Buscar

FERNANDO REGO DOMINGUES JUNIOR OS LIMITES DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO E O MARCO CIVIL DA INTERNET

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 23 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

OS LIMITES DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO: UMA ANÁLISE DO CASO ELLWANGER E DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO NO ÂMBITO DA INTERNET 
Fernando Rego Domingues Junior¹
RESUMO
O presente trabalho versa sobre os limites da liberdade de expressão como forma de manifestação do pensamento. A análise do tema baseia-se, em especial, na Constituição Federal e no julgamento do habeas corpus 82.424/RS (STF), o caso Ellwanger, que teve notória repercussão, devido sua importância sobre o discurso do ódio. Primeiramente, o trabalho se inicia com as demarcações de conceitos básicos sobre o tema, após, inicia-se o estudo de todas as constituições federais acerca da liberdade de expressão. Com a análise dos dispositivos constitucionais que asseguram e demonstram a importância da liberdade de expressão em um estado democrático de direito, passa-se à análise dos principais votos dos ministros da Suprema Corte, que fizeram o sopesamento entre a liberdade de expressão e a dignidade da pessoa humana. Por fim, estuda-se a evolução dos meios de comunicação por meio da internet, assim como a problemática que envolvem as pessoas com as redes sociais. 
Palavras-chave: Direito constitucional. Liberdade de expressão. Dignidade da pessoa humana. Supremo Tribunal Federal. Marco Civil da Internet
ABSTRACT
The present work deals with the limits of freedom of expression as a form of manifestation of thought. The analysis of the theme is based, in particular, on the Federal Constitution and the judgment of the habeas corpus 82.424 / RS (STF), the Ellwanger case, which had a notable repercussion due to its importance on hate speech. First, the work begins with the demarcation of basic concepts on the subject, after which, the study of all federal constitutions about freedom of expression begins. With the analysis of the constitutional provisions that ensure and demonstrate the importance of freedom of expression in a democratic state of law, we proceed to analyze the main votes of the Supreme Court ministers, who have weighed the balance between freedom of expression and the dignity of human person Finally, we study the evolution of the media through the internet, as well as the problems that involve people with social networks.
Keywords: Constitutional law. Freedom of expression. Dignity of human person. Federal Court of Justice. Internet Civil Landmark.
¹ Bacharel em Direito. E-mail: fernandordjunior@hotmail.com
INTRODUÇÃO
 No Brasil, a liberdade de expressão é uma garantia constitucional que é considerada um dos principais elementos do estado democrático de direito.
Os aspectos da liberdade de expressão são muitos e envolvem a liberdade da atividade intelectual, artística, de manifestação do pensamento, entre outros.
A importância da comunicação em seus variados sentidos, é incomensurável, visto que podemos ensinar, aprender, dialogar e até mesmo apaziguar conflitos entre nações.
Todavia, não muito raro, a garantia constitucional de se expressar tem entrado em conflito com um dos fundamentos da Constituição da República Federativa do Brasil, que é a dignidade da pessoa humana.
A dignidade humana é o vértice da Constituição da República Federativa do Brasil, trata-se da estrutura de um estado democrático de direito, da qual não se prescinde, sob pena dos valores remanescentes assegurados pela Carta Maior serem eliminados
Essa importância, torna a dignidade humana um sobreprincípio, de tal modo que, mesmo em confronto com outro princípio constitucional, deve se prevalecer a dignidade da pessoa humana.
No presente estudo, busca-se demonstrar que a garantia constitucional da liberdade de expressão não respalda o discurso do ódio, tampouco oferece guarida ao preconceito e para a intolerância, independentemente do meio ou forma de comunicação.
 Nessa senda, o estudo do habeas corpus 82.424/RS demonstra-se importante, visto que o caso Ellwanger, foi emblemático por ter convergido a liberdade de expressão com a dignidade da pessoa humana. Nesse diapasão, passa-se à análise do cenário social, que com o advento da internet, tem aumentado insofismavelmente os mecanismos para a liberdade de expressão, na mesma medida em que as difamações, calúnias e injúrias também aumentaram, com a agravante do anonimato e da rápida propagação, como nunca antes a humanidade já vira. 
1 CONCEITO DE LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Antes do estudo sobre o conceito de liberdade de expressão no sentido jurídico, far-se--á a análise dos conceitos de liberdade e de expressão sob a ótica filosófica para que seja entendido em essência, o que está assegurado na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 acerca da liberdade de expressão.
Segundo Aristóteles, “liberdade é a ausência de condições e de limites, portanto, liberdade não sofre limitações e não tem graus, tem sido definida dizendo-se que é livre aquilo que é causa de si mesmo”. (ABBAGNANO, 1970, p. 582)
A palavra expressão, por sua vez, é toda espécie de comportamento que consista na produção ou no uso dos símbolos e, portanto, se alia ao conceito geral de linguagem.
Para Cassirer (ABBAGNANO, 1970, p. 399) há três estágios que designou respectivamente como expressão: mimética, analógica e simbólica. 
“Na expressão mimética não há ainda tensão entre o signo linguístico e o conteúdo intuitivo ao qual se refere. O significado pode não ter efeito imediato, realizando-se gradualmente, pois no seu início a palavra pertence à esfera de mera existência”. (ABBAGNANO, 1970, p. 399)
Trata-se, portanto, de um estágio pelo qual o emissor exterioriza o que se busca expressar para o receptor, por meio da imitação, seja por gestos ou até mesmo pinturas. 
