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TESE A morte e suas representações na sociedade a arte em desvelar o Cemitério São João BatistaRJ como atrativo turístico

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS 
CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE 
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS 
MESTRADO PROFISSIONAL EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS 
 
 
 
 
 
A MORTE E SUAS REPRESENTAÇÕES NA SOCIEDADE: A ARTE EM DESVELAR O 
CEMITÉRIO SÃO JOÃO BATISTA/RJ COMO ATRATIVO TURÍSTICO. 
 
APRESENTADA POR 
 
JAQUELINE DE OLIVEIRA MONTEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PROFESSOR ORIENTADOR ACADÊMICO CELSO CASTRO 
 
Rio de Janeiro, abril de 2017. 
 
 
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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS 
CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE 
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS 
MESTRADO PROFISSIONAL EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS 
 
 
 
 
A MORTE E SUAS REPRESENTAÇÕES NA SOCIEDADE: A ARTE EM DESVELAR O 
CEMITÉRIO SÃO JOÃO BATISTA/RJ COMO ATRATIVO TURÍSTICO. 
 
JAQUELINE DE OLIVEIRA MONTEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro, abril 2017 
 
 
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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS 
CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE 
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS CULTURAIS 
MESTRADO PROFISSIONAL EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS 
 
 
 
 
 
 
 
PROFESSOR ORIENTADOR ACADÊMICO CELSO CASTRO 
 
JAQUELINE DE OLIVEIRA MONTEIRO 
 
A MORTE E SUAS REPRESENTAÇÕES NA SOCIEDADE: A ARTE EM DESVELAR O CEMITÉRIO SÃO 
JOÃO BATISTA/RJ COMO ATRATIVO TURÍSTICO. 
 
 
 
 
 
 
Dissertação de Mestrado Profissional apresentada ao Centro de Pesquisa e 
Documentação de História Contemporânea do Brasil – CPDOC como requisito parcial 
para a obtenção do grau de Mestre em Bens Culturais e Projetos Sociais. 
 
 
 Rio de Janeiro, abril 2017 
 
 
 
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 Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Mario Henrique Simonsen/FGV 
 
 
 
Monteiro, Jaqueline de Oliveira 
 A morte e suas representações na sociedade: a arte em desvelar o Cemitério São João 
Batista/RJ como atrativo turístico / Jaqueline de Oliveira Monteiro. – 2017. 
 174 f. 
 
 Dissertação (mestrado) – Escola de Ciências Sociais da Fundação Getulio Vargas. Programa 
de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais. 
 Orientador: Celso Castro. 
 Inclui bibliografia. 
 
 1. Turismo macabro. 2. Morte – Aspectos sociais. 3. Monumentos funerários. 4. 
 Ritos e cerimônias fúnebres. 5. Cemitério de São João Batista (Rio de Janeiro, RJ). 
 I. Castro, Celso, 1963- . II. Escola de Ciências Sociais da Fundação Getulio 
 Vargas. Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais. 
 III.Título. 
 
 CDD – 306.4819 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus pais, com amor. 
 
 
 
 
 
 
 
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“[...] Segura teu filho no colo 
Sorria e abrace teus pais 
Enquanto estão aqui 
Que a vida é trem-bala, parceiro 
E a gente é só passageiro prestes a partir [...]” 
 
Trem Bala - Ana Vilela 
 
 
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AGRADECIMENTOS 
 
 
 
 
 
A Deus, por me conceder o milagre da vida, dirigir os meus passos e a capacitar-me. 
Aos meus pais, pelo auxílio de sempre e o amor incondicional. 
A minha querida irmã Jéssica pelo incentivo e companheirismo em todos os momentos. 
Aos meus queridos amigos, irmãos de coração, André e Virgílio, que dão cor a minha 
vida. 
Ao professor Celso pelo auxílio em orientar-me e pelo zelo acadêmico que o torna um 
diferencial. 
 
 
10 
 
 
 
RESUMO 
 
 
 
A morte é fato presente em todas as culturas. O que difere são as representações 
simbólicas atribuídas a cada sociedade por séculos, manifestadas através de signos. 
Nesse universo, a Arte Tumular desempenha o papel de agente perpetuador da história, 
denotando símbolos e costumes de distintos períodos. 
Observar a “cidade dos mortos” é desvelar de maneira sintetizada as preferências com 
que alguns símbolos foram escolhidos pelos entes queridos de forma a representar o 
morto e imortalizar sua memória perante o tempo. 
Compreender as nuances desse nicho é função da atividade turística que, ao fragmentar 
um novo viés turístico, poderá perceber suas imbricações, e, assim, corresponder as 
necessidades e expectativas desse consumidor. 
O trabalho consiste em analisar o Cemitério São João Batista como potencialidade 
turística através de pesquisas qualitativas, além da interpretação da autora vivenciada em 
um Tour na necrópole estudada. 
 
 
PALAVRAS-CHAVE: Arte Tumular. Cemitério. Memória. Interpretação. Turismo. 
 
 
11 
 
ABSTRACT 
 
 
 
The death is a fact present all cultures. What differs them is the symbolism connected to 
each society throughout centuries, manifested though signs. 
In this universe, tombs art plays the role of perpetrator agent of the history, denoting 
symbols ans costumes of differents periods. 
To observe "the city of the deads" is to unveil the synthetised way the preferences that 
some symbols were chosen by the loved ones so to represent the dead immortalize their 
memory before the time. 
To understand the nuances of this niche is the function of the touristic activity that by 
fragmenting a new touristic idea, will be able to understand it's imbrications, there for, 
attend the needs and expectations of those consumers. 
The work consistes in analize the cemitery São João Batista as a tourism potential through 
qualitative researches, beyond if the experienced interpretation of the author in a City Tour 
in the studied necropoli.
 
KEY-WORD: Art Tumular. Cemetery. Memory. Interpretation. Tourism 
 
 
 
12 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
 
Figura 1: Ossuário de Sedlec ................................................................ 29 
Figura 2: Cemitério de Arlington............................................................. 31 
Figura 3: Cemitério da Recoleta, Argentina 32 
Figura 4: Rodolpho Bernardelli cemitério São João Batista................... 33 
Figura 5: Ground Zero............................................................................ 35 
Figura 6 Waterloo e Somme ................................................................ 36 
Figura 7 Massacre em Ruanda ............................................................ 38 
Figura 8 Campo de Auschwitz Birkenau............................................... 40 
Figura 9: Anne Frank.............................................................................. 44 
Figura 10 Prisões hotéis ......................................................................... 45 
Figura 11: Katrina ....................................................................................47 
Figura 12: Julgamento do morto na presença de Osíris ......................... 49 
Figura 13: Sepultamento público ............................................................ 52 
Figura 14: Sepultamento nas igrejas........................................................ 53 
Figura 15: Desembarque dos escravos .................................................. 57 
Figura 16: Dia dos Mortos no México ...................................................... 62 
Figura 17: Dia de los Muertos.................................................................. 63 
Figura 18: Frida Kahlo ............................................................................. 64 
Figura 19: Representações da morte ...................................................... 65 
Figura 20: Caracterização para o dia dos mortos ................................... 65 
Figura 21: Dia dos Mortos................................................................ 66 
Figura 22: Túmulos numerados no chão da igreja em Ouro Preto e 
Mausoléu em estilo neogótico no Cemitério da Consolação . 
 
73 
Figura 23: Escultura no Cemitério de Staglieno, Milan – Forma 
Feminina ................................................................................ 
80 
Figura 24: Escultura no Cemitério de Staglieno, Milan – Anjo ................ 80 
Figura 25: Cemitério Père Lachaise ……………………………………….. 83 
Figura 26: Frederic Chopin ...................................................................... 84 
Figura 27: Cemitério da Recoleta ............................................................ 86 
Figura 28: Cemitério da Recoleta ............................................................ 88 
Figura 29: Cemitério da Recoleta (Evita Peron) ...................................... 88 
Figura 30: Cemitério da Consolação Mausoléu da Família Matarazzo ... 90 
Figura 31: Cemitério de São Paulo – O Último Adeus............................. 91 
Figura 32: Visita ao túmulo de Sylvia de Barros Martins Costa, em 
1913 no Cemitério São João Batista....................................... 
 
 
98 
Figura 33: Pórtico do Cemitério São João Batista .................................. 100 
Figura 34: Google Street View ................................................................ 106 
Figura 35: Alameda principal – São João Batista ................................... 106 
Figura 36: Escultura Orville Derby – Gestão Santa Casa ....................... 107 
Figura 37: Orville Derby – Gestão Rio Pax.............................................. 108 
Figura 38: Representação – Mário Lago ................................................. 110 
Figura 39: Túmulo de Clara Nunes ......................................................... 110 
Figura 40: Representação – Elke Maravilha ........................................... 111 
Figura 41: Distribuição da amostra pesquisada por faixa etária ............. 113 
 
 
13 
 
Figura 42: Distribuição da amostra pesquisada por escolaridade .......... 113 
Figura 43: Distribuição da amostra pesquisada por faixa salarial ........... 114 
Figura 44: Distribuição da amostra pesquisada por motivações ............. 114 
Figura 45: Distribuição da amostra pesquisada por atrativos mórbidos . 115 
Figura 46: Distribuição da amostra pesquisada pelo tema Arte Tumular 115 
Figura 47: Distribuição da amostra pesquisada pela relevância do guia 
no Tour ................................................................................... 
 
116 
Figura 48: Distribuição da amostra pesquisada pela interpretação com 
o guia ..................................................................................... 
 
