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A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL CONTEMPORÂNEO BRASILEIRO

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UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU 
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
GUILHERME CHRISTEN MÖLLER 
 
 
 
 
 
 
A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
CONTEMPORÂNEO BRASILEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BLUMENAU 
2016 
 
 
GUILHERME CHRISTEN MÖLLER 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
CONTEMPORÂNEO BRASILEIRO 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso 
de Graduação em Direito do Centro de Ciências 
Jurídicas da Universidade Regional de Blumenau, 
como requisito parcial para a obtenção do grau de 
Bacharel em Direito. 
 
 
Prof. Me. Alexandre Baumgratz da Costa – Orientador 
 
 
 
 
BLUMENAU 
2016 
 
 
GUILHERME CHRISTEN MÖLLER 
 
 
 
 
A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
CONTEMPORÂNEO BRASILEIRO 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como 
requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel 
em Direito, tendo sido julgado pela Banca 
Examinadora formada pelos professores: 
 
 
 
 
 
 
Presidente: Prof. Me. Alexandre Baumgratz da Costa – Orientador, FURB 
 
 
 
 
 
Membro: Prof. Me. Antônio Carlos Marchiori – FURB 
 
 
 
Blumenau, 11 de novembro de 2016 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Esta Monografia é dedicada aos meus amados 
avós maternos, Raimundo Christen e Lukretia 
Christen, bem como aos meus amados pais, 
George Ludwig Möller e Sandra Mara Christen 
Möller. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“ O futuro dependerá daquilo que fazemos no 
presente. “ (Mahatma Gandhi) 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Tendo por objetivo a análise do fenômeno da constitucionalização das leis infraconstitucionais 
no Brasil, em especial nesta monografia com relação ao Direito processual civil, em uma 
perspectiva histórica, abordar-se-á os principais momentos e eventos que influenciaram para a 
formação do fenômeno, sobretudo quanto aos reflexos desse no processo civil contemporâneo 
brasileiro, para tanto, iniciando-se com uma explanação geral acerca da história do Brasil e sua 
influência para a formação do Direito pátrio. Prosseguindo para uma análise da formação do 
Direito processual civil no mundo e no Brasil, na sequência, observando as relações entre 
Constituição e Processo, e finalizando com o exame do fenômeno da constitucionalização das 
leis infraconstitucionais, notadamente nesta monografia, o Direito processual civil. Por meio 
dessa perspectiva, ao final de uma longa jornada, conclui-se que a constitucionalização do 
Direito é um fenômeno decorrente do neoconstitucionalismo e importa na irradiação dos valores 
abrigados nos princípios e regras da Constituição por todo o ordenamento jurídico e que, no 
caso dessa irradiação no processo civil, resulta na busca pela efetividade jurisdicional, por 
intermédio de um processo justo, que respeite o efetivo contraditório e demais garantias 
fundamentais inerentes às partes, bem como respeite e seja olhando sempre à luz da 
Constituição brasileira. 
 
Palavras-chave: Processo civil. Constitucionalização. Neoconstitucionalismo. Processo justo. 
Efetividade jurisdicional. Democracia. Pós-positivismo. Direito constitucional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RÉSUMÉ 
 
Avec l'objectif de l'analyse de la constitutionnalisation du phénomène des lois infra au Brésil, 
en particulier dans cette monographie en matière de droit procédural en matière civile dans une 
perspective historique, seront abordés les moments et les événements qui ont influencé la 
formation du phénomène clés, en particulier sur les conséquences de ce processus dans civile 
brésilienne contemporaine de le faire, à commencer par une explication générale sur l'histoire 
du Brésil et son influence sur la formation du droit paternel. En procédant à une analyse de la 
formation de la loi de procédure civile dans le monde et au Brésil, à la suite, en observant la 
relation entre la Constitution et le processus, et se terminant par l'examen du phénomène de 
constitutionnalisation lois infra, en particulier dans cette monographie, la loi de procédure 
civile. Grâce à cette perspective, la fin d'un long voyage, il est conclu que la 
constitutionnalisation du droit est le résultat de l'neoconstitutionalism phénomène et les 
questions en irradiation logé des valeurs les principes et règles de la Constitution à travers le 
système juridique et, si cela irradiation dans une procédure civile, ce qui entraîne dans la 
poursuite de l'efficacité judiciaire, à travers un processus équitable qui respecte les garanties 
fondamentales efficaces et d'autres antagonistes inhérents aux parties et le respect et est toujours 
à la recherche à la lumière de la Constitution brésilienne. 
 
Mots-clés: Procédure civile. Constitutionnalisation. Neoconstitutionalism. Équitable du 
processus. Efficacité judiciaire. Démocratie. Postpositivism. Droit constitutionnel. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
 
ANL – Aliança Nacional Libertadora; 
BGB – Bürgerliches Gesetzbuch (Código Civil alemão); 
CC – Código Civil; 
CCom – Código Comercial; 
CF – Constituição Federal; 
CPC – Código de Processo Civil; 
IPES – Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais; 
MMDC –Mário, Euclides Miragaia, Dráusio e Antônio Camargo (Movimento revolucionário). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 17 
 
2 A CRONOLOGIA HISTÓRICA DO BRASIL E SUAS INFLUÊNCIAS NA 
CIÊNCIA JURÍDICA ................................................................................................ 19 
2.1 A FASE PRÉVIA AO DIREITO NO BRASIL ........................................................... 19 
2.2 O DIREITO PORTUGUÊS .......................................................................................... 20 
2.3 O NASCIMENTO DE PORTUGAL ............................................................................ 21 
2.3.1 ORDENAÇÕES AFONSINAS .................................................................................... 23 
2.3.2 ORDENAÇÕES MANUELINAS ................................................................................ 24 
2.4 O DIREITO NO BRASIL-COLÔNIA ......................................................................... 24 
2.4.1 INVASÃO PORTUGUESA NOS TERRÍTORIOS INDÍGENAS .............................. 24 
2.4.2 A ESTRUTURA DO JUDICIÁRIO NO PERÍODO DO BRASIL-COLÔNIA .......... 27 
2.4.2.1 A DISPOSIÇÃO DO JUDICIÁRIO NO BRASIL-COLÔNIA ................................... 28 
2.4.2.1.1 PRIMEIRA INSTÂNCIA ............................................................................................. 28 
2.4.2.1.2 SEGUNDA INSTÂNCIA ............................................................................................. 29 
2.4.2.1.3 TRIBUNAL DE JUSTIÇA SUPERIOR ...................................................................... 29 
2.4.2.1.4 MAGISTRADOS E DESEMBARGADORES ............................................................ 29 
2.5 AS ORDENAÇÕES FILIPINAS ................................................................................. 31 
2.6 O DIREITO IMPERIAL ...............................................................................................33 
2.6.1 A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL E O LIBERALISMO ......................................... 33 
2.7 O DIREITO NO FINAL DO PERÍODO IMPERIAL E INÍCIO DA REPÚBLICA 
VELHA ......................................................................................................................... 35 
2.7.1 AS REGÊNCIAS NO BRASIL IMPÉRIO .................................................................. 36 
2.7.1.1 A REGÊNCIA TRINA PROVISÓRIA ........................................................................ 36 
2.7.1.2 A REGÊNCIA TRINA PERMANENTE ..................................................................... 36 
2.7.1.3 A REGÊNCIA DE FEIJÓ ............................................................................................ 37 
2.7.1.4 A REGÊNCIA DE ARAÚJO LIMA ............................................................................ 37 
2.7.2 AS PRINCIPAIS REVOLTAS POPULARES DA ÉPOCA ........................................ 38 
2.7.2.1 A CABANAGEM ......................................................................................................... 38 
2.7.2.2 A REVOLTA DOS MALÊS NA BAHIA .................................................................... 38 
2.7.2.3 A SABINADA .............................................................................................................. 39 
2.7.2.4 A BALAIADA .............................................................................................................. 40 
2.7.2.5 A GUERRA DOS FARRAPOS ................................................................................... 40 
 
 
2.7.3 AS LEIS ABOLICIONISTAS SANCIONADAS PELA PRINCESA REDENTORA 
NO PERÍODO IMPERIAL .......................................................................................... 41 
2.8 A REPÚBLICA E O DIREITO .................................................................................... 43 
2.8.1 A REPÚBLICA VELHA .............................................................................................. 43 
2.8.2 O MOVIMENTO TENENTISTA, A REVOLUÇÃO DE 30 E A NOVA ORDEM 
JURÍDICO-POLÍTICA ATÉ A CHEGADA DO ESTADO NOVO ........................... 46 
2.8.2.1 A REVOLUÇÃO CONSTITUCIONAL OCORRIDA NA ERA VARGAS ............... 47 
2.9 O BRASIL NO ESTADO NOVO ................................................................................ 49 
2.9.1 A CAMINHADA ATÉ À INSTITUIÇÃO DO ESTADO NOVO .............................. 50 
2.9.2 O ESTADO NOVO EM DIREÇÃO À DITADURA MILITAR DE 1964 .................. 50 
2.10 OS MILITARES NO PODER E A REDEMOCRATIZAÇÃO APÓS 1987 ............... 52 
2.10.1 A DITADURA MILITAR NO BRASIL ...................................................................... 52 
2.10.2 OS ATOS INSTITUCIONAIS DA DITADURA MILITAR ....................................... 53 
2.10.3 O FIM DO REGIME MILITAR E A REDEMOCRATIZAÇÃO DO BRASIL .......... 55 
 
