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Aula 2 Responsabilidade do Regente

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Aula 2 – Responsabilidades do regente
Como você viu, o papel do regente mudou com o passar dos séculos, fazendo com que ele assumisse responsabilidades sobre o grupo.
Algumas dessas responsabilidades são independentes do tempo, da estrutura do grupo, da forma de subvenção, ou do nível técnico dos músicos.
São tarefas que devem ser cumpridas para garantir o bom funcionamento do grupo, e promover a qualidade de seu trabalho. O descumprimento dessas tarefas pode fazer a diferença entre o seu sucesso ou o seu fracasso.
Essas funções podem envolver desde as atividades de longo prazo, como planejamento e metas, ou as relacionadas ao cotidiano, como desenvolvimento e aprendizado do regente, motivação dos músicos, organização de repertório. 
Nesta aula sobre as Responsabilidades do regente, você verá quais são as principais atividades e como elas devem ser tratadas a fim de promover uma melhora significativa no resultado musical e estrutural de seu grupo.
Como regente, o seu trabalho será sempre avaliado pelo público, pelos seus patrocinadores, pelos seus músicos. Porém, ele deve também ser avaliado por você mesmo.
O regente não deve supor que não há nada mais para aprender. A cada dia, nos ensaios, nos concertos, ou nas reuniões com seus mantenedores, surgirão questões que demandarão suas ações. Para reagir a essas questões, precisará de conhecimento técnico e intelectual.
Por exemplo, o regente é professor (“il maestro”) e deve ensinar com responsabilidade. Suas respostas não devem ser “inventadas”, mas sim baseadas em estudo, conhecimento, preparação e responsabilidade.
Isso se torna ainda mais importante se levarmos em conta que a maioria dos regentes trabalha com jovens. Ao regente cabe a responsabilidade de educar de maneira correta e agir de forma ética em relação a esses jovens. 
Deve buscar sanar suas próprias dúvida antes de repassar uma informação. Não há demérito algum quando o regente fala “não sei, vou procurar saber”. 
As ferramentas disponíveis, hoje, para o crescimento técnico do regente são muitas. Livros, que antes eram de difícil acesso, podem ser comprados pela internet. Vídeos de todos os tipos podem servir como parâmetros. 
Atenção!
Pela facilidade e diversidade no material disponível, cabe ao regente usar seu critério para selecionar o que é relevante, de qualidade e confiável. Esse critério se desenvolve também com estudo.
Outro caminho para o desenvolvimento são os cursos regulares de regência, oferecidos por universidades, conservatórios, professores particulares, e também em festivais. Esses cursos, que em geral são de curta duração, podem ser uma excelente ferramenta para atualização e crescimento do regente.
Por falar em conhecimento, clique no ícone e acesse uma lista de livros que poderão ajudar no seu desenvolvimento.
- Grand traité d'instrumentation et d'orchestration modernes
Autor: Hector Berlioz 
 Treatise on Instrumentation
Autores: Hector Berlioz e Richard Strauss
 On Conducting: (Ueber Das Dirigiren): A Treatise on Style in the Execution of Classical 
Music
Autor: Richard Wagner 
 The Grammar of Conducting: A Comprehensive Guide to Baton Technique and 
Interpretation
Autor: Max Rudolph 
 Handbook of Conducting
Autor: Hermann Scherchen 
 The Compleat Conductor
Autor: Gunther Schuller 
 The Community Orchestra: A Handbook for Conductors, Managers, and Boards
Autor: James Van Horn 
 Techniques of Modern Orchestral Conducting
Autor: Benjamin Grosbayne 
 La Magia de La Batuta
Autor: Friedrich Herzfeld 
 Manual de Instrumentacion de Banda
Autor: Jose Franco Ribate
 Band Director’s Complete Handbook
Autor: Donald E. Bollinger 
 A Arte da Regência
Autor: Sylvio Lago Junior
Assim como deve ter consciência de seu conhecimento e de suas limitações, o regente também deve conhecer as características de seu grupo. O que envolve nível técnico, deficiências, nos aspectos individual e coletivo, e até as características funcionais.
