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31 2 HISTÓRICO DA CATALOGAÇÃO Será exposta nas próximas seções, a evolução da catalogação desde a formação de catálogos, iniciativas na elaboração de códigos de catalogação até o uso de tecnologias no processo da catalogação. 2.1 Catálogos, catalogação e códigos de catalogação Historicamente, a primeira escrita a respeito da catalogação ou da relação de obras de uma coleção, apareceu na Biblioteca de Assurbanípal, em Assíria datando entre 668-626a.C. Nos dias de hoje o Museu Britânico de Londres conserva alguns fragmentos de índices desta biblioteca, com escritas rudimentares. Outra manifestação digna de registro foi em Alexandria (260-240a.C.), onde Calímaco realizou, na Biblioteca de Alexandria, a primeira iniciativa para a organização de um catálogo metódico (BARBOSA, 1978). A partir do aperfeiçoamento da imprensa por Gutenberg em meados do século XV, os catálogos tornaram-se chaves importantes para consultas e pesquisas deixando de ser apenas índices bibliográficos ou listas. 32 Segundo Mey (1995, p. 9): [...]. catálogo é um canal de comunicação estruturado, que veícula mensagens contidas nos itens, e sobre os itens, de um ou vários acervos, apresentando-as sob forma codificada e organizada, agrupadas por semelhanças, aos usuários desse(s) acervos(s). Atualmente, os catálogos mais usados são: manuais (ficha padrão de 7,5 x 12,5 cm), ou automatizados. Eles também podem ser coletivos, isto é, permitem a localização de documentos de várias bibliotecas, ou catálogo específico de uma única biblioteca. Independentemente do tipo de catálogo adotado pela biblioteca é necessário que ao se preparar o catálogo preste-se atenção nos seguintes itens: uniformidade das informações; economia na preparação e na manutenção economizando recursos e tempo; atualidade, não se esquecendo que o catálogo deve estar plenamente de acordo com o acervo, sempre atualizado (MEY, 1995). Além disso, ser de fácil manuseio, consulta e manutenção e tendo como requisitos, segundo Mey (1995, p. 10): • flexibilidade, que permite inserção de representações de novos itens; exclusão de representações de itens descartados ou perdidos e mudanças nas representações, quando necessário; • facilidade de manuseio, que significa, além da facilidade para ser manuseado propriamente, ter boa sinalização – no caso de catálogos manuais, interna e externa; estar em local visível e acessível e apresentar instruções de uso; • portabilidade, que permite ser consultado fora da biblioteca, ou em diferentes locais da biblioteca; • compacidade, que significa ocupar pouco espaço. Como nada é perfeito, os tipos de catálogos mais usados (manuais e automatizados) não apresentam todos requisitos citados acima. O catálogo manual é de difícil mobilidade e o catálogo automatizado está mais sujeito à 33 fatores externos. O tipo de catálogo com suas qualidades vai depender do tipo de biblioteca e com que recursos esta conta (MEY, 1995). Para que o catálogo contemple as exigências já descritas é necessário que se realize uma catalogação de qualidade, que segundo Barbosa (1978, p. 30): [...] catalogação, isto é, o processo técnico do qual resulta o catálogo, é a linguagem de descrição bibliográfica, que só poderá ser um bom instrumento de comunicação à medida que for normalizado. E segundo Mey (1995, p. 5) Catalogação é o estudo, preparação e organização de mensagens codificadas, com base em itens existentes ou passíveis de inclusão em um ou vários acervos, de forma a permitir interseção entre as mensagens contidas nos itens e as mensagens internas dos usuários. A catalogação, segundo o AACR2 pode ser apresentada em três níveis os quais no momento de sua escolha deve-se levar em consideração o tipo de catálogo que se quer construir e o tipo de usuário. Mey (1995) enfatiza, ainda, que as funções da catalogação inseridas em um catálogo e referentes ao usuário devem: a) Permitir ao usuário: 1. localizar um item específico: 2. escolher entre as várias manifestações de um item; 3. escolher entre vários itens semelhantes, sobre os quais, inclusive, possa não ter conhecimento prévio algum; 4. expressar, organizar ou alterar sua mensagem interna. b) Permitir a um item encontrar seu usuário. c) Permitir a outra biblioteca: 1. localizar um item específico; 2. saber quais os itens existentes em acervos que não o seu próprio. (p. 7). 34 Como a catalogação cumpre essas funções? Com as seguintes características: “integridade, clareza, precisão, lógica e consistência” (MEY, 1995, p. 7). Sendo que estas características dependem do catalogador, ao qual cabe a realização de um serviço de qualidade não omitindo nenhum detalhe que venha prejudicar a recuperação do item documentário pelo usuário. Mas e como fazer a descrição de um documento? Aleatoriamente? Com certeza não. Para a realização da representação descritiva de um documento existem regras e códigos, que devem ser seguidos com a finalidade da normatização e padronização do processo da catalogação para um futuro intercâmbio de dados. Nesse sentido, a adoção de um código que esteja em consonância com os objetivos e metas internacionais de catalogação é uma necessidade. Atualmente, o Código de catalogação AACR2 é mais usado e aceito internacionalmente juntamente com o formato de intercâmbio MARC21 para a catalogação automatizada. Porém, até se chegar a esta aceitação - ainda com resistência de parte da comunidade biblioteconômica - muitas reuniões, estudos e discussões aconteceram. Por volta de 1839 houve um movimento que ficou conhecido como a Batalha