Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
LEGISLAÇÃO EM PRESARIAL VIRGÍNIA DE FÁTIMA DIAS KARLA REGINA SANTOS RIBEIRO Código Logístico 56725 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6339-0 9 7 8 8 5 3 8 7 6 3 3 9 0 IESDE BRASIL S/A 2017 Legislação Empresarial Virgínia de Fátima Dias Karla Regina Santos Ribeiro Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Rawpixel/iStockphoto CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ D536L Dias, Virgínia de Fátima Legislação Empresarial / Virgínia de Fátima Dias, Karla Regi- na Santos Ribeiro. - [2. ed.] - Curitiba [PR] : IESDE Brasil, 2017. 122 : il. ; 21 cm. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6339-0 1. Direito do trabalho - Brasil. I. Ribeiro, Karla Regina Santos. II. Título. 17-44329 CDU: 349.2(81) © 2017 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito das autoras e do detentor dos direitos autorais. Apresentação Este livro almeja orientar profissionais ou estudantes que tenham interesse em obter conhecimentos da área jurídica, em especial do ramo do Direito Empresarial, atualmente tão importante para aqueles que pro- curam estruturar formalmente sua empresa ou atuar na área de negócios. Com esse intento, seu início está voltado para noções gerais de introdução ao Direito, de forma a refletir sobre o conceito de Direito, a relação entre Direito e Estado e apresentar a estrutura do ordena- mento jurídico brasileiro. Na sequência, passa-se às noções de Direito Empresarial, para explicar a atividade empresarial, segundo a legisla- ção pátria. Considerando que a legislação empresarial tem como sujeito o empresário, faz-se uma análise acerca de sua figura e da relação entre o empresário e os consumidores. Este livro traz, também, uma reflexão sobre o conceito e os elementos que compõem as sociedades segundo o ordenamento jurídico brasileiro, a classificação e a distinção entre os vários tipos de sociedades empresárias e a legislação que regula a relação dos sócios, bem como as normas jurídicas aplicadas ao trato destes com terceiros e com a própria sociedade. Em um mundo globalizado, no qual há oscilações na economia ao mesmo tempo em que o desenvolvimento tecnológico é vertiginoso e gera uma alta competitividade no mundo dos negócios, as metamorfoses societárias são uma constante. Portanto, a compreensão de quais são elas e da legislação aplicável a cada uma é de fundamental importância para que possam ser utilizadas, permitindo às empresas a diminuição de gas- tos e o aumento de seus lucros, com a finalidade de se manterem ativas no mercado. A obra aborda, portanto, as mudanças em relação a essas sociedades, buscando esclarecer como são reguladas sob a ótica do orde- namento jurídico brasileiro. Por fim, este livro trata da dissolução e liquidação das sociedades e seus aspectos legais, por decisão dos sócios ou outros motivos, tais como a decretação judicial de falência, também objeto de estudo, por meio da análise da Lei n. 11.101/2005, a qual regula a recuperação judicial e extra- judicial e a falência. Este livro sobre legislação empresarial estrutura-se, pois, de maneira a apresentar os principais tópicos legais que abrangem desde o surgimento da atividade empresária, o seu desenvolvimento, até o seu fim. Sua contribui- ção, nesse sentido, está em esclarecer quais normas jurídicas são aplicadas às relações empresariais, tema de indiscutível relevância nos dias atuais. Sobre as autoras Virgínia de Fátima Dias Doutoranda em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Especialista em Magistério Superior pelo Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão (IBPEX). Graduada em Letras Inglês/Português pela PUCPR e em Direito pela Faculdade de Direito de Curitiba. Professora de Direito no ensino superior e na pós-graduação. Karla Regina Santos Ribeiro Mestranda em Direito pela Uninter. Especialista em Gestão Pública pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Pós-graduada em Direito Ambiental pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Graduada em Direito pela Faculdade Dom Bosco, em Curitiba. Graduada em Tecnologia em Gestão Pública pelo Instituto Federal Tecnológico do Paraná (IFPR). Professora no ensino superior e autora de livros nas áreas de Ciências Sociais, Direito e Gestão. 6 Legislação empresarial SumárioSumário 1 Noções gerais de introdução ao Direito 9 1.1 Conceito de Direito 10 1.2 Direito e Estado 13 1.3 Ordenamento jurídico 14 2 Direito Empresarial 23 2.1 Atividade empresarial 24 2.2 O empresário, as obrigações das empresas, o estabelecimento e o nome empresarial 27 2.3 O empresário e o direito dos consumidores (desconsideração da personalidade jurídica) 29 3 Direito Societário 37 3.1 Sociedades empresárias: conceito e elementos 38 3.2 Distinção das sociedades empresárias 40 3.3 Classificação e constituição das sociedades empresárias 43 4 Sócios e sociedade: previsões legais 51 4.1 Disciplina das relações da sociedade empresária para com terceiros 52 4.2 Previsão legal da relação dos sócios entre si 55 4.3 Relação entre sócios e sociedade 57 Legislação empresarial 7 SumárioSumário 5 Contrato Social 65 5.1 Natureza jurídica do ato constitutivo da sociedade contratual 66 5.2 Requisitos legais do Contrato Social 68 5.3 Sociedades contratuais 71 6 Metamorfoses societárias 79 6.1 O que são transformações societárias 80 6.2 Distinção entre transformação, incorporação, fusão e cisão 83 6.3 Legislação aplicável às metamorfoses societárias 86 7 Dissolução e liquidação das sociedades empresárias 93 7.1 Diferença entre dissolução e liquidação societária 94 7.2 Aspectos legais da dissolução das sociedades nacionais e estrangeiras 97 7.3 Liquidação das sociedades nacionais e estrangeiras 100 8 Direito Falimentar 109 8.1 Lei n. 11.101, de 2005: noções básicas 110 8.2 Recuperação de empresas: o que é e como funciona 113 8.3 Falência: o que é e quando ocorre 116 Legislação empresarial 9 1 Noções gerais de introdução ao Direito Introdução Neste primeiro capítulo, o objetivo é fornecer aos indivíduos que iniciam seus estudos jurídicos uma visão ampla do Direito, trazendo-lhes conceitos gerais, como o que se entende por Direito, a relação entre Direito e Estado e o que é e como funciona o ordenamento jurídico. Tais saberes são importantes para que aqueles que não conhecem o Direito de maneira mais profunda possam compreendê-lo e aplicá-lo, não só em sua vida pes- soal, mas especialmente em seu cotidiano profissional. Considerando que o público para o qual o presente livro está voltado busca conhe- cimentos acerca do Direito Empresarial, as explicações servirão de sustentação para que compreendam que tal área do Direito faz parte do ordenamento jurídico brasileiro e tem seus alicerces na Teoria Geral do Direito. Noções gerais de introdução ao Direito1 Legislação empresarial10 1.1 Conceito de Direito Definir o que é direito não é tarefa fácil, considerando que o vocabulário da língua por- tuguesa é bastante rico e uma mesma palavra pode possuir diferentes sentidos, dependendo do contexto em que está inserida. Por exemplo, quando alguém afirma “Tenho o direito de receber pelo trabalho que realizo”, isso significa dizer que “é justo” receber pelo trabalho. Por outro lado, ao falar que “O direito brasileiro nem sempre é respeitado”, já temos outro sentido para o vocábulo, o qual significa norma jurídica. Ainda é possível dizer “Eu tenho o direito de ajuizar uma ação de indenizaçãocontra quem me caluniou”, contexto no qual a acepção da palavra direito é voltada para a faculdade do uso da norma jurídica existente. Cabe à Filosofia Jurídica tratar das várias acepções da palavra direito. Para os fins a que se propõe este texto, empregaremos o entendimento do Direito como um conjunto de normas que, emanadas de poderes competentes, disciplina a conduta em sociedade, usando para isso a coercitividade, ou seja, o poder do Estado de impor às pessoas o cumprimento das regras por ele estabelecidas. Só ao Estado cabe usar da força para obrigar os indivíduos a adotar, por meio da norma jurídica, o comportamento capaz de evitar conflitos, numa sociedade em que os seres huma- nos se tornam cada vez mais individualistas e competitivos. Vivendo em sociedade, lutando por sua sobrevivência, o homem necessita de regras que assegurem a ordem e impeçam a discórdia. Já afirmou o grande jurista Paulo Nader: “O Direito está em função da vida social” (NADER, 2005, p. 27). É verdade que existem outros meios de controle social além do Direito, tais como a reli- gião e a moral, que também determinam regras de convívio social. A religião, ao propagar a ideia de amor ao próximo, nada mais faz do que, por meio de dogmas específicos, propagar a ideia de respeito ao outro e, consequentemente, propiciar a harmonia social. E a moral, ao designar o que é certo ou errado, bom ou mau, busca aprimorar a essência humana e, assim, ensina a melhor forma de se comportar em sociedade. Entretanto, nenhum desses meios de controle social tem a característica de coercitividade que tem o Direito. Além disso, en- quanto os primeiros, religião e moral, almejam aperfeiçoar o indivíduo como ser humano, o Direito, por meio de suas regras, volta-se para o comportamento do homem no convívio social, as ações que este venha a praticar. Em outras palavras, o Direito se interessa pelo que o homem faz ou deixa de fazer na vida social, e não com seu foro íntimo, como ocorre com a religião e a moral. O Direito como regra jurídica, formado por códigos e leis, é denominado de Direito