116 
Figura 49: Distribuição da amostra pesquisada pela característica 
marcante ................................................................................ 
 
117 
Figura 50: Distribuição da amostra pesquisada pela postura do guia .... 117 
Figura 51: Distribuição da amostra pesquisada pelos elementos 
atrativos cemiteriais ............................................................... 
 
118 
Figura 52: Distribuição da amostra pesquisada por dilema ético ............ 118 
Figura 53: Distribuição da amostra pesquisada por rituais ..................... 119 
Figura 54: Distribuição da amostra pesquisada por traço relevante........ 119 
Figura 55: Distribuição da amostra pesquisada por pontos positivos e 
negativos ................................................................................ 
 
120 
Figura 56: Distribuição da amostra pesquisada por interpretações do 
Tour ........................................................................................ 
 
121 
Figura 57: Distribuição da amostra pesquisada por indicação ao Tour .. 121 
Figura 58: Distribuição da amostra pesquisada pelo pagamento e 
sugestões de preços para o Tour .......................................... 
 
122 
Figura 59: Formulário de inventariação ................................................... 125 
Figura 60: Sepultura ................................................................................ 137 
Figura 61: Estela ..................................................................................... 138 
Figura 62: Oratório .................................................................................. 139 
Figura 63: Jazigo capela ......................................................................... 140 
Figura 64: Mausoléu ................................................................................ 141 
Figura 65: Jazigo monumento ................................................................. 142 
Figura 66: Túmulo verticalizado .............................................................. 143 
Figura 67: Orville Derby .......................................................................... 145 
Figura 68: Orville Derby imagem natural ................................................. 145 
Figura 69: Revolta da Armada................................................................. 146 
Figura 70: Jazigo Raymundo Juvêncio ................................................... 147 
Figura 71: Visconde de Moraes .............................................................. 148 
Figura 72: Visconde de Moraes amplo .................................................... 149 
Figura 73: Carlos Prestes ........................................................................ 150 
Figura 74: Rodolpho Bernardelli .............................................................. 151 
Figura 75: Santos Dumont ...................................................................... 152 
Figura 76: Santos Dumont amplo ............................................................ 153 
Figura 77: Mausoléu da Academia Brasileira de Letras .......................... 154 
Figura 78: Elke Maravilha ........................................................................ 155 
 
 
14 
 
Figura 79: Tom Jobim ............................................................................. 156 
Figura 80: Tom Jobim – Palmeira ........................................................... 157 
Figura 81: Cláudio de Souza ................................................................... 158 
Figura 82: Carmem Miranda ................................................................... 159 
Figura 83: Vicente Celestino ................................................................... 160 
Figura 84: Cazuza ................................................................................... 161 
Figura 85: Clara Nunes ........................................................................... 162 
Figura 86: Clara Nunes Jazigo ................................................................ 162 
Figura 87: Selarón ................................................................................... 163 
Figura 88: Mapa do Cemitério São João Batista .................................... 16415 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO................................................................................ 17 
2 TURISMO MACABRO: HISTÓRICO E MODALIDADES............... 20 
2.1 O HORIZONTE MACABRO DO 
TURISMO........................................................................................ 
 
21 
2.2 TERMINOLOGIA............................................................................. 23 
2.3 ATRATIVOS.................................................................................... 25 
2.3.1 Exposições...................................................................................... 27 
2.3.2 A Morte Retratada em Igrejas, Cemitérios, Santuários e Eventos. 28 
2.3.2.1 Igrejas............................................................................................. 29 
2.3.2.2 Cemitérios...................................................................................... 30 
2.3.2.3 Santuários Macabros.................................................................... 34 
2.3.2.4 Locais de Conflito e Sofrimento Macabros................................. 35 
2.3.3 Acampamentos de Genocídios....................................................... 37 
2.3.4 Campos de Concentração 38 
2.3.5 Museus e Memoriais....................................................................... 40 
2.3.6 Prisões............................................................................................. 45 
2.3.7 Locais de Catástrofes Naturais....................................................... 46 
3 IDEALIZAÇÕES E INTERPRETAÇÕES DA MORTE.................... 48 
3.1 A MORTE NA HISTÓRIA................................................................ 48 
3.2 A PERCEPÇÃO DA MORTE NO PERÍODO ESCRAVOCRATA 
NO BRASIL..................................................................................... 
 
55 
3.3 A MORTE NA ATUALIDADE .......................................................... 59 
3.4 DIA DOS MORTOS NO MÉXICO................................................... 60 
4 SEGMENTO DA ARTE TUMULAR: CEMITÉRIOS NO MUNDO... 67 
4.1 CEMITÉRIOS: EXPRESSIVIDADE COMO PRODUTO 
TURÍSTICO NO MUNDO................................................................ 
 
82 
4.1.1 Cemitério Pére Lachaise................................................................. 82 
4.1.2 Cemitério da Recoleta – Argentina – Buenos Aires........................ 86 
4.1.3 Brasil - Cemitério da Consolação – São Paulo............................... 89 
5 CEMITÉRIO SÃO JOÃO BATISTA NO RIO DE JANEIRO: UM 
POTENCIAL TURÍSTICO NO SEGMENTO DA ARTE TUMULAR 
A SER DESVELADO...................................................................... 
 
 
93 
5.1 NECRÓPOLE SÃO JOÃO BATISTA DENTRO DA NOVA 
GESTÃO RIO PAX.......................................................................... 
 
103 
5.2 PESQUISA SOBRE A VIABILIDADE DO CEMITÉRIO SÃO 
JOÃO BATISTA COMO ATRATIVO TURÍSTICO........................... 
 
112 
6 CEMITÉRIO SÃO JOÃO BATISTA COMO PRODUTO 
TURÍSTICO..................................................................................... 
 
122 
6.1 FORMATAÇÃO DO PRODUTO TURÍSTICO: OLHARES 
URBANOS NA NECRÓPOLE......................................................... 
 
126 
6.2 O PAPEL DO GUIA DE TURISMO ................................................. 131 
6.3 ROTEIROS – OLHARES URBANOS NA NECRÓPOLE................ 137 
6.4 IMPLEMENTAÇÃO DO ROTEIRO HISTÓRICO/ARTÍSTICO........ 144 
6.4.1 Orville A. Derby............................................................................... 144 
 
 
16 
 
6.4.2 Revolta da Armada – Leão.............................................................. 146 
6.4.3 Jazigo de Raymundo Juvêncio de Souza....................................... 147 
6.4.4 Visconde de Moraes........................................................................ 148 
6.4.5 Luís Carlos Prestes......................................................................... 149 
6.4.6 Rodolpho Bernardelli....................................................................... 150 
6.4.7 Santos Dumont................................................................................ 152 
6.4.8 Mausoléu da Academia Brasileira de Letras................................... 153 
6.5 IMPLEMENTAÇÃO DO ROTEIRO DOS ARTISTAS..................... 155 
6.5.1 Elke Maravilha................................................................................. 155 
6.5.2 Tom Jobim....................................................................................... 156 
6.5.3 Cláudio de Souza (Dramaturgo) ..................................................... 157 
6.5.4 Carmem Miranda............................................................................. 158 
6.5.5 Vicente Celestino............................................................................. 159 
6.5.6 Cazuza............................................................................................ 160 
6.5.7 Clara Nunes..................................................................................... 161 
6.5.8 Jorge Selarón.................................................................................. 163 
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................ 165 
 REFERÊNCIAS.............................................................................. 167 
 ANEXO A........................................................................................ 172 
 ANEXO B........................................................................................ 174 
 
 
17 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
O fenômeno do turismo ganha representação nas sociedades 
contemporâneas e vem se destacando com expressividade na economia 
global. Com relevância no mercado, a atividade se sobressai na promoção de 
espaços formatados pelo setor, gerando riquezas. 
Por ser recente, a atividade necessita de um embasamento mais sólido, 
de forma a desvelar esse universo complexo, intrincado e segmentado. 
Com o advento de novos segmentos, ganha relevância um turismo 
específico que engloba diversos elementos ligados à temática morte, desde 
campos de concentração, a citar como exemplo Auschwitz Birkenau, até 
cemitérios com diversos elementos históricos contemplativos. 
Compreender as características desse agente social em conjunto com o 
seu grau motivacional será o diferencial na implementação de medidas para 
seu desenvolvimento, visando ao crescimento do setor, à preservação da 
história e ao incremento da atividade. 
Nesse contexto a Arte Tumular desponta como um viés dentro do 
universo do turismo cultural que percebe a necrópole como um espaço possível 
de contemplação artística. Nessa observação, o cemitério é vislumbrado como 
um museu a céu aberto capaz de abrigar obras de diversos períodos de 
escultores e artistas. 
Embora de forma incipiente, a implementação da atividade já chegou ao 
turismo no Brasil, tendo em vista a chegada de circuitos em âmbito nacional 
que exploram esse nicho, como em São Paulo, no cemitério da Consolação, 
por exemplo. Desse ponto, a relevância e pertinência da abordagem do tema 
no presente estudo, busca responder a seguinte indagação: Pela sua 
representatividade simbólica, a necrópole São João Batista poderia ser 
percebida como atrativo turístico focado na Arte Tumular? 
A tessitura do trabalho objetiva conhecer o segmento do turismo da Arte 
Tumular observado no cemitério São João Batista, em Botafogo, na cidade do 
Rio de Janeiro, e, especificamente o trabalho consiste em: traçar dois roteiros 
 