Acerca da expressão analógica, explica Cassirer: “é própria de toda espécie de comportamento que consista na produção ou no uso dos símbolos e, portanto, se alia ao conceito geral de linguagem”. (ABBAGNANO, 1970, p. 400)
Por fim, a expressão simbólica se difere da intuição e de todas as relações de identificação. “A imagem ou palavra, segundo Jung (1987), pode ser simbólica, na medida em que implica algo além do seu significado manifesto e imediato, apresenta um aspecto inconsciente mais amplo, que nunca é precisamente definido ou esgotado”. (ANDRADE, 2013, p. 95)
Com a fragmentação realizada, compreende-se que liberdade de expressão enseja em expor o que está na consciência humana. Para Husserl (pp. 197 e ss.) a “consciência é intencionalidade”. A vontade é pura intencionalidade de agir, o que põem a liberdade como um agir, como um ato da consciência, não da consciência natural, mas da intencionalidade transformada em vontade de agir, esta como um instrumento para o alcance da liberdade criadora. 
Portanto, para o ser humano, as formas e meios de comunicação se resumem em expor para outrem, o que antes estava na consciência, no plano das ideias.
Trata-se de um direito de primeira dimensão que se refere às liberdades negativas clássicas, no sentido da não interferência do poder do Estado sobre as ações individuais.
2 HISTÓRICO DAS CONSTITUIÇÕES NO BRASIL COM ACENO À LIBERDADE DE EXPRESSÃO 
2.1 Constituição Política do Império do Brasil de 1824 
Em 1824, D. Pedro I outorga a primeira das Constituições que constam na história do Brasil. Em todas as constituições (1824, 1891, 1934, 1937, 1946, 1967, EC n. 1/1969 e 1988), a garantia constitucional da liberdade de expressão estava assegurada, todavia, com a ressalva da Constituição Republicana Federativa do Brasil de 1988, houveram determinadas peculiaridades nas anteriores, que por sua vez, de alguma forma, cerceavam a preciosa garantia da liberdade de expressão. 
Ao estudar tais peculiaridades, começando pela Constituição Política do Império do Brasil de 1824, no artigo 179 e seguintes consta a garantia da liberdade de expressão:
“Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos Cidadãos Brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Império, pela maneiraseguinte.
 IV. Todos podem comunicar os seus pensamentos, por palavras, escritos, e publicá-los pela imprensa, sem dependência de censura; com tanto que hajam de responder pelos abusos, que cometerem no exercício deste Direito, nos casos, e pela forma, que a Lei determinar.”
Apesar da garantia constitucional supramencionada, há que se ressaltar que o imperador exercia o poder moderador, cujo poder poderia influenciar nos âmbitos: legislativo, executivo e judiciário. Portanto, a liberdade de expressão como garantia poderia ser cerceada facilmente devido à centralização monárquica. 
2.2 Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1891
 Sob a influência do direito norte-americano, em 24 de fevereiro de 1891, promulga-se a primeira Constituição da República do Brasil (LENZA, 2018, p.265), tendo por relator o Senador Rui Barbosa. 
 A divisão quadripartita vigente no império de inspiração de Benjamin Constant fora rompida para agasalhar a doutrina tripartita de Montesquieu, estabelecendo como “órgãos da soberania nacional o Poder Legislativo, o Executivo e o Judiciário, harmônicos e independentes entre si” (SILVA, 2008, p. 79)
 A partir da Primeira Constituição Republicana, surge a proibição do anonimato em sua redação: 
“Art. 72. A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no país a inviolabilidade dos direitos concernentes a liberdade, a segurança individual e a propriedade nos termos seguintes
§ 12. Em qualquer assumto é livre a manifestação do pensamento pela imprensa, ou pela tribuna, sem dependência de censura, respondendo cada um pelos abusos que cometer, nos casos e pela forma que a lei determinar. Não é permitido o anonimato.” (grifo meu)
 
 2.3 Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1934
Preleciona Lenza que “A promulgação do texto de 1934, abalando, assim, os ideais do liberalismo econômico e da democracia liberal da Constituição de 1891. Por isso é que a doutrina afirma, com tranquilidade, que o texto de 1934 sofreu forte influência da Constituição de Weimar da Alemanha de 1919”. (2018 p. 137)
No tocante a liberdade de expressão, a referida constituição assim preceituou:
“Art. 113 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à subsistência, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: 
IX- Em qualquer assunto é livre a manifestação do pensamento, sem dependência de censura, salvo quanto a espetáculos e diversões públicas, respondendo cada um pelos abusos que cometer, nos casos e pela forma que a lei determinar. Não é permitido anonimato. É segurado o direito de resposta. A publicação de livros e periódicos independe de licença do Poder Público. Não será, porém, tolerada propaganda, de guerra ou de processos violentos, para subverter a ordem política ou social.” (grifo meu)
O período foi conturbado e em 1935 houve o levante comunista, surgindo a figura de Luis Carlos Prestes, que liderando a Aliança Libertadora Nacional, teve sua tentativa de revolução frustrada por Getúlio Vargas. Nesse cenário, ocorreram repressões às liberdades políticas e ideológicas que por sua vez atingiram também as relações de trabalho. 
2.4 Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1937
 A Constituição de 1937, elaborada sob inspiração da Carta ditatorial polonesa de 1935 (LENZA, 2018, p.266), teve fortes censuras no que tange à liberdade de expressão, de modo expresso na Constituição Federal, como nos dispositivos abaixo: 
“Art. 16. Compete privativamente a União o poder de legislar sobre as seguintes matérias: 
[...]