Positivo, ou seja, um sistema de normas jurídicas que regula as relações entre as pessoas em dado momento histórico. O Direito como conjunto de normas jurídicas, primeiramente, pelo critério romano, foi dividido em direito público e direito privado. Tal distinção é útil do ponto de vista da didá- tica, pois facilita a pesquisa e, consequentemente, o aperfeiçoamento e a sistematização dos princípios que compõem o Direito. Noções gerais de introdução ao Direito Legislação empresarial 1 11 Nesse sentido, as normas jurídicas de Direito Público, chamadas de cogentes ou taxa- tivas, regulam as relações jurídicas em que o interesse do Estado é predominante. Assim, para muitos doutrinadores, tais como Brancato (2011), Venosa (2016) e Palaia (2012), fa- zem parte do Direito Público o Direito Constitucional, o Direito Tributário, o Direito Penal, o Direito Administrativo, o Direito Processual, o Direito Internacional Público e o Direito Internacional Privado, enquanto o Direito Civil é predominantemente formado por normas de Direito Privado. Não é pacífico, no entanto, o entendimento quanto à natureza jurídica do Direito do Trabalho. Para Miguel Reale (2005), o Direito do Trabalho apresenta-se como “um Direito eminentemente público”, por ser o Estado a disciplinar as formas de prestação de trabalho e os contratos coletivos. Já para Martins (2005), por preponderar a autonomia da vontade das partes no Direito do Trabalho, ele se trata de um ramo do Direito Privado. Mas a corrente predominante é a de que o Direito do Trabalho é um ramo do Direito Privado, haja vista que os contratantes (empregador e empregado) são livres para estipular as regras de seu pacto de emprego. Há também o “Direito Misto”, quando uma mesma área do Direito possui normas ta- xativas (e, portanto, de Direito Público) e normas dispositivas (de Direito Privado), como o Direito de Família e o próprio Direito do Trabalho, conforme Venosa (2016). Ao tratar do Direito, é preciso lembrar que ele surge com base em algumas fontes, sen- do uma delas as fontes históricas. Para captar a finalidade do instituto jurídico, é necessário conhecer em que momento e em que circunstâncias foram criadas as normas. O estudo de tais fontes compete a uma disciplina específica denominada História do Direito. Há, ainda, as fontes materiais do Direito, também chamadas de fontes de produção do Direito, que são constituídas pelos fatores jurídicos, tais como a geografia e a economia, sen- do, assim, fontes materiais indiretas. E existem também as fontes materiais diretas, as quais são identificadas como sendo os próprios órgãos responsáveis pela produção da lei (Poder Legislativo) e pela produção da jurisprudência (Poder Judiciário). Interessa-nos, entretanto, uma terceira categoria de fontes jurídicas, chamadas de fontes formais do Direito, que são as formas de expressão do Direito: a lei, o costume, a jurispru- dência e a doutrina. A lei, no Brasil, é a principal fonte formal do Direito, uma vez que adotamos a norma escrita como diretriz essencial de conduta na sociedade brasileira, seguindo o sistema ro- manista. Observe-se que a própria Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988), lei máxima de nosso ordenamento jurídico, determina em seu artigo 5°, inciso II, que todos são obrigados a fazer o que está previsto em lei. Já no sistema adotado em países de língua inglesa, como Inglaterra e Austrália, a lei é apenas mais uma fonte entre tantas outras. A lei, elaborada com base em critérios específicos e por um órgão competente para fazê- -lo, é regra geral e abstrata, que deve ser obedecida por todos, uma vez que é dotada de coa- ção. O órgão responsável por elaborá-la é o Poder Legislativo, e, em situações excepcionais, conforme estabelece a Constituição Federal de 1988, artigo 62, o Poder Executivo, na pessoa do presidente da república, pode editar medidas provisórias com força de lei. Por exemplo, quando foi criada a contribuição provisória sobre movimentações financeiras (CPMF), isso Noções gerais de introdução ao Direito1 Legislação empresarial12 ocorreu por meio de medida provisória, que teve efeitos legais imediatos por 60 dias, pror- rogáveis por mais 60, mas foi enviada imediatamente ao Congresso Nacional para que este votasse se ela deveria ou não se transformar em lei. Outra fonte formal do Direito é o costume. Um exemplo de costume jurídico foi o che- que pré-datado, uma criação brasileira. Sendo aplicada somente no caso de omissão da lei, a norma costumeira ou consuetudinária resulta de, segundo Miguel Reale (2005, p. 157), uma conduta praticada de maneira consciente e que se repete socialmente até que os indivíduos acabam por concebê-la como obrigatória. O Direito costumeiro possui um requisito subjetivo, que é a crença da obrigatoriedade da conduta, e um requisito objetivo, a constância do ato. Para que seja fonte do Direito, o costume precisa ser reconhecido como tal pelo ordena- mento jurídico, conforme ocorre no Brasil, em que a Lei de Introdução às Normas de Direito, no artigo 4° (BRASIL, 1942), prevê: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”. A jurisprudência, palavra que designa a aplicação do Direito com sabedoria (jus = Direito; prudentia = sabedoria), resulta de reiteradas decisões dos tribunais numa mesma direção in- terpretativa. Por não ter força vinculativa, a jurisprudência é tida como fonte secundária do Direito. Um exemplo claro de jurisprudência é quando duas pessoas do mesmo sexo convi- vem por certo tempo numa relação conjugal, uma delas vem a falecer e a que permaneceu viva requer pensão por morte ao INSS, mas este não a concede. O “cônjuge sobrevivente” move então uma açãojudicial requerendo seu direito. Como é um caso raro, não existe con- ceito já estabelecido. O juiz analisa, julga e dá sua decisão favorável. Quando surge outra situação igual a ser julgada, fica mais fácil a decisão, porque já existe um caso semelhante. Por fim, a doutrina, também considerada fonte do Direito, é resultado do estudo das leis por parte de juristas, estudiosos e operadores jurídicos em geral, que geram teses, com- pêndios, tratados, pareceres capazes de mostrar caminhos aos magistrados e sugerir modi- ficações aos legisladores. Outra classificação para as fontes do Direito é, segundo Venosa (2016): a. Diretas, imediatas ou primárias – lei e costume, porque têm, por elas mesmas, po- tencialidade suficiente para gerar a regra jurídica. b. Indiretas, mediatas ou secundárias – doutrina, jurisprudência, analogia, princípios gerais do Direito e equidade. Essas fontes servem para esclarecer a aplicação global do Direito. Os princípios gerais do Direito, assim como a analogia e os costumes, são considerados, segundo a Lei de Introdução às Normas de Direito ( BRASIL, 1942), em seu artigo 4°, proces- sos de preenchimento de lacunas existentes na lei, pois esta nem sempre consegue regular todas as situações sociais e o legislador não tem como prever todos os acontecimentos. Assim, os princípios gerais do Direito servem de base ao ordenamento jurídico, por trazerem em seu bojo valores sociais dos quais se serve o legislador. Esses princípios são comuns a todas as áreas do Direito, tais como viver honestamente, dar a cada um o que é seu e não causar danos a outrem (todos espelhando valores sustentados socialmente). Têm Noções gerais de introdução ao Direito Legislação empresarial 1 13 função informadora, quando servem de base ao legislador para a criação de preceitos legais, função normativa, ao serem aplicados nas lacunas da lei, e, por fim, função interpretativa, ao auxiliarem na compreensão exata da norma. Por serem aplicados na lacuna da lei, que é norma jurídica, também são os ditos princípios normas jurídicas. Nader (2005, p. 194) explica que a “analogia é um recurso técnico que consiste em se aplicar, a uma hipótese não prevista pelo legislador, a solução por ele apresentada para outra hipótese fundamentalmente semelhante à não prevista”. Para a aplicação da analo- gia jurídica, alguns requisitos devem ser respeitados, tais como: inexistência de dispositivo legal prevendo ou disciplinando a hipótese do caso concreto a ser julgado; identidade de fundamento jurídico no ponto comum às duas situações; semelhança entre o caso concreto e a situação não regulada. Como exemplo de aplicação analógica, pode-se citar o caso do reconhecimento, pelo Supremo Tribunal Federal, da família homoafetiva, conferindo aos casais homossexuais o direito à união estável: uma vez que as leis brasileiras ainda não previam o casamento entre casais homossexuais, coube a uma decisão judicial, tomando por base a legislação acerca de união entre heterossexuais, decidir sobre a matéria. Para tal, foi usada a analogia. Por fim, faz-se necessário alertar que no Direito Penal não se aplica a analogia, uma vez que o princípio da legalidade (“não há crime ou pena sem lei penal que expressa e previa- mente os estabeleça”) impede sua utilização. 