3 O DIREITO PROCESSUAL CIVIL ........................................................................ 56 
3.1 ORIGENS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL E O PERÍODO DO PRAXISMO . 56 
3.2 A EVOLUÇÃO DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL SOB O VIÉS DO MUNDO 
CLÁSSICO GREGO .................................................................................................... 58 
3.3 O PERÍODO DO PROCESSO CIVIL ROMANO ....................................................... 59 
3.3.1 A PRIMEIRA FASE DO PROCESSO CIVIL ROMANO – PERÍODO PRIMITIVO 59 
3.3.2 A SEGUNDA FASE DO PROCESSO CIVIL ROMANO – PERÍODO FORMULÁRIO
 ...................................................................................................................................... 60 
3.3.3 A TERCEIRA FASE DO PROCESSO CIVIL ROMANO – FASE DA COGNITIO 
EXTRAORDINARIA ................................................................................................... 61 
3.4 O PERÍODO DO PROCESSO COMUM ..................................................................... 61 
3.5 A FASE CIENTÍFICA DO PROCESSO CIVIL – O PROCESSO CIVIL MODERNO
 ...................................................................................................................................... 64 
3.6 A EVOLUÇÃO DO PROCESSO CIVIL DO SÉCULO XIX ATÉ O SÉCULO XXI 65 
3.6.1 O PROCESSO CIVIL DO SÉCULO XIX E A SEGUNDA FASE DO PROCESSO: 
AUTONOMISMO PROCESSUAL ............................................................................. 65 
3.6.2 O PROCESSO CIVIL DO SÉCULO XX E O PERÍODO INSTRUMENTAL DO 
PROCESSO .................................................................................................................. 66 
3.6.3 O PROCESSO CIVIL DO SÉCULO XXI E O NEOPROCESSUALISMO ............... 67 
 
4 A FORMAÇÃO DO PROCESSO CIVIL NO BRASIL ......................................... 69 
4.1 O REGULAMENTO Nº 737 ........................................................................................ 70 
 
 
4.2 CÓDIGOS PROCESSUAIS ESTADUAIS .................................................................. 72 
4.3 CÓDIGOS UNITÁRIOS E O DECRETO-LEI Nº 1.609/1939 ................................... 72 
4.4 CÓDIGO BUZAID – LEI Nº 5.869/1973 .................................................................... 73 
4.5 AS REFORMAS DO CÓDIGO PROCESSUAL CIVIL DE 1973 .............................. 75 
4.6 A BUSCA PELA EFETIVIDADE DA TUTELA JURISDICIONAL E O NOVO 
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL – LEI Nº 13.105/2015 ........................................... 77 
4.6.1 O CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015 ............................................................ 77 
4.6.2 AS INOVAÇÕES TRAZIDAS PELA NOVA CODIFICAÇÃO PROCESSUAL CIVIL
 ...................................................................................................................................... 79 
4.6.3 UMA VISÃO GERAL DO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ...................... 82 
4.6.4 A CONSTANTE BUSCA DA EFETIVIDADE DA TUTELA JURISDICIONAL .... 83 
 
5 CONSTITUIÇÃO E PROCESSO CIVIL: HISTÓRIA CONSTITUCIONAL DO 
PROCESSO CIVIL BRASILEIRO E A CONFORMAÇÃO DO PROCESSO 
CIVIL ATUAL ............................................................................................................ 85 
5.1 A FORMAÇÃO DO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO NA PERSPECTIVA 
CONSTITUCIONAL ................................................................................................... 85 
5.2 A RECEPÇÃO CONSTITUCIONAL DA JUDICIAL REVIEW - O CONTROLE DE 
PODER NO PROCESSO CONSTITUCIONAL BRASILEIRO ................................. 87 
5.3 O NASCIMENTO DO CONTROLE DO PODER DO ESTADO ............................... 88 
5.4 PROCESSO CONSTITUCIONAL (COMMON LAW) E PROCESSO 
INFRACONSTITUCIONAL (CIVIL LAW): O PARADOXO METODOLÓGICO 
BRASILEIRO ............................................................................................................... 89 
5.5 A TEORIA DA RECEPÇÃO CONSTITUCIONAL ................................................... 91 
5.6 A CONSTITUIÇÃO DE 1891 E AS DOUTRINAS NACIONAIS DO JUDICIAL 
REVIEW, ATÉ O ADVENTO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ............. 93 
5.6.1 O PROCESSO E CONSTITUIÇÃO DE 1934 ............................................................. 97 
5.6.2 O PROCESSO E CONSTITUIÇÃO DE 1937 ............................................................. 98 
5.6.3 O PROCESSO CONSTITUIÇÃO DE 1946 .............................................................. 100 
5.6.4 AS CARTAS CONSTITUCIONAIS DO GOLPE MILITAR ................................... 101 
5.7 NEOCONSTITUCIONALISMO E TRANSFORMAÇÕES DO DIREITO 
CONSTITUCIONAL CONTEMPORÂNEO ............................................................. 103 
5.7.1 MARCO HISTÓRICO ............................................................................................... 103 
5.7.2 MARCO FILOSÓFICO ..............................................................................................104 
5.7.3 MARCO TEÓRICO ................................................................................................... 106 
5.7.3.1 A FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO .................................................... 106 
5.7.3.2 A EXPANSÃO DA JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL ........................................ 107 
5.7.3.3 A NOVA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL ............................................... 108 
 
 
5.8 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E O ESTADO DEMOCRÁTICO 
CONSTITUCIONAL: O FORMALISMO VALORATIVO E A AMPLIAÇÃO DO 
CONTROLE DOS PODERES PELA SOCIEDADE ABERTA DOS INTÉRPRETES 
DA CONSTITUIÇÃO ................................................................................................ 113 
 
6 O DIREITO PROCESSUAL CIVIL NO SÉCULO XXI: A 
CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
CONTEMPORÂNEO BRASILEIRO .................................................................... 118 
6.1 GENERALIDADES ACERCA DA CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO 118 
6.2 ORIGEM E EVOLUÇÃO DO FENÔMENO ............................................................ 119 
6.3 A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO NO BRASIL ................................. 123 
6.3.1 O DIREITO INFRACONSTITUCIONAL NA CONSTITUIÇÃO ........................... 123 
6.3.2 A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO INFRACONSTITUCIONAL ....... 124 
6.3.3 A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO E SEUS MECANISMOS DE 
ATUAÇÃO PRÁTICA ............................................................................................... 126 
6.4 CONSTITUCIONALIZAÇÃO E JUDICIALIZAÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS
 .................................................................................................................................... 127 
6.5 TEORIA CIRCULAR DOS PLANOS (DIREITO MATERIAL E DIREITO 
PROCESSUAL) ......................................................................................................... 131 
6.6 A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
CONTEMPORÂNEO BRASILEIRO ........................................................................ 134 
 
7 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 141 
 
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 144 
 
 
 17 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
Este trabalho de conclusão de curso trata acerca da constitucionalização do Direito 
processual civil contemporâneo brasileiro, tema de extrema atualidade e de pouquíssima 
exploração, isso, até o momento da realização deste trabalho. 
Na busca pela efetiva compreensão da temática, será, no decorrer do trabalho, abordado 
aspectos históricos sobre o Direito processual civil, o Direito constitucional – relacionando-o 
com o processo – e a história do Brasil sob a perspectiva da formação do Direito pátrio. 
Feitas essas premissas históricas, na sequência, busca-se um estudo com foco no 
neoconstitucionalismo – sob o viés de seus marcos histórico, filosófico e teórico –, e suas 
repercussões sobre todas as leis infraconstitucionais dos Estados Democráticos de Direito, no 
caso desta monografia, exclusivamente no Brasil. 
Ocorre que o principal foco deste trabalho não é o estudo do fenômeno da 
constitucionalização das leis infraconstitucionais por si só, mas, é, porém, foco deste trabalho 
a análise das repercussões do fenômeno do neoconstitucionalismo no Direito processual civil 
brasileiro, ainda mais com a recente entrada em vigor de uma nova legislação processual, no 
caso, o Código de Processo Civil de 2015, ou, Lei nº 13.105 de 2015, legislação que sequer 
completa um ano de vigor até a data de fechamento deste trabalho. 
Dessa forma, almeja-se, como objetivo geral deste trabalho, a compreensão das 
interligações dos ramos do Direito e o próprio Direito brasileiro, na sua perspectiva histórica, 
para, com isso, finalmente, alcançar a compreensão do fenômeno decorrente do 
neoconstitucionalismo – a constitucionalização das leis infraconstitucionais – no Brasil e o 
resultado, por esse período, dentro da esfera do processo civil, inclusive, sob a ótica dos reflexos 
daqueles institutos estudados. 
Esta monografia se justifica por causa da importância desse fenômeno no cotidiano 
forense, haja vista a busca por um “novo processo civil”, ignorando velhos dogmas e 
formalismos desnecessários, zelando, acima de tudo, por um processo justo e a preservação dos 
Direitos das partes, especialmente os Direitos fundamentais inerentes a elas. Além disso, não 
apenas com relação à prática, mas, também, para a teoria do processo civil, porquanto é ponto 
fundamental para a doutrina na busca pela construção de um “novo processo civil”, inclusive, 
refletindo em todos os institutos da ciência processual. 
 18 
 
