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Filosofia do Direito - MSB 
FORMAS DE CONHECIMENTO
O Senso comum e bom senso
O senso comum é o conhecimento adquirido pela tradição. A esta herança cultural de nosso grupo (idéias e valores que nos permitem conhecer e julgar, e, logo, agir), acrescentamos os resultados de nossa experiência vivida. Este conhecimento não é objeto de análise, sendo, assim, não crítico, encontrando-se misturado a crenças e preconceitos. É também um conhecimento fragmentado (difuso, assistemático e incoerente). As aparências também influenciam a formulação deste conhecimento. Ele é ainda particular (na sua formulação, mas com pretensões a generalidade), subjetivo (depende das impressões do sujeito) e conservador (resiste à mudança).
	Ë claro que nem tudo o que adquirimos através de nossa herança cultural ou que aprendemos através de nossa vivência é um conhecimento negativo. O bom senso é a elaboração coerente do saber, baseada na sistematização de nossas experiências. 
O Conhecimento Mítico / Mito
Um mito é uma narrativa sobre a origem de alguma coisa (da Terra, dos homens, das plantas, dos animais, do fogo, da água, dos ventos, do bem e do mal, da saúde e da doença, da morte, das raças, das guerras, do poder, etc.).
Ele não se resume a uma fórmula fantasiosa de explicar a realidade ainda não justificada pela razão. A noção de mito é mais complexa. O mito ainda faz parte da nossa vida cotidiana, como uma das formas indispensáveis do existir humano.
De acordo com Mircea Eliade, que estudou os mitos em sociedades onde elas constituem-se como explicação principal da realidade, ele possui as seguintes características
1 – constitui a História dos atos dos Entes sobrenaturais; 2 – uma História considerada verdadeira (porque refere-se a realidades) e sagrada (porque é obra de Entes Sobrenaturais); 3 – se refere sempre a uma “criação” descrevendo como algo veio a existência, ou como um padrão de comportamento, uma instituição, maneira de trabalhar foram estabelecidos; constituindo-se paradigmas de todos os atos humanos significativos; 4 – conhecendo-os, conhece-se a “origem” das coisas, podendo-se dominá-las e manipulá-las; não se trata de um conhecimento “exterior”, “abstrato”, mas de um conhecimento que é vivido ritualmente; 5 – o mito é vivido, no sentido de que se é impregnado pelo poder sagrado e exaltante dos eventos rememorados ou ritualizados.
	Enquanto processo vivo de compreensão da realidade, o mito surge como verdade. Quando pensamos em verdade, é comum nos referimos às explicações racionais em que a coerência Iógica é garantida pelo rigor da argumentação e da exigência de provas. Mas não é essa a verdade do mito, que é verdade intuída, isto é, percebida de maneira espontânea, sem exigência de comprovações. O critério de adesão do mito é a crença, e não a evidência racional. Ao entrar em contato com o mundo, o homem não é apenas uma "cabeça que pensa" diante de um "mundo como tal". Entre os dois existe a fantasia, a imaginação. Portanto, antes de interpretar o mundo, o homem o deseja ou o teme. Nesse sentido, volta-se para ele ou dele se oculta. 
Funções do mito
 	Ao falar de mito neste texto, nosso interesse é sua relação com o conhecimento. Entretanto, sua função fundamental é fornecer explicações com o objetivo de tranqüilizar o homem diante de um mundo que lhe parece assustador. Os mitos também fixam os modelos exemplares de todas as atividades humanas importantes. Dessa forma, ao repetir nos mitos as ações dos deuses, imitam os seus gestos exemplares. Ao repeti-las elas são revividas, como se os ancestrais estivessem ali novamente realizando mais uma vez os atos representados. Toda festa religiosa não é uma simples comemoração, mas torna-se a ocasião em que o sagrado acontece novamente e representa a reatualização do evento sagrado que teve lugar no passado mítico, "no começo"
 	Ao agir dessa forma, o homem primitivo imita os deuses nos ritos que atualizam os mitos primordiais, pois, caso contrário, estão convencidos de que a semente não brotará da terra, a mulher não será fecundada, a árvore não dará frutos, o dia não sucederá à noite.
