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I , o leitor tem em m aos um livre demolidor. As pOlfticas economica e social do governo Lula sao analisadas a luz de inova~oes metodologicas e conceituais concebidas com grande rigor, sem exageros, sem chavoes e sem adjetiva~ao. Surge uma imagem desoladora. A elei~ao de Lula a Presidencia da Republica foi a opera~ao polftica conservadora mais bem·sucedida da nossa historia, pois deu novo folego a um modelo que estava esgotado. Seus resultados comprometem 0 futuro do Brasil. Isso tem side parcialmente mascarado pelos efeitos de uma conjuntura internacional excepcionalmente favoravel, que nao persistira para sempre. Quando essa conjuntura mudar, todos os nossos problemas estruturais estarao agigantados. Nunca antes neste pais houve tanta mistificayao. Nao e verdade que a vulnerabilidade extern a tenha diminufdo, quando com parada com 0 resto do mundo; na verdade, aumentou. Nao e verdade que o crescimento das exporta~oes sinalize uma inser~ao internacional mais virtuosa, pois estamos vivendo mais um episodio de adapta~ao passiva e regressiva ao sistema econ6mico internacional. A industria de transformayao perde dinamismo, com fortalecimento dos setores intensivos em recursos naturais e desarticula~ao de cadeias produtivas. Na pauta de exportayoes, tem peso crescente A ECONO POLITICA GOVER! Lull os bens de baixo valor agregado. Ha perda de eficiencia sistemica. Nossas taxas de crescimento saD inferiores a media internacional. Estamos ficando para tras. Ouando se consideram, em conjunto, as seis variaveis macroeconomicas mais importantes, Lula obtem 0 quarto pior indice de desempenho presidencial da nossa historia republicana. E sua poHtica social, centrada no Programa Boisa Familia e uma grosseira mistifica~ao. ADcontrario do que se diz, nao esta em curso um processo de distribuiryao de renda, pois os rendimentos do trabalho, vistos como um tOdD,continuam a cair sistematicamente, como proporryao da renda nacional. Com a adesao do Partido dos Trabalhadores aDsistema tradicional de poder, chegou aDfim 0 impulso transformador que surgiu nas lutas pela redemocratizaryao do pais. A poHtica brasileira apequenou-se ainda mai! Sem disputa de projetos, 0 sistema politico faliu. Foi despolitizado, reduzido a doses cavalares de marketing e a um conjunto de pequenos acordos, tudo a serviryo da conquista e da preservaryao de posiryoes de poder. Nunca foi taD grande, na sociedadE o sentimento difuso de desimportancia em relaryaoa politica institucional. a governo que, na origem, prometia mudan~as tornou-se 0 governo do cinismo e da passividade. © Luiz Filgueiras e Reinaldo Gon,alves Direitos adquiridos pela Contraponto Editora Ltda. para esta edi,ao. Vedada, nos tennos cia lei, a reprodUl;ao total ou parcial deste livro sem autorizac;ao cia editora. CONTRAPONTO EDlTORA LTDA. Caixa Postal 56066 - Cep 22292-970 Rio de Janeiro, RJ - Brasil Tell fax: (21) 25440206 I 2215 6148 e-mail: contrapontoeditora@gmail.com home-page: www.contrapontoeditora.com.br A ECONOMIA POLfTICA DO GOVERNO Lula Edic;ao e revisao: Cesar Bet yamin Projeto grafico: Tra,o Design Impressao: Prol Gr<ijica UP-BRASIL. CATALOGAc;::Ao-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITOR..ES DE LIVROS. R.J. Filgueiras, Luiz Antonio Mattos A economia politica do governo Lula I Luiz Filgueiras, Reinaldo Gonplves. - Rio de Janeiro: Contraponto, 2007. Anexos Inclui bibliografia ISBN 978-85-85910-91-4 1. Brasil - Politica economica. 2. Brasil - Politica e governo - 2003-. I Gon- ,alves, Reinaldo, 1951-. II.Titulo. CDD 338.0981 CDU338.1(81) ;p ;p ;::: ;::: ~ CJ...• ;::: Eo tl ~ "" "" :$S" s "" ...• ~ K ""0- Sobre os autores Lista de graficos, quadros e tabelas Introdu~ao CAPITULO 1 Contexto internacional 1. Cicio internacional favoravel 1.1 Esfera produtivo-real 1.2 Esfera comercial 1.3 Esfera monetario-financeira 1.4 Esfera tecnol6gica 2. Vulnerabilidade extern a 2.1 Vulnerabilidade externa comparada 2.2 Governo Lula versus Governo Cardoso CAPITULO 2 Inser~io internacional e vulnerabilidade extern a 1. Vulnerabilidade extern a conjuntural e anomalias 2. Exporta~oes e dependencia extern a 3. Especializa~ao retr6grada 4. Retrocesso industrial 61 64 73 78 83 88 i I I 3. polrtica e dinamica macroeconomica 95 6. Classes sociais, Estado e bloco de poder 175 1. Continuidade do modelo 97 1. Bloco de poder dominante 177 2. Desempenho macroeconomico 101 2. Transformismo e coopta~ao 182 2.1 Contas externas e infla~ao 101 3. Patrimonialismo e balcaniza~ao 188 2.2 Finan~as publicas 105 2.3 Renda, investimento e emprego 108 3. Modelo e ajuste macroeconomico 110 7. Crescimento, acumula~io e perspectivas 197 4. Liberaliza~ao e retrocesso 113 1. Programa de Acelera~ao do Crescimento (PAC] 198 2. Distribui~ao de riqueza e renda 2077 4. Desempenho em perspectiva hist6rica 3. Perspectivas para os jovens 215117 1. Crescimento da renda 4. Cenarios macroeconomicos 220119 2. Hiato de crescimento 5. Perspectivas 223121 3. Acumula~ao de capital 125 4.lnfla~ao 127 Anexos 5. Fragilidade financeira 130 I. fndice de Vulnerabilidade Externa Comparada 233 6. Vulnerabilidade externa 132 II. fndice de Desempenho Presidencial 235 7.Desempenho geral 134 III.Analise de Componentes Principais 243 IV.Conceitos e defini~5es 249 5. Pobreza e polrtica social 141 Bibliografia 253 1. Concep~ao hegemonica 143 2. Contra-reforma liberal 149 3. Universaliza~ao versus focaliza~ao 153 4. Ajuste fiscal e polftica social 157 5. Balsa Familia 162 6. Flexibiliza~ao e precariza~ao do trabalho 170 Luiz Filgueiras Professor associado da Faculdade de Ciencias Economicas da Universidade Fe- deral da Bahia (UFBA) desde 1980, ministrando as disciplinas de Economia Bra- sileira, Economia do Trabalho e Hist6ria do Pensamento Economico, entre ou- tras. Foi diretor dessa Faculdade no periodo 2000-2004. Doutor em Economia pelo Instituto de Economia da Unicamp (1994); mes- tre em Economia pela UFBA (1983) e bacharel em Economia por essa mesma instituir,:ao(1978). Em 2006, realizou p6s-doutorado no Centro de Economia da Universidade Paris XIII sob a direr,:aodo professor Pierre Salama. Autor do livro Historia do Plano Real (Boitempo, 2000, 2003 e 2006) e de di- versos capitulos de livros, dezenas de artigos publicados em revistas especializa- das e jornais nas areas de Economia Brasileira, Politica Economica e Economia do Trabalho. Membro do grupo de trabalho sobre Setores Dominantes na America Latina do Conselho Latino-Americano de Ciencias Sociais (Clacso). Recebeu 0 Pri- meiro Premio Baiano de Economia Romulo de Almeida - Conselho Regional de Economia, 5" Regiao (1986) e 0 Premio Banco do Estado da Bahia (Baneb) de Apoio a Teses, na categoria de professor pesquisador (1998). Reinaldo Gon~alves Professor titular de Economia Internacional do Instituto de Economia da Uni- versidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desde 1993; diretor da Sociedade Brasileira de Economia Politica (1998-2002); diretor daAssociar,:aoNacional dos Cursos de Graduar,:aoem Economia (2000-2002); conselheiro titular, Conselho Federal de Economia (2001-2003); vice-presidente do Conselho Regional de Economia, RJ (1997-1999); e presidente do Instituto de Economistas do Rio de Janeiro (1995-1996). Livre-docente em Economia Internacional (UFRj, 1991); Ph. D. em Econo- mia pela University of Reading (Inglaterra, 1986); mestre em Economia pela EPGE-FGV (1976); mestre em Engenharia da Produ~ao pela Coppe-UFRJ (1974); e bacharel em Economia (UFRj, 1973). Foi professor visitante (Directeur d'Etudes), da Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, Maison des Sciences de I'Homme, Paris, 1996; professorvisi- tante da Universidade de Paris XIII, 1990; economista das Na~6es Unidas (Unc- tad, Genebra, 1983-1987). Autor de mais de tres centenas de trabalhos publicados em 21 paises: Europa (Alemanha, Espanha, Fran~a, Inglaterra, Italia, Suecia, Sui~a, Portugal e Iugosla- via); Asia Gapao,Coreia do Sui e India); Africa (Cabo Verde);America do Nor- te (EstadosUnidos e Mexico); Caribe (Cuba); e America do Sui (Argentina, Bra- sil, Chile, Uruguai eVenezuela). Entre os seus principais trabalhos no Brasil destacam-se os livros Empresas transnacionais e internacionalizarao da produrlio (Vozes, 1992); 6 abre-alas: a nova in- serrao do Brasil na economia mundial (Relume-Dumara, 1994); Globalizarao e des- nacionalizarao (Paz e Terra, 1999); a Brasil e 0 comercio internacional (Contexto, 2000), Vagao descarrilhado (Record, 2002); a no economico (Record, 2003); A he- ranra e a ruptura (Garamond, 2003); Comercio e investimento externo (Fase,2004); e Economia politica internacional (Elsevier, 2005). E co-autor de outros livros, como: A nova economia internacional. Uma perspec- tiva brasileira (Campus, 1998); a Brasil endividado (Perseu Abramo, 2000); A ar- madilha da divida (Perseu Abramo, 2002); e Economia internacional. Teoria e expe- ricncia brasileira (Elsevier, 2004). Seus trabalhos receberam os seguintes premios: Premio Funda~ao Universi- tariaJose Bonifacio em 1991; Premio Jabuti 2001 (Camara Brasileira do Livro); Trofeu Cultura Economica em 2004 (Caixa Economica-Jornal do Comercio RS); Trofeu Cultura Economica em 2005; e Personalidade Economica do Ano (Conselho Federal de Economia) em 2004. Tabelas Tabela 1.1 Tabela 1.2 Tabela 1.3 Tabela 2.1 Tabela 2.2 Tabela 2.3 Tabela 2.4 Tabela 2.5 Tabela 2.6 Tabela 2.7 Tabela 2.8 Tabela 2.9 Tabela 2.10 Tabela 2.11 Tabela 2.12 Tabela 3.1 Tabela 3.2 Tabela 3.3 Tabela 3.4 Tabela 3.5 Tabela 3.6 Tabela 3.7 Tabela 3.8 Tabelas, quadros e graficos Indicadores de vulnerabilidade externa, Brasil e mundo: 1995-2006. Indices de vulnerabilidade extern a comparada, Brasil: 1995-2006. Vulnerabilidade externa do Brasil, Indicadores: governo