1.2 Direito e Estado O Direito emana do Estado, que é responsável não só pela produção das leis, mas pelo controle de sua aplicação. Mas o Estado depende do Direito, que organiza sua atuação e delimita seus poderes. Sob o ponto de vista jurídico, o Estado deve sua existência ao fato de possuir uma Constituição. Pode-se conceituar o Estado como a pessoa jurídica formada por uma socieda- de que vive em determinado território e é subordinada a uma autoridade soberana. O Estado atua tanto no plano externo quanto no interno. No interno, cabe-lhe garantir a ordem pública, e o faz ao criar o Direito e buscar garantir a aplicação da justiça. Já no plano externo, o Estado tem de fazer valer sua soberania. Há várias teorias que buscam explicar a relação entre Direito e Estado. Segundo a teoria monista, Direito e Estado se confundem, ou seja, o Estado é fonte úni- ca do Direito, fazendo com que sejam considerados como uma única realidade, formando uma só entidade. Os defensores de tal teoria – Hans Kelsen, Hegel, Thomas Hobbes e Jean Bodin – não admitem a possibilidade de qualquer norma jurídica que não esteja atrelada ao Estado. Já a teoria dualística ou dualista, criada por Otto Von Gierke e Georges Gurvith, preconiza a total separação entre Direito e Estado, ao afirmar que o Direito é uma criação estritamente social e, nesse caso, cabe ao Estado apenas elaborar normas jurídicas que ad- venham da consciência social. No caso da teoria do paralelismo, defendida por Giorgio Del Noções gerais de introdução ao Direito1 Legislação empresarial14 Vecchio, há a ideia de que Direito e Estado se completam em sua atuação, ainda que sejam realidades diferentes. Se o Estado cria o Direito por meio dos poderes constituídos e o Direito determina como deve ser a atuação do Estado, não há como se negar a interligação entre eles. Neste ponto é fundamental tratar do Estado de Direito. Ele é formado pelo Direito, como conjunto de normas que regem o funcionamento de uma sociedade, e pelo Estado, forma de organização política. Entende-se que ocorre o Estado de Direito a partir do momento em que há a participa- ção do povo na administração pública, por meio de seus representantes, como a Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) determina em seu artigo 1°, parágrafo único. E é com o desen- volvimento do Estado de Direito que surge a divisão dos poderes que compõem a estrutura político-administrativa do Estado: Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário. A divisão dos Poderes, com suas funções específicas bem delineadas pela Lei Maior (Constituição), afasta o Estado absolutista, no qual todas as funções eram centralizadas na figura do rei, situação em que o Estado de Direito não podia ser reconhecido, uma vez que o soberano exercia sobre o povo um poder incontrolado. Entretanto, o Estado de Direito ainda não foi plenamente alcançado no Brasil, ainda que haja no país a distribuição de poderes, posto que os representantes escolhidos pelo povo de- vem por ele e para ele trabalhar, o que nem sempre tem acontecido. Ainda se permite, assim, muita injustiça social e a falta de um serviço público eficaz para a população, impedindo-lhe a garantia da dignidade. 1.3 Ordenamento jurídico O Estado possui um ordenamento jurídico constituído de normas jurídicas diferentes entre si, a fim de organizar a sociedade. Ordenamento significa a ação de fazer algo de determinado modo. O vocábulo jurídico, conforme é possível inferir pelo já exposto anteriormente, qualifica o que está de acordo com o Direito. Ao explicar o que é ordenamento jurídico, Venosa traz a definição de Hugo de Brito Machado: “O ordenamento jurídico é um conjunto de prescrições, ou proposições prescri- tivas, que podem ser entendidas como conjunto de palavras destinadas a prescrever certos comportamentos” (VENOSA, 2006, p. 76 apud MACHADO, 2000, p. 71). Há um “ordenamento jurídico” em cada país, formado pelas diversas fontes de Direito, pois a realidade jurídica é concebida como um sistema de normas, desde as normas legais até as normas negociais, entre as quais existe uma hierarquia para sua aplicação. A hierarquia das normas jurídicas significa que no ordenamento jurídico brasileiro exis- tem leis que suplantam as outras. A ideia de hierarquia das leis foi proposta primeiramente por Hans Kelsen, jurista nascido em Praga em 1881, que criou a chamada Pirâmide de Kelsen. Noções gerais de introdução ao Direito Legislação empresarial 1 15 Segundo Kelsen (1987), todas as leis estão subordinadas a uma “leimaior” e a ela têm de ser adequadas. Portanto, se uma lei contrariar a dita “lei maior”, ela pode ser contestada. Havendo conflitos entre as leis em sua aplicação em decisões judiciais, para Hans Kelsen a lei somente poderá ser anulada pelo próprio tribunal que a proferiu ou, ainda, por tribunal superior. Quando a lei for contrária à Constituição, diz-se então que tal lei é incons- titucional. No entanto, Kelsen (1987, p. 287) afirma que “enquanto, porém, não for revogada, tem de ser considerada como válida; e enquanto for válida, não pode ser inconstitucional”. No Brasil, a validade de todo o ordenamento jurídico depende de uma norma “maior”, que é a Constituição da República Federativa do Brasil. Submetem-se a ela todas as demais normas jurídicas. Trata-se de uma Constituição rígida, que organiza o país em uma república federativa formada pela união indissolúvel dos estados, dos municípios e do Distrito Federal. Os 26 estados federados têm autonomia para elaborar suas próprias constituições estaduais e leis. No entanto, a competência legislativa destas é limitada pelos princípios estabelecidos na Constituição Federal. A Carta Maior brasileira dispõe, ainda, sobre os instrumentos legais do nosso ordena- mento jurídico: emendas à Constituição, que consistem em mudanças no texto constitucio- nal; leis complementares, que complementam a Constituição ao detalhar uma questão sem interferir no texto constitucional (tais leis são admissíveis apenas em casos expressamente autorizados na constituição); leis ordinárias, que lidam com todas as matérias, à exceção daquelas reservadas às leis complementares; e medidas provisórias, que são editadas pelo presidente da república em situações importantes e urgentes e têm natureza temporária e força de lei, devendo, assim, ser submetidas ao Congresso Nacional para possível aprovação legislativa. Após serem examinadas pelo Congresso Nacional, as medidas provisórias deve- rão ser convertidas em lei ordinária, caso aprovadas. Se rejeitadas, tácita ou expressamente, perdem a eficácia ex tunc, e o Congresso Nacional deverá regular as relações jurídicas que surjam a partir de então. Quando a Pirâmide de Kelsen foi criada, nela não constavam os tratados internacionais, mas apenas o Direito interno. Entretanto, atualmente, é inegável a influência do Direito Internacional no ordenamento jurídico interno dos países, o que gerou a necessidade de se pensar sobre qual é a posição dos tratados internacionais em tal “pirâmide”, ou seja, quais as normas jurídicas que se subordinam a esses tratados. A Constituição Federal brasileira (BRASIL, 1988), em seu artigo 5°, inciso LXXVIII, §3°, ao tratar dos direitos e garantias fundamentais, prevê que, se os tratados internacio- nais dispuserem acerca de direitos humanos e forem votados como emendas constitucio- nais, estarão acima das demais leis. Nessa direção, o Supremo Tribunal Federal entendeu, no julgamento do habeas cor- pus 79.785, de 2000, majoritariamente, que os tratados internacionais de direitos humanos, antes equiparados às normas ordinárias federais, apresentam status de norma supralegal, isto é, estão acima da legislação ordinária, mas abaixo da Constituição. Tal posicionamento Noções gerais de introdução ao Direito1 Legislação empresarial16 admite a hipótese de tais tratados adquirirem hierarquia constitucional, desde que obser- vado o procedimento previsto no parágrafo 3°, artigo 5°, da CF, acrescentado pela Emenda Constitucional n. 45/2004. Desse modo, o Supremo Tribunal Federal alterou, por meio de uma decisão, a pirâmide criada por Kelsen, que ainda possui em seu topo a Constituição Federal, porém acrescenta logo abaixo os tratados internacionais de direitos humanos, desde que aprovados, como ocorre com as emendas constitucionais. Além das relações entre os tipos de normas jurídicas (tratados internacionais, Constituição Federal, leis complementares, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provi- sórias, decretos legislativos e resoluções), estabelecendo a prevalência de umas sobre as ou- tras, o ordenamento jurídico também traz a hierarquia das normas relativas aos domínios geográficos das leis, uma vez que leis federais predominam sobre as leis estaduais e ambas não podem ser contrariadas por lei municipal. Mas, se por um lado existe uma hierarquia entre as normas jurídicas nacionais no que se refere à sua aplicação ao caso concreto, por outro, quanto aos aspectos de validade, vigência e eficácia, elas se submetem aos mesmos critérios. Após sua elaboração pelo órgão competente, e segundo o procedimento determinado pelo próprio ordenamento jurídico, a lei é publicada nos órgãos de impresa oficial (Diário Oficial) para sua publicidade e passa a ser obrigatória a partir de sua vigência, ou seja, da data em que entra em vigor. Tornada pública a lei, todos devem respeitá-la, conforme dita o artigo 3° da Lei de Introdução às Normas de Direito (BRASIL, 1942): “Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”. A data de início da vigência da lei normalmente vem descrita na própria norma, a exem- plo do que ocorreu com a Lei n. 11.788, de 25 de setembro de 2008 (Lei de Estágio) (BRASIL, 2008), que descreve, em seu artigo 21: “Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação”. Se a lei não dispuser em seu texto qual a data de sua vigência, ela entrará em vigor 45 dias após sua publicação dentro do país e três meses se for aplicada em Estado estrangeiro, con- forme prevê a Lei de Introdução às Normas de Direito (BRASIL, 1942), artigo 1°, caput e §1°. O espaço de tempo entre a publicação