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O CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL BRASILEIRO DE 2015: O BERÇO DO MARCO SUBSTANCIAL DO PROCESSO JUSTO BRASILEIRO


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Resumo expandido apresentado no III Seminário Internacional: Constitucionalismo no Século 
XXI: Direitos Humanos para um diálogo entre América Latina e África (2017) 
 
Como citar: MÖLLER, Guilherme Christen. O Código de Processo Civil de 2015: O berço do marco 
substancial do processo justo Brasileiro. In: III Seminário Internacional: Constitucionalismo no Século 
XXI: Direitos Humanos para um diálogo entre América Latina e África, 2017, Canoas. Anais do III 
Seminário Internacional: Constitucionalismo no Século XXI: Direitos Humanos para um diálogo entre 
América Latina e África. Canoas: Unilasalle, 2017. 
 
**Qualquer reprodução (integral ou parcial) deste artigo que não esteja em conformidade com o art. 46, 
inc. I, da Lei n.º 9.610/1998, bem como sem a anuência do autor, estará sujeita às sanções civis e 
penais aplicáveis. 
 
 
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O CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL BRASILEIRO DE 2015: O BERÇO DO MARCO 
SUBSTANCIAL DO PROCESSO JUSTO BRASILEIRO 
 
Guilherme Christen Möller 
Políticas Públicas, Direitos Humanos e Justiça Social 
 
Resumo: Objetivando tratar sobre o CPC/15 como marco substancial do processo 
justo, a presente pesquisa, utilizando-se método dedutivo, apresenta, como parcial, 
que o cenário cooperativo e democrático em que foi construído o CPC/15 permite 
observar o início efetivo do processo justo no campo do direito processual, sendo, o 
CPC/15, o marco dessa tendência, além do que, ratifica o caráter formal do processo 
justo, o que já vem sendo feito pela codificações processuais civis brasileiras desde o 
CPC/39 com o surgimento do publicismo processual no cenário processual brasileiro. 
 
Palavras-chave: Código de Processo Civil; Direito Processual Civil; Marco 
substancial; Neoconstitucionalismo; Processo Justo. 
 
Abstract: Aiming to address the CPC/15 as a substantial framework of the fair lawsuit, 
the present research, using a deductive method, presents, as a result, that the 
cooperative and democratic scenario in which the CPC/2015 allows us to observe the 
effective beginning of the fair lawsuit in the field of procedural law, being, the CPC/15, 
the milestone of this trend, furthermore, it ratifies the formal character of the fair lawsuit, 
 
 Graduando em Direito pela Universidade Regional de Blumenau (FURB), Blumenau, Santa Catarina, 
Brasil. Autor de livros e de uma dezena de artigos científicos relacionados ao Direito Processual Civil, 
Teoria Geral do Processo e Direito Constitucional. Membro do Grupo de Pesquisa “Direitos 
Fundamentais, Cidadania e Diferenciação”, na Linha de Pesquisa “Acesso à Justiça, Gestão de 
Conflitos e Organizações”, da Universidade Regional de Blumenau (FURB). Currículo Lattes: 
http://lattes.cnpq.br/0168074867678392. E-mail: contato.guilhermemoller@gmail.com. Membro da 
Associação Brasileira de Direito Processual Constitucional (ABDPC). 
 
 
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which has already been done by brazilian civil procedural codifications since the 
CPC/39 with the emergence of procedural publicism in the Brazilian procedural 
scenario. 
 
Keywords: Code of Civil Procedure; Civil Procedure Law; Substantial framework; 
Neo-constitutionalism; Fair lawsuit. 
 
INTRODUÇÃO 
 
Mais do que uma característica, o processo justo é uma garantia à justiça social e o 
meio de acesso ao pronunciamento estatal conferido por intermédio de um 
instrumento, o processo, que respeitará direitos fundamentais durante toda essa 
relação, a fim de que se atinja mais do que a mera pacificação social, garantam-se os 
direitos das pessoas, especialmente quando versar sobre direitos fundamentais, o 
que, por muito tempo, mesmo que assim fosse defendido por doutrinadores e 
legisladores, não passara de palavras vagas. Diante deste contexto, o presente 
trabalho tem como objetivo geral estudar o processo justo, entendendo sua origem, 
seus meios de mutação, e, por fim, observar o que o CPC/15 representa para essa 
garantia, especialmente se é ele o marco substancial dela. 
 
