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historico da reforma psiquiatrica

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HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA 
E DA SAÚDE MENTAL 
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1.
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Joao Carlos Machiori de Claudio 
Rafael Lustosa Ribeiro
Londrina 
Editora e Distribuidora Educacional S.A. 
2020
HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA E DA 
SAÚDE MENTAL 
1ª edição
3
2020
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Presidente
Rodrigo Galindo
Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada
Paulo de Tarso Pires de Moraes
Conselho Acadêmico
Carlos Roberto Pagani Junior
Camila Braga de Oliveira Higa
Carolina Yaly
Giani Vendramel de Oliveira
Juliana Caramigo Gennarini
Nirse Ruscheinsky Breternitz
Priscila Pereira Silva
Tayra Carolina Nascimento Aleixo
Coordenador
Camila Braga de Oliveira Higa
Revisor
Carolina Pasquote Vieira
Editorial
Alessandra Cristina Fahl
Beatriz Meloni Montefusco
Gilvânia Honório dos Santos
Hâmila Samai Franco dos Santos
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
__________________________________________________________________________________________ 
Ribeiro, Rafael Lustosa
R484h História da psiquiatria e saúde mental/ Rafael Lustosa 
Ribeiro,Joao Carlos Machiori de Claudio – 
 Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020.
 43 p.
 ISBN 978-65-86461-25-1
1. Reforma psiquátrica. 2. Saúde mental I. Ribeiro, Rafael 
Lustosa. II. Claudio, Joao Carlos Machiori de. Título. 
 
CDD 616.89 
____________________________________________________________________________________________
Jorge Eduardo de Almeida CRB 8/8753
© 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser 
reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, 
eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de 
sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, 
por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A.
4
SUMÁRIO
História da saúde mental e a reforma psiquiátrica __________________ 05
Legislações e políticas nacionais de saúde mental __________________ 21
A influência da reforma psiquiátrica na mudança do paradigma da 
assistência em saúde mental _______________________________________ 37
Competências necessárias à equipe multiprofissional para assistência 
em saúde mental e psiquiatria ______________________________________ 51
HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA E DA SAÚDE MENTAL 
5
História da saúde mental e a 
reforma psiquiátrica
Autoria: Rafael Lustosa Ribeiro
Leitura crítica: Carolina Pasquote Vieira
Objetivos
• Entender como a doença mental era compreendida 
pelos homens nos primórdios da civilização.
• Entender a história da saúde mental no Brasil.
• Compreender os motivos que levaram à reforma 
psiquiátrica.
6
1. A doença mental nos primórdios da 
humanidade
Inicialmente, os fenômenos que trouxeram os significados da 
loucura foram relatados nos impérios greco-romanos, somados com 
uma gama de outras patologias descritas a partir das explicações 
fornecidas pela mitologia. Em suma, os gregos acreditavam, por serem 
panteístas, que todas as causas tinham a ver com manifestações 
sobrenaturais influenciadas e/ou manipuladas por deuses e demônios 
(FOUCAULT,1978).
Há cerca de 2.500 anos, na Grécia, existiam apenas alusões à loucura 
como doença mental, referenciada como comportamentos estranhos, 
personalidades incomuns ou desagradáveis e mesmo “possessões 
demoníacas”.
Em muitos povos e culturas politeístas, como a do povo grego, a 
relação entre suas crenças religiosas e espiritualidade era diretamente 
ligada com alguns fenômenos que afligiam a mente humana. Desse 
modo, por exemplo, se uma pessoa estivesse com sintomas de euforia 
e demonstrando sexualidade exacerbada, de maneira a parecer 
apaixonada, com comportamentos exibicionistas, tentando chamar 
atenção, ou ainda, avançando para a conquista, os Gregos acreditavam 
que essa pessoa estaria sob a influência de Afrodite, a Deusa do Amor 
e da Beleza e/ou teria sido flechada por Eros, também conhecido como 
Cupido, o Deus da paixão.
7
Figura 1–Afrodite/Vênus 
Fonte: ZU_09/iStock.com. 
Figura 2 - Eros/Cupido 
Fonte: Louiza Antoniou/iStock.com. 
8
Naquela época, era comum as pessoas acreditarem que acontecia 
uma “batalha entre o bem e o mal” durante um “manifesto” patológico-
mental, em cada cultura e civilização isso era interpretado de forma 
diferente, e na civilização grega, politeísta, isso naturalmente seguia a 
mesma linha.
Segundo Foucault (1978), as possessões foram uma das formas mais 
significativas usadas para explicar comportamentos considerados 
desviantes, o energúmeno (o possesso) representava uma gama 
de sentimentos ruins ou males que afligiam a mente humana, que 
descontrolado não conseguia obter equilíbrio, causando sofrimento a si 
mesmo e aos demais.
Então, o possesso era o louco? No entendimento daquela época, para 
aquele tempo, sim. No entanto, ainda fica a questão: como chegamos ao 
termo “louco”, tão utilizado na língua portuguesa contemporânea?
O termo “louco”, trazido aqui para o português, é de origem controversa: 
malus – mal, que traria a ideia de “maluco” em português, pode ter 
sofrido uma redução no sufixo para “luco”, depois dialetado para “louco”. 
Dessa forma, “loucura”, tida como mal patológico, pode vir do étimo de 
“maluco”, embora não esteja ligado diretamente ao latim malus.
“Malos” é um derivado de “malo”, em espanhol, que significa “mal”, em 
português. Esse, por sua vez, a “malus”, explica Viaro (2011), assim, a 
palavra “maluco” passou a significar ‘mal da cabeça’, em português.
Segundo Vasconcellos (2000), pensadores como Platão, Aristóteles e 
Hipócrates (considerado o pai da medicina ocidental) demonstraram 
interesse em classificar os manifestos de loucura, considerando 
conceitos como histeria, melancolia, anedonia, manias, fobias e outros, 
que mais tarde viriam a ser compreendidos com o avançar da ciência 
médica.
9
Após a ascensão das ideias filosóficas dos grandes pensadores 
gregos, como Platão e Aristóteles, e da evolução da medicina e da 
compreensão das doenças, com classificação de sinais, sintomas, 
construção nosológica, e composição de prontuários nas definições de 
teorias etiológicas, pelos estudos de Hipócrates, temos uma sequência 
evolutiva acerca da visão da doença mental e da loucura nas civilizações 
(FOUCAULT, 1978).
Esses pensadores observaram pessoas apresentando comportamentos 
que seriam analisados a partir de uma perspectiva sequencial de:
• Classificar/diagnosticar e dar prognósticos.
• Iniciar terapêuticas/tratamentos.
• Considerar o passar do tempo de evolução patológica a partir das 
perspectivas de casualidade e as teorias adaptativas humorais.
Com essas perspectivas hipocráticas, o conceito de patologias, inclusive 
as psíquicas, foi se ampliando. Alguns séculos depois, a estruturas de 
exclusão social passam a ser ocupadas pela figura do louco, o dito 
maníaco, assim, estava para nascer como marco negativo da história da 
doença mental, a era manicomial.
Apesar de já existirem mecanismos de exclusão do patológico psíquico, 
ainda não era o tempo em que a loucura seria compreendida como um 
fenômeno que requeira um saber específico, tanto que os primeiros 
estabelecimentos criados para encarcerar doentes mentais eram 
destinados a retirar do convívio social as pessoas consideradas inaptas 
para esse convívio.
O primeiro manicômio com essa função, que se tem registro, foi 
construído em Valência, Espanha, dirigido pelo Frei Juan Gilberto Jofre, 
em 1409. Segundo Nogales Espert (2001), essa estrutura funcionou até 
1808.
10
No século XVI, alguns movimentos começam a se destacar na busca por 
compreender a mente dos indivíduos que viviam em isolamento.Nesse 
contexto, destaca-se o nome de Philippe Pinel, (Saint André, 20 de abril 
de 1745 — Paris, 25 de outubro de 1826) médico francês, considerado 
por muitos o pai da psiquiatria. Segundo Teixeira (2019), seu nome 
se destacou por ter considerado que os seres humanos que sofriam 
de perturbações mentais eram doentes e que, ao contrário do que 
acontecia na época, deviam ser tratados como doentes e não de forma 
violenta.
2. Histórico da reforma psiquiátrica no Brasil: 
crítica ao modelo hospitalocêntrico
No Brasil a história não difere tanto em relação a evolução europeia, 
onde houveram épocas em que os tidos como loucos eram 
maltratados, mortos, presos e isolados.
Segundo Miranda-Sá Jr. (2007), segue-se o momento nas épocas 
coloniais, em meados dos anos de 1800, em que os asilos e 
manicômios foram criados com as mesmas tendências europeias. 
Dessa forma, os doentes mentais eram isolados do contexto social, 
sem tratamentos dignos, segregados em locais que não atendiam 
as necessidades que são exigidas quando uma perturbação se 
estabelece de forma psíquica.
