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Artigo Científico apresentado no I Simpósio Brasileiro de Processo Civil (2017) Como citar: BEDUSCHI, Leonardo; MÖLLER, Guilherme Christen. A irreversibilidade da estabilização da tutela antecipada antecedente sob a perspectiva dos direitos fundamentais. In: I Simpósio Brasileiro de Processo Civil, 2017, Curitiba. Anais do I Simpósio Brasileiro de Processo Civil. Curitiba: ABDConst, 2017. **Qualquer reprodução (integral ou parcial) deste artigo que não esteja em conformidade com o art. 46, inc. I, da Lei n.º 9.610/1998, bem como sem a anuência do autor, estará sujeita às sanções civis e penais aplicáveis. Pág. 1 A IRREVERSIBILIDADE DA ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA ANTECIPADA ANTECEDENTE SOB A PERSPECTIVA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS THE IRREVERSIBILITY OF THE STABILIZATION OF ANTECEDENT PRELIMINARY INJUNCTION UNDER THE PERSPECTIVE OF FUNDAMENTAL RIGHTS Guilherme Christen Möller Leonardo Beduschi** Resumo: Tendo por objetivo a análise da irreversibilidade da estabilização da tutela antecipada antecedente, abordar-se-á neste artigo os principais pontos acerca da temática, para tanto, iniciando-se com o estudo acerca do referido instituto sob o contexto das tutelas jurisdicionais diferenciadas, analisando-se, nesta parte, aspectos problemáticos relacionados à aplicação prática da estabilização da tutela antecipada requerida em caráter antecedente, seguindo-se para a análise do Direito Processual Civil moderno, partindo-se da visão de sua constitucionalização e ideais esperados ao processo moderno para, ao fim, estudar a temática deste trabalho, a possibilidade de flexibilizar a irreversibilidade da tutela provisória de urgência, especialmente a antecedente, frente a sua estabilização, sob a perspectiva do cumprimento dos direitos fundamentais. Por meio dessa perspectiva, conclui-se que na visão moderna de Direito Processual Civil, para os fins esperados ao processo pelo novo modelo Graduando em Direito da Universidade Regional de Blumenau (FURB). Autor de livro e de artigos científicos relacionados ao Direito Processual Civil. Mediador Judicial capacitado pela Academia Judicial do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina (CEJUR). ** Especialista em Direito Processual Civil pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e em Direito Constitucional pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). Mestre em Ciência Jurídica pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Professor titular de Direito Processual Civil e Teoria Geral do Processo na Universidade Regional de Blumenau (FURB). Professor do curso de pós- graduação em Direito Processual Civil da Sociedade Educacional Leonardo Da Vinci (UNIASSELVI). Autor de livro e de artigos científicos relacionados ao Direito Processual Civil. Membro do IBDP – Instituto Brasileiro de Direito Processual. Pág. 2 constitucional brasileiro, inviável seria não pensar na possibilidade de flexibilização da irreversibilidade da tutela provisória antecipada antecedente quando ao choque com qualquer direito fundamental do cidadão, devendo-se analisar individualmente o requerido, e, caso revogada, há a possibilidade da conversão em perdas e danos, ou ação indenizatória autônoma, porém, nunca devendo o Estado-juiz, na visão moderna de processo, deixar de apreciar ou indeferir uma tutela antecipada antecedente, quando versar sobre direito fundamental, pela alegação da sua irreversibilidade. Palavras-chave: Novo Código de Processo Civil. Tutela antecipada. Estabilização da tutela antecipada. Irreversibilidade. Direitos fundamentais. Abstract: Aiming at the analysis of the irreversibility of the stabilization of the antecedent preliminary guardianship, the main points about the subject will be discussed in this article, starting with the study about the said institute under the context of the different jurisdictional injunction, analyzing, in this part, problematic aspects related to the practical application of the stabilization of the anticipated guardianship required in antecedent character, followed for the analysis of modern Civil Procedural Law, starting from the vision of its constitutionalization and ideals expected to the modern process for, finally, to study the theme of this work, the possibility of easing the irreversibility of the provisional protection of urgency, especially the antecedent, before its stabilization, from the perspective of the fulfillment of fundamental rights. From this perspective, it is concluded that in the modern view of Civil Procedural Law, for the purposes expected to the process by the new Brazilian constitutional model, it would be unfeasible not to think about the possibility of relaxation of the irreversibility of the antecedente preliminary injunction when to the clash with any right the individual must examine the defendant individually and, if revoked, there is the possibility of conversion into losses and damages, or autonomous indemnity action, but the State-judge should never, in the modern process view, fail to appreciate or refuse an antecedent preliminary injunction, when dealing with fundamental right, by the claim of its irreversibility. Keywords: New Brazilian Civil Procedure Code. Preliminary injunction. Stabilization of preliminary injunction. Irreversibility. Fundamental rights. Pág. 3 Sumário: I – Introdução. II – A irreversibilidade da estabilização da tutela antecipada antecedente sob a perspectiva dos direitos fundamentais. II.I – A estabilização da tutela antecipada requerida em caráter antecedente no Código de Processo Civil de 2015 no contexto das tutelas jurisdicionais diferenciadas. II.II – O Direito Processual Civil moderno: uma análise a partir de sua constitucionalização. II.III – A herança deixada pela revogada codificação processual civil: a possibilidade de mitigação do art. 300, § 3°, do Código de Processo Civil (Lei n° 13.105/2015) e a extensão do entendimento pacificado do Superior Tribunal de Justiça para o novo modelo de tutela provisória I – INTRODUÇÃO Para o cenário jurídico brasileiro, o ano de 2016 é importantemente marcado pela entrada em vigor de um novo diploma processual civil. Após quarenta e dois anos de vigência, o revogado CPC, Lei n° 5.869/73, deu espaço para o Novo Código de Processo Civil, a Lei n° 13.105/15. Por se tratar de uma nova codificação, com ela nascem novos problemas, não obstante àqueles enfrentados pelas outras codificações, porém e especialmente no que tange aos novos institutos dentre do Código de Processo Civil. Uma das características de maior marca neste novo código foi a mudança na seara da tutela provisória. Houvera uma reformulação do referido instituto, atualizando-se e incluindo-se novas disposições, emanando daí, por exemplo, a presente problemática. Surgiu-se com esta nova codificação uma nova espécie de tutela, a tutela provisória de urgência antecipada requerida em caráter antecedente. Por uma ofensa direta à Constituição Federal, não poderia essa decisão que conceder ou não a tutela requerida ter força de fazer coisa julgada, na realidade há, nesse caso, ofensa ao devido processo legal (art. 5°, inc. LIV, da CF). A problemática é que este tipo de tutela está inserido no subgênero da tutela provisória fundada na urgência, ou seja, passível de indeferimento quando a decisão for irreversível (art. 300, § 3°, do CPC). Normalmente, os casos para que este tipo de modalidade de tutela seja utilizado, além de ter como requisito, possuem uma urgência demasiadamente relevante, de modo a não haverem dias ou sequer horas para diálogo e contraditória Pág.4 acerca do requerido, o que justifica ainda mais a preocupação acerca da irreversibilidade e do prejuízo que uma parte possa causar a outra. Ocorre que o Novo Código de Processo Civil é promulgado e entra em vigência em um cenário neoconstitucionalista, enxergando-se a Constituição Federal como pilar para todo o ordenamento jurídico e dela emanando ordem condicional para todos os demais ramos do Direito. Assim, este artigo fora desenvolvido na análise da decisão acerca da tutela antecipada antecedente quando irreversível e o bem jurídico almejado pela tutela estar constitucionalmente assegurado, no caso, um direito fundamental zelado pela Constituição Federal. Nesta senda, justifica-se, este artigo científico, dada a recente entrada em vigor do Código de Processo Civil de 2015, pouco menos de um ano, em comparação aos outros códigos que o antecederam, ainda mais com inexistência de entendimento pacificado pelos tribunais superiores acerca desta temática. A metodologia para o desenvolvimento desta pesquisa será bibliográfica, para que as opiniões dos autores possam ser refletidas e os dispositivos legais interpretados e comparados. O objetivo deste trabalho é analisar se haveria a possibilidade de flexibilização dessa irreversibilidade da tutela provisória de urgência requerida em caráter antecedente quando o bem jurídico tutelado versar acerca de um direito fundamental. II – A IRREVERSIBILIDADE DA ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA ANTECIPADA ANTECEDENTE SOB A PERSPECTIVA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS II.I – A ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA ANTECIPADA REQUERIDA EM CARÁTER ANTECEDENTE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015 NO CONTEXTO DAS TUTELAS JURISDICIONAIS DIFERENCIADAS No gênero da tutela jurisdicional diferenciada, a antecipação da tutela é uma das