DESENVOLVIMENTO 
 
Delimitando-se a observar a construção do processo justo no Brasil, observa-se que 
o Direito Processual Civil Brasileiro marca, em sua história, três codificações 
(deixando-se, o Decreto-Lei n.º 737/50, à limiar), os CPCs de 1939, 1973 e 2015, 
codificações singularmente distintas, cada qual carregando marcas peculiares dos 
momentos em que foram concebidas. Curioso é o fato de que a tentativa inicial de 
estabelecer um CPC no Brasil já começa como um tremendo fracasso, sentimento 
que se associa ao fato da frustrada experiência de delegação de competência 
legislativa de matéria processual aos Estados do Brasil, afinal, esperava-se que cada 
Estado do país possuísse seu respectivo código (similar os que se tem atualmente 
nos EUA). Diversos fatores contribuíram para esse marcante fracasso, todavia, dentre 
todos o mais interessante, quiçá principal, consiste na quantidade ínfima de 
especialistas da área que cada Estado possuía no início do século XX. O resultado 
 
 
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não seria outro senão àquele obtido. (THEODORO JÚNIOR, 2016). Em decorrência 
disso, inicia-se um projeto de unificação da competência legislativa de matéria 
processual à União, objetivando, especialmente, a uniformização das mais diversas 
normas processuais existentes em cada Estado, afinal, essa vasta quantidade foi 
outro dos tantos fatores que as tornaram obsoletas e incapazes de alcançar o que se 
esperava essencialmente de uma codificação processual civil: a tutela efetiva aos 
direitos dos particulares. (PINHO, 2013). Fruto desse cenário é o CPC/39, a primeira 
codificação processual civil, destinada para esse fim – vale destacar –, do Brasil. 
Inspirada, em parte, em características doutrinárias modernas do direito europeu, 
guarda uma característica de uma dualidade de sentimentos em seu texto (uma parte 
moderna e outra com traços peculiarmente medievais). Entretanto, o que aqui expõe-
se não são suas diversas discussões ou modificações, mas, apresentar que é nesse 
momento que nasce o que se denomina de caráter publicista (similar ao CPC 
Italiano/1940), uma consagração do direito processual como instrumento almejante 
do bem-comum, instrumento de busca pela verdade dos fatos e, consequentemente, 
a atribuição do status de “vencedor” ao que tivesse a verdade em seu favor, 
realizando-se, assim, uma justiça ideal, sem apegar-se ao fato do jurisdicionado ter 
ou não contribuído para tal, até porque, a postura do julgador era ativa, de modo que 
não era a mera iniciativa probatória daqueles sujeitos que bastava para a satisfação 
do processo. (GRECO, 2008, p. 29-56). Essa peculiaridade publicista dessa 
antiquíssima codificação enseja ao que se denominada, décadas mais tarde, de 
processo justo – o objetivo do presente estudo, especialmente no cenário do CPC/15 
–, afirmando-se que foi, o caráter publicista do processo, o berço do processo justo. 
O publicismo processual, porém, não passara de mera falácia formal, uma falsa 
promessa do processo, afinal, havia-se um embargo momentâneo que impedira sua 
substancialidade, o regime de exceção, afinal, concebeu-se o CPC/39 nesse 
momento, caracterizando-se por um empírico formalismo, conforme viu-se anos mais 
tarde. (AGUIAR; MACIEL, 2016). Regendo-se pelo CPC/39, seguiu-se com esse falso 
caráter publicista do processo pelas próximas décadas, permeando-se cruciais 
momentos de instabilidade política e social no país (SOARES, 2001), até que, na 
perspectiva da evolução do Direito Processual Civil Brasileiro e da visão publicista do 
processo, viu-se que se disseminou uma grave doença em todo território, o excessivo 
formalismo processual, de modo que, àquela ocasião, se observou que o processo 
deveriaser imediatamente direcionado ao fim de buscar resultados substancialmente 
 
