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A IRREVERSIBILIDADE DA ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA ANTECIPADA ANTECEDENTE SOB A PERSPECTIVA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

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Artigo Científico apresentado no I Simpósio Brasileiro de Processo Civil (2017) 
 
Como citar: BEDUSCHI, Leonardo; MÖLLER, Guilherme Christen. A irreversibilidade da estabilização 
da tutela antecipada antecedente sob a perspectiva dos direitos fundamentais. In: I Simpósio Brasileiro 
de Processo Civil, 2017, Curitiba. Anais do I Simpósio Brasileiro de Processo Civil. Curitiba: 
ABDConst, 2017. 
 
**Qualquer reprodução (integral ou parcial) deste artigo que não esteja em conformidade com o art. 46, 
inc. I, da Lei n.º 9.610/1998, bem como sem a anuência do autor, estará sujeita às sanções civis e 
penais aplicáveis. 
 
 
Pág. 1 
A IRREVERSIBILIDADE DA ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA ANTECIPADA 
ANTECEDENTE SOB A PERSPECTIVA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
THE IRREVERSIBILITY OF THE STABILIZATION OF ANTECEDENT 
PRELIMINARY INJUNCTION UNDER THE PERSPECTIVE OF FUNDAMENTAL 
RIGHTS 
 
Guilherme Christen Möller 
Leonardo Beduschi** 
 
Resumo: Tendo por objetivo a análise da irreversibilidade da estabilização da tutela 
antecipada antecedente, abordar-se-á neste artigo os principais pontos acerca da 
temática, para tanto, iniciando-se com o estudo acerca do referido instituto sob o 
contexto das tutelas jurisdicionais diferenciadas, analisando-se, nesta parte, aspectos 
problemáticos relacionados à aplicação prática da estabilização da tutela antecipada 
requerida em caráter antecedente, seguindo-se para a análise do Direito Processual 
Civil moderno, partindo-se da visão de sua constitucionalização e ideais esperados ao 
processo moderno para, ao fim, estudar a temática deste trabalho, a possibilidade de 
flexibilizar a irreversibilidade da tutela provisória de urgência, especialmente a 
antecedente, frente a sua estabilização, sob a perspectiva do cumprimento dos 
direitos fundamentais. Por meio dessa perspectiva, conclui-se que na visão moderna 
de Direito Processual Civil, para os fins esperados ao processo pelo novo modelo 
 
 Graduando em Direito da Universidade Regional de Blumenau (FURB). Autor de livro e de artigos 
científicos relacionados ao Direito Processual Civil. Mediador Judicial capacitado pela Academia 
Judicial do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina (CEJUR). 
** Especialista em Direito Processual Civil pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e em 
Direito Constitucional pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). Mestre em Ciência 
Jurídica pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Professor titular de Direito Processual Civil e 
Teoria Geral do Processo na Universidade Regional de Blumenau (FURB). Professor do curso de pós-
graduação em Direito Processual Civil da Sociedade Educacional Leonardo Da Vinci (UNIASSELVI). 
Autor de livro e de artigos científicos relacionados ao Direito Processual Civil. Membro do IBDP – 
Instituto Brasileiro de Direito Processual. 
Pág. 2 
constitucional brasileiro, inviável seria não pensar na possibilidade de flexibilização da 
irreversibilidade da tutela provisória antecipada antecedente quando ao choque com 
qualquer direito fundamental do cidadão, devendo-se analisar individualmente o 
requerido, e, caso revogada, há a possibilidade da conversão em perdas e danos, ou 
ação indenizatória autônoma, porém, nunca devendo o Estado-juiz, na visão moderna 
de processo, deixar de apreciar ou indeferir uma tutela antecipada antecedente, 
quando versar sobre direito fundamental, pela alegação da sua irreversibilidade. 
 
Palavras-chave: Novo Código de Processo Civil. Tutela antecipada. Estabilização da 
tutela antecipada. Irreversibilidade. Direitos fundamentais. 
 
Abstract: Aiming at the analysis of the irreversibility of the stabilization of the 
antecedent preliminary guardianship, the main points about the subject will be 
discussed in this article, starting with the study about the said institute under the 
context of the different jurisdictional injunction, analyzing, in this part, problematic 
aspects related to the practical application of the stabilization of the anticipated 
guardianship required in antecedent character, followed for the analysis of modern 
Civil Procedural Law, starting from the vision of its constitutionalization and ideals 
expected to the modern process for, finally, to study the theme of this work, the 
possibility of easing the irreversibility of the provisional protection of urgency, 
especially the antecedent, before its stabilization, from the perspective of the fulfillment 
of fundamental rights. From this perspective, it is concluded that in the modern view of 
Civil Procedural Law, for the purposes expected to the process by the new Brazilian 
constitutional model, it would be unfeasible not to think about the possibility of 
relaxation of the irreversibility of the antecedente preliminary injunction when to the 
clash with any right the individual must examine the defendant individually and, if 
revoked, there is the possibility of conversion into losses and damages, or autonomous 
indemnity action, but the State-judge should never, in the modern process view, fail to 
appreciate or refuse an antecedent preliminary injunction, when dealing with 
fundamental right, by the claim of its irreversibility. 
 
Keywords: New Brazilian Civil Procedure Code. Preliminary injunction. Stabilization 
of preliminary injunction. Irreversibility. Fundamental rights. 
 
Pág. 3 
Sumário: I – Introdução. II – A irreversibilidade da estabilização da tutela antecipada 
antecedente sob a perspectiva dos direitos fundamentais. II.I – A estabilização da 
tutela antecipada requerida em caráter antecedente no Código de Processo Civil de 
2015 no contexto das tutelas jurisdicionais diferenciadas. II.II – O Direito Processual 
Civil moderno: uma análise a partir de sua constitucionalização. II.III – A herança 
deixada pela revogada codificação processual civil: a possibilidade de mitigação do 
art. 300, § 3°, do Código de Processo Civil (Lei n° 13.105/2015) e a extensão do 
entendimento pacificado do Superior Tribunal de Justiça para o novo modelo de tutela 
provisória 
 
I – INTRODUÇÃO 
 
Para o cenário jurídico brasileiro, o ano de 2016 é importantemente marcado 
pela entrada em vigor de um novo diploma processual civil. Após quarenta e dois anos 
de vigência, o revogado CPC, Lei n° 5.869/73, deu espaço para o Novo Código de 
Processo Civil, a Lei n° 13.105/15. 
Por se tratar de uma nova codificação, com ela nascem novos problemas, não 
obstante àqueles enfrentados pelas outras codificações, porém e especialmente no 
que tange aos novos institutos dentre do Código de Processo Civil. 
Uma das características de maior marca neste novo código foi a mudança na 
seara da tutela provisória. Houvera uma reformulação do referido instituto, 
atualizando-se e incluindo-se novas disposições, emanando daí, por exemplo, a 
presente problemática. 
Surgiu-se com esta nova codificação uma nova espécie de tutela, a tutela 
provisória de urgência antecipada requerida em caráter antecedente. 
Por uma ofensa direta à Constituição Federal, não poderia essa decisão que 
conceder ou não a tutela requerida ter força de fazer coisa julgada, na realidade há, 
nesse caso, ofensa ao devido processo legal (art. 5°, inc. LIV, da CF). 
A problemática é que este tipo de tutela está inserido no subgênero da tutela 
provisória fundada na urgência, ou seja, passível de indeferimento quando a decisão 
for irreversível (art. 300, § 3°, do CPC). 
Normalmente, os casos para que este tipo de modalidade de tutela seja 
utilizado, além de ter como requisito, possuem uma urgência demasiadamente 
relevante, de modo a não haverem dias ou sequer horas para diálogo e contraditória 
Pág.4 
acerca do requerido, o que justifica ainda mais a preocupação acerca da 
irreversibilidade e do prejuízo que uma parte possa causar a outra. 
Ocorre que o Novo Código de Processo Civil é promulgado e entra em 
vigência em um cenário neoconstitucionalista, enxergando-se a Constituição Federal 
como pilar para todo o ordenamento jurídico e dela emanando ordem condicional para 
todos os demais ramos do Direito. 
Assim, este artigo fora desenvolvido na análise da decisão acerca da tutela 
antecipada antecedente quando irreversível e o bem jurídico almejado pela tutela 
estar constitucionalmente assegurado, no caso, um direito fundamental zelado pela 
Constituição Federal. 
Nesta senda, justifica-se, este artigo científico, dada a recente entrada em 
vigor do Código de Processo Civil de 2015, pouco menos de um ano, em comparação 
aos outros códigos que o antecederam, ainda mais com inexistência de entendimento 
pacificado pelos tribunais superiores acerca desta temática. 
A metodologia para o desenvolvimento desta pesquisa será bibliográfica, para 
que as opiniões dos autores possam ser refletidas e os dispositivos legais 
interpretados e comparados. 
O objetivo deste trabalho é analisar se haveria a possibilidade de flexibilização 
dessa irreversibilidade da tutela provisória de urgência requerida em caráter 
antecedente quando o bem jurídico tutelado versar acerca de um direito fundamental. 
 
