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. CEFET - RJ Uned Angra dos Reis Termodinaˆmica O que e´? E´ uma teoria que consegue descrever comportamentos macrosco´picos de sistemas com muitas partı´culas, espantosamente, sem precisar saber quase nada sobre o comportamento microsco´pico do sistema. Como funciona? Define-se os graus de liberdade macrosco´picos, que sa˜o volume, pressa˜o e o novo conceito de temperatura; precisamos mostrar como um sistema com um nu´mero muito grande de partı´culas pequenas altera esses graus de liberdade. Em seguida vemos como essas varia´veis se comportam entre si e definiremos a primeira lei da Termodinaˆmica, que e´ um conceito mais geral de conservac¸a˜o de energia; mais tarde definiremos o que seria um conceito ana´logo a` dissipac¸a˜o pelo atrito da mecaˆnica de uma partı´cula, mas que culmina no conceito de irreversibilidade de processos, que seria a segunda lei da Termodinaˆmica Pra que serve? Figure 1: Ma´quina a` vapor As consequeˆncias sobre o entendimento das treˆs primeiras leis da Termodinaˆmica foram fundamentais para a primeira revoluc¸a˜o industrial; sem contar os avanc¸os cientı´ficos na fı´sica e, tambe´m, a penetrac¸a˜o desses conceitos a quase todas as a´reas das cieˆncias naturais; e´ como se Termodinaˆmica fosse maior que a pro´pria fı´sica O volume relaciona a medida geome´trica com a densidade volume´trica de massa do sistema. Um exemplo bastante intuitivo e´ o de uma bexiga de festas, ela ocupa um volume quando cheia mas esse volume pode se alterar quando colocada em uma geladeira ou perto da chama de um foga˜o; os com- portamentos observados sera˜o radicalmente diferentes, pois dentro da geladeira, ela diminui o tamanho e perto da chama de um foga˜o ela aumenta seu volume, mas ambos os fenoˆmenos ocorrem sem alterac¸a˜o da quantidade de mate´ria dentro da bexiga. Como explicar isso de maneira qualitativa? Como as temperaturas dos dois ambi- entes e´ muito diferente, entende-se que a temperatura esta´ relacionada a graus de agitac¸a˜o das mole´culas enta˜o, a temperaturas maiores, as mole´culas esta˜o mais agitadas e por isso o volume aumenta. Mas como a agitac¸a˜o das mole´culas esta´ relacionada com o aumento de volume de um sistema? No caso de um ga´s dentro de um recipiente como o da bexiga, podemos desprezar as interac¸o˜es mu´tuas entre as mole´culas e considerar apenas as interac¸o˜es delas com a superfı´cie do recipiente; considerando que a interac¸a˜o seja a mais simples possı´vel, que e´ a de contato, ja´ podemos relacionar essas coliso˜es ela´sticas com a temperatura: quando a temperatura esta´ ”mais baixa” temos um grau menor de agitac¸a˜o das mole´culas o que acarreta um nu´mero de coliso˜es por segundo com as paredes do recipiente; ja´ quando a temperatura aumenta, temos, um nu´mero muito maior de coliso˜es por segundo nas paredes do recipiente. Ja´ estudamos no comec¸o do curso que a pressa˜o estava relacionada a`s forc¸as de contato sobre superfı´cie; neste caso, podemos definir a pressa˜o como a forc¸a me´dia que atua em uma unidade de a´rea quando ocorrem as coliso˜es das mole´culas dos gases com as paredes do recipiente. Assim, quanto maior a agitac¸a˜o das mole´culas, maior e´ o momento transferido por cada mole´cula a`s paredes, aumentando assim a pressa˜o interna do sistema; o equilı´brio vai ser alcanc¸ado depois do sistema se dilatar o suficiente para que a pressa˜o reduza ate´ igualar as presso˜es interna e externa. Tal exemplo mostra, enta˜o, como a variac¸a˜o de temperatura causa uma variac¸a˜o de pressa˜o que, por sua vez, causa uma variac¸a˜o de volume do sistema; tal sistema mostra, tambe´m, que podemos na˜o saber praticamente nada sobre o sistema, mas podemos entender como as varia´veis termodinaˆmicas (P,V,T ) se comportam em cada problema 1 A descric¸a˜o microsco´pica de sistemas termodinaˆmicos envolve complexidade extremamente elevada, haja vista o nu´mero de partı´culas contituintes, que e´ da ordem de nu´meros de Avogadro. Suponha, por exemplo, uma enorme mesa de bilhar com centenas de bolas no plano da mesa em movimentos aleato´rios e independentes e, em um dado instante, algue´m lance uma bola branca muito maior e com velocidade muito mais alta que a velocidade me´dia de cada uma das bolas: a bola branca vai se colidir com va´rias bolas e o movimento total vai ser muito difı´cil de descrever enquanto todas as coliso˜es na˜o tiverem ocorrido e dali poderemos usar as leis de conservac¸a˜o do momento total e da posic¸a˜o e velocidade do centro de massa. Assim podemos fazer para descrever um sistema termodinaˆmico: enquanto o sistema na˜o estiver em equilı´brio, na˜o podemos dizer muito sobre o comportamento dele; na linguagem desta teoria, precisamos esperar o sistema entrar em equilı´brio termodinaˆmico para encontrar os novos valores para as varia´veis (T,P,V ) Lei zero da Termodinaˆmica Figure 2: Equilı´brio te´rmico Com alguma intuic¸a˜o fı´sica a respeito de equilı´brio de sis- temas termodinaˆmicos, podemos definir o que e´ um sistema em equilı´brio termodinaˆmico: e´ o caso em que as varia´veis (T,P,V ) esta˜o esta´veis. Ta˜o importante quanto o sistema a ser estudado sa˜o tambe´m as paredes do sistema. As paredes podem ser adiaba´ticas para conservar a temperatura, como a garrafa te´rmica de cafe´, ou diate´rmicas, que trocam calor com o ambiente; as paredes podem ser isoba´ricas, quando mante´m pressa˜o constante, ou isoco´ricas quando na˜o alteram o volume do sistema em func¸a˜o de qual- quer variac¸a˜o de pressa˜o; permea´veis, quando permitem troca de mate´ria, e impermea´veis no outro caso. Para simplificar, vamos considerar sempre que o nosso sistema seja composto de apenas um fluido1 homogeˆneo e que ocupa um volume V ; a forma do recipiente na˜o vai ser relevante nos casos que queremos abordar e todo o seu volume sera´ ocupado pelo flu- ido. Se temos dois recipientes, A e B, cada um com um estado termodinaˆmico (PA,VA,TA) e (PB,VB,TB), separados por paredes adiaba´ticas, teremos que os sistemas se perpetuara˜o nesses estados termodinaˆmicos. No caso de colocarmos entre eles uma parede diate´rmica, enta˜o teremos que os sistemas podem trocar calor2 ate´ que o sistema atinja o equilı´brio te´rmico. Como verificar se dois sistemas isolados esta˜o em equilı´brio te´rmico? Na pra´tica, e´ muito mais fa´cil usando um terceiro sistema - o termoˆmetro: deixamos o terceiro sistema entrar em equilı´brio te´rmico com o sistema A, obtendo a temperatura TA e, em seguida, deixamos o termoˆmetro em contato com o sistema B para verificar se o equilı´brio te´rmico entre B e C para encontrar a temperatura TB; se TA = TB, enta˜o temos equilı´brio te´rmico entre A e B. Temperatura Figure 3: Isotermas de um ga´s E´ verificado experimentalmente que qualquer sistema ter- modinaˆmico pode ser completamente descrito