A metodologia para o desenvolvimento desta pesquisa será bibliográfica, para que as 
opiniões dos autores possam ser refletidas e os dispositivos legais interpretados e comparados. 
Portanto esta dissertação será dividida em cinco capítulos. O primeiro contextualizará a história 
brasileira e sua influência para a formação do Direito pátrio. O segundo, por sua vez, tratará 
sobre a evolução do processo civil, em caráter lato sensu, desde seus primórdios, até a formação 
do processo civil contemporâneo. O terceiro, ao estudo da formação do processo civil brasileiro. 
Na sequência, e encaminhando-se para o fim, o quarto e penúltimo capítulo tratará sobre as 
relações entre Constituição e processo, especialmente sob o foco do desenvolvimento 
constitucional no Brasil, partindo-se das influências da common law na Constituição 
Republicana de 1891, e chegando-se no neoconstitucionalismo. O quinto e último capítulo se 
destina ao estudo do processo civil no século XXI, especialmente sob a influência da 
Constituição Federal, porquanto se busca o zelo da democracia e de garantia da efetividade dos 
Direitos fundamentais das partes, além de ser o capítulo que tratará acerca do tema desta 
monografia. 
Para melhor compreensão deste trabalho, recomenda-se ao leitor que se permita a fazer 
uma leitura ampla, de modo a interligar os capítulos, haja vista que um embasa o outro e vice-
versa. 
Por fim, destaca-se que este trabalho é fruto de meses de esforço, seja em incansáveis 
pesquisas, seja em um exaustivo planejamento metodológico, fora o grande afeto empregado. 
Buscou-se, aqui, uma linguagem clara e objetiva, de modo a qualquer operador do Direito, 
independentemente do grau de formação, pode-lo compreender da melhor forma. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 19 
 
2 A CRONOLOGIA HISTÓRICA DO BRASIL E SUAS INFLUÊNCIAS NA 
CIÊNCIA JURÍDICA 
 
 
A história do Direito brasileiro, assim como é o caso de todos os demais ordenamentos 
do mundo, é marcada por diversos acontecimentos históricos. 
Neste capítulo será feita uma abordagem geral acerca da evolução histórica do Brasil e 
suas influências na formação do Direito brasileiro, relatando questões como chegada dos 
portugueses em solo brasileiro, instituição de Impérios, queda de Impérios, instauração de 
Regimes, queda dos Regimes, lutas, revoltas e revoluções populares, dentre diversos pontos 
históricos, com o objetivo de demonstrar que a formação do que conhecemos por Direito na 
atualidade decorre e depende de uma conturbada cadeia cronológica de eventos. 
É de suma importância tratar este capítulo antes mesmo do estudo do processo civil e 
das relações entre constituição e processo porque o próprio Direito que deu ensejo a esses 
ramos, dada a sua divisão em diversos ramos, teve influência pelo período histórico em que se 
encontrava, isso, considerando a imposição de autoritarismos,ruptura da democracia, ascensão 
da democracia, dentre diversos fatores, todos influenciadores, em sua respectiva parcela, do 
nosso Direito constitucional e, especialmente, do nosso processo civil moderno. 
Assim, propõe-se uma interligação de capítulos para melhor compreensão desta 
monografia, partindo deste capítulo, o qual servirá de base para todos os demais, justificando, 
assim, o seu caráter volumoso e seu posicionamento como primeiro capítulo deste trabalho. 
 
2.1 A FASE PRÉVIA AO DIREITO NO BRASIL 
 
Antes mesmo da formação do Brasil, as terras brasileiras que hoje conhecemos eram 
terras de povos indígenas. 
Em um segundo momento da história do Brasil, éramos uma colônia de Portugal, como 
veremos na sequência, de modo que, considerando as submissões àquele reino, diversos 
costumes, métodos educacionais, hábitos, dentro outras características foram incorporadas pela 
colônia de mesmo modo como eram executados na metrópole. 
Diferentemente não foi, inicialmente, com o Direito. 
 20 
 
“Esse fenômeno de transmigração do Direito, que, do seu país de origem, segue para 
outros, especialmente por conta da colonização, que impõe ao colonizado ideias e leis, bem 
como pela própria e inata ‘contagiosidade do Direito’”.1 
Assim, para iniciarmos o estudo acerca do Direito no Brasil, precisa-se, antes, 
compreender como surgiu o Direito em Portugal. 
 
2.2 O DIREITO PORTUGUÊS 
 
Dentre os vários territórios dominados pelo Império Romano, pode-se destacar que a 
Península Ibérica foi um deles. Ocorre que no momento do domínio, diversos povos ali já 
habitavam, a exemplo, Celtas, Iberos, Cartaginenses, Fenícios, Gregos, dentro outros, com 
maior destaque para os Lusitanos, os quais habitavam parte do território que hoje se conhece 
por Portugal. 
Foi no século V, com o início da invasão da Península Ibérica, pelos povos bárbaros 
germânicos, especialmente os Alanos, Suevos e Vândalos, que motivou a negociação daquele 
território, a negociação se deu entre os Romanos e a tribo dos Visigodos, restado o acordo 
frutífero, houve a tomada daquela região por essa tribo. Desta forma, destaca-se que esse foi o 
momento para o surgimento do Direito Visigótico, o qual dominou toda a região da Península 
Ibérica, isso por intermédio da codificação Visigótica. 
Renan Aguiar e José Fabio Rodrigues Maciel (2016, p. 205) ensinam que a construção 
do Direito português, além das influências romanas e da codificação Visigótica, de forma fina, 
teve participação do Direito muçulmano, porquanto, após o óbito de Maomé, formou-se um 
Estado Teocrático militar, o qual era governado pelas Califas, ou seja, os chefes políticos-
religiosos, cujo objetivo era a expansão do islamismo. 
A afirmação dos professores está pautada justamente no viés de que por volta do ano de 
700, os muçulmanos chegaram ao estreito de Gibraltar, o qual se localizava entre a Europa e a 
África, tendo, na sequência, dominado a Península Ibérica, porém, derrotados logo na 
sequência, quando tentaram a expansão em direção ao território dos francos. Os mouros 
permaneceram na Península Ibérica até o século XV, de forma a influenciar enormemente a 
cultura daquela região, inclusive, o Direito daquele povo.2 
 
1 Nas palavras de Emerico Amaria quando cita Santi Romano (Princípios de Direito constitucional geral. Trad. 
Maria Helena Diniz. São Paulo: Ed. RT, 1977). 
2 AGUIAR, Renan; MACIEL, José Fabio Rodrigues. História do Direito. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 206. 
 21 
 
Os muçulmanos tinham traços de manter a estrutura dos locais dominados, bem como 
das instituições existentes, como é o caso do próprio Direito. Ocorre que a influência dos 
mouros não se deu apenas pela sua política de tolerância, mas sim que o Direito muçulmano 
era voltado em razão ao credo da pessoa, totalmente diferente do Direito Visigótico, o qual 
estava atrelado a raça do indivíduo.3 
Os professores Renan Aguiar e José Fabio Rodrigues Maciel (2016, p. 206) fecham a 
linha de raciocínio deste tópico quando aduzem que dada a tolerância dos mouros, no tocante 
ao credo e a atividade jurídica, garantia-se autonomia administrativa e jurídica aos condados, 
com a possibilidade de utilização do Direito Visigótico e Direito Canônico. Destaca-se, então, 
que a formação do Direito português se deu pelas influências do Direito Romano, bem como 
pelo Direito Visigótico, e, pelo demonstrado acerca dos mouros, houve, de forma mínima, a 
influência do Direito Muçulmano, mesmo que sua aplicação fora mínima, dada a sua política 
de tolerância. 
 
2.3 O NASCIMENTO DE PORTUGAL 
 
O cenário da Península Ibérica nos séculos XI e X era predominantemente árabe, com 
exceção do Norte, o qual predominou até o século XI, quando, a partir desse, como ensinam 
Renan Aguiar e José Fabio Rodrigues Maciel (2016, p. 206) com a formação dos reinos cristãos 
de Aragão, Navarra, dentre outros, iniciou-se a luta pela expulsão dos mouros da Península 
Ibérica. 
Aliados aos cristãos, nobres de outras regiões se aliaram para lutar contra os 
muçulmanos, denominados por eles, infiéis, de forma que, com a crescente necessidade de 
mobilização militar, o chefe do exército teve sua figura reforçada, o que facilitou o monopólio 
do poder nas mãos de uma pessoa, qual seja o rei. 
Foi justamente essa luta que, para Renan Aguiar e José Fabio Rodrigues Maciel (2016, 
p. 206), “fez Portugal tornar-se o primeiro Estado na acepção moderna do termo”, vez que, para 
a manutenção do exército eram necessários diversos subsídios, os quais eram arrecadados em 
um nível nacional por intermédio burocrático devidamente organizado, sustentado pela 
centralização do poder na figura do rei. Mesmo assim, Portugal ainda não era, no século XI, um 
Estado devidamente constituído. 
 
3 AGUIAR, Renan; MACIEL, José. Op. cit., p. 206. 
 22 
 
Portugal teve grande progresso em sua jornada para formação de um Estado graças a 
Dona Teresa, filha do Rei de Leão, Afonso VI, Rei que possuía o monopólio do poder de parcela 
da Península Ibérica, em especial, do Rio Mondego para o Norte. 
Envolvido na batalha contra os mouros, encontrava-se um nobre jovem chamado 
Henrique de Borgonha, o qual, como recompensa pelos seus notórios esforços, ganhou, 
diretamente do Rei de Leão, a mão de Dona Teresa para se casar com ela, bem como o governo 
do Condado Portucalense. 
Antes mesmo de Dona Teresa ter-se colocado à frente da independência de Portugal, 
seu marido, Conde Henrique, anexou ao seu domínio o Condado de Coimbra, tendo, por 
infelicidade, falecido logo após, o que motivou Dona Teresa a assumir o trono, isso porque os 
herdeiros do trono, filho do casal, contava com apenas três anos de idade. 
Dona Teresa foi a encarregada por ter continuado com o movimento que almejava a 
independência de suas terras, bem como para ser declarada rainha daquele território, porém, foi 
o seu filho, Dom Afonso Henrique, o responsável por tal façanha, eis que adentrou em uma 
guerra incessante contra o Rei Afonso VII, Rei de Leão, e contra os mouros. Em 1139, declarou 
a independência do Condado Portucalense e dos territórios por ele conquistados, nascendo, 
assim, Portugal, podendo-se dizer que houve a efetiva formação de um Estado. Destaca-se que 
Dom Afonso Henrique, agora rei, obteve o reconhecimento da independência de Portugal pelo 
próprio Rei de Leão e pelo Papa. 
Enquanto viveu, o Rei Afonso Henrique, travou batalhas com fito em aumentar seu 
território, o qual logrou êxito, deixando ao seu sucessor um vasto território em comparação 
àquele em que havia sido declarada independência do reino de Portugal.Entre os anos de 1279 e 1323, Don Diniz, governante do reino de Portugal no referido 
período, aderiu para àquele Estado um documento de origem espanhola, chamado “A Lei das 
Sete Partidas”, documento inspirado no Direito romano e no Direito canônico, buscando-se 
superar costumes e o Direito prévio a este período, o Direito Velho. A adoção pela Lei das Sete 
Partidas representa a adesão, pelos portugueses, da civil law, ou seja, do sistema romano-
germânico. Tempos depois, houve a substituição desse sistema espanhol adotado pelos 
portugueses pelas Ordenações Reais.4 
 
