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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL MARILENE NORONHA DA SILVA A PRÁTICA DO ASSISTENTE SOCIAL NO CAPS AD DA REG IV FORTALEZA 2013 MARILENE NORONHA DA SILVA A PRÁTICA DO ASSISTENTE SOCIAL NO CAPS AD DA REG IV Monografia submetida à aprovação da Coordenação do Curso de Serviço Social do Centro Superior do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Graduação. Sob a orientação da professora Virzângela Paula Sandy Mendes. FORTALEZA 2013 Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274 S586p Silva, Marilene Noronha da A prática do Assistente Social no CAPS AD da reg. IV / Marilene Noronha da Silva. Fortaleza – 2013. 81f. Orientador: Profª. Ms. Virzângela Paula Sandy Mendes. Trabalho de Conclusão de curso (graduação) – Faculdade Cearense, Curso de Serviço Social, 2013. 1. Saúde mental. 2. Políticas públicas de saúde. 3. Prática profissional. I. Mendes, Virzângela Paula Sandy. II. Título CDU 616(813.1) MARILENE NORONHA DA SILVA A PRÁTICA DO ASSISTENTE SOCIAL NO CAPS AD DA REG IV Monografia como pré-requisito para obtenção do título Bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FaC. tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores. Data da aprovação: 26/07/2013. BANCA EXAMINADORA Profª. Ms. Virzângela Paula Sandy Mendes Faculdade Cearense Profª . Especialista Verbena Paula Sandy Faculdade Cearense Profª. Ms. Mayra Rachel da Silva Faculdade Cearense Agradeço imensamente a Deus por tudo na minha vida Sempre está ao meu lado me apoiando e amparando Sem sua presença na minha vida eu não seria nada. AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar meu agradecimento infinito a Deus e a nossa Senhora de Fátima que me acompanharam e me acompanham em todos os momentos da minha vida, me fortalecendo e nunca me deixando desistir. Agradeço ao meu querido irmão carinhosamente chamado por mim de “neném”, por todo apoio que me destes na minha vida, por toda ajuda financeira que precisei no inicio da faculdade e por todo carinho. Ao Luis Carlos, meu namorado, que foi muito além, foi quem sempre esteve ao meu lado, me dando apoio e suporte emocional para que eu não desistisse, dizendo pra mim cada vez que eu cansava que eu ia conseguir. Aos amigos (impossível nomear todos), que compartilharam momentos bons e ruins durante esses anos. Em especial agradeço a duas pessoas a querida Adriana Brasil e ao Nilson, por me ajudarem no inicio da faculdade. À turma de Serviço Social 2009.2, foi maravilhoso conviver esse tempo com todos, em especial agradeço por todo apoio e atenção recebido pela amiga Ana Beatriz que esteve ao meu lado nesse percurso, por me acolher, pela amizade e preocupação a Emanuelle, Lílian, Mazé, Denise, Eliene Brito, Renata, Catiana, Fabiana. Estou certa de que levarei comigo boas lembranças de nossa convivência. Agradeço a Socorro Ribeiro, minha querida chefe, muito obrigada por toda compreensão que sempre teve comigo, por entender minhas dificuldades e meu problemas pessoais. À Coordenadora do CAPS Ana Márcia que permitiu realizar minha pesquisa, me recebendo com muita simplicidade e educação. As assistentes sociais do CAPS pela solidariedade, acolhimento, sorrisos e por tão prontamente se disporem a partilhar um pouco de suas ricas experiências. A todos os professores do Curso de Serviço Social da Faculdade Cearense- FaC que foram importantíssimos em minha trajetória acadêmica. À minha orientadora Virzângela Paula Sandy Mendes pela contribuição à construção deste trabalho, também agradeço a participação de toda banca, as professoras Verbena Sandy Mendes e Mayra Rachel da Silva, todos os professores da FAC. Por fim, agradeço àqueles que de alguma forma se fizeram presentes e contribuíram para tornar esse momento possível, agradeço a todos que acreditaram em mim e não me deixaram desistir nos momentos em que eu pensava que não ia conseguir. Muito Obrigada! “Meu refúgio, minha Fortaleza, meu Deus eu confio em ti.” Salmo 91:2 RESUMO O presente estudo busca analisar a prática do assistente social no CAPS AD SER IV, localizado no bairro Itapery, na Rua Betel, s/n, Fortaleza-ce. Para a realização dessa pesquisa, foram utilizadas as seguintes pesquisas: Pesquisa bibliográfica, documental e de campo. A fim de apreender a realidade a partir dos discursos dos sujeitos, fez-se uso essencialmente da pesquisa qualitativa além de recorrer a dados estatísticos. Entretanto optou-se também, por alguns dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e outras fontes, essencialmente numéricas e/ou estatísticas, a fim de enriquecer ainda mais este estudo. Como técnica para a coleta de dados, utilizou-se a aplicação de questionários e entrevistas semi-estruturada. As categorias centrais que embasaram este trabalho foram: Saúde Mental, Políticas Publicas de Saúde e Prática Profissional. Os objetivos que me levaram a realizar esse estudo foi à inquietação de analisar como é realizado o atendimento do serviço social aos pacientes com transtornos mentais, apreender sob a ótica dos Assistentes Sociais do CAPS AD, os desafios que se apresentam à efetivação da prática do profissional de Serviço Social e Investigar a principal demanda trabalhada pelo Assistente Social e quais os instrumentais usados por esses profissionais. Através desse estudo e das analises coletadas em campo, foi possível perceber que a Reforma Psiquiátrica Brasileira trouxe uma nova visão de tratamento e acompanhamento para as pessoas com transtornos mentais, possibilitando a criação dos CAPS. Assim como a inserção de ações de saúde mental nos vários níveis de complexidade do sistema de saúde, assumindo nessa perspectiva um importante papel no cenário das novas práticas de saúde mental, configurando-se como dispositivos estratégicos para a transformação do modelo hospitalocêntrico. Palavras-Chave: Saúde Mental. Políticas Publicas de Saúde. Prática Profissional ABSTRACT This study seeks to analyze the practice of social workers in CAPS AD BE IV, located in the Itapery in Bethel Street, s / n, Fortaleza-ce. To carry out this research, we used the following research: Literature, documentary and field. In order to grasp the reality from the speeches of the subjects, it was used mainly qualitative research in addition to resort to statistical data. However it was decided also by data from the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE) and other sources, mainly numerical and / or statistics in order to further enrich this study. As a technique for data collection, we used the questionnaires and semi-structured interviews. The central categories that supported this work were: Mental Health, Public Health Policy and ProfessionalPractice. The objectives that led me to conduct this study was to analyze how the unrest is accomplished social service care to patients with mental disorders, grasp the perspective of Social Workers CAPS AD, the challenges facing the realization of professional practice Social Service and investigate the main demand crafted by Social Worker and what instruments used by these professionals. Through this study and analyzes collected in the field, it was revealed that the Brazilian Psychiatric Reform brought a new vision of treatment and monitoring for people with mental disorders, enabling the creation of CAPS. Just as the inclusion of mental health services at various levels of complexity of the health system assuming this perspective an important role in the new mental health practices configured as strategic devices to transform the hospital model. Keywords: Mental Health. Public Policy Health Professional Practice LISTA DE ILUSTRAÇÕES TABELA 1- REFERENTE AO NÚMERO DE CAPS POR TIPO, REGIÃO E UF ....................................................................................... 38 TABELA 2 – REFERENTE AO NÚMERO DE CAPS POR TIPO E ANO ...................................................................................................... 40 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CAPS Centro de Atenção Psicossocial CAPS AD Centro de Atenção Psicossocial de Álcool e Drogas CAPS I Centro de Atenção Psicossocial Infantil COOPCAPS Cooperativa do Centro de Atenção Psicossocial Ltda. HSMM Hospital de Saúde Mental de Messejana IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisa. ICNSM I Conferência Nacional de Saúde Mental. MS Ministério da Saúde. MTSM Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental OBID Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas OMS Organização Mundial da Saúde PTM Portador de transtorno Mental SER IV Secretaria Executiva Regional IV SUS Sistema Único de Saúde TSM Trabalhadores em Saúde mental SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................... 15 CAPITULO I - A REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL E AS PRÁTICAS DE SAÚDE MENTAL ......................................................... 21 1.1 A história da loucura e sua forma de tratamento .............................................. 