II – A IRREVERSIBILIDADE DA ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA ANTECIPADA 
ANTECEDENTE SOB A PERSPECTIVA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
II.I – A ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA ANTECIPADA REQUERIDA EM CARÁTER 
ANTECEDENTE NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015 NO CONTEXTO DAS 
TUTELAS JURISDICIONAIS DIFERENCIADAS 
 
No gênero da tutela jurisdicional diferenciada, a antecipação da tutela é uma 
das suas espécies, que tem por objetivo central, conforme doutrina clássica, distribuir 
de forma mais equânime o ônus do tempo do processo rompendo com o princípio da 
Pág. 5 
nulla executio sine titulo, ao autorizar que o juiz profira provimentos que permitam a 
execução antecipada, total ou parcial, da pretensão do autor1. 
De um modo geral, a tutela jurisdicional diferenciada, em suas acepções 
primordiais (a especialidade procedimental e a sumariedade e não definitividade da 
cognição), tem por escopo procurar e desenvolver formas de tutela jurisdicional 
tempestiva, que permitam alteração da realidade fática no menor espaço de tempo e 
de maneira satisfatória ao titular de um direito, outorgando bem da vida ou a situação 
jurídica desejada a quem de direito, de modo, ao fim e ao cabo, a minimizar o ônus 
do tempo no processo2. 
E como não poderia deixar de ser, esse também é o alvo da tutela antecipada 
requerida em caráter antecedente no CPC/2015 (arts. 303-304), cujo procedimento 
(mas não a sua substância) difere da tutela antecipada incidental em relação ao 
momento do requerimento e à possibilidade de estabilizar-se. Ou seja, tudo o que 
pode ser requerido sob a forma de tutela antecipada incidental, também poderá ser 
buscado mediante a tutela antecipada antecedente, sob outro procedimento. 
A estabilização, em resumo, se manifesta pela manutenção dos efeitos da 
tutela antecipada antecedente mesmo após a extinção do processo no qual foi 
deferida, em cognição sumária, caso o réu não se insurja contra a decisão que deferir 
o respectivo pedido. Ou seja, na estabilização, a tutela antecipada antecedente 
sobrevive à extinção do processo e não há o prosseguimento da lide e tampouco o 
aprofundamento da cognição. 
Segundo a Exposição de Motivos do Anteprojeto do novo CPC (apresentada 
ao Senado Federal em 2010), a estabilização da tutela antecipada antecedente está 
inserida no objetivo de dar ao processo o maior rendimento possível3, foi inspirada 
 
1 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Processo de conhecimento. Curso de 
processo civil, v. 2. 12. ed. rev. e atual. São Paulo: RT, 2014, e MARINONI, Luiz Guilherme. Técnica 
processual e tutela dos direitos. 2. ed. revista e atualizada. São Paulo: RT, 2008. Em sentido contrário, 
para Araken de Assis, o princípio do título não é eliminado pela emissão de um provimento antecipatório 
(tutela provisória antecipada), pois essas decisões antecipam o título, como no exemplo do art. 528 do 
CPC (execução de alimentos). E prossegue o referido autor, citando Luana Pedrosa de Figueiredo 
Cruz: “A execução de decisão antecipatória de tutela não é execução sem título permitida. Acreditamos 
que a decisão antecipatória de tutela, apesar de não estar relacionada como título executivo judicial, 
principalmente por seu conteúdo, cumpre o princípio de que não há execução sem título. Até porque a 
satisfação definitiva pode vir a ocorrer como consequência da confirmação dessa decisão”. (ASSIS, 
Araken de. Manual da execução, p. 143-144). 
2 LUCON, Henrique dos Santos. Flexibilização procedimental no quadro da tutela jurisdicional 
diferenciada. In: Fredie Didier Jr.. (Coord.). Grandes temas do novo CPC. Tutela provisória. Salvador: 
Editora JusPodivm, 2016, v. 6, p. 89. 
3 “Também visando a essa finalidade [permitir que "cada processo tenha maior rendimento possível"], 
o novo Código de Processo Civil criou, inspirado no sistema italiano e francês, a estabilização de tutela 
Pág. 6 
nos códigos de processo civil italiano e francês4 (référeé) e, a exemplo do que ocorre 
nesses ordenamentos, sobre ela não incide a imutabilidade da coisa julgada (art. 304, 
§ 6º do CPC/2015). Nesse sentido é o art. 488 do CPC francês: “L'ordonnance de 
référé n'a pas, au principal, l'autorité de la chose jugée. Elle ne peut être modifiée ou 
rapportée en référé qu'en cas de circonstances nouvelle”5. 
Mas o que significa a categoria tutela jurisdicional diferenciada, e como ela 
está inserida no texto do novo CPC? 
 
[...], que permite a manutenção da eficácia da medida de urgência, ou antecipatória de tutela, até que 
seja eventualmente impugnada pela parte contrária. (É conhecida a figura do référé francês, que 
consiste numa forma sumária de prestação de tutela, que gera decisão provisória, não depende 
necessariamente de um processo principal, não transita em julgado, mas pode prolongar a sua eficácia 
no tempo. Vejam-se arts. 488 e 489 do Nouveau Code de Procédure Civile francês)”. (Brasil. Congresso 
Nacional. Senado Federal. Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de Anteprojeto de 
Código de Processo Civil. Brasília: Senado Federal, Presidência, 2010). [...] Na Itália a lei claramente 
disciplina que tal decisão não restará acobertada pela coisa julgada, podendo ser revista em sede de 
processo principal enquanto não prescrito o direito material. Tal opção é meramente política, não 
havendo cláusula constitucional que impeça o reconhecimento da eficácia da coisa julgada de decisão 
antecipatória não submetida à cognição plena quando as partes optarem por não discutir 
exaustivamente a questão sub judice. (BAUERMANN, Desirê. Estabilização da Tutela Antecipada. 
Revista Eletrônica de Direito Processual, Rio de Janeiro, ano 4, v. VI, jul.-dez. 2010, p. 37). 
4 “Sem embargo, trata-se de importante perspectiva que poderia ser explorada no direito brasileiro, à 
semelhança do que ocorre no direito italiano, que permite a estabilização da tutela antecipada deferida 
dentro do procedimento ordinário, com o encerramento deste último sem que a decisão antecipatória 
opere a coisa julgada; e, ainda, do que acontece no direito francês, em que se admite o référé no curso 
do processo principal, podendo acarretar a extinção deste com a subsistência apenas da decisão 
provisória. (O sistema italiano admite, v.g., no procedimento possessório, a possibilidadede 
estabilização autônoma do provimento antecipatório deferido dentro do procedimento de cognição 
plena: uma vez proferido o provimento sumário, este é hábil a encerrar o processo como um todo. A 
fase de cognição plena só se segue se alguma das partes a requerer expressamente. Se não houver 
tal pleito expresso, o provimento sumário é hábil a encerrar todo o processo, com a solução da crise 
do direito material, sem, entretanto, fazer coisa julgada).” (NUNES, Dierle. ANDRADE, Érico. Os 
contornos da estabilização da tutela provisória de urgência antecipatória no novo CPC e o mistério da 
ausência de formação da coisa julgada. In DIDIER JR., Fredie e outros. Coleção novo CPC - doutrina 
selecionada - v.4 - procedimentos especiais, tutela provisória e direito transitório. 2a ed: Rev., amp. e 
atualizada. Salvador: Juspodvm, 2016, p. 69-101). 
5 Para Eduardo Talamini, a estabilização da tutela antecipada antecedente é baseada na técnica de 
monitorização do procedimento: “A estabilização da medida urgente preparatória reúne todas as 
características essenciais da tutela monitória: a) há o emprego da cognição sumária com o escopo de 
rápida produção de resultados concretos em prol do autor; b) a falta de impugnação da medida urgente 
pelo réu acarreta-lhe imediata e intensa consequência desfavorável; c) nessa hipótese, a medida 
urgente permanecerá em vigor por tempo indeterminado – de modo que, para subtrair-se de seus 
efeitos, o réu terá o ônus de promover ação de cognição exauriente. Ou seja, sob essa perspectiva, 
inverte-se o ônus da instauração do processo de cognição exauriente; d) não haverá coisa julgada 
material. E, na medida em que o âmbito de incidência das medidas urgentes preparatórias não é 
limitado a determinadas categorias de litigio ou modalidades de pretensão, a estabilização de tutela 
urgente apresenta-se como um mecanismo geral, que aparentemente seria apto a “monitorizar” o 
processo brasileiro como um todo.” (TALAMINI, Eduardo. Tutela de urgência no Projeto de novo Código 
de Processo Civil: a estabilização da medida urgente e a 'monitorização' do processo brasileiro. Revista 
de Processo. São Paulo: RT, 2012, n. 209, p. 24-25). Nesse sentido, aplicando a disciplina da ação 
monitória à fixação da sucumbência na estabilização da tutela antecipada: Enunciado nº 18 da ENFAM: 
“Na estabilização da tutela antecipada, o réu ficará isento do pagamento das custas e os honorários 
deverão ser fixados no percentual de 5% sobre o valor da causa (art. 304, caput, c/c o art. 701, caput, 
do CPC/2015)”. 
Pág. 7 
Veja-se que o Código de Processo Civil de 2015, seguindo a linha do CPC de 
1973, revogado, adotou um procedimento comum como modelo geral para a 
tramitação das demandas de natureza cognitiva, ao lado dos procedimentos 
especiais. O procedimento comum tem como característica básica não tratar de forma 
processualmente diferenciada as diversas situações de direito material que lhe são 
submetidas, impondo o exaurimento da cognição, a observação do contraditório e a 
aptidão para a formação da coisa julgada material como vetores procedimentais6. 
Esse panorama passou a ser alterado a partir da introdução, no procedimento 
comum7, das tutelas jurisdicionais (ou processuais) diferenciadas, o que ocorreu na 
reforma processual promovida por meio da Lei nº 8.952/19948. 
 