 
 
 
4 AGUIAR, Renan; MACIEL, José. Op. cit., p. 208. 
 23 
 
2.3.1 ORDENAÇÕES AFONSINAS 
 
Para Renan Aguiar e José Fabio Rodrigues Maciel (2016, p. 208), as ordenações 
afonsinas são uma compilação, ou seja, conjunto de determinados textos jurídicos. Destaca-se 
a forte característica portuguesa nessas ordenações, porquanto se buscava diferenciar da 
legislação espanhola. 
As ordenações afonsinas surgem de um momento histórico do reino de Portugal, 
quando, ao final do século XIV, houvera forte crise dinástica naquele reino, vez que o rei Dom 
Fernando faleceu sem deixar herdeiros homens, apenas deixando sua filha a qual era casada 
com o Rei de Castela. Dada a morte do rei de Portugal e a inexistência de herdeiros para assumir 
o trono daquele reino, o objetivo do Rei de Castela era basicamente a inclusão do território 
pertencente à Portugal em seu território, fato que gerou tamanha revolta na nobreza. 
A pressão da nobreza fora tamanha que se conseguiu colocar Dom João I ao trono de 
Portugal, o irmão “bastardo” do falecido Rei Dom Fernando, o qual fora coroado em 1385, 
tornando-se rei de Portugal. 
Com esse novo passo na história de Portugal, houve início a Dinastia de Avis, ganhando-
se, com ela, espaço no poder, o grupo mercantil urbano, sendo um dentre inúmeros dos fatos 
que proporcionaram ao reino de Portugal sair à frente nas Grandes Navegações. 
Porém, a preocupação maior nesse momento era evitar que o território pertencente a 
Portugal fosse anexado ao reino de Castela. O Rei Dom João I, em uma manobra de tentar-se 
desvincular de tal risco, determinou a elaboração de ordenações diferentes das constantes na 
Lei das Sete Partidas. Tal codificação fora concluída, porém, apenas em 1446, recebendo o 
nome de Ordenações Afonsinas, as quais tiveram forte influência do Direito Canônico, 
inclusive, tratando crime e pecado como se sinônimas fosse.5 
Igualmente à codificações anteriores, as Ordenações Afonsinas eram divididas em cinco 
livros, o primeiro livro denominado de “Relativo aos regimes dos cargos públicos (régios e 
municipais) compreendendo o governo, a justiça, a fazenda e o exército”, o segundo livro era 
denominado de “Direito Eclesiástico, jurisdição e privilégios dos donatários, prerrogativas da 
nobreza e estatuto dos judeus e dos mouros”, o terceiro, por sua vez, era destinado 
exclusivamente ao “Processo Civil”, e, em igual linha, o quarto e o quinto, eram, 
respectivamente, destinados ao “Direito Civil” e ao “Direito Penal e Direito Processual Penal”. 
 
5 AGUIAR, Renan; MACIEL, José. Op. cit., p. 208-209. 
 24 
 
A estruturação do judiciário daquele reino era representada por magistrados singulares 
e tribunais colegiados de segundo e terceiro grau de jurisdição, como nos ensinam Renan 
Aguiar e José Fabio Rodrigues Maciel (2016, p. 209). 
 
2.3.2 ORDENAÇÕES MANUELINAS 
 
Em 1521, contando o fato de que leis extravagantes continuavam a ser editadas, 
cumulando-se ao fato de que as Grandes Navegações trouxeram consideráveis mudanças 
sociais ao reino, demonstrou-se a real necessidade da elaboração de um novo corpo de lei, vez 
que se buscou a unificação do Direito português, resultando, assim, na elaboração das 
Ordenações Manuelinas.6 
Tais ordenações eram similares às anteriores, porquanto a utilização do Corpus Juris 
Civilis como Direito subsidiário, com fito em suprimir lacunas e falhas dos documentos 
jurídicos.7 
As divisões dos livros dessas ordenações eram iguais às anteriores, cinco livros, com a 
diferença de que as Ordenações Manuelinas tratavam de forma mais específica as questões no 
tocante ao Direito marítimo, de contratos e de mercadores. O Direito penal e processual penal 
dessas ordenações continuavam iguais aos das Ordenações Afonsinas. Os fidalgos, de mesmo 
modo em legislações anteriores, continuavam a ter vantagens em relação ao povo. A pena de 
morte e a tortura não deixaram de ser largamente aplicava.8 
 
2.4 O DIREITO NO BRASIL-COLÔNIA 
 
2.4.1 INVASÃO PORTUGUESA NOS TERRÍTORIOS INDÍGENAS 
 
Antes mesmo da chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, essas terras já eram 
conhecidas por serem disputas entre Portugal e a Espanha, corroborando tais afirmações o 
Tratado de Toledo, o Bulla Inter Coetera e o Tratado de Tordesilhas. 
Com o início das grandes navegações, grandes povos como Portugal, Espanha e 
Inglaterra puderam explorar terras distantes ao Continente Europeu. Dentre essas explorações, 
ao dia 22 de abril de 1500, ao final do século XV, Pedro Álvares Cabral “descobriu” o Brasil. 
 
6 AGUIAR, Renan; MACIEL, José. Op. cit., p. 209. 
7 Id., Op. cit., p. 209. 
8 Id., Op. cit., p. 209. 
 25 
 
Ao chegar nessas terras desconhecidas, constatou-se que o s habitantes originários do 
que conhecemos hoje por Brasil eram diversos, isso, considerando-se as tribos, as diversas 
etnias e incontáveis tipos de linguagem. A característica básica desses povos primitivos era 
justamente o fator de viverem em comunidade, inexistindo propriedade privada, aliás, existia 
sim, como bem acentua Flávia Lages de Castro (2016, p. 295), porém, apenas no tocante a 
determinados artefatos, os quais eram considerados como propriedade de uma família ou de 
apenas um indivíduo. A denominação atribuída a esses povos foi a palavra “índio”. 
Esse povo, agora, denominado de índios, possuíam um sistema muito arcaico, isso, 
desde atividades básicas, como a caça, até mesmo na sua forma política e jurídica. 
Diferentemente do modelo Europeu, não haviam codificações iguais aquele sistema. Existiam 
regras não codificadas, as quais variavam de tribo para tribo, operando-se, acima de tudo, o 
respeito pela vontade individual de cada indivíduo, e decisões importantes acerca das tribos 
eram tomadas por uma espécie de plebiscito realizada exclusivamente pelos homens da aldeia.9 
Dado o cenário dos povos indígenas, os portugueses, de forma arbitrária, impuseram 
diversos institutos deles a esses povos, inclusive, instituições políticas e jurídicas, até porque 
eram inexistentes neste período do Brasil. Não houve qualquer discussão acerca da 
permanência, ou da imposição dos sistemas dos portugueses, sem qualquer constrangimento os 
portugueses estabeleceram suas instituições jurídicas e políticas ao Brasil-Colônia, descartando 
e não restando quaisquer costumes adotados pelos povos indígenas antes da “descoberta” do 
Brasil.10 
Na perspectiva da formação do Direito brasileiro, em um primeiro momento os negros 
e índios foram considerados como objetos e não sujeitos de Direitos, advindo daí a relação de 
nosso Direito com o sistema romanista, porquanto, além de ter sido importado de Portugal e 
termos permanecido com as codificações da Metrópole até a independência do Brasil, dia 07 
de setembro de 1822, nenhuma outra civilização influenciou a formação jurídica do Brasil, 
salvo a formação constitucional, a qual possuí traços do common law na Constituição 
Republicana de 1891, como veremos mais à frente nestamonografia.11 
Além do sistema romano, determinados vícios do sistema jurídico português foram 
importados, como é o caso da característica da função pública naquela época. A função pública 
era considerada patrimônio pessoal de seu ocupante, de modo que a aplicação na Colônia leva 
 