Lula versus governo Cardoso. Os paises com os maiores spreads nos titulos no mercado internacional: 2002-2007. Indicadores de vulnerabilidade extern a conjuntural: 1994-2006. Transa~oes correntes: 1995-2006. Servi~os e rendas, valores acumulados: 1995/2006. Ingresso de Investimento Externo Oireto (IEO): 1990-2006. Fluxos Ifquidos de capitais: 1995-2006. Balan~a comercial: 1995-2006. Contribui~ao aDcrescimento do PIB (%). Evolu~ao das exporta~oes por fator agregado: 1999-2006. Padrao das exporta~5es por fator agregado: 1995-2006 (%). Padrao das exporta~oes por tipo de produto: 1995·2006 (%). Padrao das exporta~oes segundo grupos de produtos: 1999-2006. Padrao das exporta~oes segundo intensidade tecnol6gica dos produtos: 1999-2006. Participa~ao dos vinte principais produtos de exporta~ao (%]. Transa~oes correntes do balan~o de pagamentos: 2003-2006. Transa~oes correntes do balan~o de pagamentos, valores acumulados: 1995-2006. Metas e taxas de infla~ao: 2003-2006. Dfvida Iiquida do setor publico, anos selecionados: 1994-2006. Finan~as publicas, valores acumulados: 1995-2006. Renda, investimento e emprego: 2003·2006. Renda, investimento e emprego: governo Lula versus governo Cardoso. Perda de eficencia sistemica do Brasil: 2003-2007. Tabela 4.1 Tabela 4.2 Tabela 4.3 Tabela 4.4 Tabela 4.5 Tabela 5.1 TabeJa5.2 Tabela 7.1 Tabela 7.2 Tabela 7.3 Tabela 7.4 Tabela 7.5 Tabela 7.6 Tabela 7.7 Tabela 7.B Tabela 7.9 Tabela 7.10 Tabela 7.11 Ouadros Ouadro 1.1 Ouadro 1.2 Ouadro 2.1 Ouadro 2.2 Ouadro 3.1 Ouadro 3.2 Ouadro 4.1 Ouadro 4.2 VariilVeis macroeconomicas segundo 0 mandato presidencial: 1B90-2oo6. fndice de desempenho presidencial. indice de desempenho presidencial segundo a ordem de c1assifica~ao. oesempenho do governo Lula: sintese das variaveis e dos indices. oesempenho do governo LuJa:sintese das posi~oes segundo o Indice de desempenho presidencial e a analise de componentes principais. Ouadro 5.1 Ouadro 5.2 Ouadro ~.3 Ouadro 5.4 Ouadro 5.5 Ouadro 5.6 Ouadro 5.7 Ouadro 5.B Ouadro 5.9 Ouadro 5.10 Ouadro 5.11 Execu~ao do or~amento da Uniao, 2000-2006. Execu~ao do or~amento (social] da Uniao, 2000-2006. Financiamento das campanhas eleitorais para a Presidencia da Republica, segundo 0 setor economico: 2002 e 2006. Investimentos em infra-estrutura no PAC,acumulado: 2007-2010 Indicadores macroeconomicos previstos no PAC:2007-2010 Subestimativa de investimentos em logistica e transportes no PAC. Massa salarial, regioes metropolitanas, 2003-2006. Mais jovens fora da escola. Mortes e homicfdios de jovens: recordes mundiais. Maior desemprego dos jovens. Maior consumo de drogas e alcool pelos jovens. Jovens brasileiros emigram cada vez mais. Jovens pessimistas com 0 futuro. Cenarios macroeconomicos: 2007-2010. Ouadro 6.1 Ouadro 6.2 Ouadro 6.3 Ouadro 6.4 Ouadro 6.5 Ouadro 7.1 Ouadro 7.2 Ouadro 7.3 Vulnerabilidade externa: conceitos. Principais conclusoes: capitulo 1. Graflcos Graffco 1.1 Grafico 1.2 Grafico 1.3 Grafico 1.4 Grafico 1.5 Grafico 1.6 Grafico 1.7 Grafico 1.B Grafico 1.9 Grafico 1.10 Grafico 1.11 Grafico 1.12 Grafico 1.13 Grafico 1.14 ooen~a holandesa. Principais conclusoes: capitulo 2. Modelo liberal periferico. Principais conclusoes: capitulo 3. Lula: melhor do que JK ou quase tao ruim quanto Colior? Principais conclusoes: capitulo 4. Polfticas sociais de Estado. Importimcia da aposentadoria rural. Universaliza~ao versus focaliza~ao. Prouni. Conceitos inapropriados de ricos. Politicas focalizadas: 16gicaperversa. CPMF:desvios da saude para 0 pagamento de juros. Importimcia do Boisa Familia. Hegemon ia as avessas. "Nao existe reforma agraria no governo Lula". Principais conclusoes: capitulo 5. o transformismo segundo olavo Setubal. o transformismo segundo Cesar Benjamin. Etanol e seus efeitos. Lula e 0 lulismo. Principais conclusoes: capitulo 6. Risco de apagao de energia continua. Crescente custo ambiental. Principais conclusoes: capitulo 7. PIB mundial, var. %, media m6vel quatro anos: IB90-2oo6. PIB e investimento na economia mundial: 1999·2006. Taxa de investimento e investimento externo direto: 1999-2006. Infla~ao media mundial, IPC [%]: 1999-2006. Comercio mundial de bens, var. %: 1999-2006. Pre~os internacionais, var. %: 1999-2006. Deficit na conta corrente do balan~o de pagamentos, % do PIB: 1997-2006. Reservas internacionais: 1999-2006. Paises em desenvolvimento, contas externas (US$ bilhoes]: 1999-2006. Paises em desenvolvimento, indicadores das contas externas (%]: 1999-2006. Spreads dos titulos dos mercados emergentes: 199B·2006. Indicadores de progresso tecnico: 1999·2005. PIB mundial, var. % segundo 0 mandato presidencial: IB9o·2006. indices de vulnerabilidade externa, Brasil: 1995-2006. Grafico 2.1 Grafico 2.2 Grafico 2.3 Grafico 2.4 Grafico 2.5 Grafico 3.1 Grafico 3.2 Grafico 3.3 Grafico 3.4 Grafico 4.1 Grafico 4.2 Grafico 4.3 Grafico 4.4 Grafico 4.5 Grafico 4.7 Grafico 4.8 Grafico 4.9 Grafico 4.10 Graffeo 4.11 Grafico 4.12 Grafico 4.13 Grafico 4.14 Grafico 4.15 Graffeo 7.1 Grafico 7.2 Grafico 7.3 Grafico 7.4 Grafico 7.6 Grafico 7.7 Taxade cambio efetiva real, media movel12 meses: 1995-2006. Pagamentos de juros e taxas pelo Brasil ao FMI: 1984·2006. Termos de troca e rentabilidade das exporta~i5es. Exporta~i5es e PIB: 1995·2006. Exporta~i5es de bens e servi~os, contribui~ao % no crescimento do PIB:1995-2006. Introdu~ao Oivida Ifquida do setor publico (% do PIB): 2003-2006. Indice de Liberaliza~ao Economica: 1995-2007. Eficacia do governo e qualidade do aparato regulat6rio: 1996-2006. Respeito a lei e controle da corrup~ao: 1996-2006. Este livro analisa as politicas economicas e sociais do governo Lula e 0 desem- penho da economia brasileira a partir de 2003. As principais caracteristicas do texto saDas seguintes: (i) orienta~ao didatica; (ii) perspectiva historic a; (iii) ava- lia~ao critica; (iv) esfor~o de inova~ao analitica; (v) enfoque abrangente; (vi) abor- dagem da Economia Politica; (vii) carater prospectivo. Naturalmente, estes SaDos propositos dos autores. Cabe ao leitor julgar ate que ponto 0 livro atinge seus ob- jetivos. A orienta~ao didatica e necessaria, visto que 0 livro nao se destina apenas a economistas ou especialistas. Foi escrito para urn publico mais amplo: estudan- tes, profissionais de areas diversas e todos os interessados em entender melhor a atual situa~ao do pais e suas perspectivas. Para refor~ar 0 carater didatico, no fi- nal de cada capitulo ha urn quadro com a sintese das principais conclus6es. As quest6es ou os conceitos saDdefinidos da forma mais precisa e concisa possivel. Os conceitos tecnicos saD tratados nos anexos e em quadros especificos. No Anexo IV apresentam-se os principais conceitos usados no livro. A perspectiva historic a fornece 0 referencial adequado para a analise da dina- mica e do desempenho da economia brasileira. Essa perspectiva exige que a ava- lia~ao da politica economica do governo Lula e seus resultados leve em conta 0 contexto internacional. Nao ha como fazer uma analise robusta sem que se con- sidere 0 que esta acontecendo no resto mundo, ja que 0 grau de insen;:ao do pais no sistema economico internacional atingiu nlveis elevados. A analise do desempenho da economia brasileira tambem deve considerar 0 seu padrao his- torico de desenvolvimento. Ou seja, trata-se de comparar 0 seu atual desem- penho com 0 das economias do resto do mundo e com 0 seu proprio desem- penho ao longo da hist6ria. Neste ultimo caso, a referencia e todo 0 periodo republicano. A avalia~ao critic a das estrategias e politicas do governo Lula e uma exigen- cia do metodo cientifico. Rigor cientifico e honestidade intelectual exigem, an- PIB Brasil, var. %, media m6vel quatro anos: 1890-2006. PIB Brasil, fndice de desempenho presidencial. Hiato de cresci mento, media movel quatro anos. Hiato de cresci mento, indice de desempenho presidencial. Renda per capita do Brasil como percentual da renda per capita mundial: 1890-2006. Renda per capita do Brasil como percentual da renda per capita mundial: 1990-2006. Forma~ao bruta de capital fixo, var. %, media m6vel quatro anos. FBCF,indice de desempenho presidencial. Infla~ao %, media movel quatro anos. Infla~ao, indice de desempenho presidencial. Fragilfdade financeira %, media movel quatro anos. Fragilidade financeira, indice de desempenho presidencial. Vulnerabilidade externa %, media movel quatro anos. Vulnerabilidade externa, indice de desempenho presidencial. Indice de desempenho presidencial, media. 5alario minimo real, var. % anual em subperiodos: 1995-2011. Coeficiente de Gini: 1995-2005. Oistribui~ao primaria da renda [%): 2000-2005. Diferencial entre a varia~ao do salario medio e a varia~ao do PIBper capita: 1996-2006. Oiferencial entre a varia~ao do salario medio e a varia~ao do PIBper capita por subperiodos: 1995-2006. Rela~ao juro / salario: 1995-2006. Participa~ao dos grandes bancos no PIB (%J, porsubperiodos: 1995-2006. tes de tudo, 0 compromisso com uma analise critica desprovida de interesses. 0 objetivo e compreender a realidade da melhor maneira possivel - condiyao ne- cessaria para transforma-Ia. Essa questao e particularmente re1evante no Brasil no momenta atual, pois 0 debate sobre a realidade nacional esta empobrecido. Tra- ta-se, de fato, de uma situayao peculiar porque os intelectuais organic os do blo- co dorninante estao constrangidos. 