Posteriormente, passou-se à pratica dos cuidados com o doente 
mental de formas específicas conforme seus “manifestos”, isso 
fez com que a saúde mental fosse vista de uma forma distinta do 
paradigma anterior. Juliano Moreira (Salvador, 6 de janeiro de 1873 
— Rio de Janeiro, 2 de maio de 1932) foi médico e um dos pioneiros 
da psiquiatria brasileira. Segundo Almeida (2008), ele foi o primeiro 
professor universitário a citar e incorporar a teoria psicanalítica no 
11
seu ensino na Faculdade de Medicina. Entre os anos de 1903 a 1930, 
no Rio de Janeiro, ele dirigiu o Hospício Nacional de Alienados. Nesse 
hospício, embora não fosse professor da Faculdade de Medicina do 
Rio, recebia internos para o ensino de psiquiatria.
Ainda, segundo Almeida (2008), uma figura tão importante como 
Carlos Chagas, ou Oswaldo Cruz, na época em que viveu em pleno 
auge da transição higienista para as reformas sanitárias, fez várias 
mudanças no modo como a psiquiatria deveria ser conduzida dentro 
dos asilos, entre elas: instalou laboratórios de anatomia patológica e 
de bioquímica no hospital; remodelou o corpo clínico, com entrada 
de psiquiatras/neurologistas e outros especialistas; aboliu o uso de 
coletes e camisas de força, retirou grades de ferro das janelas; cuidou 
para que houvesse registros administrativos, estatísticos e clínicos, e 
reorganizou a “Assistência aos Alienados”.
Seguindo a Lógica manicomial, Francisco Franco da Rocha (Amparo, 
23 de agosto de 1864-1933), médico psiquiatra, foi o pioneiro no uso 
de técnicas modernas no tratamento de doenças mentais no Brasil. 
Entretanto, ele ainda mantinha os moldes manicomiais da época, 
em 1898 foi fundador do Asilo de Alienados do Juqueri, que em 1928 
passou a se denominar Hospital e Colônias de Juqueri e, mais tarde, 
Hospital Psiquiátrico do Juqueri, localizado no atual município de 
Franco da Rocha (ALMEIDA, 2008). Nesse sentido, em meados do 
século XX, esse chegou a ser o maior hospital psiquiátrico da América 
Latina. Desse modo, Franco da Rocha contribuiu com ideias de 
terapia ocupacional para os doentes mentais, porém houve tempo 
em que essas ideias foram distorcidas e o trabalho dos internos 
era utilizado com produção não remunerada, além disso, corruptos 
obtinham lucro com essa ação, o que gerou diversas denúncias, 
que, por sua vez, fizeram com que as práticas de ocupação para os 
doentes mentais fossem mal vistas na época.
12
Segundo Almeida (2008), em 1958, o hospital chegou a ter mais de 14 
mil internados. Um pavilhão para menores foi inaugurado em 1922 e 
em 1957, do total de doentes 3.520 eram crianças. O Juqueri perdeu 
o controle e o propósito na década de 1920, semelhante a outros 
asilos, com a adoção de práticas bárbaras, devido à falta de gestão e 
fiscalização desses espaços de confinamento. Segundo Arbex (2013), 
as práticas manicomiais eram das mesmas correntes cruéis que 
ocorreram em Barbacena (MG), no Hospital Colônia: superlotações; 
contenções como punição e castigo, não visando a segurança do 
paciente, muitas vezes, sem uso de sedativos; falta de roupas, em 
que muitos ficavam nus; e, uso de instrumentos não esterilizados em 
procedimentos.
O supracitado manicômio, na época, chamado de “hospício”, 
no Brasil, em Barbacena (MG), no ano de 1958 recebeu suas 
primeiras denúncias sobre o segregar seres humanos em condições 
deploráveis. Nessa época, havia um padrão da lógica manicomial 
brasileiro preestabelecido, no qual muitos pacientes internados 
sofreram com os atrasos do país em relação a inexistência de 
políticas sérias que tratassem de forma digna as pessoas com 
doenças mentais.
No entanto, asilos similares ao Juqueri e ao Hospital Colônia de 
Barbacena marcaram a era manicomial brasileira, em que não havia 
perspectivas para melhora do quadro psíquico ou, até mesmo, nas 
condições em que os internos viviam, tão pouco, de um dia, para a 
maioria deles, sequer receber alta. Segundo Arbex (2013), em 1966, 
em Barbacena, no Hospital Colônia, eram 4.800 internos e em média 
700 mortes por ano.
13
Figura 3–Paciente tomando água do esgoto no Hospital Colônia
Fonte: Arbex (2013, [s.p.]).
Com isso, a justificativa formal era que, por causa do aumento do 
número de “alienados” no Estado de Minas Gerais, as Santas Casas e os 
hospitais gerais tinham elevados gastos com a manutenção dos doentes 
mentais e, na época, o Convênio Nacional de Saúde Brasileira investia 
todos os seus custos em sanitarismo, no auge dos pós Revolta da Vacina, 
com as campanhas de Carlos Chagas.
Em sua concepção alienista das práticas psiquiátricas da época, o 
hospital funcionou bem, durante os primeiros 20-30 anos, ele era visto 
como centro de referência para internar pacientes de várias regiões do 
Estado mineiro, desde Belo Horizonte até o interior.
Com o crescimento da demanda, foram necessárias reformas para se 
adequar a quantidade de internos, chegando a abrigar mais de quatro 
mil doentes com patologias mentais diversas.
14
Desse modo, por receber essa demanda tão peculiar, a cidade de 
Barbacena ficou conhecida como “cidade dos loucos”. Com o passar dos 
anos, a gestão e a logística foram se perdendo, e os pavilhões em estado 
precário de conservação não comportavam mais o excessivo número de 
pacientes que estavam alocados de forma depositária, convivendo com 
a inexistência de tratamento, falta de medicamentos e alimentos.
Segundo Peron (2013), o Hospital Colônia revelou ser o maior em muitos 
números: em tamanho, com 8 milhões de m²; em tempo de existência, 
funcionando entre os anos de 1903 a 1980; e em maior dado trágico, 
pois 60.000 pessoas morreram nas dependências do hospital.
Um livro descreve muito bem essa tragédia, inclusive com acervo 
fotográfico de reportagens jornalísticas, sendo organizado em torno das 
histórias pessoais e entrevistas com trabalhadores do local, médicos 
e pacientes sobreviventes. No total, restaram 200 sobreviventes e a 
maioria deles está relatava no livro.
“Todo o simples cenário necessário para a presença da banalidade do mal, 
que está sempre entre nós: “O fato é que a história do Colônia é a nossa 
história. Ela representa a vergonha da omissão coletiva que faz mais e mais 
vítimas no Brasil” (ARBEX, 2013, p. 255).
A luta antimanicomial europeia, que mais tarde influenciou as ideias de 
reforma psiquiátrica brasileira, começou no século XX, em que Franco 
Basaglia (1924-1980) foi um dos principais precursores na Itália. Segundo 
Silveira (2005), em Trieste, ele promoveu a substituição do tratamento 
hospitalar e manicomial por uma rede territorial de atendimento, da 
qual faziam parte os serviços de atenção comunitários, emergências 
psiquiátricas em hospital geral, cooperativas de trabalho protegido, 
centros de convivência e moradias assistidas, chamadas por ele de 
“grupos-apartamento”, destinados aos loucos.
15
Basaglia visitou o Brasil algumas vezes e conheceu as grandes 
instituições asilares,chegou a compará-las aos campos de concentração 
da segunda Guerra Mundial (SILVEIRA, 2005).
Segundo Peron (2013), após esse destaque negativo observado no Brasil 
e levado para o mundo na visão de Basaglia, de 1960 a 1970, a imprensa 
começou a divulgar reportagens denunciando os maus-tratos aos 
internos e as condições em que viviam, mobilizando a opinião pública 
sobre a situação de Barbacena (MG).
Em meio à existência persistente da lógica manicomial, após denúncias 
de profissionais da saúde e depoimentos de familiares de internos sobre 
como era a vida dentro do manicômio, movimentos pró-reformistas 
começam a ganhar impulso, com isso, em 1975, o Brasil começou a luta 
antimanicomial.
A partir disso, vários movimentos seguiram por parte de profissionais 
de saúde e de familiares de portadores de transtornos mentais, bem 
como de pessoas que foram internadas e sentiram na pele os percalços 
da vida asilar, na busca por reformar o modelo de internação vigente na 
época.
Em 1987 ocorreu a primeira Conferência Nacional de saúde 
mental, que apresentou temáticas sobre tratamentos psiquiátricos 
mais humanizados, focando na reforma em relação ao modelo 
hospitalocêntrico, que é modelo de internações baseado em hospitalizar 
as pessoas e mantê-las internadas, o movimento oposto propunha 
a criação de atendimentos que substituíssem e rompessem esse 
paradigma, a fim de combater as práticas manicomiais e reinserir as 
pessoas com patologias mentais na sociedade, ao invés de isolá-las 
afastando-as.