21 1.2 O processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil e as políticas de saúde mental .................................................................................................................... 25 1.3 O processo de Reforma Psiquiátrica no Ceará ............................................... 32 CAPITULO II - A PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PÚBLICA NA SAÚDE ATRAVÉS DOS CAPS ............................................................ 36 2.1 O Sistema Único de saúde (SUS) .................................................................... 36 2.2 O novo modelo de Assistência à Saúde Mental no Brasil ................................ 39 2.3 A implantação do CAPS no Ceará em Fortaleza ............................................. 44 2.4 CAPS AD como proposta de atenção ao usuário de drogas ........................... 50 2.5 A inserção do Serviço Social no CAPS ............................................................ 53 CAPITULO III - UMA ANÁLISE SOBRE A PRÁTICA DO ASSISTENTE SOCIAL NO CAPS SER IV ............................................ 58 3.1 Conhecendo o Cenário da Pesquisa ................................................................ 58 3.2 Perfil dos sujeitos da pesquisa ......................................................................... 60 3.3 Estudo de Campo: Análise realizada a partir de seus discursos ...................... 61 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 73 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................... 76 ANEXOS ............................................................................................... 78 APÊNDICES ......................................................................................... 81 APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO .......................................................... 82 APÊNDICE B - ENTREVISTA ............................................................... 83 APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (QUESTIONÁRIO) ...................................................... 84 APÊNDICE D – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .................................................................................... 85 15 INTRODUÇÃO A pesquisa a seguir surgiu da necessidade pessoal de descobrir e compreender como é realizado o trabalho do serviço social na área de saúde mental. Durante anos acompanhei mesmo que indiretamente um pouco do trabalho que se faz no CAPS com os pacientes em sofrimento mental, pois fui acompanhante de uma usuária e desse contato surgiu essa necessidade de saber mais. Diante dessa aproximação sempre senti a necessidade de investigar como se dava a prática realizada pelos assistentes sociais no CAPS. Inicialmente a ideia da pesquisa seria no CAPS da SER V, pensei em escolher esse CAPS por ser próximo da minha residência e pelo fato de acompanhar uma pessoa da minha família em tratamento lá, então por conhecer o ambiente achei que seria mais fácil,mas não foi, no entanto por ordens burocráticas que a pesquisa exigia ficou concordado que seria no CAPS AD da SER IV, localizado na Rua Betel s/n no Bairro Itapery, onde encontrei mais facilidades para realização da minha pesquisa. Havia a inquietação em analisar como é realizado o atendimento do serviço social aos pacientes com transtornos mentais, investigando os principais desafios enfrentados por esses profissionais na execução de suas atividades descobrindo assim a principal demanda trabalhada pelo assistente social e quais os instrumentos usados por esses profissionais. Todos esses questionamentos me fizeram prosseguir esse estudo, tentando satisfazer alguns de nossos anseios pessoais, mais que busca através dessa pesquisa obter novos conhecimentos sobre o assunto, com a finalidade de discutir seus resultados tanto na esfera acadêmica quanto no mercado de trabalho, tendo como finalidade contribuir para um esclarecimento melhor sobre a questão abordada. Dessa forma o objetivo geral da pesquisa é analisar a prática do Assistente Social no CAPS AD DA REG IV. Tem como objetivos específicos: Analisar como é realizado o atendimento do serviço social aos pacientes com transtornos mentais, Apreender sob a ótica dos Assistentes Sociais do CAPS AD, os desafios que se apresentam à efetivação da prática do profissional de 16 Serviço Social, Investigar a principal demanda trabalhada pelo assistente social e quais os instrumentos usados por esses profissionais. A metodologia usada para a realização desse estudo abrange aspectos teóricos e práticos. Sendo assim, compreende-se por metodologia o caminho do pensamento e a prática da abordagem da realidade, ao mesmo tempo em que inclui a teoria da abordagem, ou seja, o método inclui também os instrumentos que irão operacionalizar o conhecimento (Minayo, 2010, p. 14). Assim considerando-se a importância da metodologia para a realização desse estudo, apresentamos a seguir os caminhos metodológicospercorridos durante todo trajeto do mesmo. A partir desse entendimento foram identificadas as categorias teóricas que embasaram este estudo: Saúde Mental, Políticas Publicas de Saúde e Pratica Profissional. Sendo utilizados os seguintes autores de grande relevância, tais como: Bisneto (2011), Focault (1978), Costa (1998), Amarante (2007) entre outros. Assim, em busca de uma maior visibilidade e apreensão da realidade proposta como estudo, seguimos como trajetória metodológica a abordagem qualitativa a partir da qual podemos trabalhar como um nível de realidade diferente que não pode ser quantificado. Conforme Minayo: Esse tipo de método que tem fundamento teórico, alem de permitir desvelar processos sociais,propicia a construção dos referentes a grupos particulares,propicia a construção de novas abordagens,revisão e criação de novos conceitos e categorias durante a investigação.caracteriza-se pela empiria e pela sistematização progressiva de conhecimento ou do processo até a compreensão da lógica interna do grupo ou do processo de estudo.(MINAYO,2010,p.57) Para o desenvolvimento desse estudo foram utilizadas as pesquisas: pesquisa bibliográfica, documental e de campo. É bibliográfica, pois foi “desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos [...]” (Gil, 2008, p. 50). Tem caráter documental, pois se fez uso de materiais que não receberam um tratamento minucioso, ou que ainda podem ser modificados de acordo com os objetivos da pesquisa, como 17 bem diz Gil (2005). E é de campo, pois, como explicita Oliveira (2002) consiste na observação dos fatos tal como ocorrem na coleta de dados e no registro de variáveis para análises futuras. A pesquisa bibliografia é feita a partir de fontes históricas, que já foram publicadas, como artigos científicos, livros e revistas. Ao iniciar qualquer trabalho cientifico usa-se a pesquisa bibliográfica, pois a mesma permite ao pesquisador a chance de conhecer o que já foi estudado sobre o assunto a ser pesquisado. (FONSECA, 2002). A pesquisa realizada é de natureza qualitativa, sob a perspectiva de se compreender a realidade a partir das falas dos sujeitos participantes, identificando seus costumes, experiências e opiniões. É a pesquisa na qual se aplica o estudo da historia e das suas relações criadas entre os seres humanos, em relação sua vivencia, o que constroem e seus sentimentos por sim mesmo (MINAYO, 2010). Pois sabemos que esse método é o mais proeminente para a utilização dos levantamentos das informações da minha pesquisa, como opiniões de especialistas, entrevista, observação, investigação e análise dos dados. Entretanto optou-se também, por alguns dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e outras fontes, essencialmente numéricas e/ou estatísticas, a fim de enriquecer ainda mais esta pesquisa. Esse tipo de método que tem fundamento teórico ale de permitir desvelar processos sociais, propicia a construção dos referentes a grupos particulares, propicia à construção de novas abordagens, revisão e criação de novos conceitos e categorias durante a investigação. caracterizam-se pela empiria e pela sistematização progressiva de conhecimento ou do processo até a compreensão da lógica interna do grupo ou do processo de estudo. (MINAYO,2010,p.57) Nesse sentido, através da pesquisa qualitativa pudemos analisar a realidade que apresentada no cotidiano profissional das assistentes sociais do CAPS SER IV, além de nos proporcionar um olhar mais abrangente sobre o tema. As coletas, bibliográfica e documental, foram realizadas durante os meses de julho de 2012 a maio de 2013, enquanto que a pesquisa de campo 18 foi realizada nos mês de julho de 2013, durante uma semana, das 09 às 11 horas em uma sala na própria instituição onde foi realizada a pesquisa de campo. Como técnica para a coleta de dados, utilizou-se a aplicação de questionários “para obtenção de respostas mais rápidas e precisa” (Lakatos e Marconi, 2003) e entrevistas semi-estruturadas, possibilitando ao entrevistado uma maior liberdade em seu discurso. Foi resguardada a identidade dos sujeitos entrevistados, foi apresentado a todos os sujeitos o termo de consentimento livre e esclarecido, deixando bem claro o objetivo e a liberdade de participação de cada entrevistado. Portanto utilizaremos nomes fictícios: (Estrela, Sol e Lua), a fim de tratar as informações de maneira ética e o mais fidedigna possível. No que diz respeito às categorias deste estudo – Saúde Mental, Políticas Publicas de Saúde e Prática Profissional, trouxemos alguns autores que colaboraram com nosso estudo. A respeito da Saúde mental: A OMS Organização Mundial de Saúde, afirma que não existe definição "oficial" de saúde mental. Diferenças culturais, julgamentos subjetivos, e teorias relacionadas concorrentes afetam o modo como a "saúde mental" é definida. Saúde mental é um termo usado para descrever o nível de qualidade de vida cognitiva ou emocional. A saúde Mental pode incluir a capacidade de um indivíduo de apreciar a vida e procurar um equilíbrio entre as atividades e os esforços1. Saúde Mental é estar de bem consigo e com os outros. Aceitar as exigências da vida. Saber lidar com as boas emoções e também com as desagradáveis: alegria/tristeza; coragem/medo; amor/ódio; serenidade/raiva; 1SMS- Secretaria as Saúde- Acesso em 21/07/2013. 