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CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA

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CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA
1. INTRODUÇÃO	
Direito penal econômico: conjunto de normas jurídicas com o objetivo de sancionar condutas que lesionem ou ameacem bens jurídicos no âmbito das relações jurídicas econômicas.
Os crimes contra a ordem tributária estão inseridos no direito penal econômico. 
Também fazem parte do direito penal econômico: Gestão temerária e fraudulenta – art. 4º da Lei n. 7.942/1986; Contabilidade paralela e evasão de divisas – arts. 11 e 22 da Lei n. 7.942/1986; Crimes contra o mercado de capitais – mercado mobiliário (Lei n. 6.385/1976) e a lei corporativa brasileira (Lei n. 6.404/1976); Lavagem de capitais – Lei n. 9.613/1998; Fontes energéticas – Lei n. 8.176/1991.
Crimes tributários:
Evasão: há fraude, ardil, engano visando a redução ou eliminação do pagamento de tributo, de forma ilícita.
Elisão: uso medidas legais, normativas, jurisprudenciais para reduzir ou até eliminar um tributo, de forma lícita.
Bem jurídico tutelado: é a integridade do Erário, da ordem tributária. Busca-se garantir a arrecadação de recursos para arcar com as atividades essenciais do Estado. Além disso, nos crimes funcionais contra a ordem tributária, busca-se tutelar a probidade administrativa.
É a “política socioeconômica do Estado, como receita estatal, para obtenção dos recursos necessários à realização de suas atividades” - Luiz Regis Prado. Direito penal econômico. São Paulo: RT, 2004. p. 408.
Sujeito Ativo: Em regra, são crimes comuns (não exigem qualidade especial do agente), podendo ser praticados por qualquer pessoa. Contudo, os crimes praticados por funcionário público, previstos no art. 3º da Lei 8.137/91, são crimes próprios, visto que exigem a qualidade especial do sujeito ativo, qual seja, a de ser um funcionário público.
- Há doutrina entendendo que são crimes próprios sempre, pois somente o contribuinte ou responsável tributário poderiam pratica-los.
O art. 173, § 5º, da CF estabelece a responsabilidade penal da pessoa jurídica por crimes contra a ordem econômico e financeira e contra a economia popular: “§ 5º A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular”.
Contudo, não há regulamentação em lei deste dispositivo, ao contrário do que ocorre com os crimes ambientais, onde a Lei 9.605 prevê expressamente a responsabilidade penal da pessoa jurídica.
Assim, a responsabilidade penal por crime contra a ordem tributária recai apenas sobre a pessoa física, a título de dolo, jamais à título de culpa.
Não basta que o sujeito seja sócio da sociedade devedora do tributo. No âmbito penal, a responsabilidade é subjetiva, devendo-se demonstrar o dolo ou culpa do agente, individualizando-se a sua conduta.
“O simples ingresso formal de alguém em determinada sociedade civil ou mercantil – que nesta não exerça função gerencial e nem tenha participação efetiva na regência das atividades empresariais – não basta, só por si, especialmente quando ostente a condição de quotista minoritário, para fundamentar qualquer juízo de culpabilidade penal. (HC 73590/SP – Celso de Mello, 06/08/1996)”
“DENÚNCIA – VALIA – CRIME TRIBUTÁRIO. Constando da denúncia a narração dos fatos, revelando-se o papel dos acusados na administração da empresa, presentes crimes tributários, descabe cogitar de inépcia. (STF-HC 103104/ – Marco Aurélio, pub. 14/02/2012)”
Sujeito passivo: é o ente público responsável pelo tributo suprimido, reduzido, etc.
- Se for a União (II, IE, IOF, ITR, IPI, IR) -> competência da Justiça Federal. A Polícia Federal terá a competência investigativa.
- Se for o Estado, o DF ou Município -> Competência da Justiça Estadual.