Com a Constituição Federal (1988), somados com o advento do Sistema 
Único de Saúde (SUS) nos anos 90, passou a ser direito de todos a 
16
participação na gestão do SUS, dessa forma, foi possível a criação de 
garantias legais para manter as reivindicações a respeito da reforma 
psiquiátrica.
Todo movimento pautado em uma legislação é aceito pela sociedade 
com mais facilidade, no geral, o movimento da reforma psiquiátrica não 
visava uma revolta social, mas uma mudança estruturante.
Essas garantias legais foram o reforço que o movimento reformista 
precisava, pois, com a possibilidade de participação na gestão do 
Sistema único de saúde, as pessoas poderiam se organizar em blocos 
populares, formando eventos com movimentos políticos e reivindicando 
direitos e melhorias para qualquer necessidade ou demanda de saúde 
mais emergente. A seguir, trataremos esse tema melhor quando 
falarmos sobre a Declaração de Caracas.
2.1 A implementação de uma rede extra: hospitalar
Em 1992, a segunda Conferência Nacional de Saúde mental utilizou 
o evento para compor a reforma psiquiátrica junto com a reforma 
sanitária, que ocorria após a implementação do SUS. A necessidade de 
combater a lógica manicomial era iminente e a Luta antimanicomial 
ganhou força em 1995, com uma aderência social, principalmente, por 
parte das famílias e profissionais de saúde que discordavam das práticas 
existentes.
A partir da conferência, são criados os primeiros NAPS, chamados 
de núcleos de apoio psicossociais e depois os Centros de Atenção 
Psicossocial (CAPS), os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs) e as 
Unidades Psiquiátricas em Hospitais Gerais (UPHG).
Segundo Bezerra Jr. (2004), com os programas da Saúde da Família 
consolidados, foi possível cobrir áreas e mapear melhor as necessidades 
de atenção específica de saúde mental, esse binômio (Reforma 
17
psiquiátrica e Sistema Único de Saúde) foi uma parceria bem-sucedida 
para possibilitar a reforma em escala nacional.
Os serviços substitutivos foram se ampliando em vários Estados 
brasileiros, que foram aderindo as ideias reformistas, de forma distinta, 
criando uma rede de atenção psicossocial (RAPS). Porém, haviam 
muitos interesses econômicos de setores privados que desejavam a 
manutenção do Sistema institucionalizante e da psiquiatria fechada, 
assim, opondo-se à reforma psiquiátrica (BEZERRA JR., 2004).
A Reforma Psiquiátrica Brasileira foi um movimento social e político 
que aconteceu em concomitância com a saúde pública, conforme 
mencionamos anteriormente. Outro fator que reforçou o Brasil avançar 
com a reforma, foram os movimentos em toda América Latina após 
a Declaração de Caracas, denominada: “A reestruturação da atenção 
psiquiátrica na América Latina: uma nova política para os serviços de 
Saúde Mental”, em 1990. O Brasil aderiu a essa Declaração, e a ela se 
articulou um longo e conturbado movimento de trabalhadores de saúde 
mental, movimento legalizado e garantido pela Constituição Federal 
(1988) e pelas legislações do SUS (1990).
Nesse sentido, uma legislação que marcou a legalização em nível 
nacional de uma psiquiatria aberta, que ordenava o fechamento de 
instituições manicomiais de psiquiatria só surgiu mais tarde, em 2001, 
junto com a Terceira Conferência Nacional de Saúde mental (BRASIL, 
2001).
3. A Reforma Psiquiátrica depois da lei Nacional 
(2001-2005)
Após todos os movimentos pró-reformistas, a lei 10.216, que dispõe 
sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos 
18
mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, criada 
em 6 de abril de 2001, garantia um passo importante para o fechamento 
dos hospitais psiquiátricos e das práticas manicomiais (BRASIL, 2001).
Como ponto de partida, em 2020, foram criados os Centros de Atenção 
Psicossocial, que passaram a atuar como porta de entrada reguladora 
do Sistema.
Mas, antes de falar de CAPS, vale citar o programa “De volta para casa” 
(PVC). No dia 31 de julho de 2003 foi criada a Lei n. 10.708, instituindo 
o auxílio-reabilitação psicossocial para pacientes acometidos de 
transtornos mentais, egressos de internações. Essa lei, por sua vez, 
garante o auxílio social e financeiro para aqueles usuários do Sistema 
que viveram durante muitos anos confinados nos hospitais psiquiátricos 
nos tempos de prática manicomial.
Dessa forma, todos os portadores de sofrimentos psíquicos que tem 
paradeiro de familiares, ou responsáveis para tutorá-los, podem receber 
auxílio financeiro mensal para manutenção do seu tratamento em rede 
aberta. Esse programa foi importante para sucesso do planejamento e 
ampliação da RAPS, bem como a criação de centros de convivência e as 
Residências Terapêuticas.
Para aqueles que não têm essas condições, foram criadas as residências 
terapêuticas, prevendo que muitos usuários da rede de atenção 
psicossocial não teriam paradeiro familiar ou lugar para viver após 
saírem da condição asilar, que viviam anteriormente nos hospitais 
psiquiátricos. Assim, todos os casos seguiriam tratamento nos CAPS 
(BRASIL, 2001).
Segundo Miranda Sá-Jr. (2004), em 2005, foi retomada a “Declaração 
de Caracas”, sob a forma de um documento intitulado “Princípios 
Orientadores para o Desenvolvimento da Atenção em Saúde Mental nas 
Américas”, com o objetivo de avaliar os resultados obtidos desde 1990.
19
Dessa forma, os organizadores reconhecem avanços importantíssimos 
que se produziram nos últimos quinze anos para reestruturar as práticas 
psiquiátricas, como: a ampliação de serviços substitutivos e estruturação 
de uma rede de tratamento psiquiátrico aberta, visando a reinserção do 
portador de sofrimento psíquico na sociedade; observando experiências 
que deram certo e foram desenvolvidas em diferentes países, assim 
como desafios que foram encontrados nos últimos anos, as dificuldades 
e todo o processo que precisava de melhorias.
Além disso, reafirmou-se a validade dos princípios contidos na 
“Declaração de Caracas” em relação à proteção dos direitos humanos, 
da cidadania dos portadores de transtornos mentais e a necessidade da 
construção de redes de serviços alternativos aos hospitais psiquiátricos.
As práticas em saúde mental desenvolvidas ao longo do tempo, para 
chegar no modelo de psiquiatria aberta instituído após 2001, passaram 
por refinamentos e pela participação de uma série de movimentos 
políticos, bem como reajustes legislativos e a revisão de pactuações 
constantes.
O CAPS é o ponto chave para que a reformase mantenha no 
Brasil, utilizando de equipes multiprofissionais e interdisciplinares, 
esses serviços substitutivos podem dar um suporte terapêutico 
individualizado, tratando caso a caso.
Encerramos nosso processo histórico sobre saúde mental por aqui, 
espero que, com essa tema, você tenha obtido os conhecimentos 
necessários para sua vida pessoal e para sua vivência profissional.
Em verdade, há muitos detalhes a serem desvelados na vastidão 
histórica que compreende a evolução das doenças mentais, e você está 
diante de uma porta de entrada convidativa ao buscar um curso na 
busca por especializar-se nessa área.
20
Que essas reflexões acerca da loucura, do sofrimento psíquico e dos 
males que acometem a mente humana desde sempre, bem como as 
tantas experiências e suas possibilidades de tratamento, possam ter 
lhe trazido compreensão desse universo complexo, porém curioso e 
profundo, que é a história da psiquiatria.
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, F. M. de. O Esboço de psiquiatria forense de Franco da Rocha. Revista 
Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, São Paulo, v. 11, n. 1, p. 137-
150, mar. 2008.
ARBEX, D. Holocausto Brasileiro. São Paulo: Geração Editorial, 2013.
BEZERRA JR., B. O cuidado nos CAPS: os novos desafios. Rio de Janeiro: Secretaria 
Municipal de Saúde, 2004.
BRASIL. Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos 
das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial 
em saúde mental. Brasília, DF: Presidência da República, [2001]. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm. Acesso em: 15 abr. 
2020.
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21
Legislações e políticas nacionais 
de saúde mental
Autoria: Rafael Lustosa Ribeiro
Leitura crítica: Carolina Pasquote Vieira
Objetivos
• Elucidar o respaldo do Sistema Judiciário para o 
movimento da reforma psiquiátrica brasileira.
• Compreender a lei que garante os tratamentos e 
direitos aos portadores de doença mental no Brasil.
• Estudar os dispositivos que ofereçam infraestrutura 
aos serviços substitutivos dos hospitais psiquiátricos.
22
1. Evolução jurídica da saúde mental no Brasil
No Brasil colonial, a doença mental era motivo de cerceamento, 
encarceramento e segregação do meio social, foi a partir desse ponto 
que as práticas asilares para tratamento da loucura tiveram início no 
país.
O estabelecimento de manicômios, asilos para alienados e hospitais 
de grande porte para internar pessoas com doenças transmissíveis, 
como leprosos, sifilíticos, tuberculosos ou os considerados loucos, era 
a tendência nos anos de 1850 em diante, até meados dos anos 1960, 
mesmo quando o Brasil se tornou uma república. Esse modelo de 
saúde é conhecido como Hospitalocêntrico.