X- Correios, telégrafos e radiocomunicação;
[...]
XVIII- o regime de teatros e cinematógrafos;
[...]
XX- Direito de autor; imprensa; direito de associação, de reunião, de ir e vir; ....”
Art. 168 - Durante o estado de emergência as medidas que o Presidente da República é autorizado a tomar serão limitadas às seguintes:
[...]
b) censura da correspondência e de todas as comunicações orais e escritas;
c) suspensão da liberdade de reunião.” (grifo meu)
2.5 Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1946
A Constituição de 1946 foi promulgada pela Assembleia Nacional Constituinte do mesmo ano. Trouxe novamente as liberdades anteriormente garantidas na Constituição de 1934 e que foram suprimidas na Constituição de 1937. 
 No que tange a liberdade de expressão, dispunha a Carta de 1946:
“Art. 141.  A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: 
§ 5º É livre a manifestação do pensamento, sem que dependa de censura, salvo quanto a espetáculos e diversões públicas, respondendo cada um, nos casos e na forma que a lei preceituar pelos abusos que cometer. Não é permitido o anonimato. É assegurado o direito de resposta. A publicação de livros e periódicos não dependerá de licença do poder público. Não será, porém, tolerada propaganda de guerra, de processos violentos para subverter a ordem política e social, ou de preconceitos de raça ou de classe.” (grifo meu)
Todavia, percebe-se notória contradição no que toca ao § 5°, do art. 141 com o art. 173 da Carta de 1946:
 “Art 173 - As ciências, as letras e as artes são livres.”
Visto que o artigo 141 em seu parágrafo 5° não contempla a liberdade de expressão em espetáculos e diversões públicas, logo, as ciências, as letras e as artes não são livres, como dispõem o artigo 173, configurando, portanto, notória contradição.
2.6 A Constituição da República Federativa do Brasil de 1967
“Na mesma linha da Carta de 1937, a de 1967 concentrou, bruscamente, o poder no âmbito federal, esvaindo os Estados, Municípios e conferindo amplos poderes ao Presidente da República”. (LENZA, 2018, p. 148)
 Praticamente não se modificou em relação ao texto anterior, assegurando a livre manifestação do pensamento independentemente de censura (salvo para espetáculos e diversões públicas), o direito de resposta e a publicação de livros e jornais sem necessidade de licença. 
Diferentemente da Constituição anterior, o que se adicionou ao final do parágrafo oitavo do artigo 150 foi que não seriam toleradas “as publicações e exteriorizações contrárias à moral e aos bons costumes. 
 2.7 “Constituição” de 1969 – EC n. 1, de 17.10.1969
Lenza entende que “Dado o seu caráter revolucionário, podemos considerar a referida emenda como a manifestação de um novo poder constituinte originário, outorgando uma nova Carta, que “constitucionalizava” a utilização dos Atos Institucionais”. (2018, p. 151) 
 Deste modo, foi sob os efeitos da Emenda Constitucional de 1969 e do AI-5 que as liberdades e, consequentemente, a liberdade de pensamento e expressão sofreram determinadas supressões. 
2.8 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
Conhecida também como a Constituição Cidadã, o Poder Constituinte Originário atentou-se em garantir às liberdades, devido ao período instável que se passou. 
Em comparação com as constituições anteriores, a Constituição de 1988 destaca-se, visto os consideráveis progressos que nela ocorreram, como na proibição da censura à imprensa, o fortalecimento do pluripartidarismo, além do primeiro plebiscito que ocorreu em 21 de abril de 1993, pela EC n. 2/92. (LENZA. p. 156) 
Acerca da liberdade de expressão na Constituição de 1988, encontra-se o artigo 5°, incisos IV e IX da Constituição Federal que dispõem:
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
 IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;[...]
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.”
Há também no Capítulo V da Carta Maior, o artigo 220:
“Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.”
Com esse arcabouço constitucional no tocante à liberdade de expressão, fica notório que o Poder Constituinte se preocupou em garantir a livre manifestação do pensamento de modo inequívoco. Ademais, consta no artigo 60, parágrafo 4° da Constituição:
“Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
[...]
 § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir : 
 [...]
IV - os direitos e garantias individuais.” (grifo meu)
Com os dispositivos supramencionados, o Poder Constituinte conferiu à liberdade de expressão o status de “cláusula pétrea”, garantindo que os direitos e garantias individuais protegidos pela Carta Maior não sejam posteriormente abolidos por ideais que tendam a diminuir, ou cessar os valores que são inerentes ao cidadão.
Nas palavras de Norberto Bobbio (1988, p. 20), trata-se de um mecanismo constitucional para manter os parâmetros que se almejou, evitando com isso, possíveis abusos dos poderes.
3 A DIGNIDADE HUMANA COMO PARADIGMA LIMITADOR DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO 
“Aristóteles, no início da Política, nos ensina que o homem não quer apenas viver, mas viver bem”. (Reale, 1965. p.244) 
Esta expressão pode ensejar em especial na dignidade humana, visto que sem esta, as garantias remanescentes asseguradas pela Constituição, iriam se tornar no mínimo insuficientes em um Estado democrático de Direito. 
Sobre a dignidade da pessoa humana, José Afonso da Silva (2008, p.105) a conceitua como “um valor supremo que atrai o conteúdo de todos os direitos fundamentais do homem, desde o direito à vida’. 