suas espécies, que tem por objetivo central, conforme doutrina clássica, distribuir de forma mais equânime o ônus do tempo do processo rompendo com o princípio da Pág. 5 nulla executio sine titulo, ao autorizar que o juiz profira provimentos que permitam a execução antecipada, total ou parcial, da pretensão do autor1. De um modo geral, a tutela jurisdicional diferenciada, em suas acepções primordiais (a especialidade procedimental e a sumariedade e não definitividade da cognição), tem por escopo procurar e desenvolver formas de tutela jurisdicional tempestiva, que permitam alteração da realidade fática no menor espaço de tempo e de maneira satisfatória ao titular de um direito, outorgando bem da vida ou a situação jurídica desejada a quem de direito, de modo, ao fim e ao cabo, a minimizar o ônus do tempo no processo2. E como não poderia deixar de ser, esse também é o alvo da tutela antecipada requerida em caráter antecedente no CPC/2015 (arts. 303-304), cujo procedimento (mas não a sua substância) difere da tutela antecipada incidental em relação ao momento do requerimento e à possibilidade de estabilizar-se. Ou seja, tudo o que pode ser requerido sob a forma de tutela antecipada incidental, também poderá ser buscado mediante a tutela antecipada antecedente, sob outro procedimento. A estabilização, em resumo, se manifesta pela manutenção dos efeitos da tutela antecipada antecedente mesmo após a extinção do processo no qual foi deferida, em cognição sumária, caso o réu não se insurja contra a decisão que deferir o respectivo pedido. Ou seja, na estabilização, a tutela antecipada antecedente sobrevive à extinção do processo e não há o prosseguimento da lide e tampouco o aprofundamento da cognição. Segundo a Exposição de Motivos do Anteprojeto do novo CPC (apresentada ao Senado Federal em 2010), a estabilização da tutela antecipada antecedente está inserida no objetivo de dar ao processo o maior rendimento possível3, foi inspirada 1 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Processo de conhecimento. Curso de processo civil, v. 2. 12. ed. rev. e atual. São Paulo: RT, 2014, e MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica processual e tutela dos direitos. 2. ed. revista e atualizada. São Paulo: RT, 2008. Em sentido contrário, para Araken de Assis, o princípio do título não é eliminado pela emissão de um provimento antecipatório (tutela provisória antecipada), pois essas decisões antecipam o título, como no exemplo do art. 528 do CPC (execução de alimentos). E prossegue o referido autor, citando Luana Pedrosa de Figueiredo Cruz: “A execução de decisão antecipatória de tutela não é execução sem título permitida. Acreditamos que a decisão antecipatória de tutela, apesar de não estar relacionada como título executivo judicial, principalmente por seu conteúdo, cumpre o princípio de que não há execução sem título. Até porque a satisfação definitiva pode vir a ocorrer como consequência da confirmação dessa decisão”. (ASSIS, Araken de. Manual da execução, p. 143-144). 2 LUCON, Henrique dos Santos. Flexibilização procedimental no quadro da tutela jurisdicional diferenciada. In: Fredie Didier Jr.. (Coord.). Grandes temas do novo CPC. Tutela provisória. Salvador: Editora JusPodivm, 2016, v. 6, p. 89. 3 “Também visando a essa finalidade [permitir que "cada processo tenha maior rendimento possível"], o novo Código de Processo Civil criou, inspirado no sistema italiano e francês, a estabilização de tutela Pág. 6 nos códigos de processo civil italiano e francês4 (référeé) e, a exemplo do que ocorre nesses ordenamentos, sobre ela não incide a imutabilidade da coisa julgada (art. 304, § 6º do CPC/2015). Nesse sentido é o art. 488 do CPC francês: “L'ordonnance de référé n'a pas, au principal, l'autorité de la chose jugée. Elle ne peut être modifiée ou rapportée en référé qu'en cas de circonstances nouvelle”5. Mas o que significa a categoria tutela jurisdicional diferenciada, e como ela está inserida no texto do novo CPC? [...], que permite a manutenção da eficácia da medida de urgência, ou antecipatória de tutela, até que seja eventualmente impugnada pela parte contrária. (É conhecida a figura do référé francês, que consiste numa forma sumária de prestação de tutela, que gera decisão provisória, não depende necessariamente de um processo principal, não transita em julgado, mas pode prolongar a sua eficácia no tempo. Vejam-se arts. 488 e 489 do Nouveau Code de Procédure Civile francês)”. (Brasil. Congresso Nacional. Senado Federal. Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de Anteprojeto de Código de Processo Civil. Brasília: Senado Federal, Presidência, 2010). [...] Na Itália a lei claramente disciplina que tal decisão não restará acobertada pela coisa julgada, podendo ser revista em sede de processo principal enquanto não prescrito o direito material. Tal opção é meramente política, não havendo cláusula constitucional que impeça o reconhecimento da eficácia da coisa julgada de decisão antecipatória não submetida à cognição plena quando as partes optarem por não discutir exaustivamente a questão sub judice. (BAUERMANN, Desirê. Estabilização da Tutela Antecipada. Revista Eletrônica de Direito Processual, Rio de Janeiro, ano 4, v. VI, jul.-dez. 2010, p. 37). 4 “Sem embargo, trata-se de importante perspectiva que poderia ser explorada no direito brasileiro, à semelhança do que ocorre no direito italiano, que permite a estabilização da tutela antecipada deferida dentro do procedimento ordinário, com o encerramento deste último sem que a decisão antecipatória opere a coisa julgada; e, ainda, do que acontece no direito francês, em que se admite o référé no curso do processo principal, podendo acarretar a extinção deste com a subsistência apenas da decisão provisória. (O sistema italiano admite, v.g., no procedimento possessório, a possibilidadede estabilização autônoma do provimento antecipatório deferido dentro do procedimento de cognição plena: uma vez proferido o provimento sumário, este é hábil a encerrar o processo como um todo. A fase de cognição plena só se segue se alguma das partes a requerer expressamente. Se não houver tal pleito expresso, o provimento sumário é hábil a encerrar todo o processo, com a solução da crise do direito material, sem, entretanto, fazer coisa julgada).” (NUNES, Dierle. ANDRADE, Érico. Os contornos da estabilização da tutela provisória de urgência antecipatória no novo CPC e o mistério da ausência de formação da coisa julgada. In DIDIER JR., Fredie e outros. Coleção novo CPC - doutrina selecionada - v.4 - procedimentos especiais, tutela provisória e direito transitório. 2a ed: Rev., amp. e atualizada. Salvador: Juspodvm, 2016, p. 69-101). 5 Para Eduardo Talamini, a estabilização da tutela antecipada antecedente é baseada na técnica de monitorização do procedimento: “A estabilização da medida urgente preparatória reúne todas as características essenciais da tutela monitória: a) há o emprego da cognição sumária com o escopo de rápida produção de resultados concretos em prol do autor; b) a falta de impugnação da medida urgente pelo réu acarreta-lhe imediata e intensa consequência desfavorável; c) nessa hipótese, a medida urgente permanecerá em vigor por tempo indeterminado – de modo que, para subtrair-se de seus efeitos, o réu terá o ônus de promover ação de cognição exauriente. Ou seja, sob essa perspectiva, inverte-se o ônus da instauração do processo de cognição exauriente; d) não haverá coisa julgada material. E, na medida em que o âmbito de incidência das medidas urgentes preparatórias não é limitado a determinadas categorias de litigio ou modalidades de pretensão, a estabilização de tutela urgente apresenta-se como um mecanismo geral, que aparentemente seria apto a “monitorizar” o processo brasileiro como um todo.” (TALAMINI, Eduardo. Tutela de urgência no Projeto de novo Código de Processo Civil: a estabilização da medida urgente e a 'monitorização' do processo brasileiro. Revista de Processo. São Paulo: RT, 2012, n. 209, p. 24-25). Nesse sentido, aplicando a disciplina da ação monitória à fixação da sucumbência na estabilização da tutela antecipada: Enunciado nº 18 da ENFAM: “Na estabilização da tutela antecipada, o réu ficará isento do pagamento das custas e os honorários deverão ser fixados no percentual de 5% sobre o valor da causa (art. 304, caput, c/c o art. 701, caput, do CPC/2015)”. Pág. 7 Veja-se que o Código de Processo Civil de 2015, seguindo a linha do CPC de 1973, revogado, adotou um procedimento comum como modelo geral para a tramitação das demandas de natureza cognitiva, ao lado dos procedimentos especiais. O procedimento comum tem como característica básica não tratar de forma processualmente diferenciada as diversas situações de direito material que lhe são submetidas, impondo o exaurimento da cognição, a observação do contraditório e a aptidão para a formação da coisa julgada material como vetores procedimentais6. Esse panorama passou a ser alterado a partir da introdução, no procedimento comum7, das tutelas jurisdicionais (ou processuais) diferenciadas, o que ocorreu na reforma processual promovida por meio da Lei nº 8.952/19948. 6 É preciso levar em consideração que a previsão, no CPC de 1973, de um “procedimento comum sumário” não desnaturava essas características, já que o procedimento sumário possuía cognição plena e apresentava algumas limitações em relação aos seus atos processuais, que incidia notadamente sobre os atos postulatórios. Tratava-se, na verdade, de uma demanda plenária que caminhava sob as vestes de um procedimento levemente sumarizado. 