 
18 
 
turísticos no cemitério de forma a auxiliar os turistas na visitação, direcionando-
os quanto à disposição das sepulturas na necrópole. Através desse trajeto, 
procura-se amparar os turistas nessa visitação que desejem desvelar tal 
segmento como forma de entretenimento, de sentir emoções fortes;identificar 
suas motivações, necessidades e expectativas. 
O caminho metodológico seguido para estudo do tema compreende a 
pesquisa bibliográfica, através de artigos nacionais e internacionais, além de 
livros que abordem a temática da morte dentro da concepção da Arte Tumular. 
De forma a obter o conhecimento a respeito da experiência no turismo 
nacional optou-se também pela observação da autora como participante na 
visita técnica realizada pelo historiador Milton Teixeira a necrópole do cemitério 
São João Batista, no Rio de Janeiro, além de entrevistas baseadas na 
pesquisa de campo, com aplicação de questionários relacionados à temática 
cemiterial. 
A estruturação do trabalho foi implementada em sete capítulos, incluindo 
a introdução ao tema e a conclusão do trabalho. 
O capítulo dois revela o panorama global do segmento, fragmentando 
suas possibilidades no segmento do Dark Tourism, de forma a compreender as 
motivações que induzem o ser social a escolher um segmento em relação ao 
outro. 
Todorov e Moreira apud (Rogers, Ludington&Graham, 1997, p. 2) 
conceitua: “Sempre que sentimos um desejo ou necessidade de algo, estamos 
em um estado de motivação. Motivação é um sentimento interno é um impulso 
que alguém tem de fazer alguma coisa”. 
O capítulo três analisa as representações e simbologias da morte em 
diversas culturas, a mudança do sepultamento do território sagrado para o 
espaço extramuros ad sanctos, e como a morte era interpretada na sociedade 
da época. O medo pelo desconhecido estimula a imaginação do indivíduo e o 
faz questionar sobre a sua vida e suas atitudes em sua trajetória. Essa 
convicção clara de que não seremos eternos provoca múltiplos sentimentos em 
todas as sociedades em diversos períodos históricos. Dependendo do tempo 
abordado, a morte é encarada como um fenômeno natural da vida ou em 
 
 
19 
 
outros é observado com repulsa, medo e esquecimento. Entretanto, outros 
utilizam o término do ciclo da vida para eternizá-lo, como é visto em muitos 
cemitérios no mundo cuja sociedade buscava eternizar sua ascensão social em 
monumentos fúnebres. 
O capítulo quatro foca o segmento da Arte Tumular no mundo e no 
Brasil, enfatizando o objeto de pesquisa o cemitério São João Batista com seus 
estilos personificados em ornamentos mortuários usados como mecanismo de 
retenção da memória. 
O capítulo cinco contempla a percepção de possíveis turistas, baseado 
na pesquisa de campo, a frequentarem esse novo atrativo turístico. Optou-se 
pela observação da autora no Tour realizado pelo Milton Teixeira em conjunto 
com aplicações de questionários aos participantes do evento, com o intuito de 
averiguar possibilidades de consumo desse novo nicho turístico. 
O capítulo seis aborda o cemitério São João Batista como um potencial 
atrativo no campo da Arte Tumular. Para adentrar nesse universo 
contemplativo, traçou-se duas rotas temáticas intituladas “Roteiro Turístico 
Histórico/Artístico” e “Roteiro dos Artistas”, de forma a auxiliar no deslocamento 
apreciativo pelo espaço. 
No capítulo sete fazem-se as considerações com a síntese final do 
assunto, a partir das interpretações obtidas para esse recente segmento, ainda 
a ser desvelado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
20 
 
2 TURISMO MACABRO: HISTÓRICO E MODALIDADES 
 
 
A atividade turística que se insere no terceiro setor, vinculada à 
prestação de serviços, estimula fortemente a economia de diversos países que 
buscam, em suas diretrizes, mecanismos de desenvolvimento pautados na 
arrecadação de divisas e no desenvolvimento social. 
Sob essa afirmativa a (OMT) 2014, evidencia as tendências:1 
 
• Las llegadas de turistas internacionales (visitantes que pernoctan) 
aumentaron un 4,3% en 2014, alcanzándose la cifra récord de 1.133 
millones de llegadas, después de haberse traspasado en 2012 la 
cota de los mil millones 
• La región de las Américas registró el mayor crecimiento, con un 
aumento del 8% en llegadas internacionales, seguida de Asia y el 
Pacífico y de Oriente Medio (ambas +5%). En Europa las llegadas 
aumentaron un 3%, y un 2% en África. 
• Los ingresos por turismo internacional alcanzaron la cifra de 
1.245.000 millones de dólares de los EE.UU. a escala mundial en 
2014, partiendo de una cifra de 1.197.000 millones de dólares en 
2013, lo que significa que se ha producido un crecimiento del 3,7% 
en términos reales (teniendo en cuenta las fluctuaciones en los tipos 
de cambio y la inflación) […]. 
 
 
Por sua relevância socioeconômica, o turismo adaptou-se a um mercado 
ávido por experiências inusitadas que atendessem às necessidades e 
expectativas de um turista contemporâneo, rotulado como “pós-turista”, que 
não se contentava mais com o trivial massificado ofertado pelas poucas 
agências. 
Uma nova tendência de consumo turístico fragmentado cada vez mais 
nas mudanças culturais induz o consumidor pós-moderno a buscar produtos 
fora do padrão tradicional. Assim, o turista é estimulado a procurar o diferente, 
baseado nas múltiplas identidades de cada região. 
 
 
 
1 • As chegadas de turistas internacionais (visitantes que pernoitam) aumentaram 4,3% em 2014, atingindo a cifra 
de 1,133 milhões de chegadas. 
• A região das Américas registrou o maior crescimento, com um aumento de 8% em chegadas internacionais, 
seguida de Ásia e Pacífico e do Oriente Médio. Na Europa as chegadas aumentaram 3% e na África 2% 
• Os ganhos ligados ao turismo internacional alcançaram a cifra de 1.245.000 milhões de dólares em 2014. 
 
 
21 
 
Sob a ótica de Molina (2003, p.111): 
 
 
A pós-modernidade é atravessada pelo caos. Na pós-modernidade a 
cidade deixa de ser um local tedioso e passa a ser um local com 
múltiplas identidades, atividades e alternativas para satisfazer amplos 
grupos e diversos interesses: o indivíduo já não é mais um, é muitos, é 
um ser errante com muitas identidades e papéis a representar, e que 
na hora do consumo não pode ser classificado. 
 
 
 
Dessa forma o mercado busca se adequar a esse novo estilo de vida, 
atendendo o usuário de forma personalizada. O mercado turístico propicia essa 
nova forma de consumo baseado nas diversidades de escolhas mediante a 
busca pelo novo. O novo olhar faz com que um “novo turista”, mais exigente, se 
volte para as variações turísticas, deixando à margem o destino já previsível, 
estático no tempo. (SWARBROOKE; HORNER, 2002). 
Nessa visão a atividade turística se fragmentou. O que era centralizado 
e massificado ditado pela industrialização, atualmente ganha forma singular, 
pois o turista tem consciência de que é único. Amplas segmentações foram 
estabelecidas para atender a essa demanda extremamente exigente. Assim, 
outros segmentos surgem a cada necessidade de um novo nicho que 
desponta. Dentro dessas múltiplas escolhas, o Turismo Macabro aparece como 
uma possibilidade turística a ser desvelada. 
 
2.1 O HORIZONTE MACABRO DO TURISMO 
 
O fascínio pela morte estimula o imaginário de uma grande parcela da 
sociedade que reconhece a finitude do tempo como uma fragilidade terrena. Se 
não existem mecanismos de controle sobre a morte, o sentimento de finitude 
torna-se presente no imaginário da população, aguçando a curiosidade pelo 
desconhecido. Esse deslumbramento chegou até o mundo do turismo por 
meio de atrativos tão diversos como: campos de concentração, prisões, 
cemitérios, memoriais, museus, exposições macabras, dentre outros. 
Antecedendo a terminologia atual “turismo macabro”, o fenômeno surgiu 
pela curiosidade de pessoas, fascinadas pelo contexto mórbido de tragédias e 
 
 
22 
 
catástrofes. Esse tipo de turismo tem uma longa história e tem sido descrito 
como uma tradição thanatológica que remonta às visitações de cenários de 
batalhas como a deWaterloo ou as ruínas de desastres naturais como as de 
Pompéia. 
O que parece ser uma crescente curiosidade mórbida não é fato recente. 
No começo do século XI, as pessoas já se deslocavam para lugares como 
Jerusalém para visitar o local da crucificação de Cristo (DALE; ROBISON, 
2008). 
Alguns exemplos citados por Stone (2006) revelam atrações macabras 
que eram admiradas pelos precursores do Dark Tourism. Os jogos realizados 
por gladiadores no Coliseu eram comemorados por uma multidão que vibrava 
com a morte de um competidor. As execuções feitas em praças, além de serem 
aplicadas como forma de castigo e lembrete, serviam de espetáculo público. 
O começo desse segmento de forma empresarial foi marcado pelos 
precursores dessa atividade, que em 1838 levaram excursionistas ingleses 
através de transporte ferroviário para a Cornualha a fim de participar como 
espectadores do enforcamento de dois assassinos (BOORSTIN, 1987 apud 
STONE, 1996). As motivações iniciais que influenciaram esse público a se 
deslocar de suas casas direcionando-se a esses atrativos podem ser 
encontradas no “deslumbramento” com a morte. 
A busca por tais lugares alavancou o crescimento de uma nova 
segmentação, no sentido de reafirmar e diversificar produtos referentes a esse 
tema. A morte real ou recriada tornou-se preponderante, servindo como 
influenciadora na motivação do turista que escolhe conhecer destinos 
mórbidos. Essa mudança de comportamento desvela esse segmento que era 
considerado como o lado “sujo” da atividade turística, porém tornou-se 
apreciado, por um público específico, em relação aos outros segmentos. 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
2.2 TERMINOLOGIA 
 