da lei e sua entrada em vigor denomina-se vacacio legis, que é o período dado pelo legislador para que a sociedade se adapte à nova lei. Temos vários exemplos de leis brasileiras que tiveram vacatio legis, tais como o Código de Trânsito Brasileiro – Lei n. 9.503, de 23 de setembro de 1997 (120 dias após a publicação) –, o Código de Proteção e Defesa do Consumidor – Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990 (120 dias após a publicação) – e o Código Civil – Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (1 ano após a publicação). Após entrar em vigor, a lei gera efeitos imediatos, respeitando o direito adquirido (é o que integra o patrimônio jurídico da pessoa por meio da lei até então vigente), o ato jurídico perfeito (entendido como o ato já consumado segundo a lei vigente no momento em que o ato se consumou) e a coisa julgada (decisão judicial irrecorrível concedida com base na lei vigente à época de sua sentença definitiva). Noções gerais de introdução ao Direito Legislação empresarial 1 17 A lei nova terá vigência até que outra lei que regule a mesma matéria a modifique ou revogue. A lei revogadora deve ser do mesmo nível ou superior hierarquicamente à lei re- vogada. Por exemplo, uma lei ordinária só pode revogar outra lei ordinária ou de hierarquia inferior a ela. A eficácia da lei no espaço refere-se ao local onde a norma jurídica será aplicada e re- gula a conduta não só dos brasileiros, mas dos estrangeiros que estiverem em território na- cional, segundo o princípio da territorialidade. Há ainda casos específicos de leis brasileiras que têm eficácia em outros países. Também é importante considerar a aplicação da lei no espaço, o que determina o artigo 9° da Lei de Introdução às Normas de Direito (BRASIL, 1942): Art. 9° Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem. § 1° Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de for- ma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato. § 2° A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente. Por fim, além de compreender como se dá a vigência da lei no tempo e no espaço, é necessárioressaltar que, para que tenha validade, a lei deve preencher alguns requisitos extremamente importantes, tais como legitimidade do órgão para elaborá-la, competência em relação à matéria da lei que será elaborada e respeito ao procedimento técnico para sua criação. As normas básicas que regulam tais requisitos estão na Constituição Federal e nas Leis Complementares n. 95/1998 (BRASIL, 1998) e n. 107/2001 (BRASIL, 2001). Para a eficácia da norma jurídica, é necessário, ainda, observar o cumprimento efetivo da lei por parte da sociedade. Uma vez que o Direito deve ser criado com base nos valores e nas instituições sociais, a lei que não atende a tais requisitos, ou seja, que não tem nenhum vínculo com a sociedade na qual está sendo inserida ou não considera a cultura do povo, não terá eficácia. Muitas vezes, a lei não atinge seus objetivos porque não existe fiscalização suficiente ou estrutura estatal para colocá-la adequadamente em prática, o que não lhe permite ter eficácia. Ampliando seus conhecimentos A ação do Direito (NADER, 2005, p. 27) O Direito está em função da vida social. A sua finalidade é a de favore- cer o amplo relacionamento entre as pessoas e os grupos sociais, que é uma das bases do progresso da sociedade. Ao separar o lícito do ilícito, Noções gerais de introdução ao Direito1 Legislação empresarial18 segundo valores de convivência que a própria sociedade elege, o ordena- mento jurídico torna possíveis os nexos de cooperação e disciplina a com- petição, estabelecendo as limitações necessárias ao equilíbrio e à justiça nas relações. Em relação ao conflito, a ação do Direito se opera em duplo sentido. De um lado, preventivamente, ao evitar desinteligências quanto aos direitos que cada parte julga ser portadora. Isto se faz mediante a exata definição do Direito, que deve ter na clareza, simplicidade e concisão de suas regras, algumas de suas qualidades. De outro lado, diante do conflito concreto, o Direito apresenta solução de acordo com a natureza do caso, seja para definir o titular do direito, determinar a restauração da situação anterior ou aplicar penalidades de diferentes tipos. Cenário de lutas, alegrias e sofrimentos do homem, a sociedade não é simples aglomeração de pessoas. Ela se faz por um amplo relaciona- mento humano, que gera amizade, a colaboração, o amor, mas que pro- move, igualmente, a discórdia, a intolerância, as desavenças. Vivendo em ambiente comum, possuindo idênticos instintos e necessidades, é natural o aparecimento de conflitos sociais, que vão reclamar soluções. Os litígios surgidos criam para o homem as necessidades de segurança e de justiça. Mais um desafio lhe é lançado: a adaptação das condutas humanas ao bem comum. Como as necessidades coletivas tendem a satisfazer-se, ele aceita o desafio e lança-se ao estudo de fórmulas e meios, capazes de pre- venirem os problemas, de preservarem os homens, de estabelecerem paz e harmonia no meio social. A característica fundamental da sociedade é, assim, a submissão de um agrupamento de pessoas iguais a leis ou sis- tema jurídico, sem o que não haver entendimento e convivência. A sociedade sem o Direito não resistiria, seria anárquica, teria o seu fim. O Direito é a grande coluna que sustenta a sociedade. Criado pelo homem para corrigir a sua imperfeição, o Direito representa um grande esforço para adaptar o mundo exterior às suas necessidades de vida. Noções gerais de introdução ao Direito Legislação empresarial 1 19 Atividades 1. Acerca da relação entre Direito e sociedade, assinale a opção correta: a. O Direito não é uma abstração, solto no espaço e no tempo, mas um fenômeno imerso na vida humana, ou seja, o Direito é algo que está no processo existencial do indivíduo e da coletividade. b. Em relação ao conflito, a ação do Direito se opera em um único sentido, ou seja, preventivamente, ao evitar desinteligências quanto aos direitos que cada parte julga ser portadora. c. A característica fundamental da sociedade é a submissão de um agrupamento de pes- soas iguais a leis ou ao sistema jurídico, mas é possível o convívio social harmônico sem a existência do Direito. d. O Direito, na sociedade, existe única e exclusivamente para aplicar penalidades de diferentes tipos. 2. Analise as afirmações a seguir: I. Jurisprudência é fonte estatal do Direito e se traduz a partir das decisões reitera- das dos tribunais em um mesmo sentido, sobre uma mesma temática. II. A lei é a fonte do Direito mais utilizada no ordenamento jurídico brasileiro. III. Costume é fonte do Direito, embora não exista no ordenamento jurídico brasilei- ro previsão nesse sentido. IV. Acerca das fontes do Direito, existe uma única classificação. a. Apenas as assertivas I e II estão corretas. b. Apenas as assertivas I, II e III estão corretas. c. Apenas a assertiva IV está correta. d. Todas as assertivas estão corretas. 3. Analise a situação exposta e assinale a afirmação correta: Em Curitiba (PR), por meio da Lei n. 9.493, de 15 de abril de 1999, que foi votada pela Câmara de Vereadores, aprovada e entrou em vigor 60 dias após sua publicação, é obrigatório que cães de raças consideradas violentas usem focinheira ao transitarem em vias públicas. Porém, é comum encontrar animais sem o equipamento pelas ruas da cidade. a. A citada lei não possui vigência. b. A lei em questão não tem legitimidade. c. O não cumprimento demonstra que ela não tem efetividade social. d. A lei citada não possui vigência nem efetividade. Noções gerais de introdução ao Direito1 Legislação empresarial20 Referências BRASIL. Decreto-Lei n. 4.657, de 4 de setembro de 1942. Diário Oficial da União, Rio de Janeiro, RJ, 9 set. 1942. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657compilado.htm>. Acesso em: 3 maio 2017. ______. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em: 3 maio 2017. ______. Lei Complementar n. 95, de 26 de fevereiro de 1998. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 fev. 1998. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp95.htm>. Acesso em: 3 maio 2017. ______. Lei Complementar n. 107, de 26 de abril de 2001. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 abr. 2001. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp107.htm>. Acesso em: 3 maio 2017. ______. Lei n. 11.788, de 25 de setembro de 2008. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 set. 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11788.htm>. Acesso em: 3 maio 2017. BRANCATO, Ricardo Teixeira. Instituições de Direito Público e de Direito Privado. São Paulo: Saraiva, 2011. KELSEN, Hans. Teoria pura do Direito. São Paulo: Saraiva, 1987. MACHADO, Hugo de Brito. Uma introdução ao estudo do Direito. São Paulo: Dialética, 2000. NADER, Paulo. Introdução ao estudo do Direito. São Paulo: Forense, 2005. PALAIA, Nelson. Noções essenciais de Direito. São Paulo: Saraiva, 2012. REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. São Paulo: Saraiva, 2005. VENOSA, Silvio de Salvo. Introdução ao estudo do Direito: primeiras linhas. São Paulo: Atlas, 2016. Resolução 1. A − O Direito não é uma abstração, solto no espaço e no tempo, mas um fenômeno imerso na vida humana, ou seja, o Direito é algo que está no processo existencial do indivíduo e da coletividade. O Direito faz parte do cotidiano de todas as pessoas, pois, como conjunto de normas que é, determina o comportamento dos seres humanos em sociedade em quase todos os momentos de sua existência. b. A ação do Direito não opera em um único sentido, pois, ao mesmo tempo que busca evitar o conflito, cabe ao Direito resolvê-lo por meio da atuação do Estado (PoderJudiciário), caso ele se estabeleça. c. A convivência social sem a existência do Direito não é possível, pois, devido às di- ferenças de valores, à competitividade entre as pessoas e à defesa de interesses par- ticulares, é necessário que exista um conjunto de normas jurídicas que determinem como viver em sociedade. Noções gerais de introdução ao Direito Legislação empresarial 1 21 d. O Direito não existe apenas para aplicar penalidades. Ao contrário, o Direito existe para determinar o que é lícito e o que é ilícito e para evitar os conflitos sociais. 