das Regras, pois foi neste momento que sérias discussões a respeito da catalogação tomaram forma. Foi quando Anthony Panizzi, bibliotecário, junto com seus colaboradores, elaboraram 91 regras de catalogação, publicadas em 1839 na Inglaterra, tendo sua aprovação em 1841 (Rules for the Compilation of the Catalog – Catalogue of printed books in British Museum), pelos autores do 35 Museu Britânico, tendo sua última edição em 1936. Após a publicação, deu- se início a uma série de discussões entre bibliotecários ingleses. Pode-se dizer que essas regras influenciaram todas as seguintes. Uma das características das regras de Panizzi é defendida até hoje: a valorização da folha-de-rosto. O restante das regras deram margem à discussões. Em seguida, Charles C. Jewett publicou, em 1853, para a Smithsonian Institution dos Estados Unidos da América (EUA), um outro código contendo 33 regras, baseadas largamente nas regras de Panizzi, com modificações, dando ênfase às obras escritas sob pseudônimo, e à questão de autoria coletiva. Mas Jewett realmente deixou sua marca pela idéia para elaboração de um catálogo coletivo das bibliotecas americanas imprimindo-o por estereotipia mas infelizmente não conseguiu realizar. Charles Ami Cutter, que segundo Barbosa (1978, p. 28) foi “A figura mais brilhante do século XIX”, publicou, em 1876, a “Rules for a printed dictionary catalog” tendo sua última edição (4. ed.) em 1904, quase coincidindo com a redação do primeiro código da American Library Association (ALA) em 1908, o qual teve influência e colaboração no seu desenvolvimento. O código de Cutter continha 369 regras, as quais causaram inúmeras críticas em relação aos detalhes, tidos como desnecessários. As “Instruções Prussianas” (Instruktionen für die Alphabetischen Kataloge der Preussischen Bibliotheken), resultou das regras compiladas em 1886 por Carl Dziatzko, influenciando países como: a Alemanha (seu país de origem), Áustria, Hungria, Dinamarca, Holanda e Noruega. Primeiramente foi reconhecido como “Código da Real Biblioteca”, e em 1899 adotou 36 oficialmente, quando foi publicado, o nome de Instruções Prussianas. Sua segunda edição,em 1908, coincidiu com a publicação do Código da ALA. Mas somente em 1936, quando as Instruções Prussianas foram usadas na compilação do Catálogo Coletivo Prussiano e do Catálogo Coletivo da Alemanha, ficou reconhecido como de caráter internacional. Algumas das características das Instruções Prussianas eram: simplificação e a abreviação de entradas, principalmente em relação ao título, entre outros contrastes encontrados em relação ao Código da ALA. Os bibliotecários alemães queriam chegar à uma uniformidade de suas regras com a ALA, sendo constituída então uma Comissão para estudar o caso, tendo como primeira tarefa a tradução do Código Prussiano para a língua inglesa, tarefa que coube ao bibliotecário Andrew Osborn, publicada em 1938. Outra tarefa: o estudo comparativo dos códigos, coube à J. C. Hanson, que foi obrigado a interromper o trabalho devido ao início da Segunda Guerra Mundial (1939). Após outras reuniões e baseado na Declaração dos Princípios (1961), o novo código alemão foi publicado levando-se em consideração: entradas coletivas e arquivamento de fichas pela primeira palavra do título não sendo um artigo. A adesão da Alemanha, e de outros países já citados aqui, contribuiu para a consolidação da cooperação internacional em relação à bibliografia e à catalogação. As Instruções Prussianas com a devida autorização da Associação de Bibliotecas Alemãs foram substituídas pelas “Regeln für die Alphabetische Katalogisierung” (RAK)/1967. Em 1876 quando foi fundada a ALA, começou-se a cogitar a elaboração de um código de catalogação para as bibliotecas americanas. 37 Participaram da elaboração vários nomes, como: Cutter, que deu imensa colaboração para os colegas da ALA resultando no código: Catalog Rules: author and titles entries (1908). Nesse código Panizzi se consagrou pois, encontrou o que já era o objetivo de suas 91 regras: a cooperação inter- bibliotecária. Em 1901, quando a LC começou a imprimir suas fichas catalográficas para venda, a ALA nomeou uma comissão encarregada de estudar as regras adotadas pela LC, que por sugestão de Melvil Dewey em colaboração com a Library Association (LA) da Inglaterra, compilaram-se algumas regras usadas pela LC, incorporando-as ao Código da ALA (1908). O Código da ALA foi aceito amplamente, devido ao fato dos nomes envolvidos em sua elaboração. Como ele foi publicado coincididamente com a 2. edição das Instruções Prussianas (1908), foram os códigos mais usados na América e Europa respectivamente. Neste mesmo período, o Código da Vaticana foi elaborado, baseado no Código da ALA de 1908, tendo ampla aceitação após sua tradução para vários idiomas da América Latina. Sua 1. edição (1949), coincidiu com a 2. edição do Código da ALA. O caminho para a padronização de regras usadas por muitas pessoas não é livre de críticas e opiniões e, foi assim com o código da ALA em sua 1. edição. As principais críticas eram em relação ao excesso de detalhes principalmente à parte descritiva. Reconhecendo a validade das críticas, a ALA nomeou uma comissão para a revisão do código juntamente com a LA. A comissão tinha como presidente Charles Martel, bibliotecário da LC. Com o início da Segunda Guerra Mundial (1939), somente foram acatadas as decisões da ALA, uma vez que a Associação Inglesa teve que se afastar. 