0 governo Lwa esta implementando as es- trategias e politicas desse bloco, ate mesmo com resultados superiores, obser- vando-se os interesses de suas fray6es hegemonicas. Por outro lado, os intelectuais de esquerda, em sua maioria, estao tirnidos, visto que 0 governo Lula tem como principal base politica no Congresso 0 Partido dos Trabalhadores e conta com o apoio de organizay6es da sociedade civil (por exemplo, centrais sindicais). En- tretanto, esse governo aprofunda um mode1o de econornia, sociedade e politic a (mode1o liberal periferico) que consolida e aprofunda os atuais padr6es de do- rninayao no pais. Naturalmente, na literatura atual sobre 0 desempenho do go- verno Lula ha alguns trabalhos criticos, que estao referidos no texto, e outros que estao listados na bibliografia. o esforyo de inovayao analitica esta associado a introduyao de novos concei- tos (como vulnerabilidade externa estrutural e mode1o liberal periferico), ao aperfeiyoamento de indicadores (indice de Vulnerabilidade Externa Compara- da, indice de Desempenho Presidencial) e a aplicayao, ao Brasil, de conceitos ja existentes (transformismo, bloco dorninante). Esse esforyo busca uma com- "'"preensao rnais precisa da realidade brasileira contemporanea. o enfoque abrangente decorre da preocupayao de entender 0 governo Lula nas suas dimens6es econornica, social e politica. Freqiientemente, anilises parciais, centradas em uma dessas dimens6es, deixam de lado fatores re1evantes e tendem a se concentrar em movimentos mais conjunturais. Esses fatores, principalmen- te os de natureza estrutural, perrnitem uma visao mais geral e, portanto, mais di- narmca e organica da trajet6ria recente do Brasil e de suasperspectivas. Para ilus- trar, a maior parte dos observadores tem concentrado suas analises na evoluyao de indicadores de vulnerabilidade externa conjuntural. Por isso,ha uma tenden- cia a se negligenciar a crescente vulnerabilidade externa estrutural, decorrente do avanyo do processo de liberalizayao nas esferas produtivo-real, comercial e mo- necirio-financeira das re1ay6eseconornicas internacionais do pais. Outro exem- plo de parcialidade e fragilidade cientifica e a anilise econornica que despreza a influencia dos interesses do bloco dorninante na formulayao e execuyao das es- trategias dre governo. Adicionalmente, 0 fenomeno do "transforinismo"po1!tiCo-- promovido por Lula e pelo PT, de forma rapida e ampla, pegou de surpresa mui- tos "companheiros de viagem" e, inclusive, representantes do bloco dorninante. A abordagem da Econornia Politic a reside no uso de um metodo de analise em que os fenomenos econornicos estao vincwados diretamente a dinarmca dos interesses de grupos e classes sociais. Nesse metodo, a acumulayao de riqueza depende das estrategias e politicas de Estado. E 0 Estado e 0 espayo privilegia- do da disputa entre grupos e classes sociais. Portanto, a acumulayao de riqueza esta associada ao exercicio do poder ideol6gico, politico e econornico. o carater prospectivo do livro esta presente em todos os capitulos, especial- mente no ultimo. A analise das quest6es econornicas, sociais e politicas durante o governo Lula tem como referencia os elementos de conjuntura e, principal- mente, os eixos estruturantes das estrategias e politicas governamentais. 0 ob- jetivo e distinguir 0 que e estrutural e 0 que e conjuntural, 0 que e primario e o que e secundario. Esse procedimento perrnite uma visao mais clara das incer- tezas criticas existentes quanto a trajet6ria futura do pais.A anilise das perspec- tivas e apresentada de forma mais direta no ultimo capitulo, que avalia 0 Pro- grama de Ace1erayao do Crescimento (PAC) lanyado por Lula no inicio do seu segundo mandato em 2007, a questao estrutural da distribuiyao da riqueza e as perspectivas em geral. o livro esta dividido em sete capitulos. Os quatroprimeiros concentram-se em temas econornicos: contexto internacional, inseryao externa, politica e mo- de10 econornico, alem de desempenho em perspectiva hist6rica. 0 quinto capi- tulo trata da politica social, enquanto 0 sexto analisa 0 governo Lula levando em considerayao a dinarnica das classessociais,0 pape1do Estado e a atuayao dos gru- pos dorninantes. 0 setimo capitulo discute as perspectivas. Os principais argumentos e as principais conclus6es do livro sao apresentados a segulr. No capitulo 1 exarninam-se a evoluyao da econornia mundial e a questao da vwnerabilidade externa. A analise da situayao internacional abarca as quatro es- feras relevantes: produtivo-real, comercial, tecnol6gica e monetirio-financeira. A evidencia apresentada e conclusiva: a conjuntura internacional tem sido ex- traordinariamente favorave1desde 2003. Em poucos momentos da hist6rica eco- nornica mundial podem ser encontrados indicadores tao evidentes de uma fase ascendente de um ciclo economico. a contexto internacional favoravel e determinante para a evolu~ao da vul- nerabilidade externa, principalmente, dos paises em desenvolvimento. A vulne- rabilidade externa e entendida como a capacidade de determinado pais resistir a press6es, fatores desestabilizadores e choques externos. A acelera~ao da economia mundial, a partir de 2003, teve como uma das suas conseqiiencias mais evidentes a melhora generalizada dos indicadores de vulne- rabilidade externa co~untural do conjunto dos paises em desenvolvimento. a Brasil nao fugiu a essa regra. A evidencia empirica e conclusiva: os indicadores de vulnerabilidade externa conjuntural, que tendiam a melhorar desde a crise cambial de 1999, continuam progredindo durante 0 governo Lula. Nao houve melhora na vulnerabilidade externa da economia brasileira,compa- rativamente ao resto do mundo, durante 0 governo Lula.Trata-se, aqui, da vulne- rabilidade externa comparada, ou seja, de se analisar a evolu~ao dos indicadores brasileiros em rela~ao aos indicadores do resto do mundo. A metodologia de cal- culo do Jndice deVulnerabilidade Externa Comparada e apresentada no Anexo 1. as indicadores de vulnerabilidade externa comparada do Brasil nao apresentam avan~os significativos quando se confronta 0 periodo 2003-2006 com 0 periodo 1995-2002. No contexto de queda generalizada dos indicadores de vulnerabilida- de externa no conjunto da economia mundial, 0 governo Lula nao mostra de- sempenho superior ao do governo Cardoso. Na realidade, 0 indice de vulnerabili- dade externa comparada do Brasil durante 0 governo Lula e menor do que este mesmo indice no segundo mandato de Cardoso e maior do que 0 indice medio no'primeiro mandato. Considerando a media dos dois mandatos de Cardoso, 0 in- dice medio de vulnerabilidade externa comparada do governo Lula e maior. a corolario dos argumentos e da evidencia empiric a e que a melhora dos in- dicadores de vulnerabilidade externa conjuntural da economia brasileira, a par- tir de 2003, decorre de urn contexto internacional extraordinariamente favora- vel. No que diz respeito ao ajuste externo, nao ha motivos para se atribuir meritos especificos a condu~ao da politica economica do governo Lula.Ao con- trario. Esse governo manteve a me sma politica economica do governo anterior, sendo responsavel pela perda da extraordinaria oportunidade criada pelo con- texto internacional p6s-2003, que permitiria colocar 0 pais em uma trajet6ria de desenvolvimento economico estavel e dinamico. No capitulo 2 analisam-se em maiores detalhes a inser~ao do Brasil na econo- mia internacional e seu padrao de vulnerabilidade externa a partir de 2003. Nesse capitul~ distingue-se a vulnerabilidade externa conjuntural e a vulnerabilidade ex~ terna estrutural.a argumento geral e que as politicas do governo Lula reforc;:am0 avan~o de estruturas de produ~ao e padr6es de inser~ao internacional retr6grados, que tendem a aumentar a vulnerabilidade externa estrutural do pais. Nao ha du- vida de que a redu~ao dos indicadores de vulnerabilidade externa conjuntural de- corre fundamentalmente do desempenho favoraveldas exporta~oes.a crescimen- to das exporta~6es de bens primarios e a variavel fundamental que diferencia 0 de- sempenho da economia antes e depois de 1999 e,particularmente, a partir de 2003. No governo Lula configura-se urn processo de adapta~ao passiva e regressiva do pais ao sistema economico internacional, em geral, e ao sistema mundial de comercio, em particular. A maior competitividade internacional esta centrada nos produtos intensivos em recursos naturais e se da, no essencial, mantendo 0 mesmo padrao de especializa~ao ja existente. Ademais, 0 governo Lula e responsavel por anomalias como a forte aprecia- ~ao cambial e a exporta~ao de capital produtivo, bem como 0 pagamento de va- lores exttaordinariamente elevados ao FMI em urn contexto de melhora evi- dente das contas externas do pais.Vale destacar que a manuten~ao das linhas de credito junto ao FMI custou ao pais US$ 3,65 bilhoes na forma de pagamento de juros e taxas de administra~ao no periodo 2003-2006. Isto representou urn enorme desperdicio de recursos. A inser~ao passivado pais no sistema economico internacional tern como re- sultado 0 aumento da dependencia do crescimento do PIB em rela~ao a de- manda externa. Isto se deve, principalmente, ao crescimento da participa~ao das exporta~oes no PIB. a pais tornou-se estruturalmente mais vulneravel frente as oscila~oes da conjuntura internacional. a aumento da vulnerabilidade externa estrutural da economia brasileira de- corre tambem do aprofundamento do padrao de especializa~ao retr6grada que envolve a reprimariza~ao das exporta~oes, com a crescente participa~ao de pro- dutos primarios no valor das exporta~oes. a pais tern sido incapaz de promover o upgrade do seu padrao de comercio exterior. Ha perda de posi~ao relativa de produtos de exporta~ao com maior intensidade tecno16gica. as ganhos relati- vos tem ocorrido nos produtos de baixo conteudo tecnol6gico e nos produtos intensivos em recursos naturais. Como determinante da inser~ao passivano sistema economico internacional, cabe destacar a perda de dinamismo da industria de transforma~ao, com a espe- cializaij:aoem setores intensivos em recursos naturais e a desarticulaij:aode cadeias produtivas. A ausencia de progresso na estrutura