Nesse sentido, Mansanera e Silva (2000) afirmam que não existiam 
políticas específicas para atender esse tipo de situação em especial, 
como as doenças mentais, assim, vigoravam no Brasil, como ocorria 
na Europa, a medicina higienista e as linhas alienistas, que visavam 
higienizar as cidades por meio da remoção coercitiva de pessoas que 
apresentassem problemas de saúde, isolando e prendendo essas 
pessoas em locais distantes para acompanha-las em seu processo 
patológico, muitas vezes, sem condições de tratamento ou cura.
O alienismo, por sua vez, tratava dos alienados, pessoas com 
problemas de ordem mental, aqueles que estavam alheios as normas 
da sociedade. As ideias de psiquiatria e tratamentos psiquiátricos 
só chegaram ao Brasil com o advento do ensino dessa disciplina nas 
universidades, um dos pioneiros foi João Carlos Teixeira Brandão 
(Rio de Janeiro, 28 de dezembro de 1854 — Rio de Janeiro, 3 de 
setembro de 1921) e Juliano Moreira (Salvador, 6 de janeiro de 1872 
—1933), frequentemente considerado como o fundador da disciplina 
psiquiátrica no Brasil (ODA; DALGALARRONDO, 2000).
23
Ambos influenciados pelas ideias e os feitos de Phillipe Pinel e Jean 
E. Esquirol, na França, que durante o século XIX buscavam compor 
a psiquiatria como ciência, classificando diagnósticos e tratando os 
pacientes no Asilo Feminino de Bicetrê, de maneira diferenciada da 
tendência ao isolamento. Dessa forma, demonstrando diagnósticos 
e prognósticos para os pacientes, eles realizaram muitos estudos 
importantes que contribuíram para firmar a disciplina de psiquiatria 
como ramo das ciências médicas (SILVEIRA; BRAGA, 2005).
Desse modo, os estudos das doenças mentais e sofrimentos psíquicos 
foram evoluindo com o tempo e, devido aos comportamentos 
desviantes da norma preceita socialmente, os doentes mentais, 
chamados de alienados, não tinham ainda uma distinção de 
tratamento sobre sua patologia.
A ação de implantar uma lei relativa aos doentes mentais brasileiros 
surgiu do pioneiro docente de psiquiatria da Faculdade de Medicina 
do Rio de Janeiro o, então, deputado e professor doutor, João Carlos 
Teixeira Brandão.
Segundo Macedo (2006), Brandão foi relator do Decreto n. 1.132 
de 1903, promulgado no governo do presidente Rodrigues Alves, 
que reorganizou a assistência aos doentes mentais que ainda eram 
chamados de “alienados”.
Ainda segundo o autor, a influência decorrente da lei francesa 
de 1838, que se referia a como deveriam ser as condições para 
tratamentos dos alienados e, como deveriam ser construídas as 
estruturas manicomiais, nesse momento histórico da sociedade 
francesa, a psiquiatria já estava estabelecida como ciência e os 
manicômios já separavam pacientes por sexo, patologias e gravidade 
da patologia (MACEDO, 2006).
24
Segundo Macedo (2006), era evidente nesse decreto, que impediu 
o intento de unificação da assistência psiquiátrica no Brasil, o 
estímulo à construção de asilos estaduais e a proibição definitiva do 
cerceamento de doentes mentais em prisões. Além disso, definia a 
tratamentos mais humanos em relação à época. A doença mental, 
como em outras partes do mundo ocidental, permaneceu ligada a 
três dimensões: médica, jurídica e social.
O decreto em questão também é o responsável por firmar a ideia de 
que o doente mental não possui a imputabilidade e a capacidade de 
gerir seus bens e a si mesmo, devendo se submeter a uma tutoria 
ou curador, que também é o responsável pela guarda provisória 
dos bens do doente. Assim, o paciente não teria direito de causa 
para interferir ou opinar sobre o seu tratamento, ou sobre suas 
terapêuticas.
Segundo o trabalho de Macedo (2006), quando foi aprovado o Código 
Civil de 1916 o Decreto n. 1.132 ainda estava em vigor, seguindo o 
caminho determinado por ele em alguns aspectos que se referem 
à capacidade civil dos doentes mentais, mas, em contrapartida, 
determinando-os de “loucos de todo o gênero” em vez de “alienados 
de qualquer espécie”, como estava no projeto original.
Não houve, inclusive, a preocupação de definir rigidamente, de 
forma clara ou singular, os que fossem alienados mentais, então, 
no entendimento apresentado na época, todos “aqueles que”, 
por organização cerebral incompleta ou moléstia localizada no 
encéfalo, lesão somática ou vício de organização, não gozam de 
equilíbrio mentale clareza de razões suficientes para se conduzirem 
socialmente nas várias relações da vida (MACEDO, 2006).
Em 1927, o Decreto n. 17.805 estabeleceu a distinção entre 
“psicopata”, como todo e qualquer doente mental, e “alienado”, que 
se referia ao doente mental perigoso, sujeito à incapacidade penal e 
25
civil. Dessa forma, a internação do alienado passou a ser obrigatória 
(SOARES FILHO; BUENO, 2016).
Em 1934, sob o governo getulhista, entrou em vigor o Decreto n. 
24.559, assim, revogando o anterior de 1903. Nesse decreto, o 
termo alienado foi retirado do ordenamento jurídico, que passou a 
referir-se somente ao “psicopata”. A incapacidade do doente mental 
foi reafirmada, sendo facilitado o recurso à internação, válido por 
qualquer motivo que torne incômoda a manutenção do psicopata 
em sua residência com os familiares, meio social ou tutores (SOARES 
FILHO; BUENO, 2016).
Atualmente, por exemplo, a psicopatia ou o termo “Psicopata” 
determina um comportamento antissocial, no sentido de ser anti as 
regras sociais, geralmente, com que os criminosos e os foras da lei 
são designados com esses tipos de transtornos da personalidade, 
e apresentam comportamentos irregulares, com baixa capacidade 
de empatia, ausência de remorso, com atitudes de dominância ou 
parasitárias em relação a outras pessoas ao seu redor (SOARES 
FILHO; BUENO, 2016).
O entendimento para a época era que a internação era considerada 
o tratamento padrão, recomendado a todo e qualquer indivíduo 
portador de qualquer tipo de transtorno mental. Sendo assim, 
o tratamento extra-hospitalar era e exceção, em que, segundo 
o trabalho de Macedo (2006), a mínima suspeita de sintomas ou 
instaurar de doença mental bastava para que o indivíduo fosse 
cerceado em situação asilar, seus direitos civis seriam suprimidos e 
ele seria submetido à tutela do Estado.
Não haviam garantias, segundo o trabalho de Macedo (2006) e Soares 
Filho e Bueno (2016), contra a medida de internação compulsória. 
Novamente a saúde mental e segurança pública estavam interligadas 
em uma conexão de Justiça e Psiquiatria, com o tratamento, que 
26
deveria ser pensado de forma biomédica, sendo associado ao aspecto 
legal. Em razão do potencial de periculosidade, o psicopata passou a 
ser visto em um misto dos enfoques jurídicos e médicos, na medida 
em que sua mera existência era uma questão de ordem pública.
Em meados da década de 1960, o saber psiquiátrico foi confrontado 
pelo surgimento da corrente antipsiquiátrica, a qual questionava a 
psiquiatria convencional enquanto conhecimento científico, propondo 
serem frágeis as próprias bases que fundamentam a existência da 
doença mental. A loucura, portanto, passa a não ser vista como 
doença, mas um reflexo do desequilíbrio social e familiar do meio 
onde o indivíduo se encontra inserido, devendo o empenho em sua 
cura se localizar nessas causas, excluindo as disfunções orgânicas tão 
propagadas anteriormente (MACEDO, 2006).
Na mesma década, na cidade italiana de Trieste se originou o 
movimento da Reforma Psiquiátrica europeia, que então, atingiria 
muitos países nas décadas subsequentes. Segundo Macedo (2006), 
seu fundamental precursor foi Franco Basaglia que não optou por 
negar a ideia de patologia, como os antipsiquitras, todavia, propôs 
que o saber da psiquiatria fosse repensado.
O texto de Macedo (2006), ainda faz com que pensemos quantos 
estigmas o dito “louco” teria em sua perda de identidade quando 
internado:
“[...] perderia sua identificação enquanto cidadão, trabalhador, 
proprietário, pai e tantas outras que lhe foram retiradas quando do 
início de seu tratamento em instituição asilar, quando adquiriu o 
estigma de incapaz, perigoso ou antissocial. A inovação da metodologia 
empregada se fez com o recurso ao hospital-dia, que permitia a 
continuidade da inserção do indivíduo em seu meio social e familiar na 
constância do tratamento”. (MACEDO, 2006, p. 5)
27
Figura 1 – Franco Basaglia
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:1979_-_BasagliaFoto800.jpg. Acesso em: 16 
abr. 2020.