38 Em 1941 publicou-se a 2. edição preliminar do Código da ALA, em duas partes: Entradas e cabeçalhos e Descrição do Livro. Novas críticas surgiram, dando destaque à crítica feita pelo bibliotecário Andrew Osborn em seu artigo “The crisis of cataloguing”, que enfatizava dois pontos: o abandono de princípios que fundamentassem as regras e o afastamento do principal objetivo da catalogação, que segundo ele é o de: atender às necessidades dos usuários através dos catálogos (BARBOSA, 1978). Novamente a ALA se conscientizou das críticas feitas e montou uma Comissão de Revisão do Código, dividindo suas recomendações em duas partes: uma referente à entradas, que era considerada satisfatória; e outra sobre catalogação descritiva, a qual seria entregue à LC para ser feita uma revisão de acordo com as regras adotadas por ela, isto porque a LC vinha atuando amplamente na difusão de suas fichas para o desenvolvimento da catalogação cooperativa, fazendo com que esse motivo, entre outros, como: a publicação periódica e regular de seus catálogos, fizesse com que grande parte dos bibliotecários americanos e estrangeiros aceitassem sua prática de catalogação. Em 1949 em substituição à 2. edição preliminar foi publicada a 2. edição do Código da ALA em dois volumes: Volume 1: ALA cataloging rules for author and title entries, editado por Clara Beeth, referente à entradas e cabeçalhos, este volume era identificado como “Red Book”, devido à sua capa vermelha. Volume 2: identificado como “Green Book”, pela sua capa verde era intitulado como: “Rules for descriptive cataloging in the LC”, relativo à parte 39 descritiva. Este segundo volume surgiu como uma inovação por trazer: introdução, com os objetivos da catalogação descritiva e os princípios em que se devia fundamentar sua aplicação. Foi sucesso absoluto. Em relação ao primeiro volume (Red Book) não tardaram, nem faltaram críticas, principalmente entre bibliotecários americanos. Pedia-se que se aplicasse às entradas e cabeçalhos a simplificação adotada à parte descritiva, pois no primeiro volume ainda haviam muitos detalhes da 2. edição preliminar. A LC pela importância do trabalho realizado em sua Central, viu essas críticas como de interesse nacional. Luther Evans, diretor geral da LC, convidou Seymour Lubetzky que verificou que essa análise merecia uma notada e profunda atenção, apresentando então um relatório à Comissão de Revisão do código de catalogação, que foi julgado pela LC e por consultores especializados em Biblioteconomia, bem como por catalogadores especializados de renomada experiência, resultando assim na obra: “Cataloging rules and principles: a critique of ALA rules for entry and a proposed design for their revision”, publicado em 1953. Tida como uma obra de grande importância também pela ALA , foi indicado para servir de base para a revisão da 2. edição do Código da ALA. Lubetzky faz inúmeras críticas ao Código da ALA na obra acima como : [...] conclui mencionando o custo dos trabalhos de catalogação, razão da urgente necessidade de um código mais simplificado e de fácil aplicação, o que certamente contribuiria para a economia daqueles trabalhos. (BARBOSA, 1978, p. 38). Lubetzky publicou uma obra sobre o caso das autorias, restringindo drasticamente as regras, intitulado como: “Code of cataloguing rules; autor and title entry. Un unfinished draft for a new edition of 40 cataloging rules” (1960). Seguidamente em 1961, publicou: “Additions, revisions and changes”, que contribuiu de maneira decisiva para a preparação de um novo código (BARBOSA, 1978). Movimentos fortes haviam nesta época, por parte de bibliotecários de todos os países, para que se estabelecesse acordos internacionais de normalização, o que era, e é, uma exigência para a catalogação realizada em ações cooperativas, tidos como uma das soluções para a normatização em âmbito internacional. Uma outra solução seria a conscientização dos profissionais catalogadores desta necessidade. Um outro passo para a criação de regras usadas e aceitas internacionalmente foi dado com a Conferência de Paris realizada em 1961, em que o Conselho Geral da Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários (FEBAB), compôs um grupo com oito catalogadores que tinham as seguintes atribuições: colocar os princípios da catalogação de forma internacionalmente aceita; escrever um relatório o qual deveria ser seguidopara princípios a serem observados nas entradas de obras anônimas e de autoria coletiva. O principal objetivo da Conferência Internacional sobre os Princípios de Catalogação era o de uniformizar as regras de entradas e cabeçalhos principais. Dois anos antes da Conferência de Paris, países do mundo inteiro tiveram a oportunidade de analisar diferentes documentos, para fazerem críticas e indicarem sugestões com antecedência e se designasse delegados de cada país, os quais teriam direito à voto. A representante do Brasil foi Maria Luisa Monteiro da Cunha. Eis algumas das resoluções da Conferência de Paris: 41 a) que os delegados e comissões nacionais promovessem, em seus, países, a maior publicidade possível para o Texto dos Princípios, não só entre bibliotecas, mas também entre editoras, livreiros e autoridades responsáveis; b) que países pertencentes à mesma área lingüística deveriam elaborar seus códigos ou rever os já existentes, de acordo com os Princípios estabelecidos, e adotar esses mesmos Princípios na elaboração de suas bibliografias nacionais. (BARBOSA, 1978, p. 42). Ainda para a escolha e a forma de cabeçalhos de entradas estabeleceu-se doze itens: a) Objetivos; b) Funções do catálogo; c) Estrutura de um catálogo; d) Tipos de entrada; e) Uso de entradas múltiplas; f) Funções dos diferentes