 
Existem divergências entre os estudiosos sobre o tema a respeito da 
designação a ser adotada para o fenômeno do turismo macabro. Termos como 
“dark tourism”, turismo sombrio, turismo de horror, turismo necrófilo, turismo de 
aflição, thanatoturismo, turismo negro são alguns dos utilizados por diferentes 
autores com nuances específicas. 
O termo turismo macabro foi introduzido por dois estudiosos do assunto, 
Malcolm J. Foley e John Lennon (2000) em um artigo do International Journal 
of Science of Heritage Studies, para classificar viajantes que apreciavam 
atrações ou destinos envolvidos com a morte real ou fictícia. 
Para Foley e Lenon (2000), existem especificidades no emprego do 
termo, ou seja, não é considerado turismo macabro se as visitações aos locais 
de horror forem realizadas por parentes e/ou amigos das vítimas. Em 
contrapartida, pessoas que se deslocam sem vínculo com as vítimas de forma 
casual, com o propósito de desvendar o lado sombrio, encaixar-se-iam nesse 
conceito. 
Outra designação apontada por Seaton apud Stone (1996) é a 
thanatologia, que tem como objetivo a contemplação da morte. Refere-se ao 
deslocamento de um indivíduo ou grupo a um local, motivado total ou 
parcialmente pelo desejo de interagir com formas reais ou recriadas da morte 
em vários graus. A esse respeito, Seaton apud Stone (1996) enumera cinco 
categorias: viagens para destinos de testemunhos públicos de morte; 
deslocamento para lugares que tiveram em seu contexto mortes individuais ou 
de massa, depois de fato trágico; viagens para apreciar monumentos, incluindo 
cemitérios, criptas e memoriais de guerra; viagens para ver os elementos de 
prova ou representações simbólicas de morte em locais, como museus 
contendo armas de morte ou exposições específicas que reconstroem eventos 
ou atividades e viagens de simulação da morte. O prazer revelado nos 
cemitérios, por exemplo, está em observar lápides, imagens, epitáfios, entre 
outros, interpretando assim todo o conjunto arquitetônico. 
 
 
24 
 
Alguns museus chamados de mórbidos também concentram em seus 
espaços materiais que direcionam os visitantes a vivenciarem um contexto 
histórico de forma jocosa com simulação de períodos históricos de batalhas 
que remetam à morte, utilizando reencenações dessas lutas. 
Para Panosso Netto e Ansarah (2009, p. 350) pode-se conceituar 
turismo necrófilo como “aquele no qual as pessoas são atraídas a visitar os 
lugares relacionados à morte, sejam eles cemitérios, memoriais ou mesmo 
lugares onde ocorreram tragédias, genocídios, batalhas, etc”. 
O necrófilo pode expressar seu interesse de diversas maneiras, desde a 
escolha de materiais de escritas, de áudios ou vídeos que o remetam a 
informações trágicas da vida humana, ou mesmo com visitas a ambientes 
fúnebres. 
Assim, as conversas do cotidiano que remetam à morte como tema 
principal são consideradas como fait divers. Na ótica de Barthes (2003) apud 
Panosso Netto e Ansarah (2009, p. 353): 
 
O fait divers é uma arte de massa: seu papel é, ao que parece, 
preservar no seio da sociedade contemporânea a ambiguidade do 
racional e do irracional, do inteligível e do insondável; e essa 
ambiguidade é historicamente necessária, na medida em que o 
homem precisa ainda de signos (o que o tranquiliza), mas também na 
medida em que esses signos são de conteúdo incerto (o que o 
irresponsabiliza) ele pode assim apoiar-se, através do fait divers, 
sobre uma certa cultura; mas, ao mesmo tempo, pode encher in 
extremis essa cultura da natureza, já que o sentindo que ele dá à 
concomitância dos fatos escapa ao artifício cultural, permanecendo 
mudo. 
 
 
Um outro termo que aparece ligado ao turismo macabro é o das Black 
Spots (Pontos Negros) que se relacionam ao segmento por serem locais em 
que aconteceram episódios extremamente violentos como mortes de 
celebridades, atraindo centenas de visitantes, como por exemplo, o local de 
acidente de carro sofrido pelo ator James Dean, em 1955, o do assassinato do 
presidente John F. Kennedy, em Dallas em 1963, ou onde repousam os restos 
mortais de pessoas famosas como o cemitério Pére Lachaise, em Paris, local 
em que se encontra o túmulo de Jim Morrison, cantor, compositor e poeta da 
banda The Doors. 
 
 
25 
 
Esse horizonte sombrio do turismo possui outra vertente que é 
constituída pelos museus do Holocausto, onde história e memória são 
preservadas com a finalidade de manter viva a lição humanitária derivada da 
tragédia. Por outro lado, o tempo cronológico, um intensificador de sensações 
macabras e fatos recentes, está mais presente na memória da população, por 
seus sobreviventes e testemunhas, trazendo à tona a comoção coletiva. 
O turismo macabro possui graus que diferenciam sua categorização. 
Essa diferença é observada em locais que interpretam a morte e em locais que 
vivenciam a morte. Assim, a experiência é mais tenebrosa quando há uma real 
identificação com o fato, como acontece no campo de concentração Auschwitz 
– Birkenau, em que a morte é relatada com toda a sua morbidez. Isso propicia 
ao visitante vivenciar toda a trajetória de horror ocorrida no campo de 
concentração de forma mais autêntica. 
 
2.3 ATRATIVOS 
 
A morte é inerente ao ser humano; sendo assim, a finitude é observada 
como um tempo limitado de vida que cada indivíduo possui. Entretanto a 
efemeridade aciona o desejo da eternidade retratada pela lembrança material 
deixada pelos familiares, como por exemplo, em lápides e monumentos 
tumulares. 
A dualidade entre a vida e a morte está presente em todos os contextos 
históricos da humanidade. Assim, os espaços urbanos dialogam com a 
temática da morte em seu cotidiano e o mundo entre os vivos e os mortos se 
mescla em um único território, aguçando a curiosidade de muitos em desvelar 
o desconhecido pós-vida. 
A implementação dos espaços que reverenciam a morte proporcionou a 
cristalização da memória representada pelos entes queridos, transformando-os 
em lugares de contemplação, comoção, saudosismo, dentre outros 
sentimentos que são expressos por quem visita o lugar. 
Sob essa ótica mórbida dentro da concepção turística,existem diversos 
subconjuntos dentro desse universo sombrio. Alguns destinos de morte e 
 
 
26 
 
sofrimento encontram-se relacionados à guerra, cemitérios, morte de 
celebridades, Holocausto, entre outras ofertas bizarras. 
Na visão de Seaton (2006) apud Fonseca, Seabra et al (2015; pg.162) 
os espaços são divididos em graduações de intensidades:2 
 
[...]Some researchers consider that dark tourism sites can be 
measured accordingly to their degree of darkness, in a continuum 
from the darkest to the lightest (Stone, 2006). In accordance with this 
idea, Seaton (2006) defined seven types of Dark Tourism suppliers: 
 
• Dark Fun Factories: visitor sites, attractions and tours that have an 
entertainment focus and commercial ethic. They represent fictional 
death and macabre events, as that, they need a high degree of 
tourism infrastructures. At this degree, attractions such as the London 
Dungeon or the Dracula Park should be pointed out, as being the 
lightest dark tourism places in the world. 
• Dark Exhibitions: offer products that circle around death and 
suffering with an often commemorative, educational and reflective 
message. These exhibitions are drawn to reflect education and 
potential learning activities. The museums that display death with 
educational and reminiscent purposes are the best examples of dark 
exhibitions. 
• Dark Dungeons: places/attractions related to justice and criminal 
matters, namely former prisons. Dark Dungeons offer products that 
combine entertainment and education as a main merchandise focus. 
The Alcatraz Federal prison, the Robben Island prison, the Missouri 
State penitentiary among others, are good examples of dark 
dungeons. 
• Dark Resting Places: focuses upon the cemetery or grave markers 
as potential products for Dark Tourism (Seaton, 2002). More and more 
tourists include the cemeteries in their tours. Those of large dimension 
are true open-air museums that include several architectural works 
and sculptures of refined taste. The most visited cemeteries nowadays 
are the Cimetiere du Pere Lachaise, the Arlington National cemetery, 
La Recoleta cemetery and many others. 
• Dark Shrines: sites based on the act of remembrance and respect 
for the recently deceased. Dark Shrines are non- purposeful for 
 
2 Alguns estudiosos classificam o Turismo Macabro em graduações de categorias que vão das graduações mais 
brandas até as graduações mais escuras. 
Assim, Seaton definiu sete categorias dentro do Dark Tourism: 
-Fábricas Dark Fun: Estão relacionados a visitação a atrativos que tem o foco no entretenimento com viés comercial. 
Representam a morte recriada de forma comercial, porém com infraestrutura. O exemplo de atrativo é o Dungeon 
em Londres ou o castelo do Drácula que são considerados os lugares mais brandos da categoria. 
-Exposições: Mostram elementos que estão atrelados à morte e ao sofrimento, porém como o objetivo de provocar 
a reflexão e a educação. 
-Dark Dungeons: Prisões antigas que são utilizadas como atrativos dentro desse segmento. Exemplo é a prisão 
Federal de Alcatraz. 
-Cemitérios: São museus a céu aberto que denotam diversas obras arquitetônicas que são contempladas pelos 
turistas. 
-Dark Shrines: São santuários que traz à tona a comoção das pessoas pelas mortes recentes e são cultuados pelas 
lembranças e respeito aos mortos. 
-Dark Conflict Sites: Guerras recriadas nos campos de batalhas. Tem o foco educacional. 
-Campo de concentração: É a categoria mais escura definida pelo autor, pois a visita é feita dentro do espaço onde 
aconteceram as atrocidades, exemplos como Auschwitz-Birkenau e Ruanda. 
 