* Quando uma mesma pessoa sonega tributos de competência da União e do Estado não haverá a reunião de processos, por conexão, na Justiça Federal:
“1. Não há conexão entre a ação penal oriunda da Justiça Estadual, que se processa por crime de sonegação de ICMS, tributo estadual, estando o bem jurídico tutelado diretamente relacionado à Fazenda estadual do Rio Grande do Sul, e aquela outra em trâmite na Vara Federal Criminal de Bauru-SP. (...) sendo apurados os crimes de sonegação de IPI, PIS e COFINS, todos tributos de natureza federal, sendo o fisco federal lesado. 2. Os bens jurídicos tutelados são diversos e a violação a eles atinge distintas esferas do Poder Público, devendo cada crime ser apurado no juízo respectivo, de acordo com as regras de competência, processualmente previstas. 3. Habeas corpus denegado. (HC 90205/RS – Cármen Lúcia, 16/02/2006)”.
Princípio da Insignificância: atualmente, STF e STJ aplicam o princípio da insignificância para os crimes materiais tributários cujo valor consolidado seja igual ou inferior a R$ 20.000,00.
REsp 1.688.878-SP: Incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho quando o débito tributário verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a teor do disposto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, com as atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130, ambas do Ministério da Fazenda (julgado em 2018).
M – mínima ofensividade da conduta;
A – ausência de periculosidade social;
R – reduzidíssimo grau de reprovabilidade da conduta;
I – inexpressividade da lesão jurídica provocada.
Elemento subjetivo específico: não se contentam com o mero inadimplemento, exigindo-se também o ardil, a fraude, o engano para a caracterização da conduta. Os crimes contra a ordem tributária requerem o ardil, o engano visando a redução ou supressão de tributo.
Estado de necessidade: a jurisprudência admite a exclusão da ilicitude, nos crimes contra a ordem tributária, em razão do estado de necessidade (perigo atual, não criado pelo agente, que não podia evitar ou não era razoável exigir o sacrifício. Ex: crise financeira na empresa).
Exercício regular de direito: os casos de isenção, não incidência ou imunidade tributárias, também excluem a antijuridicidade.
Classificação quanto ao resultado:
Material: são crimes cuja consumação exige um resultado naturalísico. Ex: homicídio. No caso dos crimes contra a ordem tributária, o delito será material quando houver prejuízo para o Erário (não arrecadação do tributo). 
Formal: o tipo penal descreve o comportamento e um resultado, mas a consumação não exige a produção desse resultado. Ex: extorsão. O descaminho é um exemplo de crime formal contra a ordem tributária, pois sua consumação não exige prejuízo para a arrecadação tributária.
O pagamento do tributo devido não extingue a punibilidade do crime de descaminho (art. 334 do CP. (...).A Quinta Turma do STJ, alinhando-se ao entendimento da Sexta Turma e do STF, passou a considerar ser desnecessária, para a persecução penal do crime de descaminho, a apuração administrativa do montante de tributo que deixou de ser recolhido, tendo em vista a natureza formal do delito, o qual se configura com o simples ato de iludir o pagamento do imposto devido pela entrada de mercadoria no país. Na ocasião, consignou-se que o bem jurídico tutelado pelo art. 334 do CP vai além do valor do imposto sonegado, pois, além de lesar o Fisco, atinge a estabilidade das atividades comerciais dentro do país, dá ensejo ao comércio ilegal e à concorrência desleal, gerando uma série de prejuízos para a atividade empresarial brasileira. (...). RHC 43.558-SP, julgado em 5/2/2015, DJe 13/2/2015.
SV 24 STF: “não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, I a IV, da Lei 8.137/1990, antes do lançamento definitivo do tributo”.
O lançamento definitivo do tributo, para a caracterização do crime material contra a ordem tributária, é uma condição objetiva de punibilidade. Em tese, a prática da conduta descrita no tipo já configura o delito, mas é possível discutir a existência do crédito tributário acaso ele ainda não esteja definitivamente constituído pelo lançamento.
Essa discussão é feita em uma ação civil, ou mesmo em processo administrativo tributário, o que gera a suspensão do processo penal (questão prejudicial – art. 92 do CPP). 
No processo penal, o lançamento é uma condição de procedibilidade específica da ação penal.
* Há entendimento minoritário sustentando que o lançamento é para o direito penal um elemento normativo do tipo penal.