2. A − Apenas as assertivas I e II estão corretas. As assertivas II e IV estão incorretas porque o costume é uma fonte do Direito pre- vista pelo ordenamento jurídico, conforme artigo 4° da Lei de Introdução às Normas de Direito (BRASIL, 1942), que determina: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de Direito”. As fontes do Direito têm mais de uma classificação. Podem ser históricas, formais e materiais. As fontes ainda podem ser estatais (lei e jurisprudência) e não estatais (costumes e doutrina). 3. C – O não cumprimento demonstra que ela não tem efetividade social. O não cumprimento da lei por parte da população demonstra que a lei não possui efetividade social. a. A lei possui vigência, uma vez que foi publicada e já se passou o período de vacatio legis de 60 dias. b. A lei n. 9.493, de 15/4/1999, tem legitimidade, uma vez que foi elaborada pela Câ- mara de Vereadores, que tinha competência para elaborá-la. d. A lei não possui efetividade, uma vez que não é respeitada socialmente, mas possui vigência, conforme explicado anteriormente. Legislação empresarial 23 2 Direito Empresarial Introdução Neste capítulo, o objetivo é proporcionar a compreensão dos fundamentos básicos da relação mercantil e das obrigações decorrentes, demonstrando, assim, os principais conceitos relacionados à atividade econômica organizada de fornecimento de bens ou serviços, denominada empresa. Os conhecimentos apresentados são importantes para desenvolver o entendimento prático da legislação empresarial, observando as atividades econômicas no mercado interno e globalizado. Pretende-se, portanto, oportunizar um aprimoramento dos conhecimentos, das habilidades e das atitudes no que se refere à legislação empresarial. Direito Empresarial2 Legislação empresarial24 2.1 Atividade empresarial Para viver nós precisamos, diariamente, de bens e serviços, que são fornecidos por or- ganizações econômicas, estruturadas e desenvolvidas por pessoas que têm como objetivo ganhar dinheiro – os empresários. Pode-se entender que a atividade empresarial é a articu- lação de fatores de produção (capital, mão de obra, insumo e tecnologia) com a finalidade de produzir bens e serviços. Os empresários surgem quando, por meio do capital (próprio ou alheio), organizam-se, adquirem matéria-prima, contratam mão de obra especializada e desenvolvem ou adquirem tecnologia, visando a produzir bens ou serviços para determinado público, na perspectiva de lucro. A atividade empresarial consiste, nesses termos, em juntar os recursos financeiros, hu- manos, materiais e tecnológicos, com o objetivo de fornecer ao mercado de consumo bens e serviços de qualidade e com preço competitivo e, em contrapartida, obter mais recursos financeiros. A empreitada desenvolvida pelo empresário é uma ação de risco, visto que por mais que ele tenha cuidado, por mais inovador que o bem ou serviço possa parecer ser, pode sim- plesmente não agradar aos consumidores, ou, ainda, o desenvolvimento da empresa pode ser afetado por crises econômicas ou outras hipóteses alheias à sua vontade. Quando a empresa não realiza as expectativas do empresário e não gera os lucros de- vidos, os investimentos são perdidos. Para que o risco de insucesso de qualquer atividade econômica seja minimizado, é necessário que o empresário tenha capacidade de planejar suas atividades, identificando as possíveis fragilidades da empresa frente ao mercado, com a finalidade de atenuar os prováveis riscos. Em suma, para que uma empresa desenvolva bens e serviços, é necessária a presença do empresário. De acordo com o artigo 966 do Código Civil, “considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços” (BRASIL, 2002a). De tal definição podem-se extrair algumas caracte- rísticas importantes, que são: • profissionalismo; • atividade econômica organizada; • produção ou circulação de bens ou de serviços. Sobre o profissionalismo, em consonância com Coelho (2016), ele está ligado a três or- dens, que são: habitualidade, pessoalidade e monopólio das informações. Nesse sentido, para que seja considerada uma atividade profissional, esta não pode ser esporádica. Logo, quando uma pessoa se organiza para produzir um bem, mesmo que seja com a finalidade de venda, porém por um pequeno lapso de tempo, não será considerado um empresário. Um exemplo muito comum são as pessoas que não estão trabalhando, que desenvolvem algum produto com a finalidade de sanar problemas financeiros emergenciais, produzem docinhos em casa e, assim que arranjam um emprego, param de produzi-los. Direito Empresarial Legislação empresarial 2 25 No que diz respeito à pessoalidade, refere-se à realização da atividade pelo empresário de forma pessoal, ou seja, por mais que a empresa contrate diversos empregados, para a pro- dução ou a circulação de bens e serviços, esses realizam as ações em nome do empresário. Por fim, sobre o monopólio das informações, é a ordem mais importante no que se refere ao profissionalismo, visto que, para ser considerado um profissional empresário, é necessário que este concentre todas as informações de seu empreendimento, ou seja, que o empresário detenha o conhecimento sobre as condições de uso, os atributos, as matérias- -primas, os riscos que o produto ou o serviço podem causar no seu potencial consumidor. Em suma, para que seja considerado profissional, o empresário deverá desenvolver sua atividade de forma permanente, de forma pessoal, e principalmente ter todas as informa- ções pertinentes aos bens ou serviços desenvolvidos em sua empresa. Sobre a segunda característica para ser empresário (atividade empresarial), quando o legislador prevê que o empresário “exerce profissionalmente uma atividade econômica or- ganizada”, quer dizer que a empresa é uma atividade de produção ou, ainda, de circulação de bens ou serviços. É importante destacar que a empresa não é sinônimo de estabelecimento empresarial, visto que empresa é uma atividade desenvolvida e estabelecimento é o local onde é desenvolvida a atividade empresarial. Todavia, pode ser também considerado o complexo de bens organizados, para o exercício da empresa, segundo o Código Civil (BRASIL, 2002a), que prevê estabelecimento empresarial, no artigo 1.142, como “todo complexo de bens orga- nizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária”. Na concepção do Direito Empresarial moderno, a ideia central está no princípio da preservação da empresa, ou seja, de manter a atividade empresarial ativa, visto os interes- ses oriundos da relação empresarial, como é o caso dos postos de trabalho, dos impostos arrecadados pelo Fisco ou, ainda, do desenvolvimento econômico trazido pela atividade empresarial em determinada sociedade. Essa atividade é desenvolvida com o objetivo de lucro, porém existem outras atividades que são consideradas empresariais, mas não têm a finalidade básica de aferir lucro, como no caso das escolas religiosas. Todavia, quando essas empresas prestam serviços, os valores das mensalidades devem ser superiores aos dos gastos com insumos, pois numa sociedadecapitalista, nenhuma empresa se manteria sem lucratividade. O lucro, nesse caso, é um meio de esses religiosos empresários realizarem suas demais finalidades. Logo, o lucro é um meio para obtenção da finalidade dessa empresa. Outro atributo importante derivado do conceito de empresa é o da organização, que se refere à manipulação dos quatro elementos de produção: capital, mão de obra, insumos e tecnologia, que o empresário realiza com a finalidade de estruturar a sua organização econômica. Logo, podemos entender que, quando uma pessoa compra bens para reven- der, sem a presença desses quatro elementos de produção não pode ser considerado em- presário, pois não organiza a mão de obra, visto que não contrata nenhum funcionário, e não depende de tecnologia. E, por fim, a quarta característica importante é a produção de bens ou serviços, que corresponde à industrialização de bens. Logo, toda atividade de fabricação é empresarial. Direito Empresarial2 Legislação empresarial26 A atividade empresária também pode permear a prestação de serviços, uma vez que aquele que intermedeia a relação de consumo entre o fabricante e o consumidor final, ou seja, o atacadista, o varejista, exerce a profissão prevista no artigo 966 do Código Civil, como é o caso das agências de turismo, que vendem a passagem aérea, porém não prestam o ser- viço de transporte aéreo. Ressalta-se, aqui, que a prestação de serviço é uma atividade eco- nômica que não resulta em um bem tangível, como, por exemplo, a atividade de transporte. Os bens e serviços se distinguem, visto que os bens são coisas materiais, ou seja, cor- póreas, já os serviços são uma obrigação de fazer. Entretanto, com a utilização da internet ocorreu uma dificuldade de conceituar