6 É preciso levar em consideração que a previsão, no CPC de 1973, de um “procedimento comum 
sumário” não desnaturava essas características, já que o procedimento sumário possuía cognição 
plena e apresentava algumas limitações em relação aos seus atos processuais, que incidia 
notadamente sobre os atos postulatórios. Tratava-se, na verdade, de uma demanda plenária que 
caminhava sob as vestes de um procedimento levemente sumarizado. 
7 É importante observar que a reforma promovida pela Lei 8.952/1994 não criou a antecipação de tutela, 
que já existia, por exemplo, nas ações possessórias e em outros procedimentos especiais como o 
mandado de segurança e a ação de busca a apreensão do Decreto-Lei nº 911/1969. O que a “mãe das 
reformas processuais” fez foi, na verdade, democratizar a técnica, permitindo que o jurisdicionado que 
é obrigado a se valer do procedimento comum também tenha acesso à técnica antecipatória de tutela. 
Outro importante instituto que teve sua abrangência ampliada pela Lei em questão foi a tutela específica 
das obrigações de fazer e de não fazer, cristalizada na redação do art. 461 do CPC de 1973, repetida 
nos arts. 497-501 do CPC de 2015, que anteriormente estava restrito as relações de consumo (art. 84 
do Código de Defesa do Consumidor). Uma questão que fica em aberto, nesse ponto, é o fato de que 
o CPC de 2015 não repetiu a regra prevista no § 3º do art. 461 do CPC revogado, situação que não 
pode levar à conclusão de que a tutela específica do CPC/2015 ficou “destituída” de técnica 
antecipatória. 
8 A partir dessa reforma, promovida pela Lei nº 8.952, de 13 de dezembro de 1994, tem-se, no inciso II 
do art. 273, a possibilidade de conceder à parte a antecipação dos efeitos da tutela final quando o réu 
exercer abusivamente o seu direito de defesa ou se comportar no processo com flagrante propósito de 
protelar o deslinde da demanda. Posteriormente, a Lei nº 10.444, de 7 de maio de 2002, permitiu a 
tutela antecipada quando “um ou mais dos pedidos cumulados, ou parcela deles, mostrar-se 
incontroverso.” 
A Lei nº 8.952/1994 foi a mãe de todas as reformas posteriores do Código de Processo Civil, pois 
rompeu um dos seus principais paradigmas, que pode ser traduzido no confinamento dos atos 
executivos num ambiente processual próprio para tanto, o processo de execução (Livro II do CPC de 
1973). Em outras palavras: para o sistema original do CPC de 1973, no processo de conhecimento o 
juiz “diz”, mas não “faz”, declara, mas não executa, diz o que deve ser, mas não faz com que o que 
deve ser, seja; a invasão da esfera jurídica do demandando (o “fazer”) somente poderia ocorrer a partir 
do momento em que lhe tivesse sido assegurado, em amplitude e profundidade, os princípios do 
contraditório e da ampla defesa, ainda que o autor (ou o direito por ele afirmado) estivesse submetido 
a perigo de dano. 
Em resumo: a introdução da antecipação de tutela no procedimento comum do CPC de 1973 rompeu 
a milenar regra da “nulla executio sine titulo”, que até então vigorava em toda sua exuberância , ao 
permitir, no procedimento comum , a concessão de liminares antecipatórias de tutela (ou seja, o “dizer” 
e o “fazer” no mesmo processo, naquilo que, posteriormente, se convencionou chamar de processo 
sincrético), tanto que, atualmente, mesmo no regime do novo CPC, somente há sentido na manutenção 
de tal regra na execução baseada em título executivo extrajudicial. 
Pode-se afirmar, sem medo do exagero, que a reforma promovida pela Lei nº 8.952/1994, rompendo o 
fundamento político-dogmático que dava lastro ao CPC de 1973, acabou por exigir as sucessivas 
reformas processuais nos anos subsequentes (1998, 2001, 2002, 2005, 2006 e 2008) até culminar no 
Pág. 8 
A expressão “tutelas jurisdicionais diferenciadas” foi cunhada pelo italiano 
Andrea Proto Pisani9 e pode ser analisada em três acepções10: I) formas de tutela 
sumária (cautelar, antecipatória genérica, da evidência, antecipatória específica); II) 
procedimentos especiais de cognição plena ou parcial, exauriente ou sumária 
(divididos conforme situações de direito substancial: ação monitória, ações 
possessórias, consignação em pagamento, etc); e, atualmente, diante dos 
permissivos legais previstos no CPC de 2015, III) cláusulas gerais processuais que 
permitem negociação processual atípica (CPC de 2015, arts. 190 e 191)11. 
A necessidade da criação de tutelas jurisdicionais diferenciadas partiu do 
pressuposto de que o procedimento comum,em seu desenho original (especialmente 
o “ordinário” do CPC de 1973, que até a Lei nº 8.952/1994 não permitia, por exemplo, 
antecipação de tutela), era insuficiente para atender de forma efetiva e tempestiva 
todas as situações de direito substancial submetidas ao processo de conhecimento. 
Isso porque o direito material é muito mais rico e multifacetado do que podia 
(e pode!) suportar adequadamente o direito processual. A pretensão à submissão de 
todas essas situações substanciais ao procedimento comum equivaleria a tentar criar 
um tamanho de roupa que servisse para todo e qualquer ser humano, 
independentemente das variações de altura ou peso que nos são tão características. 
A imagem de uma pessoa alta usando uma roupa concebida para uma pessoa baixa 
é muito representativa da inadequação dessa concepção. 
 
novo Código de Processo Civil de 2015. Claro, pois o rompimento da distinção absoluta entre cognição 
e execução alterou profundamente o sistema normativo processual, de modo que as reformas 
legislativas seguintes tinham a clara intenção de harmonizar o Código de Processo Civil aos 
paradigmas impostos pelo reconhecimento dos novos direitos constitucionalizados, notadamente o 
direito fundamental à tutela jurisdicional adequada, efetiva e tempestiva. 
9 PROTO PISANI, Andrea. Tutela giurisdizionale differenziata e nuovo processo del lavoro. Studi di 
Diritto Processuale del Lavoro. Milano: Giuffrè, 1977. Vide também NUNES, Dierle. ANDRADE, Érico. 
Os contornos da estabilização da tutela provisória de urgência antecipatória no novo CPC e o mistério 
da ausência de formação da coisa julgada. In DIDIER JR., Fredie e outros. Coleção novo CPC - doutrina 
selecionada - v.4 - procedimentos especiais, tutela provisória e direito transitório. 2a ed: Rev., amp. e 
atualizada. Salvador: Juspodvm, 2016, p. 69-101, e THEODORO JR, Humberto; NUNES, Dierle; 
BAHIA, Alexandre Melo Franco; PEDRON, Flávio. Novo CPC: Fundamentos e sistematização. 2. ed. 
Rio de Janeiro: GEN Forense, 2015. 
10 Conforme NUNES, Dierle. ANDRADE, Érico. Os contornos da estabilização da tutela provisória de 
urgência antecipatória no novo CPC e o mistério da ausência de formação da coisa julgada. In DIDIER 
JR., Fredie e outros. Coleção novo CPC - doutrina selecionada - v.4 - procedimentos especiais, tutela 
provisória e direito transitório. 2a ed: Rev., amp. e atualizada. Salvador: Juspodvm, 2016, p. 69-101. 
11 “Não se pode, como já se disse, colocar o papel de todos os sujeitos processuais no mesmo plano, 
mas ao mesmo tempo deve-se estabelecer que cada um, no exercício de seu papel, possa influenciar 
na formação da decisão, garantindo-se debate e ao mesmo tempo processos mais rápidos”. 
(THEODORO JR, Humberto; NUNES, Dierle; BAHIA, Alexandre Melo Franco; PEDRON, Flávio. Novo 
CPC: Fundamentos e sistematização. 2. ed. Rio de Janeiro: GEN Forense, 2015, p. 210). 
Pág. 9 
Essa neutralidade do processo civil, decorrente da busca por autonomia 
científica característica da escola processual italiana do início do século XX, fez com 
que este se afastasse perigosamente dos seus compromissos com o direito material, 
partindo da premissa de que a resposta jurisdicional ao direito de ação fosse deveria 
ser isenta em relação ao direito material12. 
Ovídio Baptista da Silva aponta também o vínculo entre a ordinariedade 
(atualmente representada pelo procedimento comum do NCPC) e o racionalismo 
(enquanto movimento histórico e cultural), que se manifesta, por exemplo, na própria 
estrutura do procedimento, que impõe que o juiz somente pode julgar a lide após o 
encerramento da relação processual, “depois de amplo debate probatório que, 
segundo imagina a doutrina, daria ao julgador a indispensável segurança, própria dos 
juízos de certeza”13. Nesse contexto, Ovídio Baptista da Silva questiona: como 
poderão as instituições processuais concebidas para uma sociedade nascida das 
convulsões sociais do começo da Idade Moderna, “para quem o valor supremo era a 
segurança, depois afinal conseguido pelo mundo de progresso e tranquilidade que 
caracterizou a sociedade de século XIX europeu”, funcionar agora, para uma 
sociedade de outro viés, “tangida profundamente pela pressa, profundamente 
conflituosa, para a qual o sucesso, segundo a moral calvinista, é o único valor 
positivo?14”. 
Atualmente, no Estado constitucional, pretender que o processo seja neutro 
em relação ao direito material “é o mesmo que lhe negar qualquer valor”, pois ser 
indiferente ao que ocorre no plano do direito material “é ser incapaz de atender às 
 