* Enunciados 9, 12 e 13 da Edição nº 90 do Jurisprudência em Teses do STJ:
“9) A constituição regular e definitiva do crédito tributário é suficiente à tipificação das condutas previstas no art. 1º, I a IV, da Lei n. 8.137/90, de forma que o eventual reconhecimento da prescrição tributária não afeta a persecução penal, diante da independência entre as esferas administrativo-tributária e penal”.
“12) O parcelamento integral dos débitos tributários decorrentes dos crimes previstos na Lei n. 8.137/90, em data posterior à sentença condenatória, mas antes do seu trânsito em julgado, suspende a pretensão punitiva estatal até o integral pagamento da dívida (art. 9º da Lei n. 10.684/03 e art. 68 da Lei n. 11.941/09)”.
“13) A pendência de ação judicial ou de requerimento administrativo em que se discuta eventual direito de compensação de créditos fiscais com débitos tributários decorrentes da prática de crimes tipificados na Lei n. 8.137/90 não tem o condão, por si só, de suspender o curso da ação penal, dada a independência das esferas cível, administrativo-tributária e criminal”.
Consunção: se o uso de documento falso teve somente a finalidade de cometer delito contra a ordem tributária, pune-se somente o delito fim, restando o crime-meio absolvido (STJ: Resp 1162691). Orientação semelhante se extrai da súm. 17 do STJ, pela qual o falso fica consumido pelo crime de estelionato quando nele se exaure.
Denúncia genérica e denúncia geral: a denúncia genérica é aquela que não individualiza a conduta dos agentes, colocando no polo passivo todos os sócios da pessoa jurídica. Não é admitida, uma vez que prejudica a ampla defesa e não reúne as exigências legais (é inepta). Por outro lado, a denúncia geral é aquela que demonstra minimamente a conduta delituosa de cada acusado. É admitida nos crimes societários/de gabinete/de autoria coletiva.
É inepta a denúncia que, ao imputar a sócio a prática dos crimes contra a ordem tributária previstos nos incisos I e II do art. 1º da Lei 8.137/1990, limita-se a transcrever trechos dos tipos penais em questão e a mencionar a condição do denunciado de administrador da sociedade empresária que, em tese, teria suprimido tributos, sem descrever qual conduta ilícita supostamente cometida pelo acusado haveria contribuído para a consecução do resultado danoso. (...). Cabe ressaltar que uma denúncia deve ser recebida se atendido seu aspecto formal (artigo 41 c/c 395, I, do CPP), identificada a presença tanto dos pressupostos de existência e validade da relação processual, quanto das condições para o exercício da ação penal (artigo 395, II, do CPP), e a peça vier acompanhada de lastro probatório mínimo a amparar a acusação (art. 395, III, do CPP). Nesse contexto, observa-se que o simples fato de o acusado ser sócio e administrador da empresa constante da denúncia não pode levar a crer, necessariamente, que ele tivesse participação nos fatos delituosos, a ponto de se ter dispensado ao menos uma sinalização de sua conduta, ainda que breve, sob pena de restar configurada a repudiada responsabilidade criminal objetiva. Não se pode admitir que a narrativa criminosa seja resumida à simples condição de acionista, sócio, ou representante legal de uma pessoa jurídica ligada a eventual prática criminosa. Vale dizer, admitir a chamada denúncia genérica nos crimes societários e de autoria coletiva não implica aceitar que a acusação deixe de correlacionar, com o mínimo de concretude, os fatos considerados delituosos com a atividade do acusado. Não se deve admitir que o processo penal se inicie com uma imputação que não pode ser rebatida pelo acusado, em face da indeterminação dos fatos que lhe foram atribuídos, o que, a toda evidência, contraria as bases do sistema acusatório, de cunho constitucional, mormente a garantia insculpida no inciso LV do artigo 5º da Constituição Federal. HC 224.728-PE, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 10/6/2014.
	LEI 8.137/91
	Art. 1º
	Crimes praticados por particulares contra a administração tributária.