7 É importante observar que a reforma promovida pela Lei 8.952/1994 não criou a antecipação de tutela, que já existia, por exemplo, nas ações possessórias e em outros procedimentos especiais como o mandado de segurança e a ação de busca a apreensão do Decreto-Lei nº 911/1969. O que a “mãe das reformas processuais” fez foi, na verdade, democratizar a técnica, permitindo que o jurisdicionado que é obrigado a se valer do procedimento comum também tenha acesso à técnica antecipatória de tutela. Outro importante instituto que teve sua abrangência ampliada pela Lei em questão foi a tutela específica das obrigações de fazer e de não fazer, cristalizada na redação do art. 461 do CPC de 1973, repetida nos arts. 497-501 do CPC de 2015, que anteriormente estava restrito as relações de consumo (art. 84 do Código de Defesa do Consumidor). Uma questão que fica em aberto, nesse ponto, é o fato de que o CPC de 2015 não repetiu a regra prevista no § 3º do art. 461 do CPC revogado, situação que não pode levar à conclusão de que a tutela específica do CPC/2015 ficou “destituída” de técnica antecipatória. 8 A partir dessa reforma, promovida pela Lei nº 8.952, de 13 de dezembro de 1994, tem-se, no inciso II do art. 273, a possibilidade de conceder à parte a antecipação dos efeitos da tutela final quando o réu exercer abusivamente o seu direito de defesa ou se comportar no processo com flagrante propósito de protelar o deslinde da demanda. Posteriormente, a Lei nº 10.444, de 7 de maio de 2002, permitiu a tutela antecipada quando “um ou mais dos pedidos cumulados, ou parcela deles, mostrar-se incontroverso.” A Lei nº 8.952/1994 foi a mãe de todas as reformas posteriores do Código de Processo Civil, pois rompeu um dos seus principais paradigmas, que pode ser traduzido no confinamento dos atos executivos num ambiente processual próprio para tanto, o processo de execução (Livro II do CPC de 1973). Em outras palavras: para o sistema original do CPC de 1973, no processo de conhecimento o juiz “diz”, mas não “faz”, declara, mas não executa, diz o que deve ser, mas não faz com que o que deve ser, seja; a invasão da esfera jurídica do demandando (o “fazer”) somente poderia ocorrer a partir do momento em que lhe tivesse sido assegurado, em amplitude e profundidade, os princípios do contraditório e da ampla defesa, ainda que o autor (ou o direito por ele afirmado) estivesse submetido a perigo de dano. Em resumo: a introdução da antecipação de tutela no procedimento comum do CPC de 1973 rompeu a milenar regra da “nulla executio sine titulo”, que até então vigorava em toda sua exuberância , ao permitir, no procedimento comum , a concessão de liminares antecipatórias de tutela (ou seja, o “dizer” e o “fazer” no mesmo processo, naquilo que, posteriormente, se convencionou chamar de processo sincrético), tanto que, atualmente, mesmo no regime do novo CPC, somente há sentido na manutenção de tal regra na execução baseada em título executivo extrajudicial. Pode-se afirmar, sem medo do exagero, que a reforma promovida pela Lei nº 8.952/1994, rompendo o fundamento político-dogmático que dava lastro ao CPC de 1973, acabou por exigir as sucessivas reformas processuais nos anos subsequentes (1998, 2001, 2002, 2005, 2006 e 2008) até culminar no Pág. 8 A expressão “tutelas jurisdicionais diferenciadas” foi cunhada pelo italiano Andrea Proto Pisani9 e pode ser analisada em três acepções10: I) formas de tutela sumária (cautelar, antecipatória genérica, da evidência, antecipatória específica); II) procedimentos especiais de cognição plena ou parcial, exauriente ou sumária (divididos conforme situações de direito substancial: ação monitória, ações possessórias, consignação em pagamento, etc); e, atualmente, diante dos permissivos legais previstos no CPC de 2015, III) cláusulas gerais processuais que permitem negociação processual atípica (CPC de 2015, arts. 190 e 191)11. A necessidade da criação de tutelas jurisdicionais diferenciadas partiu do pressuposto de que o procedimento comum,em seu desenho original (especialmente o “ordinário” do CPC de 1973, que até a Lei nº 8.952/1994 não permitia, por exemplo, antecipação de tutela), era insuficiente para atender de forma efetiva e tempestiva todas as situações de direito substancial submetidas ao processo de conhecimento. Isso porque o direito material é muito mais rico e multifacetado do que podia (e pode!) suportar adequadamente o direito processual. A pretensão à submissão de todas essas situações substanciais ao procedimento comum equivaleria a tentar criar um tamanho de roupa que servisse para todo e qualquer ser humano, independentemente das variações de altura ou peso que nos são tão características. A imagem de uma pessoa alta usando uma roupa concebida para uma pessoa baixa é muito representativa da inadequação dessa concepção. novo Código de Processo Civil de 2015. Claro, pois o rompimento da distinção absoluta entre cognição e execução alterou profundamente o sistema normativo processual, de modo que as reformas legislativas seguintes tinham a clara intenção de harmonizar o Código de Processo Civil aos paradigmas impostos pelo reconhecimento dos novos direitos constitucionalizados, notadamente o direito fundamental à tutela jurisdicional adequada, efetiva e tempestiva. 9 PROTO PISANI, Andrea. Tutela giurisdizionale differenziata e nuovo processo del lavoro. Studi di Diritto Processuale del Lavoro. Milano: Giuffrè, 1977. Vide também NUNES, Dierle. ANDRADE, Érico. Os contornos da estabilização da tutela provisória de urgência antecipatória no novo CPC e o mistério da ausência de formação da coisa julgada. In DIDIER JR., Fredie e outros. Coleção novo CPC - doutrina selecionada - v.4 - procedimentos especiais, tutela provisória e direito transitório. 2a ed: Rev., amp. e atualizada. Salvador: Juspodvm, 2016, p. 69-101, e THEODORO JR, Humberto; NUNES, Dierle; BAHIA, Alexandre Melo Franco; PEDRON, Flávio. Novo CPC: Fundamentos e sistematização. 2. ed. Rio de Janeiro: GEN Forense, 2015. 10 Conforme NUNES, Dierle. ANDRADE, Érico. Os contornos da estabilização da tutela provisória de urgência antecipatória no novo CPC e o mistério da ausência de formação da coisa julgada. In DIDIER JR., Fredie e outros. Coleção novo CPC - doutrina selecionada - v.4 - procedimentos especiais, tutela provisória e direito transitório. 2a ed: Rev., amp. e atualizada. Salvador: Juspodvm, 2016, p. 69-101. 11 “Não se pode, como já se disse, colocar o papel de todos os sujeitos processuais no mesmo plano, mas ao mesmo tempo deve-se estabelecer que cada um, no exercício de seu papel, possa influenciar na formação da decisão, garantindo-se debate e ao mesmo tempo processos mais rápidos”. (THEODORO JR, Humberto; NUNES, Dierle; BAHIA, Alexandre Melo Franco; PEDRON, Flávio. Novo CPC: Fundamentos e sistematização. 2. ed. Rio de Janeiro: GEN Forense, 2015, p. 210). Pág. 9 Essa neutralidade do processo civil, decorrente da busca por autonomia científica característica da escola processual italiana do início do século XX, fez com que este se afastasse perigosamente dos seus compromissos com o direito material, partindo da premissa de que a resposta jurisdicional ao direito de ação fosse deveria ser isenta em relação ao direito material12. Ovídio Baptista da Silva aponta também o vínculo entre a ordinariedade (atualmente representada pelo procedimento comum do NCPC) e o racionalismo (enquanto movimento histórico e cultural), que se manifesta, por exemplo, na própria estrutura do procedimento, que impõe que o juiz somente pode julgar a lide após o encerramento da relação processual, “depois de amplo debate probatório que, segundo imagina a doutrina, daria ao julgador a indispensável segurança, própria dos juízos de certeza”13. Nesse contexto, Ovídio Baptista da Silva questiona: como poderão as instituições processuais concebidas para uma sociedade nascida das convulsões sociais do começo da Idade Moderna, “para quem o valor supremo era a segurança, depois afinal conseguido pelo mundo de progresso e tranquilidade que caracterizou a sociedade de século XIX europeu”, funcionar agora, para uma sociedade de outro viés, “tangida profundamente pela pressa, profundamente conflituosa, para a qual o sucesso, segundo a moral calvinista, é o único valor positivo?14”. Atualmente, no Estado constitucional, pretender que o processo seja neutro em relação ao direito material “é o mesmo que lhe negar qualquer valor”, pois ser indiferente ao que ocorre no plano do direito material “é ser incapaz de atender às 12 MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela de urgência e tutela da evidência: soluções processuais diante do tempo da justiça. São Paulo: RT, 2017, p. 21-23. 13 BAPTISTA DA SILVA, Ovídio. Processo e ideologia: o paradigma racionalista. