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UNIDADE CENTRAL DE EDUCAÇÃO FAI FACULDADES - UCEFF CENTRO UNIVERSITÁRIO FAI CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO ANTEPROJETO ARQUITETÔNICO DE UM NOVO ABRIGO INSTITUCIONAL PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO MUNICÍPIO DE FREDERICO WESTPHALEN – RS MAIARA MAGRI Monografia Pré TCC Itapiranga (SC), agosto de 2018. MAIARA MAGRI ANTEPROJETO ARQUITETÔNICO DE UM NOVO ABRIGO INSTITUCIONAL PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO MUNICÍPIO DE FREDERICO WESTPHALEN – RS Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo pelo Centro Universitário FAI, de Itapiranga. Orientador: Prof. Ma. Gracielle Rodrigues da Fonseca Rech Itapiranga (SC), agosto de 2018. Dedico este trabalho aos meus pais com todo meu amor e admiração, e a todas as crianças e adolescentes do Lar São Francisco. AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus pela vida, e por se fazer presente em todos os momentos dela. Por todas as oportunidades até então vivenciadas, e principalmente por me conceder força e determinação no desenvolvimento deste gratificante trabalho. À Mãe Três Vezes Admirável de Schoenstatt por sempre me amparar nos momentos mais difíceis e me completar nos felizes. Por me confortar e me dar coragem durante o trabalho, especialmente nos momentos em que achei que não poderia ir mais adiante. À minha família, em especial aos meus pais Ademir Magri e Izabel Magri, e minha irmã Tamara Magri, obrigada por sempre acreditarem e sonharem juntamente comigo. Agradeço por todo apoio e confiança que sempre me prestaram. À minha amiga Kaliane Peretto, por sempre estar ao meu lado, principalmente nesta fase, me auxiliando e me motivando. Aos meus colegas de turma que sempre me ajudaram e me motivaram durante o desenvolvimento desta monografia, no qual tornaram esse período mais alegre e agradável. A todos os professores que passaram pela minha graduação e aos que colaboraram no desenvolvimento desta pesquisa, em especial a minha querida orientadora Profª Ma. Gracielle Rodrigues da Fonseca Rech, agradeço de coração por todo carinho, paciência e incentivo durante a realização deste trabalho. À todas as crianças e adolescentes acolhidos no Lar São Francisco, pela recepção calorosa durante as visitas a instituição. E por me proporcionarem as sensações de satisfação e entusiasmo com relação ao meu tema. Muito obrigada a todos que contribuíram e me auxiliaram para a conclusão desta etapa. “Só é possível ensinar uma criança a amar, amando-a.” Johann Goethe RESUMO O presente trabalho manifestou-se por conta da necessidade de apresentar uma nova estrutura física para a instalação do abrigo institucional Lar São Francisco, situado no município de Frederico Westphalen, onde o mesmo tem por objetivo acolher crianças e adolescentes de 0 a 18 anos incompletos que se encontrem em situação de risco e vulnerabilidade. Sendo que a atual edificação não comporta a demanda existente, pois atende a sete municípios do Noroeste do Rio Grande do Sul e apresenta uma crescente procura. Partindo dessa problemática busca-se propor um anteprojeto que atenda a todas as determinações e necessidades, já que este serviço comunitário é de extrema importância e possui em grau de complexidade, pois trabalha com um grupo social que apresenta uma instabilidade emocional e física, potencializadas quando sofrem algum tipo de violência ou abuso, podendo comprometer seu crescimento e amadurecimento. No desenvolvimento desta investigação empregou-se o método de pesquisa exploratório e qualitativo, onde buscou-se adquirir o maior número de informações relevantes ao tema a partir da leitura, análise bibliográfica e estudos de caso relativo aos abrigos institucionais através de livros, teses, artigos, jornais, análise de documentos e entre outros. Após realizada a apuração dos dados pertinentes para auxilio da propositura, iniciou-se o levantamento da área a ser implantada a entidade, sendo que a mesma segue as exigênc ias impostas pela Cartilha de Orientações Técnicas: Serviço de Acolhimento para Crianças e Adolescentes e ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), referindo-se a diretriz e lei condizente a este oficio, válidas em todo Brasil. Deste modo a proposta objetiva criar um ambiente aconchegante, confortável e que proporcione espaços adequados para a apropriação, integração e socialização entre os assistidos e seus familiares durante o dia da visita, sendo este um momento muito importante para os mesmos ao longo do período de acolhimento. Palavras-chave: Infância e adolescência, Acolhimento institucional, Arquitetura de abrigo. LISTA DE FIGURAS Figura 01 - Rodas dos Expostos ou dos Enjeitados..................................................................43 Figura 02 – Quadro Sinótico.....................................................................................................63 Figura 03 - Casa de Acolhimento para Menores. .....................................................................71 Figura 04 - Sócios fundadores do escritório Cebra...................................................................71 Figura 05 - Localização Kerteminde.........................................................................................72 Figura 06 - Entorno Casa de Acolhimento para Menores.........................................................73 Figura 07 - Diagrama de identificação de formas arquitetônicas..............................................74 Figura 08 - Fachada típica de casas dinamarquesa....................................................................74 Figura 09 - Diagrama interligação volumes..............................................................................75 Figura 10 - Volumes..................................................................................................................75 Figura 11 - Diagrama diferentes usos sótão..............................................................................76 Figura 12 - Fachada com diferentes paginações.......................................................................76 Figura 13 - Implantação............................................................................................................77 Figura 14 - Planta baixa térreo..................................................................................................78 Figura 15 - Planta baixa primeiro pavimento............................................................................79 Figura 16 - Fachada frontal e posterior.....................................................................................80 Figura 17 - Fachadas laterais.....................................................................................................80 Figura 18 - Planta baixa esquemática sistema estrutural...........................................................81 Figura 19 - Fachadas frontale posterior esquemática iluminação natural................................82 Figura 20 - Fachadas laterais esquemática iluminação natural.................................................82 Figura 21 - Planta baixa esquemática de aberturas...................................................................83 Figura 22 - Iluminação natural..................................................................................................84 Figura 23 - Volume / massa......................................................................................................85 Figura 24 - Plantas baixas esquemática primeira e segunda unidade e conjunto......................86 Figura 25 - Repetição de retângulos em planta esquemática....................................................87 Figura 26 - Repetição de quadrados, retângulos e pentágonos na fachada esquemática..........87 Figura 27 - Fachada com elementos repetitivos........................................................................88 Figura 28 - Plantas baixas esquemáticas circulações internas..................................................89 Figura 29 - Planta baixa e fachada esquemática com assimétrica e com equilíbrio total.........89 Figura 30 - Planta baixa e fachada esquemática com adição e subtração de massas................90 Figura 31 - Centro de Bem-Estar para Crianças e Adolescentes..............................................91 Figura 32 - Sócios Marjan Hessamfar e Joe Vérons.................................................................92 Figura 33 - Localização Paris....................................................................................................93 Figura 34 - Entorno Centro de Bem-Estar para Crianças e Adolescentes.................................93 Figura 35 - Áreas recreativas....................................................................................................95 Figura 36 - Materiais utilizados nas elevações..........................................................................96 Figura 37 - Implantação............................................................................................................96 Figura 38 - Planta Baixa térreo.................................................................................................97 Figura 39 - Planta Baixa primeiro pavimento...........................................................................98 Figura 40 - Planta Baixa segundo pavimento............................................................................99 