Sob as influências advindas da Europa e as visitas do psiquiatra Franco 
Basaglia, a realidade brasileira vivenciou o processo da Reforma 
Psiquiátrica a partir da década de 1970, a partir de várias manifestações 
de setores distintos da sociedade, visando a redução do cerceamento da 
liberdade individual na forma de manicômios e asilos.
No fim dos anos 80, por sua vez, surgiu o Movimento dos Trabalhadores 
em Saúde Mental, lançando o lema “Por uma sociedade sem 
manicômios” e estimulando a produção legislativa de vários estados, no 
sentido de proceder à desistitucionalização (SILVEIRA; BRAGA, 2005).
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:1979_-_BasagliaFoto800.jpg
28
2. A Lei n. 10.216/01 e a reforma psiquiátrica
Após todos os movimentos pró-reformistas, a Lei n. 10.216, que dispõe 
sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos 
mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, criada em 
6 de abril de 2001, garantiu um passo importante para o fechamento 
dos hospitais psiquiátricos e para o fim das práticas manicomiais.
A lei 10.216 (BRASIL, 2001, [s.p.]) traz em seu texto jurídico, nos dois 
primeiros artigos:
“Art. 1º Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno 
mental, de que trata esta Lei, são assegurados sem qualquer forma de 
discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção 
política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau de 
gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra.
Art. 2º Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a 
pessoa e seus familiares ou responsáveis serão formalmente cientificados 
dos direitos enumerados no parágrafo único deste artigo”.
Dessa forma, são direitos da pessoa portadora de transtorno mental:
I–ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às 
suas necessidades;
II–ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de 
beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na 
família, no trabalho e na comunidade;
III–ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração;
IV–ter garantia de sigilo nas informações prestadas;
V–ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a 
necessidade ou não de sua hospitalização involuntária;
29
VI–ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis;
VII–receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de 
seu tratamento;
VIII–ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos 
possíveis;
IX–ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde 
mental”. (BRASIL, 2001, [s.p.])
É fundamental analisar esse texto jurídico para ter conhecimento da 
importância das garantias contidas nele, principalmente no parágrafo 
único do artigo 2º, os nove direitos que uma pessoa portadora de 
doença mental deve ter.
No artigo 3º, o texto diz que “… o desenvolvimento da política de saúde 
mental é de responsabilidade do Estado…” (BRASIL, 2001, [s.p.]).
O contexto do artigo 4º indica que as internações só são indicadas se os 
serviços substitutivos, extra-hospitalares não forem suficientes para o 
caso e, seus parágrafos procuram individualizar o tratamento.
Para cada indivíduo portador de doença mental é construído um Projeto 
Terapêutico Singular, uma PTS, isso confere a pessoa um tratamento 
personalizado para atender sua demanda.
Vamos para uma análise literal do art. 6º:
“Art. 6º A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo 
médico circunstanciado que caracterize os seus motivos.
Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação 
psiquiátrica:
I–internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário;
30
II–internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do 
usuário e a pedido de terceiro; e
III–internação compulsória: aquela determinada pela Justiça”. (BRASIL, 
2001, [s.p.])
Esse artigodefine quais são os três tipos de casos de internação, uma 
informação importante para todos os profissinais da saúde conhecerem 
e saberem suas diferenças na prática.
O artigo 8º, por sua vez, falará sobre como é determinada a autorização 
voluntária, mas seus parágrafos tratam de compreender sobre a 
involuntária também, afirmando que todas as internações involuntárias 
devem ser comunicadas ao ministério público, e os familiares ou 
responsáveis legais têm poder de decisão caso desejem encerrar o 
processo de internação do paciente.
Essa análise pode ser aprofundada com a leitura do texto legislativo 
deixado como referencial.
Agora, é importante conhecer os dispositivos que tornam a reforma 
psiquiátrica possível complementando leis com os serviços substitutivos 
aos manicômios.
Como é a base do Sistema Único (SUS), a saúde mental é incorporada 
nas políticas públicas de saúde a partir de 2001 e, assim, o Governo 
tem toda a responsabilidade e poder de fazer cumprir a legislação. Para 
tanto, cabe a ele fiscalizar para que as práticas manicomiais não sejam 
novamente incorporadas na lida com pacientes usuários da rede de 
apoio psicossocial.
Desse modo, é de responsabilidade de todos cultivar perspectivas de 
manutenção dos serviços abertos de saúde mental, acessíveis, com 
envolvimento familiar no tratamento individualizado dos usuários 
31
desses serviços, visando a reinserção social do portador de doença 
psíquica.
3. Dispositivos substitutivos e infraestrutura da 
rede de apoio psicossocial
Como ponto de partida, em 2002 foi criado como serviço substitutivo 
principal o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), que passou a atuar 
como porta de entrada reguladora do Sistema.
Mas antes de falar de CAPS, vale a pena citar o programa “De volta para 
casa”, que garante auxílio social e financeiro para aqueles usuários do 
sistema que viveram durante muitos anos confinados nos hospitais 
psiquiátricos durante os tempos de prática manicomial.
Esse programa é abarcado no artigo 5º da Lei n. 10.216/01 (BRASIL, 
2001). Todos os portadores de sofrimentos psíquicos que tem paradeiro 
de familiares, ou responsáveis para tutorá-los, podem receber auxílio 
financeiro mensal para manutenção do seu tratamento em rede 
aberta. Para os que não tem essas condições, em 2001 foram criadas 
as residências terapêuticas, prevendo que muitos usuários da rede de 
atenção psicossocial não teriam paradeiro familiar ou lugar para viver 
após saírem da condição asilar que viviam anteriormente nos hospitais 
psiquiátricos.
Além de atender aos indivíduos que não tem família, os serviços de 
residências terapêuticas são casas que acolhem de maneira temporária 
ou permanente os pacientes que viveram em situações manicomiais 
durante muitos anos e perderam a orientação e/ou não tem condições 
para se manterem sem cuidados tutorados.
32
Todos os casos, tanto os que tem familiares e/ou tutores, quanto os 
residentes em casas terapêuticas, deverão seguir seu tratamento nos 
CAPS, conforme orienta a lei.
Esse serviço é diferenciado de acordo com o público que o frequentam e 
o contingente populacional presente na região. Frente a quantidade de 
pessoas, a divisão do CAPS é feita como:
• CAPS I para regiões de até 15 mil habitantes.
• CAPS II atende regiões até 70 mil habitantes.
• CAPS III regiões até 150 mil habitantes, onde, esse último tem 
como diferencial o acolhimento noturno e em finais de semana.
• CAPS AD, os que apresentam cuidado especializado a dependentes 
químicos.
• CAPS i, os que apresentam cuidado especializado a crianças em 
sofrimento psíquico.
• CAPS AD IV, o que apresenta cuidado aos pacientes em quadros 
graves ocasionados pelo uso de substâncias psicoativas (BRASIL, 
2011; BRASIL, 2017).
 
3.1. Estruturação legal de rede com dispositivos para 
apoio nos casos de uso de álcool e drogas
Não menos importante e em consonância com a segurança pública, o 
Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD), sob a Lei 
n. 13.840/19 e instituído em 2006 pela Lei n. 11.343, visando proteger a 
população do tráfico e do uso ilícito de drogas (BRASIL, 2019).
33
Analisamos a seguir os objetivos do SISNAD, em que a citações 
apresentadas estão, resumidamente, com os pontos-chave.
“Artigo 8º–São objetivos do Plano Nacional de Políticas sobre Drogas, 
dentre outros:
I–promover a interdisciplinaridade e integração dos programas, ações, 
atividades e projetos dos órgãos e entidades públicas e privadas nas 
áreas de saúde, educação, trabalho, assistência social, previdência social, 
habitação, cultura, desporto e lazer, visando à prevenção do uso de drogas, 
atenção e reinserção social dos usuários ou dependentes de drogas;
II–viabilizar a ampla participação social na formulação, implementação e 
avaliação das políticas sobre drogas;
III–priorizar programas, ações, atividades e projetos articulados com os 
estabelecimentos de ensino, com a sociedade e com a família para a 
prevenção do uso de drogas;
IV–ampliar as alternativas de inserção social e econômica do usuário ou 
dependente de drogas, promovendo programas que priorizem a melhoria 
de sua escolarização e a qualificação profissional;
V–promover o acesso do usuário ou dependente de drogas a todos os 
serviços públicos;
VI–estabelecer diretrizes para garantir a efetividade dos programas, ações 
e projetos das políticas sobre drogas;
VII–fomentar a criação de serviço de atendimento telefônico com 
orientações e informações para apoio aos usuários ou dependentes de 
drogas;
VIII–articular programas, ações e projetos de incentivo ao emprego, 
renda e capacitação para o trabalho, com objetivo de promover a 
inserção profissional da pessoa que haja cumprido o plano individual de 
atendimento nas fases de tratamento ou acolhimento;
34
IX–promover formas coletivas de organização para o trabalho, redes 
de economia solidária e o cooperativismo, como forma de promover 
autonomia ao usuário ou dependente de drogas egresso de tratamento ou 
acolhimento, observando-se as especificidades regionais;
X–propor a formulação de políticas públicas que conduzam à efetivação 
das diretrizes e princípios previstos no art. 22;
XI–articular as instâncias de saúde, assistência social e de justiça no 
enfrentamento ao abuso de drogas; e
XII–promover estudos e avaliação dos resultados das políticas sobre 
drogas”. (BRASIL, 2019, [s.p.])