9 CASTRO, Flávia Lages de. História do Direito geral e do Brasil. 12. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016, p. 
296-297. 
10 AGUIAR, Renan; MACIEL, José. Op. cit., p. 211. 
11 Id., Op. cit., p. 211. 
 26 
 
a constituição de poder público sem compromisso com a ética e a igualdade, sendo diretamente 
ligada a um estrato social, a qual era constituída por oligarquias agrárias e por grandes 
latifundiários.12 
Outro ponto de suma importância neste período do Brasil-Colônia era justamente a 
distância da Colônia da Metrópole o que ocasionava na dificuldade de acesso e ausência da 
estrutura pública resultando no enfraquecimento da autoridade quando esta chegasse ao Brasil. 
Com fito em fazer minimamente valer a vontade dos dominadores, operava-se, por necessidade, 
a utilização do poder local, momento em que o poder público e o poder privado travaram batalha 
continua disputando força e influência.13 
Por causa disso, tornou-se forte a questão do patrimonialismo, com a confusão entre o 
público e o privado, como já dito anteriormente, e, justamente essa aliança de poder 
aristocrático com as elites agrárias locais foi a responsável pela construção de um Estado 
baseado em defesa de interesses de segmentos sociais.14 
A formação inicial de nossa sociedade no Brasil-Colônia era predominantemente 
agrária, pautando-se no latifúndio e existindo, apenas, por causa da coroa de Portugal. A 
economia era benéfica aos burgueses mercantis lusitanos, e, os colonos que aqui chegavam não 
tinham a visão de permanência nessas terras, apenas pretendiam “sugar” o que fosse possível 
desse novo território e voltar com suas riquezas para o reino de Portugal. “Não havia o espírito 
da construção de um país livre e soberano.”.15 
Ponto relevante neste momento histórico fora a adesão à contrarreforma por parte de 
Portugal e Espanha, o que fez a Metrópole, e consequentemente, a Colônia fecharem-se em 
uma tradição eclesiástica da fé, supervalorizando a tradição pré-existente daqueles povos. 
Ocorre que o vasto lapso temporal para a aceitação do Renascimento fez com que Portugal se 
distanciasse de modernidades científicas e filosóficas, em especial de novas tecnologias, bem 
como da repercussão acerca delas, fatos geradores do capitalismo que hoje conhecemos.16 
Inobstante ao fator de Portugal ter sido pioneiro nas grandes navegações, o elencado no 
parágrafo anterior fez com que esse reino se submetesse a coroa britânica, sendo este último 
reino o responsável por influenciar o Brasil-Colônia a partir do século XVIII, porém, como tal 
 
12 AGUIAR, Renan; MACIEL, José. Op. cit., p. 211. 
13 Id., Op. cit., p. 211. 
14 Id., Op. cit., p. 211. 
15 Id., Op. cit., p. 211. 
16 Id., Op. cit., p. 212. 
 27 
 
influência era feita por intermédio do reino de Portugal, o sistema jurídico permaneceu aquele 
implementado pelos colonizadores, em nada sendo afetado a civil law pelo common law.17 
Desta forma, pode-se concluir que as invasões dos portugueses nas terras indígenas, 
agora, Brasil-Colônia, além de imporem um novo sistema jurídico baseado na lei positiva, 
ensejou em raízes para as instituições jurídicas brasileiras diretamente ligadas a um passado 
patrimonialista e escravocrata, dominação social de uma elite agrária, hegemonia ideológica de 
um liberalismo totalmente conservador e a submissão econômica aos Estados mais avançados. 
 
2.4.2 A ESTRUTURA DO JUDICIÁRIO NO PERÍODO DO BRASIL-COLÔNIA 
 
Até o ano de 1549, o Brasil-Colônia foi marcado justamente pelas Capitanias 
Hereditárias, ou seja, a concessão de terras aos nobres do reino de Portugal para explorar e 
povoação, isso, por conta própria. O sistema aqui existente era tipicamente feudal, sendo que 
questões políticas, administrativas e, inclusive, judiciárias eram resolvidas pelos donatários, ou 
seja, os próprios nobres portugueses. 
Havia uma confusão entre as funções legislativas, acusatórias e julgadoras dada a 
ausência de burocratização de procedimentos a serem seguidos, resultando em uma aniquilação 
de Direitos dos litigantes, porquanto, como ressaltado em tópicos anteriores, levava-se em conta 
o critério político-social para a resolução do conflito.18 
O fato da transmissão do poder estatal para a administração na justiça fez do Brasil-
Colônia um verdadeiro caos. O caos na realidade está fortemente ligado às questões econômicas 
das capitanias, salvo aquelas pertencentes à São Vicente e as de Pernambuco, motivo pelo qual, 
em 1549, fora instituído o Governo-Geral, pela coroa portuguesa. Esse Governo-Geral foi o 
responsável por assumir responsabilidades democráticas e fiscais, sendo o responsável por 
grande evolução, permitindo a criação de uma justiça colonial, cumulativamente com o início 
da formação de uma burocracia, a qual era composta por agentes do governador-geral.19 
O judiciário do Brasil-Colônia era idêntico ao sistema judiciário do reino de Portugal, 
isso porque era metrópole daquele. Durante esse período, vigoraram-se as Ordenações Reais, 
as quais eram compostas pelas Ordenações Afonsinas, Ordenações Manuelinas e Ordenações 
Filipinas, as quais, essas últimas, foram fruto da junção das Ordenações Manuelinas com 
demais leis extravagantes que estavam em vigência àquela época. 
 
17 AGUIAR, Renan; MACIEL, José. Op. cit., p. 212. 
18 Id., Op. cit., p. 213. 
19 Id., Op. cit., p. 213. 
 28 
 
Foi apenas em 1769, século XVIII, com a introdução da Lei da Boa Razão, que surgiram 
grandes mudanças no sistema judiciário do Brasil-Colônia, isso, dada a reforma pombalina. A 
ideologia da Lei da Boa Razão era estabelecer regras centrais que buscassem uniformizar a 
interpretação e a aplicação das leis no caso de omissão, eventual imprecisão ou lacuna no 
ordenamento do reino de Portugal, consequentemente, afetando-se a Colônia.20 
Na realidade, a ideia dessa lei era buscar a mínima influência do Direito romano, 
preferenciando-se e dignificando-se leis pátrias, bem como as monopolizando. Havia sim a 
possibilidade de aplicação do Direito romano, porém, restringia-se como dito anteriormente, 
caso se, exclusivamente, estivessem de acordo com o Direito natural e o Direito canônico de 
nações cristãs, contanto que se pautassem em exauriente fundamentação e razão para tal.21 
Dado o período histórico, não seria outro o objetivo dessa lei senão o de favorecer a 
Metrópole. Havia um descaso da aplicação do Direito no Brasil-Colônia por parte do reino de 
Portugal, ora Metrópole, haja vista que a única real preocupação seria o pagamento de impostos 
e tributos aduaneiros, bem como a rigorosa aplicação do Direito penal no caso de tentativa de 
independência do Brasil.22 
 
2.4.2.1 A DISPOSIÇÃO DO JUDICIÁRIO NO BRASIL-COLÔNIA 
 
A disposição do judiciário no Brasil-Colônia é similar ao sistema que temos em pleno 
século XXI, com a ressalva em determinados pontos, como a distribuição de magistrados, 
nomenclaturas, dentre outras. Vale destacar que àquela época, a instância suprema do judiciário 
era o Tribunal de Justiça Superior. 
 
2.4.2.1.1 PRIMEIRA INSTÂNCIA 
 
A primeira instância, em suma, era constituída de juízes singulares distribuídos em três 
categorias, ouvidores, juízes ordinários e juízes especiais.20 AGUIAR, Renan; MACIEL, José. Op. cit., p. 214. 
21 VALLADÃO, Haroldo. História do Direito, principalmente do Direito brasileiro. 4. Ed. Rio de Janeiro: 
Freitas Bastos, 1980, p.76 
22 AGUIAR, Renan; MACIEL, José. Op. cit., p. 214-215. 
 29 
 
2.4.2.1.2 SEGUNDA INSTÂNCIA 
 
A composição da segunda instância do judiciário da Colônia, assim como da Metrópole, 
era formada por juízes colegiados, atuando nos Tribunais da Relação, cuja função era a 
apreciação de recursos interpostos contra as decisões prolatadas na primeira instância e a análise 
de embargos. 
 O primeiro Tribunal de Relação surgiu na Bahia em 1587, o qual era composto por dez 
desembargadores, denominação atribuída aos juízes singulares de primeira instância que já 
haviam passado por todas as etapas para a sua efetiva promoção ao cargo de “juiz de segunda 
instância”, como será demonstrado logo à frente em tópico específico, inclusive, denominação 
ainda utilizada nos Tribunais de Justiça dos Estados do Brasil e provinda desse período, e além 
dos dez desembargadores, contava-se com um chanceler. Vale destacar que cada um dos onze 
membros do Tribunal de Relação possuía sua função definida. Ademais, dado o vasto território 
brasileiro, foram criados outros três Tribunais de Relação, notadamente no Rio de Janeiro, no 
Maranhão e em Pernambuco, os quais possuíam disposição similar ao Tribunal da Bahia. 
 A segunda instância do judiciário brasileiro daquela época não deve ser necessariamente 
considerada como um tribunal exclusivamente recursal, afinal, as finalidades eram três, 
finalidade de análise de recursos interpostos contra as decisões prolatadas em primeira 
instância, ou seja, instância recursal, sendo admitidos apenas recursos de apelação e agravos. 
Possuía a finalidade, ou melhor, competência, para receber ações originárias nas áreas cível, 
criminal e do patrimônio estatal. Por fim, tinham como finalidade a competência avocatória 
para em determinados casos no juízo criminal. 
 
2.4.2.1.3 TRIBUNAL DE JUSTIÇA SUPERIOR 
 
Trata-se da terceira e última instância do judiciário naquela época, sendo a sede dessa 
instância localizada em Lisboa, capital do reino de Portugal. Com a fuga da família real para a 
Colônia, a sua sede foi transferida para a cidade do Rio de Janeiro, isso no ano de 1808. Também 
era chamada de Casa da Suplicação, similar a um tribunal de apelação. 
 
