Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Abril 2018 | ano XIV | nº 165 Ab ril 2 01 8 | an o XI V | nº 1 65 PLANEJAR AQUISIÇÕES É OBRIGATÓRIO A PARTIR DE 2019 TECNOLOGIA E COMPRAS PÚBLICAS - Como será o futuro das licitações? Editorial PLANEJAR AQUISIÇÕES É OBRIGATÓRIO A PARTIR DE 2019 A Instrução Normativa 1, de 29 de março de 2018, pu- blicada no dia 02 de abril no Diário Oficial da União, veio regulamentar o Sistema de Planejamento e Geren- ciamento de Contratações e a elaboração do Plano Anual de Contratações de bens, serviços, obras e soluções de tecnologia da informação e comunicações no âmbito da Administração Pública federal direta, autárquica e fun- dacional. Esse é o sistema ao qual se refere o parágrafo único, do art. 27, da IN 05/2017-SEGES/MP. O Sistema era para ser disponibilizado desde 2017 pelo MP, mas a edição da norma regulamentadora foi publicada só agora. A norma entrará em vigor apenas em 2019 de forma obrigatória e, de acordo com o art. 11, os órgãos terão de 01/01 a 15/04 para cadastrarem suas demandas. Entenda melhor a novidade, as vantagens e preocupa- ções que nova IN trará a Administração Pública. Boa leitura! Os editores. Associação Nacional das Editoras de Publicações Técnicas, Dirigidas e Especializadas Filiada à: RESTRIÇÕES AO USO DE MATERIAIS: Este produto, pertence e é operado pela Editora Negócios Públicos do Brasil, não pode ser, sob hipótese alguma, copiado, reproduzido, republicado, atualizado, enviado, transmitido, transmi- tido, distribuído, baixado ou impresso para fins comerciais. Modificar matérias ou usá-las para qualquer outro propósito é violação dos direitos autorais da Editora, bem como qualquer outro direito de propriedade, conforme normas e procedimentos da ABNT, além de crime previsto no art. 184 do Código Penal Brasileiro. Permissão para qualquer uso das matérias, incluindo reprodução e distribui- ção, ou links de qualquer outra página que não seja a “homepage” www.ne- gociospublicos.com.br, deve ser obtida por meio de autorização expressa do- cumental, com solicitação formalizada por e-mail falecom@negociospublicos. com.br. Todas as marcas referidas nos websites das empresas do Grupo Negó- cios Públicos do Brasil são ou podem ser marcas registradas e protegidas por leis internacionais de copyright e propriedade industrial e pertencem aos seus respectivos fabricantes e proprietários legais. A Editora não se responsabiliza pelos conceitos emitidos em artigos assinados. LEMBRE-SE: O seu papel é importante para o planeta. Trabalhamos para que a reciclagem seja o destino final mais adequado de todos os papéis já utilizados. PRESIDENTE: Rudimar Barbosa dos Reis VICE-PRESIDENTE: Ruimar Barboza dos Reis EDITORA-CHEFE: Aline de Oliveira - DRT 8796/PR aline@negociospublicos.com.br DIREÇÃO DE ARTE: Maetê Domanski - maete@negociospublicos.com.br CONSELHO DE PAUTA: Aline de Oliveira, Rudimar Reis, Rogério Corrêa, Ruimar Reis e Regina Célia Kühl. COLABORADORES: Simone Z. de Oliveira, Ronny Charles, Ivan Barbosa Rigolin, Felipe José Ansaloni Barbosa, Sarah Carolina Zanetti e Viguetti e Silvia Portes Rocha Martins. Editora Negócios Públicos do Brasil: R. Lourenço Pinto, 196 - 2º andar, Centro l Curitiba/PR CEP: 80.010-160 l Tel. (41) 3778.1703/1700 ANO XIV - ABRIL 2018 SUMÁRIO 6 Direito e Política 8 Pergunta do mês 10 20Sistema de planejamento e Gerenciamento de Contratações 11 Direto ao Ponto Carona exige justificativa específica no Planejamento da Contratação 13 Iniciativa Global de Compras FALE CONOSCO Acompanhe o Facebook: negociospublicosnpcomunicacao@negociospublicos.com.br 17Tecnologia e compras - Como será o futuro das licitações? 19MP quer conferir mais segurança ao Gestor de Contrato de conta vinculada 25Existe sustentabilidade nas compras públicas? 31 Ministério do Planejamento fala da missão ao EUA 33 DNIT autoriza parcelamento de débitos de licitantes 35 Reserva de vagas para contratações locais em serviços dentro do município - Lei Municipal Inconstitucional 6 abril 2018 PERGUNTA DO MÊS PERGUNTA DO MÊS PODE O ÓRGÃO GERENCIADOR NEGAR A INCLUSÃO DE PARTICIPANTE? FLAVIA VIANNA Advogada especialista e instrutora na área das Licitações e Contratos Administrativos O Gerenciador pode estabelecer desde o início a quantidade de participantes que irá aceitar e, completo o número estipulado a partir dai negar novos pedidos. Essa regra, inclusive, consta do Decreto 7.892/13, que em seu art. 4o estabelece: §3º Caberá ao órgão gerenciador da Intenção de Registro de Preços - IRP: (Incluído pelo Decreto nº 8.250, de 2.014) I - estabelecer, quando for o caso, o número máximo de participantes na IRP em conformidade com sua capacidade de gerenciamento; (Incluído pelo Decreto nº 8.250, de 2.014)”, lembra. A Pergunta da mês é: “Na intenção de Registro de Preços, o órgão gerenciador é obrigado a aceitar os participantes de forma automática e obrigatória? Pode um órgão gerenciador negar a inclusão de de- terminado órgão como participante?” Perguntamos aos especialistas, confira as respostas: Imagem: Shutterstock 7abril 2018 PERGUNTA DO MÊS O órgão gerenciador não é obrigado a aceitar os participantes de maneira automática. No entanto, antes de tomar a decisão de recepcionar ou rejeitar a demanda apresentada, o gestor deverá examinar minuciosa- mente o pleito, bem como as razões do solicitante. Neste sentido, o inciso I, do §3º, do artigo 4º, do Decreto 7.892/2013 prevê que o Gerenciador poderá esta- belecer um número máximo de participantes para a Intenção de Registro de Preços, de acordo com a sua capacidade de gerenciamento. Além disso, o inciso II, permite que o Gerenciador – em um claro exame de conveniência e oportunidade – recuse pedidos que apresentem quantitativos ínfimos ou a inclusão de itens não previstos até o momento. Portanto, é possível que o Gerenciador negue a inclusão de um participante na intenção de registro de pre- ços, desde apresente justificativa plausível para esta decisão”, conclui. PAULO TEIXEIRA Advogado e consultor jurídico de Licitações e Contratos Públicos A Intenção de Registro de Preços, prevista no art. 4º do Decreto Federal 7.892/13, tem o condão de fomen- tar a economia de escala nas contratações públicas do governo federal, graças a reunião de vários órgãos que possuam interesses comuns na aquisição de determinados bens e serviços, com características idênti- cas. Contudo, este interesse de reunir vários órgãos participantes pode não se demonstrar vantajoso, princi- palmente para o órgão gerenciador (aquele que irá realizar a licitação). Exemplificando: digamos que uma unidade administrativa pretenda realizar uma licitação na região sudeste do País e ao publicar sua intenção de registro de preços passe a receber demonstrações de interesse de um ou mais órgãos da região norte. Nesse caso, certamente a busca por economia de escala restará prejudicada, pois a logística e os preços praticados na região do órgão gerenciador não são compatíveis com a desse(s) pretenso(s) participante(s). Ainda que o gerenciador separasse tais quantitativos de um órgão de outra região em itens apartados, o ór- gão realizador da licitação iria ter que administrar um item ou lote que servirá exclusivamente para o órgão “forasteiro”, o que nos parece inviável e contraproducente. São para casos tais que o referido Regulamento Federal facultou ao Gerenciador do SRP a aceitabilidade da participação de outros órgãos, em condições que manifestamente não lhe demonstrem vantajosas. Inter- pretação que se extrai da leitura dos incisos do §3º, art. 4º do D. nº 7.892/13. Portanto, entendo que cabe ao órgão gerenciador decidir quanto a aceitabilidade e inclusão dos quantita- tivos de órgãos interessados em participardo SRP, sendo que a decisão negativa do gerenciador requer sempre a necessária justificativa fundamentada, esclarece. FELIPE ANSALONI Advogado e Professor Especializado em Licitações e Contratos Administrativos Coluna DIREITO E POLÍTICA 8 abril 2018 REGULAMENTOS INTERNOS DE LICITAÇÕES DAS ESTATAIS: AVANÇAR OU SER CONSERVADOR? Ronny Charles Advogado, mestre em Direito Público, professor de Direito Administrativo, escritor, consultor, conferencista e palestrante. Diante da aproximação do prazo final para adaptação ao novo regime licitatório previsto pela Lei fede- ral nº 13.303/2016 (Lei das estatais), muitas empresas públicas e sociedades de economia mista estão se apressando para finalizar seus regulamentos internos de licitações, cumprindo a regra indicada pelo artigo 40 daquele diploma normativo. No passado, o Decreto-Lei nº 2.300/1986, em seu artigo 86, admitia que as sociedades de economia mista e empresas públicas editassem regulamentos próprios, devidamente publicados, “com proce- dimentos seletivos simplificados e observância dos princípios básicos da licitação”. Assim, as estatais poderiam ter regulamentos que definissem seus procedimentos licitatórios, mesmo com viés “simpli- ficado”, desde que respeitando os princípios básicos da licitação. A Lei nº 8.666/93 dispôs de forma diferente, retrocedendo. Ela, em seu artigo 119, admitiu que as sociedades de economia mista e empresas e fundações públicas editassem regulamentos próprios, devidamente publicados, mas fixou a submissão integral às disposições da própria Lei nº 8.666/93, inadmitindo a mesma liberdade regulamentar permitida pelo Decreto-Lei nº 2.300/2016. Imagem: Shutterstock ColunaDIREITO E POLÍTICA 9abril 2018 A Lei nº 13.303/2016 parece ter optado, em nossa opinião de maneira correta, por conferir maior liber- dade às estatais para regulamentar as disposições gerais de licitações às suas especificidades. Nesse prumo, a referida