	Art. 2º
	Também são crimes praticados por particulares contra a administração tributária. Aqui, o legislador criminalizou atos preparatórios.
	Art. 3º
	Crimes praticados por funcionários públicos contra a administração tributária.
2. CRIMES
2.1. ARTIGO 1º
“Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:
I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias”.
No inciso primeiro, há dois verbos:
Omitir: é crime omissivo próprio, razão pela qual não admite tentativa;
Prestar: é comissivo, um comportamento ativo. É passível de fracionamento, em tese, admitindo-se a tentativa.
É crime material, pois exige a supressão ou redução do tributo, causando prejuízo ao Erário.
Quando o crime for cometido na modalidade prestar informação falsa, não há que se falar em concurso com o crime de falso, nem tampouco em consunção. Nesse caso, o falso, seja material ou ideológico, é elementar do crime contra a ordem tributária, que é lei especial em relação ao art. 299 do CP.
“II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal”
Novamente, o delito tem dois verbos nucleares:
Inserir: crime comissivo. Admite tentativa.
Omitir: crime omissivo. Não admite tentativa.
Nesse caso, a fraude ou omissão recai sobre os livros fiscais. No inciso I, a informação era prestada à autoridade fazendária. Aqui, o agente frauda a fiscalização ao inserir ou omitir informações em livro fiscal.
É crime material, pois exige a supressão ou redução do tributo, causando prejuízo ao Erário.
Nesse inciso, o falso não é elementar do tipo, de maneira que, praticando o agente um crime de falso como meio para a prática do delito contra a ordem tributária, será possível se falar em consunção, caso o falso seja exaurido nessa infração.
“III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro documento relativo à operação tributável”
O tipo faz uso da interpretação analógica quando alude a “qualquer outro documento”.
Refere-se a operação tributável, de forma que o delito não fica configurado quando se tratar de hipótese de isenção, imunidade, alíquota zero ou não incidência tributárias.
É tipo comissivo, exigindo um fazer consistente na falsificação ou alteração de documento relativo à operação tributária.
Aqui, o falso é elementar do tipo, não havendo que se falar em consunção ou concurso de crimes.
É crime material, pois exige a supressão ou redução do tributo, causando prejuízo ao Erário.
Não se confunde com o crime de duplicata simulada, previsto no artigo 172 do CP: “Art. 172. Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou ao serviço prestado. Pena – detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrerá aquêle que falsificar ou adulterar a escrituração do Livro de Registro de Duplicatas”.
Na duplicata simulada, não há ofensa à ordem tributária, mas sim ao patrimônio (é crime contra o patrimônio semelhante ao estelionato – 171). O agente vende um objeto, mas emite o titulo de crédito onde consta bem diverso, ou o mesmo bem, mas em quantidade ou qualidade diferente.
“IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou inexato”
Pode ser falsidade ideológica ou documental.
Elaborar é criar o documento. Distribuir é repassar o documento. Utilizar é fazer
uso do documento. 
Que saiba = dolo direto. 
Deva saber = dolo eventual.
Comete esse crime, por exemplo, a empresa que vende notas fiscais falsas (distribuir ou fornecer documento que sabe ser falso). Do mesmo modo, a pessoa que compra e utiliza essas notas também comete o crime (utilizar documento que sabe ser falso).
É crime material, pois exige a supressão ou redução do tributo, causando prejuízo ao Erário.
“V - negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente, relativa a venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo com a legislação”
É crime de mera conduta, instantâneo, razão pela qual há parcela da doutrina defendendo se tratar de crime formal, bastando a realização da conduta descrita no tipo para a configuração do delito. A SV 24 do STF se refere aos crimes materiais do inciso I a IV, não aludindo ao inciso V.
O tema não é pacífico, pois outra parte da doutrina defende que o delito é material, tendo em vista o caput do dispositivo, onde se exige a supressão ou redução do tributo.
O enunciado nº 10 da edição nº do Jurisprudência em teses do STJ dispõe que “O delito do art. 1º, inciso V, da Lei n. 8.137/90 é formal e prescinde do processo administrativo-fiscal para o desencadeamento da persecução penal, não se sujeitando aos termos da súmula vinculante n. 24 do STF”.