produtiva implica consolidar urn padrao de inserij:ao retr6grada no sistema mundial de comercio, com cres- cente dependencia em relaij:aoa exportaij:ao de commodities. o desempenho recente do comercio exterior do Brasil nao resulta de trans- formaij:oes estruturais, mas de circunstancias conjunturais associadas as elevadas taxas de crescimento do comercio mundial e a melhora nos termos de troca. A melhora dos indicadores de vulnerabilidade externa conjuntural, decorrente do crescimento das exportaij:oes de commodities, nao tern impedido 0 aumento da vulnerabilidade externa estrutural da economia brasileira. No capitulo 3 avaliam-se a politica e a dinamica macroeconomic a do pais durante 0 governo Lula, bem como os seus determinantes estruturais. A analise da dinamica macroeconomica refere-se, em grande medida, ao desempenho da economia brasileira em questoes especificas, a saber, contas externas, inflaij:ao,fi- nanij:aspublicas, renda, investimento e emprego. A discussao dos determinantes estruturais esta vinculada as caracteristicas do modelo liberal periferico que sao aprofundadas e consolidadas a partir de 2003. Considerando que 0 conceito de modelo liberal periferico e central para a analise desenvolvida no livro, cabe explicita-lo desde 0 inicio. Esse modelo tern tres conjuntos de caracteristicas marcantes: liberalizaij:ao, privatizaij:ao e desregulaij:ao; subordinaij:ao e vulnerabilidade externa estrutural; e dominan- ci: do capital financeiro. 0 modelo e liberal porque e estruturado a partir da liberalizaij:aodas relaij:oeseconomicasinternacionais nas esferas comercial, pro- dutiva, tecnol6gica e monetario-financeira; da implementaij:ao de reformas no ambito do Estado (em especial na area da Previdencia Social) e da priva- tizaij:aode empresas estatais, que implica reconfigurar a intervenij:ao estatal na economia e na sociedade; e de urn processo de desregulaij:ao do mercado de trabalho, que reforij:a a exploraij:ao da forij:ade trabalho. 0 modelo e periferi- co porque e uma forma especifica de realizaij:ao da doutrina neoliberal e da sua politica economica em urn pais que ocupa posiij:ao subalterna no sistema economico internacional, ou seja, urn pais que nao tern influencia na arena in- ternacional e se caracteriza por significativa vulnerabilidade externa estrutu- ral nas suas relaij:oeseconomicas internacionais. Por fim, a dinamica macroe- conomica do modelo subordina-se a predominancia do capital financeiro e da l6gica financeira. o govetno Lula manteve a mesma politica economic a do segundo governo Cardoso: metas de inflaij:ao,ajuste fiscal permanente e cambio flutuante. Entre- tanto, a reduij:ao das restriij:oes externas tern possibilitado menor instabilidade macroeconomica. Essa oportunidade tern sido usada pelo governo Lula para re- forij:ar0 modelo liberal periferico e suas politicas economicas. Trata-se, pois, da continuidade e do aprofundamento do modelo. A melhora da situaij:aodas contas externas e causada pelos crescentes supera- vits comerciais que ultrapassam, a partir de 2003, os deficits estruturais da balanij:a de serviij:ose rendas. Entre os principais determinantes do desempenho da ba- lanij:acomercial, podem-se mencionar: a desvalorizaij:aocambial de 2002,0 cres- cimento das economias americana e chinesa, que puxaram 0 comercio mundial, a recuperaij:ao da Argentina e a disparada nos preij:osdas commodities. As taxas de inflaij:aocairam sistematicamente a partir de 2003. Os principais fatores determinantes sao: a apreciaij:aocambial, decorrente dos elevados saldos na balanij:acomercial e da manutenij:ao de grande diferencial entre as taxas de ju- ros interna e externa; a fraca pressao da demanda interna causada pelas politicas fiscais (mega-superavit primario) e monetaria Guros elevados); e a queda dos sa- larios reais durante a maiar parte do periodo. A mudanij:a do cenario internacional e a acentuada melhora das contas ex- ternas do pais tambem implicam resultados mais favoraveis para a trajet6ria da divida publica a partir de 2003. A reduij:ao relativa da divida total se deve a di- minuiij:ao sistematica da divida externa em todos os anos, tanto em valores ab- solutos quanto como proporij:ao do PIB. Por outro lado, a relaij:aodivida inter- na/PIB e crescente, pois tern havido a troca de divida externa, de maiar prazo e menor juro, por divida interna, de prazo menor e taxas de juros mais elevadas. Os governos Cardoso e Lula propiciaram ao capital financeiro mais de R$ 1 trilhao em juros ciadivida publica, 0 que correspondeu, em media, a 8% do PIB no segundo governo Cardoso e a 8,2% no governo Lula. Neste, as elevadas ta- xas de juros praticadas acarretaram pagamentos de R$ 590 bilhoes em juras, montante 61% maiar do que 0 acumulado entre 1999 e 2002. No governo Lula, a trajet6ria instavel e asbaixas taxas de crescimento do PIB estao associadas a taxas de investimento baixas e de desemprego altas.A evolu- ij:aomediocre do myel do produto, do investimento e do emprego e particular- mente impressionante porque ocorreu em uma conjuntura internacional bas- tante favoravel a partir de 2003. No governo Lula, a taxa media de crescimento do PIB (3,3%) foi maior do que as taxas crescimento dos dois governos Cardoso, que foram de 2,4% e 2,1%, respectivamente. Por outro lado, a taxa media de investimento do governo Lula (16,1%) e menor que as taxas dos governos Cardoso. No que se refere a taxa de desemprego, apesar da tendencia de queda durante 0 governo Lula, ela tern se mantido em niveis elevados, chegando a ser superior aos niveis observados du- rante 0 primeiro mandato de Cardoso. De urn ponto de vista estrurural, 0 governo Lula recolocou na ordem do dia a continua~ao do modelo liberal ao implementar a reforma da Previdencia dos servidores publicos, iniciar 0 processo de reforma sindical e sinalizar a reforma das leis trabalhistas. o governo Lula tern implementado uma serie de medidas para consolidar 0 modelo liberal periferico. Elas aumentam a volatilidade da conta de capital e fi- nanceira do balan~o de pagamentos. Portanto, consolida-se 0 modelo marcado pela enorme concentra~ao de riqueza e de renda, as reduzidas taxas de cresci- mento e investimento, a inser~ao internacional passiva e a grande vulnerabilida- de externa estrutural. Os efeitos do avan~o do processo de liberaliza~ao e desregulamenta~ao eco- nomic a nao se restringem as contas externas e a esfera da distribui~ao. A evi- dencia empirica disponivel aponta para uma perda de eficiencia sistemica da economia brasileira e urn retrocesso institucional durante 0 governo Lula. ~0 fato relevante e que 0 governo Lula reafirmou a politica economica her- dada do governo anterior e, apoiado no melhor desempenho conjuntural do se- tor externo, deu novo folego ao modelo, legitimando-o politicamente e soldan- do mais fortemente os interesses das diversas fra~oes de classesparticipantes do bloco de poder dominante. No capitulo 4 discute-se 0 desempenho da economia brasileira durante 0 go- verno Lula em perspectiva historica. As variaveis macroeconomicas analisadas saD:varia~ao da renda real; hiato de crescimento (diferencial entre a varia~ao da renda no Brasil e no mundo); acumula~ao de capital (varia~ao da forma~ao bru- ta de capital fixo); infla~ao (deflator implicito do PIB); fragilidade financeira do Estado (rela~ao divida interna/PIB); e vulnerabilidade externa (rela~ao divida externa/exporta~ao). 0 procedimento metodologico basico consiste em anali- sar a evolu~ao temporal de cada uma dessas variaveis ao longo da historia da Republica (1890-2006) e avaliar 0 desempenho economico segundo os man- datos presidenciais. Desde 0 inicio da Republica, 0 pais teve 28 presidentes, com trinta mandatos, visto que ate 2006 somente dois (Getulio Vargas e Fernando Henrique Cardoso) tiveram mais de urn mandato. 0 segundo mandato de Lu- la inicia-se em 2007 e nao esta contemplado na analise. No periodo 1890-2006, a renda real do Brasil cresce a taxa media anual de 4,5%. Durante 0 governo Lula (2003-2006) a taxa media anual de crescimento real do PIB e de 3,3%, ou seja, e inferior a 3/4 da taxa de crescimento de lon- go prazo. No conjunto de trinta mandatos na historia da Republica, 0 governo Lula esta na nona pior posi~ao.Assim, pelos padroes historicos brasileiros, 0 pe- riodo do primeiro mandato de Lula caracteriza-se pelo pifio desempenho do crescimento da renda. o hiato de crescimento expressa a diferen~a entre a taxa de crescimento do PIB brasileiro e a taxa de crescimento do PIB mundial. Ele indica a velocidade com que 0 pais esta encurtando a diferen~a entre seu nivel de renda e 0 nivel medio da renda mundial. 0 hiato secular de crescimento da economia brasilei- ra (media do periodo 1890-2006) e de 1,2%, que e 0 diferencial entre a taxa media anual de crescimento economico de longo prazo do Brasil (4,5%) e a ta- xa media anual de crescimento de longo prazo da economia mundial (3,2%). No periodo do governo Lula,o hiato medio anual e negativo (-l,5%),pois a eco- nomia brasileira cresce a taxa media anual de 3,3%, que e menor do que a taxa de crescimento da economia mundial (4,9%). Levando em conta os mandatos presidenciais, constata-se que 0 governo Lula ocupa a 27" pior posi~ao. Somen- te outros tres presidentes (Horiano, Collor e Castelo Branco) tiveram desempe- nhos inferiores.A evidencia e conclusiva: 0 Brasil "anda para tras" durante 0 go- verno Lula, pois ha hiato de crescimento negativo, ou seja, a economia brasilei- racresce a taxas significativamente menores do que a economia mundial. 