com duas das treˆs varia´veis termodinaˆmicas: P, V e T , ou seja, pressa˜o, volume e temperatura. Mais especificamente: podemos dizer que a tem- peratura de um sistema pode ser encontrada sabendo apenas sua pressa˜o P e seu volume V . Verifica-se, tambe´m experimental- mente, que e´ possı´vel encontrar diferentes combinac¸o˜es de P e V tais que a temperatura e´ mantida constante; todos esses valores podem ser colocados em uma relac¸a˜o - gra´fico, quero dizer - entre 1Isso na˜o soa ta˜o absurdo quando pensamos que o nu´mero de partı´culas e´ da ordem do nu´mero de Avogadro 2Troca de grau de agitac¸a˜o das mole´culas, como se elas pudessem transferir momento de um lado para outro 2 P e V gerando as linhas em que os valores da temperatura e´ con- stante: essas linhas sa˜o chamadas de isotermas; como exemplo, veja a Fugura (3). As diferentes linhas no diagrama (P,V ) rep- resentam diferentes isotermas, ou seja, em cada linha temos uma temperatura. Observe que sistemas em equilı´brio te´rmico entre si sa˜o tambe´m sistemas com mesmas temperaturas. Na pra´tica, a alterac¸a˜o de valores de P e deV e´ feita de maneira suficientemente lenta, espera-se o sistema voltar ao equilı´brio e enta˜o se faz a nova alterac¸a˜o; e assim sucessivamente ate´ que se chegue a` combinac¸a˜o de P e V que se deseja Figure 4: Isotermas do planeta As isotermas servem para explicar va´rias propriedades de so´lidos a fluidos; em dinaˆmica de estudos de solos, por exemplo, o conhecimento das linhas isotermas e´ fundamental para maximizar as adsorc¸o˜es ma´ximas para concentrac¸o˜es diversas de elementos adicionados a` mistura dos solos Observe que, apesar de todos os nossos esforc¸os, o conceito de temperatura ainda e´ totalmente relativo, uma vez que o ’grau de agitac¸a˜o das mole´culas’ so´ pode ser medido quando se encontra um valor de refereˆncia para essa medida; alguns valores naturais surgem como propostas: a temperatura zero, por exemplo, pode ser entendida como a temperatura em que as mole´culas simplesmente na˜o se mexem, causando uma forma de ’congelamento total’, mas veremos que esse grau e´ muito difı´cil de ser alcanc¸ado e por isso vamos procurar outros possı´veis ’candidatos’. Isso vai ser essencial para definirmos o conceito de termoˆmetro Termoˆmetros O termoˆmetro mais comum que existe e´ o de mercu´rio, que consiste em um tubo cilindrico muito fino, evacuado, e onde dentro dele se coloca mercu´rio; a temperatura podera´ ser medida quando a coluna de mercu´rio se levanta no tubo, levando em conta que o tubo tambe´m dilata, pore´m como a dilatac¸a˜o do mercu´rio e´ muito maior que a do vidro, podemos verificar com grande clareza a dilatac¸a˜o do mercu´rio 3 Existem escalas termodinaˆmicas que tomam pontos diferentes como refereˆncia para valores absolutos. Na escala Ce´lcius, que e´ uma escala centı´grada, define-se o ponto zero dele como a temperatura de congelamento da a´gua e o ponto 100 sendo o de fusa˜o da a´gua; assim, a temperatura seria dada pela dilatac¸a˜o relativa do mercu´rio ate´ o ponto da temperatura medida: T = lT − lo l100− l0 (1) criando assim uma escala dividida por 100 - por isso, centı´grada - sendo que cada subdivisa˜o equivale a um grau Ce´lcius. Pode ser admitido que as dilatac¸o˜es do mercu´rio e do vidro sejam lineares com a temperatura, o que pode ser considerado verdadeiro como boa aproximac¸a˜o. Figure 5: Termoˆmetro a V constante Outros materiais termome´tricos tambe´m podem ser usados no termoˆmetro, como o a´lcool; entretanto as relac¸o˜es de expansa˜o em func¸a˜o da temperatura na˜o devem ser as mesmas. Observe que esses termoˆmetros preservam a pressa˜o constantes pro´ximas a zero, ja´ que esta˜o em tubos evacuados; podemos pensar tambe´m em outras for- mas de termoˆmetros, onde um dos mais importantes de maneira con- ceitual e´ o termoˆmetro de ga´s a` volume constante, ou seja, onde a propriedade fı´sica termome´trica seria a pressa˜o em vez do volume. Este dispositivo, ilustrado na Figura (5), e´ formado por um bulbo cheio de ga´s - que e´ hidrogeˆnio na grande maioria das vezes - que vai dentro da substaˆncia onde se quer medir a temperatura; o bulbo e´ lig- ado por um capilar ate´ um manoˆmetro de tubo aberto com mercu´rio; o manoˆmetro e´ formado por um tubo flexı´vel tal que com o aumento da temperatura pode-se alterar a altura do fluido no tubo aberto tal que se mantenha o volume constante, ou seja, tal que o nı´vel do mercu´rio permanec¸a na marca zero; a altura h no ramo aberto do manoˆmetro permite a medida da pressa˜o dentro do bulbo: p = p0 +ρgh (2) Figure 6: Termoˆmetro a V constante Sejam P0g e P0v os valores da pressa˜o para os pon- tos de gelo e de vapor para um ga´s de massa M0 que ocupa um volume V0; neste experimento, procura-se os valores da pressa˜o para os pontos de gelo e vapor para valores cada vez menores de massa M, assim, obtem-se os valores subsequentes reduzindo os val- ores das massas pela metade para cada pro´xima me- dida; os valores obtidos sera˜o, enta˜o, P1g e P1v para M1 = M0/2; P2g e P2v para M2 = M1/2; ...; Png e Pnv para Mn = Mn−1/2 ate´ que o ga´s se torne ta˜o rarefeito que na˜o se possa mais reduzir sua massa. O resultado encontrado experimentalmente e´ que, independente- mente do ga´s escolhido, estrapolando o valor da massa para o mais rarefeito possı´vel, ou seja, para M → 0, a raza˜o (Pv/Pg)→ 1,3661. O resultado pode ser expresso como lim pg→0 ( Pv Pg ) = Tv Tg ≈ 1,3661 (3) Esta relac¸a˜o define a raza˜o das temperaturas absolutas correspondentes aos pontos de vapor e de gelo, respec- tivamente. Esta escala tambe´m pode ser centı´grada, de modo que Tv−Tg = 100K, (4) 4 de tal forma que Tv−Tg = Tg(1−1,3661) Tg = 100K/0,3661 = 273,15K (5) ou seja, a temperatura de gelo dessa escala e´ de 273,15K enquanto a temperatura de vapor e´ de 373,15K. Observe que essas temperaturas de gelo e de vapor sa˜o para quaisquer gases quando a pressa˜o tende a zero; tais gases, nessas situac¸o˜es sa˜o chamados de gases ideais; por isso a escala encontrada e´ conhecida como a dos gases ideais, que veremos que coincidira´ com a escala de absoluta de temperaturas, uma escala que na˜o depende de propriedades especı´ficas de nenhuma substaˆncia. Essa escala e´ chamada de escala Kelvin e usa-se como unidade apenas o K. A temperatura mais baixa que e´ possı´vel medir com o termoˆmetro de ga´s a volume constante e´ de 1K, onde normalmente e´ usado o ga´s he´lio por conseguir se manter gasoso a essa tempertura; na˜o se pode usar o termoˆmetro de ga´s a volume constante para medir temperaturas abaixo de 1K A escala Kelvin precisa tambe´m da escolha de um ponto fixo padra˜o e o ponto escolhido para tal sera´ o ponto onde a temperatura da a´gua, para a pressa˜o de 1 atm, pode se comportar como vapor, a´gua e gelo ao mesmo tempo: por essa raza˜o, este ponto e´ chamado de