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HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA E DA SAÚDE MENTAL W B A 02 61 _v 1. 0 2 Joao Carlos Machiori de Claudio Rafael Lustosa Ribeiro Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020 HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA E DA SAÚDE MENTAL 1ª edição 3 2020 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Camila Braga de Oliveira Higa Revisor Carolina Pasquote Vieira Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Gilvânia Honório dos Santos Hâmila Samai Franco dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) __________________________________________________________________________________________ Ribeiro, Rafael Lustosa R484h História da psiquiatria e saúde mental/ Rafael Lustosa Ribeiro,Joao Carlos Machiori de Claudio – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020. 43 p. ISBN 978-65-86461-25-1 1. Reforma psiquátrica. 2. Saúde mental I. Ribeiro, Rafael Lustosa. II. Claudio, Joao Carlos Machiori de. Título. CDD 616.89 ____________________________________________________________________________________________ Jorge Eduardo de Almeida CRB 8/8753 © 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. 4 SUMÁRIO História da saúde mental e a reforma psiquiátrica __________________ 05 Legislações e políticas nacionais de saúde mental __________________ 21 A influência da reforma psiquiátrica na mudança do paradigma da assistência em saúde mental _______________________________________ 37 Competências necessárias à equipe multiprofissional para assistência em saúde mental e psiquiatria ______________________________________ 51 HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA E DA SAÚDE MENTAL 5 História da saúde mental e a reforma psiquiátrica Autoria: Rafael Lustosa Ribeiro Leitura crítica: Carolina Pasquote Vieira Objetivos • Entender como a doença mental era compreendida pelos homens nos primórdios da civilização. • Entender a história da saúde mental no Brasil. • Compreender os motivos que levaram à reforma psiquiátrica. 6 1. A doença mental nos primórdios da humanidade Inicialmente, os fenômenos que trouxeram os significados da loucura foram relatados nos impérios greco-romanos, somados com uma gama de outras patologias descritas a partir das explicações fornecidas pela mitologia. Em suma, os gregos acreditavam, por serem panteístas, que todas as causas tinham a ver com manifestações sobrenaturais influenciadas e/ou manipuladas por deuses e demônios (FOUCAULT,1978). Há cerca de 2.500 anos, na Grécia, existiam apenas alusões à loucura como doença mental, referenciada como comportamentos estranhos, personalidades incomuns ou desagradáveis e mesmo “possessões demoníacas”. Em muitos povos e culturas politeístas, como a do povo grego, a relação entre suas crenças religiosas e espiritualidade era diretamente ligada com alguns fenômenos que afligiam a mente humana. Desse modo, por exemplo, se uma pessoa estivesse com sintomas de euforia e demonstrando sexualidade exacerbada, de maneira a parecer apaixonada, com comportamentos exibicionistas, tentando chamar atenção, ou ainda, avançando para a conquista, os Gregos acreditavam que essa pessoa estaria sob a influência de Afrodite, a Deusa do Amor e da Beleza e/ou teria sido flechada por Eros, também conhecido como Cupido, o Deus da paixão. 7 Figura 1–Afrodite/Vênus Fonte: ZU_09/iStock.com. Figura 2 - Eros/Cupido Fonte: Louiza Antoniou/iStock.com. 8 Naquela época, era comum as pessoas acreditarem que acontecia uma “batalha entre o bem e o mal” durante um “manifesto” patológico- mental, em cada cultura e civilização isso era interpretado de forma diferente, e na civilização grega, politeísta, isso naturalmente seguia a mesma linha. Segundo Foucault (1978), as possessões foram uma das formas mais significativas usadas para explicar comportamentos considerados desviantes, o energúmeno (o possesso) representava uma gama de sentimentos ruins ou males que afligiam a mente humana, que descontrolado não conseguia obter equilíbrio, causando sofrimento a si mesmo e aos demais. Então, o possesso era o louco? No entendimento daquela época, para aquele tempo, sim. No entanto, ainda fica a questão: como chegamos ao termo “louco”, tão utilizado na língua portuguesa contemporânea? O termo “louco”, trazido aqui para o português, é de origem controversa: malus – mal, que traria a ideia de “maluco” em português, pode ter sofrido uma redução no sufixo para “luco”, depois dialetado para “louco”. Dessa forma, “loucura”, tida como mal patológico, pode vir do étimo de “maluco”, embora não esteja ligado diretamente ao latim malus. “Malos” é um derivado de “malo”, em espanhol, que significa “mal”, em português. Esse, por sua vez, a “malus”, explica Viaro (2011), assim, a palavra “maluco” passou a significar ‘mal da cabeça’, em português. Segundo Vasconcellos (2000), pensadores como Platão, Aristóteles e Hipócrates (considerado o pai da medicina ocidental) demonstraram interesse em classificar os manifestos de loucura, considerando conceitos como histeria, melancolia, anedonia, manias, fobias e outros, que mais tarde viriam a ser compreendidos com o avançar da ciência médica. 9 Após a ascensão das ideias filosóficas dos grandes pensadores gregos, como Platão e Aristóteles, e da evolução da medicina e da compreensão das doenças, com classificação de sinais, sintomas, construção nosológica, e composição de prontuários nas definições de teorias etiológicas, pelos estudos de Hipócrates, temos uma sequência evolutiva acerca da visão da doença mental e da loucura nas civilizações (FOUCAULT, 1978). Esses pensadores observaram pessoas apresentando comportamentos que seriam analisados a partir de uma perspectiva sequencial de: • Classificar/diagnosticar e dar prognósticos. • Iniciar terapêuticas/tratamentos. • Considerar o passar do tempo de evolução patológica a partir das perspectivas de casualidade e as teorias adaptativas humorais. Com essas perspectivas hipocráticas, o conceito de patologias, inclusive as psíquicas, foi se ampliando. Alguns séculos depois, a estruturas de exclusão social passam a ser ocupadas pela figura do louco, o dito maníaco, assim, estava para nascer como marco negativo da história da doença mental, a era manicomial. Apesar de já existirem mecanismos de exclusão do patológico psíquico, ainda não era o tempo em que a loucura seria compreendida como um fenômeno que requeira um saber específico, tanto que os primeiros estabelecimentos criados para encarcerar doentes mentais eram destinados a retirar do convívio social as pessoas consideradas inaptas para esse convívio. O primeiro manicômio com essa função, que se tem registro, foi construído em Valência, Espanha, dirigido pelo Frei Juan Gilberto Jofre, em 1409. Segundo Nogales Espert (2001), essa estrutura funcionou até 1808. 10 No século XVI, alguns movimentos começam a se destacar na busca por compreender a mente dos indivíduos que viviam em isolamento.Nesse contexto, destaca-se o nome de Philippe Pinel, (Saint André, 20 de abril de 1745 — Paris, 25 de outubro de 1826) médico francês, considerado por muitos o pai da psiquiatria. Segundo Teixeira (2019), seu nome se destacou por ter considerado que os seres humanos que sofriam de perturbações mentais eram doentes e que, ao contrário do que acontecia na época, deviam ser tratados como doentes e não de forma violenta. 2. Histórico da reforma psiquiátrica no Brasil: crítica ao modelo hospitalocêntrico No Brasil a história não difere tanto em relação a evolução europeia, onde houveram épocas em que os tidos como loucos eram maltratados, mortos, presos e isolados. Segundo Miranda-Sá Jr. (2007), segue-se o momento nas épocas coloniais, em meados dos anos de 1800, em que os asilos e manicômios foram criados com as mesmas tendências europeias. Dessa forma, os doentes mentais eram isolados do contexto social, sem tratamentos dignos, segregados em locais que não atendiam as necessidades que são exigidas quando uma perturbação se estabelece de forma psíquica. Posteriormente, passou-se à pratica dos cuidados com o doente mental de formas específicas conforme seus “manifestos”, isso fez com que a saúde mental fosse vista de uma forma distinta do paradigma anterior. Juliano Moreira (Salvador, 6 de janeiro de 1873 — Rio de Janeiro, 2 de maio de 1932) foi médico e um dos pioneiros da psiquiatria brasileira. Segundo Almeida (2008), ele foi o primeiro professor universitário a citar e incorporar a teoria psicanalítica no 11 seu ensino na Faculdade de Medicina. Entre os anos de 1903 a 1930, no Rio de Janeiro, ele dirigiu o Hospício Nacional de Alienados. Nesse hospício, embora não fosse professor da Faculdade de Medicina do Rio, recebia internos para o ensino de psiquiatria. Ainda, segundo Almeida (2008), uma figura tão importante como Carlos Chagas, ou Oswaldo Cruz, na época em que viveu em pleno auge da transição higienista para as reformas sanitárias, fez várias mudanças no modo como a psiquiatria deveria ser conduzida dentro dos asilos, entre elas: instalou laboratórios de anatomia patológica e de bioquímica no hospital; remodelou o corpo clínico, com entrada de psiquiatras/neurologistas e outros especialistas; aboliu o uso de coletes e camisas de força, retirou grades de ferro das janelas; cuidou para que houvesse registros administrativos, estatísticos e clínicos, e reorganizou a “Assistência aos Alienados”. Seguindo a Lógica manicomial, Francisco Franco da Rocha (Amparo, 23 de agosto de 1864-1933), médico psiquiatra, foi o pioneiro no uso de técnicas modernas no tratamento de doenças mentais no Brasil. Entretanto, ele ainda mantinha os moldes manicomiais da época, em 1898 foi fundador do Asilo de Alienados do Juqueri, que em 1928 passou a se denominar Hospital e Colônias de Juqueri e, mais tarde, Hospital Psiquiátrico do Juqueri, localizado no atual município de Franco da Rocha (ALMEIDA, 2008). Nesse sentido, em meados do século XX, esse chegou a ser o maior hospital psiquiátrico da América Latina. Desse modo, Franco da Rocha contribuiu com ideias de terapia ocupacional para os doentes mentais, porém houve tempo em que essas ideias foram distorcidas e o trabalho dos internos era utilizado com produção não remunerada, além disso, corruptos obtinham lucro com essa ação, o que gerou diversas denúncias, que, por sua vez, fizeram com que as práticas de ocupação para os doentes mentais fossem mal vistas na época. 