar-
cas linguísticas do sujeito que enuncia e, nesse sentido, coloca em foco a existência 
3 Para maiores informações sobre a proposta gerativista, cf. capítulo seguinte: Panorama dos 
estudos linguísticos. 
A ciência linguística: 
objeto, objetivos 
e métodos
A CIÊNCIA LINGUÍSTICA: 
CONCEITOS BÁSICOS
26
de certos fatos que impedem que consideremos a língua como um sistema imanente, 
ou melhor, chama a atenção para pontos específicos – o sistema de pronomes, os 
indicadores da dêixis, a forma de expressão da temporalidade nas línguas – em que é 
possível detectar a presença inequívoca do homem na língua4. 
Certamente, as disciplinas que nos serviram de exemplo no parágrafo anterior es-
tão longe de comporem espaços homogêneos de constituição do saber; na verdade, 
seria mais correto falarmos em pragmáticas, sociolinguísticas e teorias da enuncia-
ção, dada a heterogeneidade que caracteriza e funda esses campos do saber. Bem 
longe de objetos delimitados uniformemente, objetivos e métodos traçados de forma 
unívoca, deparamo-nos com o conflito e embate de posições. 
Tanto do ponto de vista da pluralidade de espaços de saber voltados para o estudo 
da linguagem humana, quanto do ponto de vista da pluralidade que constitui esses 
próprios campos, não podemos afirmar que, atualmente, a Linguística tenha um ob-
jeto de estudo consensual. Em outras palavras, não há concordância sobre qual seja 
a Linguística Atual. A esse respeito, Maingueneau (2008, p. 160) afirma o seguinte: 
Aqueles que estão situados fora do campo linguístico evocam ‘a’ Linguística 
como uma disciplina que acreditam ser homogênea. Ao contrário, aqueles que 
se definem como linguistas experimentam a maior dificuldade em dominar a 
unidade de seu próprio campo, tal disparidade que nele percebem. 
Segundo Maingueneau (1989), muitos espaços de saber que, para alguns, cons-
tituiriam o campo legítimo de uma Linguística que teria alargado o domínio de seus 
conhecimentos são tidos, por outros, como um espaço exterior à Linguística. Deste 
ponto de vista, portanto, haveria um centro e/ou interior (a Linguística da língua ou 
da competência) e uma periferia e/ou exterior que se ocuparia da fala saussuriana 
ou do desempenho chomskyano. Maingueneau (1989) argumenta, entretanto, que as 
discussões sobre a tentativa de oposição centro X periferia são estéreas, na medida em 
que é justamente a oposição entre o que é interno/externo à chamada “língua” que é, 
muitas vezes, colocado em xeque. 
Para finalizar as discussões propostas para este Capítulo, consideramos necessário 
fazer uma reflexão concisa a respeito daquilo que, certamente, a Linguística não é. Essa 
é a temática que norteará as reflexões na seção subsequente. 
4 O esboço feito aqui será retomado em capítulo posterior intitulado Panorama dos estudos 
linguísticos.
27
Considerações finais: algumas palavras sobre aquilo que a Linguística não é:
A matéria da Linguística é constituída inicialmente por todas as manifestações 
da linguagem humana, quer se trate de povos selvagens ou de nações civiliza-
das, de épocas arcaicas, clássicas ou de decadência, considerando-se em cada 
período não só a linguagem correta e a ‘bela linguagem’, mas todas as formas 
de expressão (SAUSSURE, 1971, p. 13).
Na grande maioria das vezes, é na escola de ensino fundamental e médio que entra-
mos em contato com o conhecimento teórico sobre a linguagem humana e, em especial, 
sobre a nossa língua materna. Esse conhecimento chega até nós por meio dos estudos 
quefazemos nas chamadas aulas de Língua Portuguesa ou, simplesmente, de Português. 
Infelizmente, ainda hoje – e apesar do desenvolvimento de inúmeras pesquisas 
sobre o funcionamento e a organização das línguas em geral e do português brasileiro 
em particular –, as aulas de Língua Portuguesa são quase que exclusivamente guiadas 
por uma visão normativa/prescritiva da língua(gem). Essa visão é difundida por meio 
da chamada Gramática Tradicional (doravante GT)5, que constitui a base epistemoló-
gica sobre a qual, por exemplo, é elaborada a maioria dos livros e materiais didáticos 
disponíveis no mercado brasileiro.