 	A consciência mítica é uma consciência resultante da vida comunitária. O homem primitivo não consegue perceber-se como um sujeito propriamente dito. Sua vida confunde-se com a vida da coletividade. Assim, não é ele que comanda sua ação, já que sua experiência não se separa da experiência da comunidade, mas se faz por meio dela. A decorrência desse coletivismo é o dogmatismo: a consciência mítica é não é crítica, desprovida de problematização e supõe a aceitação tácita dos mitos e das prescrições dos rituais. A adesão ao mito é feita pela fé, pela crença.
 	Da visão dogmática decorre a moral dogmatizante, pois, na comunidade que vive sob a preponderância do mito, vimos que a dimensão pessoal se acha submetida ao coletivo, determinando a adaptação sem critica do indivíduo às normas da tradição. Estas concepções só serão alvo de reflexão crítica com o advento de formas racionais de compreensão do mundo. Elas dessacralizam o pensamento e a ação (isto é, retira dele o caráter de sobrenaturalidade), fazendo surgir a filosofia, a ciência, a técnica, a religião.
	Isso não significa que o mito desapareceria, de acordo com um esquema evolucionista, como aquele desenvolvido por Augusto Comte, filósofo francês do século XIX e fundador do positivismo. Ele explicou a evolução da humanidade com a teoria dos três estados (o teológico ou religioso, o metafísico ou filosófico e o positivo ou científico), definindo a maturidade do espírito humano pelo abandono de todas as formas míticas e religiosas. Com isso privilegiou o fato positivo, ou seja, o fato objetivo, que pode ser medido e controlado pela experimentação.
 	Assim, Comte opõe radicalmente o mito à razão, ao mesmo tempo em que inferioriza o mito como tentativa fracassada de explicação da realidade. A crítica positivista ao mito mostra-se reducionista. Ela empobrece as possibilidades de abordagens do mundo abertas ao homem. A ciência é necessária, mas não é a única interpretação válida do real, nem é suficiente. Exaltada ao extremo, faz nascer o mito do cientificismo: a crença na ciência como única forma de saber possível e geradora de outros mitos também prejudiciais, como o do progresso, cujo fruto mais amargo é a tecnocracia, e os da objetividade e neutralidade científicas.
 	 
 	
O Mito na Grécia
	Nosso interesse principal não é especificamente nos mitos vivos, e sim nos mitos gregos. Os mitos gregos eram recolhidos pela tradição e transmitidos oralmente pelos aedos e rapsodos, cantores ambulantes que davam forma poética aos relatos populares e os recitavam de cor em praça pública. 
	Para os gregos, o mito era um discurso que era recebido como verdadeiro, em função da autoridade daquela pessoa que operava a narração. Acreditava-se que este narrador, o poeta-rapsodo, era um escolhido dos deuses. Eram os deuses que mostravam ao poeta rapsodo o que havia acontecido no passado, permitindo-lhe ver a origem de todos os seres e todas as coisas para poder depois transmitir aos seus ouvintes. Sua palavra é tida como sagrada porque origina-se de uma revelação divina, sendo inquestionável.
	Os mitos gregos narram a origem das coisas por meio de lutas, alianças e relações sexuais entre forças sobrenaturais que governam o mundo e o destino dos homens. Como os mitos sobre a origem do mundo são genealogias, diz-se que são cosmogonias e teogonias. A cosmogonia (cosmo = mundo e gonia = geração) é a narrativa sobre o nascimento e a organização do mundo, a partir de forças geradoras (pai e mãe) divinas. A teogonia (teo = divino e gonia = geração) é a narrativa da origem dos deuses, a partir de seus pais e antepassados.