12 MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela de urgência e tutela da evidência: soluções processuais diante 
do tempo da justiça. São Paulo: RT, 2017, p. 21-23. 
13 BAPTISTA DA SILVA, Ovídio. Processo e ideologia: o paradigma racionalista. 2ª ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 2006, p. 143. E prossegue: “Não raro, ouve-se de magistrados a afirmação de que, ao 
concederem uma determinada medida liminar, ainda não julgaram. Para os praticantes da 
ordinariedade (que somos nós), julgar sob o rito da provisoriedade é não julgar. O paradigma elimina a 
possibilidade de “juízos provisórios”, porque todo juízo provisório corre o risco de ser apenas uma 
liberalidade ou, pior, uma forma de arbitrariedade cometida pelo juiz, sem correspondência na “vontade 
da lei””. (op. cit., p. 147). Ovídio Baptista da Silva, em outra obra, abordando esse tema, ressalta: “Tendo 
em conta as novas ideias nascidas do racionalismo sobre o direito, especialmente sobre o direito 
processual, é possível isolar dois princípios, de natureza política e filosófica, de influência mais intensa, 
na comunidade histórica das antigas estruturas que, já no direito romano, haviam sepultado a tutela 
interdital, em favor da universalização do procedimento da actio, com sua natural consequência, a 
condemnatio. Referimo-nos ao predomínio absoluto do valor segurança, em detrimento do valor justiça, 
enquanto polaridades antagônicas, na constituição da ideia de Direito, e à formação do espírito 
científico moderno, em sua avassaladora conquista de todos os territórios culturais do Ocidente, de que 
resultou a completa submissão do pensamento jurídico aos métodos e princípios das ciências da 
natureza, ou das ciências lógicas, como a matemática” (Jurisdição e execução na tradição romano-
canônica. São Paulo: RT, 2ª ed, 1997, p. 104-105). 
14 BAPTISTA DA SILVA, Ovídio Araújo. Jurisdição e execução na tradição romano-canônica. P. 202. 
Pág. 10 
necessidades de proteção ou de tutela reveladas pelos novos direitos e, 
especialmente, pelos direitos fundamentais”15. 
Ao menos em relação ao procedimento comum clássico, por tais motivos (e 
por muitos outros que não cabem nesse momento), Proto Pisani afirma que o século 
XX ficará conhecido por tornar residual o processo de cognição plena16, já que todas 
as situações de direito substancial não comportam a submissão às características 
centrais do procedimento comum, que seriam as seguintes: I) o contraditório se realiza 
conforme modelo normativo mais estrito em relação às formas e aos termos 
processuais; II) realização plena e antecipada do contraditório; III) a cognição plena e 
exauriente domina os elementos de fato e de direito que gravitam em torno do litígio, 
permitindo ampla perquirição probatória para buscar um alto grau de probabilidade 
em relação ao acertamento judicial; IV) formação de coisa julgada material em relação 
aos provimentos de cognição plena e exauriente17. 
Como contraponto, o modelo procedimental da tutela sumária se afasta do 
procedimento de cognição exauriente em relação I) à possibilidade de “postecipação” 
do contraditório (permitindo, por meio de técnicas antecipatórias, que o juizdecida 
antes ouvir o réu, para somente depois instaurar o contraditório (o que foi positivado 
no CPC de 2015, conforme seu art. 9º, parágrafo único, inc. I); e II) à não formação 
 
15 MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela de urgência e tutela da evidência: soluções processuais diante 
do tempo da justiça, p. 22. E prossegue o referido autor: “Portanto, outorgar à jurisdição o escopo de 
tutela dos direitos é imprescindível para dar efetividade aos direitos fundamentais, inclusive ao direito 
fundamental à tutela jurisdicional efetiva. Como é óbvio, esta forma de conceber a função jurisdicional 
faz com que a ação neutra (única) perca sustentação, já que essa ação é completamente incapaz de 
atentar para o papel que o direito hegemônico desenvolve diante da sociedade e do Estado”. 
16 Em tradução livre: “Estou convencido de que o século XX passará à história como o período no qual 
a legislação e a doutrina processuais desenvolveram uma série de instrumentos (alguns de origem 
antiquíssima, provenientes do direito comum e da Idade Média), destinados a tornar residual o processo 
de cognição plena no sistema de tutela jurisdicional dos direitos entendido em seu conjunto" (PROTO 
PISANI, Andrea. Verso la residualitá dels processo a cognizione piena? Revista de Processo, São 
Paulo: RT, ano 31, vol. 131, jan. 2006, p. 239-249). Mauro Cappelletti e Bryant Garth inserem esse 
movimento (de criação de procedimentos especializados) nas suas “três ondas renovatórias do acesso 
à justiça” (especialmente na terceira delas), pois tal se afigura necessário quando a lei material é 
relativamente nova e se encontra em rápida evolução. (Acesso à justiça. Tradução e revisão de Ellen 
Gracie Northfleet. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2002. Título original: Access to Justice: 
The Worldwide Movement to Make Rights Effective. A General Report). 
17 PROTO PISANI, Andrea. Verso la residualitá del processo a cognizione piena? Revista de Processo, 
São Paulo: RT, ano 31, vol. 131, jan. 2006, p. 240 e NUNES, Dierle. ANDRADE, Érico. Os contornos 
da estabilização da tutela provisória de urgência antecipatória no novo CPC e o mistério da ausência 
de formação da coisa julgada. In DIDIER JR., Fredie e outros. Coleção novo CPC - doutrina selecionada 
- v.4 - procedimentos especiais, tutela provisória e direito transitório. 2a ed: Rev., amp. e atualizada. 
Salvador: Juspodvm, 2016, p. 73. 
Pág. 11 
de coisa julgada em relação ao provimento final proferido nos processos de cognição 
sumária18. 
Luiz Guilherme Marinoni, para quem a técnica da cognição permite a 
construção de procedimentos ajustados às reais necessidades de tutela, acrescenta 
que as limitações horizontais e verticais da cognição permitem o isolamento de 
técnicas processuais aptas à construção de procedimentos diferenciados: I) técnica 
da cognição parcial; II) técnica da cognição sumária; III) técnica da cognição 
exauriente secundum eventum probationis; IV) técnica da cognição exauriente 
enquanto não definitiva; V) técnica da cognição exauriente por ficção legal conjugada 
com a técnica da cognição exauriente secundum eventum defensionis e VI) técnica 
dos títulos executivos extrajudiciais19. 
 E é nesse contexto que pretendemos inserir uma sintética análise sobre a 
estabilização da tutela antecipada antecedente do Código de Processo Civil de 2015 
(exemplos de tutelas jurisdicionais diferenciadas que atuam por meio da sumarização 
da cognição judicial e também do procedimento) e a relação desta com a efetivação 
de direitos fundamentais das partes litigantes20. 
O que fundamenta a sistematização de tutelas jurisdicionais diferenciadas é 
justamente a constatação de que o “modelo geral” do procedimento comum clássico 
é insuficiente para atender as situações de direito substancial que lhe são submetidas. 
Nesse sentido, a estabilização da tutela antecipada antecedente do Código de 
Processo Civil de 2015 (arts. 303 e 304) é um exemplo das tentativas legislativas de 
superar essa vinculação necessária e absoluta ao procedimento comum. 
O CPC/2015 remodelou a tutela da urgência, que no Código é tratada como 
uma espécie do gênero tutela provisória, ao lado da tutela da evidência (art. 311). A 
 
18 NUNES, Dierle. ANDRADE, Érico. Os contornos da estabilização da tutela provisória de urgência 
antecipatória no novo CPC e o mistério da ausência de formação da coisa julgada. In DIDIER JR., 
Fredie e outros. Coleção novo CPC - doutrina selecionada - v.4 - procedimentos especiais, tutela 
provisória e direito transitório. 2a ed: Rev., amp. e atualizada. Salvador: Juspodvm, 2016, p. 74. 
19 Tutela de urgência e tutela da evidência: soluções processuais diante do tempo da justiça, p. 28-40. 
20 Nesse passo, é preciso fazer uma ressalva importante: não se pretende aqui menosprezar as 
garantias típicas (mas não exclusivas) do processo de conhecimento (como o contraditório, a ampla 
defesa e o devido processo legal), o qual, nas palavras de Carlos Alberto Álvaro de Oliveira, não pode 
ser considerado um mal em si, “mas uma conquista da humanidade, principalmente depois de despido 
das inúteis e inúmeras formalidades do direito comum, assim como a democracia”, consagrando-se 
como valor a ser preservado". A esse respeito, assoma-me perigosa a minimização sistemática do 
procedimento ordinário, pois pode conduzir ao desprezo total do próprio processo de conhecimento. E, 
queira-se ou não, ainda com todas as suas imperfeições, a função processual de conhecimento 
continua sendo o remédio por excelência para a declaração definitiva dos direitos, com a certeza daí 
decorrente, também ela um valor não desprezível." (OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de. Efetividade e 
processo cautelar. Revista de Processo, ano 19, n. 76, p. 89-93, 1994). 
Pág. 12 
tutela da urgência, por sua vez, é subdividida na tutela antecipada (satisfativa) e 
cautelar (não satisfativa), sendo que os requisitos para a concessão de ambas as 
subespécies foram unificados (art. 300). 
A unificação, para fins operacionais, das modalidades da tutela da urgência é 
também evidenciada a partir da constatação que ambas (antecipada e cautelar) 
podem ser requeridas em caráter incidental (art. 308, § 1º, quando o requerimento é 
feito na própria inicial ou por petição no curso do processo) ou antecedente (arts. 303 
e 305-310). Nesse aspecto, a novidade é justamente a tutela antecipada requerida em 
caráter antecedente, já que a cautelar antecedente é uma remodelação da conhecida 
“cautelar preparatória” do CPC/1973, com o diferencial de que o pedido principal, 
agora, deverá ser formulado nos mesmo autos e sem o pagamento de novas custas 
processuais (art. 308). 
Dessa forma, uma leitura apressada dos arts. 294 a 302 do CPC/2015, 
especialmente do art. 30021, poderia levar à conclusão de que a nova legislação 
processual codificada sepultou definitivamente a distinção entre a tutela de urgência 
satisfativa e cautelar, seguindo uma tendência do processo civil brasileiro que já era 
apontada pelo § 7º do art. 273 do CPC revogado22. 
Ocorre que assim não é justamente por conta da possibilidade de 
estabilização da tutela antecipada antecedente. Ou seja, a distinção operacional entre 
a tutela de urgência satisfativa e a cautelar sobrevive no CPC/2015 porque a única 
que pode se estabilizar é a tutela antecipada, e não a tutela cautelar, por uma questão 
de desenho procedimental e também por uma razão lógica. Primeiramente, os arts. 
303 e 304 do CPC/2015 não podem ser interpretados de forma separada. Eles formam 
um conjunto indissociável que somente faz sentido se considerados os dispositivos 
concomitantemente. 
 