2.4.2.1.4 MAGISTRADOS E DESEMBARGADORES 
 
Normalmente quem desempenhava o papel de magistrado era de classe média, ou seja, 
dado o período na história do Brasil, cumulativamente com a questão de disputa por poder 
 30 
 
social, o almejo pela ascensão de classe social era tamanho que a fidelidade empregada à coroa 
portuguesa era tamanha, mais do que a ascensão social, um desejo de gozo dos benefícios que 
adviriam com a progressão na carreira.23 
Além disso, esses juízes, após sua indicação pelo poder geral, eram afastados em grande 
parte das atividades da vida local, isso por intermédio de normas a eles impostas. O objetivo da 
coroa portuguesa com isso na realidade são dois, isenções de disputas locais, visando o 
julgamento com isenção e, sobretudo, igualdade, bem como a permanência de sua lealdade 
perante a coroa portuguesa, especialmente no tocante a punição pela tentativa de independência 
da Colônia.24 
Ocorre que, tais regras eram constantemente quebradas aqui na Colônia de Portugal, 
isso, inobstante ao fato da ascensão social, pelos magistrados de primeira instância, almejada, 
o que não ocorria na Metrópole. 
Cômico destacar que um dos objetivos do afastamento da figura do juiz da vida local 
era justamente o julgamento com isenção e igualdade, isso porque a partir do momento que a 
pessoa era empossada no cargo, automaticamente, ela passava a pertencer a uma classe de elite 
dominante às demais e, como membros dessa classe, sua tendência era, normalmente, defender 
os interesses daquela classe social. 
Veja-se que a imparcialidade e a neutralidade jurídica pregada pela coroa quando dos 
seus julgadores nada mais era do que uma falácia, uma vez que o predominante era mesmo a 
troca de favores entre pessoas pertencentes dessa elevada classe social e o tráfico de influências 
entre eles. O resultado disso era a confusão do público com o privado, bem como os interesses 
particulares com os interesses gerais, o que, infelizmente, confunde-se até os dias de hoje. 
No tocante aos requisitos de admissão da carreira, era necessário que a pessoa, além de 
demonstrar sua origem social, fosse, indispensavelmente, graduado pela Universidade de 
Coimbra, preferencialmente nos cursos de Direito civil ou Direito canônico. 
A progressão de carreira se dava da seguinte forma, após a pessoa ser empossada no 
cargo, ela começava a desempenhar a atividade de “juiz de fora”, sendo, na sequência, 
designado como ouvidor da comarca e corregedor. A promoção para o cargo de desembargador, 
ou seja, a segunda instância, dava-se apenas quando o indivíduo acumulasse vasta experiência 
na administração judiciário, sendo o magistrado designado como desembargador tanto na 
Colônia, quanto na Metrópole. 
 
 
23 AGUIAR, Renan; MACIEL, José. Op. cit., p. 216-217. 
24 Id., Op. cit., p. 217. 
 31 
 
2.5 AS ORDENAÇÕES FILIPINAS 
 
 Para a boa compreensão de grande parte dos nossos atuais institutos jurídicos, a 
necessidade do estudo das Ordenações Filipinas se faz presente. 
 Como será demonstrado ao longo deste tópico, tais ordenações tiveram aplicabilidade 
em solo brasileiro por um longo período, sendo, inclusive, responsável pela influência do 
Direito colonial e Direito imperial. 
As Ordenações Filipinas são o último instituto jurídico que ditou o judiciário do reino 
de Portugal e de sua Colônia, Brasil, antes da independência deste último. Tais ordenações são 
frutos da junção das Ordenações Manuelinas com leis extravagantes em vigor naquela época, 
como resultado do domínio castelhano, as quais tiveram seu texto final perante o reinado de 
Filipe I, isso no ano de 1595, porém, tendo vigorado apenas no ano de 1603, período em que 
seu filho, Filipe II, já governava o reino. 
 O objetivo dessas legislações não eram inovações a serem impostas ao povo, mas apenas 
consolidar as leis que estavam em vigor àquela época, com a positivação de casos concretos, 
diferentemente do que se deu cerca de 1.339,3 quilômetros do reino de Portugal, notadamente 
na França, ocasião da Revolução Francesa, revolução que se destinou, em um dos seus motivos, 
com relação às suas ordenações jurídicas, a sanar contradições, repetições e lacunas. 
 Não havia a menor intenção, por parte dos governantes do reino, na elaboração de 
inovações jurídicas, mas sim, aproveitarem-se das normas já existentes. Tal opção fez que com 
a correção das contradições e lacunas existentes não fossem sanadas. Aliás, diferentemente do 
que conhecemos hoje em nossas legislações, fruto da Revolução Francesa, as Ordenações 
Filipinas não são conhecidas por terem uma boa parte geral, com regras abstratas.25 
 A preocupação do Antigo Regime era justamente na existência de normas diferenciadas 
para os tipos de classes sociais, inclusive, característica forte destas codificações, as quais eram 
divididas em cinco livros, a primeira destinada ao Direito Administrativo e Organização 
Judiciária, a segunda regulava o Direito dos Eclesiásticos, do Rei, dos Fidalgos e dos 
Estrangeiros, a terceira, por sua ver, era destinada exclusivamente ao Processo Civil, 
diferentemente, a quarta tratava acerca do Direito Civil e do Direito Comercial, e, finalmente, 
a quinta, regulava o Direito Penal e Processual Penal. 
 Dada a variação de costumesde local para local àquela época, o critério para julgamento 
era a obediência da jurisprudência da Casa de Suplicação, isso com o intuito de uniformização 
 
25 AGUIAR, Renan; MACIEL, José. Op. cit., p. 218. 
 32 
 
das decisões “e, em última instância, fortalecer o poder Central em detrimento dos vários 
poderes locais”, como ensinam os professores Renan Aguiar e José Fabio Rodrigues Maciel 
(2016, p. 219). 
 As omissões existentes nas Ordenações Filipinas, quando necessário para o julgamento 
de um caso, eram sanadas mediante a aplicação subsidiária do Direito romano e do Direito 
canônico. Na ausência de qualquer solução para a demanda, mesmo com a aplicação 
subsidiárias dos Direitos romanos e canônicos, a demanda era submetida ao rei, o qual prolatava 
sua decisão para aquele caso e sua decisão tinha força de lei, inclusive, passava a valer como 
se lei fosse para outros efeitos semelhantes.26 
 As penalidades existentes nas Ordenações Filipinas eram demasiadamente severas e 
variadas, como a exemplo, perdimento, confisco de bens, desterro, banimento, açoites, 
esquartejamento, forca, dentre outras. A de se destacar que a aplicação de tais sanções não era 
para todos os membros da sociedade, porquanto aqueles que gozassem do status de ser fidalgo, 
cavaleiro, doutor em cânones ou leis, médico, juiz e vereadores, não eram submetidos a tais 
penalidades, havia uma ausência de isonomia nesse sentido, lhes sendo impostas penas mais 
brandas e, inclusive, sendo isentos de pena em alguns casos.27 
 A aplicação do Direito no território do Brasil-Colônia pouco importava ao reino de 
Portugal, vez que sua maior preocupação era o pagamento dos impostos e demais tributos e, 
inobstante a isso, as Ordenações Filipinas foram base para a formação do Direito colonial e 
imperial. 
 Em 1822, com a independência do Brasil, houve a lenta substituição das Ordenações 
Filipinas, inicialmente com o Código Criminal do Império, o qual substituiu parte do Livro V. 
Na sequência, fora promulgada, no ano de 1832, a lei que regularizava o Código de Processo 
Penal, extinguindo de vez o Livro V e reformando o processo e a magistratura. O Livro III, 
regularizador do processo civil foi substituído pelo Regulamento nº 737, em 1850, o qual foi 
responsável por revogar parte do Livro IV, notadamente no tocante ao Direito Comercial, 
porquanto tal Regulamento trazia novas disposições para ele. 
 Dada a independência do Brasil, o Livro I e II perdeu o objeto de sua existência, motivo 
pelo qual foram apenas não regulados pela nova legislação do então Brasil. 
 Como ensinam Renan Aguiar e José Fábio Rodrigues Maciel (2016, p. 220), a parte do 
Livro IV que regulava o Direito Civil vigorou por todo o tempo do Brasil Império e parte do 
Brasil Republicano, além de ter influenciado parte de nosso atual sistema jurídico. 
 
26 AGUIAR, Renan; MACIEL, José. Op. cit., p. 219. 
27 Id., Op. cit., p. 219-220. 
 33 
 
 Não foi exclusivamente o Livro IV que influenciou o nosso sistema jurídico, mas sim, 
todas as Ordenações Filipinas, vez que mesmo que houvesse a elaboração de novos institutos 
jurídicos, todos os livros trouxeram forte traços para àqueles novos institutos28. 
 
2.6 O DIREITO IMPERIAL 
 
O Direito imperial tem como marca principal a independência do Brasil, e com a 
independência dessa nova nação surge uma árdua tarefa para a nação brasileira, elaborar novas 
instituições jurídicas que ao mesmo tempo garantam a unidade nacional e permitam a 
construção de uma nação forte e comprometida. 
O principal problema era justamente o passado colonial do Brasil, isso porque, 
almejava-se a elaboração de leis próprias que desvinculassem a nação dessa marca colonial sem 
romper com o passado histórico do Brasil. 
 