tipos de entrada; g) Escolha do cabeçalho uniforme; h) Autor pessoal e individual; i) Entrada coletiva; j) Autoria múltipla; l) Obras que entram pelo título; m)Cabeçalhos de entrada para autores individuais. (BARBOSA, 1978, p. 43). A questão das entidades coletivas - como deve ser feita a entrada em catálogos - foi uma questão, e é, até hoje, difícil de se normatizar. Atualmente, ainda é possível encontrar um documento com várias formas de entradas o que acarreta em duplicação de serviço e no prejuízo na recuperação da informação. Mesmo contando com o código AACR2, o profissional bibliotecário ao fazer a entrada de um documento ainda se depara com dúvidas; talvez fossem precisos encontros anuais entre catalogadores pelo menos em âmbito nacional, onde seriam elaborados relatórios para serem disponibilizados internacionalmente. 42 O que se necessitava era de um código de catalogação aceito internacionalmente. Mas não seria preciso ser elaborado um novo código, bastaria rever a parte de entradas e cabeçalhos do Código da ALA (Red Book) de forma sucinta e manter a parte descritiva (Green Book). Quando a ALA começou suas atividades para a reelaboração de seu código, deu-se conta de que a LA da Inglaterra, também estava determinada a rever a 2. edição de 1949 do Código da ALA. Firmou-se então, acordo entre ambas as partes para a coordenação dos trabalhos, a fim de se manter um intercâmbio das decisões, regras, projetos e atas das reuniões. A Canadian Library Association também participou ativamente no trabalho de reelaboração. Com o trabalho e a responsabilidade destas três instituições foi publicado em 1967 o AACR. Infelizmente, as associações inglesas e americanas não chegaram a um acordo total quanto ao código devido à inúmeras divergências, dificultando a aplicação de regras que viesse ao encontro das expectativas sendo, então, elaborado dois códigos em língua inglesa: um publicado nos Estados Unidos e outro na Inglaterra. O AACR foi bastante difundido e adotado em vários lugares do mundo, talvez por ser considerado o mais próximo das resoluções da Conferência de Paris. Mesmo com o AACR sendo adotado amplamente não havia, ainda, chegado à uma padronização na catalogação, sendo este um dos motivos da Reunião Internacional de Especialistas em Catalogação (RIEC), em 1969, na cidade de Copenhague, que tinha os seguintes objetivos: 43 1) Conciliar em um texto único os textos norte-americano e britânico de 1967 2) Incorporar ao texto único todas as emendas e mudanças já aprovadas e implementadas por mecanismos anteriores 3) Considerar a possibilidade de incluir no AACR todas as propostas de emenda em discussão no momento entre a American Library Association, a Library Association, a LC e a Canadian Library Association; qualquer nova proposta apresentada por estas entidades e pelo British Library; e qualquer proposta de comissões nacionais de outros países em que o AACR fosse adotado 4) Suscitar interesse pelo AACR, a nível internacional, facilitando seu uso em outros países além dos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido. Este objetivo final foi reforçado mais tarde quando o Concil on Library Resources o estabeleceu como condição para financiar esta edição, com o intuito de contribuir para o desenvolvimento de um código internacional de catalogação. (AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION, 1983, p. xiv-xv). Eis as resoluções mais importantes desta reunião segundo Barbosa (1978, p. 55-56): a) a criação de um grupo de trabalho, [...], para estudar o problema da autoria coletiva; b) a criação de um grupo de trabalho para estudar a ISBD(M); c) a criação de um sistema internacional de permuta de informações que estabelecia que a produção bibliográfica de cada país deveria ser feita e distribuída através de uma agência nacional. Os meios de divulgação seriam fichas ou fitas magnéticas. Para esse fim, deveria haver o máximo de normalização tanto na forma quanto no conteúdo da descrição bibliográfica; d) a criação de uma Secretaria de Catalogação, com sede na FIAB, [Federação Internacional de Associações de Bibliotecários] que se concretizou em 1971. Na época, mesmo o AACR sendo criticado, este teve sua aceitação por motivos como: a) facilidade da língua inglesa, considerado como idioma internacional de comunicação; b) influência dos Estados Unidos, com ajuda da UNESCO, na criação de universidades em países como a Coréia, Índia, etc; c) o envio regular de pessoas para se profissionalizarem ou se aperfeiçoarem em universidades americanas e inglesas, principalmente oriundas de países onde não existem escolas de biblioteconomia. (BARBOSA, 1978, p. 150). 44 A partir do encontro em Copenhague foi criada uma Comissão Executiva Conjunta para a revisão do Código de Catalogação Anglo Americano – Joint Steering Committee for the Revision of the Anglo American Cataloguing Rules (JSCAACR), no ano de 1975 em uma reunião com a Comissão de Catalogação da IFLA, a JSCAACR propôs uma revisão do código AACR, resultando no AACR2 em 1978, propondo também a criação de uma General International Standard Bibliographic Description /Descrição Bibliográfica Internacional Normalizada (Geral) (ISBD (G)), que contemplasse diversos formatos de materiais presentes nas coleções das bibliotecas, dando ênfase à pontuação que precede cada informação – campo de descrição bibliográfica. Existem na totalidade nove3 tipos de International Standard Bibliographic Description / Descrição Bibliográfica Internacional Normalizada (ISBDs): International Standard Bibliographic Description for