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Show das poderosas Anitta e a performance do sucesso feminino [Tatiane Costa]

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VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz 
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 
Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. 
 
 www.conecorio.org 
 
 1 
O show das poderosas: Anitta e a performance do sucesso feminino 
 
Tatiane Costa
1
 
 
Resumo 
 
O objetivo deste artigo é analisar quais são as concepções de poder feminino 
produzidas em torno da figura de Anitta, cantora de meteórico sucesso e enorme 
ressonância na mídia. Busca-se identificar que modelos de subjetividade feminina são 
engendrados por sua imagem como celebridade, especialmente no que tange à 
performance da autenticidade, ao imperativo da autoestima e a afirmação de padrões 
de feminilidade e de conduta sexual. Interessa-me também analisar seu processo de 
celebrização e analisar porque o modelo da mulher poderosa provoca tamanha 
ressonância tanto junto ao público quanto junto ao mercado, associando-o, no âmbito 
da crítica pós-feminista, a um feminismo midiático contemporâneo. 
 
Palavras-chave 
 
Anitta; Autenticidade; Feminismo; Mulher; Poderosa. 
 
Introdução 
 
Uma bomba atômica é lançada. Uma multidão de pessoas ocupa as ruas e 
acompanha sua trajetória ao vivo pela cobertura do jornal local. Ela explode, e a 
imagem na tela informa, em meio à fumaça: “você está no meio de uma guerra.” A 
câmera se volta novamente para os homens e mulheres de prontidão, vestidos de preto 
e branco, e alterna o foco entre seus rostos e os de guardas armados que os observam 
do outro lado. Enquanto isso, se lê “uma batalha entre aqueles que irão dizer o que 
 
1
 Mestranda em Comunicação e Cultura na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na linha de 
pesquisa Mídia e Mediações Socioculturais.. Bolsista do CNPq desde março de 2012 sob orientação do 
professor João Freire Filho. Graduada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo também 
na UFRJ (2010). Foi bolsista de iniciação científica PIBIC/CNPq de novembro de 2007 a dezembro de 
2008, também sob orientação do professor João Freire Filho, com desenvolvimento de pesquisas na 
área de representação midiática da juventude. Tem ainda experiência em divulgação científica, em 
instituições como Fiocruz, Instituto Ciência Hoje e Centro Latinoamericano de Física. Foco de 
pesquisa: gênero, poder, sucesso, mídia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VI Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UERJ | UFF | UFRJ | PUC-RIO | Fiocruz 
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Rio de Janeiro. 23 a 25 de outubro de 2013. 
 
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 2 
você não pode fazer e aquela parte de você que sabe e sempre soube que nós somos 
mais que um sonho.” Nesse momento, um dos guardas retira seu capacete e o larga no 
chão, no instante em que aparecem os dizeres: “O nosso exército é pesado”. Pode 
parecer um filme de guerra, mas é a abertura do show da cantora do momento no 
cenário nacional: Anitta. 
A frase sobre o exército é um verso de sua música Show das Poderosas, 
sucesso absoluto com mais de 40 milhões de acessos no Youtube
2
, que também dá 
nome à turnê, lançada no dia 06 de junho no Rio de Janeiro. O restante do texto é um 
trecho da autoria de Tony Robbins, um escritor e palestrante motivacional norte-
americano, um dos responsáveis pela popularização da Programação Neurolinguística 
(PNL). Não por acaso, a equipe de Anitta terminou o vídeo com uma sequência de 
imperativos motivacionais: “Sorria, brinque, chore, dance, beije, sinta, sonhe, grite, 
ame, viva, lute! Você vale a pena.” Sob as ovações da casa de shows lotada, um 
helicóptero desce do teto e, escorregando por uma corda, Anitta chega ao palco 
entoando “prepara que agora é a hora do show das poderosas”3. 
Com esse imperativo, a cantora e compositora carioca vem arrastando 
multidões de fãs para seus shows – em média 30 por mês - e mobilizando enorme 
atenção por parte da mídia. Suas músicas, uma mistura de funk e pop, figuravam entre 
as mais tocadas de diversas rádios pelo país antes mesmo da gravação de seu primeiro 
CD, lançado em julho, e o hit Meiga e abusada integra a trilha sonora de Amor à vida, 
novela das 21h da Rede Globo. Com presença maciça em programas televisivos, 
reportagens de revistas, jornais e na internet (só no site de celebridades EGO são 
dezessete páginas de links de matérias em pouco mais de três meses
4
), pode-se 
afirmar que a cantora, que tem apenas 20 anos, é uma das celebridades mais presentes 
na mídia no momento. 
No cenário mainstream da música pop comercial, a celebrização quase 
instantânea de um cantor ou banda, acompanhada de uma sensação de onipresença de 
 