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 143. E prossegue: “Não raro, ouve-se de magistrados a afirmação de que, ao concederem uma determinada medida liminar, ainda não julgaram. Para os praticantes da ordinariedade (que somos nós), julgar sob o rito da provisoriedade é não julgar. O paradigma elimina a possibilidade de “juízos provisórios”, porque todo juízo provisório corre o risco de ser apenas uma liberalidade ou, pior, uma forma de arbitrariedade cometida pelo juiz, sem correspondência na “vontade da lei””. (op. cit., p. 147). Ovídio Baptista da Silva, em outra obra, abordando esse tema, ressalta: “Tendo em conta as novas ideias nascidas do racionalismo sobre o direito, especialmente sobre o direito processual, é possível isolar dois princípios, de natureza política e filosófica, de influência mais intensa, na comunidade histórica das antigas estruturas que, já no direito romano, haviam sepultado a tutela interdital, em favor da universalização do procedimento da actio, com sua natural consequência, a condemnatio. Referimo-nos ao predomínio absoluto do valor segurança, em detrimento do valor justiça, enquanto polaridades antagônicas, na constituição da ideia de Direito, e à formação do espírito científico moderno, em sua avassaladora conquista de todos os territórios culturais do Ocidente, de que resultou a completa submissão do pensamento jurídico aos métodos e princípios das ciências da natureza, ou das ciências lógicas, como a matemática” (Jurisdição e execução na tradição romano- canônica. São Paulo: RT, 2ª ed, 1997, p. 104-105). 14 BAPTISTA DA SILVA, Ovídio Araújo. Jurisdição e execução na tradição romano-canônica. P. 202. Pág. 10 necessidades de proteção ou de tutela reveladas pelos novos direitos e, especialmente, pelos direitos fundamentais”15. Ao menos em relação ao procedimento comum clássico, por tais motivos (e por muitos outros que não cabem nesse momento), Proto Pisani afirma que o século XX ficará conhecido por tornar residual o processo de cognição plena16, já que todas as situações de direito substancial não comportam a submissão às características centrais do procedimento comum, que seriam as seguintes: I) o contraditório se realiza conforme modelo normativo mais estrito em relação às formas e aos termos processuais; II) realização plena e antecipada do contraditório; III) a cognição plena e exauriente domina os elementos de fato e de direito que gravitam em torno do litígio, permitindo ampla perquirição probatória para buscar um alto grau de probabilidade em relação ao acertamento judicial; IV) formação de coisa julgada material em relação aos provimentos de cognição plena e exauriente17. Como contraponto, o modelo procedimental da tutela sumária se afasta do procedimento de cognição exauriente em relação I) à possibilidade de “postecipação” do contraditório (permitindo, por meio de técnicas antecipatórias, que o juizdecida antes ouvir o réu, para somente depois instaurar o contraditório (o que foi positivado no CPC de 2015, conforme seu art. 9º, parágrafo único, inc. I); e II) à não formação 15 MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela de urgência e tutela da evidência: soluções processuais diante do tempo da justiça, p. 22. E prossegue o referido autor: “Portanto, outorgar à jurisdição o escopo de tutela dos direitos é imprescindível para dar efetividade aos direitos fundamentais, inclusive ao direito fundamental à tutela jurisdicional efetiva. Como é óbvio, esta forma de conceber a função jurisdicional faz com que a ação neutra (única) perca sustentação, já que essa ação é completamente incapaz de atentar para o papel que o direito hegemônico desenvolve diante da sociedade e do Estado”. 16 Em tradução livre: “Estou convencido de que o século XX passará à história como o período no qual a legislação e a doutrina processuais desenvolveram uma série de instrumentos (alguns de origem antiquíssima, provenientes do direito comum e da Idade Média), destinados a tornar residual o processo de cognição plena no sistema de tutela jurisdicional dos direitos entendido em seu conjunto" (PROTO PISANI, Andrea. Verso la residualitá dels processo a cognizione piena? Revista de Processo, São Paulo: RT, ano 31, vol. 131, jan. 2006, p. 239-249). Mauro Cappelletti e Bryant Garth inserem esse movimento (de criação de procedimentos especializados) nas suas “três ondas renovatórias do acesso à justiça” (especialmente na terceira delas), pois tal se afigura necessário quando a lei material é relativamente nova e se encontra em rápida evolução. (Acesso à justiça. Tradução e revisão de Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2002. Título original: Access to Justice: The Worldwide Movement to Make Rights Effective. A General Report). 17 PROTO PISANI, Andrea. Verso la residualitá del processo a cognizione piena? Revista de Processo, São Paulo: RT, ano 31, vol. 131, jan. 2006, p. 240 e NUNES, Dierle. ANDRADE, Érico. Os contornos da estabilização da tutela provisória de urgência antecipatória no novo CPC e o mistério da ausência de formação da coisa julgada. In DIDIER JR., Fredie e outros. Coleção novo CPC - doutrina selecionada - v.4 - procedimentos especiais, tutela provisória e direito transitório. 2a ed: Rev., amp. e atualizada. Salvador: Juspodvm, 2016, p. 73. Pág. 11 de coisa julgada em relação ao provimento final proferido nos processos de cognição sumária18. Luiz Guilherme Marinoni, para quem a técnica da cognição permite a construção de procedimentos ajustados às reais necessidades de tutela, acrescenta que as limitações horizontais e verticais da cognição permitem o isolamento de técnicas processuais aptas à construção de procedimentos diferenciados: I) técnica da cognição parcial; II) técnica da cognição sumária; III) técnica da cognição exauriente secundum eventum probationis; IV) técnica da cognição exauriente enquanto não definitiva; V) técnica da cognição exauriente por ficção legal conjugada com a técnica da cognição exauriente secundum eventum defensionis e VI) técnica dos títulos executivos extrajudiciais19. E é nesse contexto que pretendemos inserir uma sintética análise sobre a estabilização da tutela antecipada antecedente do Código de Processo Civil de 2015 (exemplos de tutelas jurisdicionais diferenciadas que atuam por meio da sumarização da cognição judicial e também do procedimento) e a relação desta com a efetivação de direitos fundamentais das partes litigantes20. O que fundamenta a sistematização de tutelas jurisdicionais diferenciadas é justamente a constatação de que o “modelo geral” do procedimento comum clássico é insuficiente para atender as situações de direito substancial que lhe são submetidas. Nesse sentido, a estabilização da tutela antecipada antecedente do Código de Processo Civil de 2015 (arts. 303 e 304) é um exemplo das tentativas legislativas de superar essa vinculação necessária e absoluta ao procedimento comum. O CPC/2015 remodelou a tutela da urgência, que no Código é tratada como uma espécie do gênero tutela provisória, ao lado da tutela da evidência (art. 311). A 18 NUNES, Dierle. ANDRADE, Érico. Os contornos da estabilização da tutela provisória de urgência antecipatória no novo CPC e o mistério da ausência de formação da coisa julgada. In DIDIER JR., Fredie e outros. Coleção novo CPC - doutrina selecionada - v.4 - procedimentos especiais, tutela provisória e direito transitório. 2a ed: Rev., amp. e atualizada. Salvador: Juspodvm, 2016, p. 74. 19 Tutela de urgência e tutela da evidência: soluções processuais diante do tempo da justiça, p. 28-40. 20 Nesse passo, é preciso fazer uma ressalva importante: não se pretende aqui menosprezar as garantias típicas (mas não exclusivas) do processo de conhecimento (como o contraditório, a ampla defesa e o devido processo legal), o qual, nas palavras de Carlos Alberto Álvaro de Oliveira, não pode ser considerado um mal em si, “mas uma conquista da humanidade, principalmente depois de despido das inúteis e inúmeras formalidades do direito comum, assim como a democracia”, consagrando-se como valor a ser preservado". A esse respeito, assoma-me perigosa a minimização sistemática do procedimento ordinário, pois pode conduzir ao desprezo total do próprio processo de conhecimento. E, queira-se ou não, ainda com todas as suas imperfeições, a função processual de conhecimento continua sendo o remédio por excelência para a declaração definitiva dos direitos, com a certeza daí decorrente, também ela um valor não desprezível." (OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de. Efetividade e processo cautelar. Revista de Processo, ano 19, n. 76, p. 89-93, 1994). Pág. 12 tutela da urgência, por sua vez, é subdividida na tutela antecipada (satisfativa) e cautelar (não satisfativa), sendo que os requisitos para a concessão de ambas as subespécies foram unificados (art. 300). A unificação, para fins operacionais, das modalidades da tutela da urgência é também evidenciada a partir da constatação que ambas (antecipada e cautelar) podem ser requeridas em caráter incidental (art. 308, § 1º, quando o requerimento é feito na própria inicial ou por petição no curso do processo) ou antecedente (arts. 303 e 305-310). Nesse aspecto, a novidade é justamente a tutela antecipada requerida em caráter antecedente, já que a cautelar antecedente é uma remodelação da conhecida “cautelar preparatória” do CPC/1973, com o diferencial de que o pedido principal, agora, deverá ser formulado nos mesmo autos e sem o pagamento de novas custas processuais (art. 308). Dessa forma, uma leitura apressada dos arts. 294 a 302 do CPC/2015, especialmente do art. 30021, poderia levar à conclusão de que a nova legislação processual codificada sepultou definitivamente a distinção entre a tutela de urgência satisfativa e cautelar, seguindo uma tendência do processo civil brasileiro que já era apontada pelo § 7º do art. 273 do CPC revogado22. Ocorre que assim não é justamente por conta da possibilidade de estabilização da tutela antecipada antecedente. Ou seja, a distinção operacional entre a tutela de urgência satisfativa e a cautelar sobrevive no CPC/2015 porque a única que pode se estabilizar é a tutela antecipada, e não a tutela cautelar, por uma questão de desenho procedimental e também por uma razão lógica. Primeiramente, os arts. 303 e 304 do CPC/2015 não podem ser interpretados de forma separada. Eles formam um conjunto indissociável que somente faz sentido se considerados os dispositivos concomitantemente. 