12 Segundo Almeida (2008), em 1958, o hospital chegou a ter mais de 14 mil internados. Um pavilhão para menores foi inaugurado em 1922 e em 1957, do total de doentes 3.520 eram crianças. O Juqueri perdeu o controle e o propósito na década de 1920, semelhante a outros asilos, com a adoção de práticas bárbaras, devido à falta de gestão e fiscalização desses espaços de confinamento. Segundo Arbex (2013), as práticas manicomiais eram das mesmas correntes cruéis que ocorreram em Barbacena (MG), no Hospital Colônia: superlotações; contenções como punição e castigo, não visando a segurança do paciente, muitas vezes, sem uso de sedativos; falta de roupas, em que muitos ficavam nus; e, uso de instrumentos não esterilizados em procedimentos. O supracitado manicômio, na época, chamado de “hospício”, no Brasil, em Barbacena (MG), no ano de 1958 recebeu suas primeiras denúncias sobre o segregar seres humanos em condições deploráveis. Nessa época, havia um padrão da lógica manicomial brasileiro preestabelecido, no qual muitos pacientes internados sofreram com os atrasos do país em relação a inexistência de políticas sérias que tratassem de forma digna as pessoas com doenças mentais. No entanto, asilos similares ao Juqueri e ao Hospital Colônia de Barbacena marcaram a era manicomial brasileira, em que não havia perspectivas para melhora do quadro psíquico ou, até mesmo, nas condições em que os internos viviam, tão pouco, de um dia, para a maioria deles, sequer receber alta. Segundo Arbex (2013), em 1966, em Barbacena, no Hospital Colônia, eram 4.800 internos e em média 700 mortes por ano. 13 Figura 3–Paciente tomando água do esgoto no Hospital Colônia Fonte: Arbex (2013, [s.p.]). Com isso, a justificativa formal era que, por causa do aumento do número de “alienados” no Estado de Minas Gerais, as Santas Casas e os hospitais gerais tinham elevados gastos com a manutenção dos doentes mentais e, na época, o Convênio Nacional de Saúde Brasileira investia todos os seus custos em sanitarismo, no auge dos pós Revolta da Vacina, com as campanhas de Carlos Chagas. Em sua concepção alienista das práticas psiquiátricas da época, o hospital funcionou bem, durante os primeiros 20-30 anos, ele era visto como centro de referência para internar pacientes de várias regiões do Estado mineiro, desde Belo Horizonte até o interior. Com o crescimento da demanda, foram necessárias reformas para se adequar a quantidade de internos, chegando a abrigar mais de quatro mil doentes com patologias mentais diversas. 14 Desse modo, por receber essa demanda tão peculiar, a cidade de Barbacena ficou conhecida como “cidade dos loucos”. Com o passar dos anos, a gestão e a logística foram se perdendo, e os pavilhões em estado precário de conservação não comportavam mais o excessivo número de pacientes que estavam alocados de forma depositária, convivendo com a inexistência de tratamento, falta de medicamentos e alimentos. Segundo Peron (2013), o Hospital Colônia revelou ser o maior em muitos números: em tamanho, com 8 milhões de m²; em tempo de existência, funcionando entre os anos de 1903 a 1980; e em maior dado trágico, pois 60.000 pessoas morreram nas dependências do hospital. Um livro descreve muito bem essa tragédia, inclusive com acervo fotográfico de reportagens jornalísticas, sendo organizado em torno das histórias pessoais e entrevistas com trabalhadores do local, médicos e pacientes sobreviventes. No total, restaram 200 sobreviventes e a maioria deles está relatava no livro. “Todo o simples cenário necessário para a presença da banalidade do mal, que está sempre entre nós: “O fato é que a história do Colônia é a nossa história. Ela representa a vergonha da omissão coletiva que faz mais e mais vítimas no Brasil” (ARBEX, 2013, p. 255). A luta antimanicomial europeia, que mais tarde influenciou as ideias de reforma psiquiátrica brasileira, começou no século XX, em que Franco Basaglia (1924-1980) foi um dos principais precursores na Itália. Segundo Silveira (2005), em Trieste, ele promoveu a substituição do tratamento hospitalar e manicomial por uma rede territorial de atendimento, da qual faziam parte os serviços de atenção comunitários, emergências psiquiátricas em hospital geral, cooperativas de trabalho protegido, centros de convivência e moradias assistidas, chamadas por ele de “grupos-apartamento”, destinados aos loucos. 15 Basaglia visitou o Brasil algumas vezes e conheceu as grandes instituições asilares,chegou a compará-las aos campos de concentração da segunda Guerra Mundial (SILVEIRA, 2005). Segundo Peron (2013), após esse destaque negativo observado no Brasil e levado para o mundo na visão de Basaglia, de 1960 a 1970, a imprensa começou a divulgar reportagens denunciando os maus-tratos aos internos e as condições em que viviam, mobilizando a opinião pública sobre a situação de Barbacena (MG). Em meio à existência persistente da lógica manicomial, após denúncias de profissionais da saúde e depoimentos de familiares de internos sobre como era a vida dentro do manicômio, movimentos pró-reformistas começam a ganhar impulso, com isso, em 1975, o Brasil começou a luta antimanicomial. A partir disso, vários movimentos seguiram por parte de profissionais de saúde e de familiares de portadores de transtornos mentais, bem como de pessoas que foram internadas e sentiram na pele os percalços da vida asilar, na busca por reformar o modelo de internação vigente na época. Em 1987 ocorreu a primeira Conferência Nacional de saúde mental, que apresentou temáticas sobre tratamentos psiquiátricos mais humanizados, focando na reforma em relação ao modelo hospitalocêntrico, que é modelo de internações baseado em hospitalizar as pessoas e mantê-las internadas, o movimento oposto propunha a criação de atendimentos que substituíssem e rompessem esse paradigma, a fim de combater as práticas manicomiais e reinserir as pessoas com patologias mentais na sociedade, ao invés de isolá-las afastando-as. Com a Constituição Federal (1988), somados com o advento do Sistema Único de Saúde (SUS) nos anos 90, passou a ser direito de todos a 16 participação na gestão do SUS, dessa forma, foi possível a criação de garantias legais para manter as reivindicações a respeito da reforma psiquiátrica. Todo movimento pautado em uma legislação é aceito pela sociedade com mais facilidade, no geral, o movimento da reforma psiquiátrica não visava uma revolta social, mas uma mudança estruturante. Essas garantias legais foram o reforço que o movimento reformista precisava, pois, com a possibilidade de participação na gestão do Sistema único de saúde, as pessoas poderiam se organizar em blocos populares, formando eventos com movimentos políticos e reivindicando direitos e melhorias para qualquer necessidade ou demanda de saúde mais emergente. A seguir, trataremos esse tema melhor quando falarmos sobre a Declaração de Caracas. 