0 desempenho de Lula consegue ser pior do que 0 desempenho dos dois manda- tos de Fernando Henrique Cardoso. No que se refere a acumula~ao de capital, a taxa media de crescimento real da forma~ao bruta de capital fixo (FBCF) no Brasil e de 4,2% no periodo 1890- 2006. Durante 0 governo Lula, a taxa media anual de varia~ao da FBCF e 3,5%, abaixo da taxa media historica. Comparativamente aos outros presidentes, Lula mostra desempenho insatisfatorio: esta na decima primeira pior posi~ao. A taxa media de infla~ao e de 15,7% no periodo republicano, se for exc1uido o periodo de alta infla~ao (1984-1994), e de 138,4% se esse periodo for consi- derado. Durante 0 governo Lula, a taxa media de inflac.;ao(8,7%) e muito infe- rior a taxa media da historia da Republica. Nao resta duvida de que esse gover- no tern sido bem-sucedido no combate a inflac.;ao.Somente outros onze presi- dentes lograram manter a inflac.;aoem mveis inferiores ao da taxa observada em 2003-2006. Na historia da Republica, a relac;;aomedia divida publica interna/PIB e de 7,5%. No periodo 2003-2006 a relac;;aodivida interna/PIB mostra tendencia crescente e atinge 0 mais alto nivel de endividamento publico da historia do Brasil (Imperio e Republica). A relac.;aochega a 45% em 2006. Pelos padroes historicos brasileiros, 0 governo Lula e responsavel pela mais alta relac.;aodivida interna/PIB da historia do pais. A analise da vulnerabilidade externa concentrou-se na relac;;aodivida exter- nal exportac;;ao de bens, tendo em vista as limitac;;oesde dados para urn perio- do historico tao longo. A media dessa relac;;aoe de 203% no periodo 1890- 2006. Durante 0 governo Lula essa relac;;aose reduz a metade entre 2002 (365%) e 2006 (181%). Sao numeros bastante significativos e mostram urn de- sempenho muito favoravel, permitindo que Lula ocupe a nona melhor posi- c;;aono conjunto dos presidentes. Como discutido no capitulo 2, 0 governo Lula tern se beneficiado de uma conjuntura internacional extraordinariamen- te favoravel. Os indicadores macroeconomicos mostram que, pelos padroes historic os brasileiros, 0 governo Lula tern desempenho mediocre ou desfavocivel quan- to a~crescimento economico, ao hiato de crescimento, a acumula~ao de capi- tal e as financ;;aspublicas. Por outro lado, tern desempenho favoravel no con- trole da inflac.;aoe na reduc;;aodo mvel de endividamento externo. A aprecia- c;;aogeral do desempenho do governo Lula e feita com base no Indice de Desempenho Presidencial (lOP). A metodologia de caIculo desse indice e apre- sentada no Anexo II. o lOP medio de Lula (43,8) e o.quarto mais baixo, sendo inferior a media (57,5) e a mediana (58,7) do conjunto de presidentes brasileiros. Ou seja, no que se refere ao desempenho da economia brasileira, Lula e 0 quarto pior presiden- te da historia da Republica. Somente os governos Sarney, Cardoso (segundo mandato) e Collor tern desempenho pior. No Anexo III hi 0 caIculo dos indices de desempenho dos governos no pe- riodo republicano com base na tecuica de Analise de Componentes Principais (ACP). Os ~esultadosobtidos com aACP confirmam os resultados do lOP. Ade- mais, quando se "desconta" 0 efeito da conjuntura economica internacional a ACP mostra que os dois piores desempenhos da historia republicana sao 0 go- verno Cardoso (segundo mandato) eo governo Lula. Ou seja, mesmo modelo, politicas similares, resultados igualmente mediocres. No capitulo 5 investigam-se a natureza e as principais caracteristicas da politi- ca social do governo Lula.0 principal argumento e que essapolitica tern estrei- ta relac;;aocom a politica economica liberal-ortodoxa, legada pelo governo anterior como uma "heranc;;amaldita", mas mantida e aprofundada pelo novo governo. A visao dominante sobre politicas sociais restringe 0 tratamento e a analise das desigualdades de riqueza e renda e da pobreza, assim como limita as politicas publicas ao ambito apenas das classes trabalhadoras e de seus rendimentos. Essa visao, adotada pelo governo Lula, deixa de fora as causas estruturais desses feno- menos, bem como desconsidera os rendimentos do capital, ambos localizados no :imago das relac;;oesentre as classes sociais. o Banco Mundial e a organizac;;aoque formulou 0 conceito restrito de po- breza que passou a ser adotado internacionalmente, bem como propos a adoc.;ao de politicas sociais focalizadas.A sintese do debate sobre politicas sociais univer- sais e politicas sociais focalizadas evidencia a logica perversa destas ultimas. Tais politicas tern natureza mercantil: concebem a reduc.;ao da pobreza como urn "born neg6cio" e transformam 0 cidadao portador de direitos e deveres sociais em consumidor tutelado, por meio da transferencia direta de renda. E a selec.;ao, para que os individuos e familias participem desses programas, subordina-se a criterios "tecnicos" definidos ad hoc, a depender do governo de plantao e do ta- manho do ajuste fiscal- uma operac;;aoideo16gica que despolitiza 0 conflito dis- tributivo. A critica da politica social do governo Lula destaca sua estreita relac;;aoe com- patibilidade com a politica economic a praticada. A politica social e a contraface do ajuste fiscal, isto e, dos elevados supecivits primirios definidos desde 0 se- gundo governo Cardoso e que 0 governo Lula manteve, estabelecendo metas ainda mais elevadas.Na realidade, 0 conteudo da politica social do governo Lu- la, no essencial, e 0 mesmo da politica social do governo anterior, apesar dos discursos em contrario, que tentam diferencia-la - apresentando-a como uma politica (supostamente) articulada a medidas de natureza estrutural de combate a pobreza. A politica social do governo Lula, tal como a sua politica economica, e tambem de natureza liberal, coerente com 0 modelo economico vigente. Serve como po- deroso instrumento de manipula'rao politica de uma parcela significativa da so- ciedade brasileira, ao mesmo tempo em que permite urn discurso "politicamente correto". a principal eixo da atual politica social eo Boisa Familia, programa que resulta em uma politica assistencialista,com grande potencial clientelista. Essa politica social combina perfeitamente a flexibilizayao e precariza'rao do trabalho com programas focalizados e flexiveis de comb ate a pobreza. Ambos regidos pela mesma 16gica: 0 curto prazo, 0 imediatismo inconseqiiente, inter- ven'roes pontuais e precarias, que, para nao se contrapor a "ordem economica neoliberal", subordinam-se ao reino da conveniencia, sem mudar e sem intervir nas causas estruturais dos problemas da sociedade brasileira. No capitulo 6 evidenciam-se a natureza e a composi'rao do atual bloco de po- der dominante, bem como a sua rela'rao organica com 0 modelo liberal perife- rico e com a politica macroeconomica implementados pelo governo Lula. Este, no fundamental, tern trilhado 0 mesmo caminho daquele que 0 precedeu, dan- do nova legitimidade a urn modelo economico - e a sua politic a macroecono- mica - que, do ponto de vista politico, parecia estar em estado terminal no final do segundo governo Cardoso. A disputa travada atualmente no Brasil, sobre 0 nivel da taxa de juro e 0 ta- manho do superavit fiscalprimario, nao se resume apenas a melhor forma de ma- nipular, conjunturalmente, 0 instrumento usual da politica moneciria, ou mes- mo a pertinencia ou nao de se redefinir 0 conjunto da politica macroeconomi- ca. Alem disso, e mais importante, 0 que esta em jogo e a mudan'ra ou manuten'rao do modelo economico atual, com as suas correspondentes politi- cas macroeconomicas e sociais.A mudan'ra tern como condi'rao previa, indubi- tavelmente, a derrota politica do atual bloco de poder dominante. a transformismo do governo Lula se expressa no prosseguimento da politi- ca economica implementada no segundo governo Cardoso, desde a crise cam- bial de janeiro de 1999, e no refor'ro do modelo dominante.Lula e a alianya po- litica que 0 elegeu adaptaram as suas a'roes, 0 seu programa e a sua politica aos limites da disputa das diversas fra'roes do capital. Eles mantem em primeiro pla- no os interesses e a politica economic a do capital financeiro. Na mesma linha do segundo governo Cardoso, 0 governo Lula tambem destaca a imporcincia das ex- porta'roes para a redu'rao da vulnerabilidade externa. Durante 0 governo Lula assiste-se a crise das institui'roes politicas e de repre- sentayao politica (dos sindicatos e partidos). Essa crise decorre tanto do proces- so objetivo de redefini'rao da composi'rao da classe trabalhadora como da coop- ta'rao politico-institucional de parcela importante das dire'roes sindicais e parti- darias. A crise de representa'rao e fortemente alimentada pelo governo Lula, ao rea- lizar 0 arnilgama entre governo, partido e sindicato, na mais pura tradi'rao stali- nista ("fora de lugar") de aparelhamento do Estado e transforma'rao das organi- za'roes de massa em "correias de transmissao" do governo. a comportamento subserviente da CUT ao governo Lula e a indica'rao do presidente da entidade para ocupar 0 cargo de ministro do Trabalho sao exemplos paradigmatic os des- se fenomeno. No contexto da domina'rao financeira, 0 modelo liberal e incapaz de incor- porar, mesmO parcialmente, as demandas mais significativas das classes trabalha- doras, especimmente dos seus segmentos organizados. Portanto, resta ao mode- 10 articular de forma precaria e marginal a massa pauperizada e desorganizada, por meio de politicas sociais focalizadas de carater assistencialista. Dai a necessidade do governo Lula controlar politicamente os movimentos so- ciais e sindical por meio da coopta'rao - material e ideol6gica - das suas dire- 'roes. a objetivo e reduzir as tensoes e impedir a sua autonomia, dificultando, as- sim, as ayoes de mobiliza'rao e construyao de urn projeto democratico-popular alternativo ao do bloco dominante. Acentua-se a balcaniza'rao do Estado brasileiro, que expressa a redu'rao da au- tonomia relativa do Estado frente aos interesses imediatos dos setores dominan- tes. Mais