os objetos de consumo, como no caso da assinatura de jornal virtual. Contudo, mesmo no âmbito virtual, o ato de fornecer bens ou serviços também é considerado uma atividade empresarial. A legislação que conceitua o empresário também apresenta quem não pode ser consi- derado legalmente como tal, visto que de alguma forma não tem as quatro características es- senciais. Por exemplo, não são considerados empresários os indivíduos que não organizam uma empresa. Por mais que sua atividade gere lucro e seja consistente, não será considerado empresário. Entre essas atividades, o artigo 966 do Código Civil, parágrafo único, prevê que “Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, lite- rária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa” (BRASIL, 2002a). No que diz respeito à profissão intelectual, encontram-se os profissionais liberais, como é o caso de médicos, dentistas, arquitetos, entre outros, bem como os escritores e artistas de qualquer expressão, como músicos e atores, que não são considerados empresários. Contudo, esses profissionais intelectuais podem exercer atividade empresarial quando o exercício de sua profissão seja um elemento da empresa. Exemplificando, será considerado empresário o médico que administrar e contratar um rol de médicos e vários funcionários para atender os pacientes. Nesse caso, mesmo que o médico continue a cuidar de seus pacientes, sua função é também a de exercer profissional- mente atividade econômica organizada que tem a finalidade de atender vários pacientes. No que se refere ao empresário rural, são considerados empresários as pessoas que têm sua atividade econômica desenvolvida principalmente fora do centro da cidade. São considerados exemplos de atividade econômicas rurais a agricultura, o extrativismo vegetal, entre outros. Todavia, essas atividades devem ser desempenhadas de forma profissional. Ressalta-se que a atividade rural não necessariamente ocorre fora dos perímetros da cidade, visto que muitas vezes a área de cultivo (sítios, fazenda) pode estar dentro da zona urbana, assim como as atividades em prédios rústicos dentro da cidade. Essas atividades, no Brasil, são desenvolvidas de duas formas: ou pela agroindústria, ou pela agricultura familiar. Na primeira, verifica-se a presença de tecnologia avançada, grandes áreas de cultivo e vários empregados. Entretanto, na segunda, o dono da terra e seus familiares são os que trabalharam diretamente na atividade, pequena área de produ- ção, com tecnologia mais simples. Direito Empresarial Legislação empresarial 2 27 A legislação brasileira permite ao profissional rural que escolha se quer ou não ser con- siderado empresário, em conformidade com o artigo 971 do Código Civil, que diz: O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode, ob- servadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro (BRASIL, 2002a). Logo, se esse profissional rural requerer sua inscrição no registro das empresas na Junta Comercial, será considerado um empresário. De acordo com Coelho (2016), os donos de pequenas empresas que desenvolvem profissionalmente de forma organizada as atividades rurais familiares, na sua maioria, optam por não se registrarem na Junta Comercial. 2.2 O empresário, as obrigações das empresas, o estabelecimento e o nome empresarial O empresário é aquele indivíduo que exerce uma atividade articulando os fatores de produção, com a finalidade de obter lucro de forma habitual. O exercício da profissão de empresário, de acordo com a legislação, traz um conjunto de obrigações. A não observância destas pode ocasionar consequências, inclusive penalmente. Entre elas, destaca-se: • registrar-se no Registro de Empresa antes de iniciar suas atividades (artigo 967 do Código Civil); • escriturar regularmente os livros obrigatórios; • levantar balanço patrimonial e de resultado econômico a cada ano (artigo 1.179 do Código Civil). A lei trata do Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade, visto que, sem esse registro, a empresa será considerada irregular e, por consequência, não poderá solicitar o pedido de falência ou, ainda, solicitar empréstimos em instituições financeiras. Outras obrigações pertinentes ao empresário são a escrituração dos livros obrigatórios – que compreendem os livros empresariais Diário e Razão – e o levantamento anual de balanço. O optante pelo Simples Nacional está dispensado de qualquer escrituração mercan- til, ou escriturar o livro-caixa, porém deverá ter documentos que permitam a verificação da movimentação financeira, inclusive o registro bancário. Os demais microempresários e empresários de pequeno porte que não são optantes do Simples Nacional deverão es- criturar o livro-caixa. Sobre os livros empresariais, devem ser realizados observando-se alguns requisitos, conforme está previsto no artigo 1.183 do Código Civil: a escrituração deverá ser feita em idioma nacional, moeda corrente, por ordem cronológica, entre outros. Os livros podem ser feitos exclusivamente em meio eletrônico. Direito Empresarial2 Legislação empresarial28 Sobre a terceira obrigação, o artigo 1.179 do Código Civil adverte que o empresário é obrigado a levantar, anualmente, dois balanços: o balanço patrimonial e o balanço de re- sultado econômico. A falta desses balanços pode ser considerada, conforme artigo 178 do mesmo Código, um ato criminoso gerado pelo empresário. O empresário também está obrigado a manter outros documentos essenciais para o exercício da empresa, conforme a legislação própria de cada atividade empresarial, como é o caso do laudo de vistoria e a liberação do estabelecimento pelo Corpo de Bombeiros, que tem como finalidade que o estabelecimento empresarial não corra riscode acidentes por causa de possíveis incêndios. A falta desse documento poderá gerar o pagamento de multa ou interdição da empresa. Além dos já expostos, existem vários documentos obrigatórios, dependendo do ramo da atividade empresarial, como é o caso da autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para as empresas que comercializam medicamentos – farmácias e dro- garias, de acordo com a Lei n. 9.782/99 (BRASIL, 1999) e a Resolução da Anvisa 238/01 (BRASIL, 2002b). Ressalta-se que o estabelecimento empresarial é o conjunto de bens – corpóreos e incorpóreos – que tem a finalidade empresarial. Logo, pode-se entender esse tipo de esta- belecimento como um instrumento empregado pelo empresário para o funcionamento de sua atividade. O empresário dispõe seus bens que integrem e desenvolvam da melhor maneira a ati- vidade empresarial. Esse complexo racional de bens tem um valor agregado, ou seja, bens quando ordenados para o trabalho empresarial adquirem um valor no mercado. Contudo, os bens empresariais não podem ser confundidos com o patrimônio pessoal do empresário. No caso do empresário individual (que é sempre pessoa física), todos os bens são con- siderados seu patrimônio, tanto os bens particulares, quanto os bens utilizados na atividade empresarial. Todavia, o estabelecimento empresarial se equivale a todos os bens (materiais ou imateriais) que são utilizados no desenvolvimento da atividade com fins lucrativos. O estabelecimento empresarial possui dois elementos relevantes: • o conjunto de bens; • a organização. O complexo de bens é o instrumento que o empresário tem para exercer suas funções empresariais. Entretanto, esse conjunto de bens deve ser organizado, conectado entre si de forma a realizar a atividade empresarial. Essa forma organizada pelo empresário é que o diferencia das demais empresas. Todas as ações que o empresário realiza para constituir sua empresa também são consideradas estabelecimento empresarial dessa sociedade. Em suma, o estabelecimento empresarial é o conjunto de bens corpóreos (como é o caso das instalações, dos equipamentos, entre outros), bem como de bens incorpóreos (marcas, patentes, entre outros). E as legislações penal e civil disciplinam normas para proteção des- ses bens. Todavia, o Direito Comercial tem como finalidade tutelar bens incorpóreos da relação empresarial. Direito Empresarial Legislação empresarial 2 29 Um dos elementos do estabelecimento empresarial é o seu nome, que é definido como uma palavra que o designa. Logo, é uma expressão que a identifica na função empresarial. Segundo o artigo 1°, caput, da IN/DREI 15/2013: “nome empresarial é aquele sob o qual o empresário individual, empresa individual de responsabilidade Ltda. – EIRELI, as socie- dades empresárias, as cooperativas exercem suas atividades e se obrigam nos atos a elas pertinentes” (BRASIL, 2013a). O nome tem duas funções importantes, sendo: a subjetiva (que individualiza e iden- tifica a pessoa jurídica como um sujeito de direito) e a objetiva (que garante a essa pessoa jurídica sua fama, reputação). É importante destacar que o nome empresarial não é sinônimo de marca nem do nome fantasia, nome do domínio ou, ainda, os chamados sinais de propaganda. Verificam-se as se- guintes diferenças: • Segundo o artigo 122 da Lei n. 9.279/1996 (BRASIL, 1996), marca é “aquela usada para distinguir produto ou serviço de outro idêntico, semelhante ou afim, de ori- gem diversa”. Logo, pode-se entender marca como uma representação simbólica que identifica o produto ou o serviço do empresário. Sua tutela é feita pelo direito de propriedade industrial. • O nome fantasia é um “apelido” que a empresa possui, ou seja, é um termo pelo qual a empresa é chamada – pode ser considerado como um nome popular, pelo qual a empresa é conhecida por seus consumidores. • O nome de domínio é uma identificação eletrônica da página em que o produto se encontra ou, ainda, um endereço eletrônico, que tem como finalidade a me- morização do endereço do site empresarial na internet pelos usuários. Segundo o Enunciado 7, da I Jornada de Direito Comercial do CJF: “O nome de domínio integra o estabelecimento empresarial como bem incorpóreo para todos os fins de direito” (BRASIL, 2013b). • Os sinais de propaganda têm a finalidade de chamar atenção dos consumidores. A Lei n. 9.279/1996 não manteve o dispositivo que tutelava esse objeto. Todavia, existe o Conselho de Autorregulamentação Publicitária (CONAR), o qual fiscaliza os sinais de propagandas e impõe normas aos seus associados. 