2.1 A implementação de uma rede extra: hospitalar Em 1992, a segunda Conferência Nacional de Saúde mental utilizou o evento para compor a reforma psiquiátrica junto com a reforma sanitária, que ocorria após a implementação do SUS. A necessidade de combater a lógica manicomial era iminente e a Luta antimanicomial ganhou força em 1995, com uma aderência social, principalmente, por parte das famílias e profissionais de saúde que discordavam das práticas existentes. A partir da conferência, são criados os primeiros NAPS, chamados de núcleos de apoio psicossociais e depois os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs) e as Unidades Psiquiátricas em Hospitais Gerais (UPHG). Segundo Bezerra Jr. (2004), com os programas da Saúde da Família consolidados, foi possível cobrir áreas e mapear melhor as necessidades de atenção específica de saúde mental, esse binômio (Reforma 17 psiquiátrica e Sistema Único de Saúde) foi uma parceria bem-sucedida para possibilitar a reforma em escala nacional. Os serviços substitutivos foram se ampliando em vários Estados brasileiros, que foram aderindo as ideias reformistas, de forma distinta, criando uma rede de atenção psicossocial (RAPS). Porém, haviam muitos interesses econômicos de setores privados que desejavam a manutenção do Sistema institucionalizante e da psiquiatria fechada, assim, opondo-se à reforma psiquiátrica (BEZERRA JR., 2004). A Reforma Psiquiátrica Brasileira foi um movimento social e político que aconteceu em concomitância com a saúde pública, conforme mencionamos anteriormente. Outro fator que reforçou o Brasil avançar com a reforma, foram os movimentos em toda América Latina após a Declaração de Caracas, denominada: “A reestruturação da atenção psiquiátrica na América Latina: uma nova política para os serviços de Saúde Mental”, em 1990. O Brasil aderiu a essa Declaração, e a ela se articulou um longo e conturbado movimento de trabalhadores de saúde mental, movimento legalizado e garantido pela Constituição Federal (1988) e pelas legislações do SUS (1990). Nesse sentido, uma legislação que marcou a legalização em nível nacional de uma psiquiatria aberta, que ordenava o fechamento de instituições manicomiais de psiquiatria só surgiu mais tarde, em 2001, junto com a Terceira Conferência Nacional de Saúde mental (BRASIL, 2001). 3. A Reforma Psiquiátrica depois da lei Nacional (2001-2005) Após todos os movimentos pró-reformistas, a lei 10.216, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos 18 mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, criada em 6 de abril de 2001, garantia um passo importante para o fechamento dos hospitais psiquiátricos e das práticas manicomiais (BRASIL, 2001). Como ponto de partida, em 2020, foram criados os Centros de Atenção Psicossocial, que passaram a atuar como porta de entrada reguladora do Sistema. Mas, antes de falar de CAPS, vale citar o programa “De volta para casa” (PVC). No dia 31 de julho de 2003 foi criada a Lei n. 10.708, instituindo o auxílio-reabilitação psicossocial para pacientes acometidos de transtornos mentais, egressos de internações. Essa lei, por sua vez, garante o auxílio social e financeiro para aqueles usuários do Sistema que viveram durante muitos anos confinados nos hospitais psiquiátricos nos tempos de prática manicomial. Dessa forma, todos os portadores de sofrimentos psíquicos que tem paradeiro de familiares, ou responsáveis para tutorá-los, podem receber auxílio financeiro mensal para manutenção do seu tratamento em rede aberta. Esse programa foi importante para sucesso do planejamento e ampliação da RAPS, bem como a criação de centros de convivência e as Residências Terapêuticas. Para aqueles que não têm essas condições, foram criadas as residências terapêuticas, prevendo que muitos usuários da rede de atenção psicossocial não teriam paradeiro familiar ou lugar para viver após saírem da condição asilar, que viviam anteriormente nos hospitais psiquiátricos. Assim, todos os casos seguiriam tratamento nos CAPS (BRASIL, 2001). Segundo Miranda Sá-Jr. (2004), em 2005, foi retomada a “Declaração de Caracas”, sob a forma de um documento intitulado “Princípios Orientadores para o Desenvolvimento da Atenção em Saúde Mental nas Américas”, com o objetivo de avaliar os resultados obtidos desde 1990. 19 Dessa forma, os organizadores reconhecem avanços importantíssimos que se produziram nos últimos quinze anos para reestruturar as práticas psiquiátricas, como: a ampliação de serviços substitutivos e estruturação de uma rede de tratamento psiquiátrico aberta, visando a reinserção do portador de sofrimento psíquico na sociedade; observando experiências que deram certo e foram desenvolvidas em diferentes países, assim como desafios que foram encontrados nos últimos anos, as dificuldades e todo o processo que precisava de melhorias. Além disso, reafirmou-se a validade dos princípios contidos na “Declaração de Caracas” em relação à proteção dos direitos humanos, da cidadania dos portadores de transtornos mentais e a necessidade da construção de redes de serviços alternativos aos hospitais psiquiátricos. As práticas em saúde mental desenvolvidas ao longo do tempo, para chegar no modelo de psiquiatria aberta instituído após 2001, passaram por refinamentos e pela participação de uma série de movimentos políticos, bem como reajustes legislativos e a revisão de pactuações constantes. O CAPS é o ponto chave para que a reformase mantenha no Brasil, utilizando de equipes multiprofissionais e interdisciplinares, esses serviços substitutivos podem dar um suporte terapêutico individualizado, tratando caso a caso. Encerramos nosso processo histórico sobre saúde mental por aqui, espero que, com essa tema, você tenha obtido os conhecimentos necessários para sua vida pessoal e para sua vivência profissional. Em verdade, há muitos detalhes a serem desvelados na vastidão histórica que compreende a evolução das doenças mentais, e você está diante de uma porta de entrada convidativa ao buscar um curso na busca por especializar-se nessa área. 20 Que essas reflexões acerca da loucura, do sofrimento psíquico e dos males que acometem a mente humana desde sempre, bem como as tantas experiências e suas possibilidades de tratamento, possam ter lhe trazido compreensão desse universo complexo, porém curioso e profundo, que é a história da psiquiatria. Referências Bibliográficas ALMEIDA, F. M. de. O Esboço de psiquiatria forense de Franco da Rocha. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, São Paulo, v. 11, n. 1, p. 137- 150, mar. 2008. ARBEX, D. Holocausto Brasileiro. São Paulo: Geração Editorial, 2013. BEZERRA JR., B. O cuidado nos CAPS: os novos desafios. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Saúde, 2004. BRASIL. Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Brasília, DF: Presidência da República, [2001]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm. Acesso em: 15 abr. 2020. FOUCAULT, M. História da Loucura na Idade Clássica. São Paulo: Perspectiva, 1978. MIRANDA-SÁ JR, L. S. de. Breve histórico da psiquiatria no Brasil: do período colonial à atualidade. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 29, n. 2, p. 156-158, 2007. NOGALES ESPERT, A. La enfermería y el cuidado de los enfermos mentales en el s. XV. Cultura de los cuidados, Alicante, ano 5, n. 9, p. 15-21, 1 sem. 2001. TEIXEIRA, M. O. L. Pinel e o nascimento do alienismo. Estudos e Pesquisas em Psicologia, Rio de Janeiro, v. 19, n. 2, 2019. VASCONCELLOS, J. Filosofia e loucura: a ideia de desregramento e a filosofia. In: AMARANTE, P. (org.). Ensaios: subjetividade, saúde mental, sociedade [online]. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2000. p. 13-23. (Coleção Loucura & Civilização) VIARO, M. E. Etimologia. São Paulo: Contexto, 2011. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm 21 Legislações e políticas nacionais de saúde mental Autoria: Rafael Lustosa Ribeiro Leitura crítica: Carolina Pasquote Vieira Objetivos • Elucidar o respaldo do Sistema Judiciário para o movimento da reforma psiquiátrica brasileira. • Compreender a lei que garante os tratamentos e direitos aos portadores de doença mental no Brasil. • Estudar os dispositivos que ofereçam infraestrutura aos serviços substitutivos dos hospitais psiquiátricos. 22 1. Evolução jurídica da saúde mental no Brasil No Brasil colonial, a doença mental era motivo de cerceamento, encarceramento e segregação do meio social, foi a partir desse ponto que as práticas asilares para tratamento da loucura tiveram início no país. O estabelecimento de manicômios, asilos para alienados e hospitais de grande porte para internar pessoas com doenças transmissíveis, como leprosos, sifilíticos, tuberculosos ou os considerados loucos, era a tendência nos anos de 1850 em diante, até meados dos anos 1960, mesmo quando o Brasil se tornou uma república. Esse modelo de saúde é conhecido como Hospitalocêntrico. Nesse sentido, Mansanera e Silva (2000) afirmam que não existiam políticas específicas para atender esse tipo de situação em especial, como as doenças mentais, assim, vigoravam no Brasil, como ocorria na Europa, a medicina higienista e as linhas alienistas, que visavam higienizar as cidades por meio da remoção coercitiva de pessoas que apresentassem problemas de saúde, isolando e prendendo essas pessoas em locais distantes para acompanha-las em seu processo patológico, muitas vezes, sem condições de tratamento ou cura. O alienismo, por sua vez, tratava dos alienados, pessoas com problemas de ordem mental, aqueles que estavam alheios as normas da sociedade. As ideias de psiquiatria e tratamentos psiquiátricos só chegaram ao Brasil com o advento do ensino dessa disciplina nas universidades, um dos pioneiros foi João Carlos Teixeira Brandão (Rio de Janeiro, 28 de dezembro de 1854 — Rio de Janeiro, 3 de setembro de 1921) e Juliano Moreira (Salvador, 6 de janeiro de 1872 —1933), frequentemente considerado como o fundador da disciplina psiquiátrica no Brasil (ODA; DALGALARRONDO, 2000). 