Lei permite (determina) que as empresas públicas e as sociedades de economia mista publiquem e mantenham atualizado regulamento interno de licitações e contratos, “compatível” com aquilo por ela disposto. Ao definir que o regulamento seja “compatível” com a disciplina legal, a Lei admite que ele, respeitando as bases estabelecidas pela lei e seus princípios básicos, possa adequar-se às necessidades da estatal. Essa liberdade se amplia, quando compreendido que o regime licitatório da Lei das estatais estabeleceu um modelo (ou modalidade) flexível e não possui formato tão detalhista como a Lei nº 8.666/93. Diante disso, o regulamento interno de licitações deve ser percebido como um instrumento para adequar as regras, genericamente criadas pelo legislador, às especificidades da estatal, aperfeiçoamento seus ritos e conferindo segurança aos seus agentes. A realidade negocial de uma estatal que atua explorando atividade econômica, em regime de competição, pode ser bem diferente de uma que presta serviço público, em regime de monopólio. Outrossim, uma empresa que trabalha com fornecimento de gás tem peculiaridades diferentes, em comparação a outra que atua com tecnologia da informação, cujas nuances também se distanciam daquelas vivenciadas por uma estatal que atua na área de caldeiraria pesada ou por outra que atua com saneamento básico. Diante da diversidade de atuação de nossas estatais, os desafios vivenciados também se apresentam diversificados, envolvidos que estão em uma realidade riquíssima pelas peculiaridades de cada mercado, de cada área de atuação. A regulamentação é uma oportunidade para que a estatal possa normatizar procedimentos específicos, adequados a suas realidades negociais. Contudo, muitas estatais, no afã de apressadamente finalizar seus regulamentos, abdicaram de avançar sob aspectos relevantes da Lei, fundamentais para sua atuação prática. Em regulamentos internos, pu- blicados ainda no ano de 2017, encontramos discrepâncias entre a normatização e determinadas regras da nova Lei. Da mesma forma, identificamos muitas vezes regulamentos genéricos, meros repetidores do texto legal, nos quais perdeu-se a oportunidade de utilizar o instrumento regulamentar para avançar sobre necessidades específicas da respectiva estatal. Pior ainda, em vários regulamentos, identifica-se uma persistente manutenção de regras retrógradas da Lei nº 8.666/93, incompatíveis com as lógicas de flexibilidade e de busca da eficiência econômica contratual, identificadas no próprio texto da Lei nº 13.303/2016. Infelizmente, esses regulamentos deixam de absorver os avanços pretendidos pelo legis- lador. Abdicar deste avanço é lamentável, pois a regulamentação interna é uma oportunidade para que a estatal estabeleça procedimentos adaptados a sua realidade, explicite a forma de utilização das diversas “fer- ramentas” previstas na nova Lei, estabeleça maior segurança para os agentes públicos que atuarão no certame ou mesmo na gestão e fiscalização dos respectivos contratos. Mas a proposta regulamentar tem uma característica que a torna ainda mais vantajosa. Ela pode ser alterada e aperfeiçoada com maior facilidade que as leis. Então, é tempo de avançar. Coluna DIRETO AO PONTO 10 abril 2018 EXIGÊNCIA DE REGULARIDADE FISCAL EM CONTRATAÇÕES DO SISTEMA S Simone Zanotello de Oliveira Advogada e consultora jurídica na área de contratações públicas. Doutoranda em Direito Administrativo pela PUC-SP. Professora universitária. Autora de diversas obras e artigos jurídicos. Os Serviços Sociais Autônomos – Sistema S - são entidades privadas de cooperação da Adminis- tração Pública, sem fins lucrativos, criadas mediante autorização legislativa federal, que exercem atividades privadas de interesse público e são dotadas de patrimônio e administração próprios. Não se subordinam à Administração Pública federal, mas apenas se vinculam ao Ministério cuja atividade mais se aproxime. Ministram assistência ou ensino a certas categorias sociais ou grupos profissio- nais, sendo mantidos por dotações orçamentárias ou por contribuições parafiscais. São dirigidos pelas respectivas Confederações Nacionais – SENAI (Serviço Nacional de Aprendiza- gem Industrial), SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), SESI (Serviço Social da In- dústria), SESC (Serviço Social do Comércio), SEST (Serviço Social do Transporte), SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) e SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Em- presas). No tema de licitações, eles apresentam regulamentos próprios baseados nos princípios gerais do processo licitatório. Nesse contexto, o Tribunal de Contas da União, por meio do Acórdão n. 2.743/2017 – Plenário, de re- latoria da Ministra Ana Arraes, decidiu que, salvo na aquisição de bens e serviços de pequeno valor, nos termos definidos em seus regulamentos próprios, os Serviços Sociais Autônomos deverão exigir comprovação de regularidade para com a Seguridade Social. Essa exigência faz-se tanto nas contratações decorrentes de licitação, quanto nas contratações dire- tas realizadas mediante dispensa ou inexigibilidade de licitação. O objetivo dessa exigência é evitar a quebra do princípio da isonomia, com a eventual contratação de empresas em débito com os tributos federais, bem como preservar o princípio da moralidade admi- nistrativa, não dispensando favorecimento a empresas inadimplentes. sistema s 11abril 2018 MatériaCarona CARONA EXIGE JUSTIFICATIVA ESPECÍFICA NO PLANEJAMENTO DA CONTRATAÇÃO O Acórdão 311/2018 Plenário do TCU, Relator Ministro Bruno Dantas, determinou que a inserção de cláusula em edital licitatório prevendo a possibilidade de adesão a ata de registro de preços por órgãos ou entidades não participantes do planejamento da contratação (“carona”) exige justificativa específi- ca, lastreada em estudo técnico referente ao objeto licitado e devidamente registradano documento de planejamento da contratação. A representação foi a respeito de possíveis irregularidades ocorridas em pregão eletrônico SRP 15/2017 promovido pelo Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, que tem como objeto o registro de preços para a contratação de empresa especializada em tecnologia da informação para o fornecimento e a implantação de solução de comunicação e telefonia IP. Acordaram, então, os Ministros do Tribunal de Contas da União, com suporte no art. 250, inciso II, do Regimento Interno do TCU, c/c art. 2º da Resolução-TCU 265/2014, determinar ao Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil que se abstenha de permitir a adesão tardia de outros órgãos à ata de registro de preços decorrente do pregão eletrônico SRP 15/2017. 9.3. com fundamento no art. 7º da Resolução-TCU 265/2014, dar ciência ao Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil da ocorrência da seguinte falha, de modo a serem adotadas medidas de preven- ção à ocorrência de outras semelhantes: Por Aline de Oliveira Imagem: Shutterstock RECENTE ACÓRDÃO 311/18 TRATA DA ADESÃO À ATA DE REGISTRO DE PREÇOS Matéria 12 Carona abril 2018 O relator pediu para serem adotadas medidas de prevenção para a seguinte ocorrência: “ausência de justificativa devidamente motivada para inserção de cláusula no edital prevendo a possibilidade de adesão tardia à ata de registro de preços por órgãos ou entidades não participantes do planeja- mento da contratação, à luz do princípio da motivação dos atos administrativos, do art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal de 1988, do art. 3º da Lei 8.666/1993, do art. 9º, inciso III, in fine, do Decreto 7.892/2013, e da jurisprudência do TCU (Acórdãos 757/2015 e 1.297/2015, ambos do Plenário)”. “À possibilidade de utilização da ata de registro de preços por outros órgãos e entidades que não par- ticiparam do planejamento da contratação, não foi adequadamente explanado pelo órgão licitante. Tal questão desdobra-se, basicamente, em duas vertentes”, apontou o Ministro Dantas. Em primeiro lugar, há que se discutir a própria previsão no edital desta possibilidade, também co- nhecida como “adesão tardia” ou, mais simplesmente, “carona”. Segundo o relator, repreendido quanto a isso, o órgão não apresentou justificativas plausíveis. “Conforme venho reiterando em diversos julgados sob a minha relatoria (a exemplo do item 9.3.4 do Acórdão 757/2015-TCU-Plenário e do item 9.3.2 do Acórdão 1.297/2015-TCU-Plenário) , resta claro, à luz do art. 9º, inciso III, in fine, do Decreto 7.892/2013, que a inserção de cláusula em editais licitató- rios permitindo a adesão tardia é uma faculdade do órgão gerenciador. Nessa esteira, é certo que tal ato, embora discricionário, não prescinde de motivação. Tenho constatado que uma cláusula deste tipo (permitindo a adesão tardia) é inserida de forma re- petida e impensada em quase todos os editais de pregões para Sistema de Registro de Preços. No mais das vezes, costuma-se alegar que sua inserção seria justificável porque traria alguma espécie de economia de escala. Todavia, trata-se invariavelmente de mera alegação genérica, sem nenhum lastro em estudos técnicos relacionados especificamente ao objeto que se deseja licitar e realizados preliminarmente à contratação que se almeja. A meu ver, a necessidade de motivação é ainda mais essencial em relação a atos de processo lici- tatório, relacionados à despesa pública e sujeitos à fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial do TCU quanto à sua legalidade, legitimidade e economicidade. Sobretudo no caso deste ato específico, em que pesa sobre o instituto questionado (a adesão tardia) sérias dúvi- das sobre sua legalidade e constitucionalidade, conforme expus nas precitadas deliberações. Assim, cumpre dar ciência ao órgão sobre a falha identificada para que sejam adotadas providências internas que previnam sua recorrência”, afirmou o Ministro. E, em segundo lugar, o Ministro aponta que deve-se destacar que o objeto da contratação reflete uma necessidade de compatibilidade com a solução existente no MT, atendendo a características pecu- liares do órgão gerenciador (o que, inclusive, acarretou uma competição bastante restrita, ainda que não necessariamente indevida). “Além disso, a adjudicação foi por grupo, o que obrigaria um eventual carona a aderir a toda a solu- ção, e não apenas a itens isolados, conforme sinaliza a atual jurisprudência do TCU (e.g., Acórdãos 2.977/2012, 529/2013, 1.592/2013, 1.913/2013, 2.695/2013, 2.796/2013, 3.081/2016 e 1.893/2017, todos do Plenário). Em tal contexto, afigura-se como melhor solução, a exemplo dos recentes Acórdãos 756/2017 e 2.600/2017, ambos do Plenário, determinar ao MT que não permita a adesão tardia de outros órgãos à ata de registro de preços decorrente do pregão eletrônico SRP 15/2017”, conclui o Ministro Bruno Dantas. 