19 ciúmes; culpa; frustrações. Reconhecer seus limites e buscar ajuda quando necessário. Nesse sentido Bisneto (2011) complementa: O assistente social em Saúde mental trabalha de forma pluralista quando usa as explicações do marxismo para entender a exclusão do louco, para sustentar a demanda por direitos sociais e cidadania aos portadores de sofrimento mental e, ao mesmo tempo,usa as explicações da medicina e da Psicologia para conceber a loucura como doença mental. (BISNETO, 2011, p.52). Sobre as Políticas Públicas: 2Para atingir resultados em diversas áreas e promover o bem-estar da sociedade, os governos se utilizam das Políticas Públicas que podem ser definidas da seguinte forma: “(...) Políticas Públicas são um conjunto de ações e decisões do governo, voltadas para a solução (ou não) de problemas da sociedade (...).” Dito de outra maneira, as Políticas Públicas são a totalidade de ações, metas e planos que os governos (nacionais, estaduais ou municipais) traçam para alcançar o bem-estar da sociedade e o interesse público. As Políticas Públicas também podem ser compreendidas como um sistema (conjunto de elementos que se interligam, com vistas ao cumprimento de um fim: o bem-comum da população a quem se destinam), ou mesmo como um processo, pois tem ritos e passos, encadeados, objetivando uma finalidade. Sobre a Prática Profissional: Iamamoto (2000) vêm contribuir afirmando que a prática profissional que orienta nossa investigação é aquela vista como: 2 Políticas públicas de Saúde no Brasil- Acesso em: 21/07/2013 20 A atividade do assistente social na relação como o usuário, os empregadores e os demais profissionais. Mas, como esta atividade é socialmente determinada, consideram-se também as condições sociais nas quais se realiza, distintas da prática e a ela externas, ainda que nela interfiram. (IAMAMOTO, 2000, p.94). Devido a estas condições, a prática do Assistente Social é cheia de contradições e conflitos. Os desafios enfrentadospelos profissionais ao exercerem sua profissão muitas vezes o tornam um profissional que só cumpre aquele trabalho posto a ele, o mesmo não se sente motivado a fazer novas experiências em seu campo de trabalho, sentindo-se desestimulado. Assim analisamos os profissionais entendendo a multiplicidade de fatores que influenciam e determinam o desenvolvimento de sua prática profissional dentro da instituição que atende aos portadores de transtornos mentais no CAPS. Para Bisneto (2011), quando se trata da prática do assistente social na Saúde Mental a questão exige o desafio da ampliação do tratamento teórico,é necessário estudar, criticar e teorizar sobre as inter-relações do social com o subjetivo. As questões relacionadas a esse estudo estão sistematizadas da seguinte forma: No primeiro capítulo, trata-se sobre a discussão da historia da loucura e sua formas de tratamento, e situamos o processo de Reforma psiquiátrica no Brasil e as políticas de saúde mental e o processo de reforma psiquiátrica no ceará. No segundo capítulo, analisou-se o contexto do surgimento dessa nova proposta de atendimento aos portadores de transtornos mentais, bem como se realiza esse acompanhamento, sua implantação tanto no Brasil e no Ceará. No terceiro capítulo, analisamos através das entrevistas realizadas o perfil desses profissionais, sua inserção na profissão, a importância do seu trabalho e os desafios enfrentados por essa categoria para a realização da sua pratica profissional. A seguir veremos de forma mais detalhada todos esses capítulos esperamos com essa pesquisa lançar reflexões que possibilitem uma compreensão para um debate futuro, seja ele por estudantes ou profissionais da área. 21 CAPITULO I - A REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL E AS PRÁTICAS DE SAÚDE MENTAL. Nesse capitulo apresentaremos uma breve contextualização da Reforma Psiquiátrica, bem como as políticas de saúde e a Reforma no Ceará, para sistematizar o debate, iniciaremos com uma analise sobre a loucura. 1.1 A historia da loucura e suas forma de tratamento. Na Antiguidade temos explicações mitológicas e filosóficas da loucura. A Idade Média nega todo o conhecimento filosófico e explica a loucura como o mal desenvolvido no homem pelos demônios. O fenômeno singular conhecido como loucura tem longo registro na historia da humanidade e extensa aparição nas diversas sociedades, inclusive em sociedades identificadas como primitivas. Neste foram-lhe atribuídas varias caracterizações, tais como: castigo dos deuses como experiência trágica considerada como experiência diferente de vida, ora apreciada, ora combatida, dependendo da sociedade em que se expressava, ou de como manifestava-se em diferentes contextos.(BISNETO,2010). Focault (1997), em seu livro “A história da loucura”, vem discutir ainda conceito de “loucura” desde o Renascimento até a modernidade mostrando que a maneira do homem tratá-la foi mudada através dos séculos. Com o advento da Psiquiatria, houve algumas transformações no tratamento fornecido à loucura. Nesse sentido a loucura era algo que não podia ser divulgado, embora tenha sempre existido, contudo na antiguidade era percebida como algo obscuro e sem cura e era tratada como algo sobrenatural, nesse sentido as pessoas eram vistas como diferentes. Ainda conforme Focault destaque que: Existe em nossa sociedade outro principio de exclusão: não mais a interdição, mas uma separação e uma interjeição. Penso na oposição razão e loucura, desde a alta idade média, o louco é aquele cujo discurso não pode circular como o dos outros: pode ocorrer que sua palavra seja considerada nula, não seja acolhida, não tendo verdade nem importância [...] Sabe-se bem que não se tem o direito de dizer tudo, que não se pode falar de tudo, enfim não pode falar de qualquer coisa [...]. (FOCAULT, 1971,p.9-10). 22 Na modernidade, a visão de mundo racional do iluminismo e o Renascimento vão influenciar no surgimento das ciências e desenvolvimento da medicina. A filosofia clássica é evocada para subsidiar os estudos organicistas da natureza do homem, da mente e seus desvios. Antes do final do século XVII, a medicina não se interessava em saber o que acontecia com os loucos. Philippe Pinel buscou uma nova forma de tratamento para o doente mental, seu objetivo era oferecer aos pacientes um tratamento mais humanizado, afastando-os do tratamento desumano que recebiam nos hospitais, onde eram mantidos sob portas fechadas. Ainda conforme os estudos de Viana (2007), ele ressalta que: O regime hospitalocêntrico se caracteriza por causar isolamento, reclusão e ruptura dos laços familiares, além de ser um modelo institucional normativo. Pode-se dizer que é um lugar que praticamente não possibilita nenhuma troca social, onde se manifesta a segregação social e as mais tirânicas formas de exercício de poder sobre o ser humano. Durante muito tempo, foi esse o modelo vigente no trato das doenças mentais. Nos dias de hoje, embora considerado falido ainda permaneça, mas de forma consciente e menos exclusivo (VIANA, 2007, p.21). A loucura é alimentada pelo próprio homem através de suas próprias ilusões, sendo ela pelo apego que ele demonstra por sim mesmo, ou seja, aceitando seus próprios erros, tendo assim a mentira como a verdade, a injustiça como justiça, a louca faz surgi no homem em pensamento imaginário. Conforme os estudos de Focault: Para Foucault, duas questões são fundamentais para entender a experiência da loucura. Primeiramente, a loucura passa a ser considerada e entendida somente em relação à razão, pois, num movimento de referência recíproca, se por um lado elas se recusam de outro uma fundamenta a outra. Em segundo lugar, a loucura só passa a ter sentido no próprio campo da razão, tornando-se uma de suas formas. A razão, dessa maneira, designa a loucura como um momento essencial de sua própria natureza, já que agora “a verdade da loucura é ser interior à razão, ser uma de suas figuras, uma força e como que uma necessidade momentânea a fim de melhor certificar- se de si mesma”. (Foucault, 1997,p. 36). 