 
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justos, nascendo nesse momento, no Brasil, o período do instrumentalismo 
processual. (DONIZETTI, 2016). Propusera-se a necessidade de alteração legislativa 
da codificação processual civil para adequar-se corretamente à essa nova visão 
processual, em que, entendendo-se que era necessária tal mudança para obter um 
aperfeiçoamento da sua técnica, resultando no CPC/73, considerado pela 
perfectibilidade processual alcançada. (THEODORO JÚNIOR, 2016). Essa 
redefinição dos sentidos epistemológicos do processo civil não apenas resultou no 
aperfeiçoamento da lei, mas, especialmente, culminou no aperfeiçoamento do 
publicismo processual, propondo uma busca pela substancialidade e do processo 
como uma técnica de pacificação social, o que até então era uma falsa premissa, 
dando-se espaço ao processo justo. Havia-se, porém, um grande problema atacando 
o resultado obtido – sendo o problema deste trabalho –, o processo justo, haja vista 
que além de, como no anterior, o CPC/73 foi concebido a partir de um regime de 
exceção, sendo sua marca um elevado aspecto individualista. (THEODORO JÚNIOR, 
2016). Como poderia, então, buscar a pacificação social por meio do processo se o 
mesmo mostrava possuir uma característica individualista? Na perspectiva prática, 
como poderia, então, um instrumento de pacificação social não zelar pelo coletivo? 
Ao passo em que se formulou esse problema, constitucionalistas buscavam a 
efetivação substancial da Constituição, o que obtiveram com o fim do autoritarismo 
em 1985 e deu espaço à um novo sistema para o Estado Brasileiro, pautado em um 
Estado Democrático de Direito. Inicia-se, a partir do fim do regime autoritário, um novo 
Direito Constitucional Brasileiro, o neoconstitucionalismo, inspirado em um modelo 
europeu-continental, valorizando-se a democracia e impulsionando-se o coletivo. 
(BARROSO, 2006). Esse divisor de águas do Estado Brasileiro, atrelando-se ao 
fenômeno da constitucionalização dos direitos, resulta em uma reinterpretação dos 
próprios sentidos dos ramos infraconstitucionais do direito, o que serve como um 
exemplo de autopoietica (ROCHA, 2017), afinal, um sistema infraconstitucional, 
pautado em um viés individualista, CPC/73, quando confrontado com uma norma 
hierarquicamente superior (KELSEN, 2009), Constituição, pautada em viés 
extremamente oposto, afinal, belamente desenhada na perspectiva democrática do 
coletivo, entra em colapso e deve ser revista para adequar-se às perspectivas dessa 
norma superior – nunca o contrário –, como, aqui, é o caso, a Constituição, afinal, 
essa norma não apenas serve de condicionante formal para todo o resto do sistema, 
mas, a partir da reformulação do Direito Constitucional Brasileiro, possui força 
 
 
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normativa material/substancial. (BARROSO, 2006). Essa revisão do Direito 
Processual Civil Brasileiro, a partir da CF/88, acaba por, em um primeiro momento, 
alterar os sentidos instrumentalidade do processo, a aperfeiçoando, de certo modo, 
porém, em um segundo momento, findar esse momento do direito processual e iniciar 
a atual fase denominada de Direito Processual Civil Constitucional, analisando-se o 
processo a partir da epistemologia contida da CF. Nesse cenário, incongruente, 
mostra-se, o pensamento de parcela doutrinária que observou a mera consolidação 
dos pilares democráticos-sociais da CF no texto do CPC/73, afinal e como 
demonstrou-se acima, o cenário individualista do CPC/73 é divergente ao do cenário 
coletivo da CF. Oportuno, portanto, pensar-se em elaborar uma nova codificação 
processual civil para abarcar essas novas premissas basilares do Direito Brasileiro, 
afinal, a atividade de codificação mostra-se necessário uma vez que concludente a 
ineficiência teórica e prática, em especial da primeira, da atividade de consolidação 
(MARINONI; MITIDIERO, 2010). Isso levou, no ano de 2010, a iniciar-se um desenho 
democrático de uma nova codificação de processo civil, significativamente diversa das 
que a antecederam, afinal, nos seus aproximados cinco anos de discussão, vê-se 
claramente essa preocupação em recepcionar as premissas do neoconstitucionalismo 
do Brasil e dos valores contidos na CF/1988. Findadas as discussões no ano de 2015 
e aprovado, no dia 18 de março daquele ano, o CPC/15, Lei n. 13.105/15. O resultado 
obtido com essa nova codificação é entusiasmante, afinal, mostra fina sintonia com a 
CF e as propedêuticas do Novo Direito Constitucional Brasileiro, citando-se, como 
exemplos extraídos dessa codificação, a ordem, disciplina e interpretação conforme a 
CF (art. 1º), inafastabilidade da tutela jurisdicional (art. 3º), duração razoável do 
processo com a necessária atividade satisfativa (art. 4º), boa-fé (art. 5º), cooperação 
(art. 6º), efetivo contraditório (art. 9º), dentre outros (todos do CPC). Visível, apenas 
com os artigos destacados acima, resta, a conclusão de que há uma iminente 
preocupação com as normativas constitucionais, em especial premissas 
fundamentais, na proporção em que são ratificados pela nova codificação, bem como, 
uma sensível preocupação com a visão de um processo cooperativo, rompendo-se 
com o paradigma individualista construído no CPC/73. Curioso é o sentimento que 
fica, quando da análise do CPC/15, de que há um elemento intrínseco nessa 
codificação. De fato, há, e o nome desse elemento é processo justo. Como, para o 
instrumentalismo, o processo deve servir de instrumento de pacificação social, nesse 
momento democrático e cooperativo do processo, o Direito Processual Civil Brasileiro 
 