A GT tem como preocupação principal assegurar a conservação de certos usos das 
línguas. Para Petter (2002, p. 19, grifos da autora), “A tarefa do gramático se desdobra 
em dizer o que é a língua, descrevê-la e privilegiar alguns usos, dizer como deve ser a 
língua.” Do ponto de vista de Petter (2002), a conjunção de uma perspectiva descritiva 
e de uma perspectiva normativa, levada a cabo pela GT, reduz o objeto de análise (a 
língua portuguesa, em nosso caso), inerentemente heterogêneo, a apenas uma de suas 
manifestações: a do uso considerado correto da língua (PETTER, 2002, p. 19), deixan-
do de lado suas outras diversas – e muitas vezes divergentes! – formas de expressão. 
Esse modo de conceber e de lidar com a língua(gem) acaba levando ao equívoco de 
que existiriam apenas alguns usos da língua que poderiam ser tidos como corretos e 
ao desconhecimento da variação intrínseca das línguas naturais. Ou seja, a percepção 
que, em geral, desenvolvemos na escola sobre o funcionamento de nossa língua ma-
terna não engloba a ideia de diversidade linguística. 
Existe um nítido desacordo entre o ponto de vista normativo/prescritivo que norteia 
e norteou a construção de gramáticas das línguas – que, de forma concisa, apresenta-
mos acima – e o ponto de vista assumidamente descritivo/explicativo da Linguística, na 
5 Para uma discussão mais detalhada a respeito da gramática tradicional, cf. os trabalhos de 
Marcos Bagno, especialmente, Bagno (1999, 2001, 2003).
A ciência linguística: 
objeto, objetivos 
e métodos
A CIÊNCIA LINGUÍSTICA: 
CONCEITOS BÁSICOS
28
abordagem que essa última faz dos fatos da linguagem humana – ponto de vista que 
pode ser observado, por exemplo, na citação em epígrafe. 
Independentemente da linha teórica assumida pelo linguista, sua preocupação es-
tará voltada para todas as formas de manifestações linguísticas. O interesse é sempre 
o de descrever e explicar os fatos linguísticos, sem, no entanto, atribuir-lhes juízo de 
valor. Analisemos os exemplos abaixo, com o intuito de tornar as afirmações que vimos 
fazendo mais precisas.
01) Eu gosto de comida mexicana.
02) Tu gostas de comida mexicana.
03) Você gosta de comida mexicana.
04) Ele gosta de comida mexicana.
05) Nós gostamos de comida mexicana.
06) A gente gosta de comida mexicana.
07) Nós gosta de comida mexicana.
08) Vós gostais de comida mexicana.
09) Vocês gostam de comida mexicana.
10) Vocês gosta de comida mexicana.
11) Eles gostam de comida mexicana.
12) Eles gosta de comida mexicana.
Certamente, uma avaliação baseada em preceitos da GT nos levaria a avaliar os 
exemplos em 1, 2, 3, 4, 5, 6, 8, 9 e 11 como “corretos”. A percepção inversa ocorreria 
com os exemplos 7, 10 e 12. Além disso, poderíamos, seguindo esses mesmos precei-
tos, ficar em dúvida com relação aos exemplos 3, 6 e 9: será que eles estariam mesmo 
“corretos”? A avaliação, a percepção e a dúvida que anunciamos estão estreitamente 
vinculadas ao que aprendemos na escola, durante anos, sobre o funcionamento do 
paradigma verbal do português. 
Por meio dos preceitos da GT, aprendemos que o paradigma verbal do português 
brasileiro é constituído por seis formas, ligadas às pessoas gramaticais ou, de forma mais 
ou menos correlativa, aprendemos que os verbos devem ser conjugados da seguinte ma-
neira: eu gosto, tu gostas, ele gosta, nós gostamos, vós gostais, eles gostam – trataremos, 
aqui, apenas das formas do presente do indicativo. Entretanto, essa descrição não cor-
responde, de fato, com o que observamos em nossas atividades diárias com a linguagem. 