23 Ambos influenciados pelas ideias e os feitos de Phillipe Pinel e Jean E. Esquirol, na França, que durante o século XIX buscavam compor a psiquiatria como ciência, classificando diagnósticos e tratando os pacientes no Asilo Feminino de Bicetrê, de maneira diferenciada da tendência ao isolamento. Dessa forma, demonstrando diagnósticos e prognósticos para os pacientes, eles realizaram muitos estudos importantes que contribuíram para firmar a disciplina de psiquiatria como ramo das ciências médicas (SILVEIRA; BRAGA, 2005). Desse modo, os estudos das doenças mentais e sofrimentos psíquicos foram evoluindo com o tempo e, devido aos comportamentos desviantes da norma preceita socialmente, os doentes mentais, chamados de alienados, não tinham ainda uma distinção de tratamento sobre sua patologia. A ação de implantar uma lei relativa aos doentes mentais brasileiros surgiu do pioneiro docente de psiquiatria da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro o, então, deputado e professor doutor, João Carlos Teixeira Brandão. Segundo Macedo (2006), Brandão foi relator do Decreto n. 1.132 de 1903, promulgado no governo do presidente Rodrigues Alves, que reorganizou a assistência aos doentes mentais que ainda eram chamados de “alienados”. Ainda segundo o autor, a influência decorrente da lei francesa de 1838, que se referia a como deveriam ser as condições para tratamentos dos alienados e, como deveriam ser construídas as estruturas manicomiais, nesse momento histórico da sociedade francesa, a psiquiatria já estava estabelecida como ciência e os manicômios já separavam pacientes por sexo, patologias e gravidade da patologia (MACEDO, 2006). 24 Segundo Macedo (2006), era evidente nesse decreto, que impediu o intento de unificação da assistência psiquiátrica no Brasil, o estímulo à construção de asilos estaduais e a proibição definitiva do cerceamento de doentes mentais em prisões. Além disso, definia a tratamentos mais humanos em relação à época. A doença mental, como em outras partes do mundo ocidental, permaneceu ligada a três dimensões: médica, jurídica e social. O decreto em questão também é o responsável por firmar a ideia de que o doente mental não possui a imputabilidade e a capacidade de gerir seus bens e a si mesmo, devendo se submeter a uma tutoria ou curador, que também é o responsável pela guarda provisória dos bens do doente. Assim, o paciente não teria direito de causa para interferir ou opinar sobre o seu tratamento, ou sobre suas terapêuticas. Segundo o trabalho de Macedo (2006), quando foi aprovado o Código Civil de 1916 o Decreto n. 1.132 ainda estava em vigor, seguindo o caminho determinado por ele em alguns aspectos que se referem à capacidade civil dos doentes mentais, mas, em contrapartida, determinando-os de “loucos de todo o gênero” em vez de “alienados de qualquer espécie”, como estava no projeto original. Não houve, inclusive, a preocupação de definir rigidamente, de forma clara ou singular, os que fossem alienados mentais, então, no entendimento apresentado na época, todos “aqueles que”, por organização cerebral incompleta ou moléstia localizada no encéfalo, lesão somática ou vício de organização, não gozam de equilíbrio mentale clareza de razões suficientes para se conduzirem socialmente nas várias relações da vida (MACEDO, 2006). Em 1927, o Decreto n. 17.805 estabeleceu a distinção entre “psicopata”, como todo e qualquer doente mental, e “alienado”, que se referia ao doente mental perigoso, sujeito à incapacidade penal e 25 civil. Dessa forma, a internação do alienado passou a ser obrigatória (SOARES FILHO; BUENO, 2016). Em 1934, sob o governo getulhista, entrou em vigor o Decreto n. 24.559, assim, revogando o anterior de 1903. Nesse decreto, o termo alienado foi retirado do ordenamento jurídico, que passou a referir-se somente ao “psicopata”. A incapacidade do doente mental foi reafirmada, sendo facilitado o recurso à internação, válido por qualquer motivo que torne incômoda a manutenção do psicopata em sua residência com os familiares, meio social ou tutores (SOARES FILHO; BUENO, 2016). Atualmente, por exemplo, a psicopatia ou o termo “Psicopata” determina um comportamento antissocial, no sentido de ser anti as regras sociais, geralmente, com que os criminosos e os foras da lei são designados com esses tipos de transtornos da personalidade, e apresentam comportamentos irregulares, com baixa capacidade de empatia, ausência de remorso, com atitudes de dominância ou parasitárias em relação a outras pessoas ao seu redor (SOARES FILHO; BUENO, 2016). O entendimento para a época era que a internação era considerada o tratamento padrão, recomendado a todo e qualquer indivíduo portador de qualquer tipo de transtorno mental. Sendo assim, o tratamento extra-hospitalar era e exceção, em que, segundo o trabalho de Macedo (2006), a mínima suspeita de sintomas ou instaurar de doença mental bastava para que o indivíduo fosse cerceado em situação asilar, seus direitos civis seriam suprimidos e ele seria submetido à tutela do Estado. Não haviam garantias, segundo o trabalho de Macedo (2006) e Soares Filho e Bueno (2016), contra a medida de internação compulsória. Novamente a saúde mental e segurança pública estavam interligadas em uma conexão de Justiça e Psiquiatria, com o tratamento, que 26 deveria ser pensado de forma biomédica, sendo associado ao aspecto legal. Em razão do potencial de periculosidade, o psicopata passou a ser visto em um misto dos enfoques jurídicos e médicos, na medida em que sua mera existência era uma questão de ordem pública. Em meados da década de 1960, o saber psiquiátrico foi confrontado pelo surgimento da corrente antipsiquiátrica, a qual questionava a psiquiatria convencional enquanto conhecimento científico, propondo serem frágeis as próprias bases que fundamentam a existência da doença mental. A loucura, portanto, passa a não ser vista como doença, mas um reflexo do desequilíbrio social e familiar do meio onde o indivíduo se encontra inserido, devendo o empenho em sua cura se localizar nessas causas, excluindo as disfunções orgânicas tão propagadas anteriormente (MACEDO, 2006). Na mesma década, na cidade italiana de Trieste se originou o movimento da Reforma Psiquiátrica europeia, que então, atingiria muitos países nas décadas subsequentes. Segundo Macedo (2006), seu fundamental precursor foi Franco Basaglia que não optou por negar a ideia de patologia, como os antipsiquitras, todavia, propôs que o saber da psiquiatria fosse repensado. O texto de Macedo (2006), ainda faz com que pensemos quantos estigmas o dito “louco” teria em sua perda de identidade quando internado: “[...] perderia sua identificação enquanto cidadão, trabalhador, proprietário, pai e tantas outras que lhe foram retiradas quando do início de seu tratamento em instituição asilar, quando adquiriu o estigma de incapaz, perigoso ou antissocial. A inovação da metodologia empregada se fez com o recurso ao hospital-dia, que permitia a continuidade da inserção do indivíduo em seu meio social e familiar na constância do tratamento”. (MACEDO, 2006, p. 5) 27 Figura 1 – Franco Basaglia Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:1979_-_BasagliaFoto800.jpg. Acesso em: 16 abr. 2020. Sob as influências advindas da Europa e as visitas do psiquiatra Franco Basaglia, a realidade brasileira vivenciou o processo da Reforma Psiquiátrica a partir da década de 1970, a partir de várias manifestações de setores distintos da sociedade, visando a redução do cerceamento da liberdade individual na forma de manicômios e asilos. No fim dos anos 80, por sua vez, surgiu o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental, lançando o lema “Por uma sociedade sem manicômios” e estimulando a produção legislativa de vários estados, no sentido de proceder à desistitucionalização (SILVEIRA; BRAGA, 2005). https://commons.wikimedia.org/wiki/File:1979_-_BasagliaFoto800.jpg 28 2. A Lei n. 10.216/01 e a reforma psiquiátrica Após todos os movimentos pró-reformistas, a Lei n. 10.216, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, criada em 6 de abril de 2001, garantiu um passo importante para o fechamento dos hospitais psiquiátricos e para o fim das práticas manicomiais. A lei 10.216 (BRASIL, 2001, [s.p.]) traz em seu texto jurídico, nos dois primeiros artigos: “Art. 1º Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, de que trata esta Lei, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra. Art. 2º Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus familiares ou responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único deste artigo”. Dessa forma, são direitos da pessoa portadora de transtorno mental: I–ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades; II–ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade; III–ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração; IV–ter garantia de sigilo nas informações prestadas; V–ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária; 29 VI–ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis; VII–receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento; VIII–ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis; IX–ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental”. (BRASIL, 2001, [s.p.]) É fundamental analisar esse texto jurídico para ter conhecimento da importância das garantias contidas nele, principalmente no parágrafo único do artigo 2º, os nove direitos que uma pessoa portadora de doença mental deve ter. No artigo 3º, o texto diz que “… o desenvolvimento da política de saúde mental é de responsabilidade do Estado…” (BRASIL, 2001, [s.p.]). O contexto do artigo 4º indica que as internações só são indicadas se os serviços substitutivos, extra-hospitalares não forem suficientes para o caso e, seus parágrafos procuram individualizar o tratamento. Para cada indivíduo portador de doença mental é construído um Projeto Terapêutico Singular, uma PTS, isso confere a pessoa um tratamento personalizado para atender sua demanda. Vamos para uma análise literal do art. 6º: “Art. 6º A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os seus motivos. Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica: I–internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário; 30 II–internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e III–internação compulsória: aquela determinada pela Justiça”. (BRASIL, 2001, [s.p.]) Esse artigodefine quais são os três tipos de casos de internação, uma informação importante para todos os profissinais da saúde conhecerem e saberem suas diferenças na prática. O artigo 8º, por sua vez, falará sobre como é determinada a autorização voluntária, mas seus parágrafos tratam de compreender sobre a involuntária também, afirmando que todas as internações involuntárias devem ser comunicadas ao ministério público, e os familiares ou responsáveis legais têm poder de decisão caso desejem encerrar o processo de internação do paciente. Essa análise pode ser aprofundada com a leitura do texto legislativo deixado como referencial. Agora, é importante conhecer os dispositivos que tornam a reforma psiquiátrica possível complementando leis com os serviços substitutivos aos manicômios. Como é a base do Sistema Único (SUS), a saúde mental é incorporada nas políticas públicas de saúde a partir de 2001 e, assim, o Governo tem toda a responsabilidade e poder de fazer cumprir a legislação. Para tanto, cabe a ele fiscalizar para que as práticas manicomiais não sejam novamente incorporadas na lida com pacientes usuários da rede de apoio psicossocial. Desse modo, é de responsabilidade de todos cultivar perspectivas de manutenção dos serviços abertos de saúde mental, acessíveis, com envolvimento familiar no tratamento individualizado dos usuários 31 desses serviços, visando a reinserção social do portador de doença psíquica. 3. Dispositivos substitutivos e infraestrutura da rede de apoio psicossocial Como ponto de partida, em 2002 foi criado como serviço substitutivo principal o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), que passou a atuar como porta de entrada reguladora do Sistema. Mas antes de falar de CAPS, vale a pena citar o programa “De volta para casa”, que garante auxílio social e financeiro para aqueles usuários do sistema que viveram durante muitos anos confinados nos hospitais psiquiátricos durante os tempos de prática manicomial. Esse programa é abarcado no artigo 5º da Lei n. 10.216/01 (BRASIL, 2001). Todos os portadores de sofrimentos psíquicos que tem paradeiro de familiares, ou responsáveis para tutorá-los, podem receber auxílio financeiro mensal para manutenção do seu tratamento em rede aberta. Para os que não tem essas condições, em 2001 foram criadas as residências terapêuticas, prevendo que muitos usuários da rede de atenção psicossocial não teriam paradeiro familiar ou lugar para viver após saírem da condição asilar que viviam anteriormente nos hospitais psiquiátricos. Além de atender aos indivíduos que não tem família, os serviços de residências terapêuticas são casas que acolhem de maneira temporária ou permanente os pacientes que viveram em situações manicomiais durante muitos anos e perderam a orientação e/ou não tem condições para se manterem sem cuidados tutorados. 32 Todos os casos, tanto os que tem familiares e/ou tutores, quanto os residentes em casas terapêuticas, deverão seguir seu tratamento nos CAPS, conforme orienta a lei. Esse serviço é diferenciado de acordo com o público que o frequentam e o contingente populacional presente na região. Frente a quantidade de pessoas, a divisão do CAPS é feita como: • CAPS I para regiões de até 15 mil habitantes. • CAPS II atende regiões até 70 mil habitantes. • CAPS III regiões até 150 mil habitantes, onde, esse último tem como diferencial o acolhimento noturno e em finais de semana. • CAPS AD, os que apresentam cuidado especializado a dependentes químicos. • CAPS i, os que apresentam cuidado especializado a crianças em sofrimento psíquico. • CAPS AD IV, o que apresenta cuidado aos pacientes em quadros graves ocasionados pelo uso de substâncias psicoativas (BRASIL, 2011; BRASIL, 2017). 3.1. Estruturação legal de rede com dispositivos para apoio nos casos de uso de álcool e drogas Não menos importante e em consonância com a segurança pública, o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD), sob a Lei n. 13.840/19 e instituído em 2006 pela Lei n. 11.343, visando proteger a população do tráfico e do uso ilícito de drogas (BRASIL, 2019). 33 Analisamos a seguir os objetivos do SISNAD, em que a citações apresentadas estão, resumidamente, com os pontos-chave. “Artigo 8º–São objetivos do Plano Nacional de Políticas sobre Drogas, dentre outros: I–promover a interdisciplinaridade e integração dos programas, ações, atividades e projetos dos órgãos e entidades públicas e privadas nas áreas de saúde, educação, trabalho, assistência social, previdência social, habitação, cultura, desporto e lazer, visando à prevenção do uso de drogas, atenção e reinserção social dos usuários ou dependentes de drogas; II–viabilizar a ampla participação social na formulação, implementação e avaliação das políticas sobre drogas; III–priorizar programas, ações, atividades e projetos articulados com os estabelecimentos de ensino, com a sociedade e com a família para a prevenção do uso de drogas; IV–ampliar as alternativas de inserção social e econômica do usuário ou dependente de drogas, promovendo programas que priorizem a melhoria de sua escolarização e a qualificação profissional; V–promover o acesso do usuário ou dependente de drogas a todos os serviços públicos; VI–estabelecer diretrizes para garantir a efetividade dos programas, ações e projetos das políticas sobre drogas; VII–fomentar a criação de serviço de atendimento telefônico com orientações e informações para apoio aos usuários ou dependentes de drogas; VIII–articular programas, ações e projetos de incentivo ao emprego, renda e capacitação para o trabalho, com objetivo de promover a inserção profissional da pessoa que haja cumprido o plano individual de atendimento nas fases de tratamento ou acolhimento; 34 IX–promover formas coletivas de organização para o trabalho, redes de economia solidária e o cooperativismo, como forma de promover autonomia ao usuário ou dependente de drogas egresso de tratamento ou acolhimento, observando-se as especificidades regionais; X–propor a formulação de políticas públicas que conduzam à efetivação das diretrizes e princípios previstos no art. 22; XI–articular as instâncias de saúde, assistência social e de justiça no enfrentamento ao abuso de drogas; e XII–promover estudos e avaliação dos resultados das políticas sobre drogas”. (BRASIL, 2019, [s.p.]) Assim, surgiu uma nova ética no cuidado, sem o isolamento e a classificação, mas com a inclusão, o acolhimento, a compreensão e a ampliação da consciência social. De fato, para acontecer a inclusão dos portadores de sofrimento psíquico como parte de um todo social, como cidadãos, no processo terapêutico e na sociedade, é necessário ir além da reorganização da rede de serviços e da substituição de técnicas terapêuticas, é necessário o estabelecimento de vinculos permanentes. Nesse sentido, é preciso que os trabalhadores de saúde mental conheçam sua corresponsabilidade como cidadão e se enxerguem como sujeitos integrantes de um quadro institucional, com conhecimentos e habilidades, articulando saberes e práticas de saúde, que carregam o estigma de representarem na história um mecanismo de controle social, com a reforma, tem a missão de otimizar e individualizar os processos terapêuticos. Assim, cada pessoa é agente da mudança no aspecto social. Ao professional da saúde, distinto do leigo, perante a necessidade da manutenção de uma psiquiatria saudável e aberta, cabe a responsabilidade, não só dentro de sua atuação profissional, mas 35 também na missão de informar pessoas, esclarecendo pontos importantes aos leigos e ajudando cada um a ir além de seus preconceitos e tabus acerca da saúde mental. As doenças psíquicas não são contagiosas, todavia a cultura de segregação e isolamento social pode ser nociva e, potencialmente, encontrar eco na lembrança de tudo o que houve no processo histórico pré-reformista. É preciso ecoar outra história e construir uma nova cultura, nessa perspectivade uma psiquiatria diversificada na individualidade de cada sujeito e, na permanência dos que possuem sofrimentos psíquicos em meio a sociedade, não mais em instituições fechadas e asilares. Referências Bibliográficas BRASIL. Decreto nº 1.132, de 22 de dezembro de 1903. Reorganiza a Assistência a Alienados. Brasília, DF: Câmara dos Deputados, [1903]. Disponível em: https:// www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1900-1909/decreto-1132-22-dezembro-1903- 585004-publicacaooriginal-107902-pl.html. Acesso em: 16 abr. 2020. BRASIL. Decreto nº 17.805, de 23 de maio de 1927. Approva o regulamento para execução dos serviços da Assistência Federal. Brasília, DF: Câmara dos Deputados [1927]. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1920-1929/ decreto-17805-23-maio-1927-499073-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 16 abr. 2020. BRASIL. Decreto nº 24.559, de 3 de julho de 1934. Dispõe sobre a profilaxia mental, a assistência e proteção á pessoa e aos bens dos psicopatas, a fiscalização dos serviços psiquiátricos e dá outras providências. Brasília, DF: Câmara dos Deputados, [1934]. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/ decreto-24559-3-julho-1934-515889-norma-pe.html. Acesso em: 16 abr. 2020. BRASIL. Lei n. 10.216, de 6 de abril de 2001. 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Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas–Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1900-1909/decreto-1132-22-dezembro-1903-585004-publicacaooriginal-107902-pl.html https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1900-1909/decreto-1132-22-dezembro-1903-585004-publicacaooriginal-107902-pl.html https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1900-1909/decreto-1132-22-dezembro-1903-585004-publicacaooriginal-107902-pl.html https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1920-1929/decreto-17805-23-maio-1927-499073-publicacaooriginal-1-pe.html https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1920-1929/decreto-17805-23-maio-1927-499073-publicacaooriginal-1-pe.html https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-24559-3-julho-1934-515889-norma-pe.html https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1930-1939/decreto-24559-3-julho-1934-515889-norma-pe.html http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm 36 estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, [2006]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004- 2006/2006/lei/l11343.htm. Acesso em: 17 abr. 2020. BRASIL. Lei nº 13.840, de 5 de junho de 2019. Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas e as condições de atenção aos usuários ou dependentes de drogas e para tratar do financiamento das políticas sobre drogas. Brasília, DF: Presidência da República, [2019]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13840.htm. Acesso em: 15 abr. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 336, de 19 de fevereiro de 2002. Brasília, DF: Ministério da Saúde, [2002]. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/ saudelegis/gm/2002/prt0336_19_02_2002.html. Acesso em: 15 abr. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 3.088, de 23 de dezembro de 2011. Institui a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde, [2011]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/ prt3088_23_12_2011_rep.html. Acesso em: 15 abr. 2020. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 3.588, de 21 de dezembro de 2017. Altera as Portarias de Consolidação no 3 e nº 6, de 28 de setembro de 2017, para dispor sobre a Rede de Atenção Psicossocial, e dá outras providências. Brasília, DF: Ministério da Saúde, [2017]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/ saudelegis/gm/2017/prt3588_22_12_2017.html. Acesso em: 15 abr. 2020. MACEDO, C. F. A evolução das políticas de saúde mental e da legislação psiquiátrica no Brasil. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1017, 14 abr. 2006. MANSANERA, A. R.; SILVA, L. C. da. 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Uma breve resenha sobre a assistência psiquiátrica Há muitos anos, tem-se estudando a respeito de qual assistência é mais adequada ao paciente com transtorno mental. Pode-se notar que desde os povos primitivos, uma “assistência” foi criada para o cuidado dessas pessoas, contudo, com o avanço da civilização e a descoberta de células, como os neurônios, e de substâncias, como os neurotransmissores, os tratamentos foram mudando com o passar do tempo, saindo de um tratamento com base alimentar e humoral a um tratamento farmacológico e cognitivo (SILVA; FONSECA, 2003; MENDONÇA, 2005; MILLANI; VALENTE, 2008). Junto aos tratamentos, o olhar sobre o que esse paciente representava na sociedade foi alterado, passando de uma figura mágica, que teria o poder de entrar em contato com os deuses por meio de vozes em sua cabeça, apresentando um caráter positivo na época, para uma possessão demoníaca, onde essas vozes trocam de lugar para um ser demoníaco que assombra a alma do paciente, com o objetivo de disseminar o mal a toda a população, sendo de caráter negativo nesse período. Observa-se que muito foi estudado e, com isso, diversas práticasforam descartas pela falta de evidência que comprovaram sua eficácia no tratamento (ex.: insulinoterapia–aplicação de doses de insulina com o intuito de gerar uma convulsão por hipoglicemia–ou crioterapia–banho em água com temperatura abaixo de zero, com a intenção de gerar um desmaio por queda de temperatura), em contraponto, foi demonstrada a melhora de pacientes para práticas que uniam o convívio social com outras práticas (ex.: farmacologia e terapia cognitiva comportamental). Essas práticas, que tiveram sua eficácia comprovada, foram adotadas na nossa atual reforma psiquiátrica, a qual observam o cuidado do 39 paciente como fundamental, tendo como princípio básico a reinserção social, pois as práticas que a antecedem tem um conturbado período entre manicômios/prisões. A proposta que a reforma psiquiátrica atual se baseia, é na reintegração do paciente para o meio social e, utilizando como meio de cuidado o território em que ele frequenta e seus lugares de convívio social. Ainda, esse cuidado agrega práticas secundárias a medicalização, terapias cognitivas e terapias integrativas complementares, sempre com o intuito de prestar o melhor cuidado ao indivíduo, a fim de integra-lo da melhor forma na sociedade. Frente a isso, essa leitura digital tem como objetivo apresentar a mudança do paradigma da assistência ao paciente de saúde mental, apresentando as raízes dos cuidados que antecederam a atual reforma psiquiátrica e, por fim, demonstrar um comparativo entre as visões frente a esse paciente e sua doença antes e após a reforma psiquiátrica. 1.1 Tratamento da loucura: uma breve caminhada Quando nos debruçamos frente ao cuidado do paciente com transtorno mental, muito nos questionamos sobre os modelos de assistência que foram utilizados antigamente para exercer o cuidado. Filmes clássicos, como “Uma mente brilhante”, que retrata um personagem que apresenta uma esquizofrenia paranoide e que quando descoberto é levado ao manicômio e esse e submetidos a uma série de procedimentos ditos terapêuticos, como a insulinoterapia ou a eletroconvulsoterapia para fazê-lo retornar a “realidade” e acabar com seu delírio. Segundo Winterling (2012), ainda, se observa na antiguidade a diferenciação da assistência a pacientes com transtornos psiquiátricos, como os imperadores Nero e Marco Aurélio, historicamente reconhecidos por seus feitos no império Roma. Além de seus grandes feitos, há discussões no meio acadêmico sobre suas atitudes frente a seus discípulos e cidadãos, o que os diagnosticam, atualmente, com transtornos mentais. 40 Quando observamos ambos, notamos a diferença no entendimento da loucura, em que no primeiro exemplo é visto como algo ruim e deve ser tratado, mas no caso dos imperadores, a loucura e tida como algo positivo e digno, pois eles entram em contato com os deuses. De fato, o cuidado no passar do tempo foi alterado de forma diversa, assim como a visão perante a doença mental foi alterada e, ambos mencionados, continuam em constante mudança. Com isso, nos próximos tópicos destrinchamos mais detalhadamente os cuidados prestados para os indivíduos nessas condições e a visão dessas patologias perante a sociedade, com o objetivo, no final, de realizar o comparativo da reforma psiquiátrica atual com o contraste dos paradigmas antecedentes. 