Figura 41 - Planta Baixa terceiro pavimento...........................................................................100 Figura 42 - Planta Baixa quarto pavimento.............................................................................101 Figura 43 - Planta Baixa quinto pavimento.............................................................................102 Figura 44 - Corte transversal A...............................................................................................103 Figura 45 - Corte longitudinal B.............................................................................................103 Figura 46 - Planta baixa esquemática sistema estrutural.........................................................104 Figura 47 - Planta baixa esquemática de aberturas.................................................................105 Figura 48 - Corte esquemático de aberturas............................................................................105 Figura 49 - Aberturas e terraço...............................................................................................106 Figura 50 - Volume / Massa....................................................................................................106 Figura 51 - Plantas baixas esquemática de todas as unidades.................................................107 Figura 52 - Plantas escalonadas..............................................................................................108 Figura 53 - Repetição de retângulos em planta esquemática..................................................108 Figura 54 - Repetição de retângulos, terraços e persianas em corte esquemático...................109 Figura 55 - Planta baixa térreo esquemática circulações internas...........................................110 Figura 56 - Escadas internas....................................................................................................110 Figura 57 - Planta baixa e corte esquemático com assimétrica e com equilíbrio local...........111 Figura 58 - Planta baixa e corte esquemático com adição e subtração de massas..................112 Figura 59 - Moradias Infantis..................................................................................................113 Figura 60 - Arquitetos do escritório Aleph Zero.....................................................................114 Figura 61 - Marcelo Rosenbaum.............................................................................................114 Figura 62 - Localização Formoso do Araguaia.......................................................................114 Figura 63 - Entorno Moradias Infantis....................................................................................115 Figura 64 - Utilização da madeira na construção....................................................................116 Figura 65 - Áreas de convívio centrais....................................................................................117 Figura 66 - Planta baixa técnica térreo....................................................................................118 Figura 67 - Planta baixa técnica primeiro pavimento.............................................................118 Figura 68 - Corte longitudinal A.............................................................................................119 Figura 69 - Corte transversal B...............................................................................................119 Figura 70 - Corte longitudinal C.............................................................................................119 Figura 71 - Fachada frontal e lateral.......................................................................................119 Figura 72 - Planta baixa esquemática sistema estrutural.........................................................120 Figura 73 - Estrutura madeira..................................................................................................121 Figura 74 - Planta baixa esquemática de aberturas.................................................................121 Figura 75 - Corte esquemático de aberturas............................................................................122 Figura 76 - Volume / massa....................................................................................................122 Figura 77 - Plantas baixas esquemática primeira e segunda unidade e conjunto....................123 Figura 78 - Repetição e singularidade de formas em planta esquemática...............................124 Figura 79 - Repetição de formas e elementos em fachada esquemática.................................124 Figura 80 - Circulações em planta baixa térreo esquemática..................................................125 Figura 81 - Circulações em planta baixa primeiro pavimento esquemática...........................125 Figura 82 - Planta baixa e fachada esquemática com total simetria e equilíbrio....................126 Figura 83 - Fachada horizontal................................................................................................126 Figura 84 - Planta baixa e fachada esquemática com adição e subtraçãode massas..............127 Figura 85 - Localização Rio Grande do Sul e Frederico Westphalen.......................................129 Figura 86 - Frederico Westphalen e seus acessos.....................................................................130 Figura 87 - Inserção urbana em Frederico Westphalen............................................................131 Figura 88 - Terreno com indicação de fotos.............................................................................132 Figura 89 - Foto 1.....................................................................................................................132 Figura 90 - Foto 2.....................................................................................................................133 Figura 91 - Foto 3.....................................................................................................................133 Figura 92 - Foto 4.....................................................................................................................133 Figura 93 - Foto 5.....................................................................................................................134 Figura 94 - Foto 6.....................................................................................................................134 Figura 95 - Possíveis acessos ao lote........................................................................................135 Figura 96 - Condicionantes físicas do lote...............................................................................136 Figura 97 - Topografia do terreno............................................................................................137 Figura 98 - Cortes topográficos transversais A-A e B-B..........................................................138 Figura 99 - Cortes topográficos longitudinais C-C e D-D........................................................138 Figura 100 - Corte topográfico diagonal E-E...........................................................................139 Figura 101 - Vegetação............................................................................................................139 Figura 102 - Ruídos..................................................................................................................140 Figura 103 - Infraestrutura urbana...........................................................................................141 Figura 104 - Transporte Escolar...............................................................................................142 Figura 105 - Sistema viário......................................................................................................143 Figura 106 - Ocupação do solo.................................................................................................144 Figura 107 - Equipamentos e serviços no entorno....................................................................145 Figura 108 - Gabarito...............................................................................................................146 Figura 109 - Qualidade construtiva..........................................................................................147 Figura 110 - Fundo figura........................................................................................................148 Figura 111 - Localização lotes com relação as zonas de interesse do município......................149 Figura 112 - Organograma e fluxograma.................................................................................159 Figura 113 - Estudo de manchas...............................................................................................160 Figura 114 - Croqui 1...............................................................................................................161 Figura 115 - Croqui 2...............................................................................................................162 Figura 116 - Croqui 3...............................................................................................................162 LISTA DE TABELAS Tabela 01 - Requisitos de Ocupação