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Clássicos da Liberdade #1 – John Stuart Mill – Academia dos Cérebros

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academiadoscerebros.com.br
Clássicos da Liberdade #1 – John Stuart Mill
– Academia dos Cérebros
11-14 minutos
Revisar os pensamentos de John Stuart Mill torna-se
extremamente necessário no atual momento político. Contra o
sectarismo e o radicalismo, Mill contrapõe a tolerância, a
pluralidade de ideias e a defesa da liberdade.
Mill foi o primeiro parlamentar britânico a propor que as
mulheres deveriam ter direito ao voto. Além disso, foi um forte
opositor da escravidão. Para o autor, todas as pessoas
deveriam ter voz. Participar dos debates políticos, em um
ambiente de liberdade, tolerância e empatia, incentivaria a
evolução intelectual dos indivíduos, e, ao permitir que os
indivíduos atinjam seu maior potencial, fortaleceria a
sociedade como um todo – que, nada mais é, que a soma de
muitos indivíduos.
Parte significativa do pensamento de Mill é baseado nos
princípios do utilitarismo – isto é, de que toda política deve
buscar máxima felicidade possível para o máximo possível de
pessoas. Na sua definição de felicidade, Mill adota uma
posição diferente de Jeremy Bentham, o pai do utilitarismo,
para o qual a definição de felicidade era algo pessoal. Mill, ao
contrário, adota uma posição mais prescritivista, criando uma
hierarquia de fontes de felicidade, afirmando que a felicidade
oriunda de prazeres intelectuais era superior à felicidade
oriunda de outras fontes. Uma das falhas do autor, em minha
opinião, pois implica a aceitação de que uma pessoa pode ser
capaz de definir o que melhor faria OUTRA pessoa feliz – esse
erro é diminuído, entretanto, pelo fato de Mill considerar que,
apesar de existirem formas superiores de felicidade, cada
pessoa deve ser livre para perseguir qualquer tipo de
felicidade que lhe convier. Partindo desses pressupostos, os
utilitaristas consideravam que o Estado deveria garantir as
condições necessárias dos homens buscarem sua felicidade
–a liberdade é a base da felicidade.
Na obra “On Liberty”, Mill expõe sua teoria sobre a liberdade.
A maior preocupação do autor é limitar o poder da sociedade
sobre o indivíduo. Não somente do governo sobre os
indivíduos, mas de qualquer instituição social que exercesse
uma limitação da liberdade individual.
O pensamento de Mill é muito complexo, tentarei, entretanto,
resumir alguns pontos principais.
1- Definição da liberdade e seus limites
Para Mill, devemos ter ”liberdade na busca pelo nosso próprio
bem da forma que melhor nos apetece, desde que não
interfira na possibilidade de os outros fazerem o mesmo”. O
indivíduo deve, inclusive, ser livre para causar dano a si
mesmo. Mas a liberdade pode ter limitações. A única ocasião
em que o poder estatal poderia ser exercido contra o
indivíduo seria para evitar o dano a outros indivíduos (esse é
o famoso “harm principle” – “The only purpose for which
power can be rightfully exercised over any member of a
civilized community, against his will, is to prevent harm to
others.”). A definição de “dano”, entretanto, é complexa. Em
seu livro Mill aceita a ideia de “dano por omissão” – por
exemplo, deixar de pagar impostos causa um dano à
sociedade e, portanto, tal omissão pode ser punida pela força.
Esse princípio, se interpretado de forma extensiva, pode ser
extrapolado de maneiras perigosas e que limitam
exageradamente a liberdade, criando diversas obrigações
coletivistas em nome de um “bem comum”. Afinal, o que mais
poderia ser considerada uma omissão que prejudica o bem
comum? Praticamente qualquer coisa, dependendo da
argumentação. Além disso, quem definiria o que é o bem
comum? A maior parte dos intérpretes sérios de Mill,
entretanto, são modestos na aplicação do harm principle,
permanecendo fiéis aos pensamentos do autor, que buscava
maximizar a liberdade.