21O que fez o art. 300 do CPC/2015 foi unificar os requisitos necessários à obtenção da tutela da 
urgência. Nesse sentido o Enunciado 143 do V Fórum Permanente de Processualistas Civis – FPPC 
dispõe: “A redação do art. 300, caput, superou a distinção entre os requisitos da concessão para a 
tutela cautelar e para a tutela satisfativa de urgência, erigindo a probabilidade e o perigo na demora a 
requisitos comuns para a prestação de ambas as tutelas de forma antecipada”. 
22 Dizia o texto revogado, que foi incluído pela Lei nº 10.444/2002: “§ 7º Se o autor, a título de 
antecipação de tutela, requerer providência de natureza cautelar, poderá o juiz, quando presentes os 
respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em caráter incidental do processo ajuizado”. Na 
verdade, tal distinção começou a arrefecer a partir do momento em que a cautelar inominada passou a 
ser empregada, na prática, contra a inefetividade do modelo clássico do procedimento comum, o que 
gerava situações bizarras do ponto de vista teórico, mas plenamente justificadas a partir da 
necessidade prática de obtenção de tutela jurisdicional tempestiva. 
Pág. 13 
Além disso, não haveria sentido lógico-jurídico em permitir que uma ordem 
cautelar que, por exemplo, se consubstanciasse no arresto de bens do devedor, 
pudesse se estabilizar na forma do art. 304, já que as medidas cautelares (não-
satisfativas), temporárias que são, não tem aptidão para se tornar definitivas, ao 
contrário das providências antecipatórias (satisfativas), que são provisórias23, mas 
tendem a se tornar imutáveis após a sua confirmação (e consequente substituição) 
pela sentença24. 
Partindo dessas premissas, constata-se também que os arts. 303 e 304 do 
CPC/2015, quer pela sua redação econômica, quer pela apresentação de uma 
novidade no direito processual civil brasileiro (a autonomização da tutela antecipada), 
não respondem todas as questões práticas que podem ser geradas pela utilização 
dessa técnica processual. 
O procedimento da tutela antecipada antecedente encontra-se regulado no 
art. 303 do CPC/2015: a petição inicial deve preencher os requisitos elencados no 
caput do referido dispositivo e também nos seus §§ 4º e 525; deferida a tutela 
antecipada antecedente, o juiz determinará a intimação do autor, no prazo de 15 dias 
ou outro maior que fixar, para que promova o aditamento da petição inicial, nos 
mesmos autos, sem incidência de novas custas (§3º), com a complementação de sua 
argumentação, a juntada de novos documentos e a confirmação do pedido de tutela 
final (art. 303, § 1º, inc. I), sob pena de extinção do processo sem resolução de mérito 
 
23 Sobre a diferença entre a provisoriedade da tutela antecipada e a temporariedade da cautelar, vide 
SILVA, Ovídio A. Baptista da. Curso de Processo Civil, vol. 2: processo cautelar (tutela de urgência). 4 
ed. ver, e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2008. 
24 De acordo com Fredie Didier Jr., essa diferenciação “se justifica pela previsão da estabilização da 
tutela provisória antecedente, apenas aplicável à tutela satisfativa” que será o objeto central deste 
trabalho. Ressalte-se que somente a tutela da urgência que comporta concessão em caráter 
antecedente, pois, “é a urgência que justifica sua formulação antes mesmo da formulação do pedido 
de tutela definitiva” (DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito 
processual civil: teoria da prova, direito probatório, teoria do precedente, decisão judicial, coisa julgada 
e antecipação dos efeitos da tutela. vol. 2. ed. 10. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 571 e 616). No mesmo 
sentido: TALAMINI, Eduardo. Arbitragem e tutela provisória no CPC/2015. In: Fredie Didier Jr.. (Coord.). 
Grandes temas do novo CPC. Tutela provisória. Salvador: Editora JusPodivm, 2016, v. 6. p. 184. 
25 Segundo Fredie Didier Júnior, a petição em que se postula a tutela antecipada antecedente deve 
conter: a) requerimento da tutela antecipada; b) indicação do pedido de tutela definitiva - que será 
formulado no prazo previsto e m lei para o adiantamento; c) exposição da lide, do direito que se busca 
realizar (e sua probabilidade), e do perigo da demora (art. 303, caput, CPC); d) indicação do valor da 
causa considerando o pedido de tutela definitiva que pretende formular (art. 303, § 4º, CPC); e e) 
explicitação que pretende valer-se do benefício da formulação do requerimento da tutela antecipada 
em caráter antecedente, nos moldes do caput do art. 303, CPC (art. 303 § 5º, CPC). (DIDIER JR., 
Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito processual civil: teoria da prova, 
direito probatório, teoria do precedente, decisão judicial, coisa julgada e antecipação dos efeitos da 
tutela. vol. 2. ed. 10. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 602-603). 
Pág. 14 
(§ 2º); caso o juiz não se convença da presença dos requisitos necessários ao 
deferimento da medida, determinará a intimação do autor para providenciar a emenda 
da petição inicial em até 5 dias, sob pena de ser indeferida a antecipação da tutela e 
de o processo ser extinto sem resolução de mérito (§ 6º). 
Já a estabilização dessa decisão ocorrerá se o réu, intimado da antecipação 
da tutela antecedente, não interpuser o respectivo recurso (art. 304), hipótese na qual 
o processo será extinto (§ 1º), a decisão manterá os seus efeitos (§3º) e somente 
poderá ser revista, reformada ou invalidada se a parte interessada propuser uma ação 
própria para tanto (§ 2º), no prazo decadencial de 2 anos (§ 5º), findos os quais tal 
decisão não mais poderá ser modificada, em que pese inexista, no caso, coisa julgada 
(§6º). 
Pelo próprio desenho do instituto no CPC/2015, percebe-se que a tutela 
antecipada requerida em caráter antecedente está imbricada à estabilização da tutela, 
razão pela qual, ao menos numa primeira interpretação, seria incabível a estabilização 
fora dessa hipótese26. 
Além disso, nos parece27 que a tutela antecipada antecedente foi introduzida 
no CPC com a finalidade específica de sistematizar situações nas quais as partes, 
ambas, estão satisfeitas com a decisão liminar e não pretendem aprofundar a 
cognição ou formular outros pedidos (no que concerne ao autor) ou se insurgir contra 
o que foi decidido (tocante ao réu). Não são raros os casos, no quotidiano forense, 
nos quais o autor não pretende do Judiciário nada mais do que lhe foi concedido pela 
decisão antecipatória da tutela; o réu, por sua vez, intimado da decisão, cumpre 
voluntariamente o comando judicial e não recorre (e muitas vezes sequer oferece 
defesa). Nessas situações, o processo (que segue o procedimento comum, no qual 
se espera a prolação de uma sentença que aprecie o caso em cognição exauriente) 
aguardará o julgamento nos escaninhos do Poder Judiciário tal qual um fantasma 
insepulto, até o momento em que o juiz profira a sentença que muitas vezes é uma 
 
26 Não se vislumbra óbice, contudo, à possibilidade de estabilização negociada entre as partes, nos 
termos do art. 190 do CPC/2015. Vide Enunciado nº 32 do V Fórum Permanente de Processualistas 
Civis – FPPC: “além da hipótese prevista no art. 304, é possível a estabilização expressamente 
negociada da tutela antecipada de urgência satisfativa antecedente”. 
27 Sobre a questão, de maneira mais pormenorizada, vide BEDUSCHI, Leonardo; HENCKEMAIER, 
Heidy Santos. Dois temas controvertidos sobre a estabilização da tutela antecipada antecedente. In: 
Paulo Henrique dos Santos Lucon; Pedro Miranda de Oliveira. (Org.). Panorama Atual do Novo CPC. 
Florianópolis: Empório do Direito, 2016, v. 1, p. 235-251. 
Pág. 15 
cópia da decisão antecipatória irrecorrida. A doutrina também é rica em exemplos de 
situações como essadescrita28. 
Assim, sendo a estabilização da tutela antecipada antecedente uma técnica 
satisfativa monitória secundum eventum defensionis29, tem-se que a sua utilização 
tem por escopo central a tutela dos direitos das partes, pois não apenas o autor, mas 
também o réu podem ser beneficiados pelo emprego da técnica em questão. 
O aspecto que se pretende destacar nesse estudo é correlação entre a 
exigência de reversibilidade dos efeitos do provimento antecipatório30 e a efetividade 
dos direitos fundamentais. 
 