21O que fez o art. 300 do CPC/2015 foi unificar os requisitos necessários à obtenção da tutela da urgência. Nesse sentido o Enunciado 143 do V Fórum Permanente de Processualistas Civis – FPPC dispõe: “A redação do art. 300, caput, superou a distinção entre os requisitos da concessão para a tutela cautelar e para a tutela satisfativa de urgência, erigindo a probabilidade e o perigo na demora a requisitos comuns para a prestação de ambas as tutelas de forma antecipada”. 22 Dizia o texto revogado, que foi incluído pela Lei nº 10.444/2002: “§ 7º Se o autor, a título de antecipação de tutela, requerer providência de natureza cautelar, poderá o juiz, quando presentes os respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em caráter incidental do processo ajuizado”. Na verdade, tal distinção começou a arrefecer a partir do momento em que a cautelar inominada passou a ser empregada, na prática, contra a inefetividade do modelo clássico do procedimento comum, o que gerava situações bizarras do ponto de vista teórico, mas plenamente justificadas a partir da necessidade prática de obtenção de tutela jurisdicional tempestiva. Pág. 13 Além disso, não haveria sentido lógico-jurídico em permitir que uma ordem cautelar que, por exemplo, se consubstanciasse no arresto de bens do devedor, pudesse se estabilizar na forma do art. 304, já que as medidas cautelares (não- satisfativas), temporárias que são, não tem aptidão para se tornar definitivas, ao contrário das providências antecipatórias (satisfativas), que são provisórias23, mas tendem a se tornar imutáveis após a sua confirmação (e consequente substituição) pela sentença24. Partindo dessas premissas, constata-se também que os arts. 303 e 304 do CPC/2015, quer pela sua redação econômica, quer pela apresentação de uma novidade no direito processual civil brasileiro (a autonomização da tutela antecipada), não respondem todas as questões práticas que podem ser geradas pela utilização dessa técnica processual. O procedimento da tutela antecipada antecedente encontra-se regulado no art. 303 do CPC/2015: a petição inicial deve preencher os requisitos elencados no caput do referido dispositivo e também nos seus §§ 4º e 525; deferida a tutela antecipada antecedente, o juiz determinará a intimação do autor, no prazo de 15 dias ou outro maior que fixar, para que promova o aditamento da petição inicial, nos mesmos autos, sem incidência de novas custas (§3º), com a complementação de sua argumentação, a juntada de novos documentos e a confirmação do pedido de tutela final (art. 303, § 1º, inc. I), sob pena de extinção do processo sem resolução de mérito 23 Sobre a diferença entre a provisoriedade da tutela antecipada e a temporariedade da cautelar, vide SILVA, Ovídio A. Baptista da. Curso de Processo Civil, vol. 2: processo cautelar (tutela de urgência). 4 ed. ver, e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2008. 24 De acordo com Fredie Didier Jr., essa diferenciação “se justifica pela previsão da estabilização da tutela provisória antecedente, apenas aplicável à tutela satisfativa” que será o objeto central deste trabalho. Ressalte-se que somente a tutela da urgência que comporta concessão em caráter antecedente, pois, “é a urgência que justifica sua formulação antes mesmo da formulação do pedido de tutela definitiva” (DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito processual civil: teoria da prova, direito probatório, teoria do precedente, decisão judicial, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. vol. 2. ed. 10. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 571 e 616). No mesmo sentido: TALAMINI, Eduardo. Arbitragem e tutela provisória no CPC/2015. In: Fredie Didier Jr.. (Coord.). Grandes temas do novo CPC. Tutela provisória. Salvador: Editora JusPodivm, 2016, v. 6. p. 184. 25 Segundo Fredie Didier Júnior, a petição em que se postula a tutela antecipada antecedente deve conter: a) requerimento da tutela antecipada; b) indicação do pedido de tutela definitiva - que será formulado no prazo previsto e m lei para o adiantamento; c) exposição da lide, do direito que se busca realizar (e sua probabilidade), e do perigo da demora (art. 303, caput, CPC); d) indicação do valor da causa considerando o pedido de tutela definitiva que pretende formular (art. 303, § 4º, CPC); e e) explicitação que pretende valer-se do benefício da formulação do requerimento da tutela antecipada em caráter antecedente, nos moldes do caput do art. 303, CPC (art. 303 § 5º, CPC). (DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito processual civil: teoria da prova, direito probatório, teoria do precedente, decisão judicial, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. vol. 2. ed. 10. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 602-603). Pág. 14 (§ 2º); caso o juiz não se convença da presença dos requisitos necessários ao deferimento da medida, determinará a intimação do autor para providenciar a emenda da petição inicial em até 5 dias, sob pena de ser indeferida a antecipação da tutela e de o processo ser extinto sem resolução de mérito (§ 6º). Já a estabilização dessa decisão ocorrerá se o réu, intimado da antecipação da tutela antecedente, não interpuser o respectivo recurso (art. 304), hipótese na qual o processo será extinto (§ 1º), a decisão manterá os seus efeitos (§3º) e somente poderá ser revista, reformada ou invalidada se a parte interessada propuser uma ação própria para tanto (§ 2º), no prazo decadencial de 2 anos (§ 5º), findos os quais tal decisão não mais poderá ser modificada, em que pese inexista, no caso, coisa julgada (§6º). Pelo próprio desenho do instituto no CPC/2015, percebe-se que a tutela antecipada requerida em caráter antecedente está imbricada à estabilização da tutela, razão pela qual, ao menos numa primeira interpretação, seria incabível a estabilização fora dessa hipótese26. Além disso, nos parece27 que a tutela antecipada antecedente foi introduzida no CPC com a finalidade específica de sistematizar situações nas quais as partes, ambas, estão satisfeitas com a decisão liminar e não pretendem aprofundar a cognição ou formular outros pedidos (no que concerne ao autor) ou se insurgir contra o que foi decidido (tocante ao réu). Não são raros os casos, no quotidiano forense, nos quais o autor não pretende do Judiciário nada mais do que lhe foi concedido pela decisão antecipatória da tutela; o réu, por sua vez, intimado da decisão, cumpre voluntariamente o comando judicial e não recorre (e muitas vezes sequer oferece defesa). Nessas situações, o processo (que segue o procedimento comum, no qual se espera a prolação de uma sentença que aprecie o caso em cognição exauriente) aguardará o julgamento nos escaninhos do Poder Judiciário tal qual um fantasma insepulto, até o momento em que o juiz profira a sentença que muitas vezes é uma 26 Não se vislumbra óbice, contudo, à possibilidade de estabilização negociada entre as partes, nos termos do art. 190 do CPC/2015. Vide Enunciado nº 32 do V Fórum Permanente de Processualistas Civis – FPPC: “além da hipótese prevista no art. 304, é possível a estabilização expressamente negociada da tutela antecipada de urgência satisfativa antecedente”. 27 Sobre a questão, de maneira mais pormenorizada, vide BEDUSCHI, Leonardo; HENCKEMAIER, Heidy Santos. Dois temas controvertidos sobre a estabilização da tutela antecipada antecedente. In: Paulo Henrique dos Santos Lucon; Pedro Miranda de Oliveira. (Org.). Panorama Atual do Novo CPC. Florianópolis: Empório do Direito, 2016, v. 1, p. 235-251. Pág. 15 cópia da decisão antecipatória irrecorrida. A doutrina também é rica em exemplos de situações como essadescrita28. Assim, sendo a estabilização da tutela antecipada antecedente uma técnica satisfativa monitória secundum eventum defensionis29, tem-se que a sua utilização tem por escopo central a tutela dos direitos das partes, pois não apenas o autor, mas também o réu podem ser beneficiados pelo emprego da técnica em questão. O aspecto que se pretende destacar nesse estudo é correlação entre a exigência de reversibilidade dos efeitos do provimento antecipatório30 e a efetividade dos direitos fundamentais. II.II – O DIREITO PROCESSUAL CIVIL MODERNO: UMA ANÁLISE A PARTIR DE SUA CONSTITUCIONALIZAÇÃO O desenvolvimento processual acerca do instituto da tutela provisória é um resultado esperado para a visão moderna de processo, visão construída com o início de uma nova fase no direito processual, resultando em uma nova visão sobre o processo e os objetivos esperados para esse ramo da ciência jurídica. Ao passo da evolução do Direito, enquanto ciência, os seus respectivos ramos lhe acompanham, e, diferentemente não seria com o Direito Processual Civil. No cenário vivenciado pelo direito processual, as interligações com os demais ramos do Direito é um tema que está cada vez mais evidente e demandando maior 28 “Imagine um caso em que um estudante, que ainda não havia concluído o ensino médio, tenha sido aprovado no vestibular para um curso superior. A instituição de ensino, seguindo determinação do Ministério da Educação, não realizou a matrícula. O estudante vai a juízo e obtém uma tutela satisfativa liminar, ordenando a matrícula. Para a instituição de ensino, pode ser que não haja qualquer interesse em contestar a medida – ela somente não matriculara o aluno, porque o Ministério da Educação proibia. Outro exemplo: Imagine, agora, o caso de um consumidor que vai a juízo pleiteando a retirada de seu nome de um cadastro de proteção de crédito. Apenas isso. Obteve a liminar. É muito provável que o réu não queira mais discutir o assunto e deixe a decisão estabilizar-se”. (DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito processual civil: teoria da prova, direito probatório, teoria do precedente, decisão judicial, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. vol. 2. ed. 10. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 605). José Carlos Barbosa Moreira também dá o exemplo de um empregado que é demitido de forma ilegítima e busca, por meio dos provvedimenti d’urgenza italianos e da ordennance de référé francesa sua reintegração à empresa. (BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Temas de direito processual. 8ª série. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 99). 29 A expressão, muito pertinente, é de NUNES, Dierle. ANDRADE, Érico. Os contornos da estabilização da tutela provisória de urgência antecipatória no novo CPC e o mistério da ausência de formação da coisa julgada. In DIDIER JR., Fredie e outros. Coleção novo CPC - doutrina selecionada - v.4 - procedimentos especiais, tutela provisória e direito transitório. 2a ed: Rev., amp. e atualizada. Salvador: Juspodvm, 2016, p. 82. 30 Tal exigência é prevista no § 3o do art. 300 do CPC: “A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão”. Pág. 16 preocupação por parte dos juristas, especialmente em se tratando das interligações entre direito processual e Direito Constitucional. A justificativa para toda esta preocupação está pautada no advento do Neoconstitucionalismo no Brasil, porquanto o processo e o direito material passam por uma grande reforma de valores e dogmas, aliás, a própria ciência jurídica como um todo sofre uma severa reforma, haja vista um grande impacto apresentado por esse novo modelo constitucional ao pilar do ordenamento jurídico brasileiro, o Direito Constitucional.31 O Neoconstitucionalismo32 brasileiro está inspirado no modelo europeu, em especial aquele da Europa continental, sendo fruto de constante busca por redemocratização em solo brasileiro, o que, inclusive, levou o sistema autoritário do regime militar à falência em 1985, tendo o movimento ganhado ainda mais força com a promulgação da Constituição Cidadã, no caso a Constituição Federal de 1988, a qual possuí um caráter democrático amplo e voltada a assegurar o cumprimento dos direitos fundamentais dos cidadãos. Como reflexo da implantação desse novo modelo constitucional no Brasil, para o Direito, desencadeia outro evento de igual importância, qual seja a sua constitucionalização. Ensina BARROSO (2006, p. 27), que a ideia de constitucionalização do Direito deve ser associada a um efeito expansivo das próprias normas constitucionais, de modo a seu conteúdo material e axiológico se irradia por todo o sistema jurídico com força normativa. Nesta senda, a constitucionalização deve ser interpretada como a irradiação dos valores constitucionais pelo sistema jurídico, por via da jurisdição constitucional, responsável por abranger a aplicação direta da Constituição a determinadas questões, 31 MÖLLER, Guilherme Christen. Anotações sobre a constitucionalização do Direito Processual Civil contemporâneo brasileiro. Curitiba: Prismas, 2017. 32 Para BARROSO (Neoconstitucionalismo e Constitucionalização do Direito (O Triunfo Tardio do Direito Constitucional no Brasil). Revista da EMERJ, Rio de Janeiro, v. 9, n. 33, 2006, p. 3-10), o fenômeno do Neoconstitucionalismo pode ser observado sob três aspectos, qual seja, histórico, filosófico e teórico. Em suma, para o aspecto histórico, o referido fenômeno se inicia na Europa continental e mais tarde, precisamente no ano de 1985, chega ao território brasileiro, ganhando ainda mais força com a promulgação da Constituição Federal de 1988. Já o aspecto filosófico é marcado pelo fracasso do positivismo e do jusnaturalismo, dando ensejo a uma nova instituição jurídica, o pós- positivismo. Por fim, sob à luz do aspecto teórico, entende-se que se está vivendo um momento de mudança de paradigmas jurídicos e doutrinários, de modo a enxergar a Constituição Federal como centro do ordenamento jurídico e dela irradiar conteúdo com força normativa por todos os demais ramos do Direito, em especial, empregando-se uma leitura moral do Direito. Pág. 17 bem como declarar a inconstitucionalidade de normas com ela incompatíveis, e, principalmente, a interpretação conforme a Constituição, para atribuição de sentido às normas jurídicas em geral.33 A aplicação deste fenômeno no direito processual resulta no início de uma nova fase processual, o Neoprocessualismo34, o qual consiste na ênfase do estudo do direito processual a partir dos princípios, garantias e disposições de diversas naturezas que a Constituição projeta. Dessa forma, esse modelo desencadeia um estrito pensamento do dever da interpretação das leis processuais a partir da obrigação ao cumprimento dos direitos e garantias fundamentais, em especial ao conjunto da tutela jurisdicional efetiva, célere e adequada, o processo justo.35 Nesse modelo, portanto, deve o julgador interpretar as normas processuais sempre com os olhos na Constituição Federal. Para Fredie Didier Júnior (2015, p. 46), a constitucionalização do Direito, neste momento restringindo-se ao Direito Processual Civil, é um dos diversos fenômeno do Direito contemporâneo, podendo ser analisados a partir de duas dimensões, a primeira consistindo na incorporação aos textos constitucionais de norma processual como direito fundamental, e, a segunda, o início do exame, pela doutrina, das normas processuais infraconstitucionais como concretizadoras das disposições constitucionais. Justamente por isso o Novo Código de Processo Civil,em seu artigo 1º, enuncia a norma elementar desse novo modelo processual, quando sustenta que: “O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código”, ou seja, as normas jurídicas derivam e devem estar em conformidade com a Constituição.36 Tem por objetivo principal, este fenômeno, encontrar “mecanismos destinados a conferir à tutela jurisdicional o grau de efetividade que dela se espera”37, ou seja, 33 BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e Constitucionalização do Direito (O Triunfo Tardio do Direito Constitucional no Brasil). Revista da EMERJ, Rio de Janeiro, v. 9, n. 33, p. 1-53, 2006, p. 16. 34 Mesmo que existam peculiaridade entre os termos, bem como exista divergência doutrinária sobre, para fins deste artigo, “Neoconstitucionalismo”, “Neoprocessualismo” e “formalismo valorativo” devem ser tratados como sinônimos. Nesse sentido, ver: DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de Direito processual civil. 17. Ed. Salvador: Juspodivm, 2015, v. 1. 35 DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de Direito processual civil. 19. Ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 30. 36 DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de Direito processual civil. 17. Ed. Salvador: Juspodivm, 2015, v. 1, p. 47. 37 BEDAQUE, José Roberto dos S. Efetividade do processo e técnica processual: tentativa de compatibilização. Tese para concurso de Professor Titular, USP, São Paulo: 2005, p. 13. Pág. 18 esse modelo constitucional do processo “traz como principal característica o direito fundamental a uma tutela jurisdicional efetiva, célere e adequada (...), direito, garantido constitucionalmente pelo art. 5º, XXXV”38 da Constituição Federal. Ao passo da preocupação desse novo modelo processual para o cumprimento da norma constitucional, cresce consideravelmente o tema das relações entre direito processual e direito material cada vez mais, por uma razão, os direitos e garantias fundamentais necessitam de sua materialização. Desta forma, há de se pensar que o direito processual sempre fora uma técnica para a consecução dos fins esperados pelo direito material. Esse pensamento é intitulado de Teoria Circular dos Planos. No atual desenvolvimento do Estado e da sociedade brasileira, revalidando o papel dos direitos fundamentais essenciais à dignidade do homem, as relações entre direito material e direito processual devem ser cada vez mais perfectibilizadas. Porém, não é repentina essa valorização.39 O processo, em sua essência contemporânea, é o instrumento escrito da nova ordem jurídica, pelo Poder Judiciário, que almeja a pacificação do conflito e entregar a cada um o que é seu.40 Na lição de Michel Villey, os fins do direito se resumem no brocardo suum cuique tribuere; os meios, no brocardo audiatur et altera pars.41 Por tanto, “o processo devolve (sempre) algo diverso do Direito material afirmado pelo autor na inicial, algo que por sua vez é diverso mesmo da norma expressa no Direito material positivado”.42 O diferencial está atrelado como elemento de substituição, mesmo que idêntico à previsão legal, notadamente a certificação da norma do caso concreto pelo Poder Judiciário.43 Para tanto, pode-se afirmar que “tra diritto e processo existe um rapporto logico circolare: il processo serve al diritto, ma affinchè serva al diritto deve essere servitto dal diritto”44, traduzindo-se significa que entre o direito material e o processo 38 DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de Direito processual civil. 19. Ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 32. 