Essas características nortearão muitas de suas decisões.
A primeira delas é o estabelecimento de metas, visando à redução gradativa das deficiências do grupo. 
 Exemplos de metas:
De ordem técnica: “Em um ano deveremos ter uma melhora na articulação dos trompetes”.
De caráter geral na performance: “Em dois anos, precisaremos que o grupo se apresente com mais segurança no palco”.
De funcionamento geral da rotina de trabalho: “ Para o próximo ano, conseguiremos aumentar de um para dois ensaios semanais”.
De caráter estrutural: “É essencial que para o próximo ano tenhamos uma sala de ensaios com acústica mais adequada”.
Outra decisão influenciada por esse conhecimento é a escolha de repertório, a qual deve estar de acordo com o nível técnico de seu grupo. Não se trata do estilo de repertório, mas do grau de dificuldade e das características técnicas.
A escolha de repertório não deve ser feita baseada no que o regente sempre “sonhou” em reger.
Um repertório inadequado para seu grupo pode causar resultados técnicos catastróficos, a curto e longo prazos. 
Já a escolha correta de repertório pode ajudar a reduzir deficiências e aprimorar o crescimento técnico e musical de seu grupo.
É sabido que orquestras, bandas ou outros grupos musicais podem ter sua agenda e seu repertório relacionados aos seus mantenedores, sejam eles públicos (prefeituras, governos estaduais) ou privados (empresas, associações etc.), havendo, assim, compromissos assumidos com esses organismos. Porém, sempre que possível, isso deve ser feito de forma coerente, considerando os aspectos citados anteriormente.
Por exemplo, se o grupo tiver de executar uma obra específica, você deverá buscar uma versão, ou um arranjo, que seja adequado para as características de seu grupo.
Como você viu, ao escolher o repertório, o regente deverá considerar uma série de fatores, pois ela poderá contribuir para o sucesso ou o fracasso do grupo. 
Por exemplo, o repertório deve:
• ser adequado ao nível técnico de seus músicos. 
• gerar interesse e ao mesmo tempo promover o crescimento cultural de seu público. 
• promover o crescimento musical de seu grupo de acordo com suas metas. 
As ferramentas atuais permitem o acesso a diversas obras, inclusive de compositores novos dispostos a escrever de forma séria para os diferentes níveis de grupos, orquestras, bandas, corais etc. 
 
Dica!
A internet facilitou o acesso às obras musicais, tanto através de downloads gratuitos, como pelas incontáveis lojas virtuais.
O material para bandas, em especial, teve um crescimento incrível nesse último século, com música de todos os estilos, para todos os níveis, e todos os tipos de público. É responsabilidade do regente estar atento a esse movimento.
O regente deve elaborar uma agenda de ensaios com o objetivo de se organizar para o período de preparação de repertório. O planejamento é extremamente importante também para os músicos, visto que facilita, no sentido prático, sua agenda geral e seu estudo.
Dependendo do grau de detalhamento dessa agenda, o músico sabe, de antemão, por exemplo, que, em determinado dia, ele poderá chegar apenas na segunda metade do ensaio. Ele sabe quando deverá estar preparado para tocar tal música.
Do ponto de vista do regente, ele poderá planejar seus ensaios de forma que não tenha surpresas no período de preparação de um repertório. Por exemplo, sabe que terá um período de nove ensaios para preparar três obras até o dia do concerto. Essa agenda garantirá equilíbrio na preparação das músicas sem que tenha surpresas no final dessa jornada, bem como a igualdade no nível de preparo em todos os itens do repertório.
Um exemplo de agenda simples de ensaios:
Conhecer as características de seu público é muito importante para o regente, pois isso o ajudará a tomar decisões assertivas. Por exemplo, acerca do conteúdo e da estrutura de montagem do repertório.