ponto triplo da a´gua e a temperatura medida nesse ponto e´ de Ttr = 273,16K (6) Ha´ uma grande variedade de termoˆmetros que usam propriedades especı´ficas de certas substaˆncias, como a resistividade da platina, a ponte de Weetstone, e outros. Cada material tem uma maneira de responder a alterac¸o˜es de temperatura e uma das mais fa´ceis de perceber e´ a dilatac¸a˜o te´rmica Dilatac¸a˜o te´rmica E´ posı´vel ter alguma visa˜o intuitiva a respeito da dilatac¸a˜o te´rmica dos materiais quando se pensa em grau de agitac¸a˜o das mole´culas: se pensarmos que as mole´culas que compo˜e os materiais podem ser pensadas como um gigantesco sistema acoplado de massas ligadas a molas, entendemos que quanto maior a energia em cada par de massas em uma mola, maior vai ser a distaˆncia me´dia, ja´ que o sistema tem energia cine´tica maior e por isso os pontos de retorno sa˜o mais espac¸ados. A intuic¸a˜o nos permite entender o que e´ verificado experimentalmente: a dilatac¸a˜o te´rmica dos materiais quando a temperatura se eleva; a forma com que o material se dilata depende de diversos fatores moleculares mas, com boa aproximac¸a˜o e para temperaturas na˜o ta˜o distantes da ambiente, observa-se que a dilatac¸a˜o ∆l de um objeto de tamanho inicial l0 e´ proporcional ao seu tamanho inicial, a` variac¸a˜o de temperatura ∆T e ao coeficiente de dilatac¸a˜o linear α do material ∆l = αl0∆T, (7) de forma que o comprimento total do material linear seja dado por lT = l0(1+α∆T ) (8) De forma totalmente muito parecida, podemos encontrar a dilatac¸a˜o proporcional de um material uniforme e homogeˆneo bidimensional, de a´rea A e lados l1 e l2, por exemplo: ∆A A = ∆(l1l2) l1l2 = l2∆l1 + l1∆l2 l1l2 = ∆l1 l1 + ∆l2 l2 = α∆T +α∆T = 2α∆T (9) 5 mostrando que o coeficiente de dilatac¸a˜o da superfı´cie do material e´ igual ao dobro do coeficiente de dilatac¸a˜o linear para o mesmo material. Ca´lculo semelhante, nas mesmas condic¸o˜es do caso anterior, mas para um material de volume V = l1l2l3 resulta em ∆V V = 3α∆T (10) Fluidos, contudo, ja´ teˆm maneiras diferentes de se expandir;eles dependem unicamente de seus coeficientes de dilatac¸a˜o volume´trica β ∆V V = β∆T (11) Figure 7: Termoˆmetro bimeta´lico Uma primeira aplicac¸a˜o e´ o caso da dilatac¸a˜o aparente de um termoˆmetro de mercu´rio: suponha que a` temperatura de 0◦C, uma quantidade de mercu´rio, com coeficiente de dilatac¸a˜o volume´trica β e´ colocada em um re- cipiente de vidro que tem coeficiente de dilatac¸a˜o linear α; a uma temperatura T , a quantidade de mercu´rio derramado sera´ dada pela diferenc¸a dos volumes finais: V0(β − 3α)∆T ; deste resultado, podemos chamar β − 3α de coefi- ciente de dilatac¸a˜o aparente do lı´quido A propriedade fı´sica da dilatac¸a˜o pode ser usada como propriedade ter- mome´trica: levando em conta que materiais diferentes teˆm coeficientes de dilatac¸a˜o diferentes, pode-se solda´-los em uma temperatura padra˜o especı´fica e, abaixo dessa temperatura, ele se curvara´ para um dos lados e acima dessa temperatura, ele se curvara´ para o outro lado. Esse tipo de sistema e´ muito usado como termostato, um controlador de temperatura em sistemas ele´tricos e eletromecaˆnicos que podem ser usados para proteger o sistema de avarias em altas temperaturas. Na figura (7), pode-se mostrar - exercı´cio! - que se a tira for feita de materiais com coeficientes de dilatac¸a˜o αA e αB, se a tira tiver uma espessura total t, enta˜o teremos que o raio r de curvatura e´ r = 2 3 t (αA−αB)∆T (12) Figure 8: Termopar de Seebek Um outro termoˆmetro bem menos intuitivo e´ obtido quando se enrola os terminais de dois metais diferentes e se insere calor em uma de suas extremi- dades conforme a Figura (8) de forma que um dos ter- minais tenha temperatura diferente do outro, teremos o surgimento de uma diferenc¸a de potencial ele´trica ε na ordem de miliVolts; essa tensa˜o e´ denominada ”tensa˜o termoele´trica”. A poteˆncia ele´trica desse tipo de dis- positivo e´ determinada experimentalmente por P = ∆ε ∆T (13) Calor O calor foi considerado uma substaˆncia fluida, mas depois de se´culos de estudos e deduc¸o˜es a respeito foi enten- dido que o calor e´ uma forma de energia e um bom material sobre a evoluc¸a˜o histo´rica dos conceitos a respeito de calor e´ bem esta´ nesse link no rodape´3; o calor esta´ relacionado ao movimento de vibrac¸a˜o das partı´culas dos corpos e por isso seja mais fa´cil entender que em um processo onde ocorra troca de calor, tem-se um “fluxo” da 3http://www.ifsc.usp.br/ donoso/termodinamica/Historia Termodinamica.pdf 6 parte mais quente para a mais fria. O calor e´ uma forma de energia e, por isso, esta´ intimamente ligado ao conceito de trabalho Pode ser verificado em um foga˜o de casa que o tempo gasto para elevar um litro de leite da temperatura ambiente para a fervura e´ o dobro do tempo gasto para fazer o mesmo, nas mesmas condic¸o˜es, a meio litro de leite; neste experimento, a variac¸a˜o de temperatura e´ a mesma, mas a quantidade de calor transferido pela chama e´ o dobro; pode ser associada, assim, um conceito de transfereˆncia de energia, ou seja, calor e´ uma forma de energia. A energia de uma caloria e´ aquela suficiente para elevar a temperatura de um grama de a´gua de 14,5 ◦ a 15,5 ◦ sob a pressa˜o de 1atm. A quantidade de calor necessa´ria para elevar de 1◦C a quantidade de 1g de uma substaˆncia define o calor especı´fico c dessa substaˆncia. No caso geral, o calor especı´fico c de qualquer substaˆncia pode variar fortemente com a temperatura ou com a forma com que os processos esta˜o ocorrendo, como por exemplo, nos casos em que a pressa˜o e´ constante, usamos cp e quando o volume e´ constante usamos cv. Perto das temperaturas ambientes, temos bons resultados quando o consideramos cp e cv constantes; cp e cv sa˜o chamados de calores especı´ficos principais; para lı´quidos e so´lidos, as diferenc¸as entre cp e cv costumam ser pequenas, mas para gases a situac¸a˜o muda radicalmente de figura e os valores de cp e cv se diferenciam fortemente A´gua leva se aquece 30 vezes mais lentamente que ouro; pore´m, ao final do aquecimento, a a´gua tem 30 vezes mais energia te´rmica que o ouro. Para ajudar a clarificar mais, precisamos definir o conceito de capacidade te´rmica de um material. A quantidade de calor em um material se deve a seu calor especı´fico, sua massa e a variac¸a˜o de temperatura; assim se define a capacidade te´rmica C = mc tal que a quantidade de calor ∆Q necessa´rio para variar a temperatura em ∆T e´ dado por ∆Q = mc∆T =C∆T (14) Se o sistema for composto de n diferentes materiais de calores especı´ficos cn, temos que a capacidade te´rmica desse compo´sito e´ C = m1c1 + ...