do Solo..........................................................................149 Tabela 02 - Pré-dimensionamento setor administrativo..........................................................154 Tabela 03 - Pré-dimensionamento setor social.......................................................................154 Tabela 04 - Pré-dimensionamento setor íntimo......................................................................155 Tabela 05 - Pré-dimensionamento setor serviços gerais.........................................................156 Tabela 06 - Pré-dimensionamento setor externo.....................................................................157 Tabela 07 - Pré-dimensionamento total edificação.................................................................158 Tabela 08 - Pré-dimensionamento total..................................................................................158 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT – Associação Brasileira de Normas técnicas CILASFRA – Consórcio Intermunicipal Lar de Acolhimento São Francisco CMDCA – Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente CONANDA – Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente DST – Doenças sexualmente transmissíveis SE – Sudeste ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente EUA – Estados Unidos da América GLP – Gás Liquefeito de Petróleo IA – Índice de aproveitamento IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada MNMMR – Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua NO – Noroeste OMS - Organização Mundial da Saúde ONGs – Organizações não Governamentais ONU – Organização das Nações Unidas PCD – Pessoa com deficiência SUAS – Sistema Único de Assistência Social SUS – Sistema Único de Saúde TO – Taxa de ocupação ZR3 – Zona Residencial 3 LISTA DE SÍMBOLOS § – Parágrafo I – Inciso SUMÁRIO AGRADECIMENTOS ............................................................................................................. 4 RESUMO ................................................................................................................................... 6 LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................... 7 LISTA DE TABELAS ............................................................................................................ 11 LISTA DE QUADROS ................................................................. Erro! Indicador não definido. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ........................................................................... 12 LISTA DE SÍMBOLOS ......................................................................................................... 13 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 17 1.1 APRESENTAÇÃO DO ASSUNTO (TEMA)................................................................... 18 1.2 PROBLEMA E JUSTIFICATIVA .................................................................................... 18 1.3 OBJETIVOS ...................................................................................................................... 22 1.3.1 Objetivo geral ................................................................................................................22 1.3.2 Objetivos específicos ..................................................................................................... 22 2. METODOLOGIA .............................................................................................................. 23 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................................... 24 3.1 A CRIANÇA E O ADOLESCENTE ................................................................................. 24 3.1.1 Perfil de crianças e adolescentes em situação de risco ............................................... 28 3.1.2 Consequências causadas pela violência e abusos na infância e adolescência ........... 32 3.1.3 Processos judiciários da retirada provisória ou definitiva da guarda ...................... 35 3.2 BREVE HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO DAS INSTITUIÇÕES NO MUNDO ............... 39 3.2.1 Breve histórico no Brasil ............................................................................................... 42 3.3 O ACOLHIMENTO E SUAS MODALIDADES .............................................................. 46 3.3.1 Características espaciais das instituições de acolhimento institucional.................... 49 3.3.2 O ambiente da casa ........................................................................................................ 54 3.4 LEGISLAÇÕES PERTINENTES AO TEMA ................................................................... 59 3.4.1 Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) ............................................................. 59 3.4.2 Direitos das crianças e adolescentes ............................................................................. 64 3.4.3 Normativas de Acessibilidade ....................................................................................... 68 4. RESULTADOS DA PESQUISA....................................................................................... 70 4.1 ESTUDOS DE CASO ....................................................................................................... 70 4.1.1 Casa de Acolhimento para Menores / CEBRA ........................................................... 70 4.1.2 Centro de Bem-Estar para Crianças e Adolescentes / Marjan Hessamfar & Joe Vérons ...................................................................................................................................... 91 4.1.3 Moradias Infantis / Rosenbaum + Aleph Zero ......................................................... 113 5. DIRETRIZES DE PROJETO ........................................................................................ 128 5.1 HISTÓRICO DA ÁREA .................................................................................................. 128 5.2 INSERÇÃO URBANA .................................................................................................... 130 5.2.1 Levantamento da área ................................................................................................. 131 5.2.2 Acessos .......................................................................................................................... 134 5.2.3 Condicionantes físicas ................................................................................................. 135 5.2.4 Agentes poluidores ....................................................................................................... 140 5.2.5 Infraestrutura urbana ................................................................................................. 141 5.2.6 Transporte público ...................................................................................................... 142 5.2.7 Sistema viário ............................................................................................................... 143 5.2.8 Ocupação do solo ......................................................................................................... 144 5.2.9 Equipamentos e serviços ............................................................................................. 145 5.2.10 Gabarito ...................................................................................................................... 146 5.2.11 Qualidade construtiva ............................................................................................... 147 5.2.12 Fundo figura ............................................................................................................... 148 5.2.13 Legislação ................................................................................................................... 149 5.3 PERFIL E DEMANDA .................................................................................................... 150 5.4 CONCEITO ...................................................................................................................... 151 5.5 PROGRAMA DE NECESSIDADES ............................................................................... 151 5.6 PRÉ-DIMENSIONAMENTO .......................................................................................... 153 5.7 ORGANOGRAMA E FLUXOGRAMA.......................................................................... 158 5.8 ESTUDO DE MANCHAS ............................................................................................... 160 5.9 PARTIDO ARQUITETÔNICO ....................................................................................... 161 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 163 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................ 165 ANEXOS................................................................................................................................ 172 ANEXO 01 - CONSÓRCIO INTERMUNICIPAL LAR DE ACOLHIMENTO SÃO FRANCISCO......................................................................................................................... 172 ANEXO 02 – CONSELHO TUTELAR DE FREDERICO WESTPHALEN ................. 173 ANEXO 03 – CONSELHO TUTELAR DE VISTA ALEGRE ........................................ 