Ao tomar decisões, ele visa, fundamentalmente, garantir a satisfação de seu público. Porém, sem deixar de lado sua responsabilidade artística e histórica de contribuir para o crescimentocultural desse público.
O regente sabe que grande parte do sucesso de um grupo deve-se ao apoio de seu público. E esse apoio só é obtido se o regente souber exatamente em que grau de conhecimento esse público se encontra.
 
Dica!
Se você acredita que o seu público não está preparado para, por exemplo, uma Sinfonia inteira de Hindemith ou Beethoven, uma dica é fazer um movimento dela, que é algo relativamente curto e interessante. Com isso, você estará iniciando e público e cumprindo seu papel como propagador de conhecimento.
Lembre-se de que o público sempre pode nos surpreender e, em geral, de forma positiva.
Uma das grandes responsabilidades de um regente é incentivar o crescimento individual e coletivo de seus músicos. Essa deverá ser uma ação rotineira. Direta ou indiretamente, todas as atividades devem visar esse crescimento. Desde a escolha de repertório, estabelecendo desafios, até eventos, como cursos e festivais, que permitam a melhora técnica e musical de seu grupo.
É importante que o regente conheça as limitações de seu grupo e proponha ações para superá-las, assim como deve trabalhar as próprias limitações. Por exemplo, se tem condições de orientar os primeiros passos no uso de um instrumento que ele mesmo não toca. Nesse sentido, ele deve ponderar e respeitar seus limites enquanto professor, pois se não agir de forma responsável e transparente, poderá comprometer o futuro profissional de seus músicos. 
Uma vez que o regente tem em mente que a busca pelo crescimento musical do grupo deve nortear o seu trabalho, ele o estabelece como meta tanto para o grupo como para si mesmo. Com isso, poderá buscar as ferramentas necessárias para tal crescimento.
Os ensaios também são atividades essenciais no dia a dia do regente. Por isso, ele deve estar, de antemão, preparado para conduzi-los.
Para isso, precisará desenvolver uma dinâmica e fluidez, definir a forma de relacionamento com seus músicos, e estabelecer a eficiência e a agilidade de trabalho. Como outros tipos de atividade, o ensaio tem uma tendência natural ao “caos”, e para conduzi-lo, o maestro precisa ter controle, buscando o equilíbrio entre polidez, seriedade, e às vezes descontração. Isso se obtém com o conhecimento psicológico de seu grupo, preparo técnico e experiência.
Outro aspecto necessário para a eficiência dos ensaios é a conquista do respeito dos músicos. Isso se faz com capacidade técnica, e também com comportamento respeitoso durante a convivência em todas as situações e atividades.
O objetivo final de todas as atividades do grupo, bem como de toda a estrutura em volta delas, é o Concerto. E a responsabilidade sobre a realização eficiente dessa atividade também recai sobre o regente. É sua função garantir as condições básicas para que cada músico de seu grupo exerça sua parte de forma tranquila e eficiente.
Aspectos como condições de palco, camarins ou sala de preparação para os músicos, problemas individuais de músicos, problemas com relação ao público, ritualística do concerto, músicos extras são de responsabilidade do regente. É claro que existem grupos que podem contar com equipes que cumpram algumas dessas funções.
O concerto é, e deve ser, o momento de consagração. O músico não pode ter qualquer preocupação ou ansiedade. Seu único foco deve ser a responsabilidade de entrar no palco e fazer sua parte da forma como foi ensaiado, e com eficiência. Por isso, todas as condições devem estar perfeitas.
Quando dizemos “perfeitas”, levamos em conta, claro, as condições particulares de cada regente ou grupo.
Como consequência de ensaios bem realizados, o regente deve transmitir também aos músicos, durante o concerto, tranquilidade, proporcionando-lhes a chance de partilhar, no palco, o prazer do público, cientes de que tudo foi preparado, ensaiado.
Surpresas podem acontecer nos concertos, mesmo com grandes orquestras e com grandes regentes. Às vezes, ocorrem erros durante a performance, seja por problemas pessoais dos músicos, seja por um momento de distração ocasionado por eventos que fogem ao seu controle.