Nelas, podemos observar que o paradigma verbal do português brasileiro falado é 
bastante heterogêneo6. Sem entrar na instigante discussão sobre os fatores que desen-
6 Não tematizaremos, aqui, a importante discussão sobre as diferenças entre os modos de enun-
ciação falados e escritos da linguagem. Convém destacar, entretanto, que, como veremos mais 
adiante, a GT baseia suas descrições e prescrições na idealização de formas linguísticas mais 
diretamente ligadas a um padrão escrito. Essas descrições e prescrições, no entanto, pretendem-
-se válidas para qualquer forma de manifestação linguística: falada ou escrita. Ao contrário, as 
pesquisas em Linguística não deixam de reconhecer que algumas formas linguísticas são mais 
comuns às nossas enunciações escritas do que às enunciações faladas e vice-versa. 
29
cadeiam essa heterogeneidade, é possível afirmar que algumas manifestações do por-
tuguês brasileiro envolvem a simplificação das conjugações verbais ocasionada, dentre 
outros fatos, por mudanças no quadro dos chamados pronomes pessoais. Vejamos, o 
mais sinteticamente possível, como isso ocorre7. 
As formas tu gostas e vós gostais são hoje já bastante incomuns na grande maioria 
das variedades linguísticas faladas no Brasil. Nessas variedades, o tu tem sido majo-
ritariamente substituído por você – antiga forma de tratamento que passou por pro-
cessos de gramaticalização, tornando-se um pronome –, substituição que promoveu 
mudanças diretas na morfologia verbal, com o apagamento de desinência de segunda 
pessoa e o consequente alinhamento da segunda e terceira pessoas do singular: tu 
gostas/ele gosta passaram a tu ou você gosta/ele gosta. A forma vós gostais, por sua 
vez, praticamente não é mais usada no português brasileiro, tendo sido substituída, na 
maioria das variedades, pela forma vocês gostam. Novamente, observamos mudanças 
na morfologia verbal, com o apagamento de desinência de segunda pessoa plural e o 
consequente alinhamento da segunda e terceira pessoas do plural: vós gostais/eles 
gostam passaram a vocês gostam/eles gostam. A constatação dessas mudanças nos 
leva a afirma que, em geral, as gramáticas normativas – que se fundamentam nos 
preceitos da GT – prescrevem certas formas linguísticas como “corretas” que já não são 
mais usadas pela maioria da população brasileira. 
Algo diametralmente oposto ocorre com os exemplos 7, 10 e 12. Essas formas lin-
guísticas são usadas por uma grande parcela da população brasileira, mas totalmente 
ignoradas e condenadas pelas gramáticas normativas, livros didáticos, etc. Essas formas 
sofrem o mesmo tipo de processo que apontamos para as formas de segunda e terceira 
pessoas do singular e do plural: alinhamento de pessoas gramaticais e consequente 
apagamento das desinências verbais. Nesse outro padrão de conjugação, em seu pro-
cesso mais radical, configura-se da seguinte forma: é mantida apenas a oposição entre 
a primeira pessoa e as restantes. 
Assim, um quadro mais “real” do funcionamento do paradigma verbal do português 
brasileiro, feito sem apreciação valorativa – e, sobretudo, sem preconceito –, deveria 
incorporar essas formas em conflito, tal como tentamos fazer no quadro seguinte:
7 Para uma discussão detalhada sobre a mudança no paradigma verbal do Português brasilei-
ro, bem como sobre os fatos que a determinam, cf. o texto de Dante Lucchesi Parâmetros 
sociolinguísticos do português brasileiro (Disponível em: <http://www.abralin.org/revista/
RV5N1_2/RV5N1_2_art4.pdf>. Acesso em: 7 set. 2009). 
A ciência linguística: 
objeto, objetivos 
e métodos
A CIÊNCIA LINGUÍSTICA: 
CONCEITOS BÁSICOS
30
Norma padrão Normas “reais”
eu gosto
tu gostas
ele gosta
nós gostamos
vós gostais
eles gostam.
eu gosto
tu ou você gosta
elegosta
nós gostamos/nós gostamo/nós gosta/a gente gosta
vocês gostam/ vocês gosta
eles gostam/eles gosta.