Assim, surgiu uma nova ética no cuidado, sem o isolamento e a 
classificação, mas com a inclusão, o acolhimento, a compreensão e a 
ampliação da consciência social.
De fato, para acontecer a inclusão dos portadores de sofrimento 
psíquico como parte de um todo social, como cidadãos, no processo 
terapêutico e na sociedade, é necessário ir além da reorganização da 
rede de serviços e da substituição de técnicas terapêuticas, é necessário 
o estabelecimento de vinculos permanentes.
Nesse sentido, é preciso que os trabalhadores de saúde mental 
conheçam sua corresponsabilidade como cidadão e se enxerguem como 
sujeitos integrantes de um quadro institucional, com conhecimentos e 
habilidades, articulando saberes e práticas de saúde, que carregam o 
estigma de representarem na história um mecanismo de controle social, 
com a reforma, tem a missão de otimizar e individualizar os processos 
terapêuticos.
Assim, cada pessoa é agente da mudança no aspecto social. Ao 
professional da saúde, distinto do leigo, perante a necessidade 
da manutenção de uma psiquiatria saudável e aberta, cabe a 
responsabilidade, não só dentro de sua atuação profissional, mas 
35
também na missão de informar pessoas, esclarecendo pontos 
importantes aos leigos e ajudando cada um a ir além de seus 
preconceitos e tabus acerca da saúde mental.
As doenças psíquicas não são contagiosas, todavia a cultura de 
segregação e isolamento social pode ser nociva e, potencialmente, 
encontrar eco na lembrança de tudo o que houve no processo 
histórico pré-reformista. É preciso ecoar outra história e construir uma 
nova cultura, nessa perspectivade uma psiquiatria diversificada na 
individualidade de cada sujeito e, na permanência dos que possuem 
sofrimentos psíquicos em meio a sociedade, não mais em instituições 
fechadas e asilares.
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37
A influência da reforma 
psiquiátrica na mudança do 
paradigma da assistência em 
saúde mental 
Autoria: João Carlos Marchiori de Claudio
Leitura crítica: Carolina Pasquote Vieira
Objetivos
• Apresentar uma breve retomada histórica dos
modelos de assistência a pacientes com transtornos
mentais, dando foco em aspectos etiológicos da
doença e seus respectivos tratamentos.
• Apresentar os precursores que contribuíram para a
estruturação da reforma psiquiátrica atual.
• Apresentar a reforma psiquiátrica, expondo seus
conceitos base, sua formação e seus principais fatos.
• Realizar um comparativo entre a assistência
prestada ao paciente com transtorno mental antes e
após a reforma psiquiátrica.
38
1. Uma breve resenha sobre a assistência 
psiquiátrica
Há muitos anos, tem-se estudando a respeito de qual assistência é mais 
adequada ao paciente com transtorno mental. Pode-se notar que desde 
os povos primitivos, uma “assistência” foi criada para o cuidado dessas 
pessoas, contudo, com o avanço da civilização e a descoberta de células, 
como os neurônios, e de substâncias, como os neurotransmissores, 
os tratamentos foram mudando com o passar do tempo, saindo 
de um tratamento com base alimentar e humoral a um tratamento 
farmacológico e cognitivo (SILVA; FONSECA, 2003; MENDONÇA, 2005; 
MILLANI; VALENTE, 2008).
Junto aos tratamentos, o olhar sobre o que esse paciente representava 
na sociedade foi alterado, passando de uma figura mágica, que teria 
o poder de entrar em contato com os deuses por meio de vozes em 
sua cabeça, apresentando um caráter positivo na época, para uma 
possessão demoníaca, onde essas vozes trocam de lugar para um 
ser demoníaco que assombra a alma do paciente, com o objetivo de 
disseminar o mal a toda a população, sendo de caráter negativo nesse 
período.
Observa-se que muito foi estudado e, com isso, diversas práticasforam 
descartas pela falta de evidência que comprovaram sua eficácia no 
tratamento (ex.: insulinoterapia–aplicação de doses de insulina com o 
intuito de gerar uma convulsão por hipoglicemia–ou crioterapia–banho 
em água com temperatura abaixo de zero, com a intenção de gerar um 
desmaio por queda de temperatura), em contraponto, foi demonstrada 
a melhora de pacientes para práticas que uniam o convívio social com 
outras práticas (ex.: farmacologia e terapia cognitiva comportamental).
Essas práticas, que tiveram sua eficácia comprovada, foram adotadas 
na nossa atual reforma psiquiátrica, a qual observam o cuidado do 
39
paciente como fundamental, tendo como princípio básico a reinserção 
social, pois as práticas que a antecedem tem um conturbado período 
entre manicômios/prisões. A proposta que a reforma psiquiátrica 
atual se baseia, é na reintegração do paciente para o meio social e, 
utilizando como meio de cuidado o território em que ele frequenta e 
seus lugares de convívio social. Ainda, esse cuidado agrega práticas 
secundárias a medicalização, terapias cognitivas e terapias integrativas 
complementares, sempre com o intuito de prestar o melhor cuidado ao 
indivíduo, a fim de integra-lo da melhor forma na sociedade.
Frente a isso, essa leitura digital tem como objetivo apresentar a 
mudança do paradigma da assistência ao paciente de saúde mental, 
apresentando as raízes dos cuidados que antecederam a atual reforma 
psiquiátrica e, por fim, demonstrar um comparativo entre as visões 
frente a esse paciente e sua doença antes e após a reforma psiquiátrica.
1.1 Tratamento da loucura: uma breve caminhada
Quando nos debruçamos frente ao cuidado do paciente com 
transtorno mental, muito nos questionamos sobre os modelos de 
assistência que foram utilizados antigamente para exercer o cuidado. 
Filmes clássicos, como “Uma mente brilhante”, que retrata um 
personagem que apresenta uma esquizofrenia paranoide e que quando 
descoberto é levado ao manicômio e esse e submetidos a uma série 
de procedimentos ditos terapêuticos, como a insulinoterapia ou a 
eletroconvulsoterapia para fazê-lo retornar a “realidade” e acabar com 
seu delírio. Segundo Winterling (2012), ainda, se observa na antiguidade 
a diferenciação da assistência a pacientes com transtornos psiquiátricos, 
como os imperadores Nero e Marco Aurélio, historicamente 
reconhecidos por seus feitos no império Roma. Além de seus grandes 
feitos, há discussões no meio acadêmico sobre suas atitudes frente a 
seus discípulos e cidadãos, o que os diagnosticam, atualmente, com 
transtornos mentais.
40
Quando observamos ambos, notamos a diferença no entendimento da 
loucura, em que no primeiro exemplo é visto como algo ruim e deve 
ser tratado, mas no caso dos imperadores, a loucura e tida como algo 
positivo e digno, pois eles entram em contato com os deuses.
De fato, o cuidado no passar do tempo foi alterado de forma diversa, 
assim como a visão perante a doença mental foi alterada e, ambos 
mencionados, continuam em constante mudança.
Com isso, nos próximos tópicos destrinchamos mais detalhadamente 
os cuidados prestados para os indivíduos nessas condições e a visão 
dessas patologias perante a sociedade, com o objetivo, no final, de 
realizar o comparativo da reforma psiquiátrica atual com o contraste dos 
paradigmas antecedentes.
1.1.1 Tratamento da loucura: povos primitivos
A sociedade começou a se organizar a partir de vários motivos e, 
junto a eles, o entendimento da cultura e aspectos em comum, como: 
linguagem, localidade e religião, foram motivos em favor da união de 
povos. Um exemplo de união atual desses povos primitivos pode se 
observar nos povos indígenas de nosso país (SILVA, FONSECA, 2003).
Em sequência, o entendimento da doença perante ao paciente 
foi guiado, logicamente, pelo conhecimento de causas espirituais. 
Esse pensamento de causas mágico-religiosas tem como fator de 
identificação do adoecimento a possessão do indivíduo por um espírito 
maligno, no caso, o desenvolvimento do transtorno mental e uma 
possessão de uma força do mal (MILLANI; VALENTE, 2008).
Em decorrência desse fato, o modelo de cuidado prestado para esse 
indivíduo era expulsão desta força maligna por um xamã/curandeiro/
sacerdote através de um ritual. Atualmente, podemos observar que 
esse processo não caiu em desuso, mesmo com o avanço da tecnologia, 
41
quantas vezes não ouvimos que grupos religiosos entendem que 
pessoas com depressão ou outros transtornos não foram possuídas por 
“espíritos do mal” e para se livrar deles necessitam rezar e/ou ir a algum 
ritual místico?