 
27 
 
tourism and do not possess much tourism infrastructures due to their 
temporal nature. 
The most evident example of a Dark Shrine are the Solomon Isles 
where the battle of Guadalcanal occurred. 
• Dark Conflict Sites: sites associated with war and battlefields. These 
sites have an educational and commemorative focus, as well as an 
historic one. The Solomon Isles, where the battle of Guadalcanal 
occurred, are one of the well-known dark conflict sites. 
• Dark Camps of Genocide: are those sites that mark a concentration 
of death and atrocity. Currently, the tourist attractions associated with 
genocides and wars constitute one of the largest categories of visiting 
spots around the world. Auschwitz- Birkenau, Cambodja, and 
Rwanda, can be highlighted as being, some of the few sites, where 
past genocides and mass atrocities happened. 
 
 
À luz dessa temática percebe-se a grande diversidade de opções 
referentes a essa nova possibilidade de turismo. Por consequência, há 
necessidade de inventariar os segmentos relacionados a esse nicho e 
classificá-los de modo a conhecer sua tipologia e seus limites. 
 
 
2.3.1 Exposições 
 
 
Seu enfoque está ligado diretamente ao entretenimento comercial ou 
educacional. Os turistas desse segmento visitam locais cuja morte pode estar 
representada de forma real ou recriada. Possuem uma ampla infraestrutura 
para atender de forma adequada os visitantes. Sua categoria está na forma 
mais branda do turismo macabro, sendo representados como menos 
autênticos. Exemplos desse gênero podem ser encontrados no Dungeon, em 
Londres, que utiliza fotos, retratando um passado mórbido como a peste negra 
ou as aventuras do Conde Drácula. 
As exposições macabras possuem ainda o intuito educacional voltado ao 
aprendizado, de modo a proporcionar ao visitante uma reflexão sobre o tema 
morte. Nesse conceito são ofertados produtos informativos com base ética no 
histórico trágico, fazendo com que esse segmento seja classificado como uma 
categoria mais pronunciadamente sinistra. 
Essas exposições podem ser feitas distantes do espaço real da tragédia, 
como por exemplo, o Museu Memorial 9/11 que expõe imagens e artefatos dos 
 
 
28 
 
atentados do dia 11 de setembro. O principal objetivo é captar a história e 
promover o sentimento de valorização das vítimas. 
 
 
2.3.2 A Morte Retratada em Igrejas, Cemitérios, Santuários e 
Eventos 
 
 
 
O ser humano com toda a sua complexidade tem consciência de que é 
finito. Todos possuem um ciclo fisiológico, cujo processo é baseado em quatro 
fases: nascimento, crescimento, reprodução e morte. 
A morte é representada com variâncias na história da humanidade. No 
texto bíblico, no capítulo de Gênesis, a morte é figurada com a expulsão de 
Adão e Eva do paraíso pelo pecado, sendo condenados a viver como meros 
mortais, desprovidos assim da vida eterna. Na Grécia, a palavra é idealizada 
pelo Deus Thanatus, que representa de forma simbólica a pulsão da morte, 
interagindo erotismo e idealismo com Eros, representado como a pulsão da 
vida. 
A morte é encarada por muitos como sendo um assunto a ser esquecido 
e somente abordado em ocasiões de uma perda física de um ente querido. 
Contudo, em algumas culturas é interpretada e vivenciada de maneira natural, 
sendo comemorada com rituais, que podem perdurar por dias, como em certas 
tribos indígenas. Um exemplo dessa abordagem é na cidade do México, em 
que se reverencia, mediante seus costumes e ritos, essa passagem. 
Assim, a morte é um tema extremamente polêmico que divide opiniões, 
ocasiona aversão, mas principalmente traz fascínio para grande maioria que 
busca respostas para compreender no processo da morte o significado da vida. 
A sociedade contemporânea tem intitulado os potenciais turísticos que 
lidam com a morte como um espaço romantizado e não com uma conotação 
mórbida. Existe o encantamento com os mortos e com isso esses espaços, 
tornaram-se centros históricos com intuito ético e comemorativo, fazendo parte 
da herança cultural. 
 
 
 
29 
 
2.3.2.1 Igrejas 
 
 
O Ossuário de Sedlec, situado na República Tcheca,é uma capela cristã 
ornamentada com ossos humanos que foi construída no século XIV em estilo 
gótico francês. Em 1278 o superior do mosteiro trouxe uma quantidade de 
terras do calvário, local onde Jesus foi crucificado, adicionando-a ao cemitério. 
Muitos acreditavam que por esse ato, as terras fossem consideradas santas, 
fazendo com que a nobreza pleiteasse ser enterrada nesse ambiente. No 
século XIV mais de 30 mil pessoas foram mortas em consequência da peste, 
sendo enterradas em valas rasas no cemitério. Parte do cemitério foi destruída 
por guerras que ocorreram no local o que culminou na retirada dos ossos e no 
seu armazenamento na capela. Assim, as peças começaram a compor os 
adereços da igreja com candelabros, lustres, pias batismais, entre outras que 
impressionam pela precisão e riqueza de detalhes de forma assombrosa 
(INTERATA, 2008). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1: Ossuário de Sedlec 
Fonte: A capela decorada com ossos humanos, 2016 3 
 
 
 
3
 Sorisomail.com. Disponível em: http://m.sorisomail.com/imagens-engracadas/151704.html. 
Acesso em 20 de jul. de 2016. 
 
 
30 
 
Outro destaque nessa vertente mórbida é a Capela dos Ossos, um 
monumento criado na Igreja de São Francisco, na cidade de Évora, em 
Portugal. Sua construção foi realizada no século XVII por três monges que 
eram contra a reforma religiosa. Como forma de protesto, buscaram 
reverenciar a transitoriedade da morte com decoração enfatizando a morte, 
como ossos humanos, pinturas com a temática morte e esqueletos pendurados 
de forma inusitada. 
Poemas são encontrados na igreja enaltecendo a morte como algo 
comum a todo ser humano. Um dos poemas citados na igreja e atribuído ao 
Pároco da freguesia Padre Antônio da Ascensão Teles: 
 
Poema sobre a existência 4 
Aonde vais, caminhante, acelerado? 
Para...não prossigas mais avante; 
Negócio, não tens mais importante, 
Do que este, à tua vista apresentado. 
Recorda quantos desta vida tem passado, 
Reflete em que terás fim semelhante, 
Que para meditar causa é bastante 
Terem todos mais nisto parado. 
Pondera, que influído d'essa sorte, 
Entre negociações do mundo tantas, 
Tão pouco consideras na morte; 
Porém, se os olhos aqui levantas, 
Para...porque em negócio deste porte, 
Quanto mais tu parares, mais adiantas. 
 
 
 
2.3.2.2 Cemitérios 
 
O cemitério de Arlington (EUA) é um dos santuários mais simbólico do 
país. Com os seus heróis de guerra, além de líderes expressivos do país como 
John Kennedy, recebe mais de quatro milhões de visitantes anualmente. Com 
o seu formato caracterizado por longas fileiras a necrópole abriga mais de 
trezentos mil oficiais sepultados, sendo os mais recentes vitimados nas guerras 
do Afeganistão e do Iraque.5 
 
4
 Extraído do site de Bruno Gomas. Disponível em: 
http://www.suricatahomem.blogspot.com/2006_08_01_archive.html Acesso em: 17 jun. 2016 
5 Disponível em: https://noticias.terra.com.br/cemiterio-de-arlington-o-santuario-dos-herois-
americanos,58dce9f6e80ea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html Acesso em: 21 de jul. De 2016. 
 
 
31 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 2: Cemitério de Arlington6 
Fonte: Cemitério de Arlington, 2016 
 
O cemitério da Recoleta é um importante atrativo na cidade de Buenos 
Aires, na Argentina. O diferencial desse cemitério é a forma em que os mortos 
são sepultados dentro dos mausoléus. O caixão não é enterrado e fica em 
destaque para apreciação do público. Depois de certo tempo, esses restos 
mortais são transferidos para caixas menores e dispostos novamente para que 
sejam visualizados. O cemitério abriga formas diversas de obras de arte, 
estimulando a visita de inúmeras pessoas que veem o local como um museu a 
céu aberto. Os jardins que rodeiam o cemitério também são aproveitados pela 
maioria dos seus moradores para a prática de lazer. 
A necrópole da Recoleta é evidenciada pelo sepultamento de inúmeras 
celebridades, dentre elas se destacam o túmulo de Evita Perón e os de 
presidentes do país como Carlos Pellegrini. 
O túmulo mais visitado do local é da marcante Evita Perón que teve uma 
trajetória meteórica de sete anos, saindo do anonimato para os palcos como 
atriz para após liderar uma atividade política como primeira-dama da Argentina. 
De personalidade forte e carisma incontestável promoveu diversas lutas em 
 
6 Disponível em: 
https://www.google.com.br/search?q=cemiterio+arlington&biw=2277&bih=1095&source=lnms&tbm=is
ch&sa=X&ved=0ahUKEwjF5eHSwo3OAhXCFZAKHVX2AK0Q_AUIBygC&dpr=0.6#imgrc=C3a9Xftm9aq55M
%3A. Acesso em: 27 de jun. de 2016. 
 