 
O fato de essas formas em conflito serem ignoradas, por exemplo, pelas gramáti-
cas normativas e materiais didáticos e, consequentemente, não serem alvo de estudo 
nas aulas de Português ocorre porque, quando pensamos em diversidade linguística, 
entram em jogo fatos como a valoração social diferenciada que recai sobre as formas 
linguísticas: “algumas têm muito prestígio social (e constituem aquilo que chamamos 
de norma padrão), enquanto outras são menos prestigiadas e até ridicularizadas e cen-
suradas” (FARACO, 2006, p. 16). No caso que ora analisamos, formas como nós gosta 
e eles gosta não são legitimadas, embora não contenham em si mesmas nada que as 
tornem melhores ou piores que as formas nós gostamos/eles gostam. 
Concordamos com Faraco quando afirma que essa valoração positiva ou negativa 
intervém em nossas atitudes em relação às variedades linguísticas e seus falantes “li-
mitando, pela força dos pré-conceitos, nossa capacidade de julgar com a necessária 
clareza os fatos da língua e a diversidade sociocultural” (FARACO, 2006, p. 16) e, nesse 
sentido, limitando, também, nossas possibilidades de entendermos o real funciona-
mento da linguagem humana em geral e de nossa língua materna em particular. 
Uma última observação: quando, no processo de divulgação científica, o ponto de 
vista descritivo/explicativo que a Linguística adota é lembrado, geralmente provoca 
efeitos não previstos pelos linguistas. Falamos aqui da redução e/ou da simplificação 
da complexa tomada de posição dessa disciplina frente aos dados linguísticos, ou ain-
da, da imagem equivocada que circula no senso comum de que, em Linguística, “tudo 
pode”. De acordo com essa imagem, para os linguistas e para a Linguística, não haveria 
“certo” ou “errado” e todos os usos da linguagem seriam possíveis porque se presta-
riam a uma função primordial: a comunicação! 
Afirmamos que essa imagem é equivocada e simplificadora porque a Linguística (e 
os linguistas) não ignoram que o “erro” é uma realidade para os falantes. Ocorre que 
a Linguística credita, em geral, a noção de erro à existência de complexas relações de 
força e de poder que, por assim dizer, determinam os usos que fazemos da linguagem. 
Assim, como vimos acima, para a Linguística, o julgamento de “certo” ou “errado” para 
uma forma linguística qualquer não está atrelado a nada intrínseco a elas – que, sem os 
31
julgamentos sociais, não são melhores nem piores umas que as outras, são meramente 
equivalentes. Na verdade, o que determina o status de uma expressão linguística qual-
quer está vinculado ao status do falante, do prestígio (ou não) da região em que ele 
mora, etc. Em outras palavras, a valoração ou não de uma forma linguística qualquer 
está associada a fatores de ordem cultural, política e social. 
Voltaremos às discussões sobre as temáticas apenas anunciadas nesta seção em 
capítulo subsequente em que trataremos das relações entre gramática e ensino. 
A ciência linguística: 
objeto, objetivos 
e métodos
BAGNO, M. A norma oculta: língua e poder na sociedade brasileira. São Paulo: 
Parábola, 2003.
 
______. Dramática da língua portuguesa. São Paulo: Loyola, 2001.
______. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1999.
BENVENISTE, E. Problemas de Linguística geral I. São Paulo: Pontes, 1995.
BORBA, F. S. Breve história da Linguística. In: ______. Introdução aos estudos 
linguísticos. Campinas, SP: Pontes/Unicamp, 1998. p. 301-317.
BORGES NETO, J. O empreendimento gerativo. In: BENTES, A.; MUSSALIN, F. (Org.). 
Introdução à Linguística: fundamentos epistemológicos. São Paulo: Cortez, 2004. 
p. 93-129.
CHOMSKY, N. Linguagem e mente. Brasília, DF: Editora da Universidade de Brasília, 
1998.
DASCAL, M.; BORGES NETO, J. De que trata a Linguística, afinal? Historie, 
Épistémologie, Langage, v.13, n. 01, p. 13-50, 1991.
FARACO, C. A. Estudos pré-saussurianos. In: BENTES, A.; MUSSALIN, F. (Org.). 
Introdução à Linguística: fundamentos epistemológicos. São Paulo: Cortez, 2004. 
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Referências
A CIÊNCIA LINGUÍSTICA: 
CONCEITOS BÁSICOS
32
FARACO, C. A. Ensinar x não ensinar gramática: ainda cabe esta questão? 