23 O estatuto da racionalidade nega a definição mítico-religiosa que predomina na era medieval. A psiquiatria surge e se desenvolve nesse contexto como área legitimamente responsável pelo diagnóstico e tratamento de desvios mentais, inclusive a loucura. Somente através da razão é que o homem pode conquistar sua liberdade, e é somente a partir do século XVIII que isso começa acontecer, a loucura agora passa a ser vista como objeto de cuidado do saber medico. Embora a loucura e os locais onde era tratada sempre existissem, foi somente a partir desse século (XVIII), que estabeleceu-se a “instituição psiquiátrica” e a nova forma de vivenciar a condição humana, com o trato do “diferente”, aquele que não se adaptava aos padrões normais e que deveria ser excluído do convívio dos normais e da sociedade. Até então, os hospitais não tinham finalidades médicas, funcionava apenas como instituições filantrópicas que abrigavam os indesejáveis à sociedade: leprosos, sifilíticos, aleijados, mendigos e loucos. Nesse momento, acontecia a Revolução Francesa e o médico Phillipe Pinel, um dos primeiros alienistas (chamados assim por serem os precursores da psiquiatria), foi nomeado diretor do Hospital de Bicêtre, em Paris. Pode-se dizer que tal hospital era uma “casa de horrores”, pois os internos, em sua maioria loucos, eram abandonados à própria sorte. Nesse contexto, Pinel começou a classificar os “desvios” ou “alienações mentais”, com o intuito de estudá-los e tratá-los, instituindo,assim, o regime hospitalocêntrico. (VIANA, 2007). O século XVIII vem definitivamente para marcar a apreensão do fenômeno da loucura, a partir desse momento foi surgindo a necessidade de estudar a loucura como objeto de saber médico, o que antes não era possível, pois a loucura era vista de farias formas, tendo assim diversas interpretações, antigamente as pessoas consideradas "diferentes" e "anormais" eram abandonadas, afastadas, escondidas da sociedade,sua doença era vista de duas formas ou como um castigo dos deuses,ou como um privilegio,pois para a sociedade da época os loucos podiam ter acessos a verdades divinas3. 3 Silveira LC, Braga VAB. - Rev Latino-am Enfermagem 2005 julho-agosto; 13(4):591-5 www.eerp.usp.br/rlae. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=281421846019 Lia Carneiro Silveira, 24 Nesse processo histórico em que a “loucura” se destaca como uma doença se faz necessário ressaltar o surgimento do asilo, tido como um lugar de isolamento e alienação para as pessoas consideradas loucas (doentes mentais. Nesse contexto asilar na França no fim do século XVIII, surge a figura de Philippe Pinel, sendo ele um dos protagonistas que defendia o asilo como forma de tratamento e isolamento pra os que eram considerados anti-sociais. Vejamos a analise de Viana: A loucura como doença e a especialidade médica em psiquiatria são bem recentes, datadas de aproximadamente 200 anos. Embora a loucura e os locais onde fosse tratada sempre existissem, foi a partir do século XVIII que se estabeleceu a “instituição psiquiátrica” e a nova forma de vivenciar a condição humana, com o trato do “diferente”, aquele que não se adaptava aos padrões normais e que deveria ser excluído do convívio dos normais e da sociedade.. Nesse contexto, Pinel começou a classificar os “desvios” ou “alienações mentais”, com o intuito de estudá-los e tratá-los, instituindo, assim, o regime hospitalocêntrico. (VIANA, 2007, p.26). Em meio a todo esse contexto é que começa a surgir à implantação dos hospitais psiquiátricos, como forma de tratamento dessas pessoas acometidas de transtorno mentais. Nesse sentido para garantir a segurança dos pacientes e a ordem nessa instituição, eram adotadas medidas severas como: isolar o paciente do convívio social e familiar. A entrada dessas pessoas nesses hospitais só tinha data pra entrar, a maioria não tinha data de saída. A sociedade os via como “os diferentes”, portanto, não poderiam fazer parte da sociedade, o estigma em torno dos portadores de transtorno mental só crescia e assim contribuía cada vez mais para o crescimento do preconceito e aumentava o número de internações. De acordo com os estudos de Barros (2011), o modelo psiquiátrico hospitalocêntrico, ao longo da historia da atenção à saúde mental em diversos países do mundo, imperou como a forma predominante na assistência às pessoas com TMs. Porém esse sistema revelou à humanidade a verdadeira face do hospital psiquiátrico: seu caráter extremamente excludente, intensificando ainda mais o sofrimento mental vivenciado pelas pessoas Latino-Americana de 25 internadas nesses estabelecimentos, ocasionando perdas de direitos de cidadania e prejuízos nos mais diversos aspectos das suas vidas. A prática do internamento designa uma nova reação à miséria, um novo patético de modo mais amplo, um outro relacionamento do homem com aquilo que pode haver de inumano em sua existência. O pobre, o miserável, o homem que não pode responder por sua própria existência, assumiu no decorrer do século XVI uma figura que a Idade Média não teria reconhecido. (FOCAULT,1972,p.64). O próprio avanço científico não justifica a presença desta instituição criada no século XVIII, inúmeras experiências realizadas demonstram que é possível sua substituição por uma rede de serviços substitutivos ao manicômio, com tratamento mais humanizado, digno e dentro do convívio social. Já em meados do século XX, a psiquiatria é negada por alguns movimentos sociais que revelam os manicômios como espaços de exclusão social. A seguir detalharemos de forma mais contextualizada o inicio do Movimento de Reforma Psiquiátrica que veio com a pretensão de modificar o sistema de tratamento clínico da doença mental, eliminando gradualmente a internação como forma de exclusão social. Discutiremos também sobre as políticas de Saúde Mental. 1.2 O processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil e as Políticas de Saúde Mental. Esse movimento se caracterizou por mudanças no setor psiquiátrico existente, incluindo os modelos de atenção e gestão nas praticas de saúde vigente e na promoção de tecnologias de cuidados que pudessem mudar o modelo vigente. Esse movimento foi construído através da luta árdua pela busca de melhores condições nas políticas de atenção a saúde mental, saneamento e higiene, buscando provar que o estado deve ser o provedor principal da saúde para todos os cidadãos. Nesse contexto, desenvolve-se no Brasil o denominado 4Movimento de Reforma Sanitária, tendo como eixo “a luta pela garantia do direito universal 4 O termo “Reforma Sanitária” foi usado pela primeira vez no país em função da reforma sanitária italiana. A expressão ficou esquecida por um tempo até ser recuperada nos debates prévios à 8ª Conferência Nacional de Saúde, quando foi usada para se referir ao conjunto de 26 à saúde e pela organização de um sistema único, integral, universal e estatal de prestação de serviços” (ROSA, 2003). O que entendemos hoje como Reforma Psiquiátrica Brasileira congrega este questionamento do modelo asilar com o esforço de promoção de cidadania de sujeitos tradicionalmente tutelados. Tomou força na segunda metade da década de 70, em consonância com os movimentos democráticos (Movimento de Reforma Sanitária), mais amplos que o país vivia, e fundamentou-se principalmente na concomitante experiência da Reforma Italiana capitaneada por Franco Basaglia. Em 1987 configurou-se um grande momento na historia da saúde mental no Brasil, um encontro que discutiria sobre a política de saúde mental e os direitos dos pacientes com transtornos mentais, possibilitando assim momentos de reflexões sobre diversas temáticas abordadas. .Para discutirmos sobre as políticas de saúde mental é necessário citarmos a I Conferencia Nacional de Saúde mental que aconteceu no Rio de Janeiro, a partir de três temas essenciais: “Economia, Sociedade e Estado, Impactos sobre a doença mental; Reforma Sanitária e Reorganização da Assistência á Saúde Mental”. (BARROS, 2011, p.24). A realização da I Conferência Nacional de Saúde Mental, em desdobramento à 58ª Conferência Nacional de Saúde, representa um marco histórico na psiquiatria brasileira, posto que reflete a aspiração de toda a comunidade científica da área, que entende que a política nacional de saúde mental necessita estar integrada à política nacional de desenvolvimento social do Governo Federal. ideias que se tinha em relação às mudanças e transformações necessárias na área da saúde. Essas mudanças não abarcavam apenas o sistema, mas todo o setor saúde, introduzindo uma nova ideia na qual o resultado final era entendido como a melhoria dascondições de vida da população. Fonte: http://bvsarouca.icict.fiocruz.br/sanitarista05.html Acesso em: 04/08/2013 5 A 8ª CNS foi o grande marco nas histórias das conferências de saúde no Brasil. Foi a primeira vez que a população participou das discussões da conferência. Suas propostas foram contempladas tanto no texto da Constituição Federal/1988 como nas leis orgânicas da saúde, nº. 8.080/90 e nº. 8.142/90. Participaram dessa conferência mais de 4.000 delegados, impulsionados pelo movimento da Reforma Sanitária, e propuseram a criação de uma ação institucional correspondente ao conceito ampliado de saúde, que envolve promoção, proteção e recuperação. 