174 17 1. INTRODUÇÃO O número de crianças e adolescentes que sofrem algum tipo de violência, abuso, exploração ou abandono tem crescido ano a ano no mundo todo. Sendo que esses acontecimentos desencadeiam problemas psicológicos e físicos ao longo da vida das vítimas. Estes casos muitas vezes ocorrem pela desigualdade social e econômica que a atual sociedade vive. E como forma de mitigar essas situações os abrigos que prestam acolhimento a infantes desempenham um papel muito importante, pois oferecem segurança e cuidados de subsistênc ia. Portanto esses locais devem proporcionar situações agradáveis e prazerosas aos acolhidos durante a passagem, por conta de servir como uma residência. Sendo que o espaço construído tem uma forte ligação com as sensações e emoções dos usuários (TRINDADE e SILVA, 2005). Mas, contudo, a realidade que se vê são de entidades locadas em edificações improvisadas, onde a estrutura física não comporta a demanda a ser atendida, ocasionando limitações no programa de necessidades, atividades e outras práticas exercidas pelo serviço. Então é de suma importância que as instituições sejam estabelecidas em locais apropriados e propícios (SAVI, 2008). Tendo em vista a atual edificação em que o Lar São Francisco está instalado no município de Frederico Westphalen, sendo que a mesma desempenhava funções residencia is até o momento, nota-se a necessidade em propor uma nova instalação, que oportune qualidade de vida e bem-estar aos acolhidos, bem como colaboração no futuro dos mesmos. Por conseguinte,o principal objetivo da pesquisa é desenvolver um anteprojeto para o abrigo institucional Lar São Francisco, com o propósito de reparar o problema atualmente vivenciado, onde a proposta busca proporcionar um espaço acolhedor e confortável aos acolhidos. Já os objetivos específicos visam compreender o histórico das instituições no geral e as atividades nelas exercidas, e ainda abarcar as legislações condizentes ao tema para a concepção da proposta. A relevância da pesquisa pode ser observada na crescente demanda de crianças e jovens que necessitam da medida protetiva, e consequentemente do acolhimento provisório, sendo que o abrigo atende a sete municípios da região, gerando uma alta procura pelo serviço social. O atendimento além de oportunizar condições dignas de vida, proporciona o sentimento de família, afeto e cuidado, transformando a realidade de muitos assistidos. A metodologia empregada na pesquisa ocorreu de forma exploratória e qualitat iva, sendo que buscou-se alcançar o maior número de dados pertinentes ao assunto, com base de leitura, análise bibliográfica e estudos de caso referente a abrigos institucionais através de 18 livros, teses, artigos, jornais, análise de documentos e entre outros. Estes que propiciaram conhecimentos necessários para o desenvolvimento da proposta central. A pesquisa organizou-se em seis capítulos, sendo que o primeiro faz apresentação do tema, expondo o problema e a justificativa e relevância da proposta, bem como os objetivos a serem traçados no decorrer do trabalho. No segundo capítulo foi abordado a metodologia de pesquisa que o estudo utilizou em seu desenvolvimento. Já no terceiro capítulo, apresentou-se a base teórica, onde foi tratado a questão da criança e do adolescente, os históricos de instituições de acolhimento no mundo e no Brasil. Ainda as formas de acolhimento e suas modalidades, e por fim as legislações pertinentes ao tema, nas quais determinam alguns princípios arquitetônicos e funcionais com relação a instalação da entidade. O quarto capítulo traz três estudos de caso semelhantes ao assunto, sendo que atentou- se a questões funcionais, formais, plásticas e conceituais que os mesmos ofereciam, proporcionando uma base de inspiração para a construção da proposta. O quinto capítulo identifica o terreno escolhido para a instalação do anteprojeto, igualmente todo o levantamento realizado em seu entorno, oportunizando inteirar-se das condicionantes, deficiências e potencialidades da área a ser intervinda. Ainda o mesmo descreve o conceito, programa de necessidades, organograma e fluxograma, estudos de manchas e partido arquitetônico desenvolvido para a proposta. Por fim o sexto capítulo trata das considerações finais, onde o mesmo expõe quais resultados a pesquisa proporcionou, e ainda se todos os objetivos traçados inicialmente foram alcançados. 1.1 APRESENTAÇÃO DO ASSUNTO (TEMA) O tema da pesquisa compreende a proposta de um anteprojeto arquitetônico para um novo espaço do abrigo institucional de crianças e adolescentes Lar São Francisco, localiza do no município de Frederico Westphalen – RS. O novo projeto visa desenvolver um ambiente amplo, acolhedor e seguro aos usuários, bem como melhorar a qualidade de vida durante a passagem pelo abrigo. 1.2 PROBLEMA E JUSTIFICATIVA A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que 40 milhões de crianças e adolescentes, com idade inferior a 15 anos, sofrem anualmente várias situações de violênc ia . 19 Esse número demonstra como a agressão dentro ou fora de casa ameaça o futuro de tantos jovens (TRINDADE e SILVA, 2005). Ainda no ano de 2002 na jornada de psiquiatria dinâmica, John Sargent1 revelou que para cada cinco meninas e para cada dez meninos, um é vítima de abuso sexual no mundo todo (DAY et al., 2003). De acordo com Pires (2000 apud TRINDADE e SILVA, 2005), crianças e jovens que sofrem violência e abusos na infância e na adolescência tem tendência a criar isolamento social, envolvimento com drogas e álcool, problemas psicológicos e emocionais e a repetição destes atos com outras pessoas. Segundo Araújo (2002), essa crescente demanda de casos de exploração e maus-tratos contra crianças e adolescentes, que aumentam ano após ano no Brasil e no mundo todo, criam um aspecto crucial para a sociedade. Dentre os fatores que ocasionam esse crescimento está a desigualdade social, econômica, cultural e a dissipação de drogas e similares. Desta forma os abrigos institucionais espalhados pelo Brasil desempenham um papel muito importante na assistência social, seguindo as diretrizes do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), tem a finalidade de acolher e garantir a segurança de crianças e adolescentes de 0 a 18 anos incompletos, de ambos os sexos que estão em situação de risco (ROSSATO, LÉPORE e CUNHA, 2010). Por conta dos abrigos assumirem temporariamente o papel da família e repassarem princípios e concepções da vida no momento de criação da personalidade do usuário, é de suma importância que o ambiente transmita sensações positivas, sendo elas de acolhimento, segurança e afetividade, estas quando reconhecidas no espaço físico tendem a torna-lo mais agradável (SAVI, 2008). Ainda Brasil (2017) afirma que esses locais devem se assemelhar arquitetonicamente a um lar e estimular a criação de uma rotina. É importante também que a estrutura física atenda ao programa de necessidades e a demanda local. Proporcional ao panorama Brasileiro, a região do noroeste gaúcho vinha sofrendo ao longo dos anos com ocorrências de violência, abandono, abusos, entre outras situações de risco , contra crianças e adolescentes, estes que são protegidos e assegurados pelo ECA. E como forma de atendimento a esses casos, no dia 08 de outubro de 2013 foi inaugurada a constituição do Consórcio Intermunicipal Lar de Acolhimento São Francisco (CILASFRA) no município de Frederico Westphalen, sendo a sede da Comarca da região (Anexo 01) (CILASFRA, 2017). 1 Componente do conselho administrativo da agência de atendimento social Graham Windham, localizada em Nova York - EUA (ASSOCIATION OF AMERICAN PUBLISHERS, 2015). 20 O serviço oportuna atendimento aos sete municípios integrantes do Consórcio, sendo eles Frederico Westphalen (sede), Caiçara, Palmitinho, Pinheirinho do Vale, Taquaruçu do Sul, Vicente Dutra e Vista Alegre, todos localizados no entorno da Comarca. O abrigo tem o intuito de oferecer um espaço de proteção provisório, proposto para atender crianças e adolescentes, onde as mesmas encontram-se vulneráveis, abandonadas, ou que a família não apresenta condições de assegurar proteção e cuidados aos mesmos. Em primeiro momento o atendimento funciona como um abrigo temporário até que suceda a readequação da família natural, caso ocorra a impossibilidade é realizado um direcionamento para a família substituta (JORNAL O ALTO URUGUAI, 2014). No mês de março de 2014 o abrigo institucional Lar São Francisco foi inaugurado no Centro de Frederico Westphalen, em uma edificação improvisada, que antes tinha finalidade residencial, passando por adaptações e abrigando crianças e adolescentes da região (JORNAL O ALTO URUGUAI, 2014). Por ser um serviço provisório, o reflexo visto por conta da escassez de recursos e a deficiência por parte de regulamentação de projetos e locais para implantação deste ofício, é comum ver edificações adaptadas para esta função, desconsiderando por muitas vezes o programa de necessidades e a demanda, criando assim locais improvisados (SAVI, 2008). Como já descrito, o endereço inaugural do Lar São Francisco em 2014, era uma adaptação de uma residência,e dois anos após a abertura, a casa começou a apresentar problemas por falta de estrutura física, devido ao crescimento da demanda regional. Naquele momento o abrigo acolhia 22 crianças e adolescentes, sendo que tinha estrutura física para atender 20 acolhidos. Com isso foi necessário a procura por um novo local para implantação da entidade, com o objetivo de proporcionar um ambiente estruturado, amplo, acolhedor e que atendesse da melhor forma os assistidos (JORNAL O ALTO URUGUAI, 2016). Ocorrendo da mesma forma que a primeira sede, uma edificação improvisada que antes da instalação tinha ocupação residencial, o novo local onde o abrigo foi implantado, passou por adaptações e abrigou 21 crianças e adolescentes no momento da mudança em 2017. Sendo este novo espaço mais apropriado para a locação deste serviço, com uma estrutura física maior e melhor, mas, contudo, apresenta algumas deficiências em sua composição, não atendendo a demanda regional e limitando algumas atividades (FOLHA DO NOROESTE, 2017). 