 
32 
 
favor das classes menos favorecidas, morrendo aos 33 anos, vítima de câncer 
uterino. 
 
Figura 3: Cemitério da Recoleta, Argentina. 7 
Fonte: Recoleta, 2016. 
 
Outro cemitério que atrai turista é o Pére Lachaise, maior cemitério de 
Paris e um dos mais expressivos do mundo. De estilo neoclássico foi criado em 
1803, pelo arquiteto Alexandre Théodore Brongniart (CEMITÉRIO PÉRE 
LACHAISE, 2008).8 
O cemitério começou a funcionar com a inumação de uma menina de 
cinco anos. A não aceitação dos parisienses ao local era devido à dificuldade 
de deslocamento até a necrópole, sendo alterado mais tarde esse pensamento 
com o sepultamento de diversas personalidades como Jim Morrison. 
No Brasil destacam-se como locais de visitação os cemitérios São João 
Batista, no Rio de Janeiro e da Consolação, em São Paulo. O cemitério São 
 
7 Disponível em: 
https://www.google.com.br/search?q=cemit%C3%A9rio+da+recoleta&biw=2277&bih=1095&source=ln
ms&tbm=isch&sa=X&sqi=2&ved=0ahUKEwikutGrxY3OAhXJjZAKHU8FB_gQ_AUIBigB&dpr=0.6#imgrc=7Y
46-0hR9DtqHM%3A . Acesso em: 26 de jun. 2016. 
8
 Disponível em: http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/franca/cemiterio-do-
perelachaise.php. Acesso em: 28 de jun. 2016. 
 
 
33 
 
João Batista foi implantado pela Santa Casa de Misericórdia em 1852, 
possuindo atualmente cerca de 65 mil jazigos. Dentre esses, repousam 
diversas celebridades com túmulos rebuscados como Carmem Miranda Santos 
Dumont, imortais da Academia Brasileira de Letras, presidentes da República, 
músicos e atores, entre outros personagens ilustres. 
Diversos túmulos retratam exemplos de arte sacra como trabalhos 
esculpidos em mármores, bronze e granito que ostentam as quadras dos mais 
abastados Na principal avenida, rotulada de Vieira Souto9, são encontrados 
obras de artes de diversos artistas como Rodolfo Bernadelli e Heitor Usai 
(PIMENTA, 2008). 
Figura 4: Rodolpho Bernardelli Cemitério São João Batista, Brasil. 10 
 
Fonte: Própria autora 
 
2.3.2.3 Santuários Macabros 
 
 
9 Bairro de Ipanema onde o metro quadrado é o mais caro do Brasil. 
http://g1.globo.com/economia/noticia/2012/06/no-rio-m-de-imovel-de-luxo-pode-custar-mais-
que-o-dobro-do-de-sp.html 
10 Disponível em: 
https://www.google.com.br/search?q=tumulo+de+rodolfo+bernardelli,+sao+joao+batista&biw=2277&b
ih=1095&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwi-
rPqiyI3OAhWCFZAKHVRBDlcQ_AUIBygC&dpr=0.6#imgrc=5YomC8LM6jrqdM%3A. Acesso em: 01 de jul. 
de 2016. 
 
 
34 
 
Os santuários macabros são locais que remetem à lembrança de mortes 
recentes como ato comercial. São construídos próximos aos locais das 
tragédias e em um espaço curto de tempo em relação ao ocorrido. Muitos 
desses santuários não foram criados propositalmente para a atividade turística, 
por isso possuem pouca infraestrutura no local. Dessa forma, esses espaços 
são criados por uma demonstração de comoção coletiva, transformandoo local 
em uma massa de homenagens florais como forma de respeito às vítimas. 
Um exemplo marcante a ser destacado é o World Trade Center. As 
torres gêmeas, como eram conhecidas, foram destruídas por terroristas no dia 
11 de setembro de 2001, vitimando quase três mil pessoas. O local virou centro 
de atração de Nova York para inúmeros visitantes interessados em observar o 
episódio trágico. 
Após treze anos de intensas intervenções urbanas foi construído no 
espaço um complexo que abriga o Museu e memorial The National September 
11 Memorial Museum. O espaço traz em sua essência traços importantes que 
relembram a tragédia, como documentários, peças dos escombros, fotos dos 
mortos, relatos das famílias, dentre outros que contribuem para que a memória 
do horror não seja esquecida. Existem no local, produtos formatados 
associados à atrocidade, chamados de “Dia do Horror” como livros, filmes, 
bonés e materiais que depreciam o terrorista Bin Laden. 
Outro ponto representativo do Marco Zero foi implementado com dois 
espelhos d’água localizados exatamente onde estavam as torres gêmeas com 
placas de bronze onde estão gravados os nomes de cada um dos mortos. 
 Outro empreendimento imponente no espaço foi a construção de uma 
nova torre intitulada One World Trade Center (World Trade Center 1) sendo a 
quarta maior do mundo. O prédio foi idealizado com uma altura de 1.776 pés 
(541 metros), fazendo referência ao ano da independência dos Estados 
Unidos. 11 
 
 
 
11 Disponível em: http://super.abril.com.br/comportamento/a-volta-do-world-trade-center. Acesso em: 
20 de ago. de 2016. 
 
 
35 
 
 
Figura 5: Ground Zero, EUA. 12 
Fonte: World Trade Center, 2016. 
 
 
 
2.3.2.4 Locais de Conflito e Sofrimento Macabros 
 
 
Os locais palcos de conflitos macabros compreendem cenários de 
guerras e campos de batalhas. Seus potenciais produtos turísticos têm um foco 
educacional baseado no autêntico contexto histórico. Por adquirir um 
expressivo fluxo turístico necessitou aprimorar sua infraestrutura para atender a 
demanda. As visitas são realizadas por meio de operadoras que exercem o 
papel de guias, auxiliando nesses deslocamentos aos sítios turísticos de 
batalha. Exemplos de batalhas históricas que viraram produto de apreciação 
mórbida são Waterloo e Somme. 
A Batalha de Waterloo foi um combate decisivo entre as forças 
francesas, britânicas, russas, prussianas e austríacas na localidade de 
Waterloo na Bélgica. Durante 100 dias a tropa napoleônica lutou para 
conquistar o país, sendo derrotada pela superioridade numérica dos prussianos 
 
12 Disponível em: 
https://www.google.com.br/search?q=cemit%C3%A9rio+da+recoleta&biw=2277&bih=1095&source=ln
ms&tbm=isch&sa=X&sqi=2&ved=0ahUKEwikutGrxY3OAhXJjZAKHU8FB_gQ_AUIBigB&dpr=0.6#imgrc=7Y
46-0hR9DtqHM%3A . Acesso em: 26 de jun. 2016. 
 
 
36 
 
e britânicos. A batalha levou à morte mais de 57 mil soldados de ambos os 
lados.13 
A Batalha de Somme ocorreu durante a Primeira Guerra Mundial na qual 
os franceses e ingleses lutaram contra os alemães e foi uma das guerras mais 
sangrentas da história. Seu contexto violento retrata a inexperiência de 
soldados, o descaso de seus generais e a utilização pela primeira vez de 
tanques de guerra, deixando um saldo expressivo de mais de um milhão de 
soldados mortos (THEODORO, 2008). 
Figura 6: Waterloo e Somme, 2016. 14 
Fonte: Mega curioso. 
 
 
No contexto atual esses locais são trabalhados de forma a perpetuar 
essa história trágica. Em sua formatação como produto turístico são mostrados 
mapas de trincheiras, diários de guerra e comentários que foram importantes 
na época dos acontecimentos. Toda a visita tende a ser romantizada pelos 
seus guias através de reencenações de batalhas de forma a entreter e atrair os 
turistas. Por essa demonstração “teatralizada”, sua categoria se aproxima da 
nuance mais suave do segmento do turismo macabro. 
 
 
 
13 CORNWELL. Bernardo. Waterloo. A História de quatro dias, três exércitos e três batalhas. O confronto 
que Deteve Napoleão. Editora: Afiliada, 2015. 
14 Disponível em: 
https://www.google.com.br/search?q=A+Batalha+de+somme,+turismo&biw=1525&bih=734&source=ln
ms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjV_I6JwtPOAhWHjpAKHWGRDaAQ_AUIBigB&dpr=0.9#imgrc=k5Eh8
XRI3o8ZpM%3A Acesso em: 12 de jul. de 2016. 
 