2.6.1 A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL E O LIBERALISMO 
 
O século XIX é marcado por grandes transformações organizacionais sociais no 
ocidente, isso diante dos resultados das Revolução Americana e pela Revolução Francesa, em 
1776 e 1789, respectivamente, o que ensejou na queda da burguesia e o triunfo do liberalismo. 
A independência do Brasil começara a se formar com a vinda da família real ao Brasil, 
isso por consequência da invasão da França ao território português, a qual foi liderada por 
Napoleão Bonaparte. Tal fator fez com que o Brasil, Colônia, fosse equiparado a Metrópole, 
Portugal. 
Ademais, vale destacar a modificação no Direito dada pela codificação napoleônica, a 
qual, refletiu na formação do Brasil Imperial, inclusive, apresentado traços até nos dias de hoje. 
Com a saída dos franceses do território português, bem como pela Revolução do Porto, 
isso em 1820, Dom João VI retornou ao reino de Portugal, haja vista que, caso contrário, estaria 
sujeito a perder o seu trono, tendo seu filho, Dom Pedro I, permanecido no Brasil e, 
posteriormente, tendo, este, assumido o trono do império brasileiro. 
A equiparação da Colônia e da Metrópole fez com que o Brasil tivesse o Direito de 
eleger deputados às cortes, fator que fortaleceu o processo de independência, isso porque houve 
presente participação das atividades legislativas e contatando diretamente com o movimento 
 
28 AGUIAR, Renan; MACIEL, José. Op. cit., p. 220. 
 34 
 
liberalista que predominava na Europa, sendo tal movimento o responsável por influência o 
Brasil no seu processo de independência. 
Após o retorno da coroa portuguesa a Portugal, era possível observar o seguinte cenário, 
de um lado do Atlântico o Brasil buscava sua independência e, de outro, era notório a intenção 
de Portugal na sua desequiparação em relação à Colônia, retornando ao status quo ante, tendo 
Portugal fracassado em tal tarefa e, o Brasil, em 7 de setembro do ano de 1822, conquistado sua 
independência, isso dado as fortes influências do movimento liberalista, o qual aflorava na 
Europa naquele mesmo período. 
O movimento liberalista, oriundo do século XVIII, o qual ganhou forças graças a 
Revolução Francesa, pregava como pilares a liberdade pessoal, o individualismo e a tolerância, 
bem como os Direitos econômicos, isso, com Direito à propriedade, à herança e à liberdade de 
produção, compra e venda. Pregava-se, também, o Direito de representação política, divisão de 
poderes, descentralização administrativa, soberania popular, entre outros pontos. 
Vale ressaltar que, no tocante ao aspecto jurídico, o movimento liberalista foi o principal 
responsável pela independência do Brasil na luta contra o sistema colonial, “os monopólios e 
estancos, o fisco, a antiga administração da justiça, a administração portuguesa etc”.29 
Ocorre que, o liberalismo no Brasil era diferentemente do que acontecia no continente 
Europeu, isso porque, no Brasil, tal movimento dava suporte aos interesses de oligarquias e de 
grandes latifundiários, bem como do clientelismo que era vinculado ao monarquismo absoluto, 
quando na Europa o liberalismo estava ligado a ideologias revolucionárias manejada pela 
população contra os privilégios da nobreza. 
Obstante ao anteriormente exposto, o liberalismo no Brasil influenciou a liberdade 
política e democrática, mesmo sem representação popular, o que ensejou na seguinte 
problemática, com começo do governo de Dom Pedro I, a luta contra o absolutismo estava se 
instalando em favor da descentralização político-administrativa, tendo resultado no 
federalismo. Ocorre que as lutas que não tiveram sucesso esperado, porém, não tendo sido 
totalmente em vão.30 
Solidificada a independência do Brasil, surgiu a necessidade na elaboração de um novo 
panorama jurídico para a novanação e, para isso, sendo criados cursos jurídicos nacionais e a 
substituições das Ordenações Filipinas por uma nova legislação. A independência do Brasil 
trouxe árdua tarefa aos juristas brasileiros, isso porque precisavam reformar todas as legislações 
deixadas pelo Antigo Regime, como a justiça, o governo e a fazenda. 
 
29 AGUIAR, Renan; MACIEL, José. Op. cit., p. 237. 
30 Id., Op. cit., p. 238. 
 35 
 
2.7 O DIREITO NO FINAL DO PERÍODO IMPERIAL E INÍCIO DA REPÚBLICA 
VELHA 
 
Dentre o período do final do Direito imperial ao Direito na república velha houveram 
vários pontos marcantes para o Direito, como exemplo, a promulgação da Constituição Federal 
de 1824, bem como a elaboração do Código Criminal do Império, do ano de 1830, a elaboração 
do Código de Processo Criminal, em 1832, o Código Comercial, em 1850, e o Regulamento nº 
737, também em 1850, inclusive, sendo estudado ainda nesta monografia. 
Além disso, nesse período inicia-se o Período Regencial, o qual foi marcado por fortes 
instabilidades políticas, sendo considerada a experiência republicana dentro do Brasil Imperial. 
O Período Regencial deu-se entre o ano de 1831 a 1840, isso, no momento do Brasil em que 
Dom Pedro I abdicava o governo e ocorria o golpe da maioridade de Dom Pedro II. 
Foi justamente nesse período que se deveram diversas revoltas populares, como a 
Farroupilha, a Cabanagem, a Sabinada, a Malês e a Balaiada, todas estudas na sequência ainda 
neste capítulo. 
O Período Regencial é marcado além das revoltas populares, por grande instabilidade 
governamental dada a acusação à Dom Pedro I de zelar aos interesses portugueses aos 
brasileiros, mesmo após a abdicação do trono português em favor de sua filha, com a morte de 
Dom João VI, seu pai, retornou a Portugal para disputar o trono com o seu irmão mais novo, 
Dom Miguel I. 
Além da abdicação do trono português, Dom Pedro I, abdicou o trono do brasileiro ao 
seu filho Dom Pedro de Alcântara, o qual, no momento, contava com apenas cinco anos de 
idade, atitude que gerou forte vazio político no país, intensificando a disputa pelo poder do 
Brasil entre os liberais moderados e os liberais conservadores, tendo composto o Partido 
Brasileiro e aliado-se com fito em intimar Dom Pedro I, porquanto ambos grupos estavam 
descontentes com o absolutismo do governo de Dom Pedro I. 
Na Noite das Garrafadas, episódio em que travaram confronto o Partido Português e o 
Partido Brasileiro, o primeiro saiu derrotado, o que fez com que os grupos compositores do 
Partido Brasileiro disputassem o Período Regencial do Brasil. No dia seguinte à abdicação, os 
liberais moderados elaboraram a “Proclamação em nome da Assembleia Geral aos povos do 
Brasil”, no intuito de informar os acontecimentos e corroborar “seu apoio aos regentes 
nomeados e aconselhavam prudência e moderação à população”. 
 
 
 36 
 
2.7.1 AS REGÊNCIAS NO BRASIL IMPÉRIO 
 
A luz da Constituição de 1824, como o governador da época, Dom Pedro de Alcântara 
não possuía idade para assumir o governo do Brasil, deveria ser nomeada outra pessoa para dar 
continuidade ao Período Regencial, momento em que surgem as regências brasileiras, das quais, 
aqui, trataremos de três, a Regência Trina, provisória e permanente, a Regência de Feijó e a 
Regência de Araújo Lima. 
 
2.7.1.1 A REGÊNCIA TRINA PROVISÓRIA 
 
A Regência Trina provisória, datada de 1831, composta por Francisco Lima e Silva, 
brigadeiro, José Joaquim Carneiro Campos, marquês de Caravelas, e o senador Nicolau Pereira 
Campos Vergueiro, teve como primeira medida a reintegração do ministério de 20 de março, 
de modo a ter retirado do exército todos os estrangeiros e todos aqueles que eram acusados de 
crimes políticos. 
Vale destacar que foi do período da Regência Trina provisória que diversos movimentos 
revoltosos surgiram. 
Mesmo que foram mantidas as estruturas políticas do império, tal regência tinha caráter 
totalmente liberal e antiabsolutista, por isso houve o início de um avanço liberal, o que perdurou 
até que grupos das provinciais alcançaram um grau superior de autonomia.31 
 
2.7.1.2 A REGÊNCIA TRINA PERMANENTE 
 
Em 17 de junho de 1831, foram eleitos Francisco Lima e Silva e os deputados José da 
Costa Carvalho e João Braulio Moniz, os quais foram responsáveis pela Regência Trina 
Permanente, cujo objetivo era a tentativa de um equilíbrio das forças do Norte e do Sul do país, 
período de muito agito para o Brasil, isso porque houve o crescimento das revoltas e da 
formação de três grupos políticos, o Moderado, o Exaltado e o Restaurador. 
O destaque principal da regência Trina permanente foi a figura do Padre Diogo Feijó, 
Ministro da Justiça, e não dos governadores, porquanto assumiu o cargo sob a condição de 
garantia de autonomia de ação, inclusive, foi o responsável pela repressão das revoltas 
populares ocorridas à época, mantendo a ordem do Período Regencial. 
 
31 AGUIAR, Renan; MACIEL, José. Op. cit., p. 253. 
 37 
 
Em 18 de agosto de 1831 foram criados o Corpo de Guardas Municipais Permanentes e 
a Guarda Nacional, órgãos que eram subordinados ao Ministério da Justiça, sendo considerados 
a principal força armada imperial. 
Foi Feijó o responsável pela centralização dos poderes nacionais até o Ato Adicional 
que modificou a Constituição de 1824, aderindo ao liberalismo e descentralizando o poder, 
criando-se, para tanto, as Assembleias Legislativas Provinciais. 
Dado o lapso temporal dessa regência, um novo regente deveria ser eleito. 
Não houve apenas a escolha de um novo regente, mas sim houve a implementação de 
uma experiência demasiadamente republicana e presidencialista, inclusive, com a permanência 
do regente pelo mandato de quatro anos.32 
 
2.7.1.3 A REGÊNCIA DE FEIJÓ 
 
A consequência da forte influência de Diego Feijó na Regência Trina não seria outra 
senão sua eleição como regente do Brasil a partir de 7 de abril de 1835, regência exercida apenas 
pelo paulistano, isso pela tentativa de implementação do sistema republicano e presidencialista, 
similar ao dos Estados Unidos da América, pelo período de quatro anos. 
Para o Direito brasileiro, a grande influência da Regência de Feijó era o fator de almejar-
se o fim da escravatura, fato que trouxe grande revolta ao seu governo, isso porque àquela época 
o voto era censitário, exercido apenas por pessoas que ganhavam mais de cem mil reis ao ano, 
ou seja, pouco mais de seis mil pessoas no território brasileiro. A revolta se justifica pelo fato 
de que aqueles que o elegeram seriam, justamente, os prejudicados com a abolição da 
escravatura.33 
Dada a sua saúde debilitada, cumulado ao fato da grande revolta que afrontava seu 
governo, renunciou ao cargo em 19 de setembro de 1837. 
 