Observado a importância do citado valor, o legislador constituinte não apenas reconheceu, como também, inseriu a dignidade da pessoa humana expressamente no inciso III do artigo 1° da Constituição de 1988. 
Nesse cerne, Martins assevera que “a nossa Constituição fixa a dignidade humana como um dos seus princípios fundamentais, um sobreprincípio, por englobar em si todos aqueles direitos fundamentais, quer sejam os individuais clássicos, quer sejam os de fundo econômico e social, o que significa que, no conflito entre ele e outros princípios de menor valor, o que se apura com a utilização do também princípio da proporcionalidade, prevalecerá o da dignidade humana”. (1988, p. 425) 
Isso significa que em eventual choque de princípios, o princípio da dignidade humana prevalecerá sobre todos os demais princípios. 
Todavia, as resoluções dos choques entre princípios não se resolvem pura e simplesmente, como numa equação matemática da qual se soma e se extrai valores exatos. Um dos exemplos que comprova a premissa anterior foi o julgamento do Habeas Corpus 82.2424/RS no Supremo Tribunal Federal, que não obstante, será melhor explicado em especial no próximo capítulo deste trabalho.
Observado que os choques entre valores constitucionais ocorrem, imprescindível se faz nos atentar que a Constituição, além de possuir peculiaridades devido sua natureza de Carta Política, possui também preceitos que só servem para o Direito Público (Maximiliano. 1979, p. 306)
Visto que a Constituição Federal possui natureza de Carta Política, Konrad Hesse, observando suas peculiaridades ressalta que “para o Direito Constitucional, a importância da interpretação é fundamental porque, pelo caráter amplo e aberto da Constituição, os problemas de interpretação surgem com maior frequência do que noutros setores do ordenamento em que as normas são detalhadas”. (2009, p. 102) 
 Nesse diapasão, Carlos Maximiliano (1979, p. 304) ensina que “a técnica da interpretação muda, desde que se passa das disposições ordinárias para as constitucionais, de alcance mais amplo, por sua própria natureza e em virtude do objetivo colimado redigidas de modo sintético, em termos gerais”. 
Portanto, como nos orienta Alf Ross, “a tarefa do pensamento jurídico consiste em conceitualizar as normas jurídicas de tal modo que sejam reduzidas a um ordenamento sistemático, expondo assim o direito vigente de forma mais simples e conveniente possível”. (, 2004, p. 204) 
No tocante a interpretação da Constituição da República Federativa do Brasil, sua efetivação ocorre pelos ministros do Supremo Tribunal Federal que não obstante, como acima mencionado, tiveram que resolver o conflito entre a dignidade humana e a liberdade de expressão, estabelecendo, portanto, os limites desta. Acerca da resolução do aludido conflito de valores, destaca-se que a suprema corte, não adotou o entendimento de que a garantia da liberdade de expressão abrangeria o discurso de ódio. Ou seja, muito embora a “posição de preferência” que o direito fundamental da liberdade de expressão adquire no Brasil, assim como em outros países, a liberdade de expressão não é absoluta, encontrando restrições “voltadas ao combate do preconceito e da intolerância contra minorias estigmatizadas”. (LENZA, 2018, p. 1211) 
Nesse sentido, aponta Sylvio Motta: 
“O direito à manifestação do pensamento não autoriza toda e qualquer manifestação, como, por exemplo a apologia a fatos criminosos (art. 287 do Código Penal) ou a propaganda do nazismo (Lei nº 7.716/89, art. 20, § 1º). Um dos princípios mais interessante do estudo dos direitos é o de que ninguém pode deles abusar. O abuso de direito é contrário ao próprio direito e gera responsabilidade civil e, dependendo do caso, criminal”. (grifo meu)
Conforme demonstrado, no direito brasileiro a proteção à liberdade de expressão possui limites, competindo ao judiciário discernir sobre o que é liberdade de expressão e o que é abuso deste direito, conforme as peculiaridades de cada caso.
Portanto, os limites da liberdade de expressão, encontra respaldo no sobreprincípio da dignidade humana, visto que a liberdade de uns é limitada pela liberdade ou direitos de outros.
4 O CASO ELLWANGER (HABEAS CORPUS 82.424/RS)
4.1 Os Fatos
Siegfried Ellwanger Castan foi um industrial gaúcho, que considerando-se revisionista, passou a escrever muitos trabalhos acerca da Segunda Guerra Mundial. No entanto, suas obras eram eivadas de preconceito e de distorções fatuais, que geraram reiterados boicotes nas publicações de seus livros. Ellwanger com o intuito de esquivar-se dos boicotes, fundou a Revisão Editora Ltda, para propiciar a distribuição de suas publicações.
Dentre as obras antissemitas editadas e publicadas por ele, estavam: “Holocausto Judeu ou Alemão? – Nos Bastidores da Mentira do Século, cujo teor, ensejou em sua denunciação pelo crime de racismo contra os judeus. A denúncia foi recebida em 14/11/1991 pela 8° Vara Criminal de Porto Alegre.
Em 1995, Ellwanger foi absolvido em primeira instância e condenado em segunda instância, cuja defesa de Ellwanger impetrou Habeas Corpus (H.C. 15.155), no Superior Tribunal de Justiça, porém, o HC foi negado. O indeferido se deu pela 5° Turma do STJ, que portanto, confirmou o acórdão do TJRS.
4.2 O Julgamento no Supremo Tribunal Federal
A defesa do réu impetrou Habeas Corpus no Supremo Tribunal Federal, cujo relator foi o Ministro Moreira Alves.