39 ZANETI JÚNIOR, Hermes. A constitucionalização do processo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 190. 40 ZANETI JÚNIOR, Hermes. A constitucionalização do processo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 190. 41 VILLEY, Michel. Filosofia do Direito: definições e fins do Direito. Tradução de Márcia Valéria Martinez de Aguiar. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 242 e ss. 42 ÁVILA, Humberto Bergman. Teoria dos princípios: da definição à aplicação dos princípios jurídicos. São Paulo: Forense, 2006, p. 3-32. 43 ZANETI JÚNIOR, Hermes. A constitucionalização do processo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 191. 44 CARNELUTTI, Francesco. Profilo dei rapporti tra diritto e processo. Rivista di Diritto Processuale, ano 35, n. 4, p. 64. Pág. 19 existe uma relação circular, sendo que o processo serve ao direito material, mas para que lhe sirva é necessário que seja servido por ele. O processo constrói uma verdade interna razoável e argumentativa, um “novo direito material”, expressão que alberga a racionalidade material e processual do Direito, de modo a encarar a relação entre os planos do Direito de forma complementar e interdependente.45 Não se trata de superação inconsequente da lei, jurisprudência e doutrina, isso porque se pretende, antes, utilizar da racionalidade dos precedentes e o Direito posto, assim como o nosso fundo doutrinário do Direito pátrio.46 Dentre as diversas características do processo, é de se notar sua volatilização da certeza do direito material, de modo que se pode afirmar que essa, aliás, é sua lógica própria, dado ao fato de que o direito discutido no processo é sempre incerto e é sempre problemático.47 Ocorre que essa não é a lógica do direito material moderno, o qual acredita que a norma é perfeita e que contém todas as hipóteses de incidência, de modo que, caso ocorra um fato jurídico em caráter lato sensu, o processo se incide automaticamente, bastando apenas ser declarado pelo juiz, caso haja dúvida ou conflito. É nesta senda que nascem as primeiras aproximações entre o Direito material e o processo, de modo a surgir a teoria imanentista, e, mais tarde, a concretista da ação. Sobre tal teoria, há de se destacar que é fortemente privatista, de modo a compreender que todo Direito corresponde a uma ação que o assegura, inclusive, não ficando nenhum Direito para fora dessa regra, “sem Direito subjetivo não há ação.”.48 Para ZANETI JÚNIOR (2014, p. 193), “distorções dessa ordem acabaram por negar uma realidade já advertida anteriormente, o processo precisa, como instrumento que é, estar adequado ao direito material que pretende servir”. Dessa foram, tanto o princípio da adequação, quanto o da instrumentalidade se completam. A atual tendência do direito processual comparado demonstra uma crescente preocupação dos ordenamentos internos em valorizar a adequação para garantir maior efetividade e economia processual. 49 45 ZANETI JÚNIOR, Hermes. A constitucionalização do processo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 191. 46 ZANETI JÚNIOR, Hermes. A constitucionalização do processo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 191. 47 ZANETI JÚNIOR, Hermes. A constitucionalização do processo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 192. 48 ZANETI JÚNIOR, Hermes. A constitucionalização do processo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 192. 49 ZANETI JÚNIOR, Hermes. A constitucionalização do processo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 193. Pág. 20 Assim, a teoria circular dos planos propõe uma visão pela efetividade do processo, que resgata, como valor ideológico, o direito material. Além disso, demanda adequação do processo e do procedimento, não só ao direito material posto, mas também ao que pretende o autor obter do processo, e sua viabilidade frente à força normativa da Constituição. Desta forma, no cenário de constitucionalização do Direito Processual Civil e dos direitos fundamentais, a técnica processual não deva ser mais vista como tendo um fimem si ou um autovalor, mesmo que essa possua sua autonomia. Pensa-se na função do processo em persistir na instrumentalização das regras substanciais existentes no ordenamento jurídico, “quando estas se deparam com a crise de sua inobservância in concreto”.5051 O resultado que se deve espera do processo encontra-se no campo das relações jurídicas substanciais, de modo que na produção dos resultados é que se pode definir a sua real efetividade.52 Os ideais esperados para o direito processual moderno são, além da instrumentalidade, a efetividade, de modo que para que o processo seja efetivo, deverá assumir a função de instrumento. Assim, o uso das técnicas processuais deve- se adequar para que a instrumentalidade atinja o fim esperado, qual seja “a solução das crises verificadas no plano do direito material”.53 50 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 57. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 23. 51 Além da questão da constitucionalização do Direito Processual Civil e da Teoria Circular dos Planos, o direito processual deve ser estudado, interpretado e aplicado nas características modernas do Direito, das quais, Fredie Didier Júnior (Curso de Direito processual civil. 17. Ed. Salvador: Juspodivm, 2015, v. 1, p. 40-42) elenca quatro: A primeira trata acerca da transformação da hermenêutica jurídica, reconhecendo o papel criativo e normativo da atividade jurisdicional, assim, essa função passa a ser observada como uma função essencial ao desenvolvimento do Direito, tanto pela estipulação da norma jurídica do caso concreto, quanto pela interpretação dos textos normativos, de modo a definir-se a norma geral que deles deve ser extraída e que deve ser aplicada a casos semelhantes. A segunda, por sua vez, refere-se ao desenvolvimento da teoria dos princípios, de modo a reconhecer-lhes eficácia normativa: “o princípio deixa de ser técnica de integração do Direito e passa a ser uma espécie de norma jurídica”. A terceira marca é a expansão dos Direitos fundamentais, que impõem ao Direito positivo um conteúdo ético mínimo que respeite a dignidade da pessoa humana e cuja teoria jurídica se vem desenvolvendo a passos largos. Por fim, a quarta e última marca diz respeito ao reconhecimento da força normativa da Constituição, a qual passa a ser encarada como principal veículo normativo do sistema jurídico, com eficácia imediata e independente, em muitos casos, de intermediação legislativa. 52 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 57. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 23. 53 BEDAQUE, José Roberto dos S. Efetividade do processo e técnica processual: tentativa de compatibilização. Tese para concurso de Professor Titular, USP, São Paulo: 2005, p. 23. Pág. 21 Quanto mais adequado proporcionar-se a tutela jurisdicional aos direitos subjetivos substanciais, o desempenho dessa prestação pela técnica processual será mais efetivo.54 Utilizar-se de formalismos processuais para o descumprimento da função pacificadora do processo passa a ser afrontado pelo processo justo, almejando-se com celeridade e a segurança jurídica, “proporcionar às partes o resultado desejado pelo direito material”55, respeitando-se e observando-se, sempre, a Constituição Federal.56 II.III – A HERENÇA DEIXADA PELA REVOGADA CODIFICAÇÃO PROCESSUAL CIVIL: A POSSIBILIDADE DE MITIGAÇÃO DO ART. 300, § 3°, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (LEI N° 13.105/2015) E A EXTENSÃO DO ENTENDIMENTO PACIFICADO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA PARA O NOVO MODELO DE TUTELA PROVISÓRIA Mesmo que por uma herança da codificação que antecedeu, o vigente código manteve a disposição acerca da impossibilidade de concessão da tutela em havendo possibilidade de irreversibilidade de forma quase que intacta57. Considerando que o Novo CPC fora esculpido nas premissas modernas da ciência jurídica, com longos cinco anos de discussões, pensa-se que a disposição do art. 300, § 3°, do CPC, deveria ter sido mais aprofundada, ainda mais pela inserção de uma nova modalidade de tutela no subgênero da tutela de urgência. A mitigação acerca da irreversibilidade da tutela provisória já vinha sendo cada vez mais discutida nos últimos anos de vigência do Código de Processo Civil de 54 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Op. cit., p. 23. 55 BEDAQUE, José Roberto dos S. Efetividade do processo e técnica processual: tentativa de compatibilização. Tese para concurso de Professor Titular, USP, São Paulo: 2005, p. 45. 56 MÖLLER, Guilherme Christen. A Constitucionalização do Direito Processual Civil Contemporâneo Brasileiro. 2016. 146 f. Monografia (Graduação) – Curso de Direito, Universidade Regional de Blumenau, Blumenau, 2016. 