27 Conforme a OMS, (2001), As políticas e programas de saúde mental devem promover os seguintes direitos: igualdade e não discriminação; o direito à privacidade; autonomia individual; integridade física; direito à informação e participação; e liberdade de religião, reunião e movimento. Os instrumentos sobre direitos humanos exigem também que todo planejamento ou elaboração de políticas ou programas de saúde mental envolva grupos vulneráveis (como as populações indígenas e tribais, as minorias nacionais, étnicas, religiosas e linguísticas, os trabalhadores migrantes, os refugiados e os apátridas, as crianças e adolescentes, e os velhos). A necessidade de se buscar novas formas de assistência na saúde mental não era apenas em relação à extinção dos manicômios em sim e nem a forma de internamento desumano que era aplicado. De acordo com dados oficiais do Ministério da Saúde (2005) o inicio do processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil é contemporâneo à eclosão do “movimento sanitário” nos anos de 1970, que tem como consequência a criação da instituição SUS. 6Ao mesmo tempo via-se a necessidade de novas mudanças no tratamento hospitalar a esses pacientes acometidos de transtornos mentais, era necessário cuidar desses pacientes de forma humana, sendo desnecessário o isolamento do meio familiar e social. .... De acordo com o artigo de Fernando Tenório (2002): A reforma psiquiátrica é uma forma sociável de tratar a loucura, procurando reduzir através de recurso a pratica asilar, buscando novas alternativas de cuidados, humanizando o atendimento, tentando ressocializar essas pessoas com transtornos mentais ao (TENÓRIO, 2002, p.57) 6 A Criação do Sistema Único de Saúde (SUS) se deu através da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, que “dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes”. Primeira lei orgânica do SUS detalha os objetivos e atribuições; os princípios e diretrizes; a organização, direção e gestão, a competência e atribuições de cada nível (federal estadual e municipal); a participação complementar do sistema privado; recursos humanos; financiamento e gestão financeira e planejamento e orçamento. 28 Nesse sentindo a Reforma Psiquiátrica buscou estabelecer cuidados que pudesse oferecer um sistema de saúde igualitário que não se pautasse na lógica da exclusão dessas pessoas consideradas loucas, e sim que oferecesse a chance de reinserção desse paciente com sofrimento psíquico à sociedade, sendo ele capaz de exercer sua cidadania. Ainda de acordo com os estudos de Tenório (2002) em seu artigo sobre a Reforma Psiquiátrica Brasileira, o sucesso da reforma se deu através de sua eficácia terapêutica e seu apelo ideológico, e na construção de um amplo arcabouço de cuidados para sustentar a existência de pacientes que, sem isso, estavam condenados à errância ou à hospitalização quase permanente, presos a um sistema que só medicava. Corroborando com essa perspectiva Pôrto (2010), salienta que o tratamento da saúde mental sempre esteve relacionado à segregação das pessoas acometidas de transtornos mentais. Essas pessoas são de um modo geral, excluídas, não somente pela sociedade, mas pelos próprios familiares e amigos, a família sentia-se com o sentimento de dever cumprido internar seu parente, pois compreendia naquele momento que o seu familiar estava sendo cuidado de forma correta e segura e assim a sociedade ficaria segura dos “loucos”, como assim eram denominados. As mudanças alcançadas pelo movimento de reforma sanitária foi fruto da luta e articulações entre movimentos sociais, profissionais de saúde, partidos políticos, universidades, instituições de saúde e políticos e parlamentares. No período de 1989 a 1990 foi elaborada à Lei n°.8.080, as Constituições Estaduais, as Leis Orgânicas Municipais e a Lei n°.8.1427·, de 28 dezembro de 1990, é implementado no Brasil o Sistema Único de Saúde 7 A Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros. Institui os Conselhos de Saúde e confere legitimidade aos organismos de representação de governos estaduais (CONASS - Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde) e municipais (CONASEMS - Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde) Finalmente estava criado o arcabouço jurídico do Sistema Único de Saúde, mas novas lutas e aprimoramentos ainda seriam necessários (BRASIL, 1990). 29 (SUS), tendo como premissa o art.198 da Constituição Federal de 1988. (Brasil,1988). Corroborando com Delgado (1992) ele afirma que: Ao discutir a reforma psiquiátrica a partir da legislação, tendo como referência o projeto de lei 3657/89 que segundo o autor intervém no modelo assistencial, e somente indiretamente na cidadania - quando se refere ao direito essencial de liberdade e ao caso do tratamento obrigatório, destaca que o modelo assistencial consiste na reforma em si, no rearranjo dos serviços, modelo e método de atendimento, na democratização e na ruptura do paradigma manicomial. Ao discutir a cidadania, retoma a incapacidade civil prescrita no Código Civil de 1916, refletida pela expressão “loucos de todo gênero”. Para este autor, a relação entre incapacidade civil do louco e direito penal, implica em duas consequências: “prisão perpétua nos manicômios judiciários aos loucos pobres - como regra, ou a impunidade para maridos homicidas como exemplo de regularidade” (DELGADO, 1992, p.81). Durante muito tempo a maior dificuldade de tratamento do doente mental consistiu e ainda consisti no preconceito social, isso tudo porque a “loucura” era associada à violência e à desordem. Dessa maneira não se permitia compreender a real necessidade que esses pacientes sofriam e nem a superação dessa doença. De acordo com os estudos de Tenório (2002): Finalmente, além de promover um aperfeiçoamento técnico e institucional do tratamento em saúde mental, a reforma psiquiátrica tem efeitos positivos também do ponto de vista da cidadania brasileira. Movimentando-se no sentido contrário ao da redução das políticas sociais do Estado, ela aponta para a construção de uma sociedade mais inclusiva e para a recuperação do sentido público de nossas ações. Trata-se, enfim, de uma transformação generosa e radical de algumas das mais importantes instituições sociais de nosso tempo. (TENÓRIO, 2002 p.57). Nesse processo de transformação na saúde mental esse movimento de trabalhadores transformou-se em um novo movimento social por uma “sociedade sem manicômios”,e a busca por um tratamento onde a convivência com o meio social prevalecesse, surge assim a luta antimanocomial em 18 de maio de 1987. Sobre isso Ribeiro (2006) ressalta: Luta Antimanicomialse constitui como um movimento político que tem como eixo principal a construção da cidadania do louco e sua inclusão social. Transformação radical dos dispositivos sociais milenares, até então, utilizados com a loucura, promovendo um autêntico movimento político que busca produzir soluções para além 30 do que já existem novas categorias e conectores no campo social que possam articular toda rede de assistência e cidadania. (RIBEIRO, 2006, p.60-61). A luta antimanicomial assumiu como bandeira a Reforma Psiquiátrica, com ênfase no processo de desinstitucionalização do modelo oficial. A reforma psiquiátrica, enquanto movimento social representa, desde o final da década de 40 em várias partes do mundo, a construção de uma mudança da cultura de exclusão existente na sociedade e do modelo asilar/carcerário, herdado dos séculos anteriores, no tratamento da pessoa com um transtorno mental. A substituição da instituição total, que é o hospital psiquiátrico por uma rede de serviços diversificados, regionalizados e hierarquizados orientada não exclusivamente para uma mera supressão de sintomas e sim para a efetiva recontextualização e reabilitação psicossocial, retomando a consciência para com a diferença entre os humanos. (Fórum de Saúde Mental do Distrito Federal, 1997, p. 05). De acordo com o Ministério da Saúde (2005) é, sobretudo este movimento, através de variados campos de lutas sociais, que passa a protagonizar e a construir a partir deste período a denuncia da mercantilização da loucura, da hegemonia de uma rede privada de assistência e a construir coletivamente uma crítica ao chamado saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico existente na assistência oferecido às pessoas com transtornos mentais. Tudo isso na tentativa de possibilitar um atendimento para alem de remédios e internações, esse movimento foi ganhando resistência e o sistema de internações aos poucos foi diminuindo em alguns países. Vale ressaltar que esse movimento esta inserido no Brasil, mas ao mesmo tempo estava inserido em outros países, contribuindo diretamente para a luta antimanicomial e trouxe mudanças nesse modelo obsoleto. Segundo Ministério da