1.1.1 Tratamento da loucura: povos primitivos A sociedade começou a se organizar a partir de vários motivos e, junto a eles, o entendimento da cultura e aspectos em comum, como: linguagem, localidade e religião, foram motivos em favor da união de povos. Um exemplo de união atual desses povos primitivos pode se observar nos povos indígenas de nosso país (SILVA, FONSECA, 2003). Em sequência, o entendimento da doença perante ao paciente foi guiado, logicamente, pelo conhecimento de causas espirituais. Esse pensamento de causas mágico-religiosas tem como fator de identificação do adoecimento a possessão do indivíduo por um espírito maligno, no caso, o desenvolvimento do transtorno mental e uma possessão de uma força do mal (MILLANI; VALENTE, 2008). Em decorrência desse fato, o modelo de cuidado prestado para esse indivíduo era expulsão desta força maligna por um xamã/curandeiro/ sacerdote através de um ritual. Atualmente, podemos observar que esse processo não caiu em desuso, mesmo com o avanço da tecnologia, 41 quantas vezes não ouvimos que grupos religiosos entendem que pessoas com depressão ou outros transtornos não foram possuídas por “espíritos do mal” e para se livrar deles necessitam rezar e/ou ir a algum ritual místico? 1.1.2 Tratamento da loucura: Roma, Grécia e a medicina humoral Com o passar do tempo, com da evolução da sociedade, a criação de comunidades maiores e sistemas políticos diferentes, houve, também, a evolução/mudança do sistema de cuidado e entendimento das patologias no geral. Um dos pais da medicina, Hipócrates (460-356 a.C.), principal médico greco-latino, entendia as doenças através de sua teoria dos quatro humores corporais (bílis negra, bílis amarela, sangue e flegma/pituita), em que o desequilíbrio presente entre esses quatro humores expressava a doença ou dor no corpo do indivíduo (SILVA; FONSECA, 2003). Para além do desequilíbrio, Hipócrates foi um dos primeiros a classificar as doenças mentais em quatro grupos: epilepsia, mania, melancolia e paranoia. E, para cada uma delas, ele apresentou um tratamento voltado para as bases do cuidado vigente na época–o natural–como: massagens corporais, dietas, passeios, viagens, fumigação de ervas (incenso em partes do corpo), aromatização do ambiente, entre outros. 1.1.3 Tratamento da loucura: Idade Média Passando da época antecessora a Cristo, chegamos na Idade Média ou, também conhecida, Idade das Trevas. Devemos relembrar um fato muito importante neste período, a grande influência da Igreja Católica nas grandes decisões da época, o que retorna a uma grande influência da visão místico-religiosa para o cuidado e o entendimento das patologias que existiam. Esse meio de cuidado vem junto de 42 um aspecto hierárquico, no qual o grau de hierarquia social que o indivíduo com transtorno mental se encontrava daria um determinado encaminhamento para seu cuidado. Para os estavam em um alto grau hierárquico (alta nobreza e cleros), o pagamento de caridade já era uma forma de cuidado, pois a oração feita pelos cleros daria o cuidado necessário para o indivíduo doente. Em contraponto, para os que não apresentavam um alto grau na escala hierárquica (escravos, camponeses entre outros) a erradicação por meio do isolamento em conventos distantes ou, ainda mais desumano, a imposição de velejar sem rumo no conhecido Nau dos loucos era tido como o cuidado para essas almas (SILVA; FONSECA, 2003; MENDONÇA, 2005; MILLANI; VALENTE, 2008). Ainda, vale ressaltar, os falsos “diagnósticos” dados pela igreja para pessoas que não tinham transtornos mentais, pois iam contra os pensamentos vigentes da época. Nesse sentido, podemos constatar esse fato quando observamos a história das bruxas que eram perseguidas por acusação de usar ervas para cuidar de pessoas, o que remetia a uma heresia frente à igreja. Com isso, pessoas como anatomistas, astrólogos, cantores, artistas e outros foram taxados como hereges, pois confrontavam a ideia vigente da época. 1.1.4 Tratamento da loucura: Renascimento Após a era conhecida pela obscurescência da ciência–Idade Média–em meados do século XVI, a visão da loucura foi novamente reformulada, considerando o louco como um indivíduo que não estava apto para o processo de urbanização que vinha ocorrendo na civilização–vale relembrar que as cidades estavam em expansão, criando um movimento de êxodo rural na Europa. Ainda, é importante recordar, que nesse período a retomada das navegações marítimas, expansão geopolíticas 43 e afastamento da grande influência da Igreja católica são fatores que moldaram essa época (MENDONÇA, 2005). Esse indivíduo, que já foivisto por diversas óticas, agora é visto como um ser sem razão, pois esse período foi banhado pelo Racionalismo moderno e, assim, a criação de uma ideia nova do ser humano, a qual é o homem da razão. Esse conceito é entendido pela diferenciação do homem “humanizado”–o portador de razão–o que o fez liberto da regência divina, sendo aquele que não possui razão e um homem louco ou com transtorno mental, pois mais se aproxima da animalidade. Devido a essa forma de pensamento, o modelo de assistência aos pacientes com transtorno mental era focado no isolamento e controle social, pois eles não eram aptos a viver em comunidade. Desse modo, a criação de hospitais gerais–como o primeiro fundado em Paris em 1656–tinha como finalidade “acolher” todos as pessoas que eram tidos como excluídos da sociedade (loucos, pedófilos, mendigos, prostitutas, órfãos e outros). Ainda, como prática de cuidado, a contratante vigilância e punição por métodos baseados na imposição vinga, como rodas de banhos frios, acorrentamento, isolamento em solitárias e supressão da luz solar (SILVA; FONSECA, 2003). 1.1.5 Tratamento da loucura: Revolução Francesa, Revolução Industrial e o Iluminismo (Revolução Pineliana) Após a época Renascentista, a chegada da Revolução Francesa, no ano de 1789, junto com a Revolução Industrial, apresentou o fim da transição do modelo feudal para o capital, o que carregou consigo o fim da hierarquização feudo (senhor feudal–escravo/camponês) para a implantação do modelo capital (patrão, proprietário do meio de produção–empregado, proprietário da força de trabalho). Com isso, o entendimento da loucura ganhou uma nova face moldada por esse novo sistema, a qual era associada a falta de adequação dele para fazer 44 parte do novo mundo, o qual era produtivo e baseado no consumo e na acumulação de bens, colocando-o no papel errôneo de preguiçoso. Uma outra vertente da época guiada pelo Iluminismo, a qual seguia os princípios de Igualdade, Liberdade e Fraternidade, surgiu em 1793, com Philippe Pinel. Após a indicação para ser o médico chefe do Hospital de Bicêtre, na França, ele apresentou um novo pensamento sobre a loucura, o qual saia da animalização e da improdutividade dos seus portadores para uma visão mais clínica deles, dando luz a uma visão onde a loucura era gerada por tensões sociais e psicológicas em grande escala, podendo ser causada por hereditariedade ou originada pelo ambiente. Com isso, ele fundou a psiquiatria como campo da medicina moderna, instituiu a medicalização da loucura como uma das formas de cuidado, apresentou um lugar de cuidado para o paciente, que o afastaria do que podia fazê-lo piorar ou confundir os sintomas (manicômio) e apresentou a ideia classificatória das doenças psiquiátricas (nosografia das doenças). Como forma de cuidado desses novos indivíduos, foram realizadas: a prescrição baseada no contato próximo e amigável com o paciente, discussão das dificuldades pessoais e um programa voltado a atividades exercidas na instituição (SILVA; FONSECA, 2003; MENDONÇA, 2005; MILLANI; VALENTE, 2008). Contudo, mesmo que a visão de Pinel seja inovadora e apresente aspectos diferentes para as loucuras, deve-se observar a quem esse modelo servia–a burguesia. Essa classe social, que tinha a necessidade de obter mais de força de trabalho/mão de obra, abraçou a ideia de Painel sobre a terapia do cuidado através das atividades e impôs ao louco regras com o objetivo de usá-lo como ferramenta de trabalho. Ainda, deve-se entender que o arquétipo da liberdade que Pinel deu aos loucos não foi uma conquista a eles de um espaço libertário de fato, mas um espaço para a medicina estudá-los e catalogá-los frente às suas loucuras. 45 1.1.6 Tratamento da loucura: Reforma Psiquiátrica (Revolução Basaglia) Após o passar dos anos e o estabelecimento do modelo manicomial de Pinel como referência, a transformação dele começou a ser solicitada. Eventos como a Segunda Guerra Mundial, o crescimento econômico e populacional e movimentos civis que eram intolerantes as diferenças e minorias, os profissionais desses serviços começaram a mudar o mesmo. A mudança foi embasada na busca de uma sociedade mais livre, igualitária e solidária que, por meio da adoção da descoberta dos psicotrópicos, da psicanálise e das estratégias de saúde pública vingaram a reconstrução das instituições psiquiátricas, dando base para os movimentos precursores da reforma psiquiátrica no mundo (SILVA; FONSECA, 2003; MILLANI; VALENTE, 2008). No entanto, esse movimento não foi igualitário em todos os países, pois dependia da força políticas e sociais dos profissionais da área para a mudança do sistema manicomial vigente. Contudo, um dos precursores desse movimento foi Franco Basaglia, médico psiquiatra, que em 1961 assumiu a direção do hospital de Gorizia, na Itália, e focou na transformação do antigo manicômio em uma comunidade terapêutica. Entretanto, segundo Amarante (1996), conforme conduzia sua mudança, ele ia de encontro aos obstáculos que ultrapassavam as competências da psiquiatria, o que junto com a leitura da obra História da Loucura na Idade Clássica, de Michel Foucault, observou que a transformação não era apenas no modelo psiquiátrico, mas, também, no modelo socioeconômico de visão frente ao paciente louco. Com isso, Basaglia formulou o discurso e prática da “negação da psiquiatria”, a qual tinha como objetivo não acabar com a psiquiatria como ela é, mas de apresentar que ela por si só não dava conta desse fenômeno que era a loucura. Segundo Amarante (1996), para isso, Basaglia promoveu em Trieste um novo modelo de assistência ao indivíduo, que era embasado em uma rede territorial de atendimento, 46 focando em um serviço de atenção comunitária, cooperativas de trabalho, centros de convivência, moradia assistidas e, quando necessário, o serviço de emergência psiquiátrica em hospitais gerais. Esse modelo de assistência à saúde mental foi decretado, em 1973, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como referência para o cuidado de pacientes com transtorno mental no mundo (AMARANTE, 1996). 