2
 https://www.youtube.com/watch?v=FGViL3CYRwg. Acesso em 01/08/2013. 
3
 Trecho da música “Show das Poderosas”, da autoria de Anitta. 
4
 http://ego.globo.com/famosos/tudo-sobre/anitta.html. Acesso em 01/08/2013. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 3 
seus hits e de sua imagem na mídia não é novidade. O que teria então o fenômeno 
Anitta de especial que merecesse a atenção de uma investigação acadêmica no campo 
da comunicação? Chamou-me atenção a imagem construída por Anitta para fixar-se 
tão fortemente na realidade social: o discurso da mulher poderosa, o estereótipo que 
tem sido propagado exaustivamente por diversos produtos midiáticos e matérias 
jornalísticas como modelo de sucesso para o gênero feminino na contemporaneidade. 
Não foi uma escolha casual, e isso é admitido pela própria cantora. Em entrevista ao 
site de sua gravadora, indagada sobre porque deu o nome de Show das Poderosas à 
sua música, ela respondeu: “Porque eu queria um impacto. Quando fosse rolar o meu 
show, ter isso de „vai acontecer o show das poderosas ali‟, das mulheres. Já foi 
pensado para fazer esse marketing, para as pessoas pensarem: „ah, vou lá no show das 
poderosas‟.”5 
As mulheres querem – ou devem – ser poderosas. Mas o que é, afinal, esse 
poder? O objetivo deste artigo é analisar quais são as concepções de poder feminino 
produzidas em torno da figura de Anitta e de seu entorno discursivo midiático, e 
identificar que modelos de subjetividade feminina são engendrados, bem como suas 
práticas de sociabilidade correspondentes. Observa-se que o poder feminino 
enunciado pela cantora está ligado a um estilo de vida que deve ser consumido e 
performatizado, diretamente ligado aos ideais da autenticidade e da autoestima, tão 
presentes na sociedade contemporânea (TAYLOR, 2011). Interessa-me também 
analisar seu processo de celebrização e saber, em uma perspectiva foucaultiana 
(FOUCAULT, 1984), quais são as condições de possibilidade que permitiram a uma 
figura como Anitta emergir na mídia, e porque o modelo da mulher poderosa provoca 
tamanha ressonância tanto junto ao público quanto junto ao mercado. Por fim, no 
âmbito da crítica pós-feminista (GENZ & BRABON, 2009), busco analisar a 
associação dessa figura da poderosa, a partir do exemplo da cantora, a uma espécie de 
feminismo midiático contemporâneo que apresenta a mulher como vencedora de uma 
pretensa guerra dos sexos. 
 
 
5
 http://www.warnermusic.com.br/portal/newswindow.aspx?523. Acesso em 01/08/2013. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 4 
 
A celebrização de Anitta: performance de autenticidade 
 
 
Anitta afirma em diversas entrevistas que seu objetivo sempre foi tornar-se 
uma celebridade. Assumindo uma postura empreendedora altamente valorizada em 
uma sociedade pautada no culto à performance (EHRENBERG, 1991) e no 
individualismo de autorrealização (TAYLOR, 2011), a cantora teve um papel ativo na 
construção de sua imagem e tem sua própria história pessoal celebrada 
midiaticamente como um exemplo de conquista de poder. De origem pobre, Larissa 
de Macedo Machado, então uma adolescente de 16 anos do bairro de Honório Gurgel, 
no Rio de Janeiro, que aprendeu a cantar com o avô na igreja católica, lançou um 
vídeo amador no Youtube em que cantava e dançava um sucesso do funk, utilizando 
um vidro de perfume como microfone. O vídeo foi descoberto pela produtora de funk 
carioca Furacão 2000 e Larissa foi contratada como cantora, largando o estágio em 
uma multinacional para seguir a carreira artística. Faltava um nome artístico, que, 
segundo a cantora, foi inspirado na minissérie Presença de Anita, da Rede Globo, 
porque a personagem título sabia “ser sexy sem ser vulgar”6. Ainda no meio do funk, 
MC Anitta fez amizade com DJs e pessoas que pudessem ajudá-la a emplacar seus 
sucessos. Coordenou a produção de seu próprio clipe, contratando ela mesma 
dançarinos e escolhendo seu próprio figurino.
7
 Tamanho espírito empreendedor 
chamou atenção da empresária Kamilla Fialho, que tratou de desvinculá-la do rótulo 
de funkeira, que dificultaria sua aceitação em um público mais amplo. Fora da 
Furacão 2000, Anitta tirou do nome o “MC”8 característico dos artistas desse gênero 
musical e ganhou projeção nacional aproximando-se do pop e investindo em uma 
imagem mais palatável para o grande público. 
 