Calidoscópio, São Leopoldo, RS, v. 4, n. 1, p. 15-26, 2006.
 
ILARI, R. O estruturalismo linguístico: alguns caminhos. In: MUSSALIM, F.; BENTES, 
C. A (Org.). Introdução à Linguística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 
2004. v. 3. p. 53-92.
LUCCHESI, D. Parâmetros sociolinguísticos do português brasileiro. Revista da 
Abralin, Brasília, DF, v. 5, p. 83-112, 2006.
MAINGUENEAU, D. Novas tendências em análise do discurso. Campinas, SP: 
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______. A unidade da linguística. Calidoscópio, São Leopoldo, RS, v. 6, n. 3, 
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PETER, M. Linguagem, língua, Linguística. In: FIORIN, J. L. (Org.). Introdução à 
Linguística: objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2002. p. 11-23.
RAPOSO, E. P. A língua como sistema de representação mental. In: ______. Teoria 
da gramática: a faculdade da linguagem. Lisboa: Editorial Caminho, 1992. p. 25-63.
SAUSSURE, F. Curso de Linguística geral. São Paulo: Cultrix, 1971.
 
WEEDWOOD, B. História concisa da Linguística. São Paulo: Parábola, 2002. 
Proposta de Atividade
1) Elabore um texto argumentativo em que você refute a definição de língua apresentada 
a seguir, bem como a noção de linguagem humana nela pressuposta. Na elaboração do 
texto, considere as reflexões teóricas que fizemos no transcurso deste Capítulo:
“O QUE É UMA LÍNGUA? 
É um conjunto de sons e ruídos, combinados, com os quais um ser humano, o falan-
te, transmite a outros seres humanos, o ouvinte ou os ouvintes, o que está na sua men-
te, emoções, sentimentos, vontades, ordens, apelos, ideias, raciocínios, argumentos e 
33
A ciência linguística: 
objeto, objetivos 
e métodos
combinações de tudo isso” (Trecho recolhido e adaptado de: <http://agronomia.catoli-
ca-to.edu.br/documentos/02020094/2009_Aula%20sobre%20a%20%20l%EDngua.doc>.)
Acesso em: 29 set. 2009.
Anotações
A CIÊNCIA LINGUÍSTICA: 
CONCEITOS BÁSICOS
34
Anotações
35
Juliano Desiderato Antonio / Sonia Aparecida Lopes Benites
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Neste capítulo, procuramos apresentar um panorama de como os estudos linguís-
ticos se desenvolveram ao longo da história e de diferentes propostas teóricas que 
surgiram após o estabelecimento da Linguística enquanto ciência, no início do século 
XX. Assim, este capítulo estabelece diálogos diretos com o primeiro e com o terceiro 
capítulos deste livro, que tratam, respectivamente, do estabelecimento da ciência lin-
guística e dos postulados de Saussure, considerado o “pai” da Linguística moderna.
Muitos dos trabalhos que versam sobre a história da Linguística apontam para uma 
visão contínua, cumulativa ou evolutiva dos estudos linguísticos (CAMPBELL, 2002). 
No entanto, neste capítulo, salientaremos também as mudanças e rupturas entre di-
ferentes estágios que se sucederam nos estudos da linguagem. Essa visão nos parece 
mais coerente e é corroborada pela abordagem do físico Thomas S. Kuhn, que, em seu 
livro The structure of scientific revolutions (1962), afirma que toda ciência caminha 
segundo dois períodos distintos: períodos de concordância unânime ou quase, sobre 
valores acumulados, e períodos de crise, quando esses valores são refutados em fun-
ção de novas descobertas e hipóteses.
A pré-linguística, a paralinguística e a linguística 
Em uma sociedade estruturada em classes, é comum que a linguagem e o com-
portamento da classe superior sejam considerados mais corretos e superiores que os 
das outras classes. Como afirma Gnerre (1987, p. 4), “Uma variedade linguística ‘vale’ 
o que ‘valem’ na sociedade os seus falantes, isto é, vale como reflexo do poder e da 
autoridade que eles têm nas relações econômicas e sociais”.