II.II – O DIREITO PROCESSUAL CIVIL MODERNO: UMA ANÁLISE A PARTIR DE 
SUA CONSTITUCIONALIZAÇÃO 
 
O desenvolvimento processual acerca do instituto da tutela provisória é um 
resultado esperado para a visão moderna de processo, visão construída com o início 
de uma nova fase no direito processual, resultando em uma nova visão sobre o 
processo e os objetivos esperados para esse ramo da ciência jurídica. 
Ao passo da evolução do Direito, enquanto ciência, os seus respectivos ramos 
lhe acompanham, e, diferentemente não seria com o Direito Processual Civil. 
No cenário vivenciado pelo direito processual, as interligações com os demais 
ramos do Direito é um tema que está cada vez mais evidente e demandando maior 
 
28 “Imagine um caso em que um estudante, que ainda não havia concluído o ensino médio, tenha sido 
aprovado no vestibular para um curso superior. A instituição de ensino, seguindo determinação do 
Ministério da Educação, não realizou a matrícula. O estudante vai a juízo e obtém uma tutela satisfativa 
liminar, ordenando a matrícula. Para a instituição de ensino, pode ser que não haja qualquer interesse 
em contestar a medida – ela somente não matriculara o aluno, porque o Ministério da Educação proibia. 
Outro exemplo: Imagine, agora, o caso de um consumidor que vai a juízo pleiteando a retirada de seu 
nome de um cadastro de proteção de crédito. Apenas isso. Obteve a liminar. É muito provável que o 
réu não queira mais discutir o assunto e deixe a decisão estabilizar-se”. (DIDIER JR., Fredie; BRAGA, 
Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito processual civil: teoria da prova, direito probatório, 
teoria do precedente, decisão judicial, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. vol. 2. ed. 10. 
Salvador: Juspodivm, 2015, p. 605). José Carlos Barbosa Moreira também dá o exemplo de um 
empregado que é demitido de forma ilegítima e busca, por meio dos provvedimenti d’urgenza italianos 
e da ordennance de référé francesa sua reintegração à empresa. (BARBOSA MOREIRA, José Carlos. 
Temas de direito processual. 8ª série. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 99). 
29 A expressão, muito pertinente, é de NUNES, Dierle. ANDRADE, Érico. Os contornos da estabilização 
da tutela provisória de urgência antecipatória no novo CPC e o mistério da ausência de formação da 
coisa julgada. In DIDIER JR., Fredie e outros. Coleção novo CPC - doutrina selecionada - v.4 - 
procedimentos especiais, tutela provisória e direito transitório. 2a ed: Rev., amp. e atualizada. Salvador: 
Juspodvm, 2016, p. 82. 
30 Tal exigência é prevista no § 3o do art. 300 do CPC: “A tutela de urgência de natureza antecipada 
não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão”. 
Pág. 16 
preocupação por parte dos juristas, especialmente em se tratando das interligações 
entre direito processual e Direito Constitucional. 
A justificativa para toda esta preocupação está pautada no advento do 
Neoconstitucionalismo no Brasil, porquanto o processo e o direito material passam 
por uma grande reforma de valores e dogmas, aliás, a própria ciência jurídica como 
um todo sofre uma severa reforma, haja vista um grande impacto apresentado por 
esse novo modelo constitucional ao pilar do ordenamento jurídico brasileiro, o Direito 
Constitucional.31 
O Neoconstitucionalismo32 brasileiro está inspirado no modelo europeu, em 
especial aquele da Europa continental, sendo fruto de constante busca por 
redemocratização em solo brasileiro, o que, inclusive, levou o sistema autoritário do 
regime militar à falência em 1985, tendo o movimento ganhado ainda mais força com 
a promulgação da Constituição Cidadã, no caso a Constituição Federal de 1988, a 
qual possuí um caráter democrático amplo e voltada a assegurar o cumprimento dos 
direitos fundamentais dos cidadãos. 
Como reflexo da implantação desse novo modelo constitucional no Brasil, 
para o Direito, desencadeia outro evento de igual importância, qual seja a sua 
constitucionalização. 
Ensina BARROSO (2006, p. 27), que a ideia de constitucionalização do Direito 
deve ser associada a um efeito expansivo das próprias normas constitucionais, de 
modo a seu conteúdo material e axiológico se irradia por todo o sistema jurídico com 
força normativa. 
Nesta senda, a constitucionalização deve ser interpretada como a irradiação 
dos valores constitucionais pelo sistema jurídico, por via da jurisdição constitucional, 
responsável por abranger a aplicação direta da Constituição a determinadas questões, 
 
31 MÖLLER, Guilherme Christen. Anotações sobre a constitucionalização do Direito Processual Civil 
contemporâneo brasileiro. Curitiba: Prismas, 2017. 
32 Para BARROSO (Neoconstitucionalismo e Constitucionalização do Direito (O Triunfo Tardio do 
Direito Constitucional no Brasil). Revista da EMERJ, Rio de Janeiro, v. 9, n. 33, 2006, p. 3-10), o 
fenômeno do Neoconstitucionalismo pode ser observado sob três aspectos, qual seja, histórico, 
filosófico e teórico. Em suma, para o aspecto histórico, o referido fenômeno se inicia na Europa 
continental e mais tarde, precisamente no ano de 1985, chega ao território brasileiro, ganhando ainda 
mais força com a promulgação da Constituição Federal de 1988. Já o aspecto filosófico é marcado pelo 
fracasso do positivismo e do jusnaturalismo, dando ensejo a uma nova instituição jurídica, o pós-
positivismo. Por fim, sob à luz do aspecto teórico, entende-se que se está vivendo um momento de 
mudança de paradigmas jurídicos e doutrinários, de modo a enxergar a Constituição Federal como 
centro do ordenamento jurídico e dela irradiar conteúdo com força normativa por todos os demais ramos 
do Direito, em especial, empregando-se uma leitura moral do Direito. 
Pág. 17 
bem como declarar a inconstitucionalidade de normas com ela incompatíveis, e, 
principalmente, a interpretação conforme a Constituição, para atribuição de sentido às 
normas jurídicas em geral.33 
A aplicação deste fenômeno no direito processual resulta no início de uma 
nova fase processual, o Neoprocessualismo34, o qual consiste na ênfase do estudo 
do direito processual a partir dos princípios, garantias e disposições de diversas 
naturezas que a Constituição projeta. Dessa forma, esse modelo desencadeia um 
estrito pensamento do dever da interpretação das leis processuais a partir da 
obrigação ao cumprimento dos direitos e garantias fundamentais, em especial ao 
conjunto da tutela jurisdicional efetiva, célere e adequada, o processo justo.35 
Nesse modelo, portanto, deve o julgador interpretar as normas processuais 
sempre com os olhos na Constituição Federal. 
Para Fredie Didier Júnior (2015, p. 46), a constitucionalização do Direito, neste 
momento restringindo-se ao Direito Processual Civil, é um dos diversos fenômeno do 
Direito contemporâneo, podendo ser analisados a partir de duas dimensões, a 
primeira consistindo na incorporação aos textos constitucionais de norma processual 
como direito fundamental, e, a segunda, o início do exame, pela doutrina, das normas 
processuais infraconstitucionais como concretizadoras das disposições 
constitucionais. 
Justamente por isso o Novo Código de Processo Civil,em seu artigo 1º, 
enuncia a norma elementar desse novo modelo processual, quando sustenta que: “O 
processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as 
normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do 
Brasil, observando-se as disposições deste Código”, ou seja, as normas jurídicas 
derivam e devem estar em conformidade com a Constituição.36 
Tem por objetivo principal, este fenômeno, encontrar “mecanismos destinados 
a conferir à tutela jurisdicional o grau de efetividade que dela se espera”37, ou seja, 
 
33 BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e Constitucionalização do Direito (O Triunfo Tardio 
do Direito Constitucional no Brasil). Revista da EMERJ, Rio de Janeiro, v. 9, n. 33, p. 1-53, 2006, p. 16. 
34 Mesmo que existam peculiaridade entre os termos, bem como exista divergência doutrinária sobre, 
para fins deste artigo, “Neoconstitucionalismo”, “Neoprocessualismo” e “formalismo valorativo” devem 
ser tratados como sinônimos. Nesse sentido, ver: DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de Direito processual 
civil. 17. Ed. Salvador: Juspodivm, 2015, v. 1. 
35 DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de Direito processual civil. 19. Ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 30. 
36 DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de Direito processual civil. 17. Ed. Salvador: Juspodivm, 2015, v. 1, 
p. 47. 
37 BEDAQUE, José Roberto dos S. Efetividade do processo e técnica processual: tentativa de 
compatibilização. Tese para concurso de Professor Titular, USP, São Paulo: 2005, p. 13. 
Pág. 18 
esse modelo constitucional do processo “traz como principal característica o direito 
fundamental a uma tutela jurisdicional efetiva, célere e adequada (...), direito, 
garantido constitucionalmente pelo art. 5º, XXXV”38 da Constituição Federal. 
Ao passo da preocupação desse novo modelo processual para o cumprimento 
da norma constitucional, cresce consideravelmente o tema das relações entre direito 
processual e direito material cada vez mais, por uma razão, os direitos e garantias 
fundamentais necessitam de sua materialização. 
Desta forma, há de se pensar que o direito processual sempre fora uma 
técnica para a consecução dos fins esperados pelo direito material. Esse pensamento 
é intitulado de Teoria Circular dos Planos. 
No atual desenvolvimento do Estado e da sociedade brasileira, revalidando o 
papel dos direitos fundamentais essenciais à dignidade do homem, as relações entre 
direito material e direito processual devem ser cada vez mais perfectibilizadas. Porém, 
não é repentina essa valorização.39 
O processo, em sua essência contemporânea, é o instrumento escrito da nova 
ordem jurídica, pelo Poder Judiciário, que almeja a pacificação do conflito e entregar 
a cada um o que é seu.40 
Na lição de Michel Villey, os fins do direito se resumem no brocardo suum 
cuique tribuere; os meios, no brocardo audiatur et altera pars.41 Por tanto, “o processo 
devolve (sempre) algo diverso do Direito material afirmado pelo autor na inicial, algo 
que por sua vez é diverso mesmo da norma expressa no Direito material positivado”.42 
O diferencial está atrelado como elemento de substituição, mesmo que idêntico à 
previsão legal, notadamente a certificação da norma do caso concreto pelo Poder 
Judiciário.43 
Para tanto, pode-se afirmar que “tra diritto e processo existe um rapporto 
logico circolare: il processo serve al diritto, ma affinchè serva al diritto deve essere 
servitto dal diritto”44, traduzindo-se significa que entre o direito material e o processo 
 