+mncn (15) Se uma substaˆncia sofrer uma variac¸a˜o de temperatura capaz de variar seu calor especı´fico, enta˜o a quantidade de calor fornecido para variar a temperatura dessa substaˆncia em ∆T e´ dada por ∆Q = m ∫ Tf Ti m(c)dT (16) Figure 9: Calorı´metro usual Um calorı´metro e´ um objeto de paredes adiaba´ticas por onde tem um pequeno orifı´cio para a passagem de um termoˆmetro; como o sistema e´ isolado do meio externo, a temperatura do sistema deve ser mantida durante todos os processos. Suponha o caso de um calorı´metro, de capacidade te´rmica C, que contenha um lı´quido, de calor especı´fico c e massa m, em equilı´brio te´rmico com o calorı´metro a` temperatura Ti; suponha agora que algum corpo, independentemente de sua forma, de massa mA e temperatura TA seja colocado no calorı´metro. Enta˜o, apo´s algum tempo, observa-se que o sistema entra em equilı´brio te´rmico a uma temperatura Tf ; neste processo, a quantidade de calor ∆Q = mAcA(Tf −TA) e´ totalmente fornecida da amostra ao lı´quido e ao calorı´metro, ou seja: mAcA(TA−Tf ) = (mc+C)(Tf −Ti) (17) De maneiras equivalentes, podemos definir a capacidade te´rmica molar, que e´ definida como a capacidade te´rmica de 1 mol de uma substaˆncia. Para so´lidos, os valores ficam pro´ximos a 6 Cal/mol ◦C; tal resultado e´ previsto pela Lei de Dulong e Petit, que diz que a capacidade te´rmica molar a volume constante de todos os so´lidos a` temperatura suficientemente elevada se aproxima de 6Cal/mol ◦C. O que define como suficientemente 7 elevada quer dizer sobre temperaturas acima da temperatura TD de Debye; a explicac¸a˜o para isso e´ dada apenas pela mecaˆnica quaˆntica de sistemas de muitos corpos E´ interessante, tambe´m, definir o reservato´rio te´rmico. Um sistema de capacidade te´rmica C, ao receber uma quantidade de calor ∆Q, varia sua temperatura em ∆T = ∆Q/C; como C e´ proporcional a` massa, pode-se diminuir a variac¸a˜o de temperatura ∆T tornando a massa M cada vez maior; no limite em que M e´ infinitamente grande, podemos assumir que ele pode fornecer, ou receber, qualquer quantidade de calor sem variar a sua temperatura final: este e´ o reservato´rio te´rmico, que fornece uma quantidade ilimitada de calor a qualquer sistema sem variar a sua temperatura; exemplos sa˜o a atmosfera e o mar 1 Conduc¸a˜o de calor A transfereˆncia de calor entre sistemas termodinaˆmicos ocorre por treˆs maneiras diferentes, que sa˜o a convecc¸a˜o, radiac¸a˜o e conduc¸a˜o A convecc¸a˜o pode ser melhor explicada quando se observa a transfereˆncia de calor em um fluido dentro de um recipiente transparente sobre uma chama: podemos ver as correntes de convecc¸a˜o fluindo da base quente do recipiente e se difundindo no restante do lı´quido4. A explicac¸a˜o fı´sica da convecc¸a˜o e´ que a parte que esta´ mais pro´xima a` chama absorve o calor, o que o faz dilatar, diminuindo sua densidade; menos densa, essa porc¸a˜o de fluido sobe, transferindo o calor recebido por contato a`s outras camadas; ao subir, essa porc¸a˜o de fluido deu espac¸o para outra porc¸a˜o de fluido mais densa entrar em contato com o fundo do recipiente A radiac¸a˜o e´ a transfereˆncia de energia por ondas eletromagne´ticas; a origem dessa radiac¸a˜o e´ o movimento acelerado dos ele´trons o qual,como veremos adiante em fı´sica 3, criam ondas eletromagne´ticas que se propagam por todas as direc¸o˜es; corpos que absorvem essas ondas eletromagne´ticas se aquecem por radiac¸a˜o. Podemos dizer que todos os corpos aquecidos emitem radiac¸a˜o de calor5 A conduc¸a˜o de calor se da´ dentro de meios materiais e ocorre devido a`s agitac¸o˜es microsco´picas do meio material. E´ bem diferente da convecc¸a˜o, pois aqui na˜o ocorre movimento de mate´ria como nas correntes de convecc¸a˜o. Suponha o caso de dois basto˜es de materiais fisicamente diferentes, sendo um de vidro e outro de alumı´nio; no caso em que os dois sa˜o colocados simultaneamente em contato com um reservato´rio te´rmico a uma temperatura muito alta - como uma chama, por exemplo - os a´tomos em contato direto com a chama comec¸am a se agitar e a transferir o movimento aos a´tomos adjascentes; os isolantes teˆm ligac¸o˜es moleculares sem ele´trons livres, enta˜o a conduc¸a˜o se da´ apenas pela vibrac¸a˜o molecular; os metais teˆm ele´trons livres e estes podem conduzir o movimento muito mais rapidamente pelo material6. Existe uma relac¸a˜o que diz que todo bom condutor ele´trico e´ tambe´m um bom condutor te´rmico conhecida como lei de Wiedemann e Franz Pergunta: tem sentido em dizer que o calor se transfere de um ponto mais quente ao mais frio? Tem sentido dizer que o frio se transfere de um ponto mais frio para outro mais quente? Todas essas informac¸o˜es podem ser sumarizadas por: a taxa de calor transferido por unidade de tempo e´ diretamente proporcional a` diferenc¸a de temperatura ∆T , inversamente proporcional ao tamanho ∆x do material, diretamente proporcional ao tamanho da sec¸a˜o transversal A da a´rea do condutor; ou seja dQ dt = −kAdT dx (18) onde k e´ uma constante de proporcionalidade chamada de condutividade te´rmica do material, enquanto o sinal negativo diz sobre o sentido da transfereˆncia de calor. A Equac¸a˜o (18) e´ chamada de Lei de Fourier e e´ totalmente ana´loga a` lei de condutividade ele´trica, a Lei de Ohm, dada por dq dt = σA V l Pergunta: Entre gases e lı´quidos, qual dos dois transportam calor mais rapidamente? Por queˆ? 4Um o´timo vı´deo a respeito de correntes de convecc¸a˜o em escalas de laborato´rio caseiro esta´ no Link: https://www.youtube.com/watch?v=0mUU69ParFM e outro em https://www.youtube.com/watch?v=FXf2U2GZU7k. Assista aos dois 5Um vı´deo sobre transfereˆncia de calor por radiac¸a˜o? Ok: https://www.youtube.com/watch?v=5GoZZKcNZiQ 6Sobre a conduc¸a˜o, veja: https://www.youtube.com/watch?v=9joLYfayee8 8 Pergunta: Entre so´lidos e fluidos, qual e´ o mecanismo de transporte de calor mais eficiente para cada um deles? Figure 10: Fluxo de calor em uma barra Exemplo: uma barra de um material homogeˆneo de condutividade te´rmica k, secc¸a˜o de a´rea A e com- primento l tem suas extremidades mantidas entre dois reservato´rios te´rmicos de temperaturas T1 < T2; supo˜es-se que as laterais da barra estejam isoladas ter- micamente. No equilı´brio termodinaˆmico, a corrente te´rmica dQ/dt na˜o pode depender de x, pois o fluxo de calor por unidade de tempo deve ser o mesmo atrave´s de qualquer secc¸a˜o transversal da barra; desta forma, temos dT dx = T2−T1 l de modo que a Lei de Fourier (18) fica dQ dt = kA T2−T1 l (19) de modo que a temperatura varia linearmente com o comprimento da barra. Podemos generalizar o resultado da taxa de calor transferida por unidade de tempo para barras compostas de mais de um material homogeˆneo. No caso de duas barras, de comprimentos l1 e l2 e de condutividades te´rmicas k1 e k2 entre dois reservato´rios te´rmicos de temperaturas T1 e T2, a junc¸a˜o entre as barras ficara´ a uma temperatura intermedia´ria T0; no regime estaciona´rio, onde a quantidade de calor transferido por unidade de tempo e´ constante para cada sec¸a˜o de a´rea A da barra, enta˜o dQ dt = k2A T2−T0 l = k1A T0−T1 l = A(2−T1) l1/k1 + l2/k2 (20) e, para uma quantidade N de materiais entre os reservato´rios te´rmicos, temos dQ dt = A(2−T1) l1/k1 + l2/k2 + ...