Todos os onze Ministros participaram, dentre os quais, oito votaram no sentido de indeferimento e três votaram no sentido de deferimento.
Os Ministros que deferiram o Habeas Corpus, foram: Moreira Alves, Marco Aurélio de Mello e Carlos Ayres Britto. Dentre os votos que deferiram o HC, destaca-se o do Ministro Carlos Ayres Britto, que fundamentou o seu voto sob a égide de que a liberdade de expressão é um direito quase absoluto e que a liberdade deve ser compreendida não somente como o de manifestar o pensamento, como também ode expor o fruto da atividade artística, intelectual, científica ou de comunicação.
No que toca aos possíveis exageros, o Ministro Carlos Ayres Britto explana que o art. 5º, inciso VIII da Constituição Federal, apresenta três hipóteses de excludentes de abusividade, quais sejam: a crença religiosa, a convicção filosófica e a convicção política. 
Nesse sentido, ao analisar a obra de autoria do réu, acaba por concluir que tal encontra--se dentro do campo da convicção política, ou político-ideológica, tendo como objetivo o revisionismo histórico e o debate intelectual.
Acerca dos oito ministros que indeferiram o Habeas Corpus, são eles: Maurício Corrêa, Celso de Melo, Gilmar Mendes, Carlos Velloso, Nelson Jobim, Ellen Gracie, Cezar Peluso e Sepúlveda Pertence. Dentre os votos dos aludidos ministros, destaca-se o voto do Ministro Celso de Mello, que concluiu que as obras publicadas por Ellwanger possui teor preconceituoso e antissemita, cuja prática deve ser veementemente combatida. Nessa senda, discorre Celso de Mello:
“A prerrogativa concernente à liberdade de manifestação do pensamento, por mais abrangente que deva ser o seu campo de incidência, não constitui meio que possa legitimar a exteriorização de propósitos criminosos, especialmente quando as expressões de ódio racial – veiculadas com evidente superação dos limites da crítica política ou da opinião histórica transgridem, de modo inaceitável, valores tutelados pela própria ordem constitucional dos limites da crítica política ou da opinião histórica transgridem, de modo inaceitável, valores tutelados pela própria ordem constitucional”. (HC 82.424/RS. p. 629)
Por fim, afirma que a liberdade de expressão não pode e não deve ser exercida com o propósito subalterno de veicular práticas criminosas, tendentes a fomentar e a estimular situações de intolerância e de ódio público.
4.3 A importância da decisão do caso Ellwanger pelo Supremo Tribunal Federal
Com o estudo dos votos dos ministros que votaram pelo indeferimento do HC, conclui-se que o sopesamento entre a garantia constitucional da liberdade de expressão e do princípio da dignidade da pessoa humana, prevalece este, pois está hierarquicamente acima dos demais princípios constitucionais.
Sobre os ministros que votaram pelo deferimento do HC, cumpre ressaltar que eles não descartaram a importância do princípio da dignidade da pessoa humana, pelo contrário, os ministros que deferiram o Habeas Corpus entendem que a democracia necessita da liberdade de expressão. 
Nesse diapasão, os ministros entenderam que a liberdade de expressão não é um direito absoluto. Sobre o embate entre a liberdade de expressão e a dignidade da pessoa humana, ficou ementado:
“Liberdade de expressão. Garantia constitucional que não se tem como absoluta. Limites morais e jurídicos. O direito à livre expressão não pode abrigar, em sua abrangência, manifestações de conteúdo imoral que implicam ilicitude penal. As liberdades públicas não são incondicionais, por isso devem ser exercidas de maneira harmônica, observados os limites definidos na própria Constituição Federal (CF, artigo 5º, § 2º, primeira parte). O preceito fundamental de liberdade de expressão não consagra o “direito à incitação ao racismo”, dado que um direito individual não pode constituir-se salvaguarda de condutas ilícitas, como sucede com os delitos contra a honra. Prevalência dos princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade jurídica”. (HC 82.424/RS, p. 524.)
A decisão do caso Ellwanger tornou-se paradigma no ordenamento jurídico brasileiro acerca da liberdade de expressão e seus limites. A corte mensurou que a dignidade da pessoa humana deve prevalecer caso entre em conflito com outros princípios.
5 –AS REDES SOCIAIS, A LEI Nº 12.965, DE 2014, O MARCO CIVIL DA INTERNET E O PRINCÍPIO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO
5.1 O Desenvolvimento das Redes Sociais 
As redes sociais vêm adquirindo cada vez mais espaço nas vidas das pessoas, de modo que já há quem fale: com o advento da internet , o corpo humano foi dividido em: cabeça, tronco, membros, celular etc. (LÁZARO. 2009) 
Sátira à parte, o desenvolvimento das redes sociais está profundamente ligado com o constante aperfeiçoamento na tecnologia, que por sua vez, foi extremamente célere, conforme se verificará a seguir.
Explica Daquino (2012) que “os primeiros relatos de serviços que possuíam peculiaridades em sociabilizar dados, surgiram em 1969 com o desenvolvimento da tecnologia dial-up e o lançamento da CompuServe, um serviço comercial de conexão com a internet em nível internacional, muito propagado pelos estadunidenses (...)”