 
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entra, finalmente, em sintonia com o processo justo, e não só isso, o aperfeiçoa com 
base nas premissas neoconstitucionais do Brasil. É possível observar que, com base 
na construção elaborada neste ensaio, que o CPC/15 transmite as premissas do 
Estado Democrático de Direito que se vive, bem como, serve como espécie de 
instrumento legislativo de efetivação e potencialização dessas bases que fundam o 
neoconstitucionalismo. Com isso, pela utilização dedutiva nesta pesquisa, e, 
considerando que está já resta conclusa, há de se afirmar que é o CPC/15 o marco 
inicial da substancia do processo justo, além de reiterar a sua formalidade existente 
desde o CPC/39. A busca pelo processo justo nunca foi tão intensa quanto na 
contemporaneidade do Direito Processual Civil Brasileiro. (THEODORO JÚNIOR, 
2016). 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Como resultado, observamos, com este trabalho, que a busca pelo processo justo não 
é algo contemporâneo, pelo contrário, a busca por um processo que, de fato, garanta 
premissas fundamentais e alcance a pacificação social é tão antigo quanto o primeiro 
CPC do Brasil. É inviável definir que se vivia um processo justo antes do advento do 
CPC/15, afinal, esse, diferente de seus antecessores, é pautado em democracia de 
cooperação, requisitos essenciais para o almejado processo justo, de modo que se 
permite observar o início efetivo do processo justo no campo do direito processual do 
Brasil, sendo, logicamente, o CPC/15, o marco dessa tendência, além do que, ratifica 
o caráter formal do processo justo, o que já vem sendo feito pela codificações 
processuais civis brasileiras desde o CPC/39 com o surgimento do publicismo 
processual no cenário processual brasileiro. Vive-se um novo direito processual! 
 
REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS 
 
AGUIAR, Renan; MACIEL, José Fabio Rodrigues. História do Direito. 7ª. ed. São 
Paulo: Saraiva, 2016. 
 
BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e Constitucionalização do Direito (O 
Triunfo Tardio do Direito Constitucional no Brasil). In: Revista da EMERJ,Rio de 
Janeiro, v. 9, n. 33, 2006. 
 
 
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CASTRO, Flávia Lages de. História do Direito Geral e do Brasil. 12ª. ed. Rio de 
Janeiro: Lumen Juris, 2016. 
 
DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de Direito Processual Civil. 19ª. ed. São Paulo: 
Atlas, 2016. 
 
GRECO, Leonardo. Publicismo e Privatismo no Processo Civil. In: Revista de 
Processo. vol. 164/2008. Out/2008. 
 
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. 8ª. ed. São Paulo: Editora WMF Martins 
Fontes, 2009. 
 
MARINONI, Luiz Guilherme. MITIDIERO, Daniel. O projeto do CPC: Críticas e 
propostas. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010. 
 
PINHO, Humberto Dalla Berdina de. Direito Processual Civil Contemporâneo. 5ª. 
ed. São Paulo: Saraiva, 2013. 
 
ROCHA, Leonel Severo. Direito e autopoiese. In: Constituição, Sistemas Sociais e 
Hermenêutica: Anuário do Programa de Pós-Graduação em Direito da UNISINOS. 
n.º 13. ENGELMANN, Wilson; ROCHA, Leonel Severo; STRECK, Lenio Luiz. (orgs.). 
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2017. 
 
SOARES, Gláucio Ary Dillon. A democracia interrompida. Rio de Janeiro: Fundação 
Getúlio Vargas, 2001. 
 
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 57ª. ed. Rio de 
Janeiro: Forense, 2016, v. I.