57 As redações dos artigos são demasiadamente similares. Senão, veja-se: “Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: § 2o Não se concederá a antecipação da tutela quando houver perigo de irreversibilidade do provimento antecipado” do Código de Processo Civil de 1973 (Lei n° 5.869/73), “Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. § 3o A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão” do Código de Processo Civil de 2015 (Lei n° 13.105/15). Pág. 22 1973, inclusive, tendo o Superior Tribunal de Justiça se posicionado favorável à essa flexibilização, prolatando entendimento e informativo de jurisprudência neste sentido no ano de 2009.58 É visível o entendimento da corte quando ponderam acerca de choque entre direitos, ou seja, o julgamento da corte está pautado em uma questão de princípio da proporcionalidade. No caso em tela, o bem jurídico tutelado é a vida (art. 5°, caput, CF), um dos diversos direitos fundamentais assegurados pela Constituição Federal brasileira. Curioso, porém, é o fato de que no entendimento do STJ, haveria a possibilidade de mitigação da irreversibilidade para qualquer dos direitos fundamentais assegurados pela Constituição Federal, devendo, entretanto, analisar-se as condições fática de cada caso, “... É possível a antecipação da tutela, ainda que haja perigo de irreversibilidade do provimento, quando o mal irreversível for maior...” (REsp 801.600/CE, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 15/12/2009, DJe 18/12/2009). A aplicação do referido julgado destina-se à tutela provisória antecipada incidental, porém, considerando que à época julgamento sequer havia sido pensada essa nova espécie de tutela provisória, pensa-se na aplicação ampliada do entendimento da corte seria demasiadamente adequada aos preceitos do processo moderno, ainda mais frente ao fator de ambas espécies serem similares, distinguindo- se apenas no tocante ao momento do requerido, haja vista que uma é requerida antes mesmo da propositura da demanda judicial, enquanto a outra em um momento incidental, normalmente logo no primeiro momento do processo, no caso, a petição inicial. Pontual fora a redação do referido dispositivo sobre a irreversibilidade da tutela provisória antecipada antecedente. Deve-se considerar reversível, entretanto, a decisão judicial propriamente dita, considerando-se a interposição do respectivo 58 PROCESSUAL CIVIL. ANTECIPAÇÃO DA TUTELA. TRATAMENTO MÉDICO. SEQUELAS DE INFECÇÃO HOSPITALAR. IRREVERSIBILIDADE DO PROVIMENTO.POSSIBILIDADE. DOCUMENTO NOVO. JUNTADA POSTERIOR. NULIDADE. NÃO-OCORRÊNCIA. I.- É possível a antecipação da tutela, ainda que haja perigo de irreversibilidade do provimento, quando o mal irreversível for maior, como ocorre no caso de não pagamento de pensão mensal destinada a custear tratamento médico da vítima de infecção hospitalar, visto que a falta de imediato atendimento médico causar-lhe-ia danos irreparáveis de maior monta do que o patrimonial. II.- Não compromete a validade da decisão, a falta de oitiva da parte a respeito da juntada de documento novo que não teve influência no julgado. Recurso Especial improvido. (REsp 801.600/CE, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 15/12/2009, DJe 18/12/2009). Pág. 23 recurso ou manifestação (v.g. art. 304, caput, do CPC), porém, irreversível seria o contexto fatídico.59 Nesse sentido, significa dizer que a irreversibilidade diz respeito aos efeitos da decisão judicial, e não da própria decisão (REsp 737.047/SC, Rel. Ministro Nancy Andrighi, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/02/2006, DJe 13/03/2006). É óbvio que a mera indisponibilidade do direito não é suficiente para a concessão da tutela antecipada, devendo sempre o juiz analisar o efetivo preenchimento dos requisitos legais. Não é porque a operação é necessária à sobrevivência do autor que o juiz concederá, por esse simples fato, a tutela antecipada em seu favor somente porque o Plano de Saúde ou Hospital sempre poderão cobrar o valor da operação posteriormente na hipótese de revogação da tutela antecipada. E nem se fale que, nesse caso, a tutela antecipada seria admitida porque será possível ao réu converter seu eventual prejuízo em perdas e danos.60 Ao passo de se pensar o direito processual como instrumento de efetivação do direito material, casos em que envolvam choque com direitos fundamentais em sede de tutela antecipada antecedente devem ser analisados sob a égide de uma proporcionalidade61, encarando-os como sendo uma medida de urgência urgentíssima, como conceitua BAPTISTA DA SILVA (1996, p. 142). A ponderação dessas medidas excepcionais deverá ser um ônus exclusivo do Estado-juiz62, aplicando-se o princípio da proporcionalidade como norteador para a 59 Nesse sentido: “O pronunciamento é sempre reversível, mediante a interposição do recurso cabível ou a prolação de outra decisão que virá substituí-lo. Daí por que correto o dispositivo ao consagrar o entendimento de que a irreversibilidade não é a jurídica, sempre inexistente, mas a fática, que é analisada pela capacidade de retorno ao status quo ante, na eventualidade de revogação da tutela antecipada. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil comentado. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 478. 60 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil comentado. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 479. 61 BAPTISTA DA SILVA sustenta que em casos específicos, v.g. direitos fundamentais, não será legítimo o Estado-juiz recusar-se a tutelar o direito verossímil, sujeitando seu titular a percorrer as agruras do procedimento ordinário, para depois, na sentença final, reconhecer a existência apenas teórica de um direito definitivamente destruído pela sua completa inocuidade prática (A antecipação da tutela na recente reforma processual. In: Teixeira Sálvio de Figueiredo. Reforma do Código de Processo Civil. São Paulo: Saraiva, 1996, p. 142). 62 Imaginemos hipoteticamente um latifundiário que tenha 10 hectares de terra de seus 350 hectares tomados por um grupo sem-terra. Indignado, procura um advogado e o causídico propõe uma medida antecedente visando a expulsão daquelas pessoas daquele referido lugar o quanto antes sob a alegação de danos ao local por se tratar de uma terra destinada à produção de alimento. Sem adentrar propriamente em uma discussão acerca da função social da propriedade, ela é assegurada pela Constituição Federal (art. 5°, inc. XXII, da CF), na realidade, há de se reconhecer um choque de direitos fundamentais, haja vista que a dignidade mínima daquelas pessoas está em jogo, porquanto caso não estivessem ali teriam de estar noutro lugar, senão vagando. Pois bem, para o caso posto, por mais que a permanência daquelas pessoas no referido lugar possa causar alguma espécie de prejuízo ao proprietário, vez que estejam utilizando-se daquele espaço para construção de alguma edificação, 10 hectares de terra para quem possui 350 é algo demasiadamente insignificante, de modo que, por exemplo, a referida decisão mereceria ser de indeferimento do requerido, ao nosso ver, haja vista que não há irreversibilidade nos atos tomados pelo Estado-juiz, aplicando-se uma proporcionalidade, senão Pág. 24 resolução da forma menos gravosa do caso fático, para tanto devendo valorar comparativamente os riscos, balanceando-se os dois e, ironicamente, optando-se para escolha dos males o menor, sem prejuízo a conversão de posterior perdas e danos.63 A aplicação do princípio da proporcionalidade ao caso individual, na realidade, com a ampliação daquele entendimento pacificado pelo Superior Tribunal de Justiça, assegura mais do que efetividade jurisdicional, assegura o acesso à justiça, ou seja, novamente um choque entre normas constitucionais e normas processuais. III – CONCLUSÃO Com essa breve digressão, espera-se ter demonstrado os principais pontos da questão proposta. A reestruturação do instituto da tutela provisória fora demasiadamente intensa, inclusive com a inserção de uma nova modalidade de obtenção e instrumentalização da tutela provisória, que é a tutela provisória de urgência antecipada requerida em caráter antecedente. Ao passo em que o pensamento jurídico e processual evolui para uma maior efetividade do direito material, especialmente pelo ponto que aqui se revela em sua essência, a efetivação dos direitos fundamentais, não poderia ser outra a conclusão do presente artigo senão a de ampliação do entendimento do Superior Tribunal de Justiça, abarcando, assim, além a tutela provisória de urgência requerida em caráter incidental, a possibilidade de mitigação da irreversibilidade da tutela provisória de no caso da expulsão daquelas pessoas. Veja-se prejuízo para as pessoas que estão lá morando. Por mais que o requerente seja o proprietário dos referidos lotes, talvez o indeferimento não fosse o mais correto, porém postergar o requerido, intimando as partes para uma audiência de conciliação a fim de, buscando uma forma pacífica, planejar a retirada daquele grupo de pessoas daquela localidade, Mantendo-se integralmente o exemplo supra, porém, substituindo-se o requerente para o minifundiário que possuam apenas 12 hectares de terra, do qual realmente precise daquele pedaço de terra, certamente que a ponderação aplicada em sede de juízo de valor seria diferente do caso do latifundiário. 63 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil comentado. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 479. Completa BUENO, Cássio Scarpinella (Novo Código de Processo Civil anotado. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 219), “Deve prevalecer para o § 3° do art. 300 do novo CPC a vencedora interpretação que se firmou a respeito do § 2° do art. 273 do CPC [...], única forma de contornar o reconhecimento de sua inconstitucionalidade substancial: a vedação da concessão da tutela de urgência nos casos de irreversibilidade não deve prevalecer nos casos em que o dano ou o risco que se quer evitar ou minimizar é qualitativamente mais importante para o requerente do que para o requerido. Subsiste, pois, implícito ao sistema – porque isso decorre do ‘modelo constitucional’ – o chamado ‘princípio da proporcionalidade’, a afastar o rigor literal
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