1.1.2 Tratamento da loucura: Roma, Grécia e a medicina 
humoral
Com o passar do tempo, com da evolução da sociedade, a criação de 
comunidades maiores e sistemas políticos diferentes, houve, também, 
a evolução/mudança do sistema de cuidado e entendimento das 
patologias no geral. Um dos pais da medicina, Hipócrates (460-356 
a.C.), principal médico greco-latino, entendia as doenças através de sua 
teoria dos quatro humores corporais (bílis negra, bílis amarela, sangue 
e flegma/pituita), em que o desequilíbrio presente entre esses quatro 
humores expressava a doença ou dor no corpo do indivíduo (SILVA; 
FONSECA, 2003).
Para além do desequilíbrio, Hipócrates foi um dos primeiros a classificar 
as doenças mentais em quatro grupos: epilepsia, mania, melancolia e 
paranoia. E, para cada uma delas, ele apresentou um tratamento voltado 
para as bases do cuidado vigente na época–o natural–como: massagens 
corporais, dietas, passeios, viagens, fumigação de ervas (incenso em 
partes do corpo), aromatização do ambiente, entre outros.
1.1.3 Tratamento da loucura: Idade Média
Passando da época antecessora a Cristo, chegamos na Idade Média 
ou, também conhecida, Idade das Trevas. Devemos relembrar um 
fato muito importante neste período, a grande influência da Igreja 
Católica nas grandes decisões da época, o que retorna a uma grande 
influência da visão místico-religiosa para o cuidado e o entendimento 
das patologias que existiam. Esse meio de cuidado vem junto de 
42
um aspecto hierárquico, no qual o grau de hierarquia social que o 
indivíduo com transtorno mental se encontrava daria um determinado 
encaminhamento para seu cuidado. Para os estavam em um alto grau 
hierárquico (alta nobreza e cleros), o pagamento de caridade já era 
uma forma de cuidado, pois a oração feita pelos cleros daria o cuidado 
necessário para o indivíduo doente.
Em contraponto, para os que não apresentavam um alto grau na escala 
hierárquica (escravos, camponeses entre outros) a erradicação por meio 
do isolamento em conventos distantes ou, ainda mais desumano, a 
imposição de velejar sem rumo no conhecido Nau dos loucos era tido 
como o cuidado para essas almas (SILVA; FONSECA, 2003; MENDONÇA, 
2005; MILLANI; VALENTE, 2008).
Ainda, vale ressaltar, os falsos “diagnósticos” dados pela igreja para 
pessoas que não tinham transtornos mentais, pois iam contra os 
pensamentos vigentes da época. Nesse sentido, podemos constatar esse 
fato quando observamos a história das bruxas que eram perseguidas 
por acusação de usar ervas para cuidar de pessoas, o que remetia 
a uma heresia frente à igreja. Com isso, pessoas como anatomistas, 
astrólogos, cantores, artistas e outros foram taxados como hereges, pois 
confrontavam a ideia vigente da época.
1.1.4 Tratamento da loucura: Renascimento
Após a era conhecida pela obscurescência da ciência–Idade Média–em 
meados do século XVI, a visão da loucura foi novamente reformulada, 
considerando o louco como um indivíduo que não estava apto para 
o processo de urbanização que vinha ocorrendo na civilização–vale 
relembrar que as cidades estavam em expansão, criando um movimento 
de êxodo rural na Europa. Ainda, é importante recordar, que nesse 
período a retomada das navegações marítimas, expansão geopolíticas 
43
e afastamento da grande influência da Igreja católica são fatores que 
moldaram essa época (MENDONÇA, 2005).
Esse indivíduo, que já foivisto por diversas óticas, agora é visto como 
um ser sem razão, pois esse período foi banhado pelo Racionalismo 
moderno e, assim, a criação de uma ideia nova do ser humano, a qual 
é o homem da razão. Esse conceito é entendido pela diferenciação 
do homem “humanizado”–o portador de razão–o que o fez liberto da 
regência divina, sendo aquele que não possui razão e um homem louco 
ou com transtorno mental, pois mais se aproxima da animalidade.
Devido a essa forma de pensamento, o modelo de assistência aos 
pacientes com transtorno mental era focado no isolamento e controle 
social, pois eles não eram aptos a viver em comunidade. Desse modo, 
a criação de hospitais gerais–como o primeiro fundado em Paris em 
1656–tinha como finalidade “acolher” todos as pessoas que eram tidos 
como excluídos da sociedade (loucos, pedófilos, mendigos, prostitutas, 
órfãos e outros). Ainda, como prática de cuidado, a contratante vigilância 
e punição por métodos baseados na imposição vinga, como rodas de 
banhos frios, acorrentamento, isolamento em solitárias e supressão da 
luz solar (SILVA; FONSECA, 2003).
1.1.5 Tratamento da loucura: Revolução Francesa, 
Revolução Industrial e o Iluminismo (Revolução Pineliana)
Após a época Renascentista, a chegada da Revolução Francesa, no 
ano de 1789, junto com a Revolução Industrial, apresentou o fim da 
transição do modelo feudal para o capital, o que carregou consigo o 
fim da hierarquização feudo (senhor feudal–escravo/camponês) para 
a implantação do modelo capital (patrão, proprietário do meio de 
produção–empregado, proprietário da força de trabalho). Com isso, 
o entendimento da loucura ganhou uma nova face moldada por esse 
novo sistema, a qual era associada a falta de adequação dele para fazer 
44
parte do novo mundo, o qual era produtivo e baseado no consumo e na 
acumulação de bens, colocando-o no papel errôneo de preguiçoso.
Uma outra vertente da época guiada pelo Iluminismo, a qual seguia os 
princípios de Igualdade, Liberdade e Fraternidade, surgiu em 1793, com 
Philippe Pinel. Após a indicação para ser o médico chefe do Hospital 
de Bicêtre, na França, ele apresentou um novo pensamento sobre a 
loucura, o qual saia da animalização e da improdutividade dos seus 
portadores para uma visão mais clínica deles, dando luz a uma visão 
onde a loucura era gerada por tensões sociais e psicológicas em grande 
escala, podendo ser causada por hereditariedade ou originada pelo 
ambiente.
Com isso, ele fundou a psiquiatria como campo da medicina moderna, 
instituiu a medicalização da loucura como uma das formas de cuidado, 
apresentou um lugar de cuidado para o paciente, que o afastaria do que 
podia fazê-lo piorar ou confundir os sintomas (manicômio) e apresentou 
a ideia classificatória das doenças psiquiátricas (nosografia das doenças). 
Como forma de cuidado desses novos indivíduos, foram realizadas: 
a prescrição baseada no contato próximo e amigável com o paciente, 
discussão das dificuldades pessoais e um programa voltado a atividades 
exercidas na instituição (SILVA; FONSECA, 2003; MENDONÇA, 2005; 
MILLANI; VALENTE, 2008).
Contudo, mesmo que a visão de Pinel seja inovadora e apresente 
aspectos diferentes para as loucuras, deve-se observar a quem esse 
modelo servia–a burguesia. Essa classe social, que tinha a necessidade 
de obter mais de força de trabalho/mão de obra, abraçou a ideia de 
Painel sobre a terapia do cuidado através das atividades e impôs ao 
louco regras com o objetivo de usá-lo como ferramenta de trabalho. 
Ainda, deve-se entender que o arquétipo da liberdade que Pinel deu 
aos loucos não foi uma conquista a eles de um espaço libertário de fato, 
mas um espaço para a medicina estudá-los e catalogá-los frente às suas 
loucuras.
45
1.1.6 Tratamento da loucura: Reforma Psiquiátrica 
(Revolução Basaglia)
Após o passar dos anos e o estabelecimento do modelo manicomial de 
Pinel como referência, a transformação dele começou a ser solicitada. 
Eventos como a Segunda Guerra Mundial, o crescimento econômico e 
populacional e movimentos civis que eram intolerantes as diferenças 
e minorias, os profissionais desses serviços começaram a mudar o 
mesmo. A mudança foi embasada na busca de uma sociedade mais 
livre, igualitária e solidária que, por meio da adoção da descoberta 
dos psicotrópicos, da psicanálise e das estratégias de saúde pública 
vingaram a reconstrução das instituições psiquiátricas, dando base para 
os movimentos precursores da reforma psiquiátrica no mundo (SILVA; 
FONSECA, 2003; MILLANI; VALENTE, 2008).
No entanto, esse movimento não foi igualitário em todos os países, pois 
dependia da força políticas e sociais dos profissionais da área para a 
mudança do sistema manicomial vigente. Contudo, um dos precursores 
desse movimento foi Franco Basaglia, médico psiquiatra, que em 
1961 assumiu a direção do hospital de Gorizia, na Itália, e focou na 
transformação do antigo manicômio em uma comunidade terapêutica. 
Entretanto, segundo Amarante (1996), conforme conduzia sua mudança, 
ele ia de encontro aos obstáculos que ultrapassavam as competências 
da psiquiatria, o que junto com a leitura da obra História da Loucura 
na Idade Clássica, de Michel Foucault, observou que a transformação 
não era apenas no modelo psiquiátrico, mas, também, no modelo 
socioeconômico de visão frente ao paciente louco.