especificamente, as distintas frayoes do capital se apoderam abertamente de segmentos do aparelho estatal. Com 0 governo Lula, 0 capital financeiro man tern 0 controle sobre 0 mi- nisterio da Fa~enda e 0 Banco Central, e, entre outros aspectos, exige a inde- pendencia legal deste ultimo - pois ja a conquistou na pratica.A partir dessas duas instituiyoes, 0 capital financeiro determina a politica economica e con- trola a execu'r~o do ar'ramento federal, subordinando as a'r0es do Estado nas demais areas. No limite, se necessario, amea'ra desestabilizar economica e po- liticamente 0 pais. a agroneg6 cio e os interesses exportadores, por sua vez, apoderam-se do Mi- nisterio da Agricultura e do Ministerio do Desenvolvimento, da Industria e do Comercio Exterior. A partir desses 6rgaos, defendem seus interesses (por exem- plo, conseguiram aprovar a libera<;aodos transgenicos na agricultura e obtiveram medidas compensat6rias para 0 cambio valorizado). o governo Lula renovou 0 patrimonialismo e 0 empreguismo na rela<;aodo governo com as dire<;oesdos partidos que compoem a sua base de apoio e com os dirigentes sindicais. Os instrumentos sao, principalmente, as diretorias dos fundos de pensao das empresas estatais (Previ, Petrus e Funcd) e os conselhos dos bancos oficiais. Cargos publicos sac ocupados por sindicalistas e funcionirios do Partido dos Trabalhadores, com poder de decisao sobre 0 direcionamento de vultosos recursos financeiros. Nao obstante as diferen<;as,0 modus operandi do governo Lula e do PT nao e significativamente distinto daquele do PSDB. No fundamental, a equa<;ao e composta pelas mesmas variiveis: financiamento das campanhas pelo bloco do- minante, nepotismo e ocupa<;ao patrimonialista do Estado, rela<;oesfisio16gi- cas como balizador dos acordos e rela<;oesutilitaristas com os grandes grupos econornicos.O diferencial e 0 uso funcional das politicas assistencialistas.Ao se agregar 0 assistencialismo na equa<;ao acima, compreende-se 0 fenomeno do "lulismo". o capitulo 7 destaca as perspectivas para 0 segundo mandato do governo Lu- la. Esti dividido em quatro se<;oes.A primeira aborda 0 Programa de Acelera- <;aodo Crescimento (PAC) que foi lan<;adoemjaneiro de 2007 e inclui diretri- "'" zes~gerais para 0 futuro. 0 PAC e urn documento hibrido e, definitivamente, nao e urn plano de desenvolvimento.A se<;aochama aten<;aopara a ausencia de mudan<;assignificativas nas diretrizes estruturais do processo de acumula<;ao de capital fixo e 0 refor<;o da dinamica do modelo liberal periferico. 0 PAC reve- la, tambem, a ausencia de mudan<;assignificativas no padriio de gestao macroe- conomica. Nao hi razoes para perspectivas otimistas. Na segunda se<;aodiscute-se 0 tema fundamental da distribui<;ao de riqueza e renda. 0 argumento central e que a tendencia observada a partir de 1998, de melhora na distribui<;ao pessoal da renda, nao reflete mudan<;as estruturais. Ou seja, a distribui<;ao funcional da renda, que contrapoe trabalhadores e capitalis- tas, nao se altera.0 argumento e verdadeiro tanto para 0 governo Cardoso quan- to para 0 governo Lula. Nessa questao tambem nao hi perspectivas otimistas. o Brasil parece experimentar urn processo peculiar em que a melhora da dis- tribui<;ao pessoal da renda (que exclui, em grande medida,juros e lucros), vem acompanhada de uma piora na distribui<;aofuncional da renda (d~~~T;d;;,~~~-::'--~'~--- lirios; de outro,juros e lucros). Na ausencia de sinais evidentes de mudan<;asno padriio de acumula<;ao de capital e na gestao macroeconomica, e muito provi- vel que esse processo peculiar continue avan<;andono futuro pr6ximo. A terceira se<;aotrata das perspectivas futuras do Brasil a partir da 6ptica dos jovens. Para os autores do livro, e uma 6ptica fundamental, visto que tambem so- mos educadores preocupados com 0 futuro das novas gera<;oes.Aevidencia rnos- tra que 0 Brasil tern indices de violencia muito elevados, e a violencia atinge, principalmente, a popula<;aomais jovem. Houve aumento do consumo de taba- co, bebidas alc06licas, maconha, solventes e cocaina no pais no periodo 2001- 2005, afetando principalmente osjovens. Nos ultimos anos, tern crescido signi- ficativamente a taxa de desemprego entre eles. Hi tambem nitida tendencia de aumento do numero de brasileiros que emigram. Durante 0 governo Lula atin- ge-se 0 nivel recorde de emigrantes brasileiros para os Estados Unidos, princi- palmente jovens. Nao surpreende a evidencia de que os jovens brasileiros este- jam pessimistas em rela<;aoao futuro. Na quarta se<;aochama-se aten<;aopara 0 fato de que os cenarios otimistas pa- ra 0 segundo governo Lula (2007-2010) tern em comum a rnanuten<;ao do con- texto internacional favoravel e das diretrizes da atual politica macroeconornica: metas de infla<;ao;superivit fiscal primirio; cambio flutuante; e liberaliza<;aoex- terna. Esses cenirios implicam: taxa de infla<;aoconstante; redu<;aogradual da ta- xa de juro real; manuten<;ao do nlvel e do processo de aprecia<;aoreal do cam- bio; menor grau de restri<;aodos gastos publicos de investimento; deficits fiscais decrescentes; redu<;aogradual do superivit das contas de transa<;oescorrentes do balan<;o de pagamentos; redu<;ao dos gargalos setoriais na infra-estrutura fisica; melhoras marginais na situa<;aosocial; manuten<;ao da governan<;a e da gover- nabilidade; continuidade e consolida<;aodo bloco dominante; e estabilidade do modelo liberal periferico. A distin<;aofundamental entre os cenirios economicos otimistas reflete, fun- damentalmente, diferen<;asquanto a evolu<;aoda economia mundial, da taxa de investimento da economia brasileira e das restri<;oesna infra-estrutura. Estas sac incertezas criticas, cujo comportamento futuro pode nao corresponder as hip6- teses dos cenirios otimistas.Ademais, hi outras incertezas criticas que sao des- prezadas pelos otimistas como, por exemplo, governan<;a, governabilidade, ro- bustez institucional e coesao do bloco dominante. o capitulo termina mostrando que, no inicio do segundo governo Lula, pros- segue 0 processo de desarticulac;:aodos campos politico-ideoI6gicos, com a ocor- rencia de mais uma serie de escandalos envolvendo a base de sustentac;:aodo go- verno e 0 Congresso Nacional.A pequena politic a predomina cada vez mais. Do ponto de vista economico, 0 pais parece viver mais urn miniciclo de oti- mismo. Mesmo no interior das correntes criticas, 0 debate e a ac;:aopolitica ten- dem a se restringir a fiscalizac;:aoda implementac;:ao do PAC, a possibilidade se obter maiores taxas de crescimento e a dinamica da relac;:aoentre a taxa de juro e 0 cambio. Portanto, 0 questionamento do modelo liberal periferico e, conse- qiientemente, do bloco de poder dominante continua, no essencial, ausente do processo politico em curso. Em que pese os sinais de descontentamento e mo- bilizac;:aode alguns segmentos do movimento social, estes estao circunscritos, es- sencialmente, ao plano economico-corporativo. A eventual reversao da atual conjuntura internacional tera impactos decisivos sobre a dinamica da economia brasileira. Essa mudanc;:atera urn efeito desesta- bilizador tanto maior quanto mais fragil for a inserc;:aointernacional de cada pais. Se e quando isso ocorrer, qualquer que venha a ser 0 futuro governante do Bra- sil, as fragilidades do pais reaparecerao com toda a forc;:a,evidenciando mais uma vez os limites estruturais do modelo liberal periferico e da sua politica macroe- conomica. A economia brasileira e marcada por forte vulnerabilidade externa nas esferas monetario-financeira, produtivo-real, tecnol6gica e comercial. Esta tern sido, his- toricamente, a principal restric;:aoestrutural ao nosso processo de desenvolvi- mento economico. 0 pais tern baixa capacidade de resistencia a pressoes, fato- res desestabilizadores e choques extern os; ademais, os processos de ajuste a esses fenomenos implicam alto custo para a sociedade.A conseqiiencia imediata e que as estrategias e politicas economicas, bem como 0 desempenho da econornia, sao determinados, em grande medida, pelo contexto internacional. Se, por urn lado, e verdade que 0 Brasil tern elevada vulnerabilidade externa estrutural, por outro, tambem e verdade que ha algum grau de liberdade nas es- trategias e politicas de ajuste. Portanto, conjunturas externas desfavoraveis nao significam, necessariamente, urn fraco desempenho da economia brasileira. Nes- se caso funciona 0 mecanismo desafio-resposta: frente a incertezas, riscos e cus- tos impostos pela situac;:aointernacional, os grupos dirigentes, por razoes diver- sas (inclusive a pr6pria sobrevivencia politica), adotam politicas de ajuste pr6-ati- vas e eficazes. Ha exemplos hist6ricos relevantes. No primeiro governo Vargas,para se pro- teger dos efeitos causados pela Grande Depressao de 1929 e que se estenderam pela decada de 1930, os grupos dirigentes implementaram estrategias e politicas que representaram uma ruptura com 0 modelo herdado da Primeira Republi- ca. No conjunto das medidas mais importantes, vale destacar a renegocia<;:aoda divida externa e 0 impulso a industrializac;:ao.Exemplo mais recente e 0 do go- verno Geisel, que por meio do II Plano Nacional de Desenvolvimento, em 1974, tambem permitiu melhorar qualitativamente a economia brasileira, a fim de re- duzir sua vulnerabilidade externa, principalmente, nas esferas comercial, produ- tivo-real e tecnol6gica. No entanto, no caso do governo Geisel houve serio er- ro estrategico: parte do financiamento da acumulac;:aode capital foi baseada no endividamento externo. Isso implicou 0 aumento da vulnerabilidade externa fi- nanceira do pais, que ficou evidente quando a crise da divida externa edodiu em 1982. o principal objetivo deste capitulo e analisar 0 contexto internacional no pe- Dodo p6s-2002. Trata-se de examinar a situac;:ao economic a internacional que, en. suas diferentes esferas, define as condic;:oes externas que afetam a dinamica da ec onomia brasileira. Esta dinamica abrange as estrategias, as politicas e 0 pr6prio desempenho da economia nacional. o ponto de partida da analise e que a conjuntura internacional tem sido par- ticularmente favoravel desde 2003. Muitos especialistas identificam esse feno- meno como um "choque externo positivo". Mas, independentemente das qua- lificac;:oes, 0 fato e que a situac;:ao economica internacional tem sido muito fa- voravel em todas as esferas das relac;:oes economicas internacionais, ou seja, nas esferas comercial, produtivo-real, tecnol6gica e monetario-financeira. o capitulo esta dividido em tn~Ssec;:oes.Na primeira apresenta-se evidencia empirica condusiva a respeito da expansao da economia mundial desde 2003.A evidencia abarca as esferas mencionadas acima, com 0 exame de indicadores es- pecificos para cada um.a delas. Na segunda sec;:ao analisa-se a vulnerabilidade externa da economia brasilei- ra no periodo 2003-2006, considerando as condic;:oes internacionais. 