6
 Uma das matérias em que Anitta fala sobre isso é http://oglobo.globo.com/megazine/anitta-meus-ex-
namorados-estao-correndo-atras-de-mim-8425425. Acesso em 24/08/2013. 
7
 Uma das inúmeras entrevistas em que Anitta conta esse episódio e sua trajetória de carreira pode ser 
vista em http://www.sbt.com.br/defrentecomgabi/entrevistas/?id=45901. Acesso em: 01/08/2013. 
8
 Sigla para “mestre de cerimônias”, título que costuma ser dado aos cantores de funk. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 5 
O processo de celebrização de Anitta ilustra aquilo que o historiador norte-
americano Daniel Boorstin (1992) denominou como a formação de um pseudoevento 
humano. Com o objetivo de investigar as causas, os apelos e as consequências das 
diferentes formas de ilusões e fantasias pré-fabricadas que proliferam na sociedade de 
cultura de massa dos Estados Unidos na década de 1960, Boorstin cunha o termo 
pseudoevento para designar todo o tipo de atividade, reputação ou evento “forjado” 
ou “artificial” que tenha a finalidade de captar a atenção do público, ser noticiado. Por 
seu caráter pré-fabricado, os pseudoeventos ganham contornos mais dramáticos e 
cintilantes que o acontecimento espontâneo, e passam a nortear a pauta da 
conversação e da tomada de decisão diária. No paradigma que ele chama de 
“epistemologia publicitária”, há uma ascensão da imagem, acompanhada por um 
declínio dos ideais na sociedade. No que diz respeito às figuras públicas que 
funcionam como modelos de subjetividade, há a passagem da figura do heroi para a 
da celebridade. Enquanto o heroi criava-se a si mesmo pela realização de um grande 
feito, tendo sua figura construída miticamente no imaginário coletivo, a única grande 
conquista necessária para transformar um indivíduo em uma celebridade é a da 
visibilidade midiática. A celebridade é uma figura conhecida por ser bem conhecida. 
Sendo assim, o processo de celebrização torna-se, muitas vezes, um projeto de 
engenharia individual, em que o reconhecimento é o objetivo final. Esse projeto foi 
muito bem executado por Anitta, que construiu uma imagem com forte potencial de 
ressonância entre a tríade indivíduo – indústria – audiência, que constitui o aparato 
cultural definido como celebridade (MOLE, 2007). 
Isso não quer dizer que a imagem de Anitta é falsa. Como sugere Erin Meyers 
(2009), a celebridade não deve ser entendida em uma dicotomia de verdadeiro-falso, 
já que todos os aspectos da imagem de uma celebridade são produzidos e construídos, 
mas como um lugar de tensão e ambiguidade em que a audiência pode construir 
sentidos para sua vivência no mundo por meio da aceitação ou rejeição dos valores 
sociais transmitidas por essa pessoa pública. Além disso, uma vez que a celebridade é 
posicionada como “autêntica” os valores e ideologias que simboliza também se 
tornam “reais” e culturalmente ressonantes. Como observa Foucault (2011), a questão 
 
 
 
 
 
 
 
 
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não é fazer uma divisão entre o que, em um discurso, é verdadeiro e o que é falso: as 
formações discursivas, sejam elas verdadeiras, falsas, reais ou imaginárias, 
configuram efeitos de verdade, que produzem ideias, práticas, objetos e conceitos, que 
estão diretamente ligados ao espaço social e suas relações de poder. 
Observa-se que a autenticidade é um valor central correlacionado à figura de 
Anitta. Indagada sobre o que é, afinal, ser poderosa, a cantora responde de prontidão: 
ser quem você é e obter respeito por isso
9
. A escolha das palavras do vídeo descrito na 
introdução deste artigo denota que Anitta está fortemente inserida na chamada 
“cultura terapêutica”, o que Rose (2008) chamou de psicologização da sociedade: a 
valorização de modelos de subjetividade psicologizantes individualistas, em que há 
uma valorização da autoestima como solução para todos os conflitos sociais e uma 
obsessão pelo mergulho em um eu interior que resultaria na expressão confiante de 
uma subjetividade autêntica. Ao mesmo tempo, há uma série de prescrições marcando 
o que deveria constitui-la, o que revela a necessidade de uma performance de 
autenticidade para a obtenção de reconhecimento e aprovação social. 
Observa-se que a performance de autenticidade de Anitta é agregada de valor 
pelo fato de que a cantora é também compositora de seus maiores sucessos. Ela 
afirma sempre em suas entrevistas que as músicas foram baseadas em histórias de sua 
própria vida.
10
 A dimensão autobiográfica dos hits reforça a ideia da expressão do “eu 
interior” da celebridade, criando um fascínio ainda maior e uma vinculação mais forte 
dos fãs com o ídolo, já que a relação com as celebridades se baseia no que Tom Mole 
(2007) chamou de hermenêutica da intimidade. Para o público adolescente e jovem, 
que constitui uma grande fatia dos fãs da cantora
11
 (sendo também a faixa etária da 
própria), a autenticidade é frequentemente afirmada em seus próprios discursos sobre 
si, como nas redes sociais, e nos produtos voltados para eles, como um valor 
 