 
 
37 
 
 
2.3.3 Acampamentos de Genocídios 
 
 
Nesses sítios aconteceram atrocidades, genocídios e catástrofes, 
ocupando por essa elevada autenticidade, o lado mais sombrio do turismo. 
Lugares como Ruanda, Camboja e Kosovo são extremamente macabros por 
estarem no próprio local dos acontecimentos trágicos o que o denota como 
categoria mais sombria a ser presenciada pelos participantes no destino 
turístico. 
O Genocídio Cambojano foi responsável pela morte de 
aproximadamente dois milhões de pessoas em quatro anos no período de 1975 
a 1979. O Khmer Vermelho, organização comunista que liderou o Camboja 
nesse período, ordenou execuções em massa, assassinatos, fome, tortura e 
trabalho forçado que eram realizados em espaços chamados de campos da 
morte. (CEPALUTI; MENDONÇA, 2006). 
O Genocídio de Ruanda foi um massacre executado por facções de 
Hutus, atacando tutsis e hutus moderados em 1994. O grupo étnico tutsis era a 
minoria e liderava o poder político no país. O fracasso da economia nacional 
devido à queda do valor do café exportado foi o estopim para a crise entre as 
etnias, sendo utilizado como pretexto para a retirada dos tutsis do poder, 
iniciando assim pela rivalidade o período da carnificina. Esse movimento 
produziu um deslocamento de pessoas para campos de refugiados, situado na 
fronteira com países vizinhos como o Zaire, deixando mais de 800.000 vítimas 
assassinadas no país. (O GENOCÍDIO NO RUANDA, 2008) 
 
 
38 
 
A guerra de Kosovo ocorreu em detrimento à separação de uma das 
províncias chamada Kosovo na Iugoslávia. O presidente Slobodan Milosevic, 
não aceitando a medida adotada pela província, inicia a guerra. Alegando 
questões humanitárias, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) 
intervém na guerra obrigando Milosevic a aceitar o acordo que propõe a 
autonomia da província, porém sem a separação. A guerra também foi um 
marco que deixou inúmeras vítimas desse contexto de atrocidades. (SILVA, 
2008). 
Figura 7: Massacre em Ruanda, 2016. 15 
Fonte: Revista Exame. 
 
 
2.3.4 Campos de Concentração 
 
Na concepção de Panosso Netto e Ansarah (2009), as marcas das 
perseguições e de extermínio aos judeus e outras minorias podem ser vistas 
nos memoriais que retratam esse sombrio passado de guerra. Suas 
lembranças são evidenciadas em museus, cemitérios e até bairros inteiros que 
reverenciam à memória do Holocausto. Na Europa Ocidental, os campos de 
concentração criados no período da Segunda Guerra Mundial, em destaque na 
 
15 Revista Exame. Disponível em : http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/franca-condena-ex-
prefeitos-de-ruanda-por-genocidio-em-94. Acesso em: 20 de jun. de 2016. 
 
 
39 
 
Alemanha e Polônia, eram utilizados como campos de extermínio, campos de 
trabalhos forçados e campos de trânsito. Como exemplo, pode-se citar Dachau, 
na Alemanha, que foi classificado como campo de trabalho forçado, com 
utilização da mão de obra de prisioneiros judeus, homossexuais, comunistas, 
entre outros. 
Bergen-Belsen é um campo de trânsito que abrigou Anne Frank, 
personagem ilustre, que revelou ao mundo através de seu diário, a atrocidade 
vivida por ela e seus familiares durante a Segunda Guerra Mundial. Anne, por 
seu ato de coragem, tornou-se símbolo do sofrimento de milhões de criançasjudias. 
Na Polônia foram implantados os campos de extermínio, conhecidos 
como complexo Auschwitz-Birkenau, o maior campo da Europa, possuindo 
estruturas específicas como as câmaras de gás e os crematórios. Nesses 
locais mais de 12 mil pessoas chegaram a ser executas no período do 
nazismo. 
No contexto atual, o cenário de horror é repassado por meio de um 
documentário, sintetizando as atrocidades executadas no campo para os 
visitantes desse atrativo. Paulo Franke, um espectador do holocausto, 
menciona em seu blog: 
 
 
Logo à entrada do campo de Auschwitz depara o visitante com a 
irônica inscricão em ferro:"Arbeit macht frei" (O trabalho liberta) e 
visitando os diversos prédios de dois andares pode-se ver, através de 
gigantescas vitrinas, exposições de malas portando ainda os nomes 
de seus donos, de roupas, de sapatos (uma somente de sapatos de 
criança), de óculos, de escovas, de cabelos (há uma amostra do 
tecido feito de cabelos) e, além de outras ainda, a dos chalés de 
oração de judeus, o que me emocionou e fez-me pegar a máquina 
fotográfica. (FRANKE, 2006) 
 
 
 
O relato de um visitante retrata o lado mórbido do campo de 
concentração como um produto turístico sombrio. 
É preciso salientar que o Holocausto ou turismo de Holocausto tem sido 
rotulado como entretenimento de forma inadequada, pois não leva em 
consideração a essência histórica das atrocidades cometidas contra o povo 
 
 
40 
 
judeu. Mesmo assim, esse nicho vem crescendo dentro do espectro macabro 
de forma institucionalizada, deixando distorcido o contexto histórico doloroso 
desses locais. 
 
Figura 8: campo de Auschwitz Birkenau, 2016. 16 
Fonte: Band Mundo. 
 
 
2.3.5 Museus e Memoriais 
 
 
O Holocausto para muitos estudiosos foi um período de inimaginável 
atrocidade sofrida por judeus, sem precedentes na história da humanidade por 
seus atos de extrema morbidez. 
Esse período está registrado de maneira viva nos museus que tratam da 
temática. Os museus tiveram papel imprescindível como veículo de 
interpretação das atrocidades cometidas no período nazista. Têm por objetivo 
educar os visitantes, de modo a promover o questionamento sobre atitudes que 
venham a ser tomadas futuramente. 
 
16 Disponível em: http://noticias.band.uol.com.br/mundo/noticia/?id=242245 Acesso em: 12 de jul. de 
2016. 
 
 
41 
 
Na cidade de Washington, Estados Unidos, encontra-se o Museu 
Memorial do Holocausto. O espaço dedica-se à documentação, análise e 
interpretação da história do Holocausto, sendo financiado pelo governo 
americano, por judeus ou colaboradores ilustres, como o diretor Steven 
Spielberg. O museu desempenha um papel importante no cenário estético do 
holocausto e também procura proporcionar um meio adequado para traduzir a 
memória, recordação, interpretação e narração do massacre, de modo a 
contextualizar a história de maneira educacional. O conteúdo chega ao turista 
por meio de imagens, exposições, artefatos culturais e publicações referentes 
ao período nazista. (FRANKE, 2006). 
A história permanente do museu conta a trajetória cronológica do 
Holocausto desde a vida de Hitler e sua ascensão ao poder até a libertação 
dos judeus dos campos de concentração. 
O museu é criticado por mostrar o contexto do nazismo na interpretação 
americana. Sua abordagem menciona citações de George Washington e da 
Declaração da Independência, além de excluir da história vítimas não judaicas 
e homossexuais. 
Em Israel encontra-se o Museu Yad Vashem, fundado em 1953, que tem 
como objetivo principal eternizar a memória do Holocausto e divulgar a história 
trágica com o intuito de educar para que atrocidade dessa magnitude não 
venha ser esquecida com o tempo (PANOSSO NETTO; ANSARAH, 2009). 
O museu abriga um memorial perpétuo com arquivos, relatos, 
documentos e também testemunhos de sobreviventes de forma a proteger a 
memória, ensinar e educar. É dividido em setores como Setor de Estudos e 
Pesquisas, Escola Central de Ensino do Holocausto e Centro Internacional de 
Pesquisa do Holocausto. Buscando compreender os motivos que contribuem 
para a visitação aos museus do holocausto, Yuill (2003) realizou uma pesquisa 
de caráter exploratório com objetivo de traçar o perfil do turista que frequentava 
o Museu do Holocausto em Houston, no Texas, de modo que os visitantes 
manifestassem suas percepções referentes à temática. Para isto, fez uso de 
formulário que também foi aplicado à equipe técnica do museu de forma a 
 
 
42 
 
auxiliar no conhecimento das emoções vivenciadas e expressadas pelos 
turistas. 
O formulário foi adaptado a partir de estudos precedentes sobre esse 
segmento mórbido e por meio das perguntas foram levantados fatores 
motivacionais específicos para esse atrativo. 
Dentre algumas dificuldades apontadas no estudo, está a limitada 
literatura encontrada na área, não havendo precedentes para contrapor 
resultados. Outro fator restritivo é o fato da pesquisa ter sido realizada apenas 
no Museu, não sendo compatível com outros atrativos da mesma categoria. 
De acordo com as informações obtidas por Yuill17 pode-se constatar que 
a temática da morte tem um papel relevante na motivação da visita a esses 
atrativos. O elemento predominante na busca pelo entendimento da morte é a 
carência de uma compreensão aprofundada. 
A mídia tem o poder de estimular as motivações. O filme ‘A lista de 
Schindler’ do diretor Steven Spielberg lançado em 1993 foi apontado por várias 
pessoas, como o fator que impulsionou o desejo de visitar o Museu do 
Holocausto. 
Quantos aos elementos motivadores, a pesquisa possibilitou a 
compreensão de três potenciais: em primeiro lugar, uma ligação pessoal, a 
busca de maior compreensão por parte dos visitantes em relação ao 
holocausto e a procura por descendentes dos sobreviventes que anseiam por 
informações não obtidas pelos familiares; em segundo, através da perspectiva 
educacional, as pessoas desejam saber de forma mais aprofundada sobre 
esse período histórico; em terceiro, com base no que se pode inferir da 
literatura, as pessoas estão interessadas em exposições, especialmente as 
itinerantes. 
Dessa forma, os fatores motivacionais são múltiplos, como por exemplo 
o fato de os visitantes que procuram o museu para compreender melhor a 
história de seus antepassados, e dos próprios sobreviventes que visitam o 
espaço para compreender um período histórico vivenciado. 
 
17
 YUILL, Stephanie Marie. Dark tourism: understanding visitor motivation at sites of death and disaster. 
2003. 278 f. Tese (Mestrado) - Texas A&m University, Houston,2003. Disponível em: 
<https://txspace.tamu.edu/bitstream/handle/1969/89/etd-tamu- 
2003C-RPTS-Yuill-> Acesso em: 12 de mai. 2016. 
 