+ lN/kN (21) 1.1 Equivalencia entre Q e W Figure 11: Calorı´metro de Joule Ja´ sabemos que calor e´ uma forma de energia, como o calor se transmite, mas ainda na˜o sabemos a relac¸a˜o entre trabalho real- izado e calor absorvido ou transmitido. Muitos relatos histo´ricos importantes ocorreram a respeito desse to´pico, o que vai ficar para uma leitura paralela que ficou na nota de rodape´ da pa´gina 6, e por isso vamos direto ao ponto O primeiro a estudar a respeito do equivalente mecaˆnico de uma unidade de calor foi Joule, o qual realizou experimentos de pesos amarrados a cordas que giravam uma he´lice dentro de um fluido: sabendo qual era a energia potencial gravitacional da queda dos blocos, ele media a temperatura da a´gua dentro de um calorı´metro; o resultado foi refinado ao longo dos anos de modo que se encontrou o resultado aceito ate´ hoje: 1cal = 4,186J (22) que e´ a quantidade de energia necessa´ria para elevar a temperatura de 1g de a´gua de 14,5 ◦C a 15,5 ◦C 9 A poteˆncia dissipada por sistemas ele´tricos e´ descrita pelo efeito Joule e, como sera´ visto no curso de fı´sica 3, veremos que P = Ri2 (23) onde R e´ a resisteˆncia ele´trica do material, medida em Ohms (Ω), que relaciona o comprimento l do condutor, sua secc¸a˜o de a´rea A e a resistividade ele´trica σ do material. O calor necessa´rio para elevar a temperatura de 1l de a´gua em 1 ◦C e´ de 1kcal. Assim, se uma resisteˆncia ele´trica percorrida por uma corrente ele´trica de 1A, colocada em um litro de a´gua que lhe eleva a temperatura em 1 ◦C por minuto dever uma resisteˆncia ele´trica em torno de 67Ω 2 Primeira lei da termodinaˆmica Figure 12: Compressa˜o adiaba´tica em um ga´s Nos experimentos de Joule, o trabalho realizado pela forc¸a peso era transmitido a um calorı´metro contendo a´gua; sabemos tambe´m que calorı´metros sa˜o recipientes com paredes adiaba´ticas. O tra- balho realizado em sistemas termicamente islados e´ chamado de trabalho adiaba´tico. Supondo que um fluido contido em um calorı´metro seja um ga´s, podemos variar seu volume atrave´s de um processo chamado de compressa˜o adiaba´tica; este processo deve, de fato, tambe´m aquecer o ga´s; por exemplo, ao encher o pneu de uma bicicleta, podemos perceber que ao fim do processo o pneu esta´ mais quente que antes, o que se deveu ao fato do ga´s se aquecer devido ao aumento da pressa˜o. Os precessos adiaba´ticos podem ser descritos com duas das treˆs varia´veis termodinaˆmicas, que sa˜o T, P, e V . Nas ex- perieˆncias de Joule, o volume era mantido fixo de modo que seu estado termodinaˆmico era determinado pela temperatura T ; passar de Ti a Tf foi equivalente a passar de um estado i a um estado f atrave´s de trabalhos adiaba´ticos Figure 13: Compressa˜o adiaba´tica em um ga´s Partindo do ponto inicial i de coordenadas (Pi,Vi), podemos, por exempo, comprimir o ga´s adiabaticamente ate´ que ele chegue ao volume final Vf , no ponto a, e depois fornecendo trabalho adiaba´tico a volume constante Vf ate´ ele chegar ao estado (Pf ,Vf ), o que pode ser feito com o uso de uma resisteˆncia ele´trica, por exemplo, a qual aquece o ga´s pelo efeito Joule. Alternativa- mente, podemos fazer o sistema ir de (Pi,Vi) a (Pf ,Vf ) realizando primeiro um trabalho adiaba´tico, ate´ ele chegar ao ponto b e, em seguida, realizar uma compressa˜o adiaba´tica. Va´rios outros pro- cessos semelhantes poderiam ser realizados fazendo o sistema passar por va´rios outros caminhos alternativos. Nestes casos, podemos enunciar a primeira lei da termodinaˆmica: O trabalho realizado para levar um sistema termicamente iso- lado de um estado inicial ate´ um estado final independe do cam- inho(no diagrama (P,V )) Ou seja, o trabalho em um sistema adiaba´tico so´ depende dos resultados inicial e final -exatamente como eram os sistemas conservativos. Nos casos de sistemas mecaˆnicos, podemos sempre definir uma func¸a˜o energia potencial que da´ todas as informac¸o˜es dinaˆmicas do sistema De maneira totalmente equivalente, em sistemas termodinaˆmicos isolados, podemos escrever uma func¸a˜o de estado U , cuja variac¸a˜o U f −Ui entre os estados inicial e final no diagrama (P,V ) e´ igual ao trabalho adiaba´tico necessa´rio para levar o sistema de i a f , ou seja ∆U = U f −Ui =−Wi→ f (24) 10 E´ muito importante entender o que seria o trabalho adiaba´tico Wi→ f : em todos os sistemas termodinaˆmicos, ele e´ entendido como o trabalho relizado por um sistema. Assim, a energia interna U de um sistema aumenta quando lhe e´ fornecido trabalho W , ou seja, esse trabalho e´ realizado sobre ele. Maneiras de se realizar um trabalho sobre um sistema sa˜o aquecer com uma resisteˆncia ele´trica, aplicar uma forc¸a sobre suas paredes quando forem mo´veis, etc... . O caso de um sistema realizar trabalho e´ exemplificado quando ele se expande em uma caˆmara de um pista˜o em um motor a` combusta˜o. O trabalho adiaba´tico, de fato, na˜o e´ factı´vel na maioria dos casos - assim como o movimento no plano inclinado sem atrito - mas nos ajuda a entender muito sobre os processos termodinaˆmicos; felizmente, em ter- modinaˆmica poderemos definir com grande precisa˜o as energias perdidas em um sistema termodinaˆmico Dizer que a energia interna U de um sistema termodinaˆmico e´ uma func¸a˜o de estado significa que U deve ficar completamente definida - a menos da constante U0 de nı´vel zero de energia - quando especificamos o estado termodinaˆmico de um sistema; isso significa que esse sistema pode ficar definido com qualquer um dos pares U =U(P,V ) U =U(V,T ) U =U(P,T ) (25) 2.1 Calor Sistemas isolados termicamente na˜o sa˜o os u´nicos sistemas termodinaˆmicos; de fato e´ muito mais comum levar um sistema de um estado inicial i ate´ um estado final f atrave´s de processos na˜o adiaba´ticos que sa˜o sistemas formados com pelo menos uma parede diate´rmica. Podemos exempificar com sistemas cum uma parede diate´rmica em contato com uma chama ou podemos fazer uma compressa˜o em um ga´s com uma parede adiaba´tica em contato te´rmico com um reservato´rio te´rmico (a) Parede diate´rmica em contato com chama (b) Compressa˜o isote´rmica Figure 14: Exemplos de processos na˜o adiaba´ticos Um exemplo de compressa˜o isote´rmica e´ o da Figura (14(b)), onde ocorre uma compressa˜o de um ga´s onde uma parede diate´rmica esta´ em contato com um reservato´rio te´rmico, garantindo que a temperatura do sistema seja mantida constante. Assim, o trabalho realizado pela compressa˜o na˜o e´ um trabalho adiaba´tico. Como a energia interna de um sistema e´ uma func¸a˜o de estado e os estados