2.3 O empresário e o direito dos consumidores (desconsideração da personalidade jurídica) Atualmente, a relação entre consumidores é disciplinada pela Lei n. 8.078/90 (BRASIL, 1990), o Código de Proteção e Defesa do Consumidor, que tem a finalidade de proteger os consumidores contra os abusos de fornecedores de produtos e serviços. Essa lei é acionada toda vez que, numa relação mercantil de consumo, em uma das partes está o consumidor – que, de acordo com o artigo 2° dessa lei, é: “toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”. No outro Direito Empresarial2 Legislação empresarial30 polo, deve se encontrar o fornecedor, que o artigo 3° traz como a “pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que de- senvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, impor- tação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços” (BRASIL, 1990). Nesse contexto, sempre que houver uma relação entre quem exerce a atividade de for- necer bens ou serviços, seja para o mercado ou para o consumidor final, está se falando de uma relação de consumo. Logo, o Código do Consumidor deve ser a fonte para sanar possí- veis controvérsias nesta relação jurídica ou nas derivadas dela. Os contratos de compra e venda podem ser caracterizados como uma relação de con- sumo quando em um dos polos da relação se encontra o consumidor final. Como quando alguém compra um carro diretamente da fábrica ou da concessionária. A mercadoria – o carro – será entregue para a pessoa que usufruirá do bem. Porém, quando a concessionária compra o carro da fábrica para revenda, encontra-se diante de uma relação mercantil, pois nessa situação não se encontra o consumidor final. Outro exemplo de relação mercantil ocorre quando você compra um carro usado de seu vizinho. Em tal exemplo, verifica-se a falta do fornecedor. Nesses dois casos, o dispositivo legal para pautar possíveis conflitos é o Código Civil, e não o Código do Consumidor, como nos primeiros exemplos. O conceito de fornecedor está abarcado no conceito de empresário; nesse sentido o for- necedor é um empresário, que deve se pautar nas suas relações pelo Código do Consumidor. Observa-se ainda que a relação ou o contrato de consumo traz diversos direitos aos consu- midores, em vários aspectos – entre eles, podem-se citar os prazos, a qualidade do bem etc. Um dos temas que o Código do Consumidor disciplina é a qualidade do produto e do serviço. Com essa finalidade essa lei prevê três conceitos importantes: fornecimento perigo- so, defeituoso e viciado (BRASIL, 1990). O fornecimento perigoso é aquele que expõe o consumidor a risco, devido ao produto ou serviço sofrer por falta ou inconformidade das informações prestadas pelo fornecedor. Logo, pode-se entender que o fornecimento é perigoso, não porque o produto ou o serviço esteja com defeito, mas porque, por falta de informação, o consumidor gerou o dano e, por consequência, colocou sua vida, ou sua saúde, sua integridade física em risco. Exemplo de fornecimento perigoso é o produto de limpeza que não tem nenhum defeito e nenhum vício, porém não traz nenhuma informação naembalagem ou no rótulo sobre sua composição química ou acerca de possíveis efeitos nocivos. Conforme o artigo 8° do Código do Consumidor, o fabricante está dispensado de fornecer informações somente nos casos em que o consumidor tenha conhecimento prévio de possíveis danos, ou seja, os “riscos considerados normais e previsíveis” (BRASIL, 1990). Como é o caso dos fabricantes de copo de vidro, que não precisam informar que, caso o produto quebre, pode o consumidor se cortar, pois essa informação é difundida entre os consumidores. Nesse caso de fornecimento perigoso, o problema seria sanado caso as informações fossem suficientes e adequadas para os consumidores. Todavia, o artigo 10 da mesma lei Direito Empresarial Legislação empresarial 2 31 adverte que é proibido o fornecimento de produtos e bens que sejam altamente nocivos ou perigos para a saúde e para a segurança do consumidor, logo, o fornecedor não consegue, por meio de informações de rótulo ou de embalagem, fornecer todas as precauções que o consumidor necessita tomar para manusear o produto ou o serviço. Os fornecedores (o fabricante, o produtor, o construtor, o importador e o prestador de serviço) respondem por dano causado por fornecimento perigoso de forma objetiva, ou seja, caso ocorra dano por falta de informação no rótulo e na embalagem, os sujeitos que forne- cem o bem e o serviço serão considerados culpados, independentemente da vontade (ou não) de prejudicar alguém. O fornecimento defeituoso ocorre quando os produtos ou serviços apresentam incon- gruência, ou seja, o produto ou o serviço tem um problema no seu fornecimento. Perceba que, nesse caso, por mais que haja informação adequada no rótulo ou na embalagem, o dano foi causado porque o produto estava com problemas. Exemplo de fornecimento defeituoso, por erro de fábrica, é quando a bateria do celular esquenta demais, ocasionando uma pequena explosão, enquanto o celular está no bolso e, consequentemente, queima a pele do consumidor. Nesse caso, o erro foi de fábrica, pois o consumidor não utilizou de modo errado o produto em questão. A responsabilidade do fabricante, produtor, construtor e importador dos produtos ou do prestador de serviços, nas hipóteses de fornecimento defeituoso, é objetiva, ou seja, inde- pendentemente de culpa por parte do fabricante, este deverá indenizar o consumidor. A legislação atual expõe que existem algumas hipóteses em que o dano derivado do consumo não será de responsabilidade do fabricante, conforme o artigo 12, § 3°: a) quando o fabricante, na sua linha de produção, verificou possível defeito no produto e o descar- tou, porém alguém furtou esse produto e o comercializou, b) quando não existe defeito no produto, sendo caso fortuito ocorrido após o fornecimento; c) quando a culpa do defeito é exclusiva do consumidor. Por fim, o fornecimento viciado corresponde ao serviço ou o produto que possui vício ou defeito de fábrica, porém é detectado pelo consumidor. Por exemplo, no caso de um carro que tem problema no motor, mas em que tal problema é descoberto pelo consumidor antes de qualquer tipo de acidente, estamos falando de um vício. Todavia, se o problema do motor não for descoberto antes do acidente, trata-se de uma coisa defeituosa. Ressalta-se, ainda, que os defeitos podem ser redibitórios ou aparentes. No primeiro caso, os defeitos são ocultos, sendo revelados somente mediante testes e exames técnicos, enquanto o segundo refere-se aos vícios que podem ser vistos com uma simples análise do adquirente. Quando ocorre o fornecimento por coisa com defeito, o fabricante pode solucionar a situação de três modos: a) devolver o dinheiro corrigido; b) diminuir o preço; ou c) substituir o produto ou reexecutar o serviço. Todavia, quando a coisa for viciada, só se poderá utilizar as duas primeiras hipóteses para resolver a questão. A legislação prevê que o direito do consumidor de reclamar de um produto ou serviço não durável é de 30 dias, porém, quando o produto ou serviço for considerado durável, esse Direito Empresarial2 Legislação empresarial32 período sobe para 90 dias, começando esse tempo, nas duas hipóteses, na entrega do produ- to ou na realização do serviço. Conforme o Código do Consumidor, o fornecedor não pode fazer publicidade simula- da, enganosa ou, ainda, abusiva (BRASIL, 2002a). Publicidade simulada contempla os anún- cios feitos de forma a ocultar seu caráter de propaganda. Exemplos disso são as reportagens que, na verdade, tem intuito de fazer propaganda. A publicidade enganosa é aquela que leva o consumidor ao erro, ou seja, são publicida- des que não têm todas as informações, ou estas são falsas. Por exemplo, as propagandas do castelo da Barbie que não informam que os bonecos não estão inclusos no briquedo. Muitas mães, ao irem à loja, verificam que o produto é vendido separadamente, gerando assim muitos transtornos. A publicidade abusiva é aquela que agride os valores sociais, como é o caso das propa- gandas de cigarro que não tenham nenhum tipo de alerta de que o cigarro faz mal à saúde. Também são considerados abusivos os anúncios racistas, sexistas, discriminatórios e lesivos ao meio ambiente. Os empresários que promoverem publicidade enganosa ou abusiva podem ser respon- sabilizados civil e penalmente, bem como deverão indenizar o consumidor. No caso das propagandas enganosas, o consumidor poderá solicitar a aquisição dos produtos e serviços nas condições apresentadas. Em suma, o Código do Consumidor tem como objetivo coibir ações dos fabricantes que sejam danosas aos consumidores, bem como responsabilizar a pessoa do empresário pelo for- necimento de produtos ou serviços que coloquem em risco a vida da pessoa ou a sua saúde. Um dos