9
 http://veja.abril.com.br/multimidia/video/anitta-conta-como-e-ser-poderosa. Acesso em 24/08/2013. 
10
 Na matéria para a revista Capricho, Anitta chega a contar um pouco da composição de cada uma das 
músicas: “’Príncipe de vento é sobre um meninoque conheci. Ele era lindo, mas quando abria a boca, 
perdia o encanto‟, explicou Anitta. (...) Menina má foi feita foi feita para o mesmo garoto de Som do 
coração. Mas Anitta explicou: „Já essa, escrevi quando ele foi um idiota‟.” Capricho, nº1179, p.25, 14 
de julho de 2013. 
11
 Anitta já estampou a capa de Capricho (nº 1179, 14/07/2013) e Todateen (nº213, agosto de 2013), 
duas importantes revistas do segmento adolescente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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primordial que orienta seu estar no mundo. Em sua análise da revista Capricho, 
principal publicação do segmento feminino adolescente, Freire Filho (2007) observa 
que o eixo da luta das garotas superpoderosas de hoje é a defesa da autenticidade, 
“entendida basicamente como a possibilidade de formulação e comunicação – por 
meio de toda a conhecida parafernália da feminilidade (maquiagem, vestuário, 
adornos, tietagem) – de ideias e valores próprios” (FREIRE FILHO, 2007, p.141). 
 Outro aspecto bastante valorizado pelos fãs é a sinceridade de Anitta, que ela 
afirma constantemente ser sua marca registrada, como nessa entrevista para o Extra. 
“„Elas falam que o meu nome do meio é sinceridade. Tem até o fã-clube „Anitta 
sincera‟. Falo mesmo o que acho das coisas. Aí, boto nas músicas‟, conta Anitta, que 
costuma dar conselhos às fãs.”12 A ideia de que Anitta “fala o que pensa” e “expressa 
sua verdade interior” por meio de suas músicas, confere a ela maior autoridade junto 
aos fãs para aconselhá-los e guiá-los na busca da autoestima, fazendo com que ela 
seja um modelo subjetivo forte para seu público, especialmente para as mulheres. 
 
 
Meiga e abusada: modelo de conduta para o gênero feminino 
 
 
Uma garotinha de olhar ingênuo entrega uma carta, provavelmente de amor, a 
um menino da mesma idade. O menino abre o envelope junto com um grupo de 
amiguinhos. Ele caçoam dela e as risadas ecoam enquanto a câmera enquadra o olhar 
furioso da menina. Até que aparece o aviso: a menina cresceu. O próximo cenário é 
uma oficina mecânica, em que Anitta dança voluptuosamente, provocando um 
homem que lá trabalhava. Os estereótipos de gênero são claros: ela brilha em roupas 
sensuais, maquiagem e salto alto; ele está sujo de graxa, suado, com os músculos à 
mostra, realizando trabalho pesado. Ele se vê envolvido pela moça, eles se beijam e 
ela amarra suas mãos a uma cadeira. Anitta continua dançando e provocando o rapaz, 
 
12
 http://extra.globo.com/famosos/mc-anitta-rejeita-rotulo-de-patricinha-admite-que-ja-ficou-com-fa-
mas-foi-uma-vez-so-7596859.html. Acesso em 01/08/2013. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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fazendo-o acreditar que tudo faz parte de um jogo sensual, quando acontece a virada. 
A moça traz um outro homem pela mão, também musculoso e sem camisa, e começa 
a beijá-lo na frente do rapaz amarrado, esnobando-o. O ambiente da oficina pode ser 
visto como altamente masculino, mas quem reina é Anitta, que vai embora com o 
novo namorado, e o deixa, perplexo e ainda amarrado, recordando o episódio da 
infância em que a rejeitou. Durante essas cenas, que integram o clipe da música 
Menina má, um dos sucessos compostos pela cantora, que ela declara ser inspirado 
em uma história autobiográfica, ecoam os versos “Agora eu vou me vingar/ Menina 
má/ Vou provocar, vou descer/ Vou instigar/ Me pede beijo, desejo/ Não vou beijar/ 
Pode sonhar/ Sou uma menina má.”13 
A passagem da garotinha romântica ingênua para a menina má, que não 
permite que um homem a faça de boba, é, para uma matéria publicada na Veja.com
14
, 
a própria transformação que se deu na música pop brasileira voltada para o público 
adolescente. Se nos anos 2000 as garotas escutavam as baladas de Wanessa Camargo 
(“O que fazer/ Quando um querer/ Só faz chorar, só faz sofrer um coração”15) e Sandy 
(“Se é amor, sei lá/ Só sei que sem você parei de respirar”16), hoje as adolescentes 
querem ser poderosas como Anitta
17
 e cantam, além de Menina má, versos como “Eu 
finjo vou fazendo meu teatro/ E te faço de palhaço pra te dominar.”18 Intitulada 
“Anitta comanda a vingança das “sem-namorado”, a matéria quer saber “como o pop 
adolescente se voltou contra os meninos”. O texto destaca que depois da fase 
romântica, veio uma “ressaca vingativa” representada por cantoras como Kelly Key 
(“Baby baba, olha o que perdeu/ Baba, a criança cresceu/ Bem-feito pra você, é, agora 
eu sou mais eu”19) e Perlla (“Deu mole pra caramba, tremendo vacilão/ Tá todo 
 