13abril 2018 MatériaIniciativa Global de Compras INICIATIVA GLOBAL DE COMPRAS BRASIL ENVIOU SERVIDORES PARA APRENDER SOBRE AS COMPRAS GOVERNAMENTAIS AMERICANAS O Governo Federal enviou ao EUA 16 servidores públicos de órgãos bem distintos, tais como TCU, Câmara dos Deputados, DNIT, ANEEL, ESMPU, Infraero, Central de Compras/MP, EPL e CGU, den- tre outros. Você quer saber para quê? Confira na entrevista com Ronaldo Corrêa, coordenador de Licitações da CGU e um dos membros da delegação brasileira. Qual o objetivo da visita ao EUA? Ronaldo Corrêa - O study tour do qual participamos entre os dias 29 de janeiro e 06 de fevereiro faz parte da Iniciativa Global de Compras: Entendendo o Melhor Valor (GPI, em inglês). Que é um programa de cooperação internacional executado pela Agência de Comércio e Desenvolvimento dos EUA (USTDA, em inglês), em pareceria com o Programa de Legislação sobre Compras Governa- mentais da Universidade George Washington. O principal objetivo do programa GPI é a cooperação e o compartilhamento de informações sobre compras governamentais, visando a profissionalização dos compradores públicos brasileiros e a aquisição de conhecimentos intensivos em contratações pelo melhor valor (best value, em inglês). Por Aline de Oliveira Servidores em capacitação no EUA. Crédito da foto: Ronaldo Corrêa Matéria 14 Iniciativa Global de Compras abril 2018 A visita aos EUA ocorreu após um workshop, que foi realizado pela USTDA e SEGES no Brasil em de- zembro de 2017, e o principal objetivo dessa viagem oficial foi proporcionar à delegação brasileira o conhecimento in loco dos sistemas de compras públicas federal, estadual e municipal dos EUA e o estudo de casos onde foi adotado o melhor valor como critério de julgamento Como foi a experiência? Ronaldo Corrêa - Essa viagem de estudo foi uma rica oportunidade de aperfeiçoamento profissional e de aquisição de conhecimentos técnicos para toda a delegação brasileira, composta por 16 membros. Pudemos vivenciar uma interação intensiva com profissionais de compras públicas dos Estados Unidos e também entre os membros da própria delegação, já que haviam servidores de órgãos bem distintos, tais como TCU, Câmara dos Deputados, DNIT, ANEEL, ESMPU, Infraero, Central de Compras/MP, EPL e CGU, dentre outros. Na primeira etapa do study tour, durante quatro dias nós participamos de diversas visitas técnicas e palestras em Washington, DC e região (Arlington, VA, Rockville, MG e Fairfax, VA), em instituições públicas federais, estaduais, municipais e dos condados. A segunda etapa consistiu de um dia de visitas nas cidades de Boston e Cambridge, MA, onde assis- timos palestras no Departamento de Engenharia Civil e Ambiental do Instituto de Tecnologia de Mas- sachusetts (MIT) e também na Divisão de Serviços Operacionais do Estado de Massachusetts (OSD). A terceira e última etapa durou três dias e ocorreu na Costa Oeste, na região da Baíade San Francisco, onde realizamos visitas técnicas a órgãos estaduais e municipais, especialmente da área de infraes- trutura de transporte terrestre. Por mais que o cronograma de estudos tenha sido bem apertado, membros da delegação ainda conse- guiram aproveitar os poucos momentos livres para terem um contato mais próximo com a cultura ame- ricana. Tivemos a oportunidade de visitar locais his- tóricos, como por exemplo a Casa Branca, o Capitólio e o Memorial Lincoln em Washington, DC, a Harvard Kennedy School em Cambridge, MA, a Prisão Federal de Alcatraz e a Ponte Golden Gate em San Francisco, CA, a sede do Google em Mountain View, CA e o Vale do Silício, dentre outros. Portanto, foi também uma expe- riência de enriquecimento cultural. O que podemos aprender com eles? Ronaldo Corrêa - A principal lição que estudamos foi a adoção do melhor valor (best value) como critério de escolha de soluções e de fornecedores, em detrimen- to da adoção do menor preço puro e simples (low pri- ce). Nisso o Brasil tem bastante terreno a desbravar Foto oficial 15abril 2018 MatériaIniciativa Global de Compras ainda, pois especialmente na jurisprudência patria há uma forte tendência de privilegiar o menor preço, em detrimento do melhor custo-benefício ou menor custo do ciclo-de-vida. A quase “demonização” do regime de contratação integrada, prevista na lei do RDC, é um exemplo dessa corrente de pensamento administrativo-técnico-jurídico. Outra característica quase cultural, que salta aos olhos e nos dá algumas lições, é o respeito que o americano em geral tem para com os contratos. Isso acaba causando um grande impacto na confiança e boa-fé das relações negociais estabelecidas entre o poder público e o mercado fornecedor. Com isso, a segregação de funções e a fiscalização de contratos, por exemplo, é quase inexistente. E o mais incrível é que funciona! Como pretendem aplicar o que conheceram no Brasil? Ronaldo Corrêa - Em primeiro lugar é importante ressaltar que o Memorando de Entendimento, assina- do pela SEGES e a USTDA em dezembro de 2017, tem prazo de duração trienal. Ou seja, ainda estamos no início dos estudos das compras públicas americanas e do melhor valor. Ainda haverão outras ações voltadas à aplicação destes conhecimentos, adaptados à realidade brasileira. Assim, a aplicação dos conhecimentos adquiridos se dará de forma paulatina, integrando-se aos poucos e na medida do possível à metodologia de trabalho de cada órgão, sob a coordenação e com o apoio téc- nico do Ministério do Planejamento. As alterações legislativas para a mudança dos critérios de julgamento das licitações públicas brasilei- ras, por exemplo, não são medidas prioritárias para essa fase inicial de aplicação de conhecimentos. Uma possibilidade de aproveitamento que identificamos também é o desenvolvimento de estudos aca- dêmicos do tema no Brasil, seguindo o exemplo do programa Government Procurement Law, da George Washington University Law School. Programa este por onde já passaram brasileiros como o professor Dr. José Guilherme Giacomuzzi, procurador no RS e autor do livro A Moralidade Administrativa e a Boa-fé da Administração Pública (Malheiros Editores, 2002). É uma realidade muito distante? Ronaldo Corrêa - Principalmente quanto aos aspectos relacionados à organização política do Estado, a atuação dos órgãos de controle, a visão do governo em relação ao mercado e a disponibilidade orçamen- tária, a realidade americana é bem distante da brasileira. A liberdade constitucional que cada estado, município e condado possui para fixar a própria organiza- ção interna e as suas próprias normas e estrutura administrativa de licitações, é muito distinta do que ocorre no Brasil. Onde as normas gerais de licitações e contratos são nacionais e vinculam tanto a União quanto os Estados e os Municípios. O controle externo do gasto público e os procedimentos de protesto de contratos públicos são feitos normalmente pela via judicial, e não administrativamente. Sendo que nem mesmo o U.S. Government Accountability Office (GAO) tem plenos poderes para penalizar diretamente aos gestores públicos. O mais comum é que representem ao judiciário, para que este efetue o julgamento e a eventual punição. Há estados que nem têm previsão legal de recurso, protesto ou representação pela via administrativa. Matéria 16 Iniciativa Global de Compras abril 2018 Em estados como Massachussets, por exemplo, a relação do governo com o mercado é muito mais pare- cida com as relações entre organizações privadas do que com as relações do governo brasileiro e seus fornecedores. Até mesmo o desenvolvimento da solução a ser contratada às vezes é realizada pelo for- necedor, e tal proposta de solução é protegida por sigilo comercial. Pelo menos até o momento em que o governo o adquira e voluntariamente o torne público. No Brasil, se um órgão realizar uma reunião a portas fechadas com um fornecedor, certamente terá muitos problemas para explicar tal procedimento! E quanto à disponibilidade orçamentária, um exemplo emblemático é a informação que recebemos do Office of the City Administrator, em Oakland, CA: “- não temos problemas com restrições orçamentárias. Não há falta de recursos para a implementação das políticas públicas e para as contratações”. Nem é necessário dizer que no Brasil a realidade é muito distante disso! Quais as principais diferenças e semelhanças nas compras públicas entre os dois países? Ronaldo Corrêa - A meu ver a principal diferença é a possibilidade de usar critérios de julgamento de propostas pelo melhor