Com isso, Basaglia formulou o discurso e prática da “negação da 
psiquiatria”, a qual tinha como objetivo não acabar com a psiquiatria 
como ela é, mas de apresentar que ela por si só não dava conta desse 
fenômeno que era a loucura. Segundo Amarante (1996), para isso, 
Basaglia promoveu em Trieste um novo modelo de assistência ao 
indivíduo, que era embasado em uma rede territorial de atendimento, 
46
focando em um serviço de atenção comunitária, cooperativas de 
trabalho, centros de convivência, moradia assistidas e, quando 
necessário, o serviço de emergência psiquiátrica em hospitais gerais.
Esse modelo de assistência à saúde mental foi decretado, em 1973, pela 
Organização Mundial de Saúde (OMS), como referência para o cuidado 
de pacientes com transtorno mental no mundo (AMARANTE, 1996).
1.2 A chegada da reforma psiquiátrica: conceitos, bases 
de pensamento, formação e modelos de assistência aos 
pacientes
O modelo que foi decretado para o cuidado dos pacientes com 
transtornos mentais foi o inspirado por Franco Basaglia, na Itália. 
Segundo Kyrillos Neto (2003), esse modelo é pautado na reinserção 
social do paciente na sociedade, o que, como foi visto, vai na contramão 
dos modelos de cuidado anteriormente utilizados, pois apresentavam 
práticas higienistas e de exclusão.
Sua base de pensamento foi a luz do filósofo Michel Foucault, com o 
livro História da Loucura na Idade Clássica. Essa obra tem como estudo 
a exclusão das pessoas e as tecnologias usadas, para isso, Foucault 
estudou a loucura por meio da história e as ferramentas de “cuidado” 
utilizadas (FOUCAULT, 2008). Ainda, o sociólogo Erving Goffman, com 
o livro Manicômios, prisões e conventos, teve papel fundamental na 
reforma psiquiátrica. De acordo com Goffman (2008), ele retratou as 
relações de poder estabelecidas em instituições totais–termo dado 
ao estabelecimento onde os indivíduos passam parte da vida por 
algum motivo–e seus “atores”–internados (pessoas que estão no local 
por diversos motivos, como: presos, pacientes psiquiátricos, freiras, 
soldados, entre outros) e a equipe dirigente (pessoas que trabalham na 
instituição total ou estão em um nível alto na hierarquia da instituição, 
47
como: agentes penitenciários, freiras antigas em conventos, sargentos, 
médicos e enfermeiros psiquiatras).
Somando-se a isso, para criar o modelo comunitário, Basaglia se baseou 
em experiências que visavam a interação da comunidade frente ao 
paciente e, também na sua reinserção social na comunidade. Segundo 
Kyrillos Neto (2003), um dos principais focos desse modelo do cuidado 
através da comunidade e a busca dos direitos cidadãos dos pacientes, 
assim comoa busca dos espaços comunitários e a reinclusão na 
comunidade, e aceitação dessa para com o paciente.
1.3 Um novo caminho para se seguir: a assistência e a 
visão do paciente com transtorno mental antes e após a 
reforma psiquiátrica e suas implicações
Por meio da história, pudemos aprender sobre a concepção das causas 
da loucura, assim como a forma de cuidado foi mudando. Essas causas 
eram embasadas, em sua maioria, por questões políticas, sociais, 
econômicas e organizacionais. Para fins didáticos, apresentamos a seguir 
as principais características dos modelos de assistências oferecidos 
durante a história, junto a seus entendimentos de adoecimento da 
doença e seu principal pensador.
Quadro 1–Períodos históricos representados por suas principais 
características frente ao sujeito com transtorno mental
Época temporal
Entendimento do 
adoecimento
Modelo de 
cuidado
Principal 
pensador
Povos Primitivos
Adoecimento a 
traves de forças 
sobrenaturais 
A Traves de reza, 
benzimentos, 
rituais
Xamãs, 
Curandeiros, 
Sacerdotes
48
Povo greco-
romano
Desequilíbrio 
humoral
Reequilíbrio dos 4 
humores através 
de massagens, 
banhos, 
vaporização de 
odores, viagens
Hipócrates
Idade Media
Possessão 
demoníaca
Cura através 
do pagamento 
para os padres, 
que rezam para 
acontecer a cura ou 
o isolamento social 
para quem não 
podia pagar
Igreja Católica
Renascimento
Não adaptação ao 
modelo urbano
Isolamento social 
em manicômios e 
utilização da força 
para impor cuidado
Racionalismo
Revolução 
Pineliana
Entendimento 
medico clinico, visto 
como uma patologia
Programas 
e atividades 
exercidas na 
instituição 
baseadas no 
paciente
Philippe Pinel
Revolução 
Basaglia
Doença como causa 
por múltiplos fatores 
Rede territorial 
de atendimento 
e reinserção do 
paciente no mundo
Franco Basaglia
Fonte: elaborado pelo autor.
49
Contudo, devemos questionar quais as contribuições da reforma 
psiquiátrica para o paciente com transtorno mental? A importância 
dela consegue englobar diversas esferas, porém começaremos 
com a mais básica, a esfera etiológica, ela muda o entendimento da 
doença mental como algo místico ou unicausal, dando uma vertente 
multifatorial. Essa vertente, como já explicado, dá a doença mental 
uma explicação possível de solução e cuidado para o doente.
Passando para outra esfera, a do cuidado/assistência, sendo diferente 
das suas antecessoras pois adquire um caráter de não isolamento 
social do paciente. O cuidado e feito no território onde o paciente vive 
e compreende como casa, utilizando as redes sociais que o indivíduo 
tem como forma de cuidado. Além disso, a reinserção social e a 
busca pelos direitos cidadãos do paciente são diferentes das antigas 
abordagens, fazendo que ele seja visto como indivíduo da sociedade.
1.4 Conclusão
Como abordamos nesta unidade, tanto o entendimento quanto o 
modelo de assistência ao paciente louco mudaram durante séculos 
na história, onde foi influenciado sempre pela política, sociedade, 
cultura e religião vigente. Atualmente, o modelo que o Brasil segue 
é o da Reforma Psiquiátrica, mas correntes atuais estão surgindo, as 
quais podem ter grande influência no futuro do cuidado do paciente.
Contudo, mesmo que grande progresso tenha sido conquistado com 
a reforma psiquiátrica, muito ainda deve-se obter, pois ainda existem 
preconceitos e estigmas por parte da população com esse paciente, 
o que dificulta muitas coisas para os pacientes, como a conquista 
de emprego e conseguir viver uma vida digna, sem preconceitos e 
exercendo sua cidadania.
50
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http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-69762008000200009&lng=pt&nrm=iso
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-69762008000200009&lng=pt&nrm=iso
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692003000600015&lng=en&nrm=iso
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692003000600015&lng=en&nrm=iso
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-90742012000100003&lng=en&nrm=iso
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-90742012000100003&lng=en&nrm=iso
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Competências necessárias à 
equipe multiprofissional para 
assistência em saúde mental e 
psiquiatria
Autoria: João Carlos Marchiori de Claudio
Leitura crítica: Carolina Pasquote Vieira
Objetivos
• Revisar, brevemente, a criação do Sistema Único de
Saúde e apresentar as Redes de atenção à saúde
existentes.
• Apresentar a Rede de Apoio Psicossocial (RAPS),
os serviços que a compõem, abordando o
funcionamento do Centro de Apoio Psicossocial
(CAPS) e da enfermaria psiquiátrica no hospitalar.
• Associar as atuais políticas referentes ao cuidado em
saúde mental com as Bases da Educação Nacional
dos profissionais de saúde.
• Definir o que é competência e discorrer,
brevemente, sobre as competências de profissional
nos serviços de saúde mental e psiquiatria.
• Apresentar as competências de uma equipe
multiprofissional como um todo e frente aos
aparatos de saúde mental.
52
1. Uma breve introdução ao tema
Com o avanço do sistema de saúde vigente, o SUS (Sistema Único de 
Saúde), as políticas educacionais tiveram que apresentar mudanças 
em suas bases curriculares, chamadas de diretrizes de bases 
da educação nacional, as quais moldam o currículo dos futuros 
profissionais embasando-se nas necessidades e competências que 
deverão exercer em seu futuro ambiente de trabalho.
Entendendo que o conceito de competência é composto por três 
eixos que o sustentam em sua formação–habilidades, atitudes 
e conhecimento -, o profissional de saúde deve apresentar esse 
conjunto para ter êxito frente ao seu trabalho em qualquer área. 
A referida leitura digital contemplará brevemente o entendimento 
da formação do SUS, com foco nos serviços de saúde mental, 
junto as diretrizes curriculares que apresentaram mudanças 
conforme as mudanças das ocupações e aparatos de saúde. Por fim, 
apresentaremos um olhar sobre a prática multiprofissional, em que 
esses profissionais necessitam para melhor atender e

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