	As obras de Homero (séc IX ?) e Hesíodo (séc. VIII a VII a.C.) constituem importantes documentos para entender este período e também o modo de operação dos mitos. A Homero são atribuídas as autorias de dois poemas épicos Ilíada,que trata da guerra de Tróia (Ílion em grego) e Odisséia que relata a volta do herói Ulisses (Odisseus em grego) para sua terra natal, Itaca, após a guerra de Tróia. Nestas epopéias homéricas são descritos vários atos heróicos, ao mesmo tempo em que se verifica como os deuses interferem nestas ações ora para auxiliar ora para perseguir os homens. Em certo sentido, podemos ver nestas epopéias como o homem homérico esta sujeito aos desígnios dos deuses. A obra de Hesíodo embora retratando um período posterior ao homérico, ainda reflete a crença nos mitos. Na Teogonia o autor descreve as origens do mundo e dos deuses. 
	A preocupação comum destes dois autores era aproximar os deuses dos homens, criar um laço entre eles que tornasse a vida terrena mais racional e compreensível. Pode-se afirmar que, de um lado, esta relação valorizava o homem, pois humanizava os deuses que tinham forma e sentimentos humanos e atribuindo ao próprio homem a responsabilidade pelas ações que possibilitariam o desenvolvimento de suas próprias virtudes. De outro lado, estabelecia uma dependência dos homens em relação aos deuses, que eram vistos como imortais e com poderes para interferir nas vidas humanas. Se podemos afirmar que, de uma certa maneira, isto refletia a submissão do homem aos desígnios dos deuses, percebemos também que a vida humana passava a ser vista como tendo uma razão de ser. 
	Outros aspecto importante na obra destes dois autores é que eles buscaram também a compreensão do Universo e de seus fenômenos, por meio da ordenação dos deuses que passaram a ser vistos como existindo dentro de uma hierarquia que limitava, inclusive, seus poderes sobre a vida humana. Na realidade estas narrativas e a abordagem que elas expressam, diferenciam da estrutura do mito tal como definida anteriormente na medida em que através destas narrativas o mundo dos deuses passa a refletir o mundo dos homens e, através da racionalização dos deuses e dos mitos, estabelecia-se na verdade uma racionalidade para a vida humana.
	A partir de uma série de modificações, os gregos desenvolveram uma nova forma de explicar o mundo: a filosofia. Entre os fatores que contribuíram para o surgimento da filosofia, podemos apontar:
A escrita - De início, a primeira escrita é mágica, reservada aos privilegiados (sacerdotes e reis). Na Grécia, a escrita se desliga de preocupações esotéricas e religiosas. Enquanto os rituais religiosos são cheios de fórmulas mágicas, termos fixos e inquestionados, os escritos deixam de ser reservados apenas aos que detêm o poder e passam a ser divulgados em praça pública, sujeitos à discussão e à crítica. Embora a escrita não fosse acessível a todos, é a sua dessacralização, ou seja, seu desligamento da religião, que é a nova característica presente.
A escrita gera uma nova atitude mental porque exige de quem escreve uma postura diferente daquela de quem apenas fala. Como a escrita fixa a palavra, e conseqüentemente o mundo, para além de quem a proferiu, necessita de mais rigor e clareza, o que estimula o espírito crítico. Além disso, a retomada posterior do que foi escrito e o exame pelos outros, não só de contemporâneos mas de outras gerações, abrem os horizontes do pensamento, propiciando o distanciamento do vivido, o confronto das idéias, a ampliação da crítica.