valor, enquanto no Brasil se tem a obrigação legal de adotar o julgamento quase que exclusivamente pelo menor preço. Outra diferença significativa é a adoção quase maciça das centrais de serviços compartilhados ou marketplaces, onde órgãos como a U.S. General Services Administration (GSA), por exemplo, adotam um procedimento simplificado de credenciamento e pré-qualificação de fornecedores por categoria de pro- dutos, criam um catálogo e o vende para o governo, mediante remuneração na forma de taxa. A certificação dos agentes de compras públicas também é uma característica que chama a atenção, pois isso possibilita a atribuição de maiores poderes ao comprador público e exige um elevado nível de quali- ficação desse agente público. Em contrapartida, a carreira é atraente e a remuneração é equivalente ao nível de certificação. Sua atuação é praticamente “blindada” contra ingerências de agentes políticos. Em Oakland, CA, por exemplo, a prefeita Libby Schaaf nos explicou que o seu cargo funciona quase que como uma espécie de chefe de estado, sem prerrogativas para tomar decisões de gestão. Tal função é compe- tência do City Administrator. Fontes: https://br.usembassy.gov/pt/ustda-faz-parceria-com-o-brasil-para-promover-compras-com-ba- se-no-melhor-valor/ http://www.planejamento.gov.br/noticias/compras-publicas-e-tema-de-parceria-entre-brasil-e- -agencia-norte-americana https://www.law.gwu.edu/government-procurement-law https://www.gao.gov/about/index.html https://www.gsa.gov/ http://www2.oaklandnet.com/government/o/CityAdministration/a/CityAdministratorsBiography/ index.htm 17abril 2018 MatériaTecnologia e Compras Públicas TECNOLOGIA E COMPRAS O mundo a cada dia está nos preparando para uma revolução tecnológica, que já está afetando a forma com que os governos realizam as compras públicas. Cristiano Rocha Heckert, especialista em políticas públicas e gestão governamental, afirma que vivemos hoje a chamada 4ª Revolução Industrial, caracterizada pela Inteligência Artificial e pela Internet das Coisas. Por Aline de Oliveira Imagem: Shutterstock COMO SERÁ O FUTURO DAS LICITAÇÕES? “Incorporando essas tecnologias na Administração Pública, temos a possibilidade de redesenhar completamente tanto a prestação de serviçosà sociedade, quanto os processos internos de trabalho. Isso trará saltos radicais de produti- vidade, melhorando a eficiência, trazendo mais qualidade e conveniência para o cidadão e economia para o Estado. Poderemos também liberar um contingente expressivo de trabalhadores que ainda se dedicam a tarefas burocráticas e que poderão desenvolver seu potencial intelectual e ofere- cer maior valor agregado ao Estado”, garante. Cristiano Rocha Heckert Matéria 18 Tecnologia e Compras Públicas abril 2018 Como será o futuro das licitações? Heckert acaba de voltar de uma viagem aos Estados Unidos, na qual visitou e conheceu os pro- cessos de compras públicas de diversos órgãos naquele país, tanto na esfera federal, quanto dos estados, condados e cidades. “Comparando com a realidade brasileira, temos muito a aprender, mas também a ensinar. Do ponto de vista de aplicação da tecnologia nas compras públicas, estamos à frente dos americanos: nossa plataforma eletrônica de licitações é mais desenvolvida. É claro que há vários pontos em que podemos melhorar e as novas tecnologias ajudarão nesse sentido. Por exemplo, higienização e maior facilidade de busca nos Catálogos de Materiais, de Serviços e de Fornecedores; integração com sistemas de Nota Fiscal Eletrônica para facilitar a pesquisa de materiais e de preços; automa- ção de processos nas fases de Planejamento da Contratação e de Gestão de Contratos; criação de cadastro de avaliação de desempenho dos fornecedores; dentre outros”, conta. O especialista, especificamente no processo de Seleção do Fornecedor, crê que podemos avançar na pré-qualificação, no credenciamento e no registro de preços permanente dos fornecedores. “Esses mecanismos, apoiados pela tecnologia, permitirão que mais empresas se candidatem a fornecer à Administração Pública, ampliando a competição, que continuará a ocorrer no momento de concretização de uma demanda em uma ordem de compra”, explica. Como a inovação pode impactar na vida do comprador público? Heckert explica que temos caminhado ao longo dos anos no sentido de ampliar o “cardápio” de ferramentas à disposição do comprador público. “Inicialmente tínhamos as modalidades previstas na Lei 8.666 (algumas delas ainda pouco explo- radas, como o “concurso”). Posteriormente, agregamos o pregão e os novos modos de disputa trazidos pelo Regime Diferenciado de Contratações. Com a Nova Lei de Licitações (em discussão no Congresso Nacional), teremos o Procedimento de Manifestação de Interesse, o Diálogo Com- petitivo, além dos procedimentos prévios à licitação que citei anteriormente. Tudo isso amplia as possibilidades para que a Administração Pública faça boas contratações, que atendam à suas ne- cessidades”, afirma. O PREGOEIRO E O FUTURO Para Heckert o pregoeiro se tornará, cada vez mais, um agente estratégico nas compras públicas. “Vimos nos Estados Unidos que eles não se limitam a operadores do processo de compra. Ao con- trário, têm um papel fundamental durante o planejamento da contratação, orientando o deman- dante na elaboração das especificações e na escolha da modalidade de licitação a ser empregada. Além disso, durante o certame, o pregoeiro tem mais autonomia do que aqui para negociar com os licitantes condições de oferta (não apenas em relação aos preços) mais vantajosas para a adminis- tração pública. É claro que há especificidades culturais que teremos que enfrentar, mas vejo que caminharemos nessa direção a longo prazo”, conclui. 19abril 2018 MatériaConta vinculada MP QUER CONFERIR MAIS SEGURANÇA AO GESTOR DE CONTRATO DE CONTA VINCULADA Com a recente publicação da Instrução Normativa 5, de 26 de maio de 2017, que trata da contratação de ser- viços terceirizados no âmbito da Administração Pública federal direta, autárquica e fundacional, a Secretaria de Gestão do Ministério do Planejamento (MP) reeditou o “Caderno de Logística /Conta Vinculada”. O “Caderno de Logística/Conta Vinculada”, portanto foi uma reformulação do caderno já existente (de 2014). Segundo o MP houve a necessidade de revisar, atualizar e adequar a publicação ao novo normativo. Atenderá a quem? O Caderno de Logística atenderá a Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional. Isso não impede, contudo, que outras instituições utilizem o material como referência de boas práticas. Principais pontos O caderno apresenta os mecanismos para abertura, utilização e gestão da “Conta-Depósito Vinculada-blo- queada para movimentação”, contendo uma explanação histórica de sua criação, parâmetros legais, mo- delos e exemplos didáticos de sua aplicação, buscando minimizar eventuais dúvidas e dificuldades em sua implementação. O conteúdo foi revidado e atualizado de acordo com o que está disposto na IN nº 5/2017. Como afeta as licitações? A utilização da “Conta-Depósito Vinculada-bloqueada para movimentação” é uma ferramenta já institucio- nalizada e sedimentada na Administração Pública. É um mecanismo de proteção e gestão de riscos na exe- cução de contratos de prestação de serviço com dedicação exclusiva de mão de obra, que contribui para assegurar os recursos necessários para o cumprimento das obrigações sociais e trabalhistas em caso de inadimplemento da contratada, bem como para a segurança jurídica dos gestores e fiscais de contrato. Que regras foram estabelecidas? Segundo o MP, todas as regras que foram estabelecidas na IN 05/2017 estão descritas no Caderno – desde os procedimentos da abertura da conta vinculada, sua finalidade e operacionalização para os provimentos de recursos necessários que garantam os pagamentos das verbas trabalhista dos empregados alocados na prestação de serviços. Por Aline de Oliveira CADERNO DETALHA TODAS AS REGRAS PARA USO DE CONTA-DEPÓSITO VINCULADA - BLOQUEADA PARA MOVIMENTAÇÃO A Instrução Normativa 1, de 29 de março de 2018, publicada no dia 02 de abril no Diário Oficial da União, veio regulamentar o Sistema de Planejamento e Gerenciamento de Contratações e a elaboração do Plano Anual de Contratações de bens, serviços, obras e soluções de tecnologia da informação e comunicações no âmbito da Administração Pública federal direta, autárquica e fundacional. SISTEMA DE PLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO DE CONTRATAÇÕES NORMA REGULAMENTADORA É PUBLICADA E SERÁ OBRIGATÓRIA EM 2019 Por Aline de Oliveira 20 abril 2018 Matéria PLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO DE CONTRATAÇÕES Essas ações, que se evidenciaram a partir da entrada em vigor, no ano passado, da Instrução Normativa 5/2017, buscam incutir a ideia de que a administração pública brasileira precisa sair do amadorismo em que se encontrava até não muito tempo atrás, entrando, de uma vez por todas, no profissional que a coletividade exige cada vez mais, especialmente neste momento de escassez de recursos, diz Paulo Reis. SISTEMA DE PLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO DE CONTRATAÇÕES Esse é o sistema ao qual se refere o parágrafo único, do art. 27, da IN 05/2017-SEGES/MP. O Sis- tema era para ser disponibilizado desde 2017 pelo MP, mas a edição da norma regulamentadora foi publicada só agora. A norma entrará em vigor apenas em 2019 de forma obrigatória, e de acordo com o art. 11, os órgãos terão de 01/01 a 15/04 para cadastrarem suas demandas. Além disso, o art. 12 diz que só poderão alterar ou inserir novas demandas nos prazos de 01 a 30/09 ou de 16 a 30/11. “Art. 