Pena - reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Parágrafo único. A falta de atendimento da exigência da autoridade, no prazo de 10 (dez) dias, que poderá ser convertido em horas em razão da maior ou menor complexidade da matéria ou da dificuldade quanto ao atendimento da exigência, caracteriza a infração prevista no inciso V.
No caso do parágrafo único, a doutrina majoritária entende que o crime é formal, uma vez que basta a mera falta de atendimento da exigência da autoridade dentro do prazo para configurar o delito.
A pena máxima de 5 anos de reclusão impede o arbitramento de fiança pelo Delegado.
2.2. ART. 2º
São os crimes de sonegação imprópria, pois a sua consumação não exige redução ou supressão de tributos. Portanto, em tese, são crimes formais ou de consumação antecipada, não exigindo resultado naturalístico para a consumação, muito embora ele seja previsto (supressão ou redução do tributo). 
Conforme será apontado, há exceções em que o delito será material.
“Art. 2° Constitui crime da mesma natureza:
I - fazer declaração falsa ou omitir declaração sobre rendas, bens ou fatos, ou empregar outra fraude, para eximir-se, total ou parcialmente, de pagamento de tributo”
Fazer declaração falsa: crime comissivo;
Omitir declaração: crime omissivo. Não admite tentativa.
O delito é um tipo subsidiário do crime previsto no art. 1º, I, da Lei 8.137. As condutas de omitir informação ou fazer declaração falsa, se acompanhadas da supressão ou redução do tributo, configuram o delito do art. 1º, I. Contudo, essas mesmas condutas, caso não consigam reduzir ou suprimir o tributo, caracterizarão o delito do art. 2º, I.
“II - deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou de contribuição social, descontado ou cobrado, na qualidade de sujeito passivo de obrigação e que deveria recolher aos cofres públicos”
(Apropriação indébita tributária) Trata-se de crime omissivo. Aqui, o agente desconta ou cobra valor referente a tributo do contribuinte e, na condição de responsável tributário, tem o dever de repassar esse montante ao fisco. Não efetuando esse repasse, incorre no delito.
Ex: imposto de renda retido na fonte não recolhido aos cofres públicos.
Se o tributo for contribuição previdenciária, há um tipo específico: o art. 168-A do CP (apropriação indébita previdenciária), que tem pena mais grave (reclusão de 2 a 5 anos). 
A doutrina defende que essa modalidade é material, pois, ao deixar de recolher o montante descontado, o prejuízo ao Erário é ínsito. Além disso, o crime não se contenta com o desconto do valor, se consumando apenas quando ultrapassado o prazo para o recolhimento do tributo.
Segundo a doutrina, é um crime omissivo por comissão: primeiro o agente desconta o valor do tributo para então deixar de recolher dentro do prazo.
Sendo omissivo, não admite tentativa.
“III - exigir, pagar ou receber, para si ou para o contribuinte beneficiário, qualquer percentagem sobre a parcela dedutível ou deduzida de imposto ou de contribuição como incentivo fiscal”
Prevalece que o crime é formal, bastando exigir ou receber a parcela dedutível.
Nesse caso, há um incentivo fiscal que permite a dedução de parcela do imposto, mas o agente cobra o valor deduzido ou dedutível, o que encarece o produto e aumenta o lucro do vendedor, impedindo que a isenção gere os efeitos pretendidos na economia.
IV - deixar de aplicar, ou aplicar em desacordo com o estatuído, incentivo fiscal ou parcelas de imposto liberadas por órgão ou entidade de desenvolvimento
Novamente, há incentivo fiscal aplicável ao caso, o que normalmente ocorre quando o governo pretende obter finalidade extrafiscal com o tributo. Ao deixar de aplicar ou aplicar o incentivo em desacordo com o estatuído, a medida não alcança seus efeitos na economia, configurando o delito contra a ordem tributária em análise.
Para a doutrina, o inciso prevê crime formal, não exigindo efetivo prejuízo para a administração pública. 