38 DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de Direito processual civil. 19. Ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 32. 
39 ZANETI JÚNIOR, Hermes. A constitucionalização do processo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 190. 
40 ZANETI JÚNIOR, Hermes. A constitucionalização do processo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 190. 
41 VILLEY, Michel. Filosofia do Direito: definições e fins do Direito. Tradução de Márcia Valéria Martinez 
de Aguiar. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 242 e ss. 
42 ÁVILA, Humberto Bergman. Teoria dos princípios: da definição à aplicação dos princípios jurídicos. 
São Paulo: Forense, 2006, p. 3-32. 
43 ZANETI JÚNIOR, Hermes. A constitucionalização do processo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 191. 
44 CARNELUTTI, Francesco. Profilo dei rapporti tra diritto e processo. Rivista di Diritto Processuale, ano 
35, n. 4, p. 64. 
Pág. 19 
existe uma relação circular, sendo que o processo serve ao direito material, mas para 
que lhe sirva é necessário que seja servido por ele. 
O processo constrói uma verdade interna razoável e argumentativa, um “novo 
direito material”, expressão que alberga a racionalidade material e processual do 
Direito, de modo a encarar a relação entre os planos do Direito de forma complementar 
e interdependente.45 
Não se trata de superação inconsequente da lei, jurisprudência e doutrina, 
isso porque se pretende, antes, utilizar da racionalidade dos precedentes e o Direito 
posto, assim como o nosso fundo doutrinário do Direito pátrio.46 
Dentre as diversas características do processo, é de se notar sua volatilização 
da certeza do direito material, de modo que se pode afirmar que essa, aliás, é sua 
lógica própria, dado ao fato de que o direito discutido no processo é sempre incerto e 
é sempre problemático.47 
Ocorre que essa não é a lógica do direito material moderno, o qual acredita 
que a norma é perfeita e que contém todas as hipóteses de incidência, de modo que, 
caso ocorra um fato jurídico em caráter lato sensu, o processo se incide 
automaticamente, bastando apenas ser declarado pelo juiz, caso haja dúvida ou 
conflito. 
É nesta senda que nascem as primeiras aproximações entre o Direito material 
e o processo, de modo a surgir a teoria imanentista, e, mais tarde, a concretista da 
ação. Sobre tal teoria, há de se destacar que é fortemente privatista, de modo a 
compreender que todo Direito corresponde a uma ação que o assegura, inclusive, não 
ficando nenhum Direito para fora dessa regra, “sem Direito subjetivo não há ação.”.48 
Para ZANETI JÚNIOR (2014, p. 193), “distorções dessa ordem acabaram por 
negar uma realidade já advertida anteriormente, o processo precisa, como 
instrumento que é, estar adequado ao direito material que pretende servir”. Dessa 
foram, tanto o princípio da adequação, quanto o da instrumentalidade se completam. 
A atual tendência do direito processual comparado demonstra uma crescente 
preocupação dos ordenamentos internos em valorizar a adequação para garantir 
maior efetividade e economia processual. 49 
 
45 ZANETI JÚNIOR, Hermes. A constitucionalização do processo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 191. 
46 ZANETI JÚNIOR, Hermes. A constitucionalização do processo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 191. 
47 ZANETI JÚNIOR, Hermes. A constitucionalização do processo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 192. 
48 ZANETI JÚNIOR, Hermes. A constitucionalização do processo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 192. 
49 ZANETI JÚNIOR, Hermes. A constitucionalização do processo. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2014, p. 193. 
Pág. 20 
Assim, a teoria circular dos planos propõe uma visão pela efetividade do 
processo, que resgata, como valor ideológico, o direito material. Além disso, demanda 
adequação do processo e do procedimento, não só ao direito material posto, mas 
também ao que pretende o autor obter do processo, e sua viabilidade frente à força 
normativa da Constituição. 
Desta forma, no cenário de constitucionalização do Direito Processual Civil e 
dos direitos fundamentais, a técnica processual não deva ser mais vista como tendo 
um fimem si ou um autovalor, mesmo que essa possua sua autonomia. Pensa-se na 
função do processo em persistir na instrumentalização das regras substanciais 
existentes no ordenamento jurídico, “quando estas se deparam com a crise de sua 
inobservância in concreto”.5051 
O resultado que se deve espera do processo encontra-se no campo das 
relações jurídicas substanciais, de modo que na produção dos resultados é que se 
pode definir a sua real efetividade.52 
Os ideais esperados para o direito processual moderno são, além da 
instrumentalidade, a efetividade, de modo que para que o processo seja efetivo, 
deverá assumir a função de instrumento. Assim, o uso das técnicas processuais deve-
se adequar para que a instrumentalidade atinja o fim esperado, qual seja “a solução 
das crises verificadas no plano do direito material”.53 
 
50 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 57. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2016, p. 23. 
51 Além da questão da constitucionalização do Direito Processual Civil e da Teoria Circular dos Planos, 
o direito processual deve ser estudado, interpretado e aplicado nas características modernas do Direito, 
das quais, Fredie Didier Júnior (Curso de Direito processual civil. 17. Ed. Salvador: Juspodivm, 2015, 
v. 1, p. 40-42) elenca quatro: A primeira trata acerca da transformação da hermenêutica jurídica, 
reconhecendo o papel criativo e normativo da atividade jurisdicional, assim, essa função passa a ser 
observada como uma função essencial ao desenvolvimento do Direito, tanto pela estipulação da norma 
jurídica do caso concreto, quanto pela interpretação dos textos normativos, de modo a definir-se a 
norma geral que deles deve ser extraída e que deve ser aplicada a casos semelhantes. A segunda, 
por sua vez, refere-se ao desenvolvimento da teoria dos princípios, de modo a reconhecer-lhes eficácia 
normativa: “o princípio deixa de ser técnica de integração do Direito e passa a ser uma espécie de 
norma jurídica”. A terceira marca é a expansão dos Direitos fundamentais, que impõem ao Direito 
positivo um conteúdo ético mínimo que respeite a dignidade da pessoa humana e cuja teoria jurídica 
se vem desenvolvendo a passos largos. Por fim, a quarta e última marca diz respeito ao 
reconhecimento da força normativa da Constituição, a qual passa a ser encarada como principal veículo 
normativo do sistema jurídico, com eficácia imediata e independente, em muitos casos, de 
intermediação legislativa. 
52 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 57. ed. Rio de Janeiro: Forense, 
2016, p. 23. 
53 BEDAQUE, José Roberto dos S. Efetividade do processo e técnica processual: tentativa de 
compatibilização. Tese para concurso de Professor Titular, USP, São Paulo: 2005, p. 23. 
Pág. 21 
Quanto mais adequado proporcionar-se a tutela jurisdicional aos direitos 
subjetivos substanciais, o desempenho dessa prestação pela técnica processual será 
mais efetivo.54 
Utilizar-se de formalismos processuais para o descumprimento da função 
pacificadora do processo passa a ser afrontado pelo processo justo, almejando-se 
com celeridade e a segurança jurídica, “proporcionar às partes o resultado desejado 
pelo direito material”55, respeitando-se e observando-se, sempre, a Constituição 
Federal.56 
 
 II.III – A HERENÇA DEIXADA PELA REVOGADA CODIFICAÇÃO PROCESSUAL 
CIVIL: A POSSIBILIDADE DE MITIGAÇÃO DO ART. 300, § 3°, DO CÓDIGO DE 
PROCESSO CIVIL (LEI N° 13.105/2015) E A EXTENSÃO DO ENTENDIMENTO 
PACIFICADO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA PARA O NOVO MODELO DE 
TUTELA PROVISÓRIA 
 
Mesmo que por uma herança da codificação que antecedeu, o vigente código 
manteve a disposição acerca da impossibilidade de concessão da tutela em havendo 
possibilidade de irreversibilidade de forma quase que intacta57. 
Considerando que o Novo CPC fora esculpido nas premissas modernas da 
ciência jurídica, com longos cinco anos de discussões, pensa-se que a disposição do 
art. 300, § 3°, do CPC, deveria ter sido mais aprofundada, ainda mais pela inserção 
de uma nova modalidade de tutela no subgênero da tutela de urgência. 
A mitigação acerca da irreversibilidade da tutela provisória já vinha sendo 
cada vez mais discutida nos últimos anos de vigência do Código de Processo Civil de 
 