21 Segundo o Conselho Tutelar2 de Frederico Westphalen (2018) (Anexo 02), o mesmo teve 806 casos de atendimentos contra crianças e jovens do município durante o ano de 2017. Sendo elas por conflito familiar, ameaças, internação, fuga de casa, suspeita de abuso, maus- tratos, infrequência escolar, drogadição e outras, onde deste total, nove receberam assistência no abrigo institucional Lar São Francisco. Já o Conselho Tutelar de Vista Alegre (2018) (Anexo 03), informou que teve 214 ocorrências de atendimentos no mesmo ano, onde dez infantes receberam assistência provisória na casa de acolhimento. Sendo que esses números são declarados apenas de dois municípios em questão, tendo mais cinco municípios que foram atendidos neste mesmo período. Desta forma percebe-se o grande número de crianças e jovens que necessitam do amparo do acolhimento institucional na região do noroeste gaúcho. Outro argumento que sustenta o interesse pelo tema e projeto proposto, é a aproximação da acadêmica com a instituição. Essa afinidade possibilitou ter uma ampla visão de como funciona este serviço comunitário, e da sua relevância social para a região. Observou-se o quanto é importante que o ambiente do mesmo seja acolhedor, seguro e confortável para os acolhidos no momento da passagem pela casa. A expectativa é que com a proposta do novo abrigo, os acolhidos terão uma qualidade de vida melhor, diversas possibilidades de atividades internas, segurança, entre outras melhorias, transformando essa passagem em um momento mais agradável e contribuindo de forma positiva na formação da personalidade dos abrigados. Partindo dessa necessidade de atender com o serviço de acolhimento infantil a todos os municípios participantes do Consórcio Intermunicipal, observou-se a real necessidade de propor um projeto arquitetônico idealizado especialmente para este fim, buscando assim priorizar a qualidade de vida dos abrigados e garantir a todos os direitos estabelecidos pelo ECA. Com objetivo de desenvolver um abrigo mais amplo e acolhedor aos assistidos, questiona-se: como elaborar um novo abrigo institucional de crianças e adolescentes para o município de Frederico Westphalen – RS, focando na melhoria da qualidade de vida e bem-estar no período de acolhimento e auxílio na transformação do futuro dos abrigados? 2 Conselho Tutelar é um órgão formado por cidadãos selecionados pela sociedade, estes têm a função de prevenir averiguar denúncias anônimas e de tomar providências em casos de violências e abusos a crianças e jovens (TAVARES, 2017). 22 1.3 OBJETIVOS A pesquisa apresenta um objetivo geral, onde o mesmo norteia toda a exploração e a que finalidade busca-se com o trabalho, e aponta cinco objetivos específicos, estes que procuram contribuir para que o objetivo final seja alcançado. 1.3.1 Objetivo geral Desenvolver um anteprojeto arquitetônico de um novo espaço amplo e acolhedor para o abrigo institucional Lar São Francisco, localizado em Frederico Westphalen – RS. 1.3.2 Objetivos específicos Pesquisar o histórico de abrigos e atividades desenvolvidas pelas crianças e adolescentes. Compreender o trabalho social proporcionado pelos abrigos. Conhecer as principais diretrizes do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) seguidas pelos abrigos. Analisar três estudos de caso relativos ao tema para melhor compreensão do assunto proposto. Elaborar um anteprojeto arquitetônico para o abrigo institucional de Frederico Westphalen – RS. 2. METODOLOGIA Esta pesquisa consiste em análise de caráter exploratório e qualitativo, com a finalidade de desenvolver pesquisas e levantamentos sobre o tema em questão, de forma que a compreensão seja baseada em aspectos reais através de percepções e análises. Segundo Flick (2009), pesquisas qualitativas são pertinentes a análise de conteúdos de cunho social, onde avalia as diversas conjunções da vida, sendo que distinguem os traços das diferentes populações como forma de obter uma verificação característica. Conforme Godoy (1995), pesquisas de índole qualitativa utilizam observação objetiva da realidade para exploração, sendo que a fonte de informações e fatos é o espaço natural, e o investigador é a ferramenta necessária para a averiguação. Essa forma de pesquisa é caracterizada pela atenção as ações práticas no ambiente. O contato direto do observador com o local a ser explorado é valorizado nessa forma de análise, pois, os materiais encontrados são através da coleta de dados, fotografias, vídeos, ou outras formas de mídia e, portanto, essa convivência com o meio a ser pesquisado facilita a compreensão. Sendo que a escrita compõe esse formato de investigação, tanto no momento do levantamento dos fatos, como no período da percepção dos resultados, sendo dada devida importância em todo o processo e não somente as respostas encontradas (GODOY, 1995). O método utilizado na presente pesquisa é descritivo e explicativo, onde é realizada uma observação dos fatos e conclusão generalizada sobre o contexto. A metodologia aplicada foi realizada a partir da leitura, análise bibliográfica e estudos de caso relativo aos abrigos institucionais através de livros, teses, artigos, jornais, análise de documentos e entre outros. 24 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Nesta etapa será apresentado a estrutura teórica, onde a mesma auxiliará na produção do anteprojeto proposto. Serão detalhados os tópicos pertinentes ao tema apresentado, com a intenção de obter os melhores resultados em relação ao assunto. Em primeiro momento será levantado questões sobre a criança e o adolescente, sendo que os mesmos são os principais impulsionadores da pesquisa. O tópico conceitua e expõe uma linha de tempo de como eram vistos desde as primícias até os tempos atuais, e ainda retrata as consequências e os impactos que a violência e as diferentes formas de abusos causam nesses indivíduos, e como forma de intervenção nesses casos o processo da retirada da guarda dos infantes da família. Em sequência será argumentado sobre a história das instituições de acolhimento no mundo todo e de modo geral, e em seguida será direcionada para história Brasileira, onde destaca os métodos iniciais do atendimento social até os dias vigentes. Dando prosseguimento a temática, será apresentado as categorias de acolhimento, e em especial as característ icas físicas, o modo de atendimento e o grupo de colaboradores de entidades de acolhimento institucional, sendo esta destacada por conta de semelhança do anteprojeto a ser proposto. E para finalizar a base teórica seráretratado as Leis relevantes ao tema, onde será ressaltado o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), sendo essa a Lei pertinente ao grupo social a ser atendido, e por fim as normativas de acessibilidade necessárias em edificações de caráter de prestação de serviços. 3.1 A CRIANÇA E O ADOLESCENTE A palavra criança significa menina ou menino que se encontram na fase da infânc ia, entre o ciclo de nascimento e puberdade. Figurado: indivíduo muito jovem; que não alcançou a fase adulta; ser humano sem experiência; inocente, pueril; já adolescente tem conceito de um indivíduo que passa por um período de transformação, amadurecimento entre a puberdade e a fase adulta (DICIONÁRIO AURÉLIO, 2018). Charles Darwin naturalista inglês muito importante para a história mundial, criador da Teoria da Evolução, foi um dos pioneiros no estudo do desenvolvimento da conduta da criança. No ano de 1877, manifestou a ideia de que o ser humano precisava conhecer a sua origem para compreender melhor a si mesmo, como gênero e pessoa (PAPALIA, OLDS e FELDMAN, 2010). 