13
 https://www.youtube.com/watch?v=2IsE4U636yQ. Acesso em 01/08/2013. 
14
 http://veja.abril.com.br/noticia/celebridades/mc-anitta-comanda-a-vinganca-das-sem-namorado. 
Acesso em 01/08/2013. 
15
 Trecho da música “O amor não deixa”, de Wanessa Camargo. 
16
 Trecho da música “Quando você passa”, de Sandy e Junior. 
17
 A cantora foi capa da Capricho, principal revista do segmento adolescente, no mês de julho, com a 
chamada “Poderosa! Anitta: “Faço o que quero, o garoto que aceite” (Capricho nº 1179, 14/07/2013). 
18
 http://www.youtube.com/watch?v=IBl4O2exar4. Acesso em 24/08/13. 
19
 Trecho da música “Baba”, de Kelly Key. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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arrependido, vai comer na minha mão”20), que tiveram sucesso passageiro, mas 
abriram o caminho para que o furacão Anitta se estabelecesse no mercado. Esse 
também é o diagnóstico de O Globo, que trouxe a cantora na capa de seu Segundo 
Caderno, e também a vinculou a uma geração anterior de “preparadas”, que abriram 
caminho para uma mulher de discurso forte no mercado musical.
21
 
A matéria de Veja atribui essa mudança mais a uma influência do pop 
internacional do que do próprio funk brasileiro, identificando as similaridades de 
Anitta com estrelas como Beyoncé e Rihanna, que trazem atitude em suas músicas. 
De fato, podemos considerar o sucesso meteórico de Anitta como uma explosão tardia 
do fenômeno do girl power no Brasil. Se há muito as cantoras internacionais que se 
valem desse discurso de empoderamento feminino na música fazem sucesso entre o 
público brasileiro, Anitta é um dos primeiros produtos fabricados no país que se 
apropriam desse discurso. 
O termo girl power começa a ser propagado na década de 1990 com a banda 
inglesa Spice Girls, espalhando-se principalmente entre outros cantores e bandas 
pop
22
, e marca uma revalorização da feminilidade como um meio de empoderamento 
feminino. Há uma crítica à ideia de feminilidade como marca da opressão patriarcal, 
conforme denunciava o movimento feminista de segunda onda, ocorrido na década de 
1960, e símbolos como batom e salto alto são ressignificados, passando a ser vistos 
como formas de agenciamento feminino. O girl power busca construir sujeitos 
femininos independentes e confiantes na exibição de sua feminilidade, promove a 
assertividade feminina e a autonomia no estilo de vida e na sexualidade, bem como a 
celebração da diversão e da amizade feminina (GENZ & BRABON, 2009). 
Esse movimentomidiático insere-se no contexto da sensibilidade pós-
feminista (GILL, 2007), um momento reflexivo e contraditório em que o feminismo 
 
20
 Trecho da música “Tremendo vacilão”, de Perlla. 
21
 O Globo, 21/07/2013, Segundo Caderno, p. 1-2. 
22
 Como alguns exemplos dessa tendência ao longo dos últimos anos na música pop, há grupo feminino 
norte-americano Destiny‟s Child, que exalta a independência da mulher em diversas letras como “Bills, 
bills, bills”, a cantora canadense Shania Twain, que canta a alegria de ser mulher com “Man! I feel like 
a woman!” e a cantora americana Beyoncé, que entre outras músicas de mesma temática, lançou o 
sucesso “Run the world (girls)” que afirma que as garotas comandam o mundo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 10 
mergulhou a partir da década de 1980. O termo emerge na interseção e hibridização 
de contextos culturais, acadêmicos e políticos: da mídia massiva e do jornalismo, das 
análises da teoria feminista, da teoria pós-moderna e da retórica neoliberal. (GENZ & 
BRABON, 2009) Marcado por diversas visões de diferentes teóricos e correntes, o 
pós-feminismo só se unifica na vontade política e acadêmica de uma revisão do 
feminismo enquanto movimento e teoria: enquanto algumas correntes afirmam seu 
categórico fim, outras defendem sua continuidade, desde que com necessárias 
transformações. 
Observa-se uma enorme difusão dos postulados do girl power pela mídia 
contemporânea. Músicas, filmes, novelas e livros exaltam o poder de uma mulher que 
está no topo. Chamou-me especialmente a atenção a profusão de matérias jornalísticas 
recentes que se dedicam a discutir e analisar o que seria o novo papel da mulher na 
sociedade. O assunto extrapolou o âmbito especializado das publicações femininas e 
ganhou as revistas semanais de informação. Frequentemente são empregadas palavras 
como mulher poderosa e mulher alfa para descrever essa “nova mulher”. 
Vindo do contexto norte-americano e europeu, o girl power personifica-se e 
musicaliza-se no Brasil na figura de Anitta. E a mídia logo tratou de associar seu 
discurso de poder ao feminismo. Em matéria comentando uma coluna que a cantora 
escreveu para o jornal Extra falando sobre essa sua visão sobre a postura da mulher 
nos relacionamentos amorosos, o Vírgula, site de entretenimento e celebridades do 
UOL, publicou “Fenômeno do funk, Anitta defende postura feminista”23 Uma crítica 
ao CD de Anitta publicada no jornal O Globo avaliou o trabalho como um bem 
elaborado álbum conceitual cuja “ideia central é a afirmação da força da mulher numa 
lógica sexual masculina – uma espécie de feminismo pelo macho” em que “qualquer 
relação é uma guerra, um jogo”.24 
Entretanto, a palavra feminismo não é utilizada pela cantora em suas 
entrevistas. Ela sempre associa o poder feminino que promove em suas músicas, além 
 