10. Os setores requisitantes devem encaminhar ao setor de licitações, no período de 1º de janeiro a 1º de abril do ano de elaboração do Plano Anual de Contratações, a lista dos itens que pretendem contratar no exercício subsequente, acompanhada das informações constantes no art. 5º, bem como do rol das contratações cuja vigência se pretende renovar no exercício subse- quente, na forma do art. 57 da Lei nº 8.666, de 1993. Art. 11. Duranteo período de 1º de janeiro a 15 de abril do ano de elaboração do Plano Anual de Contratações, o setor de licitações deverá registrar no Sistema PGC as demandas encaminhadas pelos setores requisitantes e enviar para aprovação da autoridade máxima do órgão ou entidade ao qual se vincule ou a quem esta delegar. Art. 12. Nos períodos de 1º a 30 de setembro e de 16 a 30 de novembro do ano de elaboração do Plano Anual de Contratações, poderá haver a inclusão, exclusão ou o redimensionamento de itens do Plano visando sua adequação à proposta orçamentária do órgão ou entidade ao qual se vincular a UASG.” O sistema poderá ser utilizado facultativamente em 2018, para planejar as contratações de 2019. Mas em 2019 o seu uso será obrigatório, para planejar as contratações de 2020. O professor, advogado e engenheiro civil, Paulo Sérgio de Monteiro Reis, lembra que, como anunciado no 13º Congresso Brasileiro de Pregoeiros, a Instrução Normativa MP-SEGES 1 faz parte do contexto de aperfeiçoamento do processo de planejamento das contratações realizadas pela Administração federal. “Essas ações, que se evidenciaram a partir da entrada em vigor, no ano passado, da Instrução Normativa 5/2017, buscam incutir a ideia de que a administração pública brasileira precisa sair do amadorismo em que se encontrava até não muito tempo atrás, entrando, de uma vez por todas, no profissional que a coletividade exige cada vez mais, especialmente neste momento de escassez de recursos”, ressalta. 21abril 2018 MatériaPLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO DE CONTRATAÇÕES Como regra, o planejamento das contratações deve anteceder e servir com fundamento básico para a elaboração do orçamento. “Essa ideia está bem clara na ação agora implementada, como se pode ver claramente nos prazos definidos. Os órgãos da Administração federal deverão apresentar o planeja- mento de suas contratações ao Ministério do Planejamento até o final do mês de abril de cada ano. A partir daí, virá a elaboração do orçamento anual. Posteriormente, com a aprovação da proposta orça- mentária, o plano de contratações deverá ser reajustado, para se adequar àquela. É um planejamento integrado que, superadas as naturais dificuldades iniciais, parece estar no caminho certo da profissio- nalização das contratações públicas”, explica. Para Reis é interessante verificar a integração com a IN 5/2017, especialmente através da utilização de alguns mecanismos nela inseridos, como o Gerenciamento dos Riscos inerentes a cada contratação. “O planejamento de todo o processo é bem realçado, inclusive com a obrigatória análise da necessidade de capacitação dos servidores que participam das contratações, como se vê no art. 5º, inc. IX, da nova IN. Como dispõe a IN, no corrente ano o Plano não é obrigatório, mas a sua utilização imediata será um suporte importante para que, a partir de 2019, quando a utilização passará a ser obrigatória, as dificul- dades já estejam superadas e o processo comece a atingir seus objetivos. Enfim, louvável a iniciativa do Ministério do Planejamento, que ajuda a acreditar em um panorama mais positivo para as contratações públicas em um futuro próximo”, conclui Reis. PLOA O sistema também será vinculado ao Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), de forma que não será possível contratar nada que não tenha sido planejado. “Art. 13. Para a inclusão de itens no Plano Anual de Contratações fora dos períodos previstos nos arts. 10, 11 e 12, a autoridade máxima de que trata o art. 11 desta norma deverá solicitar ao Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, justificadamente, a abertura do Sistema PGC.” PREOCUPAÇÃO Conforme Marcus Vinicius Reis de Alcântara, secretário de Controle Interno do TRT da 20ª Região – Sergipe, o plano de contratação já é utilizado em alguns órgãos, como pelo poder judiciário. “Eu achei a IN interessante, e a batizo como mais um passo para a profissionalização do processo de contratação. Então as entidades vão ter que se adequar, planejar e cumprir prazos. Vão precisar colocar no plano todas as contratações, ou seja, precisam fechar o plano. O legal é que o MP está dando uma ferramenta, que é o sistema informatizado. O que preocupa? É que os órgãos terão que fazer estudos técnicos preliminares e gerenciamento de riscos para com- por o plano e eu não sei se haverá tempo hábil para isso. Pois serão três meses para realizar todos os estudos técnicos preliminares. Uma outra preocupação, como a cultura do planejamento ainda não está presente em todos os órgãos da Adminis- tração Pública, é que esse pessoal, sem noção de planejamento, tendo que planejar agora, coloquem um monte de demanda, e não consigam dar conta no ano. Ai che- gará dezembro com um monte de processo rodando. É um grande passo de profis- sionalização, mas depende da maturação e das pessoas acostumarem com a ideia. Mas, pior é como estava antes, sem planejar”, afirma Alcântara. Matéria 22 abril 2018 PLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO DE CONTRATAÇÕES VANTAGENS - SEGUNDO O MP • Fortalecimento da fase de planejamento; • Estabelecimento de estratégias de identificação dos riscos inerentes aos processos de logís- tica governamental; • Melhoria da gestão para tomada de decisão; • Instrumentalização dos procedimentos de trabalho; • Oportunidade de ganho de escala, por meio do compartilhamento e centralização das contra- tações; • Visualização abrangente das compras planejadas; e • Ampliação da transparência para a sociedade por meio da divulgação dos Planos Anuais nos sites dos órgãos e entidades. O PGC está alinhado a referenciais internacionais. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o Banco Mundial (BIRD) apresentaram, este ano, recomendações para que os go- vernos implantem ferramentas de planejamento das contratações públicas. O cronograma do Plano Anual de Contratações encontra-se definido na Seção IV da Instrução Normativa 01/2018 e sintetizado no quadro a seguir: ATIVIDADE PRAZO Envio pelas áreas requisitantes dos itens que pretendem contratar ao setor de licitações 1º/01 a 1º/04 Consolidação dos itens e cadastramento do Plano pelo setor de licitações 1º/01 a 15/04 Aprovação do Plano pela autoridade competente Até 30/04 Envio ao Ministério do Planejamento Até 30/04 “A meta é criar a cultura do planejamento das compras, visando a tomada de decisão qualificada em nível estratégico, o aumento da eficiência nas contratações do Governo Federal e a melhor utilização de recursos internos e externos”, enfatizou o secretário de Gestão do Ministério do Planejamento, Desen- volvimento e Gestão (MP), Gleisson Rubin. 23abril 2018 MatériaPLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO DE CONTRATAÇÕES Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão SECRETARIA DE GESTÃO INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 1, DE 29 DE MARÇO DE 2018 Dispõe sobre o Sistema de Planejamento e Gerenciamento de Contratações e sobre a ela- boração do Plano Anual de Contratações de bens, serviços, obras e soluções de tecnolo- gia da informação e comunicações no âmbito da Administração Pública federal direta, autárquica e fundacional. O SECRETÁRIO DE GESTÃO DO MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, DESENVOLVIMENTO E GESTÃO, no uso das atribuições que lhe conferem o art. 13 do Anexo I do Decreto nº 9.035, de 20 de abril de 2017, e o Decreto nº 1.094, de 23 de março de 1994, resolve: Art. 1º Esta Instrução Normativa dispõe sobre o Sistema de Planejamento e Gerencia- mento de Contratações - PGC e sobre a elaboração do Plano Anual de Contratações pú- blicas de bens, serviços, obras e soluções de tecnologia da informação e comunicações no âmbito da Administração Pública federal direta, autárquica e fundacional. Seção I Das disposições gerais Art. 2º O Sistema PGC constitui a ferramenta informatizada disponibilizada pela Secreta- ria de Gestão do Ministério do Planejamento,Desenvolvimento e Gestão para elaboração dos Planos Anuais de Contratações pelas UASG. Parágrafo único. O Sistema PGC pode ser acessado no endereço eletrônico https://pgc. planejamento.gov.br. Matéria 24 abril 2018 PLANEJAMENTO E GERENCIAMENTO DE CONTRATAÇÕES 25abril 2018 MatériaSustentabilidade EXISTE SUSTENTABILIDADE NAS COMPRAS PÚBLICAS? A CULTURA SIMPLISTA DA ADMINISTRAÇÃO Devemos falar em sustentabilidade nas compras públicas ou de compras sustentáveis? Segundo a professora Madeline Furtado, Escritora e Palestrante na área de Licitações e Contra- tos, sustentabilidade é uma palavra utilizada em vários momentos, de tema transverso no Direito, pois, ultrapassa o direito Constitucional, Ambiental e Administrativo dada a sua aplicação em várias áreas. “Quando falamos de sustentabilidade, temos em mente os pilares que o fundamentam, os pilares econômico, social e ambiental. Ao nos depararmos com tamanha magnitude desses pilares, nos quais se fundamentam a Sustentabilidade constatamos que seu significado pode ser aplicado em várias situações, assim, no âmbito da Administração Pública, a Sustentabilidade pode ser principio aplicável desde a organização administrativa, na gestão dos recursos humanos, materiais e pro- cessuais, bem como, nos