25 De acordo com Rossato, Lépore e Cunha (2010), classifica-se legalmente criança até os doze anos de idade inconclusos, e dos doze aos dezoito anos de idade adolescente. Em eventos excepcionais discorre a adolescência até os vinte e um anos de idade. A idade determina a fase que a pessoa está passando, sendo levado em consideração apenas o fator cronológico e não o psíquico. O mais importante para um recém-nascido, ou seja, uma criança, são as primeiras expressões de amor e afeto da pessoa que está cuidando-o, pois, esses primeiros vínculos irão influir na sociabilidade, que perdurará até mesmo na vida adulta. Sentimentos amáveis sentidos logo nos primeiros momentos de vida, repercutem na criação de autoestima, segurança e confiança desses indivíduos. O lugar de criação e a forma como são tratados e cuidados, indicam os reais obstáculos que terão que enfrentar futuramente e principalmente suas conquistas (DAFFRE, 2012). Na etapa primária da infância, sendo considerada de zero a seis anos de idade, ocorre a formação dos padrões cognitivos, motores, fala e interação com outras crianças e entre outros, esses fatores definem a aprendizagem, a habilidade de socializar, conviver desde a infância até a vida adulta, resultando assim cooperação e contribuição para a sociedade (DAFFRE, 2012). De acordo com Agliardi (2005), a fase inicial da vida, ou seja, a infância é o melhor período para a ligações de relações e vínculos, mas, contudo, ao longo da vida o ser humano continua a se relacionar, interagir e a desenvolver socialização. Segundo Nogueira (2012), quando uma criança é bem cuidada e amada, as chances de ser um adulto mais sociável, confiante e cooperativo para a sociedade são muito maiores do que crianças que sofreram abandono ou algum tipo de insegurança. A palavra infância compreende como um período de estruturação social inicial. Relatos indicam que primordialmente as crianças não eram vistas e tratadas como crianças, mas sim como miniaturas de adultos (PAPALIA, OLDS e FELDMAN, 2010). Segundo Aries (1981), na época da velha comunidade clássica, o momento da infânc ia era o mínimo possível, bastava a criança desenvolver alguma aptidão que já era imposta a realizar atividades e afazeres de adultos. Da infância já entrava diretamente no mundo adulto, sem cruzar pela adolescência. As informações de conhecimentos, princípios e sociabilizações, não eram passadas pela família, pois a criança logo se distanciava de seus pais. Durante anos o ensino educacional foi repassado por conta do contato direto das crianças com os adultos, que mantinham convívio, 26 sendo que as mesmas aprendiam a realizar tarefas e atividades auxiliando os adultos na execução (ARIES, 1981). Até o início do século XX, o período da adolescência não era classificado como um momento separado, como ocorre na infância. Então, G. Stanley Hall psicólogo americano, conhecido como pai da atividade do estudo da criança, foi o primeiro a redigir um livro a respeito da adolescência (PAPALIA, OLDS e FELDMAN, 2010). A adolescência caracteriza-se como um momento de inquietação e observação no meio técnico. Determinada como o período de transição entre a puerícia e a vida adulta, a mesma é conhecida como a evolução dinâmica mais incompreensível da vida de uma pessoa, pois muitos fatores correspondem à realidade passada pelo indivíduo. Consiste em um período de autoconhecimento, pois agrega muitas transformações físicas, mentais, hormonais e intelectua is que modificam a personalidade e o corpo externo, portanto é uma das fases mais importantes do ser humano (SCHNEIDER, 2005). Segundo Papalia, Olds e Feldman (2010), esse momento vivenciado pelo indivíduo não tem um começo ou um fim estabelecido, embora ele dure cerca de dez anos, começando aos onze ou doze anos e findando aproximadamente aos vinte e um. Pelo fato do cérebro estar em estado de evolução, ou seja, ainda imaturo comparado a de um adulto, as informações são processadas diferentes, assim os jovens têm tendência a agir sem pensar e raciocinar. Esse período é carregado de atitudes de risco, como a utilização de drogas lícitas e ilícitas, relações sexuais desprotegidas e ações perigosas. O uso de drogas durante esse período está ligado a diversos fatores, mas entre eles a falta de afeto ou convívio familiar e a exclusão social sugerem-se como os principais, pois o indivíduo busca preencher o vazio encontrado em casa pelas sensações psíquicas que as substâncias oferecem. Ademais, a participação de grupos como maltas potencializa o uso dos entorpecentes, agressões físicas, abandono escolar e a criminalidade. Em relação a utilização de drogas e a ligação com gangues, não são correlacionados somente com a classe social do adolescente, podendo envolver a todos os padrões econômicos (SCHNEIDER, 2005). Mas, contudo, a adolescência não se compreende de uma única forma, no mundo as diferentes culturas influenciam no modo de agir e pensar dos adolescentes, ditando princíp ios e valores que devem ser seguidos. No EUA os adolescentes desfrutam mais tempo sozinhos do que com seus pais; já na Índia os jovens podem utilizar a tecnologia e roupas ocidentais, mas ainda assim dedicam muitos momentos a família e valorizam os princípios hindus. Nos países localizados no lado ocidental do planeta, as adolescentes buscam seguir fielmente os 27 estereótipos impostos pela sociedade, provocado até distúrbios por conta de buscarem o corpo perfeito; nos países africanos a adiposidade é apontada como ideal, forçando muitas vezes as meninas engordarem pela cultura (PAPALIA, OLDS e FELDMAN, 2010). Fora as diferenças culturais, tem-se também as sociais e econômicas, onde em países mais desenvolvidos, a modernização e tecnologias são mais acessíveis do que em países pobres e subdesenvolvidos, os adolescentes destes países não tem acesso a tantas inovações como outros pertencentes a países mais ricos (PAPALIA, OLDS e FELDMAN, 2010). Muitas transformações acontecem nesse período, das modificações ocorridas nessa fase a mais perceptível acontece na aparência física, com mudanças na estatura, peso, desenvolvimento sexual e entre outras dimensões corporais e hormonais ocasionadas pela puberdade. O desenvolvimento mental não acompanha essas alterações físicas, causando então descontentamento e insatisfação com o próprio corpo, pelo mesmo não seguir os modelos idealizados pela sociedade. A característica mais notável nesse período talvez seja o desenvolvimento sexual, pois o indivíduo deixa para trás o estágio infantil para então começar a compreender omundo adulto (SCHNEIDER, 2005). Ainda que a palavra puberdade seja fortemente ligada a adolescência, a primeira fase da mesma começa entre os sete ou oito anos de idade, já a segunda etapa começa a agir entre os doze aos quatorze anos, com modificações complexas hormonais, sendo que em meninos ocorre o aumento da testosterona e para as meninas o acréscimo de estradiol. Essas alterações estimulam o desenvolvimento de características físicas e sexuais (BEE e BOYD, 2011). Conforme Schneider (2005), é nesta fase que o indivíduo começa a criar sua identidade pessoal e a formulação da sua personalidade, que levará para o resto da vida. Algumas sensações e sentimentos são descobertos nesse momento, como indecisões, angúst ias, ansiedades, alterações de humor, inquietação e entre outras. Esses novos sentimentos comumente, vêm associados a rejeição de seguir regras e normas, tudo pelo instinto impuls ivo criado nessa etapa. Neste período também, o mesmo amadurece e conhece os deveres que estão por vir na próxima fase. De acordo com Schneider (2005), independente das circunstâncias econômicas, sociais e culturais, fatores estes importantes, mas, contudo, não dominadores, o vínculo afetivo vivenciado durante a infância da criança e a juventude do adolescente, é essencial e tem grande importância, pois caracteriza as atitudes e comportamentos futuros desses indivíduos. As relações afetivas vão além dos familiares, englobam também as de amizades, que ainda mais nessa fase constituem um papel importantíssimo, por conta dos jovens recorrerem aos amigos 28 em situações ondem buscam consolo, auxílio e apoio, muitas vezes não encontradas ou desconsideradas na intimidade familiar. A adolescência apresenta-se com muitas alterações físicas e mentais, essas novas sensações chegam todas juntas e de uma só vez, trazendo risco ao jovem, que por algumas vezes não consegue suportar ou lidar com tantas modificações, e consequentemente precisa de auxílio por parte da família e amigos nesta fase complexa da vida (PAPALIA, OLDS e FELDMAN, 2010). Os danos causados pela falta de relações afetivas durante esse período de construção de particularidades individuais, se manifestam na fase adulta com distúrbios, e iniciando na adolescência, com atitudes agressivas, isolamento, depressão e outras perturbações decorrentes disto (SCHNEIDER, 2005). Segundo Mosqueira (1977, p. 40 apud SCHNEIDER, 2005, p.90): É significativa a influência familiar sobre as atitudes e metas dos adolescentes. A família transmite, avalia e interpreta, para a criança, a cultura. Os valores, tanto pessoais como sociais, partem da família, e também as relações interpessoais e sistemas de mando. De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2010), o desenvolvimento de crianças e jovens não ocorrem do nada e nem do vazio, portanto a família, amigos e a escola cumprem um papel fundamental na vitalidade física e psicológica dos mesmos. 3.1.1 Perfil de crianças e adolescentes em situação de risco Avaliações comprovam que um grande número de crianças e adolescentes brasileiros não desfrutam dos direitos a proteção integral como apontado no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) deferido em 1990. O alto índice de desigualdade social encontrada no país é o grande vilão desse problema, pois uma parcela da população se encontra em situação de extrema pobreza econômica, social e familiar (TRINDADE e SILVA, 2005). Da população brasileira, cerca de 34% são crianças e adolescentes, onde em números isso representa 57,1 milhões de indivíduos. Aproximadamente 48,8% e 40% de crianças e adolescentes, respectivamente são classificados como carentes ou pobres, por que vivem em famílias onde o rendimento é muito abaixo da média (SILVA, 2004). Segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2018), no Brasil por lei é permitido a entrada no mercado de trabalho a partir de dezesseis anos, no entanto uma pesquisa realizada em 2002, verificou-se que cerca de 3,1 milhões de crianças e jovens entre dez a quinze anos trabalham diariamente. Já na faixa etária de cinco a nove anos de idade, cerca 29 de 281 mil crianças exercem alguma atividade remunerada. Ainda em escala federal cerca de 16,5% de famílias que possuem crianças, uma trabalha. A atividade infantil remunerada, está essencialmente conectada a situação econômica e social da família. Dados levantados apontam que a maior parcela de crianças e adolescentes entre cinco a dezessete anos que trabalham, são pertencentes a famílias com ganhos mensais abaixo da média, sendo até ¼ de um salário mínimo por morador. O maior índice de crianças da classe baixa trabalhando no Brasil encontra-se no Nordeste, com aproximadamente 40,1%. Normalmente o trabalho infantil ocorre para acrescentar os rendimentos da família. Esse exercício de trabalhar acaba interferindo na escolaridade da criança e do adolescente, muitas vezes prejudicando o aprendizado ou ocasionando a desistência ou abandono (IBGE, 2018). Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em algumas instituições de acolhimento para crianças e adolescentes no Brasil, relatou o perfil das crianças que se encontravam em estado de atendimento. Aproximadamente vinte mil crianças e adolescentes assistidos pelas 589 entidades de acolhimento examinadas, relatou-se que a maior parcela é de meninos (58,5%), negros (63%) e entre sete a quinze anos de idade (61,3%). As principais causas de acolhimento dessas crianças e jovens, ocorre pela falta de estrutura familiar (24,1%); rejeição e desprezo pelos responsáveis (18,8%); violência física e exploração (11,6%); responsáveis dependentes de drogas (11,3%); desabrigo na rua (7,0%); abandono ou órfãos (5,2%); cárcere privado de responsáveis (3,5%); abuso sexual cometido por responsáveis (3,3%) (SILVA, 2004). Ainda sobre a pesquisa, com vinculação ao analfabetismo, adolescentes assistidos de quinze a dezoito anos apresentaram uma taxa de 16,8% de analfabetismo, ou seja, que não sabiam ler ou escrever, sendo alta comparada com a nacional que é cerca de 3% (SILVA, 2004). O aumento da violência ou outras formas de maus tratos e negligências está inteiramente ligado ao abismo das diferentes classes sociais, ou seja, a enorme desigualdade encontrada no país, tanto relacionado ao econômico com a pobreza e o cultural, com a falta de incentivos. Dentre esses apontamentos a propagação de crimes e drogas e as altas taxas de desemprego ajudam a disseminar pelo país atos agressivos (ARAÚJO, 2002). De acordo com Day et al. (2003), no mundo todo independente da cultura, sexo ou raça, crianças e adolescentes sofrem agressões físicas domésticas diariamente, ocorrendo de forma global e em crescimento gradativo. Há diversos tipos de violências ou abusos, sendo elas classificadas em: violência física, onde o responsável exerce ações de forças contra a criança, vai desde uma palmada até uma 30 surra ou assassinato; violência sexual, o ato sexual com uma criança menor de quatorze anos, independente do consentimento; violência psicológica, sendo a mais comum, quando o responsável ameaça ou intimida a criança ou jovem; e por fim negligência, a mesma corresponde a falta de cuidados mínimos como alimentação, documentação, medicação e proteção (DAY, et al., 2003). Segundo Priore (2008), as atrocidades cometidas a crianças e adolescentes infelizmente aparecem em números, taxas ou dados, sendo eles a exploração do trabalho infantil, o abuso sexual de meninos e meninas, a utilização de menores no tráfico de drogas ilícitas e outras formas de violência. Habitualmente essas crianças pertencem a classe baixa econômicae social, muitas vezes sendo forçadas a realizarem, ou pela própria necessidade. Não somente no Brasil, mas no mundo todo como, na Colômbia crianças trabalham em jazidas de carvão; na Índia as fábricas de tecidos compram crianças de seis anos para trabalho; na Tailândia aproximadamente duzentas mil crianças são arrancadas do seio familiar para servir a obsessão de pedófilos; na Inglaterra crianças dos subúrbios são ensinadas e preparadas a matar a outras crianças, conhecidos como baby killers (assassinos de bebê); na África aproximadamente 40% de crianças de sete a quatorze anos são exploradas com trabalho infanti l (PRIORE, 2008). Os relatos de acolhimentos de crianças e adolescentes abandonados geralmente são procedentes de famílias com condições econômicas baixa, ou seja, pobres, determinado pelo desprezo do incapaz por conta de não poder garantir as condições mínimas para vivênc ia (PASSETTI, 2008). A população que mora em periferias, mas conhecidas atualmente como favelas, onde pessoas residem em cortiços, barracos, edificações improvisadas e entre outras formas de habitação, constituem a maior parte da demanda do serviço social de acolhimento. Essas crianças que vivem nessa situação geralmente não tem uma base familiar formada, comumente há falta de mantimentos necessários para a sobrevivência, não frequentam regularmente a escola, encontram-se ausência de aspectos culturais, psicológicos, sociais e econômicos, propiciando esses indivíduos a entrarem no mundo do crime, caso não haja uma intervenção (PASSETTI, 2008). Segundo Silva (2004), a condição econômica por si só não é responsável pelo atentado as garantias de crianças e adolescentes. Há relatos de violência dentro de famílias pertencentes a classe média e alta, não sendo apenas um aspecto somente da família pobre, evidenciando então que nenhuma criança está livre de sofrer agressões ou abusos por questões econômicas, 31 mas, contudo, as chances de infantes pertencentes a essas classes são muito menores com relação a crianças carentes. De acordo com Passetti (2008), dados informam que os próprios pais, independentes da condição econômica são os principais responsáveis pela violência física e sexual sofrida pelos seus filhos, esses fatos ocorrem tanto em países pobres subdesenvolvidos, como em países ricos, superdesenvolvidos. Um grande indicador de risco para as crianças é a idade, sendo que quanto menor a idade e a incapacidade de se proteger, maiores são os riscos e as chances de violência ou abusos sobre um indivíduo da puerícia (TRINDADE e SILVA, 2005). Portanto é de suma importância investigar quais os motivos ou razões para a ocorrência de atos violentos contra infanto-juvenis no seio familiar. De acordo com Amaro (2003, p.66), alguns fatores beneficiam a criação de situações de riscos sendo eles: História familiar passada ou presente de violência doméstica; Famílias cujos membros sofrem perturbações psicológicas como baixa tolerância à frustração, baixo controle de impulsos, dependência de álcool e/ou drogas, ansiedade crônica e depressão, comportamento suicida, baixa autoestima, carência emocional, desordens de personalidade doenças mentais e problemas de saúde; Despreparo para a maternidade e/ou paternidade de pais jovens, inexperientes ou sujeitos a uma gravidez indesejada; Famílias que adotam práticas de educação muito rígidas e autoritárias, podendo um determinado ato da criança resultar em surras ou castigos físicos; Famílias fechadas, que evitam desenvolver intimidade com pessoas de fora do pequeno círculo familiar; Famílias/familiares que desenvolvem práticas hostis, desprotetoras ou negligentes em relação a crianças (não gostam de crianças; pensam que crianças são “adultos em miniatura”), que consideram a criança irritável, hostil e exigente, que não entendem e se sentem incomodadas com a dependência da criança, que exigem mais do que o corpo e a formação psicossocial da criança podem alcançar; Fatores situacionais como parto difícil; separação da criança após o parto, expectativas distorcidas e irreais em relação à criança, criança do sexo indesejado, criança portadora de alguma doença; estresse em função de alguma crise econômica, no trabalho ou conjugal. Conforme Silva (2004), a pobreza não é o único fator que potencializa as formas de violência e abuso que muitas crianças e adolescentes sofrem, mas, contudo, ela é uma das grandes responsáveis, conforme uma pesquisa realizada pelo IPEA e Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) no ano de 2004, verificou-se que 52% dos acolhimentos ocorrem pela falta de condições econômicas nas famílias, pois desencadeia problemas como dificuldade de sobrevivência, vulnerabilidade, fome e entre outros fatores de risco, criando assim um índice de infanto-juvenis pobres com mais chances de sofrerem agressões e abandonos. 