Daí resulta o interesse em preservaros traços característicos que opõem essa mo-
dalidade às demais, tidas como inferiores. O estudo sistemático desses traços caracte-
rísticos ou dessa gramática é o que Câmara Júnior (1975) denomina Estudo do Certo 
e Errado. Conforme o autor (p. 13), esse estudo “nada mais é que uma prática do 
comportamento linguístico”, sem nenhuma cientificidade. Também não é ciência o 
2 Panorama dos 
estudos linguísticos
A CIÊNCIA LINGUÍSTICA: 
CONCEITOS BÁSICOS
36
estudo da língua estrangeira, voltado basicamente para a compreensão linguística, 
e efetuado segundo uma abordagem experimental, resultante de contatos amistosos 
ou hostis, entre sociedades que falam línguas distintas. Para Câmara Jr., o caráter de 
cientificidade é decorrente da aplicação de um método científico, na focalização do 
material linguístico. 
Enquanto o estudo do certo e errado e o estudo da língua estrangeira voltam-se 
para a comparação de modalidades contemporâneas de língua, o estudo filológico, 
situado no campo literário e igualmente acientífico, busca a compreensão de “traços 
linguísticos obsoletos a fim de captar a mensagem artística” (CÂMARA JÚNIOR, 1975, 
p. 11). Esses três estudos constituem o que o autor denomina pré-linguística.
O autor classifica como paralinguísticos os estudos filosófico (ou lógico) e biológi-
co, uma vez que eles não se voltam para o domínio da linguagem propriamente dita, 
mas permanecem em seus limites. O primeiro entrelaça os estudos de linguagem e 
filosofia, buscando “tornar a linguagem um instrumento eficiente para o pensamento 
filosófico e [...] disciplinar o pensamento através do disciplinamento da linguagem” 
(CÂMARA JÚNIOR, 1975, p. 11). O segundo consiste no estudo das características bio-
lógicas que permitem ao homem usar a linguagem.
Como Saussure, o autor considera propriamente linguísticos os estudos histórico 
(diacrônico) e descritivo (sincrônico) da linguagem, uma vez que ambos tomam a 
linguagem como um traço cultural da sociedade e tentam “chegar à sua natureza, ou 
explicando sua origem e desenvolvimento através do tempo ou o seu papel e meio de 
funcionamento real na sociedade” (CÂMARA JÚNIOR, 1975, p. 12). 
Afirmar que a Linguística é uma ciência é dizer que ela possui objeto e métodos 
próprios e, de acordo com Robins (1981, p. 7), é guiada pelos princípios científicos da 
exaustividade, consistência e economia. Em outras palavras, é entender que ela trata 
adequadamente todo o material importante, não apresenta contradição, e, “quando 
certas coisas são iguais”, prefere uma “afirmação ou análise menor” a “uma mais longa 
ou mais complexa”. 
Câmara Júnior (1975) enfatiza a importância dos estudos realizados pela pré e a 
paralinguística para o surgimento da Linguística, e acrescenta que a pré-linguística e a 
paralinguística não desapareceram com o advento da Linguística. “Ambas continuaram a 
seguir o seu caminho, ora ganhando novos aspectos do ponto de vista da linguística, ora 
contribuindo para esta com seu próprio background” (CÂMARA JÚNIOR, 1975, p. 14).
 
Os estudos da linguagem na Antiguidade
Há relatos de estudos linguísticos entre vários povos da antiguidade motivados por 
questões religiosas ou por necessidade de continuar a compreender textos escritos 
37
após mudanças linguísticas. Dentre esses estudos, apresentaremos aqui, a título de 
exemplo, o caso das línguas suméria e acádia, na Babilônia, e o caso dos Vedas, escri-
tos em sânscrito, na Índia.
Na antiga Mesopotâmia, por volta do ano 2000 a.C., a língua acádia havia substi-
tuído a língua suméria como língua falada naquela região (ENCYCLOPAEDIA, 1993a). 
O sumério permanecia como a língua escrita dos textos legais e dos textos religiosos. 
Para que esses textos pudessem continuar a ser lidos, paradigmas com listas de pala-
vras e verbos com as correspondências em ambas as línguas tiveram que ser elabora-
das (CAMPBELL, 2002). Deve-se observar que o sumério foi a primeira língua escrita 
conhecida. Tratava-se da escrita cuneiforme, a qual era feita com auxílio de objetos em 
forma de cunha. A escrita acádia também era cuneiforme e teve origem no sumério. 