2- A importância da liberdade de expressão e da tolerância
Mill é um defensor radical da liberdade de expressão. Para ele,
mesmo opiniões claramente falsas merecem ser protegidas.
Ao criar um ambiente de liberdade, em que diversas opiniões,
algumas verdadeiras e outras falsas, competem, cria-se um
ambiente propício para chegar-se à verdade e, mais
importante, para os indivíduos exercerem sua razão e
progredirem intelectualmente. Para Mill, portanto, a verdade,
em um ambiente de liberdade, triunfaria sobre as mentiras e
as opiniões equivocadas. A única exceção para essa liberdade
de expressão, é, novamente, o “harm principle”. Caso alguém
grite, em um auditório lotado, “fogo!”, essa liberdade de
expressão causaria dano à outras pessoas. Deve, portanto,
ser limitada. Essa limitação tem a ver não com o que foi dito,
mas sim com a possibilidade de causar ou não danos. Caso
alguém gritasse fogo, em uma situação em que todos os
indivíduos teriam condições de analisar concretamente que
não há fogo, essa expressão deveria ser permitida, mesmo
sendo falsa. A existência de muitas opiniões diferentes
fortalece a sociedade, de acordo com Mill, pois cria um
pluralismo de ideias em competição, incentivando uma
constante evolução intelectual das ideias e dos indivíduos.
3 – A tirania da maioria
Mill era cético quanto à ideia de democracia absoluta. Para
ele, a ideia de que a maioria da população era soberana
poderia gerar regimes capazes de cometer inúmeras
atrocidades. Bastaria, por exemplo, que a maior parte da
população desejasse oprimir uma outra parte da população
para a tirania da maioria se estabelecer. Por isso, todo
governo deve ter por base o respeito aos indivíduos e deve ter
sua capacidade de ação severamente limitada por princípios
naturais e filosóficos, inscritos, por exemplo, em uma
constituição. Somente com um governo com poder limitado –
que respeite os indivíduos e a liberdade de buscar-se a
felicidade – a democracia seria possível.
4- Defesa dos direitos das mulheres
Mill escreveu, em 1869, em co-autoria com a filósofa Harriet
Taylor(sua mulher) um livro em que defendia o direito de voto
às mulheres. Para essa época, o livro era muito progressista.
Eles, por exemplo, atacaram o argumento que dizia que as
mulheres são naturalmente piores do que os homens em
determinadas atividades(como a política e a ciência)
afirmando que é justamente o machismo da sociedade que as
impedem de se quer tentarem serem boas nessas atividades.
Critica, também, a forma como a instituição do casamento era
desigual, já que dava inúmeros direitos ao homem e
pouquíssimos à mulher: era comum, por exemplo, que os
salários das mulheres fossem pagos aos seus maridos, não a
elas. O casamento entre Stuart Mill e Harriet Taylor foi muito
incomum para a época, já que fizeram questão de que a
igualdade de direitos fosse garantida por meio de um
contrato. Stuart Mill se destaca, dentre os liberais iluministas,
por essa posição, que era muito incomum na época. Basta
lembrar que, apesar de Mill ter feito uma proposta no
parlamento para permitir o voto das mulheres em 1865, as
mulheres só conseguiram direito de voto na Inglaterra em
1918.
5- O pensamento de Mill sobre política externa – a não-
intervenção
No contexto da Guerra da Crimeia e da construção do canal
de Suez, Mill escreve o livro “A Few Words on Non-
Intervention”, em 1859. Nesse livro, Mill defende o princípio
da não intervenção, afirmando que “Ir à guerra por uma ideia,
se a guerra é agressiva, não defensiva, é tão criminoso
quanto ir à guerra por território ou lucros; pois é injustificável
forçar nossas idéias sobre outras pessoas, obrigá-las a se
submeterem à nossa vontade, em qualquer aspecto”. Mill se
posiciona contra intervenções, mesmo que com boas
intenções, afirmando que: “raramente há algo que se
aproxime da garantia de que a intervenção, mesmo que bem
sucedida, seria para o bem das pessoas”. Ao tratar sobre a
possibilidade de uma intervenção para liberar um povo da
tirania, o Inglês afirma: “Mas o mal é que, se esse povo não
tiver suficiente amor à liberdade para poder conquistá-la
frente aos opressores domésticos, a liberdade que lhes é
outorgada poroutras mãos(pela intervenção), não terá nada
real, nada permanente”. Essa última reflexão é muito atual,
pois a maior parte das intervenções externas para derrubar
supostas tiranias teve muita dificuldade para implementar a
liberdade e a democracia, causando mais sofrimento que bem
às populações locais – basta ver a atual situação na Líbia, no
Iraque e na Síria.