54 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Op. cit., p. 23. 
55 BEDAQUE, José Roberto dos S. Efetividade do processo e técnica processual: tentativa de 
compatibilização. Tese para concurso de Professor Titular, USP, São Paulo: 2005, p. 45. 
56 MÖLLER, Guilherme Christen. A Constitucionalização do Direito Processual Civil Contemporâneo 
Brasileiro. 2016. 146 f. Monografia (Graduação) – Curso de Direito, Universidade Regional de 
Blumenau, Blumenau, 2016. 
57 As redações dos artigos são demasiadamente similares. Senão, veja-se: “Art. 273. O juiz poderá, a 
requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, 
desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: § 2o Não se 
concederá a antecipação da tutela quando houver perigo de irreversibilidade do provimento antecipado” 
do Código de Processo Civil de 1973 (Lei n° 5.869/73), “Art. 300. A tutela de urgência será concedida 
quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao 
resultado útil do processo. § 3o A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando 
houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão” do Código de Processo Civil de 2015 (Lei n° 
13.105/15). 
Pág. 22 
1973, inclusive, tendo o Superior Tribunal de Justiça se posicionado favorável à essa 
flexibilização, prolatando entendimento e informativo de jurisprudência neste sentido 
no ano de 2009.58 
É visível o entendimento da corte quando ponderam acerca de choque entre 
direitos, ou seja, o julgamento da corte está pautado em uma questão de princípio da 
proporcionalidade. 
No caso em tela, o bem jurídico tutelado é a vida (art. 5°, caput, CF), um dos 
diversos direitos fundamentais assegurados pela Constituição Federal brasileira. 
Curioso, porém, é o fato de que no entendimento do STJ, haveria a possibilidade de 
mitigação da irreversibilidade para qualquer dos direitos fundamentais assegurados 
pela Constituição Federal, devendo, entretanto, analisar-se as condições fática de 
cada caso, “... É possível a antecipação da tutela, ainda que haja perigo de 
irreversibilidade do provimento, quando o mal irreversível for maior...” (REsp 
801.600/CE, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 
15/12/2009, DJe 18/12/2009). 
A aplicação do referido julgado destina-se à tutela provisória antecipada 
incidental, porém, considerando que à época julgamento sequer havia sido pensada 
essa nova espécie de tutela provisória, pensa-se na aplicação ampliada do 
entendimento da corte seria demasiadamente adequada aos preceitos do processo 
moderno, ainda mais frente ao fator de ambas espécies serem similares, distinguindo-
se apenas no tocante ao momento do requerido, haja vista que uma é requerida antes 
mesmo da propositura da demanda judicial, enquanto a outra em um momento 
incidental, normalmente logo no primeiro momento do processo, no caso, a petição 
inicial. 
Pontual fora a redação do referido dispositivo sobre a irreversibilidade da 
tutela provisória antecipada antecedente. Deve-se considerar reversível, entretanto, a 
decisão judicial propriamente dita, considerando-se a interposição do respectivo 
 
58 PROCESSUAL CIVIL. ANTECIPAÇÃO DA TUTELA. TRATAMENTO MÉDICO. SEQUELAS DE 
INFECÇÃO HOSPITALAR. IRREVERSIBILIDADE DO PROVIMENTO.POSSIBILIDADE. 
DOCUMENTO NOVO. JUNTADA POSTERIOR. NULIDADE. NÃO-OCORRÊNCIA. I.- É possível a 
antecipação da tutela, ainda que haja perigo de irreversibilidade do provimento, quando o mal 
irreversível for maior, como ocorre no caso de não pagamento de pensão mensal destinada a custear 
tratamento médico da vítima de infecção hospitalar, visto que a falta de imediato atendimento médico 
causar-lhe-ia danos irreparáveis de maior monta do que o patrimonial. II.- Não compromete a validade 
da decisão, a falta de oitiva da parte a respeito da juntada de documento novo que não teve influência 
no julgado. Recurso Especial improvido. (REsp 801.600/CE, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA 
TURMA, julgado em 15/12/2009, DJe 18/12/2009). 
Pág. 23 
recurso ou manifestação (v.g. art. 304, caput, do CPC), porém, irreversível seria o 
contexto fatídico.59 Nesse sentido, significa dizer que a irreversibilidade diz respeito 
aos efeitos da decisão judicial, e não da própria decisão (REsp 737.047/SC, Rel. 
Ministro Nancy Andrighi, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/02/2006, DJe 
13/03/2006). 
 
É óbvio que a mera indisponibilidade do direito não é suficiente para a 
concessão da tutela antecipada, devendo sempre o juiz analisar o efetivo 
preenchimento dos requisitos legais. Não é porque a operação é necessária 
à sobrevivência do autor que o juiz concederá, por esse simples fato, a tutela 
antecipada em seu favor somente porque o Plano de Saúde ou Hospital 
sempre poderão cobrar o valor da operação posteriormente na hipótese de 
revogação da tutela antecipada. E nem se fale que, nesse caso, a tutela 
antecipada seria admitida porque será possível ao réu converter seu eventual 
prejuízo em perdas e danos.60 
 
Ao passo de se pensar o direito processual como instrumento de efetivação 
do direito material, casos em que envolvam choque com direitos fundamentais em 
sede de tutela antecipada antecedente devem ser analisados sob a égide de uma 
proporcionalidade61, encarando-os como sendo uma medida de urgência 
urgentíssima, como conceitua BAPTISTA DA SILVA (1996, p. 142). 
A ponderação dessas medidas excepcionais deverá ser um ônus exclusivo do 
Estado-juiz62, aplicando-se o princípio da proporcionalidade como norteador para a 
 
59 Nesse sentido: “O pronunciamento é sempre reversível, mediante a interposição do recurso cabível 
ou a prolação de outra decisão que virá substituí-lo. Daí por que correto o dispositivo ao consagrar o 
entendimento de que a irreversibilidade não é a jurídica, sempre inexistente, mas a fática, que é 
analisada pela capacidade de retorno ao status quo ante, na eventualidade de revogação da tutela 
antecipada. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil comentado. Salvador: 
Juspodivm, 2016, p. 478. 
60 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil comentado. Salvador: 
Juspodivm, 2016, p. 479. 
61 BAPTISTA DA SILVA sustenta que em casos específicos, v.g. direitos fundamentais, não será 
legítimo o Estado-juiz recusar-se a tutelar o direito verossímil, sujeitando seu titular a percorrer as 
agruras do procedimento ordinário, para depois, na sentença final, reconhecer a existência apenas 
teórica de um direito definitivamente destruído pela sua completa inocuidade prática (A antecipação da 
tutela na recente reforma processual. In: Teixeira Sálvio de Figueiredo. Reforma do Código de Processo 
Civil. São Paulo: Saraiva, 1996, p. 142). 
62 Imaginemos hipoteticamente um latifundiário que tenha 10 hectares de terra de seus 350 hectares 
tomados por um grupo sem-terra. Indignado, procura um advogado e o causídico propõe uma medida 
antecedente visando a expulsão daquelas pessoas daquele referido lugar o quanto antes sob a 
alegação de danos ao local por se tratar de uma terra destinada à produção de alimento. Sem adentrar 
propriamente em uma discussão acerca da função social da propriedade, ela é assegurada pela 
Constituição Federal (art. 5°, inc. XXII, da CF), na realidade, há de se reconhecer um choque de direitos 
fundamentais, haja vista que a dignidade mínima daquelas pessoas está em jogo, porquanto caso não 
estivessem ali teriam de estar noutro lugar, senão vagando. Pois bem, para o caso posto, por mais que 
a permanência daquelas pessoas no referido lugar possa causar alguma espécie de prejuízo ao 
proprietário, vez que estejam utilizando-se daquele espaço para construção de alguma edificação, 10 
hectares de terra para quem possui 350 é algo demasiadamente insignificante, de modo que, por 
exemplo, a referida decisão mereceria ser de indeferimento do requerido, ao nosso ver, haja vista que 
não há irreversibilidade nos atos tomados pelo Estado-juiz, aplicando-se uma proporcionalidade, senão 
Pág. 24 
resolução da forma menos gravosa do caso fático, para tanto devendo valorar 
comparativamente os riscos, balanceando-se os dois e, ironicamente, optando-se 
para escolha dos males o menor, sem prejuízo a conversão de posterior perdas e 
danos.63 A aplicação do princípio da proporcionalidade ao caso individual, na 
realidade, com a ampliação daquele entendimento pacificado pelo Superior Tribunal 
de Justiça, assegura mais do que efetividade jurisdicional, assegura o acesso à 
justiça, ou seja, novamente um choque entre normas constitucionais e normas 
processuais. 
 
III – CONCLUSÃO 
 
Com essa breve digressão, espera-se ter demonstrado os principais pontos 
da questão proposta. 
A reestruturação do instituto da tutela provisória fora demasiadamente 
intensa, inclusive com a inserção de uma nova modalidade de obtenção e 
instrumentalização da tutela provisória, que é a tutela provisória de urgência 
antecipada requerida em caráter antecedente. 
Ao passo em que o pensamento jurídico e processual evolui para uma maior 
efetividade do direito material, especialmente pelo ponto que aqui se revela em sua 
essência, a efetivação dos direitos fundamentais, não poderia ser outra a conclusão 
do presente artigo senão a de ampliação do entendimento do Superior Tribunal de 
Justiça, abarcando, assim, além a tutela provisória de urgência requerida em caráter 
incidental, a possibilidade de mitigação da irreversibilidade da tutela provisória de 
 
no caso da expulsão daquelas pessoas. Veja-se prejuízo para as pessoas que estão lá morando. Por 
mais que o requerente seja o proprietário dos referidos lotes, talvez o indeferimento não fosse o mais 
correto, porém postergar o requerido, intimando as partes para uma audiência de conciliação a fim de, 
buscando uma forma pacífica, planejar a retirada daquele grupo de pessoas daquela localidade, 
Mantendo-se integralmente o exemplo supra, porém, substituindo-se o requerente para o minifundiário 
que possuam apenas 12 hectares de terra, do qual realmente precise daquele pedaço de terra, 
certamente que a ponderação aplicada em sede de juízo de valor seria diferente do caso do 
latifundiário. 
63 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil comentado. Salvador: 
Juspodivm, 2016, p. 479. Completa BUENO, Cássio Scarpinella (Novo Código de Processo Civil 
anotado. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 219), “Deve prevalecer para o § 3° do art. 300 do novo CPC a 
vencedora interpretação que se firmou a respeito do § 2° do art. 273 do CPC [...], única forma de 
contornar o reconhecimento de sua inconstitucionalidade substancial: a vedação da concessão da 
tutela de urgência nos casos de irreversibilidade não deve prevalecer nos casos em que o dano ou o 
risco que se quer evitar ou minimizar é qualitativamente mais importante para o requerente do que para 
o requerido. Subsiste, pois, implícito ao sistema – porque isso decorre do ‘modelo constitucional’ – o 
chamado ‘princípio da proporcionalidade’, a afastar o rigor literal

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