23
 http://virgula.uol.com.br/musica/pop/fenomeno-do-funk-anitta-defende-postura-feminista-mulher-
nao-deve-ser-submissa. Acesso em 01/08/2013. 
24
 “Show da „poderosa‟ num belo álbum conceitual”. Jornal O Globo, 21/07/2013, Segundo Caderno, 
p.2. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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da questão da autenticidade e da autoestima, já discutidas nesse artigo, à prerrogativa 
de que a mulher deve se valorizar e obter respeito. Anitta afirma que as mulheres, 
depois de conquistarem a igualdade de voto e salários, “querem se igualar aos homens 
no que eles têm de pior”, como por exemplo, o hábito de beijar várias meninas na 
mesma noite. A cantora conta que teve uma “educação à moda antiga” e que acha que 
tudo isso é “modernidade demais”. Esse poder deve, por outro lado, ser utilizado 
então para moldar os homens de acordo com as expectativas femininas. Ela diz que 
hoje “sabe transformar um cafajeste em bonzinho”, e que a mulher consegue, com 
suas armas, ter seus desejos atendidos e ser respeitada como ela é.
25
 
Essa ideia lembra o conceito de poder para a historiadora francesa Michelle 
Perrot (2010), responsável por importantes estudos sobre a história das mulheres. Para 
ela o poder é um termo polissêmico, cujos diferentes sentidos estão ligados a questões 
de gênero. No singular, ele tem um caráter político, centralizado na figura do Estado, 
que comumente se supõe masculina. No plural, fragmenta-se em influências difusas e 
periféricas, onde, para a historiadora, as mulheres têm uma grande parcela. “Se elas 
não têm o poder, as mulheres têm, diz-se, poderes. (...) Mais prosaicamente, é a ideia 
muito difundida de que as mulheres puxam os fiozinhos dos bastidores, enquanto os 
pobres homens, como marionetes, mexem-se na cena pública.” (PERROT, 2010, 
p.167-168). 
Apesar de suas músicas se concentrarem na temática de dominação e 
submissão dos homens e das outras mulheres aos comandos de uma poderosa, o 
modelo de subjetividade feminina que Anitta propõe em suas entrevistas é o que dá 
título a outro de seus hits: a meiga e abusada. É a mulher que é “sexy sem ser 
vulgar”, como a personagem escolhida para o nome artístico de Anitta. Que mantém 
os padrões de feminilidade – doçura, recato, vaidade – mas utiliza-os como meios de 
empoderamento para obter o que quer. Assim como prega o girl power. 
Assim, Anitta se afasta do discurso de liberdade sexual proposto por outras 
funkeiras, como Valesca Popozuda e Tati Quebra-Barraco. Ela faz questão de afirmar 
em suas entrevistas que “não é piriguete” e que “não fica por ficar”. Observa-se que, 
 
25
 http://www.youtube.com/watch?v=1uNqLW4auxw. Acesso em 24/08/13. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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quanto mais recatada, mais vendável é a imagem de Anitta. Em um de seus shows 
realizado em março no Rio de Janeiro, o Chá da Anitta, a cantora fez uma coreografia 
sensual de corpo colado com um dançarino, levantando também o vestido diversas 
vezes durante a performance
26
. Os comentários no Youtube demonstravam-se, em sua 
maioria, chocados e decepcionados com Anitta, que recebeu xingamentos como puta 
e vadia, direcionados tanto a ela quanto às funkeiras em geral. Provavelmente diante 
da repercussão negativa, a coreografia foi modificada na edição seguinte do show, em 
junho. Dessa vez, Anitta dançou distante do bailarino, os corpos mal se tocaram, 
mostrando uma sensualidade mais recatada, mais meiga que abusada.
27
 
Como o objetivo de Anitta é ser uma cantora “para todos os públicos”28, a 
aposta no recato apresenta-se como a mais palatável para um grande público que é 
conservador no que diz respeito à sexualidade feminina. Em uma de suas entrevistas, 
no programa De frente com Gabi, no SBT, a jornalista Marília Gabriela mostrou-se 
preocupada após perguntar sobre a iniciação sexual de Anitta: “mas esse assunto não 
é um problema na sua casa, por exemplo? Pensei agora: „eu perguntei pra ela, ela 
pode se complicar com a família...‟”, reforçando uma imagem “pura” da cantora, que 
antes dizia que acha horrível “ficar com váriosao mesmo tempo”. A cantora 
respondeu de pronto que tinha uma relação muito próxima à mãe, que sabia de todos 
os seus passos. 
A questão da vestimenta também é algo importante na construção da imagem 
da mulher “sexy sem ser vulgar”. Programas como Esquadrão da moda, do SBT, que 
realizam uma transformação no estilo de alguém que é indicado por amigos, família 
ou namorado por “se vestir mal”, ou estar “fora de moda” insistem na afirmação da 
sensualidade, porém sem “mostrar demais”. A mulher não pode ser nem 
masculinizada, nem “piriguete” (CERQUEIRA et al, 2012). Anitta afirma que ela 
própria passou por essa transformação, com a chegada de suas duas personal stylists. 
 