Older Monographic Publications (Antiquarian) (ISBD(A)), International Standard Bibliographic Description for Computer Files (ISBD(CF)), International Standard Bibliographic Description for Cartographic Materials (ISBD(CM)), International Standard Bibliographic Description for Serials and Other Continuing Resources (ISBD(CR)), International Standard Bibliographic Description for Electronic Resources (ISBD(ER)), International Standard Bibliographic Description for Monographic Publications (ISBD(M)), International Standard Bibliographic Description for Non-Book Materials (ISBD(NBM)), International Standard Bibliographic Description for Printed Music (ISBD(PM)), International Standard Bibliographic Description for Serials (ISBD(S)), para monografias, obras gerais, publicações seriadas, 3 http://www.ifla.org/VI/3/nd1/isbdlist.htm45 material cartográfico, material não bibliográfico, partituras musicais, obras raras, obras analíticas, arquivos de computador (CONTROLE BIBLIOGRÁFICO UNIVERSAL – CBU, 1999). O JSCAACR era constituído por 5 representantes das 5 entidades que o representavam, sendo um com direito a voto e outro não, designando 2 coordenadores, um de cada lado do Atlântico. As funções do JSCAACR eram a de: considerar todas as propostas vindas de outros países e juntamente com os coordenadores de cada país manter um diálogo sobre os princípios da catalogação, a avaliação para posterior aprovação das regras formuladas pelos coordenadores e preparação do texto final para publicação. Entre as diretrizes do JSCAACR estavam, segundo American Library Association (1983, p. xv): 1) Manter compatibilidade, em geral, com os Princípios de Paris de 1961, tal como aparecem na primeira edição 2) Dar atenção particular à evolução do processamento automatizado dos registros bibliográficos 3) Continuar a se compatibilizar com a ISBD(M) como base para a descrição bibliográfica de monografias e comprometer- se a seguir o princípio de normalização da descrição bibliográfica para todos os tipos de materiais 4) Determinar o tratamento de materiais não-livro tomando em consideração, principalmente, as regras de catalogação publicadas pela Canadian Library Association, pela Library Association e pela Association for Educational Communications and Thechnology, bem como a revisão do capítulo 12 do texto de 1967, elaborado pela ALA. Após a publicação das ISBD(M) (1971), para monografias, vários códigos de catalogação incluindo o AACR e o RAK fizeram reuniões de modo à compatibilização com as ISBDs. Na próxima seção veremos como se deu o uso do AACR no Brasil, de outros códigos e as iniciativas para a elaboração de códigos brasileiros. 46 2.1.1 Iniciativas para a construção de códigos brasileiros Todas as iniciativas para a elaboração de um código de catalogação brasileiro não obtiveram sucesso. Jorge Duarte Ribeiro, em 1934, elaborou um trabalho denominado “Regras bibliográficas (ensaios de consolidação)”, não propriamente um código mas uma tentativa de normalização das entradas de nomes pessoais. Regras gerais de catalogação e redação de fichas foram apresentadas, em 1941 pela Associação Paulista de Bibliotecários (APB) e, aprovadas pelo Conselho Bibliotecário do Estado de São Paulo. Naquele ano, o Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP) nomeou uma Comissão composta por pessoas do próprio DASP, do Instituto Nacional do Livro (INL) e da Biblioteca Nacional (BN), para a elaboração das Normas para organização de um catálogo dicionário de livros e periódicos (Projeto de um Código de Catalogação), publicado em 1943. Estes trabalhos não foram adotados em nenhuma biblioteca pelo fato de que parte dos bibliotecários estavam acostumados a usar o Código da Vaticana que teve a tradução de sua segunda edição em 1962 , e o Código da ALA. Maria Luisa Monteiro da Cunha, ao terminar seu mestrado, apresentou o trabalho “Nomes brasileiros, um problema na catalogação”, enfatizando no referido trabalho que o problema existia devido à fatores como: 47 a) falta de um código nacional de catalogação; b) tratamento inadequado de assuntos nos códigos existentes; c) falta de precisão e caráter contraditório das fontes bibliográficas; d) inexistência de bibliografias brasileiras correntes. (BARBOSA, 1978, p. 58). Fatos como: a criação, em 1954, do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD), atualmente denominado Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) e o acontecimento do Primeiro Congresso Brasileiro de Biblioteconomia em Recife, fizeram com que novamente se pensasse nos assuntos “códigos de catalogação” e “nomes brasileiros.” Edson Nery da Fonseca apresentou neste evento o trabalho “Normas brasileiras de catalogação, entrada de autores coletivos e nomes brasileiros”, abordando o assunto que era e, ainda continua sendo de difícil entendimento por parte de bibliotecários catalogadores. Algumas recomendações deste evento foram: a) criação de um código de catalogação brasileiro; b) organização, pelo Instituto Nacional do Livro, de uma comissão de bibliotecários formada, de preferência, por professores de catalogação e por catalogadores experientes; c) escolha da entrada de nomes brasileiros e portugueses de acordo com o critério universalmente aceito de respeitar-se a vontade do autor, o uso local e a tradição literária. (BARBOSA, 1978, p. 59). Contamos hoje com a Rede Bibliodata que tem um catálogo normatizado de entradas de nomes e entidades para as bibliotecas não cooperantes e cooperantes. Após as recomendações deste evento, o IBBD, por meio do Serviço de Intercâmbio de Catalogação (SIC), se empenhou para a simplificação de 48 regras de catalogação, organizando juntamente com o INL uma Comissão de Estudos de Catalogação, divididas em duas subcomissões: paulista e carioca, que tinham como missão escrever um anteprojeto do código nacional. Vale ressaltar que as bibliotecas cariocas nunca quiseram cooperar com o SIC alegando divergência no uso de códigos, ALA e Vaticana respectivamente. O trabalho que foi realizado no SIC será enfatizado na seção 3.1.3. A subcomissão paulista ficou encarregada da tradução das regras de catalogação descritivas da LC, que foram incluídas como segunda parte do Código de 1949 da ALA. A subcomissão carioca se encarregou da parte de entradas de autor. Nenhuma das subcomissões conseguiram com seus trabalhos a satisfação dos catalogadores. A tradução realizada pela subcomissão paulista das regras da ALA poderia ser adotada com modificações mas não houve aceitação. A subcomissão carioca não conseguiu solucionar o fato de grande problema: a escolha de entradas de nomes brasileiros e portugueses. Houve a tentativa de que o SIC relacionasse algumas de suas regras mais usadas, distribuindo-as para o estudo da Comissão mas não houve acordo e o assunto e as reuniões foram encerradas. O Instituto Brasileiro para Educação, Ciência e Cultura (IBECC) a pedido da UNESCO, em 1954, tentou escrever um projeto denominado “Projeto de catalogação para nomes de autores brasileiros e portugueses.” Irene de Menezes Dória, quando exercia o cargo de Secretária da Comissão de Bibliografia, já havia preparado um anteprojeto, trabalho que não foi dado continuidade. 49 Podemos verificar que a maioria das iniciativas tentava solucionar o problema de pontos de acesso para nomes portugueses e brasileiros. A respeito deste assunto existiam duas opiniões bem distintas: ¾ preferência da adoção como entrada, pela última parte dos sobrenomes; ¾ preferência por respeitar a forma preferida pelo autor em suas obras, isto é, o seu nome literário (BARBOSA, 1978). Podemos dar destaque aos trabalhos publicados em relação ao assunto: ¾ Redação da Regra 38A de Calazans Rodrigues, do código da Vaticana; ¾ o livro de Antonio Caetano Dias: O problema da catalogação dos nomes portugueses e brasileiros; ¾ e o livro de Maria Luisa Monteiro da Cunha: Nomes brasileiros, um problema na catalogação (BARBOSA, 1978). Foi então, criada oficialmente, a Comissão Brasileira de Catalogação, filiada à FEBAB, que conseguiu resolver graves problemas de regras já obsoletas e seu uso em diversas bibliotecas do país, bem como as divergências vindas do uso de códigos diversos ou de adaptações de caráter particular. Era presidente desta Comissão Maria Luisa Monteiro da Cunha, 50 que exerceu seu cargo até seu pedido de exoneração, em 1966, extinguindo a Comissão. O III Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação em 1961, no Paraná, contribuiu para a reunião da ComissãoBrasileira de Catalogação a fim de discutir os seguintes trabalhos: “Projeto de regras de catalogação para os nomes brasileiros e portugueses”, elaborado pela subcomissão carioca e “A catalogação de autores brasileiros e portugueses”, de autoria de Maria Antonieta Requião Piedade. Tanto esses documentos como alguns anteriores contribuíram para que Maria Luisa Monteiro da Cunha elaborasse um trabalho denominado “Nomes brasileiros e portugueses: problemas e soluções”, o qual foi submetido à apreciação pelas subcomissões da Comissão Brasileira de Catalogação, sendo aprovado como edição preliminar. Esta edição foi “Enviada à comissão organizadora da Conferência de Paris, sendo aceita como Documento n. 13 e incluída na edição brasileira de 1969 do AACR como Apêndice n. VIII.” (BARBOSA, 1978, p. 61). Mesmo com essa aprovação, Maria Luisa Monteiro da Cunha realizou uma revisão no documento, enviando-o para os cursos de Biblioteconomia e para professores de catalogação. Foi então aprovado este documento, quando a maioria dos bibliotecários presentes na votação do VIII Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação, Brasília, 1975, votou para que a entrada de nomes fosse feita pela última parte do sobrenome, forma esta que é utilizada até hoje. A APB efetuou um trabalho importante na área de processamentos técnicos, tentando chegar a uma padronização nacional, sem a qual não 51 haveria nenhuma troca de informação em nível internacional. Essa associação criou uma comissão de catalogadores e classificadores, designando como presidente Maria Luisa Monteiro da Cunha. Considerando-se todas as iniciativas apresentadas até aqui, observamos que houve um amadurecimento por parte dos bibliotecários catalogadores, sendo que mesmo assim nenhum código de catalogação brasileiro foi elaborado que pudesse ser usado e considerado capaz de permitir a troca de informações em âmbito internacional. O estudo da Biblioteconomia começou na década de 30 em São Paulo e na década de 40 no Rio de Janeiro. São Paulo era considerado o pioneiro no ensino de Biblioteconomia por conta da orientadora norte americana Muriel Geldes, do primeiro curso de Biblioteconomia no colégio Mackenzie. No Rio de Janeiro a BN mantinha um curso de Biblioteconomia visando a formação apenas de seus funcionários, quando então o DASP instituiu cursos intensivos para a formação de profissionais para atuação em outras bibliotecas. Já naquela época a língua inglesa constituía uma barreira para os alunos dos cursos e tendo o Código da Vaticana sido traduzido para o espanhol, uma língua mais fácil de ler, foi adotado pelos cursos do DASP e pela BN. O Código da Vaticana teve duas versões em língua portuguesa: ¾ 1949, editada em São Paulo pelo DASP; ¾ 1962, editada pelo IBBD, com a inclusão de regras da ALA e modelos de fichas padronizadas. 