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2- Paulo_Marcos_F._Andrade_ANÁLISE DE INCONSTÂNCIA DOS BENS DO MUNDO GREGÓRIO DE MATOS

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UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE LINGUAGENS
DEPARTAMENTO DE LETRAS
CURSO DE LETRAS
LETERATURA BRASILEIRA I
Barra do Bugres, MT.
2014
ATIVIDADE 3
Leia o soneto de Gregório de Matos para responder as perguntas:
INCONSTÂNCIA DOS BENS DO MUNDO
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
A. Neste texto, Gregório discorre sobre o quão efêmero são os bens do mundo. Para tanto, utiliza-se de uma linguagem rica em figuras próprias do período Barroco, dentro da chamada linguagem cultista. Identifique tais figuras e comente sobre seu valor para a construção do sentido no poema.
É interessante como autor brinca com as palavras para dar sentido à sua mensagem no texto. Vemos que ele faz um jogo ora de semelhança ora de oposição, isso enriquece a trama dando semântica às palavras que se organizam no interior de cada sentença. Esse dualismo de semelhança e oposição se organiza da seguinte maneira: Semelhança sol/ luz, formosura/ alegria, beleza/ firmeza. Oposição nasce/morre, dia/noite, tristezas/ alegria, constância /inconstância. O primeiro grupo de palavras forma as metáforas utilizadas por Gregório. Em vários momentos a linguagem fornece múltiplos sentidos na construção, sendo estes características metafóricas. Na oposição temos a antítese evidenciando o estilo detalhista do barroco. 
Percebemos um ar de ironia neste primeiro verso “Nasce o Sol, e não dura mais que um dia”. O eu- lírico se refere ao Sol que nasce e logo morre, parece que ele evidencia aí o quanto a nossa vida também é tão singular, efêmera e passageira, pois nascemos e certo que vamos morrer. A presença da conjunção e estabelece a contrariedade e o lamento humano com esta vida efêmera, todavia a segunda e a terceira estofe se iniciam com as conjunções, porém e mas, talvez como uma tentativa do eu - lírico em fazer o leitor concordar com seu discurso. Um recurso fantástico usado por Gregório é a interrogação, que assim se apresenta em sua produção:
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
A presença destas interrogações em uma seqüência de versos nos convidam à uma reflexão do quanto as coisas deste mundo são efêmeras, ou seja tem um caráter finito que lateja aos nossos olhos perplexos. A ambigüidade também está presente no soneto como se pode perceber no seguinte verso: Como o gosto da pena assim se fia? Aqui destacamos as palavras pena e fia. A primeira, ao mesmo tempo em que nos sugere o sentimento de tristeza, compaixão, também indica a pena do escritor que brinca com semântica das palavras. Quanto à segunda que aponta para a ação de fiar, atitude daquele que trabalha com fuso de fios, também evidencia a as possibilidade da trama que se constrói pela mãos do poeta. O que está em jogo são as próprias possibilidades que o leitor tem de interpretar e refletir sobre os diferentes sentidos das palavras na sentença textual e o sentido que eu - lírico quer evidenciar. E por fim um paradoxo em “A firmeza somente na inconstância”, onde o eu - lírico provoca o leitor a concordar com ele que na vida a única certeza que se tem é das inconstâncias. Este detalhismo e o exagero são características desta produção literária que evidencia a dúvida do homem .
B. Na última estrofe o poeta conclui sua exposição, dizendo que a ignorância está na origem de tudo. Tendo em vista o contexto do homem barroco, comente essa passagem.
O barroco evidencia um homem que assume uma consciência de que todas as coisas da vida são efêmeras, passam e deixam apenas as angústias de um sentimento avassalador que marca a passagem do transitório e instável. Penso que este homem era marcado pela contradição e muito influenciado pela religião que o convidava a todo o momento para renunciar a transitoriedade e buscar a eternidade, a imutabilidade. Com o verso “A firmeza somente na inconstância” o autor nos coloca num diálogo comovente a cerca destas questões, e se vale da multiplicidade de sentidos da rigorosa organização das palavras para colocar de fato o leitor de forma efetiva na reflexão desta temática.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FERREIRA, Nádia Paulo. Poesia Barroca. Antologia do século XVII em língua portuguesa. Rio de Janeiro: Ágora da Ilha, 2000.
MERQUIOR, José Guilherme. O Barroco, primeiro estilo da cultura ocidental moderna. In: –––. De Anchieta a Euclides. Breve história da literatura brasileira I. Rio de Janeiro: José Olympio, 1977, p. 10- 16.

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