O calendário - que é uma forma de calcular o tempo segundo as estações do ano, as horas do dia, os fatos importantes que se repetem, revelando, com isso, uma capacidade de abstração nova, ou uma percepção do tempo como algo natural e não como um poder divino incompreensível;
A moeda - Nos séculos VII a VI a.C. houve o desenvolvimento do comércio marítimo, decorrente da expansão do mundo grego. O enriquecimento dos comerciantes promoveu profundas transformações decorrentes da substituição dos valores aristocráticos pelos valores da nova classe em ascensão. Na época da predominância da aristocracia rural, cuja riqueza se baseava em terras e rebanhos, a economia era pré-monetária e os objetos usados para troca vinham carregados de simbologia afetiva e sagrada, decorrente da posição social ocupada por homens considerados superiores e do caráter sobrenatural que impregnava as relações sociais. 
A moeda, aparece na Grécia por volta do século VII a.C. Ela torna-se necessária porque, com o comércio, os produtos que antes eram feitos sobretudo com valor de uso passam a ter valor de troca, transformando-se em mercadoria. Daí a exigência de algo que funcionasse como valor equivalente universal das mercadorias. A invenção da moeda permitiu uma forma de troca que não se realiza através das coisas concretas ou dos objetos concretos trocados por semelhança, mas uma troca abstrata, uma troca feita pelo cálculo do valor semelhante das coisas diferentes, revelando, portanto, uma nova capacidade de abstração e de generalização. A moeda é um artifício racional, urna convenção humana, uma noção abstrata de valor que estabelece a medida comum entre valores diferentes.
As viagens marítimas - permitiram aos gregos descobrir que os locais que os mitos diziam habitados por deuses, titãs e heróis eram, na verdade, habitados por outros seres humanos; e que as regiões dos mares que os mitos diziam habitadas por monstros e seres fabulosos não possuíam nem monstros nem seres fabulosos. As viagens produziram o desencantamento ou a desmitificação do mundo, que passou, assim, a exigir uma explicação sobre sua origem, explicação que o mito já não podia oferecer;
A política - que introduz três aspectos novos e decisivos para o nascimento da filosofia:
1. A idéia da lei como expressão da vontade de uma coletividade humana que decide por si mesma o que é melhor para si e como ela definirá suas relações internas. O aspecto legislado e regulado da cidade - da polis - servirá de modelo para a filosofia propor o aspecto legislado, regulado e ordenado do mundo como um mundo racional.
2. O surgimento de um espaço público, que faz aparecer um novo tipo de palavra ou de discurso, diferente daquele que era proferido pelo mito. Neste, um poeta-vidente, que recebia das deusas ligadas à memória uma iluminação misteriosa ou uma revelação sobrenatural, dizia aos homens quais eram as decisões dos deuses a que eles deveriam obedecer. Agora, com a pólis, isto é, a cidade política, surge a palavra como direito de cada cidadão de emitir em público sua opinião, discuti-la com os outros, persuadi-los a tomar uma decisão proposta por ele, de tal modo que surge o discurso político como a palavra humana compartilhada, como diálogo, discussão e deliberação humana, isto é, como decisão racional e exposição dos motivos ou das razões para fazer ou não fazer alguma coisa.
 	A política, valorizando o humano, o pensamento, a discussão, a persuasão e a decisão racional, valorizou o pensamento racional e criou condições para que surgisse o discurso ou a palavra filosófica. O saber deixou de ser sagrado e passa a ser objeto de discussão.
3. A política estimula um pensamento e um discurso que não procuram ser formulados por seitas secretas dos iniciados em mistérios sagrados, mas que procuram, ao contrário, ser públicos, ensinados, transmitidos, comunicados; e discutidos. A idéia de um pensamento que todos podem compreender e discutir, que todos podem comunicar e transmitir, é fundamental para a filosofia. 
	
	A expressão da individualidade por meio do debate faz nascer a política, libertando o homem dos exclusivos desígnios divinos, e permitindo a ele tecer seu destino na praça pública. A instauração da ordem humana dá origem ao cidadão da pólis, figura inexistente no mundo coletivista da comunidade tribal.