Nesse diapasão, continua o autor: 
“As constantes inovações, ensejaram em reiterados aperfeiçoamentos de modo que em 1971, foi enviado o primeiro e-mail, alguns anos após, já haviam ferramentas para que as pessoas passassem a criarem seus perfis virtuais, o que facilitou a comunicação digital, apesar dos constantes problemas de conexões. Com o continuado avanço na tecnologia, em 2003, o LinkedIn e o MySpace, foram criados,(...) sendo aquele voltado para contatos profissionais e este mais voltado para compartilhar informações pessoais, fotos e blogs.
Em 2004, surgiu o grande divisor de águas das redes sociais, o Orkut, que foi durante anos a plataforma mais utilizadas pelos internautas brasileiros, até perder seu título para a criação de Mark Zuckerberg em dezembro de 2011, o Facebook.”
No entanto, acerca de todo esse avanço tecnológico, válido se faz no valer das palavras de Flávia Piva Almeida Leite (2016, p.152): 
“O surgimento da era digital, tem suscitado a necessidade de repensar importantes aspectos relativos à organização social, à democracia, à tecnologia, à privacidade, à liberdade etc. Segundo Newton de Lucca “... assim como a Revolução Industrial modificou, no passado as feições do mundo moderno, a ainda incipiente Revolução Digital já está transformando as faces do mundo pós-moderno.” (grifo meu)
Um dos importantes aspectos a se pensar, é a problemática da rápida propagação de informações, inclusive as falsas, que se alia ao anonimato do usuário, podendo causar danos irreparáveis na vida da pessoa que for vítima.
A título de exemplo, podemos mencionar o triste caso da Fabiane Maria de Jesus, que no dia 05/05/2014 teve a sua vida ceifada por dezenas de moradores na cidade de Guarujá-SP, cuja única falta foi parecer-se com um retrato de uma possível sequestradora do Rio de Janeiro, publicado de modo irresponsável no facebook. (CARVALHO. 2014)
Com isso, importante se faz ressaltar que qualquer pessoa mal-intencionada, pode criar um perfil nas redes sociais e se passar por outra, de modo ser importante nos valer da advertência que consta na Bíblia Sagrada, em Mateus 7:15: “Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores”.
5.2 O surgimento e a estrutura da lei n° 12,965, de 2014.
Foi demonstrado no decorrer deste trabalho, que o número de usuários na internet aumentou exponencialmente, visto sua abrangência e facilidade em oferecer mecanismos para quem dela se utilize. No entanto, os problemas derivados acerca de seu mau uso, vem sendo diagnosticado pelos juristas. 
 Nesse sentido, observa BASTOS e TAVARES (2000, p. 698): 
“A utilização da Internet tem implicações diretas com o tão sacramentado direito de liberdade, mais precisamente a de manifestação. A questão está conectada igualmente ao problema da informação, e do correspondente direito a ela poder-se ascender. Daí surge outro aspecto, que é o referente à divulgação maciça de informação falsa, como que a tornando, de certa maneira uma verdade, pela sua reiterada repetição sem manifestação de impugnações na mesma escala. (...) Por outro lado, a invasão de sistemas informáticos particulares tem sido uma constante preocupação, principalmente por parte dos governos, com relação aos seus dados. Também dentro do contexto de proteger a privacidade de informações, é preciso estabelecerregras o tanto quanto possível precisas de veiculação de dados pessoais por meio da Internet, haja vista que seu acesso é franqueado a todo mundo, e, invariavelmente, seu autor não é descoberto.” (grifo meu) 
Visto a problemática que ocorria na internet, o constante aumento do número de usuários e a ausência de regras que tratassem acerca do assunto (internet), o legislador brasileiro considerou necessário estabelecer regras e princípios que assegurassem sua efetividade.
Foi nesse cenário que a lei n° 12.965, de 2014, também conhecida como “Marco Civil da Internet” foi elaborada, de modo que a aludida lei se instaurou no ordenamento jurídico brasileiro, garantindo a tutela de direitos e deveres para todos que façam uso da internet.
A estrutura da lei n° 12.965, de 2014 (Marco Civil da Internet) é composta por cinco capítulos, sendo respectivamente sobre: disposições preliminares; direitos e garantias dos usuários; provisão de conexão e de aplicação da internet; atuação do poder público e por fim, o último capítulo trata das disposições finais.
A referida estrutura da lei “Marco Civil da Internet”, possui 32 (trinta e dois) artigos, que por sua vez foi objeto de elogios, conforme lembra o advogado e atual (2019) presidente da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo: “o criador da rede mundial de computadores (www), o físico britânico Tim Berners-Lee, ressaltou aspectos importantes da lei brasileira e a considerou uma ferramenta para a liberdade de expressão, da privacidade e do respeito aos direitos humanos.” (da Costa, 2014) 
A lei aqui estudada, logo em seu primeiro artigo aduz:
“Art. 1o Esta Lei estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil e determina as diretrizes para atuação da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios em relação à matéria.”
Conforme observado no art. supracitado, a própria lei parece esgotar por si só, todo o escopo necessário para se dirimir eventuais imbróglios acerca da internet.
 Todavia, válido se faz nos valer da ressalva de Carlos Eduardo E. de Oliveira (2014, pp. 5 e 6): 
“O Marco Civil não é (e nem quis ser) uma ilha normativa deserta, isolada das demais fontes jurídicas. Ele é um dos vários pontos de irradiação normativa que disciplina o comportamento dos indivíduos no mundo virtual. A Constituição Federal, como lei fundamental do nosso País, dá as coordenadas principiológicas incontestes do ordenamento jurídico, ao fluxo da qual tramitarão as interpretações que transbordarão do Marco Civil da Internet. Trata-se de uma consequência do que se convencionou batizar de constitucionalização dos diversos ramos do Direito. Os demais diplomas, como o Código de Defesa do Consumidor e outros mais, não serão ignorados, mas serão igualmente estimados na regulação dos fatos jurídicos cibernéticos, conforme convite expresso do parágrafo único do art. 3º e o art. 6º da nova lei.