2.7.1.4 A REGÊNCIA DE ARAÚJO LIMA 
 
Logo após a renúncia de Diogo Feijó, Araújo Lima assumiu a regência do Brasil como 
interino. Tal regente era conhecido por ser conservador e ponderado, inclusive, foi o 
responsável por organizar o Ministério das Capacidades, o qual era composto por vários nomes 
de peso aquela época. 
 
32 AGUIAR, Renan; MACIEL, José. Op. cit., p. 254-255. 
33 Id., Op. cit., p. 255. 
 38 
 
Na sua regência, houveram o fim de algumas revoltas populares, a estabilização e 
progresso da economia brasileira, fatores que o tornaram forte candidato na reeleição, inclusive, 
sendo eleito como regente em abril de 1838. 
Foi em seu mandato que ocorreu o golpe da maioridade, tendo sido promovido pelos 
liberais, no ano de 1840, tornando Dom Pedro IIo imperador do Brasil, findando-se o Período 
Regencial e iniciando-se o Segundo Reinado. 
Vale destacar que foi no governo de Araújo Lima que houve a remodelagem da Escola 
Militar, criação do Colégio Pedro II e a instituição do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil. 
 
2.7.2 AS PRINCIPAIS REVOLTAS POPULARES DA ÉPOCA 
 
2.7.2.1 A CABANAGEM 
 
A denominada Cabanagem iniciou-se no ano de 1835 e perdurou até 1840. Tal 
movimento se iniciou em Pernambuco, tendo, rapidamente, se alastrado ao território do Pará e 
do Amazonas. O nome da revolta estava ligado à moradia, no caso, cabanas, da população 
indígena, mestiços e negros, grupo conflitante contra a elite local. 
De todos os movimentos, pode-se destacar que a Cabanagem foi o mais sangrento. 
Houve a tomada da cidade de Belém pelo movimento, tendo, posteriormente, no ano de 1840, 
sido retomada pela guarda imperial. 
Para o Direito, tal movimento representa apenas a revolta dos populares contra à elite 
local e o governo imperial, o almejo pela autonomia política e o fim da escravidão, aliás, esses 
eram os objetos de quase todas as revoltas populares da época. 
 
2.7.2.2 A REVOLTA DOS MALÊS NA BAHIA 
 
 Desde o final do século XVIII até o século XIX, a Bahia era conhecida por ser um 
centro de lutas com objetivo de autonomia política, o fim da escravidão e a busca pela igualdade 
social. 
As revoltas se concentraram em Salvador e ao seu redor, tendo se iniciado em 1807 até 
1835, caracterizada pela união de escravos da zona rural e zona urbana e com quilombos. 
Em 1807, escravos vindos da Nigéria planejavam uma sequência de ataques, como 
queimar a Casa da Alfândega, matar a população branca, queimar imagens de santos em praça 
pública, atacar a província de Pernambuco com fito na liberação os haussás, isso, com o apoio 
 39 
 
de mulatos e negros. Ocorre que tal plano falhou dada a delação feita as tropas portuguesas, 
responsáveis por sufocarem o movimento e aplicarem fortes punições para impedir fuga e 
penalizar pelo plano. Vale destacar que tal plano fora novamente esquematizado em 1814, 
porém, infrutífero novamente frente as tropas do governo. 
O nome dessa revolta popular se deu pelo fato que grande parte dos escravos e demais 
envolvidos na revolta eram de crença religiosa islâmica, inclusive, no momento do confronto, 
o qual ocorreu no ano de 1835, no centro de Salvador, utilizavam-se de abádas e carregavam 
mensagens do Alcorão. O responsável por capitanear a sublevação foi a sociedade dos Malês, 
por tudo isso, a revolta ficou conhecida como Revolta dos Malês. 
Ocorre que tal revolta, de mesma forma como a Cabanagem não atingiu seu resultado 
final, sendo, o movimento popular, suprimido pelas tropas do governo. 
 
2.7.2.3 A SABINADA 
 
No estudo destes tópicos, mostra-se cediço que eclodiu em todo o território nacional, de 
Norte a Sul, grandes revoltas populares, em outras palavras, o Brasil estava um caos entre os 
anos de 1835 até 1845. 
Com a crescente necessidade de combatentes para as tropas do governo, chegou-se a 
notícia que iria se iniciar um recrutamento em caráter obrigatório na Bahia, recrutamento 
destinado aos combates aos farroupilhas, na província do Rio Grande do Sul. 
Na noite do dia 6 de novembro de 1837, o Corpo de Artilharia e mais alguns civis, 
tomaram a cidade de Salvador, declarando-se independentes do Rio de Janeiro, no dia seguinte, 
nomeando um novo Presidente, inclusive, com a vontade na montagem de uma Assembleia 
Constituinte. Os revoltosos por si só impuseram que a nova República perduraria enquanto 
Dom Pedro II não atingisse a maioridade e, consequentemente, assumisse o governo do Brasil. 
O nome de tal revolta se deu por causa de um dos seus principais líderes, o médico 
Sabino Álvares da Rocha Vieira. 
A resposta do governo foi imediata, a nomeação de um novo presidente legal para àquela 
província, Bahia, o qual comandou a retomada do território, contando, inclusive, com apoio de 
tropas da província de Pernambuco. Após severos combates, os revoltosos, que já contavam 
com inúmeros feridos e mortos, entregaram-se, logrando-se êxito na retomada do território 
baiano e, com relação ao médico Sabino, este veio a falecer em 1846, após ter sido deportado 
para o Mato Grosso. 
 
 40 
 
2.7.2.4 A BALAIADA 
 
A província do Maranhão sempre teve forte ligação com Lisboa, justamente por isso, 
quando da independência do Brasil, esta província e a do Pará foram as últimas a se submeterem 
aos militares do novo império brasileiro, apenas tendo ocorrido tal submissão no ano de 1823, 
momento em que essa província ficou à mercê dos mesmos problemas passados pelas outras 
províncias do Brasil, ou seja, alta carga tributária a ser repassada ao Rio de Janeiro e baixo 
repasse à província do Maranhão. 
Sem muita mobilização ou objetivos, apenas cansados das injustiças do novo governo, 
iniciou-se a revolta no ano de 1838 denominada de Balaiada por causa de um dos principais 
chefes da rebelião Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, conhecido como Balaio, perdurando 
até o ano de 1841. 
O estopim da rebelião se deu quando uma das filhas do Balaio foi estuprada por um 
policial e esse policial não teve qualquer sanção, além da prisão arbitrária do irmão do vaqueiro 
Raimundo Gomes, um dos chefes do movimento em conjunto com balaio. 
Diferentemente do que se esperava por tal rebelião não ter sido demasiadamente 
planejada e sem um claro objetivo, mobilizou grande parte da população de baixa renda, 
daquela época, contra o poder e a opressão dos latifundiários daquela província. 
Se de um lado houve forte mobilização dos revoltosos, de outro lado também houve 
grande mobilização pelos militares daquela província e de outras que buscaram auxiliar àquela. 
Foram diversos confrontos, tendo, incialmente, os balaios saído vitoriosos, vitória que deixou 
de lhes ser rotina com o envio do Presidente e Comandante das Armas da Província, coronel 
Luís Alves de Lima e Silva, tendo comandado todas as tropas do Maranhão, Piauí e Ceará. 
No ano de 1841, o último comandante da balaiada foi capturado e submetido à forca. 
Como os demais líderes da revolta já haviam falecido, esta perdeu forças e fora suprimida pelos 
militares, tendo, mais tarde, por conta da campanha exercida na província do Maranhão, Luís 
Alves de Lima e Silva recebido a titulação de Barão de Caxias. 
 
2.7.2.5 A GUERRA DOS FARRAPOS 
 
Ocorrida no Rio Grande do Sul, a Guerra dos Farrapos ganhou esse nome pois a palavra 
“farrapos” era uma palavra de desprezo, termo pejorativo, atribuído aos rio-grandenses que 
eram contra o governo central e estavam ligados ao Partido Liberal. Tal guerra ocorreu entre os 
anos de 1835 até o ano de 1845. 
 41 
 
O objetivo de tal revolta era a busca por maior autonomia daquela província, Rio Grande 
do Sul, e menor centralização de poder na corte do Brasil, no caso, Rio de Janeiro. 
Curioso destacar que se defendia a República e a Federação, inclusive, em alguns 
momentos a libertação dos escravos, sendo a única de todas as rebeliões que, naquela época, 
constituiu um Estado republicano, com eleição de Assembleia Constituinte e de toda uma 
autoadministração.34 
Após o processo de independência do Brasil, dado a fatores como a centralização 
política no Rio de Janeiro, os altos impostos cobrados, o que diminuía consideravelmente a 
renda local, e a perda do território uruguaio, o orgulho daquele povo se transformou em apenas 
um sentimento de guardiões da fronteira do Brasil. Desta forma, o movimento explodiu em 20 
de setembro de 1835, mesmo que nem todos fossem republicanos e federalistas, a revolta ao 
lema “o centro explora o Sul” foi o encadeador de elos dos rio-grandenses.

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