 
43 
 
Yuill observa que a representação simbólica é imprescindível para a 
maioria das pessoas que encontra nesse ritual uma maneira emblemática de 
recordar fatos significativos. A pesquisa aponta a lembrança como um fator 
motivacional, cuja sua permanência auxilia na manutenção da memória viva, 
não permitindo o seu esquecimento pela história. O interesse no contexto 
histórico também foi abordado na análise, pois vivenciar a história facilita o seu 
entendimento, despertando um interesse maior por parte dos visitantes. 
Fora da temática do Holocausto encontram-se memoriais e museu de 
cera que podem ser classificados como atrativos do turismo macabro. 
No Japão a reverência aos mortos é manifestada através de memoriais 
que eternizam seus antecessores. A cidade de Hiroshima abriga a “Cúpula da 
Bomba Atômica” que marca o local em que a bomba foi lançada. Esse 
monumento faz parte do Parque Memorial da Paz, que inclui em seu acervo 
fotos, objetos, relatos de sobreviventes e arquivosrelacionados ao bombardeio 
(PANOSSO NETTO; ANSARAH, 2009). 
Outro museu que desperta o interesse de muitos visitantes é o Museu de 
Anne Frank que retrata a vida de uma menina judia que entrou para a história 
pelo seu exemplo de força e determinação em detrimento à vida. 
Anne foi uma referência na luta contra o terror imposto pelo nazismo. Em 
seu diário relata as percepções sobre o mundo, dividida entre recortes de 
jornais passados com artistas que admirava e atrocidades cometidas pelo 
ditador Adolf Hilter. 
De origem judia foi obrigada a ser esconder com os seus familiares, 
vivendo por dois anos em um espaço adaptado por seu pai. Descoberto mais 
tarde pelos nazistas, teve como consequência a deportação de todos os 
ocupantes do esconderijo. O único integrante da família que sobreviveu foi 
Oton Frank, pai de Anne Frank, que utilizou as citações do diário de Anne para 
que seus ideais permanecessem vivos. (A CASA, 2008). 
O museu de Anne Frank abriga um acervo com pertences da família, 
sendo o diário da menina Anne seu principal objeto. Atualmente o espaço é 
utilizado como Centro Internacional da Juventude, atraindo pessoas de 
 
 
44 
 
diferentes partes do mundo, tendo como lema, lutar contra qualquer opressão 
imposta por elementos da sociedade. 
 
 
 
 
Figura 9: Anne Frank, 2016. 18 
Fonte: The Time of Israel 
 
A história comovente de Anne Frank também pode ser vivenciada 
através do museu virtual. Pelo site o visitante poderá conhecer um pouco mais 
sobre a trajetória da menina que se eternizou mediante as suas palavras de 
força, coragem e de esperança. 
Um trecho do diário expõe os ideais da menina dentro do contexto de 
atrocidades vivenciadas por ela. 
 
“É realmente inexplicável que eu não tenha deixado de lado todos os meus 
ideais, porque eles parecem tão absurdos e impossíveis de se concretizarem. 
Mesmo assim eu os conservo, porque ainda acredito que as pessoas são boas 
de coração. Simplesmente não posso edificar minhas esperanças sobre 
alicerces de confusão, miséria e morte. Vejo o mundo gradativamente se 
tornando uma selvageria. Escuto o trovão se aproximando, cada vez mais, o 
que nos destruirá também; posso sentir o sofrimento de milhões e ainda assim, 
penso que tudo irá se corrigir, que esta crueldade também terminará. Enquanto 
isso preciso adiar meus ideais para quando chegarem os tempos em que talvez 
eu seja capaz de alcançá-los. ” (15 de julho de 1944). 
 
 
18 Disponível em: 
https://www.google.com.br/search?q=anne+frank&biw=1525&bih=734&source=lnms&tbm=isch&sa=X
&sqi=2&ved=0ahUKEwjbtp6F2o3OAhVLDJAKHQ8bD5YQ_AUIBigB&dpr=0.9#tbm=isch&q=the+house+of
+anne+frank&imgrc=AsdQLjCcYGcDEM%3A Acesso em: 12 de jul. de 2016. 
 
 
45 
 
2.3.6 Prisões 
 
Outro espaço físico utilizado como atrativo macabro no segmento 
turístico são as prisões desativadas. Esses espaços repressivos no passado 
são comercializados como atmosfera de crime e castigo ao turista na 
contemporaneidade. O pacote vendido ao turista inclui o julgamento, a prisão e 
execução do condenado com direito a um público de amigos e parentes. Desse 
modo, os turistas são introduzidos em um contexto histórico do ambiente 
original das prisões, utilizadas como forma de entretenimento (STONE, 2006). 
 
 
Figura 10: Prisões hotéis, 2016. 19 
Fonte: Fato 
 
As Dark Dungeons são prisões e tribunais inativos para essa finalidade 
penal e atualmente utilizados como uma combinação de entretenimento e 
educação com foco comercial. Possuem uma infraestrutura adequada às 
necessidades dos clientes e estão no centro da classificação macabra, 
mesclando assim o tom mais escuro da categoria com o mais claro. As 
Galerias da Justiça são exemplos dessa atração. Situadas no Reino Unido, 
divulgam em seu slogan que a galeria é o único local no país em que o 
visitante poderá ser preso, sofrer condenação e receber a pena de morte. Esse 
 
19 Disponível em: http://multticlique.com.br/blog/good-vibes/hospede-se-em-uma-prisao-de-luxo/ 
Acesso em: 18 de jul. de 2016. 
 
 
46 
 
marketing convida os turistas a participarem do contexto passado da história do 
local. O folheto de divulgação das Galerias convida o visitante a testemunhar 
um verdadeiro julgamento em um tribunal vitoriano original e a colocar seus 
amigos e família no banco dos réus, antes de ser condenado e “enviado para 
baixo” para as celas originais. Os reclusos vão agir como guias enquanto o 
turista deve também se tornar parte da história nesse local. (GALERIES DE 
JUSTIÇA, 2005 apud STONE,2006) 
Esses produtos mesmo inseridos no universo macabro do turismo têm 
características próprias que necessitam ser exploradas de formas 
diferenciadas, adequando-se a cada nicho. Dentro dessa perspectiva, o turista 
poderá fazer sua interpretação nos diversos cenários mórbidos tendo uma 
percepção múltipla dos fatos narrados. 
Ambientes de turismo sombrio, atrações e exposições apresentam 
dilemas complexos na questão ética e moral para os seus gestores. 
Desenvolver esse segmento de forma comercial sem comprometer sua 
natureza ideológica é papel da mídia como veículo de divulgação da história da 
humanidade (STONE, 2006). 
 
2.3.7 Locais de Catástrofes Naturais 
 
O episódio trágico que ocorreu em Nova Orleans, Estados Unidos, 
ocasionado pelo furacão Katrina, em 2005 provocou uma catástrofe de 
proporções incalculáveis no contexto da cidade. Por negligência das 
autoridades, alguns diques que controlavam a quantidade de água do lago 
Pontchartrain, não conseguiram suportar a tempestade tropical, deixando 80% 
das casas inundadas e milhares de vítimas ( ZONA DEVASTADA, 2008). 
O rastro de atrocidade causado pelo furacão é exposto aos turistas que 
visitam o lugar e desejam observar a destruição de perto. Chamado “Katrina 
Tours”, o destino ficou conhecido, ofuscando assim outros atrativos locais e a 
simbologia da cidade que era considerada berço do jazz. Casas abandonadas, 
ruas fantasmas, alicerces à mostra, são atrativos exibidos aos turistas pelos 
agentes de viagens. 
 
 
47 
 
Na afirmação de uma agente de viagem (BBCBrasil, 2007): 20 
 
No ano passado, 73% dos pacotes que eu vendi foram para as áreas 
devastadas pelo Katrina. Comecei a levar turistas para essas partes 
da cidade ainda em setembro de 2005, um mês depois do furacão. 
Eu não queria, mas 99% das pessoas querem ver a destruição de 
perto. É a natureza humana. As pessoas gostam de ver desastres. 
 
Na maioria, os visitantes que chegam ao local querem interagir com a 
destruição ao extremo, isso faz com que haja divergências de opiniões entre 
moradores a respeito do que é permitido ou proibido pela ética humana, ou 
seja, o City Tour pode ser tido como um veículo invasor ou não da tragédia 
alheia. 
 Figura 11: Katrina, 2016. 21 
 Fonte: NBC News. 
 
 
20
 BBC Brasil. com . Disponível em: 
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/08/070827_katrinatours_bgpu.shtml 
Acesso em: 27 ago. 2007. 
21 Disponível em: 
https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&ved=0ahUKEwiEoKeE343
OAhWJl5AKHZF1A-MQjhwIBQ&url=http%3A%2F%2Fwww.nbcnews.com%2Fstoryline%2Fhurricane-
katrina-anniversary%2Flatino-workers-helped-rebuild-new-orleans-many-werent-paid-
n417571&psig=AFQjCNF2MPBBtm9znYa_iwHEgQlCI8CnWw&ust=1469506115897758&cad=rjtAcesso 
em: 12 de jul. de 2016. 
 
 
48 
 
3 IDEALIZAÇÕES E INTERPRETAÇÕES DA MORTE 
 
3.1 A morte na história 
 
A morte é vista como um tema bastante emblemático envolto em 
diversas definições entre as culturas. A inviabilidade de ter acesso ao que virá 
no pós - vida faz com que muitos agentes sociais, em diversas épocas, tenham

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