5.6.2 O Respaldo do Princípio da Liberdade de Expressão no “Marco Civil da Internet”
No capítulo I (disposições preliminares), o legislador fez inserir expressamente 8 (oito) princípios, além de outros previstos no ordenamento jurídico, sendo eles: 
 Art. 3o A disciplina do uso da internet no Brasil tem os seguintes princípios:
I –garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensamento, nos termos da Constituição Federal;
II - proteção da privacidade;
III - proteção dos dados pessoais, na forma da lei;
IV - preservação e garantia da neutralidade de rede;
V - preservação da estabilidade, segurança e funcionalidade da rede, por meio de medidas técnicas compatíveis com os padrões internacionais e pelo estímulo ao uso de boas práticas;
VI - responsabilização dos agentes de acordo com suas atividades, nos termos da lei;
VII - preservação da natureza participativa da rede;
VIII - liberdade dos modelos de negócios promovidos na internet, desde que não conflitem com os demais princípios estabelecidos nesta Lei.
Parágrafo único. Os princípios expressos nesta Lei não excluem outros previstos no ordenamento jurídico pátrio relacionados à matéria ou nos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.
Com essa gama de princípios, percebe-se que muitos desses conteúdos vão ao encontro de preceitos já assegurados na Constituição. Todavia, importante se faz ressaltar que o Marco Civil da Internet tem o viés de regulamentar o uso da internet, para que se amplie a proteção das pessoas que se utilizam da internet, frente a nova dimensão criada pela rede mundial de computadores. 
Dentre os princípios supracitados, destaca-se o primeiro inciso, que assegura a liberdade de expressão, direito este inclusive assegurado em outros dispositivos da lei que aqui se trata, sendo eles: 
“Art. 2o A disciplina do uso da internet no Brasil tem como fundamento o respeito à liberdade de expressão (...)” (grifo meu)
[...]
“Art. 8o  A garantia liberdade de expressão do direito à privacidade e à nas comunicações é condição para o pleno exercício do direito de acesso à internet.” (grifo meu)
[...]
“Art. 19.  Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura (...)”
[...]
§ 2o A aplicação do disposto neste artigo para infrações a direitos de autor ou a direitos conexos depende de previsão legal específica, que deverá respeitar a liberdade de expressão e demais garantias previstas no art. 5oda Constituição Federal.” (grifo meu)
Com os dispositivos supramencionados, ficou evidente que o legislador se preocupou em garantir a liberdade de expressão na internet. Todavia, cumpre lembrar o que foi demonstrado no decorrer deste trabalho, ou seja, a liberdade de expressão como garantia não respalda, por exemplo, o que disse George Orwell (2007, p. 139): “ a liberdade de expressão, se é que significa alguma coisa, significa o direito de dizer às pessoas o que elas não querem ouvir. 
Pelo contrário, a liberdade de expressão possui limites, haja vista o sobreprincípio da dignidade humana, que deve prevalecer sobre todos os demais princípios. (Martins. 1988. p.425)
 
CONCLUSÃO
A preocupação da Assembleia Constituinte em garantir a liberdade de expressão para o povo não foi em vão, visto que sem esse elemento, a vida em sociedade torna-se fragilizada e dominada, de modo que nos governos totalitários, o cerceamento da liberdade de expressão é uma das primeiras medidas a serem tomadas.
No Brasil, o Poder Constituinte Originário foi sábio em salvaguardar a liberdade de expressão com o status de “cláusula pétrea”, não podendo, portanto, ser suprimida.
A liberdade de expressão se encontra também no Capitulo I da Constituição Federal, sua importância transcende o vultoso prestígio de um direito fundamental, trata-se de um verdadeiro sustentáculo da democracia.
No entanto, essa preciosa garantia, que é por sua vez o oxigênio da democracia, infelizmente tem sido distorcida no plano fático.
Como acima referido, para George Orwell a liberdade de expressão significa o direito de dizer às pessoas o que elas não querem ouvir. Trazendo essa frase e convertendo-a para o âmbito nacional, tem-se a impressão que a afirmação feita por George Orwell, tem sido alguma espécie de “mantra” para muitos brasileiros.
Tem sido corriqueiro observar a propagação de “fake news”, crimes contra a honra, racismo etc. Crer que a garantia constitucional da liberdade de expressão oferece guarida para pessoas com condutas antiéticas e criminosas, além de não ser de bom alvitre é também insensato e até lamentável, pois condutas como as tais, além de causarem danos, muitas vezes irreparáveis, vai de encontro com o princípio da dignidade humana.
No presente trabalho, foi estudada a liberdade de expressão como manifestação do pensamento. O estudo sopesou a dignidade humana e a liberdade de expressão, buscando mensurar os limites deste direito.
Ante o exposto, concluiu-se que há hierarquia entre os princípios, de modo que a dignidadehumana deve sempre prevalecer. Compete ao judiciário fazer justiça, tendo como parâmetro a dignidade humana, o que significa que nenhum pensamento pode ser manifestado publicamente se violentar a dignidade de outro (s) ser (es) humano (s).
Isso ficou juridicamente decidido pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do “Caso Elwanger”.