processos de aquisição de bens, obras e serviços, entre outras”, explica. Assim, na prática, são utilizados vários termos, “sustentabilidade nas compras públicas” ou “com- pras públicas sustentáveis”, “licitação sustentável”, “eco aquisição”, “compras verdes”, “compra ambientalmente amigável” e “licitação positiva”. “Tais assertivas nos remete às compras nas quais os produtos são especificados com critérios de sustentabilidade (em especial, o critério ambiental), muito embora, não seja apenas este o critério a ser observado, visto que o próprio Governo Federal trouxe entre 2011 a 2017 vários Decretos que Por Aline de Oliveira Imagem: Shutterstock Matéria 26 Sustentabilidade abril 2018 tratavam da margem de preferência nas licitações públicas, o que ia ao encontro do termo “Desenvol- vimento Nacional Sustentável”, propiciando o fomento da economia nacional frente ao produto estran- geiro”, conta. Para a especialista, o termo “sustentabilidade nas compras públicas” traz um sentido mais amplo, pois traz a aplicação dos pilares já citados de forma mais geral, no âmbito institucional. “Assim, entendo que não se trataria apenas da sustentabilidade do objeto, mas, todo o aparato respon- sável pela formalização processual institucional de forma eficiente e eficaz, também em relação aos recursos humanos envolvidos, os custos processuais e a gestão administrativa. No nível em que nos encontramos atualmente na Administração Pública, o termo “sustentabilidade” ainda traz a primeira e simplista ideia de sustentabilidade ambiental, dissociada das demais, talvez daqui a alguns anos talvez possamos evoluir e compreender o real o significado do desenvolvimento sustentável”. O que são compras sustentáveis? Madeline explica que as compras sustentáveis são aquelas em que os bens adquiridos pela Administra- ção Pública deverão trazer características sustentá- veis, ou seja, produtos que protejam ou que não agri- dam o meio ambiente, e que possibilitem equilíbrio desde a sua produção até o descarte final, sem per- der de vista o desenvolvimento social e a econômico. “Observe que os critérios de sustentabilidade não se referem só as compras, mas, aplica-se ainda aos serviços e obras. Assim, temos um mundo jurídico amplamente rico que fundamentam a matéria, com diversas normas que tratam desde o impacto am- biental na realização dos serviços e obras, como tam- bém, o processo de produção dos bens. As compras, os serviços e as obras sustentáveis envolvem um ar- cabouço jurídico enorme, e perpassa todo o ciclo de vida do produto, ou seja, desde o momento em que são produzidos (bem ou serviço), o processo produ- tivo sustentável, a execução do objeto (serviço) sus- tentável, a disponibilização do bem sustentável, e seu descarte também sustentável, nesse contexto, apa- rece a logística reversa, que possibilita a devolução dos equipamentos ao fabricante para que possam ter descarte ambientalmente correto, a exemplo, dos aparelhos de celulares, as baterias , equipamentos eletrônicos, etc”, afirma. Para esclarecer o que significa o ciclo de vida do produ- to, vejamos o artigo 3º, inciso IV, da Lei nº 12.305/2010 - Política de Resíduos Sólidos: IV - ciclo de vida do produto: série de etapas que envolvem o desenvolvimento do produto, a obtenção de matérias-primas e insumos, o pro- cesso produtivo, o consumo e a disposição final; Pelo que se vê, o ciclo de vida do produto não é tão simples como parece, pois, interfere no modo de produção dos produtos e forma de consumo pela população. Além dos produtos, as obras e os serviços tam- bém precisam ser sustentáveis, neste sentido devem propiciar economia, utilização de mate- riais recicláveis, reaproveitáveis, madeiras de origem declarada, a limpeza e destinação cor- reta do resíduo sólido, ”de modo a proporcionar a economia da manutenção e operacionalização da edificação e a redução do consumo de ener- gia e água, por meio de tecnologias, práticas e materiais que reduzam o impacto ambiental. “ (Dec.7.746/2012). Madeline diz que o desenvolvimento sustentável já bastante conhecido como o desenvolvimen- to capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de aten- der as necessidades das futuras gerações. “É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro”, conclui. 27abril 2018 MatériaSustentabilidade Nas palavras de Thomas L. Friedman: “ a revolução verde já não diz respeito somente às baleias. Nem aos ‘filhos de nos- sos filhos’, uma geração tão distante que torna difícil uma mobilização em seu fa- vor. A revolução diz respeito a nós”. O quesito sustentabilidade é obrigatório em todas as licitações? Para Madeline, esta questão sempre é levantada. “Parece-nos que falta um processo educativo mais determinante na sociedade para que possamos entender que não se trata mais de uma opção. Aliás, esta opção nun- ca existiu. A partir domomento que a Constituição Federal trouxe o princípio da de- fesa do meio ambiente, inclusive com tratamento diferenciado, se torna obrigatório exercermos tal principio, que foi inserido claramente também na Lei de Licitações, no RDC e na recente Lei das Estatais”, conta. Lei das Estatais Art. 170, afirma: (...) ” A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os dita- mes da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado confor- me o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) E artigo 225: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações. Lei de Licitações Art. 3O A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da mo- ralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos. (Redação dada pela Lei nº 12.349, de2010) Imagem: Shutterstock Matéria 28 Sustentabilidade abril 2018 Como fazer compras sustentáveis? Madeline destaca que legislação não é o problema, e para disciplinar sua obrigação o Governo Federal em 2012, publicou o Decreto 7.746/2012. “O qual tive o enorme privilégio de participar da sua elaboração e discussão. Além desse Decreto, o atual MPDG,já havia publicado uma Instrução normativa 01/2010 que tratava do assunto. Assim já estamos há 08 anos com legislação para implantar compras sustentáveis, entretanto, muitos órgãos ainda continuam em dúvida se adquirem ou não com critérios sustentáveis”, conta. Como o pregoeiro pode incluir o direito a sustentabilidade em todas as licitações que faz? Para a professora é muito simples. Temos no Decreto citado, o artigo 3º que afirma que os critérios e as práticas de sustentabilidade serão publicados como: 1. especificação técnica do objeto, obrigação da contratada ou requisito previsto em lei especial, de acordo com o disposto no inciso IV do caput do art. 30 da Lei nº 8.666, de 1993. “Assim, o servidor (requisitante) especificará o objeto, com critérios de sustentabilidade, conforme descrição já existente no mercado, lembrando que o Governo Federal dispõe de catálogos de materiais sustentáveis, como lâmpadas, canetas, eletrodomésticos, etc. Nos casos de serviços, podem ser inseridos os critérios de sustentabilidade nasobrigações da contratada, por exemplo: a logística reversa para a devolução dos equipa- mentos, toners, etc., e a aplicação de produtos sustentáveis nos serviços de limpeza”, afirma. Em artigo publicado em 2012, Madeline afirma que o processo de compras se inicia da seguinte forma: (...) Nesse sentido, faz se necessário que o gestor público proceda a um levantamento minucioso do objeto dese- jado, comparecendo ao mercado, conhecendo o objeto, e em especial seu ciclo de vida, bem como toda a le- gislação que o cerca, para que possa delimitar em seu ato convocatório, a correta especificação e aferi- ção do item. (...) Tal levantamento, inclui um inventário dos materiais e equipamentos existentes, a fim de que se possa avaliar aqueles que podem ser substituídos por outros com características sustentáveis, como canetas, lâmpadas led, papel, veículos, equipamentos delimpeza, eletrodomésticos, a fim de que se possa fazer a substituição gradativa e sem desperdício. Por que devemos falar em compras sustentáveis? “Porque precisamos contribuir com o desenvolvimento sustentável, não por sermos bons ou por sermos es- peciais, mas, por sermos humanos e precisamos preservar o mundo em que vivemos, indo contra toda uma cultura consumista e descartável que assimilamos e a cada dia nos tornam pessoas descartáveis também, no sentido que não aprendemos a cuidar do nosso futuro comum”, explica Madeline. 29abril 2018 MatériaSustentabilidade Pontos práticos mais importantes Madeline destacou os pontos que serão aplicados na prática, mas que tem uma certa complexidade, pois envolve atos de gestão: 1. Desenvolver estratégias de sensibilização e capacitação de servidores, conscientizar gestores, administradores, pregoeiros, usuários e convencer que comprar um pouco mais caro, pode sair mais barato para o planeta. Pois o grande obstáculo ainda é o preço de alguns produtos sus- tentáveis. Pois sem demanda não há investimento para produzir produtos sustentáveis e baixa competitividade no mercado, a exemplo dos simples copos plásticos descartáveis que podem ser substituídos por copos produzidos com fibra de sisal, de coco etc. 2. Realização de inventário para identificar as necessidades e os objetos que estão trazendo damos ao meio ambiente, como ar condicionados sem eficiência energética, grandes vilões de consumo de energia. 