0 contex- to internacional favoravel tem pennitido um progresso generalizado nos indi- cadores de vulnerabilidade externa conjuntural dos paises, inclusive aqueles com elevada vulnerabilidade externa estrutural da Africa e da America Latina. 0 Bra- sil nao e excec;:ao. Portanto, cabe analisar em que medida os indicadores de vul- nerabilidade extern a conjuntural do Brasil melhoram vis-a-vis os indicadores do resto do mundo. Como houve progresso generalizado, a discussao relevante e saber se 0 Brasil tem. avanc;:o relativo. 0 argumento central desta sec;:ao e que, durante 0 governo Lula a melhora foi determinada exogenamente; em termos c omparativos, nao se alterau a vulnerabilidade externa do pais. Considerando que 0 atual pracesso de expansao da economia mundial deve- ra sofrer reversao em algum momenta no futuro, e fundamental identificar os avanc;:os relativos. E estreito e tecnicamente fragil focal' a analise exdusivamente rra evoluc;:ao de indica do res brasileiros sem considerar 0 Contexto internacional. Subjacente ao enfoque proposto neste capitulo esta a seguinte percepc;:ao l6gi- ca: os paises que nao obtem melhoras relativas na fase ascendente do cido in- t ernacional saD aqueles que, ceterisparibus, tem mais chances de ser afetados pOl' fatores desestabilizadores externos na fase descendente do ciclo. Este parece ser o caso do Brasil, pois os indicadores de vulnerabilidade externa comparada nao mostram tendencia de evoluc;:ao favoravel durante 0 governo Lula. A ultima sec;:aoapresenta a sintese da evidencia empirica e das principais con- clusoes do capitulo. o Quadro 1.1 resume os distintos conceitos de vulnerabilidade externa usa- dos neste capitulo e nos seguintes. Ouadro1.1 Vulnerabilidade externa: Conceitos Vulnerabilidade externa e a capacidade de resistencia a pressoes, fatores desestabili- zadores e choques externos. Vulnerabilidade extern a conjuntural e deterrninada pelas op<;:oese custos do processo de ajuste externo. Avulnerabilidade externa conjuntural depende positivamente das op- <;:oesdisponiveis e negativamente dos custos do ajuste externo. Ela e, essencialmente, um fen6meno de curto prazo. Vu/nerabilidade externa estrutural decorre das mudan<;:asrelativas ao padrao de co- mercia, da eficiencia do aparelho produtivo, do dinamismo tecnol6gico e da robustez do sistema financeiro nacional. Avulnerabilidade extern a estrutural e determinada, prin- cipalmente, pelas process as de desregulamenta<;:ao e liberaliza<;:aonas esferas comer- cial, produtivo-real, tecnol6gica e monetario-financeira das rela<;:oesecon6micas inter- nacionais do pais. Ela e, fundamentalmente, um fen6meno de longo prazo. Vu/nerabilidade externa comparada e dada peladesempenho externo relativo de deter- minado pais comparativamente ao desempenho externo relativo de outros paises. Ela expressa a compara<;:aoentre paises do diferencial relativo de indicadores de in;;er<;:ao econ6mica internacional. 1. Cicio internacional favoravel Nesta sec;:ao apresenta-se evidencia empirica a respeito da evoluc;:ao da eco- nomia I11undial nas esferas pradutivo-real, comercial, monerario-financeira e tecnol6gica. 1.1 Esfera produtivo-real A taxa secular de crescimento real da renda mundial - taxa media no periodo 1890-2006 - e 3,2%, e no mesmo periodo a mediana das taxas de crescimento anual e 3,8%. Durante 0 governo Lula (2003-2006) a taxa media de crescimen- to real da renda mundial foi de 4,9%. Portanto, na esfera produtivo-real, a eco- nornia mundial tem tido, no periodo 2003-2006, um desempenho muito supe- rior a sua media e mediana desde 1890. au seja, 0 contexto internacional tem sido muito favoravel: no periodo 2003-2006, a taxa de crescimento econornico real foi 50% maior do que a media historica. Com a taxa secular, a econornia mundial duplicava a renda mundial em 22 anos, enquanto com a taxa media do periodo 2003-2006 a duplica~ao ocorre em 14 anos. Con juntura econornica tao favoravel ja ocorreu em outros momentos histo- ricos: segunda metade da decada de 1920; segunda metade da decada de 1930; Segunda Guerra Mundial; inicio da decada de 1950 ate 0 final da de 1970; e de meados da decada de 1990 ate 0 momenta atual. a comportamento cic1ico da econornia mundial e mostrado no Grmco 1.1. Grafico 1.1 PIB mundial, var. %, media m6vel quadrlenal: 1890·2006 QuaPldo se considera a amplia~ao da capacidade produtiva,tambemnca evi-.~---- dente 0 dinarnismo da esfera produtivo-real. a crescimento e robusto na medi- da em que a taxa de investimento na econornia mundial cresceu continuamen- te a partir de 2003, como mostra 0 Grafico 1.2. Esta taxa aumenta de 20,8% em 2002 para 22,8% em 2006. a grafico mostra, ainda, a forte correla~ao entre a ta- xa de crescimento do PIB e a taxa de investimento na econornia mundial, bem como a tendencia de eleva~ao dessas taxas a partir, principalmente, de 2003. GrMico 1.2 PIB e investimento na economia mundlal: 1999-2006 23,0 22,S 22,0 21,S 21,0 20,S 20,0 19,5 2006 A expansao da produ~ao e da renda gera volumes crescentes de excedente econornico que sao usados para expandir a capacidade global de produ~ao. Tra- ta-se, de fato, do avan~o do processo de globaliza~ao produtivo-real. Ponanto, a eleva~ao do volume de investimentos nao expressa somente 0 dinarnismo das econornias domesticas. A evidencia apresentada no Grafico 1.3 aponta para 0 crescimento do investimento externo direto a partir de 2003 e sua forte rela~ao com a taxa media de investimento da econornia mundial. Portanto, 0 processo de acumula~ao de capital tambem ocorre em escala global por meio do avan~o do processo de internacionaliza~ao da produ~ao via compra de ativos produti- vos no exterior, principalmente, por parte das grandes empresas internacionais (empresas transnacionais). Grafico 1.3 Taxa de investimento e investimento externo direto: 1999·2006 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0 2006 Hi inumeras causas do atual ciclo de expansao da econornia mundial. A mais importante refere-se ao dinamismo das"locomotivas" do sistema economico in- ternacional, a saber, Estados Unidos e China. Os Estados Unidos tern tido crescimento medio real do PIB de 3,2% no pe- riodo 2003-2006, proximo da sua taxa media secular (3,3%).No entanto,o efei- t'O"locomotiva" dos Estados Unidos, que responde por 20% do PIB mundial (conceito paridade do poder de compra, PPP), decorre da natureza das suas po- liticas macroeconornicas e do seu impacto sobre 0 restante da economia mun- dial. No periodo em questao, as politicas monetaria e fiscal tern sido expansio- nistas, embora a tendencia tenha sido reduzir 0 grau de expansionismo dessaspo- liticas. Em 2001-2002, a econornia dos Estados Unidos teve fraco desempenho. Havia riscos de profundo ciclo recessivo.0 governo, entao, por meio de politi- cas expansionistas, decidiu retirar a economia dessa trajet6ria. Isto significou, na pratica, a reduyao da taxa de juro e 0 aumento dos gastos publicos. A taxa de juro bisica nos Estados Unidos foi reduzida do nlvel medio de 6,4% em 2000 e chegou a 1% em 2003. Os gastos publicos cresceram: 0 saldo fiscal do governo central (como propon;ao do PIB) saiu do superavit de 2,0% em 2000 para 0 deficit de 4,8% em 2003. Revertido 0 ciclo recessivo de 2001-2002, a taxa de juro aumentou continuamente a partir de 2003 ate chegar a 5% em 2006. 0 deficit fiscal do governo central reduziu-se para 2,6% em 2006. pc:,~~;=. tro lado, a relayao entre a divida publica liquida (governo central) e 0 PIB au- mentou de 41,1% em 2003 para 43,4% em 2006. o "efeito locomotiva" dos Estados Unidos se transmite internacionalmente por meio do deficit das contas de transayoes correntes do balanyo de pagamen- tos do pais. Esse deficit aumentou continuamente, de US$ 472 bilhoes em 2002 para US$ 857 bilhoes em 2006. Como proporyao do PIB, 0 deficit passou de 4,5% em 2002 para 6,5% em 2006. Ele tern urn efeito multiplicador nao des- prezivel sobre 0 conjunto da econornia mundial. Alem das politicas macroeconornicas expansionistas, a dinamica da econornia estadunidense tambem tern sido deterrninada, na esfera financeira, pelo "efeito riqueza". Esse efeito e provocado pela elevayao dos preyos das a<;oese dos ati- vos reais (im6veis). 0 aumento desse tipo de riqueza "induz maiores gastos de consumo e investimentos na economia estadunidense. A taxa de investimento nos Estados Unidos mostra nitida tendencia de alta no periodo 2003-2006. Essa taxa aumenta continuamente de 18,4% em 2003 para 20,0% em 2006. 