 	
A filosofia
É no período arcaico que surgem os primeiros filósofos gregos, por volta de fins do século VII a.C. e durante o século VI a.C. Os primeiros filósofos viveram por volta do século VI a.C. e, mais tarde, foram classificados como pré-socráticos e agrupados em diversas escolas. Os escritos dos filósofos pré-socráticos desapareceram como tempo, e só nos restam alguns fragmentos ou referências feitas por filósofos posteriores. 
É interessante notar que, enquanto Hesíodo, ao relatar o princípio do mundo (cosmogonia) e dos deuses (teogonia), refere-se a sua gênese ou origem, as preocupações dos primeiros pensadores levam à elaboração de uma cosmologia, pois procuram a racionalidade do universo. Isso significa que, ao perguntarem como seria possível emergir do Caos um "cosmos" - ou seja, como da confusão inicial (caos) surgiu o mundo ordenado -, os pré-socráticos procuram o princípio (a arché) de todas as coisas, entendido este não como o que antecede no tempo, mas enquanto fundamento do ser. Buscar a arché é explicar qual é o elemento constitutivo de todas as coisas.
 	As respostas dos filósofos à questão do fundamento das coisas são as mais variadas. Cada um descobre a arché, a unidade que pode explicar a multiplicidade: para Tales é a água; para Anaxímenes é o ar; para Demócrito é o átomo; para Empédocles, os famosos quatro elementos, terra, água, ar e fogo.
	Já podemos observar a diferença entre o pensamento mítico e a filosofia nascente: os filósofos divergem entre si e a filosofia se distingue da tradição dogmática dos mitos oferecendo uma pluralidade de explicações possíveis. Enquanto o mito é uma narrativa cujo conteúdo não se questiona, a filosofia problematiza e, portanto, convida à discussão. Enquanto no mito a inteligibilidade é dada, na filosofia ela é procurada. A filosofia rejeita o sobrenatural, a interferência de agentes divinos na explicação dos fenômenos. A filosofia também busca a coerência interna, a definição rigorosa dos conceitos, o debate e a discussão, organiza-se em doutrina e surge, portanto, como pensamento abstrato.
Mito e filosofia 
De acordo com Marilena Chauí podemos apontar três deferenças fundamentais entre o mito e a filosofia:
1. O mito pretendia narrar como as coisas eram ou tinham sido no passado imemorial, longínquo e fabuloso, voltando-se para o que era antes que tudo existisse tal como existe no presente. A filosofia, ao contrário, se preocupa em explicar como e por que, no passado, no presente e no futuro (isto é, na totalidade do tempo), as coisas são como são.
2. O mito narrava a origem através de genealogias e rivalidades ou alianças entre forças divinas sobrenaturais e personalizadas, enquanto a filosofia, ao contrário, explica a produção natural das coisas por elementos e causas naturais e impessoais.
 	O mito falava em Urano, Ponto e Gaia; a filosofia fala em céu, mar e terra. O mito narra a origem dos seres celestes (os astros), terrestres (plantas, animais, homens) e marinhos pelos casamentos de Gaia com Urano e Ponto. A filosofia explica o surgimento desses seres por composição, combinação e separação dos quatro elementos - úmido, seco, quente e frio, ou água, terra, fogo e ar.
3. O mito aceitava as contradições, o fabuloso e o incompreensível, não só porque esses eram traços próprios da narrativa mítica, como também porque a confiança e a crença no mito vinham da autoridade religiosa do narrador. A filosofia não admite contradições, fabulação e coisas incompreensíveis, mas exige que a explicação seja coerente, lógica e racional; além disso, a autoridade da explicação não vem da pessoa do filósofo, mas da razão, que é a mesma em todos os seres humanos.
	
	Este texto foi composto a partir da compilação do conteúdo das seguintes obras:
Aranha, Maria Lúcia de A. e Martins, Maria Helena P. Filosofando: introdução à filosofia. 2ed. São Paulo: Moderna, 1994.
Chauí, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1994.
Eliade, Mircea. Mito e realidade. 6ed. São Paulo: Perspectiva, 2002.
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