3. Observar de acordo com o art. 4º do Decreto, outros critérios e práticas sustentáveis, aplicados aprodutos e serviços que possibilitem baixo impacto sobre a flora, fauna, ar, solo e água; dar pre- ferência para materiais, tecnologias e matérias-primas de origem local; propiciar uma maior efi- ciência na utilização de recursos naturais como água e energia; maior geração de empregos, pre- ferencialmente com mão de obra local; maior vida útil e menor custo de manutenção do bem e da obra; uso de inovações que reduzam a pressão sobre recursos naturais; origem sustentável dos recursos naturais utilizados nos bens, nos serviços e nas obras; utilização de produtos florestais madeireiros e não madeireiros originários de manejo florestal sustentável ou de reflorestamento. Dificuldade de ordem prática “A comprovação das exigências apresentadas no instrumento convocatório poderá ser feita por meio de certificação emitida ou reconhecida por instituição pública oficial ou instituição credenciada ou por outro meio definido no instrumento convocatório. Entretanto, a lei de licitações não permite exigências de certificações na fase de habilitação, salvo se estabelecido em Lei. Assim, os critérios que não pos- sam ser exigidos mediante Lei, deverão ser inseridos na característica do objeto”, afirma. Imagem: Shutterstock Matéria 30 Sustentabilidade abril 2018 EXEMPLOS PARA AQUISIÇÃO OU LOCAÇÃO: 1) Inserir no TERMO DE REFERÊNCIA - item de descrição ou especificação técnica do produto: “Só será admitida a oferta de (liquidificador ou secador de cabelo ou aspirador de pó) que possua Selo Ruído, indicativo do respectivo nível de potência sonora, nos termos da Resolução CONAMA n° 20, de 07/12/94, e da Instrução Normativa n° XXXX, e legislação correlata.” 2) Inserir no EDITAL - item de julgamento da proposta, na fase de avaliação de sua aceitabilidade e do cumprimento das especificações do objeto: “O Pregoeiro solicitará ao licitante provisoriamente classificado em primeiro lugar que apresente ou envie imediatamente, sob pena de não-aceitação da proposta, cópia do Selo Ruído do produto ofertado, nos termos da Resolução CONAMA n° 20, de 07/12/94, e da Instrução Normativa n° XXXX, e legislação correlata.” Resolução CONAMA n° 20, de 07/12/94 Liquidificadores: Instrução Normativa MMA n° 3, de 07/02/2000 Secadores de cabelo: Instrução Normativa MMA n° 5, de 04/08/2000 Aspirador. Instru- ção Normativa IBAMA n° 15, de 18/02/2004. DETERGENTE EM PÓ Aquisição ou serviços que envolvam a utilização de detergente em pó Exemplo: Limpeza – Lavan- deria –Etc. Os detergentes em pó utilizados no país, ainda que importados, devem respeitar limites de concen- tração máxima de fósforo. NA AQUISIÇÃO: 1) Inserir no TERMO DE REFERÊNCIA - item de descrição ou especificação técnica do produto: “Só será admitida a oferta de detergente em pó, fabricado no país ou importado, cuja composição respeite os limites de concentração máxima de fósforo admitidos na Resolução CONA- MA n° 359, de 29/04/2005, e legislação correlata.” www.file:///C:/Users/madef_000/Downloads/guia_nacional_de_licitacoes_sustentaveis%20(5).pdf FURTADO, Madeline Rocha FURTADO, Monique Rafaella Rocha. Licitações sustentáveis: como fa- zer?. Fórum de Contratação e Gestão Pública – FCGP, Belo Horizonte, ano 11, n. 126, p. 69 72, jun. 2012 Imagem: Shutterstock DNIT AUTORIZA PARCELAMENTO DE DÉBITOS DE LICITANTES MONITORAMENTO DA EFETIVAÇÃO DO PAGAMENTO DAS PARCELAS SERÁ REALIZADO PELA ÁREA RESPONSÁVEL PELA LICITAÇÃO OU CONTRATO O DNIT autorizou o débito de licitantes, contratados e convenentes. A Instrução Normativa 06, publicada no dia 23 de março de 2018, autoriza a concessão de parcelamento para o pagamento de débitos de licitantes, contratados e convenentes, decorrentes de obrigações, ajustes e penalidades imputadas nos processos administrativos em trâmite no Departa- mento Nacional de Infraestrutura de Transportes - DNIT, em parcelas mensais e sucessi- vas, até o máximo de 30 (trinta), desde que cada parcela seja devalor igual ou superior a R$ 1.000,00 (um mil reais). Por Aline de Oliveira 31abril 2018 MatériaDNIT Segundo a IN, o interessado poderá requerer o parcelamento junto à Diretoria Executiva antes do vencimento, inclusive em fase re- cursal, desde que renuncie expressamente ao direito de interpor recurso administrativo contra os valores devidos ou desista dos re- cursos interpostos, conforme modelo constante no Anexo II desta Instrução. Em caso de pedido de parcelamento de débito vencido, o DNIT atu- alizará o valor a ser parcelado, nos termos do artigo 37-A da Lei 10.522/02, com acréscimo de juros e multa de mora, calculados na forma da legislação aplicável aos tributos federais. O pedido de parcelamento constitui confissão de dívida e instrumento hábil e suficiente para inscrição do débito no CADIN e em dívida ativa, de- vendo a exatidão dos valores parcelados ser objeto de verificação por parte do DNIT. Os documentos exigidos são: I. Pedido de Parcelamento, de acordo com o modelo constante do Anexo I desta Instrução, devidamente autenticado; II. Termo de Renúncia de Interposição de Recurso Administrativo ou Termo de Desistência de Recurso Administrativo interposto, conforme Anexo II desta Instrução, devidamente autenticado; III. Cópia do Contrato Social, Estatuto ou Ata e eventual alteração, que identifique os atuais representantes legais do requerente, no caso de pessoa jurídica, bem como da Carteira de Identida- de e CPF do representante legal da empresa e do procurador, quando for o caso; IV. Cópia da Carteira de Identidade, do respectivo CPF e do com- provante de residência, no caso de pessoa física. CADIN Conforme a IN, as parcelas mensais serão reajustadas pela varia- ção da Taxa Referencial do Sistema Especial de Liquidação eCus- tódia - SELIC. E o monitoramento da efetivação do pagamento das parcelas será realizado pela área responsável pela licitação ou contrato. Segundo o arT. 9º, a ausência de pagamento de duas parcelas ou da última implicará a imediata rescisão do parcelamento e o pros- seguimento da cobrança, com a consequente inscrição no CADIN e na dívida ativa, conforme disposto no §3º do artigo 1º. Imagem: Shutterstock Matéria 32 abril 2018 DNIT 33abril 2018 MatériaMissão EUA MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO FALA DA MISSÃO AO EUA Recentemente 16 servidores foram enviados, em missão, para o EUA, quatro deles do Ministério do Plane- jamento (MP), para aprender com as melhores praticas em compras públicas desenvolvidas lá. Já falamos disso aqui e citamos aqui. Agora, confira na entrevista com o MP o objetivo, a experiência, as diferenças e semelhanças entre Brasil e EUA. Qual o objetivo da visita ao EUA? A Agência dos Estados Unidos para o Comércio e Desenvolvimento (USTDA) é uma agência independente do Governo dos Estados Unidos que apoia o desenvolvimento de infraestrutura moderna em economias emergentes. A USTDA lançou a “Iniciativa Global de Compras (GPI): Compreendendo o Melhor Valor”, em 2013, para ajudar países parceiros a obterem melhores resultados em grandes aquisições para projetos de infraestrutura. A GPI apresenta melhores práticas internacionais em metodologias de compras baseadas no valor para oficiais de governo, incluindo análise de custo ao longo do ciclo de vida, a fim de promover investimentos em infraestrutura sustentável e promover ambiente propício à maior concorrência interna- cional. O Ministério do Planejamento firmou parceria com a USTDA, com o objetivo de compartilhar as melhores práticas desenvolvidas nos EUA, União Europeia (UE), Comissão de Direito Comercial Internacional das Por Aline de Oliveira Imagem: Shutterstock O OBJETIVO É COMPARTILHAR AS MELHORES PRÁTICAS DESENVOLVIDAS NOS EUA, UNIÃO EUROPÉIA, NAÇÕES UNIDAS E OUTROS MODELOS EM COMPRAS GOVERNAMENTAIS Matéria 34 Missão EUA abril 2018 Nações Unidas (UNCITRAL) e outros modelos em compras governamentais. A iniciativa foi realizada por meio de um programa personalizado, sem ônus para a parte brasileira, que teve sua base legal em um Memorando de Entendimento firmado durante a execução da primeira atividade da cooperação, realizada no período de 11 a 13 de dezembro de 2017. A USTDA oferece viagens de estudo aos Estados Unidos, com foco em compras baseadas em valor, para pequenos grupos de oficiais de compras e tomadores de decisão – para que conheçam as práticas de aquisição nos níveis federal, estadual e municipal nos Estados Unidos. Essas visitas duram de uma a duas semanas e envolvem viagens para cidades dos Estados Unidos, onde os participantes podem observar es- tudos de caso envolvendo procedimentos de aquisição baseados em valor. As viagens de estudo também in- cluem dois dias de treinamento avançado em análises de custos ao longo do ciclo de vida e outros assuntos relacionados a compras, ministrados por especialistas técnicos da GPI, incluindo da Universidade George Washington e professores do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Como foi a experiência? O que podemos aprender com eles? Uma das experiências apresentadas aos participantes foi da Autoridade Ferroviária de Alta Velocidade da Califórnia (localizada no Vale do Silício). A agência é responsável pelo planejamento, projeto, construção e operação do primeiro sistema ferroviário de alta velocidade nos EUA. Em abril de 2013, a Autoridade ad- judicou um contrato de construção de projeto para a construção da primeira seção do sistema ferroviário de alta velocidade. Nesse processo de licitação competitiva, cinco equipes apresentaram propostas que foram avaliadas e classificadas com base em 30% para mérito técnico e 70% para custo. Fatores como a compreensão do projeto, a capacidade de cronograma, a abordagem do projeto e a segurança foram parte da pontuação técnica. O itinerário também incluiu uma reunião com a Autoridade de Transporte do Vale de Santa Clara para ilustrar como o melhor valor pode ser incorporado na Contratação de pedidos de emprego. Esse é um pro- cesso de aquisição de ofertas competitivas que as agências governamentais usam para realizar um grande número de pequenos e médios projetos de reparação e alteração com base em um conjunto de tarefas de construção local. O método de contratação foi usado recentemente para gerenciar a reconstrução de uma estrada em ruínas causada por terremotos na região. Como pretendem aplicar o que conheceram no Brasil? A aplicação dos conceitos de compras públicas pelo melhor valor, em boa medida, já é realizada, e certa- mente pode ser aprofundada. Porém, isso depende da atuação de cada gestor em sua respectiva área de atuação. É uma realidade muito distante? Quais as principais diferenças e semelhanças nas compras públicas entre os dois países? Em termos de legislação e de ferramentas inovadoras em compras públicas, o Governo Brasileiro está em pé de igualdade com as práticas internacionais para implementar o melhor valor em suas contratações, apesar das diferenças culturais entre os países. 