26
 https://www.youtube.com/watch?v=JdsO7T8mT78. Acesso em 01/08/13. 
27
 https://www.youtube.com/watch?v=g2d7KAY2cIU. Acesso em 01/08/13. 
28
 A cantora aposta inclusive nas crianças, com a turnê “Show das poderosinhas”, com apresentações 
exclusivas para os menores de 18 anos. http://www.youtube.com/watch?v=BiX4hUERGEc. Acesso em 
24/08/2013. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Avaliando seu estilo no passado, Anitta considera que se vestia muito mal. Quando 
Marília Gabriela pede para que ela defina o que é esse “mal”, ela diz que usava roupas 
muito apertadas, que marcavam tudo, e que dizia que jamais usaria roupas largas. 
Hoje, depois que as estilistas a ensinaram os modos “corretos” de vestir, ela diz que 
adora esse tipo de roupa. Nota-se que Anitta teve um estilo considerado “piriguete”, 
usual no mundo do funk e também responsável, junto com outros fatores, pelo 
estigma de vulgaridade do gênero musical, transformado para uma imagem “sexy sem 
ser vulgar”. 
É como se a cantora tivesse algo a provar. Apesar de carregar um conjunto de 
estigmas ligados à vulgaridade como ser uma mulher pública
29
, ser cantora de funk, 
usar roupas curtas e fazer danças sensuais, a cantora quer mostrar que sabe ser “sexy 
sem ser vulgar”, como a personagem que lhe deu o nome. Assim como Anitta fez uma 
passagem de um funk estigmatizado para um funk-pop comercial, seu discurso vem se 
voltando cada vez mais para a afirmação do recato, fato que tanto revela quanto 
reforça expectativas sociais colocadas sobre as mulheres. 
 
 
Considerações finais 
 
E vocês se lembram quem era a 'mulher de verdade'? Era uma moça que 
ganhava esse título porque não tinha a menor vaidade, passava fome ao 
lado do homem e quando o via contrariado dizia: 'Meu filho, o que se há 
de fazer'. Não sou malvada com os bofes. Que me desculpe o poeta Mario 
Lago, mas a realidade não é nada disso, gente! Acho que a banda toca para 
o lado da Rita Lee, que nos apresenta essa nova mulher, uma 'ovelha negra 
da família que não vai mais voltar'. A mulher não deve ser submissa, tem 
que se respeitar e respeitar o outro, em primeiro lugar.
30
 
 
 
29
 Segundo Michelle Perrot, a primeira forma que a mulher teve de ocupar o espaço público (e por 
muito tempo, a única), foi nas atividades ligadas à prostituição, fazendo com que a relação da mulher 
com a visibilidade seja historicamente permeada por essa imagem (PERROT, 1998). 
30
 http://extra.globo.com/tv-e-lazer/musica/anitta-da-dica-gente-pode-fingir-que-esta-sendo-enrolada-
acabar-com-esses-homens-8782662.html. Acesso em 01/08/2013. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 14 
De fato, como observa Anitta no trecho acima, publicado em sua coluna 
especial para o jornal Extra
31
, as mulheres não precisam ser submissas como 
antigamente. E essa é também uma conquista do movimento feminista, que em sua 
segunda onda, em meio à revolução contracultural da década de 1960, teve como 
lema as palavras da ativista Carol Hanish, “o pessoal é político”, trazendo para o 
espaço público temas até então confinados ao espaço privado, como a sexualidade 
feminina e a violência doméstica. A Amélia não é mais o modelo predominante 
esperado para as mulheres – pelo menos as de classe média dos centros urbanos, 
público majoritário de Anitta. É preciso reconhecer que o discurso da cantora, bem 
como os postulados do girl power, promovem sim um tipo de empoderamento 
feminino. Ao contrário do que pregaram as músicas pop brasileiras e as revistas 
femininas durante os anos 1990 e 2000, a mulher tem alternativas à ideia de fazer de 
tudo para agradar o homem e suportar por ele uma gama de sofrimentos. Ela é 
incentivada a centrar-se nos próprios objetivos e buscar sua autonomia e 
independência. 
Entretanto, esse “feminismo midiático” baseia-se em um poder “bélico”, que 
reforça uma guerra constante contra os homens e as outras mulheres, as “invejosas”32, 
e coloca uma dicotomia entre dominantes e dominados, fazendo com que a figura da 
mulher poderosa somente inverta essa estrutura de dominação. O objetivo não é o do 
movimento feminista – a igualdade entre os sexos – mas uma afirmação de uma certa 
“superioridade” feminina. Contudo, ao analisar essa ideia de superioridade proposta 
por esse modelo discursivo, percebe-se que ela está condicionada a uma série de 
sujeições a padrões de feminilidade, a um modelo rígido de conduta sexual e a uma 
performance de autenticidade. Não é qualquer mulher que está apta a ser empoderada 
por esse discurso, mas a meiga e abusada, que consegue obter mais respeito que as 
outras mulheres, pois não só conserva os modelos subjetivos esperados para o gênero 
feminino, atendendo às expectativas sociais, mas os utiliza como meios de 
 