inicial i e final f sa˜o sempre os mesmos, a variac¸a˜o de energia interna ∆U =U f −Ui sera´ a mesma, mas a Equac¸a˜o (??) deixa de valer quando o trabalho na˜o e´ adiaba´tico A primeira lei da termodinaˆmica, que equivale a` lei da conservac¸a˜o de energia, identifica a contribuic¸a˜o a` variac¸a˜o de energia ∆U que na˜o e´ devida ao trabalho Wi→ f fornecido ao sistema como uma nova forma de energia, que e´ o calor Q transferido ao sistema, ou seja: ∆U = Q−Wi→ f (26) onde Q representa o calor fornecido ao sistema7 Pergunta: Observe as imagens em (14(a)) e em (14(b)). Analise a primeira lei da termodinaˆmica (26) para ambos os casos 7Talvez uma boa maneira de lembrar sobre os sinais de Q e de W e´ entender a eficieˆncia de uma ma´quina: nesta, se investe uma quantidade de energia Q esperando que ela deˆ uma ?? W 11 A Primeira Lei da Termodinaˆmica diz que o calor Q representa a energia transferida a um sistema atrave´s de uma parede diate´rmica e ocorre por conta da diferenc¸a de temperatura entre o sistema e sua vizinhanc¸a, descon- tando do sistema o trabalho realizado por ele Pergunta: discuta a Primeira Lei da Termodinaˆmica , Eq. (26 para um calorı´metro, como o da Figura (9) 2.2 Processos reversı´veis Figure 15: Processos reversı´veis Um processo termodinaˆmico reversı´vel, o qual obedece a primeira lei da Termodinaˆmica, pode parecer surreal, mas ha´ maneiras de se fazeˆ-lo em situac¸o˜es muito especiais e que significam muito para a construc¸a˜o dos nossos conceitos em termodinaˆmica. Con- siderando um processo ilustrado na Figura (15), tem-se um ga´s em um recipiente de paredes adiaba´tias por onde um pista˜o pode se mover sem atrito, comprimindo ou expandindo o ga´s de acordo com a diferenc¸a de forc¸as de contato no eˆmbolo de a´rea A. A forc¸a peso da areia sobre o eˆmbolo entra em equilı´brio com a forc¸a da pressa˜o do ga´s interna do recipiente; aumentando a foc¸a peso da areia, em um processo extremamente lento como se coloca´ssemos apenas mais um gra˜o de areia, espera´ssemos o sistema entrar em equilı´brio termodinaˆmico e enta˜o coloca´ssemos outro gra˜o; desta forma, podemos calcular o trabalho realizado pela forc¸a peso da quantidade infinitesimal de areia sobre o ga´s como d′W = F dx = PAdx = PdV (27) onde tivemos de escrever d′W para simbolizar que essa diferencial na˜o e´ uma diferencial exata8. Enta˜o, esse processo sera´ reversı´vel apenas se ocorre muito lentamente e na˜o ha´ atrito envolvido. A condic¸a˜o de que o processo reversı´vel seja extremamente lento remete a` necessidade de que o sistema passe por todos os estados de equilı´brio termodinaˆmico em cada um nos quais P e V sa˜o bem definidos; e´ exatamente o contra´rio de um caso de compressa˜o ra´pida, onde o sistema poderia passar por infinitos tipos de estados possı´veis; so´ pra exemplificar que um processo ra´pido na˜o passa por todos os pontos onde P e V na˜o sa˜o bem definidos, uma expansa˜o livre de um ga´s contido em um recipiente ligado por um tubo para outro recipiente evacuado, separado por um registro, quando o registro e´ aberto, o escoamento do ga´s para o outro tubo e´ extremamente turbulento e ele passa direto por va´rios estados em P e V antes de atingir o equilı´brio te´rmico. A necessidade do sistema na˜o ter atrito e´ que o atrito transforma energia de movimento em uotras formas de energia que na˜o podem ser revertidas em movimento, ou seja, em calor que entre a parede e o eˆmbolo O trabalho total realizado pelo sistema da Figura (15) sera´ dado pela soma de todos os trabalhos infinitesimais durante o processo, ou seja Wi→ f = ∫ V f Vi d′W = ∫ V f Vi P dV (28) O resultado e´ va´lido para qualquer tipo de sistema que obedec¸a a`s condic¸o˜es impostas, independentemente da forma dos recipientes 8Uma diferencial que na˜o e´ exata e´ chamada de diferencial inexata; um exemplo de diferencial inexata e´ ydx a qual, se na˜o soubermos a relac¸a˜o entre x e y, na˜o podemos integrar y em func¸a˜o de x. Outro exemplo, imagine que se tenha uma func¸a˜o f (x,y) = xy2, enta˜o na˜o podemos dizer que f ′(x,y) = 2xy, pois ainda faltaria a derivada com relac¸a˜o a x. Mais a frente veremos o porqueˆ da func¸a˜o W ser uma func¸a˜o dessa forma. Esse raciocı´nio e´ usado em E.D.O. onde uma equac¸a˜o diferencial na˜o exata precisa de um fator integrante para torna´-la exata e enta˜o encontra-se uma receita para a soluc¸a˜o da equac¸a˜o 12 Figure 16: Diagrama simples A maneira de represetar processos termodinaˆmicos utilizada ate´ hoje e´ dada por James Watt, que na˜o e´ nada mais que um di- agrama (P,V ) que, apesar de simples, e´ poderosı´ssimo em termos de esclarecimentos de evoluc¸a˜o de processos termodinaˆmicos. A temperatura deve ficar completamente definida com o par de varia´veis (P,V ) e por isso cada ponto do caminho de i a f no dia- grama determina a temperatura do sistema. Na Figura (16), temos uma curva isote´rmica com outros dois processos, um isoco´rico e outro isoba´rico. O trabalho total do processo fica determinado pela soma das a´reas sob as curvas Assim, os trabalhos parase chegar de i a f sa˜o geralmente de- pendentes dos diferentes caminhos no diagrama; entretanto, a en- ergia interna do sistema na˜o depende do caminho; essas diferenc¸as entre U e W mostram que o trabalho na˜o pode ser uma func¸a˜o de estado do sistema e por isso usamos que d′W na˜o pode ser entendido como uma diferencial exata Como estamos estudando processos reversı´veis, onde cada estado de equilı´brio e´ subsequente a outro estado de equilı´brio, enta˜o podemos dizer que Wi→ f = −Wf→i (29) desde que o caminho percorrido C seja o mesmo para ambos processos Um caminho no diagrama em que um sistema volta ao seu estado inicial e´ chamado de caminho fechado, ou ciclo, e o trabalho realizado no ciclo sera´ a a´rea contida na curva fechada, ou seja: W = ∮ PdV (30) que pode ser positivo, se a curva for no sentido hora´rio, ou negativo se a curva for feita no sentido anti-hora´rio Figure 17: Ciclo elementar Na Figura (2.2), temos que o trabalho e´ positivo (negativo) para o ciclo no sentido hora´rio (anti-hora´rio) Problema: Encontre o trabalho realizado no ciclo no diagrama da Figura (16) 2.2.1 Calor em um processo reversı´vel Da mesma forma que falamos sobre realizar um trabalho de uma maneira reversı´vel, podemos tambe´m considerar a transfereˆncia de calor atrave´s de um processo reversı´vel: e´ o caso onde a transfereˆncia de calor se da´ de maneira extremamente lenta, como se o sistema entrasse em contato te´rmico com uma sucessa˜o de reservato´rios te´rmicos a temperaturas que aumentariam de maneira infinitamente lenta de um para outro, como na Figura (18) De maneira bem equivalente ao caso do trabalho reversı´vel sobre um sistema na˜o poder ser considerado uma diferencial exata, podemos considerar que o calor tambe´m deve ser tratado