52 No momento em que o IBBD inicia os estudos para a 3. edição, foi publicado o AACR em 1967, que foi traduzido para a língua portuguesa em 1969, com a devida permissão do “Office of Rigths and Permissions” (órgão da IFLA, com o título Código de Catalogação Anglo Americano, com algumas regras adaptadas para a realidade brasileira, incluindo o Documento nº 13 elaborado pela Profª Maria Luisa Monteiro da Cunha apresentado na Conferência de Paris e ainda a inclusão da Norma Brasileira nº 60 (NB-60) para Abreviaturas brasileiras no Apêndice III. Em 1971, quando Maria Luisa Monteiro da Cunha, era presidente da Comissão Brasileira de Documentação em Processos Técnicos (CBDPT) – órgão da FEBAB, tomou conhecimento do programa da IFLA para a ISBD que lançou em 1971 a edição preliminar da ISBD(M), já intuindo pela aceitação que esta teve em outros países, que seria uma forma para: [...] a realização de trabalhos cooperativos de forma normalizada, contribuindo para o desenvolvimento do Controle Bibliográfico Universal (CBU), que este sistema iria revolucionar a Catalogação nas bibliotecas. (AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION, 1983, p. viii). Quando a ISBD(M) foi traduzida para o português em 1975, Maria Luisa Monteiro da Cunha, divulgou-a para a classe de bibliotecários catalogadores. Maria Luisa Monteiro da Cunha desde a publicação do AACR2, começou a ter contatos com a ALA para a permissão de sua tradução, a qual foi concedida em 1980, concedendo também os direitos autorais à FEBAB. Infelizmente Cunha veio a falecer dois meses após o início dos trabalhos. 53 Este percalço vencido, a nova presidente do CBDPT, Regina Carneiro deu continuidade aos trabalhos juntamente com a equipe formada por especialistas em catalogação. Ao decorrer da tradução percebeu-se que não conseguiriam terminar dentro do prazo estabelecido pela ALA, fazendo com que a FEBAB solicitasse autorização para a tradução em dois volumes – com o volume 1 contendo: Parte descritiva – com índice de A à D mais o índice correspondente ao texto; e o volume 2: Pontos de acesso, glossário e apêndice (cabeçalhos, títulos uniformes e remissivas). Além do fator tempo para a tradução em dois volumes, seguiram-se outros como: 1. O AACR2 baseia-se no conceito de que o catalogador deve, em primeiro lugar, proceder à descrição normalizada do documento (objeto físico), seja ele qual for, mediante dados contidos em geral no próprio documento, para depois estabelecer os pontos de acesso (cabeçalhos e títulos uniformes). O código, segundo os autores, é considerado uma continuação do anterior, uma vez que foram observados “os mesmos princípios e objetivos fundamentais da primeira edição” 2. A Parte I, introduzindo a ISBD para a Descrição, contém as maiores mudanças em relação ao AACR1, aquelas que podem causar impacto na catalogação tradicional, sem provocar, contudo, problemas para a organização dos catálogos, pois que podem perfeitamente coexistir formas diferentes de descrição bibliográfica sem interferência em sua ordenação e alfabetação. Constitui, também, o aspecto do código mais apto a auxiliar o processamento automatizado dos registros bibliográficos, cuja implantação tem tido considerável impulso em importantes bibliotecas do país. (AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION, 1983, p. viii). Após várias reuniões e estudos ficou decidido no Primeiro Encontro dos Grupos de Trabalho em Processos Técnicos da FEBAB, São Paulo, 1976, que a adoção do AACR era essencial, em virtude de seu caráter internacional. 54 A edição brasileira do AACR se apresenta em dois volumes com datas diferentes de tradução: ¾ 1º volume: tradução realizada em 1983 → parte descritiva – com índice de A à D mais o índice corresponde ao texto. ¾ 2º volume: tradução realizada em 1985 → Pontos de acesso, glossário e apêndice (cabeçalhos, títulos uniformes e remissivas). Em 1993 é publicada pela ALA a 2. edição revisada. O AACR2 é um código usado de forma internacional e atualmente em uso conjunto com o formato MARC, favorece o intercâmbio de dados bibliográficos e catalográficos em nível internacional. Como se deu essa união veremos na seção a seguir. 2.2 Tecnologias e catalogação → catalogação automatizada O uso de tecnologias nos serviços de uma biblioteca vem crescendo de forma constante especialmente no que diz respeito a construção de formas de representação descritiva agilizando processos e facilitando a recuperação da informação. Tecnologia pode ser definida como “[...] o meio pelo qual os dados são transformados e organizados para uso das pessoas [...].” (LAUDON; LAUDON, 1999, p. 6). 55 No processo da catalogação são retirados de um documento dados os quais são transformados em uma ficha catalográfica ou em um registro em formato MARC para a formação de um catálogo e para posterior recuperação pelo usuário. Tivemos uma progressão do uso de tecnologias sempreprocurando maneiras para facilitar a inserção de novos registros em catálogos, a elaboração de um registro e a rapidez de acesso à um documento. Sem a tecnologia na catalogação não haveria por exemplo meios para a elaboração de um catálogo coletivo. E pode ser considerada: [...] uma valiosa ajuda às bibliotecas: elimina diversas tarefas repetitivas, facilita procedimentos administrativos, aumenta a potencialidade dos catálogos, se adequadamente utilizada. Mas isto não a torna solução definitiva aos problemas da catalogação. Nada mais é do que um canal físico ágil e potente. (MEY, 1987, p. 8). Uma das tecnologias aliadas à catalogação para a construção de um catálogo coletivo foi a estereotipia, idéia de Jewett (1846) que: [...] propunha gravar cada registro bibliográfico em uma chapa de estereotipia individual, para facilitar atualização do catálogo (ou seja, a inserção de chapas referentes a novas obras sem comprometimento da ordem alfabética. Pensava que se todas as bibliotecas dos Estados Unidos adotassem o mesmo processo, a produção de um catálogo coletivo impresso em forma de livro seria facilitada e sucessivamente barateada, pois o custo inicial das chapas de estereotipia iria sendo amortizado a cada nova edição [...]