V - utilizar ou divulgar programa de processamento de dados que permita ao sujeito passivo da obrigação tributária possuir informação contábil diversa daquela que é, por lei, fornecida à Fazenda Pública.
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Nesse caso, o agente cria uma contabilidade paralela/dupla, um caixa 2. O programa de dados salva uma informação contábil para uso privado do contribuinte e uma contabilidade diversa para o fisco.
Não é necessário a ocorrência de prejuízo. Entretanto, se em razão desse programa, o agente lograr reduzir ou suprimir direito, poderá incorrer no crime material contra a ordem tributária previsto no artigo 1º, por exemplo:
I - omitindo informação, ou prestando declaração falsa às autoridades fazendárias;
II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal;
III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro documento relativo à operação tributável;
Como a pena prevista pelo art. 2º é de até 2 anos, todas as modalidades delitivas nele inseridas são de menor potencial ofensivo, sendo aplicável a lei 9.099/95, bem como as medidas despenalizadoras como a transação penal e o sursis processual. A composição civil dos danos não pode ocorrer, pois nesse caso o bem jurídico é a arrecadação tributária.
2.3. ART. 3º - CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO
São crimes funcionais, pois se exige qualidade especial do sujeito ativo (ser funcionário público).
I - extraviar livro oficial, processo fiscal ou qualquer documento, de que tenha a guarda em razão da função; sonegá-lo, ou inutilizá-lo, total ou parcialmente, acarretando pagamento indevido ou inexato de tributo ou contribuição social;
O extravio deve ser doloso, não havendo o crime se o agente perder o documento por ato culposo.
Trata-se de crime material, uma vez que a parte final do dispositivo exige como resultado o pagamento indevido ou inexato de tributo.
É um crime especial ao delito previsto no artigo 314 do CP: “Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de quem tem a guarda em razão do cargo; sonega-lo ou inutiliza-lo, total ou parcialmente. Pena – reclusão de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave”.
No crime da lei 8.137/90, o funcionário público deve ser ligado ao fisco, à fazenda pública.
II - exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de iniciar seu exercício, mas em razão dela, vantagem indevida; ou aceitar promessa de tal vantagem, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição
social, ou cobrá-los parcialmente. Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
Trata-se de crime especial em relação ao delito de concussão (art. 316) e de corrupção passiva (art. 317) previstos no Código Penal.
Quando o verbo for exigir, o tributo deve ser devido, pois se houver exigência de tributo indevido, haverá crime de excesso de exação, previsto no art. 316, § 1º, do CP.
Se o verbo for solicitar e o tributo for indevido, haverá crime de corrupção passiva (art. 317 do CP), pois o agente estará visando a obtenção de vantagem indevida. 
A lei 8.137/90 não prevê um tipo penal para o caso de o particular oferecer a vantagem indevida, razão pela qual incorrerá no crime de corrupção ativa, previsto no artigo 333 do CP.
III - patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração fazendária, valendo-se da qualidade de funcionário público. Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Trata-se de tipo especial em relação à advocacia administrativa prevista no 321 do CP. No crime tributário, contudo, o patrocínio deve ocorrer perante a administração fazendária.
3. DISPOSIÇÕES GERAIS
O artigo 12 da Lei 8.137/90 estabelece 3 causas de aumento de pena, que podem gerar uma majoração de 1/3 até 1/2 das penas previstas nos artigos 1º (crimes materiais de sonegação fiscal), art. 2º (crimes formais), art. 4º (crimes contra a ordem econômica) e 7º (crimes contra as relações de consumo):
Ocasionar grave dano à coletividade;
Ser o crime cometido por servidor público no exercício de suas funções;
Ser o crime praticado em relação à prestação de serviços ou ao comércio de bens essenciais à vida ou à saúde.
O artigo 15 estabelece que os crimes previstos na lei são de ação penal pública incondicionada.
O artigo 16, parágrafo único prevê causa de diminuição de pena de 1/3 a 2/3 para o agente que cometer o crime em quadrilha, em coautoria ou participação e, através de confissão espontânea, revelar à autoridade policial ou judicial a trama delituosa.

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