da mesma forma; isso quer dizer que 13 Figure 18: Transfereˆncia reversı´vel de calor uma quantidade de calor d′Q ao passar de um reservato´rio te´rmico de temperatura T para outro de temperatura T +dT , o sistema ganhou o calor d′Q = CdT (31) o que nos permite concluir que dU = d′Q−d′W = CdT −PdV (32) de forma que dU e´ uma diferencial total e e´ igual a soma de duas diferenciais inexatas; isso quer dizer que a energia interna de um sistema termodinaˆmico na˜o pode ser identificada nem pelo trabalho realizado nem pelo calor cedido ao sistema; isso quer dizer que na˜o da´ pra dizer qual quantidade de energia e´ devida ao calor e qual e´ devida ao trabalho realizado no sistema, justamente porque ambas na˜o sa˜o func¸o˜es de estado; isso decorre que podemos produzir uma mesma quantidade de energia interna com diferentes combinac¸o˜es possı´veis de trabalho e de calor 2.3 Processos 2.3.1 Ciclos Esses tipos de processos, o sistema volta exatamente ao estado inicial de modo que ∆U = 0, enta˜o a primeira Lei da Termodinaˆmica fica: ∆Q =W . Isso significa que todo o trabalho produzido pelo sistema em um ciclo reversı´vel e´ igual ao calor que lhe e´ fornecido 2.3.2 Processos isoba´ricos Figure 19: Processo Isobarico Sa˜o processos em que a pressa˜o permanece constante, enta˜o o tra- balho vai ser Wi→ f = ∫ V f Vi PdV = P(Vf −Vi) (33) e a primeira Lei da termodinaˆmica fica ∆U =U f −Ui = Q−P(Vf −Vi) (34) onde Q pode ser a quantidade de calor necessa´ria para aquecer ate´ o vapor uma quantidade de fluido em uma caˆmara de combusta˜o que realiza um trabalho a pressa˜o constante no momento da explosa˜o, ou seja ∆U = mL−P(Vf −Vi) (35) 14 Figure 20: Motor te´rmico Vamos tomar o exemplo de uma ma´quina a` vapor; nesta, a uma porc¸a˜o de a´gua e´ aquecida por uma caldeira ate´ se tornar vapor, onde a expansa˜o nessa mudanc¸a de fase da a´gua e´ responsa´vel por uma pressa˜o capaz de levantar um pista˜o, pec¸a fundamental para transportar o movimento a fim de realizar trabalho. O estado inicial i do sistema , a a´gua em forma lı´quida ocupa o espac¸o Vi; a caldeira trabalha como um reservato´rio te´rmico fornecendo uma quantidade de calor Q, suficiente para vaporizar toda a a´gua a` pressa˜o constante P, ate´ o momento em que o vapor de a´gua ocupe um volume Vf >>Vi; o calor necessa´rio para vaporizar 1g de a´gua e´ chamado de calor latente de vaporizac¸a˜o que, para a pressa˜o de 1 atm e temperatura de fusa˜o de 100◦C e´ dado por L = 539Cal/g. O calor Q necessa´rio para vaporizar m gramas de a´gua e´ QL = mL, (36) enquanto o calor necessa´rio para elevar a temperatura dessa massa m de a´gua de T0 ate´ a temperatura de ebulic¸a˜o e´ QT = mc∆T (37) e o trabalho realizado pelo vapor na expansa˜o isoba´rica e´ P(Vf −Vi). A primeira lei da Termodinaˆmica, neste processo, resulta enta˜o em ∆U = m(c∆T +L)−P(Vf −Vi) (38) 2.3.3 Processos adiaba´ticos Sa˜o aqueles em que na˜o ocorre troca de calor com o ambiente, quer dizer, ∆Q = 0 e por isso a primeira lei da Termodinaˆmica resulta em ∆U = −Wi→ f . (39) Lembrando como trabalhamos no inı´cio da aula, o processo adiaba´tico na˜o precisa ser um ciclo, bastando lembrar que nos casos que estudamos, fornecemos um trabalho ao sistema enquanto ele varia sua energia interna9, o que vale para todos os processos adiaba´ticos. Outros sistemas podem ocorrer ta˜o rapidamente que nem da´ tempo de trocar calor com o meio; exemplos sa˜o a propagac¸a˜o de ondas sonoras, onde as variac¸o˜es de pressa˜o e densidade ocorrem em velocidades que as trocas de calor sa˜o desprezı´veis, a expansa˜o de um vapor entre a caldeira e o condensador em uma ma´quina a` vapor e a explosa˜o na caˆmara de combusta˜o de uma mistura de gasolina e ar 3 O comportamento dos gases Por que estudar os gases? Equac¸a˜o de estado. Gases perfeitos 3.0.1 A Lei de Boyle Figure 21: Experimento de Boyle Motivado pelas experieˆncias de Torricelli, Boyle escreveu um livro relatando suas experieˆncias com o ar, onde o que mais lhe interessava era a relac¸a˜o entre a pressa˜o e o volume de uma quan- tidade fixa de ga´s; num deles, em um manoˆmetro de tubo aberto a temperatura constante, uma quantidade de mercu´rio aprisionava 9Na˜o se esquec¸a que esse trabalho se torna negativo pela nossa definic¸a˜o de rendimento 15 outra quantidade de ar como descrito na Figura (21). A pressa˜o sobre a porc¸a˜o de ar e´ dada por P = P0 +ρHggh (40) de modo que poderia ser variada com a quantidade de mercu´rio inserida no tubo. Os experimentos de Boyle identificaram que o volume variava inversamente proporcional a` pressa˜o, ou seja V = k P =⇒ PV = k (41) 3.0.2 A Lei de Charles O fı´sico franceˆs Jacques Charles, em 1787, observou em suas experieˆncias a dependeˆncia de P e de V com a temperatura; ele deixava uma dessas quantidades constantes e analisava a outra variando a temperatura; por ex- emplo, estudar a variac¸a˜o de volume de um ga´s a` pressa˜o constante equivale a encontrar o coeficiente de dilatac¸a˜o volume´trico do ga´s; ele encontrou uma coincideˆncia inesperada: todos os gases teˆm coeficientes de dilatac¸a˜o volume´trica aproximadamente iguais: β ≈ 1 273,15 ◦C (42) de modo que a dilatac¸a˜o volume´trica proporcional fica: ∆V V0 = VT −V0 V0 = βT, (43) ou seja, VT = V0(1+βT ) = V0 273,15 (T +273,15) (44) que, para T0 = 273,15k ≈ 0 ◦C, equivale dizer que V (T ) V (T0) = V V0 = T T0 (45) que e´ a Lei de Charles: “A` pressa˜o constante, o volume ocumpado por um ga´s e´ diretamente proporcional a` sua temperatura absoluta. Esta lei e´ observada com uma precisa˜o ainda maior se a pressa˜o tende a zero; assim, podemos usar um termoˆmetro de ga´s a volume constante para definir a escala termome´trica de um ga´s ideal. O resultado da lei de Charles tambe´m pode ser escrita em termos da pressa˜o por P(T ) P(T0) = P P0 = T T0 (46) 3.0.3 A Lei dos gases perfeitos Figure 22: Experimento de Boyle A lei dos gases ideais e´ obtida com a combinac¸a˜o das leis de Boyle e de Charles e a partirdaı´ encontramos as maneiras de descrever o comportamento dos gases ao passar em diversos outros estados termodinaˆmicos de interesse tanto centı´fico quanto tecnolo´gico. Consideremos a Figura (22), onde duas isotermas sa˜o trac¸adas para descrever o comportamento termodinaˆmico de uma massa m de ga´s; precisamos sair do pnto 0 e chegar ao ponto a. Por isso, podemos chegar ao ponto 1 atrave´s de uma expansa˜o isoba´rica e 16 de 1 ate´ a por temperatura constante. O primeiro processo, como e´ feito a` pressa˜o constante, pode ser feito com o auxı´lio da lei de Charles: V1 V0 = T T0 (47) enquanto a passagem de 1 para a se da´ com a lei de Boyle: P0V1 = PaVa, (48) resultados, que combinados, resultam em PV T = P0V0 T0 = cte (49) que e´ constante para todos os processos feitos no ga´s; a constante do resultado e´ dada por nR, onde n e´ o nu´mero de moles de um dado ga´s