35abril 2018 ArtigoRESERVA DE VAGAS Legislação municipal. Imposição de encargos trabalhistas a empresas prestadoras de ser- viços no território do Município. Inconstitucionalidade ampla. 1. Padece de um vasto rol de inconstitucionalidades a legislação municipal que restringe a atividade de empresas no território do Município por lhes exigir, como condição para ali poder trabalhar, a contra- tação e manutenção de um percentual de trabalhadores locais. 2. Sindicatos e entidades de classe com base estadual ou municipal de atuação, e objeto social voltado a defender judicial ou administrativamente o interesse das empresas que afiliem, detêm competên- cia constitucional originária para propor ações diretas de inconstitucionalidade contra leis municipais que afrontem a Constituição Estadual. Fomos recentementeconsultados por um excelente sindicato patronal do ramo da construção civil e de base de atuação estadual, que informa que em nosso Estado existem leis municipais, em vigor, as quais obrigam as empresas contratadas para a execução de obras ou a prestação de serviços, nos limites daqueles Muni- cípios, à contratação de mão de obra local, em percentuais porventura bastante altos, sobre a juridicidade daquelas leis. Além da aparente irregularidade dos diplomas perturba ainda mais o fato de que em pequenos Municípios simplesmente inexiste aquele contingente de profissionais aptos para o mister, e em condição de serem contratados. Dessa forma, informa-se-nos que nem sequer se as empresas se dispusessem a observar aquela legislação conseguiriam obter dos recursos humanos locais o pessoal necessário. Aponta ainda o irrealismo das leis na sua eventual aplicação, pois que obrigam que contingentes de um Município trabalhem dentro do território desse Município, e contingentes de cada outro Município operem apenas dentro de cada respectivo território. Se a obra é por exemplo uma estrada estadual que corta diversos Municípios, então resta virtualmente ini- maginável que a empresa executora contrate trabalhadores de um Município apenas para o trabalho dentro dele, e outros trabalhadores, de outro Município, para o serviço nessa sede, e assim até o último. A cada eta- pa uma equipe para e outra inicia o trabalho para retomá-lo, em outra fase, apena quando a primeira estiver RESERVA DE VAGAS PARA CONTRATAÇÕES LOCAIS EM SERVIÇOS DENTRO DO MUNICÍPIO - LEI MUNICIPAL INCONSTITUCIONAL I IVAN BARBOSA RIGOLIN Bacharel em Direito pela Universidade de São Paulo; Advogado militante na área de direito público; Consultor e assessor jurídico de Prefeituras e Câmaras Municipais. 36 abril 2018 Artigo RESERVA DE VAGAS concluída no último Município, quando se sabe que cada fase da obra pode ocasionalmente abranger uma necessária continuidade de trabalho do primeiro ao último Município. O quadro resta assim, de tão impraticável, quase esotérico no plano da engenharia da construção, sem pé nem cabeça, extremamente dispendioso, dispersivo e ingovernável, e não fazendo nenhum sentido técnico. E resulta com tudo isso absolutamente inquietante para as empresas construtoras e as prestadoras de serviços, que se veem constrangidas em sua atuação empresarial e comercial de modo grave, quase a inviabilizar sua atuação mesma. Formulou então o consulente, sob essa preocupação e anexando documentos, os seguintes quesitos: 1) É juridicamente admissível que legislação local, sobretudo municipal, determine uma cota mínima, ou uma reserva de vagas, em favor da mão de obra local nas contratações de empresas para prestação de serviços ou execução de obras? 2) Em caso de resposta negativa ao quesito anterior, que medida(s) judicial(is) pode(m) ser proposta(s) contra aquela legislação por sindicato patronal ou por ente de classe, e contra quem deve(m) ser pro- posta(s)? I - Em resposta, temos que a preocupação demonstrada pelo sindicato consulente nada tem de retórica nem de abstrata, porque o problema relatado é real e presente, e afeta diretamente as empresas que pres- tam serviços e que executam obras nos Municípios sob a injunção das leis relatadas. Aquelas leis, protetivamente à mão de obra de cidadãos residentes nos respectivos Municípios, mandam que as empresas contratadas por entes públicos ou empresas privadas para atuar dentro do território daqueles Municípios reservem grandes percentuais de vagas aos profissionais residentes no Município, contratando e mantendo tais profissionais no seu quadro de empregados. Se de um lado se poderia louvar a preocupação do legislador local com a empregabilidade no Município a que serve, não é menos certo que, de outro lado, é preciso questionar, e imediatamente, sobre a consti- tucionalidade e a juridicidade daqueles diplomas, em seu inteiro teor. Com todo efeito, sabe-se que nem tudo que num relance parece bom é de fato bom, e juridicamente acei- tável e defensável. E nem tudo que aos circunstantes agrada num primeiro momento resiste a uma subse- qüente análise técnica que, como se exige, seja refletida e imparcial. II - O consulente se refere a ao menos duas leis de Municípios paulistas, que aqui não se identificam, ambas de 2.015, uma delas sabidamente de iniciativa parlamentar e não do Executivo, sendo ambas exatamente com o mesmo teor nestes seguintes artigos: “Art. 1º Ficam as empresas prestadoras de serviço em (...), beneficiadas ou não com a concessão de incentivos fiscais, obrigadas a contratarem e manterem empregados prioritariamente trabalha- dores domiciliados neste Município, na proporção de 70% (setenta por cento) do seu quadro efetivo de funcionários. Parágrafo único. As contratações neste universo de 70% estão reservadas para trabalhadores que tenham no mínimo um ano de domicílio eleitoral em (...), exigência comprovada no título de eleitor do aspirante ao trabalho. 37abril 2018 ArtigoRESERVA DE VAGAS Art. 2º Não se aplica a determinação prevista no artigo anterior mediante as seguintes hipóteses: 1 - para contratações de trabalhadores cuja mão de obra exija especialização ou habilitação espe- cífica, oriunda de qualificação em curso técnico, graduação em curso superior ou pós graduação; 2 - admissão de empregado para ocupar cargo de chefia e direção de equipes. Art. 3º Constatado o descumprimento desta lei, a empresa será notificada pelo Poder Público Muni- cipal e poderá apresentar a sua defesa no prazo improrrogável de 15 (quinze) dias. Art. 4º Caso não seja apresentada a defesa prevista no artigo anterior ou se esta não for acatada, o descumprimento implicará a aplicação das seguintes penalidades: I - primeira infração: advertência e suspensão das atividades por 24 horas a contar a partir da au- tuação; II - segunda infração: suspensão das atividades no período de dez dias; III - terceira infração: suspensão temporária do Alvará de Funcionamento; IV - quarta infração: cassação definitiva do Alvará de Funcionamento. Art. 5º A abertura das vagas previstas na Lei deverão ser cadastradas (sic) junto ao PAT - Posto de Atendimento do Trabalhador do Município de (...). Art. 6º (...) Art. 7º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.” Ambas as leis referidas - uma das quais, repita-se, de autoria de Vereador - contêm estes artigos, e diferem em um artigo com matéria não transcrita, referente a inscrição de trabalhadores locais no PAT, previsão que uma lei contém e a outra não. Esse tema, entretanto, em nada interfere na matéria da consulta ou deste parecer. No mais, consta existirem diversos outros Municípios que editaram e mantêm em vigor leis com dispositivos semelhantes. E o propósito de transcreverem os artigos sem se identificarem os Municípios autores é apenas o de ilustrar o enfoque do consulente sobre os dados reais do caso, de forma que a conclusão não se fulcre apenas em teses mais ou menos abstratas, que nunca permitem saber exatamente do que se está tratando. III - Mesmo de um exame sumário do texto legal transcrito já salta aos olhos não apenas um, mas toda uma série de insuperáveis defeitos de juridicidade das duas leis municipais que o veicularam. Trata-se de uma reunião de tão graves inconstitucionalidades que chama a atenção o fato de que possa ter sido enfeixado em tão curto espaço, a recordar de certa forma a sempre jocosamente referida caçada em jardim zoológico. Primeira inconstitucionalidade IV - A primeira inconstitucionalidade das leis é, no caso da que foi iniciada por Vereador, exatamente isso. O assunto não admite a iniciativa parlamentar, uma vez que se trata de matéria de cunho eminentemente executivo, de administração municipal, o que apenas ao
Compartilhar