1.2 A chegada da reforma psiquiátrica: conceitos, bases de pensamento, formação e modelos de assistência aos pacientes O modelo que foi decretado para o cuidado dos pacientes com transtornos mentais foi o inspirado por Franco Basaglia, na Itália. Segundo Kyrillos Neto (2003), esse modelo é pautado na reinserção social do paciente na sociedade, o que, como foi visto, vai na contramão dos modelos de cuidado anteriormente utilizados, pois apresentavam práticas higienistas e de exclusão. Sua base de pensamento foi a luz do filósofo Michel Foucault, com o livro História da Loucura na Idade Clássica. Essa obra tem como estudo a exclusão das pessoas e as tecnologias usadas, para isso, Foucault estudou a loucura por meio da história e as ferramentas de “cuidado” utilizadas (FOUCAULT, 2008). Ainda, o sociólogo Erving Goffman, com o livro Manicômios, prisões e conventos, teve papel fundamental na reforma psiquiátrica. De acordo com Goffman (2008), ele retratou as relações de poder estabelecidas em instituições totais–termo dado ao estabelecimento onde os indivíduos passam parte da vida por algum motivo–e seus “atores”–internados (pessoas que estão no local por diversos motivos, como: presos, pacientes psiquiátricos, freiras, soldados, entre outros) e a equipe dirigente (pessoas que trabalham na instituição total ou estão em um nível alto na hierarquia da instituição, 47 como: agentes penitenciários, freiras antigas em conventos, sargentos, médicos e enfermeiros psiquiatras). Somando-se a isso, para criar o modelo comunitário, Basaglia se baseou em experiências que visavam a interação da comunidade frente ao paciente e, também na sua reinserção social na comunidade. Segundo Kyrillos Neto (2003), um dos principais focos desse modelo do cuidado através da comunidade e a busca dos direitos cidadãos dos pacientes, assim comoa busca dos espaços comunitários e a reinclusão na comunidade, e aceitação dessa para com o paciente. 1.3 Um novo caminho para se seguir: a assistência e a visão do paciente com transtorno mental antes e após a reforma psiquiátrica e suas implicações Por meio da história, pudemos aprender sobre a concepção das causas da loucura, assim como a forma de cuidado foi mudando. Essas causas eram embasadas, em sua maioria, por questões políticas, sociais, econômicas e organizacionais. Para fins didáticos, apresentamos a seguir as principais características dos modelos de assistências oferecidos durante a história, junto a seus entendimentos de adoecimento da doença e seu principal pensador. Quadro 1–Períodos históricos representados por suas principais características frente ao sujeito com transtorno mental Época temporal Entendimento do adoecimento Modelo de cuidado Principal pensador Povos Primitivos Adoecimento a traves de forças sobrenaturais A Traves de reza, benzimentos, rituais Xamãs, Curandeiros, Sacerdotes 48 Povo greco- romano Desequilíbrio humoral Reequilíbrio dos 4 humores através de massagens, banhos, vaporização de odores, viagens Hipócrates Idade Media Possessão demoníaca Cura através do pagamento para os padres, que rezam para acontecer a cura ou o isolamento social para quem não podia pagar Igreja Católica Renascimento Não adaptação ao modelo urbano Isolamento social em manicômios e utilização da força para impor cuidado Racionalismo Revolução Pineliana Entendimento medico clinico, visto como uma patologia Programas e atividades exercidas na instituição baseadas no paciente Philippe Pinel Revolução Basaglia Doença como causa por múltiplos fatores Rede territorial de atendimento e reinserção do paciente no mundo Franco Basaglia Fonte: elaborado pelo autor. 49 Contudo, devemos questionar quais as contribuições da reforma psiquiátrica para o paciente com transtorno mental? A importância dela consegue englobar diversas esferas, porém começaremos com a mais básica, a esfera etiológica, ela muda o entendimento da doença mental como algo místico ou unicausal, dando uma vertente multifatorial. Essa vertente, como já explicado, dá a doença mental uma explicação possível de solução e cuidado para o doente. Passando para outra esfera, a do cuidado/assistência, sendo diferente das suas antecessoras pois adquire um caráter de não isolamento social do paciente. O cuidado e feito no território onde o paciente vive e compreende como casa, utilizando as redes sociais que o indivíduo tem como forma de cuidado. Além disso, a reinserção social e a busca pelos direitos cidadãos do paciente são diferentes das antigas abordagens, fazendo que ele seja visto como indivíduo da sociedade. 1.4 Conclusão Como abordamos nesta unidade, tanto o entendimento quanto o modelo de assistência ao paciente louco mudaram durante séculos na história, onde foi influenciado sempre pela política, sociedade, cultura e religião vigente. Atualmente, o modelo que o Brasil segue é o da Reforma Psiquiátrica, mas correntes atuais estão surgindo, as quais podem ter grande influência no futuro do cuidado do paciente. Contudo, mesmo que grande progresso tenha sido conquistado com a reforma psiquiátrica, muito ainda deve-se obter, pois ainda existem preconceitos e estigmas por parte da população com esse paciente, o que dificulta muitas coisas para os pacientes, como a conquista de emprego e conseguir viver uma vida digna, sem preconceitos e exercendo sua cidadania. 50 Referências Bibliográficas AMARANTE, P. O Homem e a Serpente: outras histórias para a loucura e a psiquiatria. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1996. FOUCAULT, M. História da loucura na Idade Clássica. São Paulo: Perspectiva, 2008. GOFFMAN, E. Manicômios, prisões e conventos. São Paulo: Perspectiva, 2008. KYRILLOS NETO, F. Reforma psiquiátrica e conceito de esclarecimento: reflexões críticas. Mental, Barbacena, v. 1, n. 1, p. 71-82, dez. 2003. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679- 44272003000100006&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 13 fev. 2020. MENDONÇA, J. L. de. Breve história da psicossomática: da pré-história à era romântica. Revista Médica de Minas Gerais, Belo Horizonte, v. 15, n. 2, p. 119-125, abr./jul. 2005. MILLANI, H. de F. B.; VALENTE, M. L. L. de C. O caminho da loucura e a transformação da assistência aos portadores de sofrimento mental. SMAD. Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drogas, Ribeirão Preto, v. 4, n. 2, ago. 2008. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806- 69762008000200009&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 13 fev. 2020. SILVA, A. L. A. e; FONSECA, R. M. G. S. da. Os nexos entre concepção do processo saúde/doença mental e as tecnologias de cuidados. Revista Latino- americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 11, n. 6, p. 800-806, dez. 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104- 11692003000600015&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 13 fev. 2020. WINTERLING, A. Loucura imperial na Roma antiga. História, Franca, v. 31, n. 1, p. 4-26, jun. 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0101-90742012000100003&lng=en&nrm=iso. 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Uma breve introdução ao tema Com o avanço do sistema de saúde vigente, o SUS (Sistema Único de Saúde), as políticas educacionais tiveram que apresentar mudanças em suas bases curriculares, chamadas de diretrizes de bases da educação nacional, as quais moldam o currículo dos futuros profissionais embasando-se nas necessidades e competências que deverão exercer em seu futuro ambiente de trabalho. Entendendo que o conceito de competência é composto por três eixos que o sustentam em sua formação–habilidades, atitudes e conhecimento -, o profissional de saúde deve apresentar esse conjunto para ter êxito frente ao seu trabalho em qualquer área. A referida leitura digital contemplará brevemente o entendimento da formação do SUS, com foco nos serviços de saúde mental, junto as diretrizes curriculares que apresentaram mudanças conforme as mudanças das ocupações e aparatos de saúde. Por fim, apresentaremos um olhar sobre a prática multiprofissional, em que esses profissionais necessitam para melhor atender e
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