enquanto R e´ a constante universal dos gases ideais, conhecida como constante de Rydberg: R = 1,986 cal mol K . (50) Assim, para um ga´s com n moles de um ga´s ideal, temos PV = nRT (51) 3.1 Trabalho na expansa˜o isote´rmica de um ga´s ideal O trabalho de um ga´s ideal em uma expansa˜o isote´rmica reversı´vel e´ dado por Wi→ f = ∫ f i P dV (52) onde o caminho de integrac¸a˜o e´ feito sobre uma curva de temperatura constante, ou seja, uma isoterma; desta forma Wi→ f = ∫ f i P dV = ∫ f i nRT V dV = nRT ∫ f i dV V = nRT ln ( Vf Vi ) (53) 3.2 A experieˆncia de Joule-Thomson e a energia interna de um ga´s ideal Joule e Thomson10 fizeram um experimento de expansa˜o livre de um ga´s dentro de um calorı´metro; o experimento foi aperfeic¸oado para tentar ficar mais sensı´vel, onde reduziram a massa do calorı´metro para que fosse mais fa´cil encontrar qualquer variac¸a˜o de temperatura. Uma expansa˜o livre pode ser feita colocando um ga´s dentro de uma garrafa com a boca ligada a outra garrafa, mas essa segunda estaria evacuada; a ligac¸a˜o entre as duas poderia ter um registro: se o registro e´ aberto de uma vez, o ga´s escoa de maneira turbulenta para a garrafa vazia, ou seja, a expansa˜o na˜o e´ um processo reversı´vel 10O conde de Rumford, o que pegou a viu´va de Lavoisier... e´ a vida 17 Figure 23: Dispositivo do experimento de Joule-Thomson Para tentar fazer esse experimento de maneira mais controlada, chegaram a inventar um dispositivo na forma do da Figura (23), onde uma massa m de um ga´s atravessa uma espe´cie de tampa˜o poroso ao ser empurrada por um pista˜o em um eˆmbolo adiaba´tico; quando o pista˜o da esquerda empurra o ga´s, a` pressa˜o constante, o ga´s atravessa o tampa˜o e empurra o pista˜o do outro lado tambe´m a` pressa˜o constante; assim, o ga´s que ocupava um volume Vi e era empurrado pelo pista˜o A que exercia uma pressa˜o constante Pi, depois do processo, ocupara´ um novo volume Vf , empurrando o pista˜o B com pressa˜o constante Pf Como o ga´s a` esquerda passa isobaricamente, o trabalho realizado para passar todo o ga´s ao lado direito e´ Pi(Vf −Vi) = Pi(0−Vi) =−PiVi; (54) o trabalho realizado pelo ga´s ao lado direito para empurrar o eˆmbolo a` pressa˜o constante Pf ate´ o ga´s ocupar o volume Vf e´ Pf (Vf −0 = PfVf ; (55) e o trabalho total ao final da expansa˜o sera´ Wi→ f = PfVf −PiVi. (56) Como as paredes sa˜o adiaba´ticas, temos que o calor Q do sistema e´ nulo. Desta forma, a primeira Lei da Termodinaˆmica fica ∆U = −Wi→ f = PfVf −PiVi (57) Assim, no experimento do tampa˜o poroso, Joule e Thomson meriram as variac¸o˜es de temperaturas a` esquerda e a` direita; no caso especı´fico, eles estudaram a passagem de ar a 20 ◦C, passando por Pi = 2 atm a Pf = 1 atm encontra-se que a variac¸a˜o de temperatura e´ menor que −0,26 ◦C; para o hidrogeˆnio, ∆T ≈ 10−2 ◦C. Assim, extrapolando o caso limite para um ga´s ideal, temos: ∆T = 0 (58) com precisa˜o experimental nota´vel. Isso implica que o trabalho da expansa˜o reversı´vel do ga´s na˜o muda a tem- peratura do ga´s, ou seja, a energia interna na˜o depende da pressa˜o P e por consequeˆncia, nem do volume do sistema Assim, podemos imaginar que se U fosse uma func¸a˜o de duas varia´veis, terı´amos U = U(V,T ) (59) e uma diferencial de U seria dU(V,T ) = ∂VU(V,T )dV +∂TU(V,T )dT (60) 18 mas, como acabamos de relatar sobre os experimentos, temos que U na˜o depende de V , por isso ∂VU(V,T ) = 0 tal que U = U(T ) (61) que quer dizer apenas que a energia interna de um ga´s ideal so´ depende de sua temperatura E´ crucial dizer que esta afirmativa so´ e´ verdade para um ga´s ideal, ou seja, qualquer ga´s que esteja muito rarefeito. Para gases na˜o rarefeitos, existe variac¸a˜o da temperatura para a energia interna, mas que diminui a` medida que o ga´s se torna mais rarefeito 3.3 Entalpia Como a energia interna na˜o depende do volume ocupado por um ga´s ideal, temos que U f −Ui = −(PVf −PVi) =⇒Ui +PVi = U f +PVf (62) de modo que a grandeza H ≡ U +PV (63) assume os mesmos valores para os estados inicial e final de um ga´s ideal; H e´ chamado de Entalpia do sistema e a equac¸a˜o (65) mostra que a entalpia do na˜o se altera em um processo de Joule Thomson Diferenciando, encontramos que dH = dU +PdV +V dP (64) que, com a ajuda da Primeira lei da termodinaˆmica em sua forma diferencial (32), fica dH = CdT +V dP = d′Q+V dP (65) onde um exemplo direto e´ o processo isoba´rico, onde dH = d′Q e quer dizer que em um processo isoba´rico reversı´vel a variac¸a˜o de entalpia e´ igual ao calor transferido; exemplos desses sa˜o reac¸o˜es quı´micas com recipientes abertos, expostos a` pressa˜o atmosfe´rica Outro exemplo muito interessante e´ que podemos pensar no escoamento de um fluido por um tampa˜o poroso que, na auseˆncia de um fluxo de calor, e com o escoamento de uma massa unita´ria M≡ 1 de um fluido de densidade ρ = M/V = 1/V , temos que a entalpia e´ H = u+PV = u+P/ρ; se o fluido estiver sob ac¸a˜o de alguma forc¸a volume´trica, como forc¸a gravitacional ou centrı´fuga, precisamos inserir esses termos na energia potencial por unidade de massa u, de modo que u =U/M→ u+ v2/2+gh e a entalpia fica H = u+ 1 2 v2 +gh+ P ρ (66) que e´ a equac¸a˜o de Bernoulli generalizada; quando um fluido e´ incompressı´vel, temos que na˜o ha´ variac¸a˜o de energia interna em um sistema e por isso recaı´mos a` Equac¸a˜o de Bernoulli que conhecemos no inı´cio do curso 19 4 Capacidades te´rmicas molares de um ga´s ideal C representa a capacidade te´rmica molar, que e´ a capacidade te´rmica de 1 mol de uma substaˆnica; gases sa˜o muito sensı´veis ao caminho em que se trasfere calor no diagrama indicador (P,V ) e, por isso d′QP = CPdT (67) e d′QV = CV dT (68) onde CP e CV sa˜o, respectivamente, as capacidades te´rmicas molares a` pressa˜o constante e a` volume constante; sa˜o as capacidades te´rmicas molares principais Figure 24: Processos isoco´rico e isoba´rico Figure 25: Diagrama indicador O diagrama indicador da Figura (25) representa os proces- sos ocorridos em (24); o processo isoco´rico e´ correspondido a` passagem de a para b e o processo isoba´rico e´ representado pela passagem de a a c, ambos os processos levam o sistema de uma isoterma a outra; a variac¸a˜o da energia interna e´ dada pela Primeira Lei na forma diferencial da Equac¸a˜o (32) e enta˜o podemos escreveˆ-la para cada um dos caminhos; para o processo isoco´rico, dV = 0 e o calor especı´fico e´ CV , resultando em dU = d′QV = CV dT (69) enquanto o processo isoba´rico da´ para a Primeira Lei dU = d′Q−d′W =CpdT −PdV. (70) O pulo do gato e´ notar que ambos os processos levam a` mesma isoterma, a T + dT e, como a energia interna depende apenas da temperatura, temos que a variac¸a˜o da energia interna e´ igual para ambos processos! Isso resulta em CV dT = CpdT −PdV (71) 20
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