saúde (2005) é somente no dia 06 de abril de 2001 após 12 anos de tramitação no Congresso Nacional, que a Lei Paulo Delgado é sancionada no país. A aprovação, no entanto, é de um substitutivo do Projeto de Lei original, que traz modificações importantes no texto normativo. Assim, a Lei Federal 10.216 redireciona a assistência em saúde mental privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base 31 comunitária dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais, mas não institui mecanismos claros para a progressiva extinção dos manicômios. A Lei citada (10.216) dispõe sobre a reinserção social do doente mental a convivência em seu meio, combatendo isolamento, seja ele social ou familiar, fortalecendo a proteção dos direitos de cada paciente. Nesse sentido a internação só será necessária quando não houver recursos extra-hospitalares suficientes, porém o tratamento eficaz do usuário seja no âmbito publico ou particular. Ainda de acordo com dados do Ministério da Saúde (2005), a promulgação da Lei 10.216 impõe novo impulso e novo ritmo para o processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil. É nesse contexto da efetivação da lei 10.216 e da realização da III Conferência Nacional de Saúde Mental, que a política de saúde mental do governo federal, alinhada com as diretrizes da Reforma Psiquiátrica, passa a consolidar-se, ganhando maior sustentação e visibilidade, promovendo a partir da efetivação dessa lei a garantia real do cuidado aos pacientes com sofrimento mental, independente de sua condição. Segundo Ministério da Saúde (2005) a lei nº 10. 216/01 dispõe em seus artigos: Art. 1 o Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, de que trata esta Lei, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra. Art. 2 o Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus familiares ou responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único deste artigo. Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno mental: I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades; II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade; III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005) A lei citada diz em seu primeiro artigo, que é dever do estado prestar assistência igualitária aos pacientes com transtorno mental, independente de 32 sua cor, raça, sexo e condição social. No segundo artigo, ressalta que os mesmo devem ser protegidos, ter acesso a um tratamento de qualidade e digno, como também ter o merecido respeito. Apesar de todos os avanços, a nova política de saúde mental proporcionou uma racionalização das internações, reduzindo cada vez mais os números de leitos psiquiátricos existentes no Brasil. Novos modelos alternativos foram criados na tentativa de oferecer um tratamento diferente e satisfatório a esses pacientes com sofrimentos mentais, no qual a família agora pudesse acompanhar seu familiar ate a sua cura, onde estivesse unida a capacidade medica e a humanização, no sentindo de tornar esse quadro mais leve ao seu tratamento, desejando assim oferecer um tratamento digno. As Políticas Públicas de Saúde Mental visam elaborar leis que contribuam para a melhoria no atendimento dos serviços e benefícios para os usuários, transformando aquilo que é individual em ações coletivas, garantindo assim seus direitos sociais. A prática em saúde mental é uma responsabilidade social e deve se relacionar ao desenvolvimento histórico da sociedade. Assim, as Políticas Públicas de Saúde Mental devem discutir e atualizar todos os meios de acesso da população às informações, estudar as demandas através de critérios epidemiológicos visando melhorias nos serviços principalmente para os usuários facilitando o processo de inclusão e inserção social na comunidade. No próximo capitulo veremos uma breve contextualização do processo de Reforma Psiquiátrica no Ceará. 1.3 O Processo de Reforma Psiquiátrica no Ceará. No Estado do Ceará esse processo de luta não foi diferente, com inspiração dos movimentos de reforma psiquiátrica no mundo e no Brasil estabeleceu-se uma luta antimanicomial conjunta entre os profissionais de saúde e familiares de pacientes psiquiátricos, objetivando a implantação da mudança de assistência e tratamento na área de saúde mental. Na busca de um novo paradigma para a saúde mental, através dos movimentos sociais 33 percebeu-se que não dava mais pra aceitar a forma que os pacientes com algum transtorno mental sofriam nos hospitais psiquiátricos, a luta era por uma sociedade sem manicômios. (Pôrto, 2010)8. Vale ressaltar que, historicamente no Ceará tivemos uma assistência psiquiátrica do tipo hospitalocêntrica, onde a única resposta a dar a essas pessoas consideradas alienadas e loucas pela sociedade era o isolamento como forma de tratamento e recuperação da moral, por isso era necessário internar, na maioria das vezes contra a vontade do individuo. A luta por um novo modeloalternativo de assistência os portadores de transtorno mental era preciso, buscava-se um tratamento onde os usuários adquirissem novamente sua autonomia para viver em sociedade. Era necessário sair do modelo vigente naquela época, e buscar um tratamento para além das prisões, onde esses pacientes pudessem ser tratados com mais dignidade e respeito, e que através desse processo de tratamento o mesmo pudesse recuperar sua vida e voltasse a conviver em seu meio social. De acordo com os estudos de Nogueira (2009): Ao longo dos anos, foram surgindo no estado, instituições asilares que prestavam assistência aos portadores de transtornos mentais, somente em 1935 surgiu a primeira iniciativa privada na capital cearense, a casa de saúde São Gerardo, e em 1963 foi instituído o primeiro hospital publico nesta área, Hospital de Messejana..(NOGUEIRA,2009, p.60-61) Segundo Barros (2011), apesar de todas as contradições a luta antimanicomial no ceará representou grande significância para Reforma psiquiátrica, pois lutava entre dois lados, de um lado lutou para acabar com as instituições asilares, as prisões que se dizia tratar os doentes mentais, onde os internos eram tratados de forma desumana, mas por outro lado apoio as iniciativas não asilares na saúde mental. 8 No ceará historicamente a assistência psiquiátrica foi predominantemente hospilalocêntrica, sua experiência na saúde mental ocorreu muito ligada ao hospital psiquiátrico, sendo toda a assistência prestada exclusivamente por hospitais especializados de natureza asilar. Conforme “A historia do Ceará na psiquiatria começa em 1603, nessa época o quadro da assistência psiquiátrica é precário, e as mudanças nesse setor chegam aproximadamente no século XIX.” (SAMPAIO, 2010,p.30). 34 Na historia da Reforma Psiquiátrica no Brasil, o estado do Ceará tem apresentado uma significativa contribuição. Sua dinâmica própria de desenvolvimento,com contradições sociais persistentes precárias,secas cíclicas,ocupação econômica retardatária e dependente,além dos turnos de monocultura extrativista (pecuária, algodão, cera de carnaúba, lagosta),determina e caracteriza quadros políticos econômicos e sociossanitarios muito particulares.(SAMPAIO,2011,p.30). Seguindo as características de uma modernidade tardia, surgiu novos rumos para a saúde, novas formas de se pensar e técnicas de trabalhar a psiquiatria, surgiu nesse período a construção do SUS, tendo inicio em 1986 foi considerado como um grande avanço na saúde. No Ceará, a década de 90 também foi um período importante para o campo da saúde mental, pois é desse período que datam a emergência ou a maior visibilidade do Movimento de reforma psiquiátrica, o processo de instalação de CAPS (em Iguatú, Canindé e Quixadá) , em 1993, a aprovação da Lei nº 12. 151 que dispõe sobre a extinção progressiva dos hospitais psiquiátricos e sua substituição por outros recursos assistenciais Paiva 2011 (apud ACIOLY, 2006 p. 40). Com o rápido crescimento da cidade de Fortaleza, foram surgindo novos problemas sociais, crescia junto com a cidade um o grande número de indigentes que representava um caos na cidade, diante desses fatos o governo provincial da época em articulação com os segmentos das elites política, comercial e religiosa, perceberam a necessidade de se construir instituições ligadas à assistência e proteção a infância, mendicidade e loucura. “Tradicionalmente, a assistência psiquiátrica era oferecida por cinco hospitais especializados privados, com seiscentos leitos, e um hospital especializado publico, administrado pelo governo estadual com duzentos leitos”. (Sampaio, 2010, p.31). Nessa mesma perspectiva complementa Paiva (2011): Atualmente no Ceará encontramos vários serviços substitutivos como Centros de Atenção Psicossocial, Hospitais-Dia e Residências Terapêuticas, Comissões Municipais e Estaduais de Saúde Mental, Núcleos do Movimento da Luta Antimanicomial, Associações de Familiares e Usuários e Fórum Municipal da Luta Antimanicomial, cuja instalação é preconizada pela lei cearense de nº 12. 