32 3.1.2 Consequências causadas pela violência e abusos na infância e adolescência Qualquer tipo de violência sofrida por uma criança ou adolescente tem consequências desastrosas. As lesões podem ser identificadas como primária e somando com aspectos psicológicos e físicos podendo se estender e se transformar em lesões secundárias, dificultando cada vez mais o atendimento e aceitação (TRINDADE e SILVA, 2005). Maus-tratos pode ser considerado um modo de dispor a criança ou jovem em uma circunstância de perigo, prejudicando consideravelmente seu desenvolvimento. É a forma que um indivíduo mais forte se opõem a um mais fraco, negando obrigações mínimas de segurança e afeto (JESUS, 2005). Segundo Maciel (2017), definição para punição física é toda ação de força física de forma proposital, realizada pelos pais ou responsável contra uma criança ou adolescente de até 18 anos, podendo deixar marcas visíveis ou não. A mesma tem intenção de lesionar ou machucar, e ocorrem de forma não acidental, ou também por conta de ações negligenciadas como falta de cuidados mínimos. A punição física aparece de diversas maneiras, podendo ser agressão física, violênc ia sexual e incúria. A negligência ocorre quando os responsáveis não provêm de obrigações mínimas para a criança ou jovem, como alimentação apropriada, vestimentas, cuidados médicos quando necessário, segurança e entre outras condições. As evidências de que uma criança não está sendo bem cuidada aparece em seu estado físico, como má nutrição, fraqueza, higiene escassa, roupas inapropriadas e entre outros exemplos (JESUS, 2005). Em nível fisiológico, a falta de cuidados pode provocar desnutrição, hipotrofia estaturo-ponderal, abscessos, infecções cutâneas, lesões físicas etc. e a carência, em termos afetivos (falta de amor, de proteção, de estabilidade de relações de estimulações), podem causar perturbações do comportamento e distúrbios emocionais (JESUS, 2005, p. 155). O local mais depreciado do corpo de uma criança que sofre maus-tratos físicos é a pele, essas agressões podem ocasionar hiperemia, escoriações, ferimentos e queimaduras. Outras partes corporais que sofrem muito com essas ações negligenciadas são, o esqueleto, o sistema nervoso e os órgãos localizados na parte abdominal. Ainda, a consciência e o coração do indivíduo agredido, serão sempre os elementos mais lesionados, pois, as agressões psicológicas muitas vezes atingem e ferem mais do que as físicas, ou as mesmas somadas causam estragos ainda maiores (MACIEL, 2017). Conforme Sanchez e Minayo (2006), a parte estrutural, ou seja, o esqueleto do indivíduo que sofre alguma agressão física, pode ocasionar excisões e faturas nos ossos e componentes 33 associados, variando muito o nível degravidade dos ferimentos. Já as lesões cometidas e atingidas no sistema nervoso resultam em equimose cerebral, que podem comprometer a estrutura óssea do crânio e complexos internos, acarretando em hemorragias e convulsões. Dependendo do tipo de violência exercida sobre uma criança e um adolescente, muitas sequelas podem ficar a longo prazo, como perda parcial ou total da visão e audição. Uma das formas mais sérias de violência corporal contra uma criança ou adolescente é a conhecida Síndrome do bebê sacudido, “ [...] caracteriza-se por lesões de gravidade variáve l, que ocorrem quando uma criança, geralmente um lactente, é severa ou violentamente sacudida” (DAY et al., 2003, p. 14). De acordo com Sadigursky e Magalhães (2002 apud SANCHEZ e MINAYO, 2006), outra forma de violência contra crianças e adolescentes, é a violência sexual, essa geralmente é cometida dentro de casa e principalmente contra meninas, e os principais abusadores são o pai, padrasto ou conhecidos do círculo familiar. O abuso sexual geralmente acarreta em uma gravidez indesejada, ocasionado um aumento considerável no número de abortos ilícitos, ou seja, praticados de forma ilegal, transmissão de doenças sexualmente transmissíveis (DST), fuga de casa e consequentemente o crescimento do número de crianças e jovens morando nas ruas sem condições mínimas de sobrevivência. Uma pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde em 2002, informou que no mundo todo, crianças do sexo feminino evidenciam mais riscos com relação a violência sexual, infanticídio, violência física e incúria, bem como a prostituição obrigada. Mas a mesma destaca, que meninos apontam mais riscos com relações a violência física mais severa, ou seja, de forma mais cruel (DAY et al., 2003). Em consequência de situações em que a criança foi abusada sexualmente, a prostituição é uma decorrência, além de abalar a limite psicológico, criando distúrbios como depressão, anti sociabilidade, pânico, traumas, dificuldade no aprendizado e entre outras perturbações, que impactam diretamente a vida dessa criança e transcendem até a vida adulta (JESUS, 2005). Conforme Day et al. (2003), com relação as manifestações e consequências que uma criança ou adolescente sofre por conta de abusos sexuais, elas se apresentam com efeitos de curto prazo, sendo: ações sexuais compulsivas; transtornos durante o sono e período escolar, nutrição e socialização; obsessão por banhos; indícios de doença mental; ansiedade, neuroses, depressão; atividades repetitivas; sentimentos de negação, desprezo, vergonha e insegurança. E de longo prazo com: consumo excessivo de álcool e sustâncias; prostituição; problemas sexuais 34 e hormonais; ações de violência ou abuso sexual com filhos ou crianças desconhecidas; comportamento suicida; sentimento de culpa, remorso, humilhação e constrangimento. Muitas pesquisas vêm vinculando a agressão e abuso físico com a delinquência, pois a mesma intenciona a criação de sentimentos obscuros, indefinidos ou rancorosos, como ansiedade, ódio, temor e rivalidade (SANCHEZ e MINAYO, 2006). Já com relação a violência psicológica ou emocional, Jesus (2005) relata neste campo, a privação de relações afetivas e a desconsideração das necessidades mentais, dificultando o desenvolvimento da criança na parte de socialização e aprendizado. A forma de violência psíquica, uma das mais comuns, inicia-se quando os pais ou responsáveis menosprezam, inferiorizam ou intimidam a criança ou adolescente, com ameaças de desabrigo e rejeição. Com isso, muitas destas crianças desenvolvem abalos emociona is, tornando-se pessoas suspicazes e raivosas (SANCHEZ e MINAYO, 2006). Segundo Sanchez e Minayo (2006), na questão emocional, dependendo do tipo de agressão sofrida e por quem foi cometida, as crianças abusadas e agredidas tem maior dificuldade em relação ao aprendizado. Observa-se também perturbações no comportamento, como hiperativismo, traumas, pânicos, automutilação, práticas precoces com relação a atos sexuais, dificuldades de socialização e entre outras formas de distúrbios. Dentre as formas de violência ou abuso que uma criança ou adolescente pode sofrer, as manifestações psicológicas podem-se dividir em impactos conforme sua exposição, podendo ser imediato ou tardio: Danos imediatos: pesadelos repetitivos; ansiedade, raiva, culpa, vergonha; medo do agressor e de pessoa do mesmo sexo; quadros fóbico-ansiosos e depressivos agudos; queixas psicossomáticas; isolamento social e sentimentos de estigmatização. Danos tardios: aumento significativo na incidência de transtornos psiquiátricos; dissociação afetiva, pensamentos invasivos, ideação suicida e fobias mais agudas; níveis intensos de ansiedade, medo, depressão, isolamento, raiva, hostilidade e culpa; cognição distorcida, tais como sensação crônica de perigo e confusão, pensamento ilógico , imagens distorcidas do mundo e dificuldade de perceber realidade; redução na compreensão de papéis complexos e dificuldade para resolver problemas interpessoais (DAY et al., 2003, p. 14). Como forma de revidarem a violência ou abuso sofrido, frequentemente crianças e adolescentes cometem tentativa de autocídio, consumo em excesso de álcool e drogas, fugas tanto de casa quanto da escola. Todos esses problemas são decorrentes de um processo psicológico que as mesmas desenvolvem por conta dos maus-tratos, podendo se transformar em uma depressão de alto grau (JESUS, 2005). Para avaliar e compreender os impactos psicológicos que qualquer tipo de violência ou abuso causam na vida de uma criança ou jovem, Trindade e Silva (2005), realizaram uma 35 pesquisa em Santa Maria – RS no ano de 2003, com um total de 17 entrevistados, sendo 8 crianças de cinco a doze anos, e 9 adolescentes de doze a dezessete anos. Com o intuito de saber quais efeitos e sentimentos repercutiram depois desses eventos. Entre os maiores percentuais, cerca de 60% das vítimas, consideraram como pior lembrança as marcas ou cicatrizes deixadas pela violência ou abuso. Em seguida o sentimento de vergonha, aproximadamente 35,30% das vítimas admitiram sentir como um fator de consequência. E cerca de 35% das vítimas relataram desenvolvimento de medo ou pânico após os acontecidos (TRINDADE e SILVA, 2005). Desta forma, os impactos e as consequências derivadas de agressões ou abusos na infância ou adolescência, causam danos para a vida toda do indivíduo, como lesões físicas e psicológicas. Ainda que este problema esteja presente em todas as classes sociais, é conveniente ressaltar que a pobreza potencializa atitudes violentas contra menores e a ocorrência de transtornos psicológicos. Em números, a ameaça de maus-tratos acresce 22 vezes mais, a incúria pedagógica aumenta 56 vezes mais e o risco de homicídios se eleva 60 vezes mais com relação as classes sociais média e alta (DAY et al., 2003). De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2010), algumas características e propriedades resultantes em adultos, se devem aos momentos vivenciados durante a infância de uma criança e adolescência de um jovem, como o período da criação, cuidados ou afetos e o sucesso da relação matrimonial dos pais. Esses fatores têm efeitos no desenvolvimento infantil, sendo levados para a vida toda. 3.1.3 Processos judiciários da retirada provisória ou definitiva da guarda O ECA foi criado nos anos de 1990 no Brasil, e legitimado pela Lei Federal de n° 8,069, onde busca proteção integral a todas as crianças e adolescentes menores de dezoito anos, sendo esta uma obrigação pública (JESUS, 2005). De acordo com Grajew (2012), os Conselhos Tutelares são mediadores no processo de acolhimento, e devem sempre trabalhar
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