REFERÊNCIAS 
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Ed. Mestre Jou, 1970.
ANDRADE, Simone Moura Andrioli de Castro. O despertar simbólico para uma educação integradora. Interdisciplinaridade. Revista do Grupo de Estudos e Pesquisa em Interdisciplinaridade. ISSN 2179-0094., [S.l.], n. 1, p. 93-101, ago. 2013. ISSN 2179-0094. Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/interdisciplinaridade/article/view/16208/12216>. Acesso em: 06 agosto. 2018.
BÍBLIA DE PROMESSAS. Tradução de João Ferreira Almeida. Rio de Janeiro: King Cross Publicações, 2013. 15° ed. Velho Testamento e Novo Testamento.
BOBBIO, Norberto. Liberalismo e Democracia. 2° ed. São Paulo : Editora Brasiliense, 1988.
BONAVIDES, Paulo. A Constituição Aberta. Belo Horizonte : Del Rey, 1993.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.
CARVALHO, Rubens Miranda de. Discriminação, Racismo e ações afirmativas no Brasil. 1°. Ed – São Paulo : Editora Espaço do Autor, 2004.
CARVALHO, Rubens Miranda de. Fabiane, Facebook e o Inconsciente Coletivo. A Tribuna. Tribuna livre. 20.05.2014.
CORRÊA, Fabiano Simões. Um Estudo Qualitativo Sobre as Representações Utilizadas por Professores e Alunos para Significar o Uso da Internet. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP. P.171. 2013
COSTA, Marcos da. (2014). Marco Civil da internet trará mais segurança jurídica. Fonte:http://www.oabsp.org.br/sobre-oabsp/palavra-do presidente/2014-1/marco-civil-da-internet-trara-mais-seguranca-juridica. Acesso em: 12 de janeiro de 2019.
DAQUINO, Fernando. A História das Redes Sociais: Como Tudo Começou. Disponível em: <https://www.tecmundo.com.br/redes-sociais/33036-a-historia-das-redes-sociais-como-tudo-comecou.htm> Acesso em: 20 de agosto de 2018.
ESCOBAR, A. (1994). Welcome to Cyberia. Em Current Anthropology. v. 35, nº 3, pp. 211-231.
HESSE, Konrad. Temas fundamentais do Direito Constitucional; textos selecionados e traduzidos por Carlos dos Santos Almeida, Gilmar Ferreira Mendes, Inocêncio Mártires Coelho. 1° ed – São Paulo : Saraiva, 2009.
HUSSERL, Edmund. Investigações Lógicas – Sexta Investigação. Apêndice Os Pensadores. São Paulo : Nova Cultural, [s. d.].
LÁZARO. Cabeça, Tronco e Membros? Nada mais?. Disponível em: https://osimpublicaveis.wordpress.com/2009/05/19/cabeca-tronco-e-membros-nada-mais/. Acesso em: 02 de janeiro de 2019
Lei Nº 12.965, de 23 de abril de 2014. 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm. Acesso em: 08 de janeiro de 2019
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 22° ed. São Paulo: Saraiva, 2018
LEITE, Flávia Piva Almeida. O EXERCÍCIO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO NAS REDES SOCIAIS: E O MARCO CIVIL DA INTERNET. Revista de Direito Brasileira, [S.l.], v. 13, n. 6, p. 150-166, abr. 2016. ISSN 2358-1352. Disponível em: <http://indexlaw.org/index.php/rdb/article/view/2899/2698>. Acesso em: 10 de janeiro de 2019. 
MARTINS, Ives Gandra. Comentários à Constituição do Brasil. 1º volume. São Paulo: Saraiva. 1988.
MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e Aplicação do Direito. 9°. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 1979.
MIRANDA, Jorge. Teoria do Estado e da Constituição. 1º ed.- Rio de Janeiro: Forense, 2002. Tradução da edição portuguesa.
MIRANDA, Pontes de. Democracia, Liberdade Igualdade (os três caminhos). 2° ed. São Paulo : Saraiva, 1979.
MOTTA FILHO, Sylvio Clemente da. Direito Constitucional: teoria, jurisprudência e 1.000 questões. 17ª ed. Rio de Janeiro: Elsecier, 2006.
OLIVEIRA, Carlos Eduardo Elias de. Aspectos Principais da Lei nº 12.965, de 2014, o Marco Civil da Internet: subsídios à comunidade jurídica. Brasília: Núcleo de Estudos e Pesquisas/CONLEG/ Senado, abr./2014 (Texto para Discussão nº 148). Disponível em: www.senado.leg.br/estudos. Acesso em 03 de janeiro de 2019.
ORWELL, George. A Revolução Dos bichos; tradução Heitor Aquino. São Paulo: Companhia da Letras, 2007.
Reale, Miguel. Filosofia do Direito. 4° ed. São Paulo : Saraiva, 1965.
ROSS, Alf. Direito e Justiça. São Paulo : Edipro, 2000.
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 33ª ed. rev. e ampl.
São Paulo: Malheiros Editores, 2008.
Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus 82.424/RS. Relator originário: ALVES, Moreira. Relator para o acórdão: CORRÊA, Maurício. Publicado no DJ de 19-03-2004 p.524-1010. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=79052>. Acesso em 15 de agosto de 2018. 
TAVARES, André Ramos; BASTOS, Celso Ribeiro. As Tendências do Direito Público no Limiar de um novo Milênio. São Paulo: Saraiva, 2000.

Continue navegando