151. (PAIVA, 2011 p.40) 35 Este modelo seria substituído por uma rede de serviços territoriais de atenção psicossocial, visando à integração da pessoa que sofre de transtornos mentais à comunidade. A seguir iremos falar sobre a proposta de intervenção pública na saúde através dos CAPS. 36 CAPITULO II - A PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PÚBLICA NA SAÚDE ATRAVÉS DOS CAPS. Nesse capitulo apresentaremos uma breve contextualização sobre o novo modelo de assistência á Saúde Mental no Brasil - O CAPS, o Sistema Único de Saúde (SUS), a implantação do CAPS no ceará e em Fortaleza, CAPS AD, falaremos brevemente sobre a inserção do Assistente social nos CAPS. 2.1 O sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde CONASS (2009), a instituição do SUS produziu resultados imediatos. O mais importante foi o fim da separação que havia no sistema público de saúde entre os incluídos e os não incluídos economicamente com a implantação do princípio da universalidade, que pôs fim à figura iníqua dos indigentes sanitários (não previdenciários), promovendo a integração do INAMPS ao sistema público de saúde9. O Sistema Único de Saúde fez com que a saúde fosse direito de todo cidadão, até a criação do SUS existiam apenas três categorias de brasileiros que tinha direito a saúde: os que tinham condições financeiras de arcar com despesas médicas particulares, os que eram segurados da previdência, ou seja, os que tinham direito à saúde publicam e os que eram desprovidos de quaisquer direitos. A partir da criação do SUS, começa a se pensar novas formas de tratamento para o setor psiquiátrico, necessitava-se criar uma política que fizesse um resgate a dignidade dos doentes mentais, era preciso que se regulamentasse um controle das internações, sendo esse o ultimo recurso que deveria ser usado para o tratamento desses pacientes, e que aos poucos 9 O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) Fonte: http://www.conass.org.br – Acesso em:22/07/2013 37 oferecessem uma assistência digna aos portadores de transtornos mentais, a fim de resgatá-los ao convívio social. Para campos (2002), o setor de saúde deve responder a diferentes demandas por parte da sociedade na busca de uma vida saudável, sendo que somente a recuperação do corpo em seu aspecto biológico passa a não ser mais suficiente ao atendimento da totalidade das necessidades de saúde, devendo-se levar em consideração o ser humano em sua totalidade. De acordo com o Ministério da Saúde (2000), no ano de 2008 o SUS completou 20 anos de atuação, no entanto, já demonstra necessidade de melhoria em vários aspectos, como a qualidade no atendimento, mais profissionais qualificados para cada área e a ampliação de redes hospitalares. 10A principal proposta da Reforma Sanitária é a defesa da universalização das políticas sociais e a garantia dos direitos sociais. Nesta direção, destaca-se a concepção ampliada de saúde, considerada como melhores condições de vida e de trabalho; a importância dos determinantes sociais; a nova organização do sistema de saúde através da construção do SUS, em consonância com os princípios da intersetorialidade, integralidade, descentralização, universalização, participação social e redefinição dos papéis institucionaisdas unidades políticas (União, Estado, municípios, territórios) na prestação dos serviços de saúde; e efetivo financiamento do Estado. Sabemos que o sistema Único de Saúde, é fruto de muitas lutas e reivindicações sociais da população brasileira, e que começou a ser construído devido á participação do povo na 11VIII Conferencia Nacional da Saúde, que tiveram vez e voz, para discutir sobre os serviços de saúde ainda na década de 1980. Apesar do SUS ter sido criado oficialmente a partir da Constituição de 1988, este foi regulamentado através da Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080), 10 CFESS CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL- Parâmetros para a Atuação de Assistentes Sociais na Saúde Brasília, março de 2009 3 Gestão 2008 – 2011. 11 A realização da VIII Conferência Nacional de Saúde, com intensa participação social, deu-se logo após o fim da ditadura militar iniciada em 1964, e consagrou uma concepção ampliada de saúde e o princípio da saúde como direito universal e como dever do Estado; princípios estes que seriam plenamente incorporados na Constituição de 1988. 38 de 19 de setembro de 1990. Posteriormente foi inserida a participação dos usuários na gestão através Lei 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que dispõe sobre a participação popular e transferência de recurso. Não podemos deixar de salientar que o SUS foi criado para suprir as necessidades da população, ele é consolidado como um direito universal do cidadão e apesar de estar dentro do contexto neoliberal, no qual há interferência do Estado em relação aos direitos sociais, cabe ao poder publico o dever de garanti-lo. Segundo Bravo (2009), dessa forma o SUS é tido como um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo e representa um grande avanço para a sociedade, cabendo a esta fiscalizar e cobrar do Estado que realize seu papel e cumpra o que foi estabelecido constitucionalmente. O Sistema Único de Saúde fez com que a saúde fosse direito de todo cidadão, até a criação do SUS existiam apenas três categorias de brasileiros que tinha direito a saúde: os que tinham condições financeiras de arcar com despesas médicas particulares, os que eram segurados da previdência, ou seja, os que tinham direito à saúde publicam e os que eram desprovidos de quaisquer direitos. Nesse processo de consolidação do SUS podemos situar a Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde foi aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) em sua 198ª Reunião Ordinária, realizada no dia 17 de junho de 2009. O presente documento foi elaborado de acordo com seis princípios basilares que, juntos, asseguram ao cidadão o direito básico ao ingresso digno nos sistemas de saúde, sejam eles públicos ou privados. Apesar de todos os avanços, “[...] O SUS real esta muito longe do SUS constitucional há uma enorme distancia entre a proposta do movimento sanitário e a pratica social do sistema publico de saúde vigente”. (BRAVO 2009, p.107). A partir da criação do SUS, começa a se pensar novas formas de tratamento para o setor psiquiátrico, conforme ressaltamos anteriormente necessitavam criar uma política que fizesse um resgate a dignidade dos portadores de transtorno mental, era preciso que se regulamentasse um controle das internações, sendo esse o ultimo recurso que deveria ser usado 39 para o tratamento desses pacientes, e que aos poucos oferecessem uma assistência digna aos usuários, a fim de resgatá-los ao convívio social. A seguir veremos de forma mais detalhada a implantação de um novo modelo de Assistência, onde contextualizaremos a implantação do CAPS no Brasil, Ceará e Fortaleza. 2.2 O Novo modelo de Assistência à Saúde mental no Brasil - O CAPS A portaria do Ministério da Saúde nº 224/92 estabeleceu diretrizes e normas da assistência em saúde mental, regulamentando novos serviços, dentre eles os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial). Seu surgimento deu- se no contexto da Reforma Psiquiátrica, apresentando-se como um serviço substitutivo, com a proposta de mudar o modelo (hospitalocêntrico), o qual predominou por muitos anos e provocou diversos debates ao seu modo de tratar os pacientes com transtornos mentais. Os dados oficiais do Ministério da Saúde (2005) retratam que o surgimento dos CAPS nas cidades brasileiras foi na década de 1980, passando a receber uma linha específica de financiamento do Ministério da Saúde a partir do ano de 2002, momento no qual estes serviços experimentam grande expansão. O CAPS surge, portanto para amenizar os problemas existentes na saúde mental, com a finalidade de cuidar dos pacientes com transtornos mentais, mostrando que é possível tratar de maneira diferente os que necessitam de ajuda psicológica, oferecendo-lhes um tratamento compartilhado pela família. Nesse processo, o primeiro CAPS foi inaugurado em março de 1986 na cidade de São Paulo, o Centro de Atenção Psicossocial Professor Luiz da Rocha Cerqueira, conhecido como CAPS da Rua Itapeva. Em seguida surge em vários municípios do pais serviços ligados a saúde mental e aos poucos através de muito trabalho os esses equipamentos começam a se consolidar como dispositivos necessários na diminuição das internações,apresentado uma mudança do modelo assistencial. 