dispositivos legais que essa lei prevê é a desconsideração da personalidade jurídica, no seu artigo 28, nos casos em que o empresário fraudar ou abusar do seu direito para satisfazer seu interesse econômico em detrimento do consumidor. Ampliando seus conhecimentos Desconsideração da personalidade jurídica da sociedade limitada e a responsabilidade civil dos sócios administradores (SOUZA, 2017) [...] A desconsideração da personalidade jurídica é instituto essencial para combater as fraudes praticadas por meio de pessoas jurídicas afastando a autonomia patrimonial entre sócios e sociedade; dessa forma o caráter absoluto da autonomia patrimonial restou superado diante da constatação Direito Empresarial Legislação empresarial 2 33 de que ela poderia ser utilizada para fins ilícitos. Assim, a desconsidera- ção da personalidade jurídica contribui para o aperfeiçoamento da pessoa jurídica, pois permite afastar os efeitos da personificação para um caso específico, sem extingui-la. O resultado da pesquisa reforçou que a separação patrimonial estabele- cida entre a sociedade empresária e seus sócios constitui um incentivo essencial para a iniciativa privada e, consequentemente, para a propulsão da atividade econômica. Portanto, assim como não visa extinguir a pessoa jurídica, a desconsideração também não visa extinguir a autonomia patri- monial, muito pelo contrário, o objetivo é assegurar que a pessoa jurídica seja utilizada para atender ao seu objeto social, em toda sua plenitude, sem que haja deturpação da sua finalidade por meio de fraudes. Entretanto, ao mesmo tempo em que não se pode permitir que a auto- nomia patrimonial decorrente da personalização seja usada de escudo para a prática de atos ilícitos, também, não se deve permitir a aplicação desenfreada e abusiva da desconsideração, desvinculada dos seus fun- damentos, o que provocaria o desvirtuamento da teoria e do próprio instituto da pessoa jurídica, motivo pelo qual no âmbito do Direito Civil se aplica a teoria onde para desconsiderar a personalidade jurídica é indispensável a provade fraude, desvio de finalidade e confusão patri- monial, ou seja, a ausência de patrimônio da sociedade, por si só, não é motivo suficiente para ensejar a aplicação da superação da autonomia patrimonial da pessoa jurídica e a consequente responsabilização dos seus sócios ou administradores. O art. 50 do Código Civil fixou expressamente a necessidade de existência do abuso do direito para a declaração de desconsideração, e elegeu como circunstâncias caracterizadoras deste abuso o desvio de finalidade ou a confusão patrimonial. Contudo, a utilização do instituto é possível quando presentes os pressu- postos previstos em lei, ou seja, devendo ser observado se o caso concreto é passível de desconsideração da personalidade jurídica, pois quando não estão presentes os pressupostos para desconsideração ou quando for pos- sível a responsabilização direta do sócio administrador por ato praticado, não é cabível a desconsideração da personalidade jurídica. Destaca-se ainda a importância de o instituto estar devidamente forma- lizado processualmente, diminuindo os riscos de ser aplicado de forma errônea e consequentemente trazendo prejuízos, seja para o credor, seja Direito Empresarial2 Legislação empresarial34 para o sócio administrador atingido pela desconsideração da personali- dade jurídica, e ainda, baseado no contraditório e ampla defesa obser- vando o devido processo legal. Por meio do presente estudo, se infere que o estudo da desconsideração da personalidade jurídica aplicada à sociedade limitada é extremamente relevante, pois este tipo societário é o mais comumente adotado, prin- cipalmente pela responsabilidade limitada dos sócios, porém conforme observado nas doutrinas estudadas, mesmo nas sociedades limitadas podem os sócios responder ilimitadamente em casos de prática de atos ilícitos mobilizados por meio da pessoa jurídica. [...] Atividades 1. Sobre o empresário, assinale a alternativa correta: a. É aquele que executa atividade por um lapso de tempo. b. É o empregado que realiza as atividades em nome do dono da empresa. c. É quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produ- ção ou circulação de bens ou serviços. d. É aquele que possui mais votos na Assembleia Geral de Cotistas. 2. Os empresários devem manter, obrigatoriamente, dois livros empresariais, em boa ordem e guarda, que são: a. Livro Diário e Livro Razão. b. Livro Diário e Livro-Caixa. c. Livro-Caixa e Livro Razão. d. Livro-Caixa e Livro de Inventário. 3. Quando o empresário expõe o consumidor a risco, devido ao produto ou serviço sofrer por falta ou inconformidade das informações prestadas pelo fornecedor, esta- mos diante de: a. fornecimento perigoso. b. fornecimento defeituoso. c. fornecimento viciado. d. propaganda enganosa. Direito Empresarial Legislação empresarial 2 35 Referências BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/constituição.htm>. Acesso em: 3 maio 2017. ______. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 12 set. 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em: 3 maio 2017. ______. Lei n. 9.279, de 14 de maio de 1996. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 15 maio 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9279.htm>. Acesso em: 3 maio 2017. ______. Lei n. 9.782, de 26 de janeiro de 1999. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 27 jan. 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9782.htm>. Acesso em: 3 maio 2017. ______. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 11 jan. 2002a. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406. htm>. Acesso em: 3 maio 2017. ______. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução n. 238, de 27 de dezembro de 2001. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 4 mar. 2002b. ______. Conselho da Justiça Federal. Centro de Estudos Judiciários. Empresa e estabelecimento. In: JORNADA DE DIREITO COMERCIAL, 1., 2012, Brasília, DF. Enunciados aprovados. Brasília, DF: CJF/CEJ, 2013a. ______. Secretaria Especial da Micro e Pequena Empresa. Departamento de Registro Empresarial e Integração. IN DREI n. 15, de 5 de dezembro de 2013. Diário Oficial da União, 6 dez. 2013b. Disponível em: <http://www.normaslegais.com.br/legislacao/in-drei-15-2013.htm>. Acesso em: 4 jul. 2017. BERTOLDI, Marcelo M.; RIBEIRO, Marcia Carla Pereira. Curso avançado de direito comercial. 10. ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. COELHO, Fábio Uchoa. Manual de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2016. PALAIA, Nelson. Noções essenciais de Direito. São Paulo: Saraiva, 2008. REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. São Paulo: Saraiva, 2005. SOUZA, Adriana Caroline de. Desconsideração da personalidade jurídica da sociedade limitada e a responsabilidade civil dos sócios administradores. Âmbito Jurídico, Rio Grande, n. 158, mar. 2017. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_ id=18575>. Acesso em: 5 jul. 2017 VENOSA, Silvio de Salvo. Introdução ao estudo do Direito. São Paulo: Atlas, 2008. Resolução 1. C – Empresário é quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços. 2. A – Uma obrigação pertinente ao empresário é a escrituração dos livros obrigatórios, que compreendem os livros empresariais Diário e Razão, bem como o levantamento anual de balanço. Direito Empresarial2 Legislação empresarial36 3. A – Fornecimento perigoso é aquele que expõe o consumidor a risco, devido ao pro- duto ou serviço sofrer por falta ou inconformidade das informações prestadas pelo fornecedor. Logo, pode-se entender que o fornecimento é perigoso, não porque o pro- duto ou o serviço está com defeito, mas porque, por falta de informação, o consumidor gerou o dano e, por consequência, colocou sua vida, sua saúde ou sua integridade fí- sica em risco. Exemplo de fornecimento perigoso é o produto de limpeza que não tem nenhum defeito e nenhum vício, porém não há nenhuma informação, na embalagem ou no rótulo, sobre sua composição química e/ou possíveis efeitos nocivos. Legislação empresarial 37 3 Direito Societário Introdução Neste capítulo, o objetivo é proporcionar a compreensão dos conceitos oriundos da sociedade empresarial, demonstrando, assim, os principais temas relacionados ao conjunto de agentes cuja finalidade é exercer a função de empresário. Os conhecimentos são importantes para que se desenvolva o entendimento prático da legislação empresarial, visto que no Brasil há mais de 16 milhões de empresas, que se diferem por seu escopo, bem como pela sua formação societária, conforme dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviço e Turismo (2017). Direito Societário3 Legislação empresarial38 3.1 Sociedades empresárias: conceito e elementos O conceito de empresário, elencado no artigo 966 do Código Civil (BRASIL, 2002), refere- -se a uma pessoa física ou jurídica. Logo, pode-se entender que a pessoa física é o empresá- rio. Entretanto, a pessoa jurídica diz respeito à sociedade empresarial. É oportuno observar que, conforme o artigo 980-A do Código Civil, existe uma nova estrutura de empresário, que é a EIRELI – Empresa Individual de Responsabilidade Limitada. No panorama empresarial, verifica-se que 73% do PIB (Produto Interno Bruto), no ano de 2011, em contrapartida ao empresário individual, movimentaram 599 bilhões de reais do mesmo período, em conformidade com os dados do Sebrae (2014). Logo, pode-se entender que as sociedades empresariais têm um desempenho muito
Compartilhar