Quando isso ocorrer, o regente deve garantir primeiro que o grupo ou o músico se recupere rápida e tranquilamente do “acidente”. Pois, caso contrário, poderá colaborar para que, a partir de um erro, a performance se mantenha insegura e descontrolada até o fim do concerto. Ele deve transmitir confiança para o músico que cometeu o erro, ajudando-o a transformar o acidente em incidente.
É imprescindível que o regente tenha certeza de que os problemas não ocorreram por falha no cumprimento de suas funções. Para isso, deve analisar sua atuação técnica, psicológica e estrutural.
Do ponto de vista técnico, sua direta participação musical: ensaios, gestual de regência, concepção musical etc.
Sua atuação psicológica vai desde seu comportamento com seus músicos no cotidiano até aos momentos cruciais do concerto. Envolve também suas reações aos eventos que ocorrem durante o concerto, perante situações inesperadas, e a tranquilidade na resolução dessas situações. Incluímos aí seu relacionamento com o público, bem como com as pessoas responsáveis pelo concerto.
Do ponto de vista estrutural, engloba o que funcionou e o que não funcionou na estrutura fornecida aos músicos, ao público, nas condições físicas do espaço de concerto, e/ou como os problemas poderiam ter sido resolvidos.
Outra análise que pode ser feita é a avaliação do grupo sobre o concerto. Em um ensaio seguinte ao concerto, de forma organizada e democrática, o grupo realiza essa avaliação. O regente pode participar dessa análise de forma mais ou menos didática. É critério do regente também “sentir” quanto ele deve participar ou argumentar nessa análise.
Não é uma atividade simples, e deve ser feita com muita atenção, especialmente para manter o espírito positivo, promovendo a motivação e enfatizando os aspectos positivos do concerto.
Nesta aula, você viu que entre as funções primárias do regente estão:
• Atividades relacionadas à sua própria capacitação: 
• crescimento pessoal por meio de estudo; 
• conhecimento das características de seu grupo e o estabelecimento de metas; 
• pesquisa de repertório. 
• Atividades que visam o bom funcionamento do grupo: 
• planejamento de ensaios; 
• preparação técnica para os ensaios. 
• Responsabilidades artísticas: 
• conhecimento do público; 
• a busca do crescimento técnico e artístico individual e coletivo do grupo. 
• Responsabilidades técnicas: 
• realização eficiente de ensaios; 
• garantia das condições para a realização dos concertos. 
REFERÊNCIAS
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DE LA GORCE, Jérôme. Jean-Baptiste Lully (Lulli, Giovanni Battista). Disponível em: <http://archive.is/BE6c> . Acesso: 26.fev.2017. 
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HAMBURGER, M. A Napoleonic Era. In: Bethoven: Letters, Journals and Conversations. US: ABC-Clio, 1978.
HARRIS, B. Construction. In: Home Studio Setup. Burlington, MA: Focal Press, 2014.
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KENNEDY, Michael. Conducting. In: Oxford Concise Dictionary Of Music. Oxford: Oxford University Press, 2007.
LIVELEAK. Conductor disappointed by horn players during his last concert. Disponível em: <https://www.liveleak.com/view?i=cf9_1400502901>. Acesso: 26.fev.2017.
MASLOW, A. H. Uma Teoria da Motivação Humana. In: Motivation and Personality. Nova York: Harper & Brothers, 1954.
SCHERCHEN, Hermann. Particularidades del Acto de Dirigir.  In: El Arte de Dirigir la Orquestra. Barcelona: Talleres Gráficos Ibero-Americanos, 1950.
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WAKIN,Daniel J. The Maestro's Mojo. Disponível em: The New York Times. <http://www.nytimes.com/2012/04/08/arts/music/breaking-conductors-down-by-gesture-and-body-part.html?_r=1&pagewanted=all>. Acesso: 04.mar.2017.
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