. (BALBY, 1995, v. 4, n. 1, p. 29-30). A tecnologia aliada à catalogação também serve para baratear os custos. Mesmo que se gaste com a automação da biblioteca, deve-se ter em mente que este gasto será reposto, quando por exemplo, a adoção de um 56 formato a nível internacional e a adoção de um programa de catalogação, permitirem que um documento não seja recatalogado. O uso de tecnologias requer “ [...] a necessidade de atualização constante junto ao mercado e as evoluções tecnológicas [...]” (PEREIRA; SANTOS, 1998, v. 7, n. ½, p. 122), permitindo também: • o rápido acesso à informação: proporcionado a economia de tempo e espaço; • a mutação crescente das terminologias; [...] • contenção de custos • normalização das informações em padrões internacionais. (PEREIRA; SANTOS, 1998, v. 7, n. 1/2, p.122). Após a estereotipia, a LC deu continuidade à esta idéia lançando o processo tipográfico: jogos de fichas catalográficas que eram vendidas “por preço de custo + 10%” (BALBY, 1995, v. 4, n. 1, p. 30), às bibliotecas que demonstrassem interesse pelo serviço. A LC, em 1960, deu início a um projeto para o intercâmbio de informações padronizadas, denominado formato MARC. Segundo Barbosa (1978, p. 199) formato é o: [...] Método de organizar dados, de tal forma que um registro bibliográfico e os dados nele contidos possam ser identificados pelo computador. A existência de um formato é essencial para a catalogação legível por computador. O formato MARC e o código de catalogação AACR2 se completam. O AACR serve como padrão externo para inserir conteúdo no formato MARC. As áreas do AACR contemplam os campos do MARC. Portanto diante à uma planilha vazia do MARC, com o código de catalogação na mão e a formação 57 de bibliotecário, é possível realizar a descrição física de um material sem grandes transtornos. O formato MARC abrange documentos do tipo: livros, materiais de arquivo e manuscritos, arquivos de computador, mapas, músicas, matérias áudio- visuais e periódicos. O projeto piloto da LC distribuía os registros às bibliotecas participantes da catalogação cooperativa e teve resultados como: a) um formato padrão para o intercâmbio de todas as formas de dados bibliográficos; b) um conjunto generalizado de programas para a criação de registros bibliográficos em forma legível por computador na Library of Congress, e c) o desenvolvimento de um serviço de distribuição para tais registros (BARBOSA, 1978, p. 199). Sua implementação se deu com dezesseis bibliotecas, as quais foram selecionadas segundo características, como: natureza, localização geográfica, disponibilidade de pessoal, equipamentos e orçamento. O projeto estava inicialmente cronometrado para término em 1967 sendo prorrogado até 1968 para que as bibliotecas participantes pudessem adquirir mais experiência. Os resultados deste projeto foram, segundo Barbosa (1978, p. 203): 58 a) distribuição aproximada de 50.000 registros (livros em língua inglesa) legíveis em computador; b)conhecimento, em profundidade, dos procedimentos necessários para converter dados catalográficos em forma legível em computador resultando em: • planejamento de uma estrutura de formato (MARCII), capaz de conter informações bibliográficas para todos os tipos de material (livros, publicações seriadas, mapas, música, etc.); • planejamento de um conjunto ampliado de caracteres para os alfabetos das línguas românicas, e formas romanizadas para os alfabetos das línguas não-românicas: c) grande interesse despertado, entre os responsáveis pela “British National Bibliography” (BNB), em desenvolver um projeto piloto MARC para o Reino Unido e, entre os bibliotecários de outros países, quanto à necessidade de um formato padrão para intercâmbio de dados bibliográficos, entra várias organizações. Estes acontecimentos exerceram profunda influência no planejamento do formato MARCII. Após uma extensa análise sobre os resultados da implantação do MARC foi elaborado o MARCII contendo três elementos: estrutura, designadores de conteúdo e conteúdo bibliográfico. Tem como norma International Organization for Standardization (ISO) 2709/1996. Em meados do final do século XX a British Library (BL), a LC e a National Library of Canadá (NLC), iniciaram uma revisão em seus formatos de intercâmbio, US Machine Readable Cataloging (USMARC), MARCII e Canadian Marc (CAN/MARC) respectivamente, para chegarem em um único formato. Após estudos e revisões nos formatos atingiram o objetivo da elaboração de um único, publicando em 1999 o MARC21, acoplando à sigla o número 21 devido ao fato do século XXI estar próximo e de destacar mais uma vez o caráter internacional do formato. No próximo capítulo trataremos dos sistemas de alimentação de catálogos e bases de dados e será possível perceber o papel do AACR2 e do MARC.
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