Até aí tudo bem, pois essas ideias são condizentes com o
resto da filosofia de Mill sobre a liberdade. Mas, então, Mill
defende algo polêmico: afirma que existem nações e culturas
civilizadas e, de outro lado, nações bárbaras(ele cita as
nações africanas e asiáticas), e que somente as nações
civilizadas são merecedoras desses “direitos naturais”. Ao
tratar com nações bárbaras, portanto, seria aceitável a guerra
e a intervenção. Esse pensamento, tão anti-liberal, tem
origem nos preconceitos da época, cuja maior parte da
intelectualidade considerava o mundo europeu como centro
do mundo, uma espécie de baluarte da civilização. O
darwinismo social se enquadra nesse contexto.
6- Educação Pública
Mill, a princípio, era cético em relação à hipótese do Estado
fornecer a educação aos indivíduos – isso, dizia ele, seria uma
limitação da liberdade. Entretanto, por fim, acabou por
perceber que, sem a educação fornecida pelo Estado, muitas
pessoas não teriam condições de evoluir intelectualmente.
Isso era especialmente válido na Inglaterra, que demorou
muito para desenvolver um sistema de educação pública
similar à da França e à da Alemanha. A educação e a evolução
intelectual dos cidadãos, segundo Mill, deve ser, portanto, um
dos objetivos do Estado – sempre respeitando o livre debate
de ideias e a pluralidade de opiniões.
–
–
–
Por motivos de extensão, optei por deixar algumas
informações sobre Mill de lado, optando por enfatizar os
aspectos que julguei mais importantes. Caso vocês queiram
conhecer mais sobre as ideias desse grande filósofo, indico a
leitura dos seguintes livros:
Sobre a Liberdade – para entender melhor as definições de
Mill sobre a liberdade, e as implicações disso para a política
pública. Esse é o principal livro dele e o que melhor expressa
suas ideias mais conhecidas, de uma forma didática, se
comparada, por exemplo ao “Utilitarism”.
A Sujeição Das Mulheres – para entender como o pensamento
liberal de Mill serviu de base ideológica para a defesa do voto
feminino e dos direitos iguais para as mulheres.
Utilitarianism – para entender, especificamente, as reflexões
de Mill sobre a felicidade. Um livro bem mais filosófico e
denso que os outros dois.
A Few Words on Non-Intervention – nesse pequeno ensaio,
Mill expressa suas ideias sobre o princípio da não-
intervenção. Recomendo a leitura para quem se interessa por
política externa, especialmente por ser um ensaio tão curto.
Princípios da Economia Política – caso queira entender o
pensamento de Mill sobre economia. Nesse livro, Mill faz
análises culturais e filosóficas sobre os rumos econômicos
que a sociedade deve tomar. Apesar de suas ideias serem
majoritariamente da escola clássica, há alguns poucos
princípios fisiocraticos e mercantilistas presentes no livro.
Trata-se de um livro um pouco mais denso, em que ele faz um
apanhado geral das teorias econômicas desenvolvidas
anteriormente, recomendo a leitura somente para quem
realmente quiser se aprofundar no pensamento de Mill e já
tiver leituras prévias de história do pensamento econômico.
Rafael Galera é um diplomata brasileiro. As opiniões
expressas nesse texto e nessa página, entretanto, são
exclusivamente pessoais, não representando, em hipótese
alguma, as posições do Ministério das Relações Exteriores ou
do Governo Brasileiro.

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