40 A seguir para uma melhor compreensão, veremos através de algumas tabelas a porcentagem do número de CAPS por tipo e ano e em seguida por tipo, região e UF, portanto vejamos: Tabela -1 Número de CAPS por tipo e por ano. Ao analisar a tabela 1 citada, percebemos, portanto, que o crescimento dos CAPS cresceu bastante desde sua Implantação, especialmente no ano de 2010 que teve o maior número de CAPS em relação 2006, foram criados durante esses 4 anos 610 novos equipamentos. De acordo com dados do Ministério da Saúde (2007), nos últimos quatro anos a expansão e qualificação da rede de atenção à saúde mental, sobretudo dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), foram objetivos principais das ações e normatizações do Ministério da Saúde. Para organização da rede de atenção à saúde mental num determinado território a expansão destes serviços foi fundamental para mudar o cenário da atenção à saúde mental no Brasil. Neste período o Ministério da Saúde pautou-se pela implantação de uma rede pública e articulada de serviços. Esse serviço oferece três modalidades de tratamento (intensivo, semi-intensivo, e não intensivo), que variam de acordo com a necessidade do indivíduo. O atendimento intensivo trata-se de atendimento diário oferecido quando a pessoa se encontra com grave sofrimento psíquico, em situação de crise ou dificuldades intensas no convívio social e familiar, precisando de atenção contínua. Esse atendimento pode ser domiciliar, se necessário. O semi-intensivo, no qual, o usuário pode ser atendido até doze dias no mês, sendo que essa modalidade é oferecida quando o sofrimento e a 41 desestruturação psíquica da pessoa diminuíram, melhorando as possibilidades de relacionamento. Mas devemos ressaltar que, o usuário ainda necessita de atenção direta da equipe do serviço para se estruturar e recuperar sua autonomia. E o não intensivo, que é oferecido quando a pessoa não precisa de suporte da equipe para viver em seu território e realizar suas atividades na família e/ou no trabalho, podendo ser atendido até três dias no mês12. A Portaria/GM nº 336 de 19 de fevereiro de 2002, define e estabelece as diretrizes para o funcionamento dos CAPS, além de categorizá- los e diferenciá-los conforme a clientela denominando-os de CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPS Ii, CAPS ad. As três primeirasmodalidades são definidas por ordem crescente de porte/complexidade e abrangência populacional. Prioritariamente, deverão atender a pacientes com transtornos mentais graves e persistentes em sua área territorial. Os CAPS I são destinados ao atendimento psicossocial para crianças e adolescentes, enquanto os CAPS ad, são designados ao atendimento de usuários com transtornos decorrentes do uso e dependência de substâncias psicoativas. A titulo de informação veja a seguir a segunda tabela, onde apresentaremos o número de CAPS por tipo, região e UF. 12 Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre. – Acesso em 12/07/13 Portal do Ministério da Saúde. Disponível em <http://portal.saude.gov.br/portal/saude 42 Segundo a tabela citada a Região Sudeste possui o maior numero de população e apenas 538 CAPS, em seguida vem o Nordeste com um numero menor de pessoas, porém possui um numero estimável de CAPS I, contabilizando um numero de 597 equipamentos distribuídos em CAPS I CAPS II CAPS III CAPS i CAPS ad. “A construção de uma rede comunitária de cuidados é fundamental para a consolidação da Reforma Psiquiátrica. A articulação em rede dos variados serviços substitutivos ao hospital psiquiátrico é crucial para a constituição de um conjunto vivo e concreto de referências capazes de acolher a pessoa em sofrimento mental. Esta rede é maior, no entanto, do que o conjunto dos serviços de saúde mental do município. Uma rede se conforma na medida em que são permanentemente articuladas outras instituições, associações, cooperativas e variados espaços das cidades” (Ministério da Saúde, 2005, p. 25). 43 Nesse sentido é necessário um atendimento articulado onde o usuário que sofre de doença mental seja contemplado não apenas com o uso de medicação, mais também receba uma atenção humanizada, oferecendo a esse usuário não apenas a solução de sua melhora através dos hospitais mais que faça esse usuário sentir-se capaz de ser inserido novamente a sociedade, que ele sinta-se apoiado. Vale ressaltar que, de acordo com os dados oficiais do Ministério da Saúde (2005) o número de pessoas com algum tipo de transtorno mental tem aumentado significantemente em todos os Estados do Brasil, demandando a criação de novos CAPS, com o objetivo de tentar suprir a demanda desses usuários, não bastava apenas medicar, era preciso ressocializar esses usuários, trazer de volta para seu meio, mostrar que eles podem retomar sua convivência garantida na sociedade13. Considerando os princípios de Reforma psiquiátrica os CAPS não devem ser complementares ao modelo hospitalar e sim substitutivos. Para isso acontecer cabe a esse equipamento oferecer um tratamento diferenciado, principalmente aos pacientes com transtornos mentais, possibilitando que este usuário seja o autor de seu tratamento, oferecendo um cuidado mais humanizado, promovendo assim à reinserção do indivíduo a sua família e seu ambiente social. De acordo com os estudos de Sampaio (2010,) o CAPS não constitui apenas um tratamento especifico para doentes mentais, ele tenta prevenir a rotulação, estigma e a cronificação que esses pacientes sofrem. Em seus objetivos o CAPS procura prevenir o isolamento dos portadores de transtornos 13 No Brasil, 23 milhões de pessoas (12% da população) necessitam de algum atendimento em saúde mental. Pelo menos 5 milhões de brasileiros (3% da população) sofrem com transtornos mentais graves e persistentes. De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria, apesar de a política de saúde mental priorizar as doenças mais graves, como esquizofrenia e transtorno bipolar, as mais prevalentes estão ligadas à depressão, ansiedade e a transtornos de ajustamento. Em todo o mundo, mais de 400 milhões de pessoas são afetadas por distúrbios mentais ou comportamentais. Os problemas de saúde mental ocupam cinco posições no ranking das dez principais causas de incapacidade, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/medicos+criticam+fechamento+de+leitos+em+hospitais+psiquiat ricos/n1237686226986.html - Acesso em:22/07/2013 44 mentais, buscando tratar sem a necessidade de internar, garantindo a eles a atenção, seja através de oficinas, grupos de apoio ou através do acompanhamento psicológico e médico, juntamente com o acompanhamento de sua família sem a quebra de nenhum vinculo. Nesse sentido, considerando a proposta em seu formato legal as práticas nos CAPS devem se caracterizar por ser dinâmica e por ocorrer em ambientes livres, abertos e acolhedor, onde a maior preocupação é o bem estar do sujeito em si, seu comportamento e sua evolução. Portanto, o CAPS deve ser um lugar de referência e tratamento para pessoas que sofrem de transtornos mentais, psicoses, neuroses graves e demais quadros cuja severidade ou persistência justifique sua permanência para a reabilitação psicossocial, por meio de cuidado intensivo, comunitário, personalizado e promotor de vida, numa atenção voltada para o sujeito, sua singularidade e história, cultura e vida cotidiana. É um serviço de saúde mental criado para ser substitutivo às internações em hospitais psiquiátricos (Viana, 2007). Em seguida veremos uma breve contextualização sobre a implantação dos CAPS´S no Ceará e em Fortaleza. 2.3 A implantação do CAPS no Ceará e em Fortaleza. No Estado do Ceará, com inspiração dos movimentos de reforma psiquiátrica no mundo e no Brasil, estabeleceu-se uma luta antimanicomial conjunta entre os profissionais de saúde e familiares de pacientes psiquiátricos, objetivando a implantação da mudança de assistência e tratamento na área de saúde mental. Conforme o Observatório de Recursos Humanos em Saúde (2007), o Estado do Ceará deu início ao processo de Reforma Psiquiátrica com a implantação do primeiro CAPS do Nordeste. Em 1991, em Iguatu, apresentando-se um dos pioneiros na transformação do modelo manicomial em um modelo de assistência psicossocial. 45 É importante destacar que o Poder Legislativo do Estado do Ceará, discutindo a temática relativa à inserção do portador de transtorno mental no convívio da sociedade, antecipou-se à normatização federal, concernente ao processo de reforma à assistência psiquiátrica, e editou a Lei nº 12.151, de 29.07.1993, conhecida como Lei Mário Mamede, que dispõe sobre a extinção progressiva dos hospitais psiquiátricos e sua substituição por outros recursos assistenciais, regulamenta a internação psiquiátrica compulsória e dá outras providências. No que diz respeito às internações psiquiátricas, esta lei Lei nº (12.151) determina no art. 4º que “A internação psiquiátrica compulsória deverá ser comunicada pelo médico que a procedeu, no prazo de vinte e quatro horas, à autoridade do Ministério Público e à Comissão de Ética Médica do estabelecimento”. No parágrafo segundo, desse artigo, destaca que o Ministério Público procederá às vistorias necessárias e, no art. 5º, determina prazo de quarenta e oito horas para que todas as internações psiquiátricas, compulsórias ou não, sejam confirmadas, através de laudo específico, por Junta Interdisciplinar, composta por membros da comunidade, trabalhadores em saúde mental e representantes do Poder Público local14. De acordo com os estudos de Sampaio (2010), a reconfiguração dos serviços de saúde mental, orientada para o cuidado no território, traz em si modificações nos modos de organizar os processos de trabalho e de produzir suas ações. Tal situação impôs
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