Por volta de 1700 a.C., o código de Hamurabi, um dos mais antigos e conhecidos con-
juntos de leis, foi escrito em acádio.
Na figura 1 a seguir, observam-se alguns exemplos da escrita cuneiforme (EN-
CYCLOPAEDIA, 1993b, p. 1035).
pássaro
Peixe
sol, dia
ficar em pé, ir
Figura 1 – Exemplo de escrita cuneiforme.
Na Índia, por volta do século V a.C., o gramático Pãnini, motivado por questões re-
ligiosas, fez uma detalhada descrição do sânscrito (CÂMARA JÚNIOR, 1975). A tradição 
religiosa exigia que os Vedas, textos sagrados da religião hindu, fossem declamados 
exatamente como quando foram criados, por volta de 1200 a.C. Como o sânscrito 
havia naturalmente passado por mudanças nesse período, havia necessidade de se ga-
rantir que as orações continuassem a ser ouvidas. A descrição de Pãnini serviu, então, 
Panorama dos 
estudos linguísticos
A CIÊNCIA LINGUÍSTICA: 
CONCEITOS BÁSICOS
38
para que formas e regras arcaicas do sânscrito pudessem ser compreendidas e realiza-
das durante os cultos religiosos.
Em ambos os casos, os motivos que levaram ao estudo da língua nada têm a ver 
com o interesse pela reflexão sobre a linguagem, de forma que os estudos do sumério 
e do acádio, bem como do sânscrito, por Pãnini, podem ser considerados estudos 
paralinguísticos. A descrição do sânscrito por Pãnini, no entanto, também tem cará-
ter normativo, uma vez que apresenta regras a serem seguidas para que as orações 
sejam compreendidas, de forma que esse estudo pode ser considerado pré-linguístico 
(CÂMARA JÚNIOR, 1975).
Os estudos da linguagem na Antiguidade Clássica
É incomensurável a contribuição da Antiguidade Clássica para os estudos da lin-
guagem. A gramática tradicional que hoje conhecemos talvez seja o maior exemplo 
da herança que recebemos dos clássicos nos estudos linguísticos, mas há ainda outras 
contribuições, como as discussões a respeito da natureza convencional ou natural das 
palavras, da relação entre linguagem e pensamento e a delimitação das classes de 
palavras.
Para Mattos e Silva (1989), a gramática tradicional origina-se em Platão e em Aristó-
teles. Em seu diálogo Crátilo, Platão trata da oposição entre a natureza e a convenção 
(NEVES, 1987). Para os gregos, o que era natural era imutável, pois não havia sido es-
tabelecido pelo homem, ao passo que o que era convencional era resultado de algum 
contrato entre os membros de uma comunidade e, por isso, esse contrato podia ser 
“quebrado” (LYONS, 1979). Os naturalistas postulavam que havia alguma relação entre 
a palavra e a sua forma. Isso ficava claro em palavras que “imitam” algum som, por 
exemplo, as onomatopeias (tique-taque, piar, cuco). Como há poucas onomatopeias, 
os naturalistas demonstravam que muitas palavras refletiam o que representavam 
porque os sons que as constituíam tinham qualidades que remetiam a características 
físicas1. Ainda assim, isso não ficava evidente em todas as palavras, o que motivou o 
estudo da etimologia, ou seja, do “verdadeiro significado” das palavras para revelar 
alguma verdade da natureza (LYONS, 1979).
Alguns dos principais fundamentos da gramática grega foram lançados por Platão, 
expandidos por Aristóteles e continuados pelos estoicos. É o caso da divisão das par-
tes do discurso (ou classes de palavras) (CÂMARA JÚNIOR, 1975). Platão inicialmente 
fez a distinção entre substantivos e verbos (ainda que sua distinção não corresponda 
1 É como se hoje, por exemplo, alguém quisesse explicar que a palavra “ovo” tem essa forma 
pelo fato de ter duas letras “o”, cujo formato se assemelha ao de um ovo.
39
exatamente ao que se entende hoje por substantivo e por verbo). Aristóteles acrescen-
tou a essa divisão as conjunções. Os estoicos, por sua vez, acrescentaram a classe do 
artigo e separaram os substantivos comuns dos substantivos próprios,

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