0 aumento do investimento, por seu turno, expressa 0 dinamis- mo tecnol6gico estadunidense, principalmente na industria de computadores. Os avan<;osnessa industria tern se disserninado pelo conjunto da economia, e uma das conseqiiencias e 0 aumento de produtividade, que permite 0 aumento da produyao com menor intensidade no uso de fatores de produyao, especialmente 0 trabalho. o "efeito locomotiva" da China decorre, fundamentalmente, da sua "veloci- dade" e do seu crescente peso relativo na economia mundial.Atualmente, a eco- nomia chinesa responde por 15% do PIB (PPP) mundial. No periodo 2003- 2006, a econornia chinesa cresceu a taxa media anual de 1O,3%.Vale destacar que as taxas anuais saDcontinuamente crescentes no periodo. Em 2003, a taxa foi de 10,0%; em 2006, chegou a 10,7%. o principal fator deterrninante da expansao chinesa e a elevada taxa de in- vestimento, que tern crescido continuamente nos ultimos anos.A rela<;aomedia entre a forma<;aobruta de capital fixo e 0 PIB e de 40%.0 dinamismo da eco- nomia chinesa decorre, ainda, da sua enorme competitividade internacional. No que se refere aos paises desenvolvidos da Europa e ao )apao, aspoliticas fis- cais e monetarias expansionistas tambem tern provocado melhora no desempe- nho economico em 2003-2006 comparativamente ao desempenho observado na decada de 1990. A expansao das "locomotivas" tambem tem se transmitido internacionalmente por meio do comercio.A exporta<;ao tem sido importante Fonte de expansao da renda, principalmente, em paises da Asia. Um dos destaques e a India, que tem tido elevadas taxas de crescimento economico nos llltimos anos. Na realidade, a expansao do comercio mundial e, ao mesmo tempo, causa e conseqiiencia da expansao da produ<;ao. 0 crescimento da demanda por im- portac,:oes, principalmente, dos Estados Unidos e da China, tem sido importan- te fonte de expansao das exporta<;oes e, portanto, da renda em escala global. A economia mundial tem tido elevadas tax as de crescimento com taxas rela- tivamente baixas de infla<;ao, como mostra0 Grafico 1.4. De fato, ha importan- tes transforma<;oes estruturais que tem tido impacto global (Filgueiras, 2003, cap. 1).0 aumento da produtividade, 0 acirramento da concorrencia internacional, a liberaliza<;ao comercial e financeira, a desregulamenta<;ao do mercado de tra- balho e os fluxos migrat6rios tbl1 sido os fatores determinantes da reduzida pres- sao inflacionaria nos ultimos anos. GrMico 1.4 Infla~aomedia mundial,lPC (%): 1999·2006 - - - Parses em desenvolvimento, media ""~ Parses em desenvolvimento, mediana _ Parses desenvolvidos, media [eixo da direita] A taxa media de infla<;ao mundial (pre<;os ao consumidor) se estabilizou em torno da media de 3,7% no periodo 2003-2006. No caso dos paises desenvolvi- dos, a taxa media de infla<;ao tem sido da ordem de 1,9%, enquanto para os pai- ses em d~senvolvimento as medias e as medianas cbs taxas de infla<;ao tem osci- lado em torno de 5,5%. Essa estabilidade ocone apesar da significativa eleva<;ao dos pre<;os das comll/odities internacionais a partir de 2003. 1.2 Esfera comercial A atual fase ascendente do cicio da economia mundial caracteriza-se pelo cres- cimento do volume de comercio exterior e pela eleva<;ao dos pre<;os interna- cionais, como mostra 0 Grafico 1.5. De fato, acelerou-se 0 processo de interna- cionaliza<;:ao da produ<;:ao via comercio mundial, pois 0 crescimento real das ex- porta<;:oes e superior ao crescimento real do PIB mundial em todos os an os do periodo em questao. GrMico 1.5 Comercio mundial de bens, var. %: 1999·2006 ~,,,,,,,, ,, \ \ \ \ \ \ -6 1999 A pressao dos pre<;os internacionais nao e desprezivel, especialmente no caso do petr6leo e de outras commodities, como mostra 0 Grafico 1.6. No periodo 2003-2006 0 petr6leo acumula eleva<;:ao de pre<;:os superior a 150%, enquanto as outras commodities acumulam aumentos de pre<;os de 80%. A acelera<;:ao dos pre<;os internacionais abrange tambem os mallufaturados, que acumularam au- mentos de pre<;os de 35% no periodo em questao. GrMico 1.6 Pre~os internacionais, var. %: 1999·2006 1.3 Esfer'a monetario·financeira a dinamismo da economia mundial gerou aumento do excedente economico, que se materializou na expansao dos investimentos em escala global. No entan- to, esse excedente tambem se orienta para aplicafi:oesfinanceiras internacionais. Tern crescido 0 nivel de liquidez internacional (quantidade de ativos moneta- rios) e a quantidade de ativos financeiros negociados internacionalmente. a fator determinante do aumento da liquidez internacional e, sem duvida, 0 chamado "deficit gemeo" dos Estados Unidos, ou seja, 0 deficit das contas ex- ternas e 0 deficit das contas publicas. a resultado e que 0 restante da economia mundial encontra-se frente a uma situafi:aode "excesso de d6Iares". Nao e por outra razao que, por exemplo, 0 d6lar se desvalorizou 30% em relafi:aoao euro entre 2002 e 2006. De fato, a contrapartida do aumento do deficit de transafi:oes correntes dos Estados Unidos e a diminuifi:ao deste mesmo deficit no resto do mundo, como mostra 0 Grafico 1.7. -20 1999 GrMico 1.7 Deficit na conta corrente do balan~ode pagamentos, % do PIB: 1997·2006 a determinante mais importante da elevafi:aodos prefi:osinternacionais tern sido a pressao de demanda decorrente das elevadas taxas de crescimento da ren- da. Adernais, cabe destacar a crescente importancia da China na economia mun- dial e sua demanda por materias-primas e produtos agricolas. Em 2005, a Chi- na toi responsavel por 7,3% do valor das exportafi:oesmundiais de bens (tercei- ro lugar, depois da Alemanha e dos Estados Unidos) e 6,1% do valor das importafi:oesmundiais de bens. au seja, ao se tornar urn "pais grande", as taxas extraordinariamente elevadas de investimento e crescimento economico chine- sas exigem volumes crescentes de insumos - principalmente, produtos primarios - que sac comprados no mercado internacional. Naturalmente, ha fatores especificos que explicam 0 comportamento dos pre- fi:osinternacionais de cada uma das commodities. Por exemplo, no caso do petr6leo ha inumeras incertezas criticas que, de uma forma ou de outra, afetaram ou conti- nuam a influenciar a formafi:aode prefi:osdesta commodity. Entre estes fatores podem ser destacados:pressao de demanda (EstadosUnidos e China); conflito na Russia; guerra no Iraque; sabotagem naVenezuela e na Nigeria; risco de sabotagem naAra- bia Saudita; apreciafi:aodo d6lar; especulafi:ao;estoques baixos nos paises consumi- dores; baixa capacidade ociosa; atuafi:aoda aPEP; e cacistrofes naturais. A evidencia da expansao da liquidez internacional e dada pelo volume de re- servas internacionais mundiais. Essas reservas mais do que duplicam entre 2002 e 2006: passam de US$ 2,4 trilhoes no final de 2002 para US$ 4,9 trilhoes em 2006, como mostra 0 Grafico 1.8.A relafi:aoentre as reservas internacionais e 0 PIB mundial aumentou continuamente, de 10,9% em 2002 para 14,1% em 2006. Grafico 1.8 Reservas internacionals: 1999-2006 -- Reservas internacionais mundiais / PIB mundial·(%l, exc!. EUA - Reservas internacionais mundiais, Total, US$ bilhoes (excl. EUA) A conjuntura financeira internacional e especialmente favoravelpara os paisesem desenvolvimento que tern problemas estruturais de vulnerabilidade externa.A me- lhora dos indicadores de vulnerabilidade financeira externa e generalizada e con- tinua ao longo do periodo 2003-2006. 0 saldo da conta corrente do balan<;:ode pagamentos desses paises aumenta de US$ 77 bilhoes em 2002 para US$ 544 bi- lhoes em 2006, como mostra 0 Grafico 1.9.A melhora do saldo global das contas e~ernas permitiu que as reservas internacionais desses paises praticamente tripli- cassem,passando de US$ 1.075 bilhOesem 2002 para US$ 3.019 bilhOesem 2006. Grafico 1.9 Pafses em desenvolvimento, contas externas (US$ bilhoes): 1999·2006 -- Saldo em conta corrente do balan~o de pagamentos - Reservas intemacionais Indictdores relativos tambem apontam para a redu<;:aoda vulnerabilidade fi- nanceira conjuntural dos paises em desenvolvimento, como mostra 0 Gcifico 1.lO.A rela<;:aoentre as reservas internacionais e as importa<;:oesde bens e servi- <;:osaumenta de 55,3% em 2002 para 71,4% em 2006. Ademais, verifica-se sig- nificativo processo de desendividamento externo ao longo do periodo. A rela- <;:aoentre a divida externa e a exporta<;:aode bens e servi<;:osreduziu-se de 119% em 2002 para 67% em 2006.Vale destacar que essas tendencias abarcam movi- mentos continuos dos indicadores ao longo do periodo em questao. Grafico 1.10 Parses em desenvolvimento, lndicadores das contas externas (%): 1999-2006 -- Reservas intemacionais / lmportayoes de bens e servir;:os [%) -- Divida external Exporta«;.oes de bens e servi«;.os (%) A melhora dos indicadores tern como conseqiiencia a redu<;:aoda percep<;:ao de risco a respeito dos paises em desenvolvimento. A queda do risco-pais e ge- neralizada. 0 indicador mais evidente desse processo e 0 spread dos titulos dos paises em desenvolvimento negociados no mercado financeiro internacional. 0 spread e 0 diferencial entre a taxas de juros efetivas dos titulos desses paises e as taxas dos titulos correspondentes emitidos pelo governo dos Estados Unidos. A partir de 2003 ha queda praticarnente continua dos spreads do conjunto dos cha- mados mercados emergentes, como mostra 0 Grafico 1.11. Essa queda tambem ocorre nos paises da America Latina que, de modo geral, sac considerados de al- to risco, inclusive 0 Brasil. GrMico 1.11 Spreads dos tftulos dos mercados emergentes: 1998-2006 GrMico 1.12' Indicadores de progresso tecnico: 1999-2005 2,30 2,25 2,20 2,15 2,10 2.05 600+-------r-----,-----r-------r---~----.._---_+2,OO ._---------- ..~. ----....- -- Patentes aplicalfoes. residentes ••••• Royalties e licenc;:as, pagamentos(US$ milh5es] • - - Pesqujsa
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