 
32
 Referência à música “Show das poderosas”: “Prepara que agora é hora do show das poderosas/ Que 
descem e rebolam/ Afrontam as fogosas/ Só as que incomodam/ Expulsam as invejosas/ Que ficam de 
cara quando toca”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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empoderamento para obter o status de poderosa. É preciso ressaltar que Anitta não 
reivindica para si o status de feminista, assim como diversas outras celebridades 
femininas contemporâneas que se tornam ícones para a discussão do papel feminino 
na mídia. É problematizada aqui a apropriação midiática de sua imagem, que toma 
essa representação de dominação feminina como objetivo do movimento feminista, 
mostrando um desconhecimento de suas motivações históricas. 
Observa-se também que essa imagem da mulher poderosa veiculada por 
Anitta, ao promover a ideia de guerra dos sexos, reforça uma concepção em que o 
poder é algo que deve se possuir, e para isso, necessariamente ser tirado de alguém, 
desconsiderando a complexidade de suas relações. Como afirma Foucault (1987), não 
se deve tratar o poder como uma entidade unitária, estável e unidirecional, e sim na 
sua dimensão microfísica, um poder que se exerce, e não que se possui, e que 
atravessa as relações sociais produzindo estados de dominação e resistências. O pós-
feminismo midiático promove a concepção de que o poder é como uma tocha 
olímpica que estava ali o tempo todo, esperando que as mulheres finalmente otomassem. A receita então para erguer a tocha e conquistar a vitória seria a 
transposição das barreiras interiores (STEINEM, 1993). 
Essa concepção coloca no indivíduo mulher a responsabilidade por vencer 
conjunturas históricas, culturais e econômicas que impediram as condições de 
igualdade entre os gêneros, por meio de instrumentos psicologizantes, especialmente 
da autoestima, que tornou-se uma espécie de panaceia para a resolução de todos os 
males. Com ela, é possível “conquistar tudo”, como afirma a cantora. 
Aviso no início da música 'Meiga e abusada': 'Eu posso conquistar tudo 
que eu quero!' E sempre tento cantar as situações que já vivi, e falar sobre 
aquilo que acredito. (...) O mais importante é sempre acreditar em você, 
sem preconceito e sem rótulos. A gente tem de ser o que quiser e podemos 
ser tudo ao mesmo tempo.
33
 
 
O discurso então transcende a questão de gênero e abarca os ideais do culto da 
performance que norteiam os ideais neoliberais da sociedade individualista 
 
33
 http://extra.globo.com/tv-e-lazer/musica/anitta-da-dica-gente-pode-fingir-que-esta-sendo-enrolada-
acabar-com-esses-homens-8782662.html. Acesso em 01/08/2013. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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 16 
contemporânea. Ser poderosa é “ser você mesma”, “ser mais” e “conseguir o que 
quer”, e essas são “lutas” individuais. Apesar de associadas ao movimento feminista, 
a busca desse poder nada tem de coletivo ou de mobilização social. A poderosa é um 
indivíduo feminino que obteve melhores performances de aparência, autenticidade e 
atitude sobre outros indivíduos, masculinos e femininos. Nesse sentido, Anitta pode 
não ser feminista, mas é poderosa. 
Bibliografia 
 
 
BOORSTIN, Daniel. The image. A guide to pseudo-events in America. New York, 
Vintage Books, 1992. 
 
CERQUEIRA, Lígia Campos de; CORRÊA, Laura Guimarães; ROSA, Maitê Gurgel. 
A cartilha da mulher adequada: ser piriguete e ser feminina no Esquadrão da Moda.. 
In: Revista Contracampo, v. 24, n. 1, ed. julho, ano 2012. Niterói: Contracampo, 
2012. Pags: 120-139. 
 
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FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 2011. 
 
________. História da Sexualidade – Volume 1: A vontade de saber. Rio de Janeiro: 
Graal, 1984. 
 
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FREIRE FILHO, João. Como ser uma “adolescente liberada” no terceiro milênio. In: 
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GENZ, Stéphanie; BRABON, Benjamin A. Postfeminism: cultural texts and theories. 
Edinburgh: Edinburgh University Press, 2009. 
 
GILL, Rosalind. Gender and the Media. New Hampshire: Polity Press, 2007. 
 
PERROT, Michelle. As mulheres, o poder, a história. In: Os excluídos da história: 
operários, mulheres e prisioneiros. São Paulo: Paz e Terra, 2010. 
 
________. Mulheres Públicas. São Paulo: Editora Unesp, 1998. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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MOLE, Tom. Byron’s romantic celebrity: industrial culture and the hermeneutic of 
intimacy. Basingstoke: Palgrave, 2007. 
 
MEYERS, Erin. “Can you handle my truth?”: authenticity and the celebrity star 
image. The Journal of Popular Culture vol. 42, n. 5, 2009, p. 890-906. 
 
ROSE, Nikolas. Psicologia como uma ciência social? Psicologia & Sociedade, 20 (2): 
155 -164. London: University of London, 2008. 
 
TAYLOR, Charles. A ética da autenticidade. São Paulo: Realizações, 2011.

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