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Gestão financeira e orçamentária Neste capítulo será analisada a administração financeira e orçamentária como uma ferramenta importante para a gestão dos recursos públicos. E nessa área do setor governamental que se executa e se realiza o ato de gestão e na qual se materializam as ações da administração pública no Brasil. Orçamento público O orçamento público e a teoria do orçamento podem ser analisados de diferentes perspectivas: a) como instrumento de planejamento (orçamento-programa); b) como instrumento básico de política fiscal; c) como instrumento de controle político (orçamento tradicional); d) como sistema de informação; e) como instrumento de suporte à gestão governamental; e f) como instrumento de avaliação do gasto público. 86 G e s t ã o públ ica * Edson Ronaldo Nascimento 2.1.1 Princípios orçamentários A melhor forma de se obter a transparência do orçamento público e facilitar o seu controle e avaliação é buscar a elaboração da peça legal, seguindo e obedecendo aos princípios clássicos do orçamento. O objetivo desses princípios é tornar o orçamento transparente e facilitar o seu controle e avaliação. Os princípios orçamentários podem ser divididos em fundamentais e ope- racionais: 1. os princípios fundamentais são os mais clássicos e normalmente, são segui- dos e aceitos pela maioria dos países; 2. já os princípios operacionais têm como objetivo tornar o orçamento mais racional e eficiente. Destacam-se como princípios orçamentários fundamentais e operacionais: nu Princípios fundamentais: / princípio da legalidade; / princípio da reserva legal; / princípio da periodicidade (na maioria dos casos se resume no princípio da anualidade); / princípio da exclusividade; / princípio da unidade; S princípio da universalidade. t j Princípios operacionais: / princípio do equilíbrio orçamentário; / princípio da publicidade; / princípio da especificação; / princípio da não-vinculação de receita; / princípio do orçamento bruto. A seguir, serão analisados os mais importantes princípios orçamentários (fundamentais e operacionais) utilizados pelo orçamento público nacional. 2.1.1.1 Princípio da unidade O orçamento deve ser uno, ou seja, do ponto de vista estritamente formal cada ente federado (União, Estado, Distrito Federal e município) deve ter apenas um orça- mento. Busca-se, dessa forma, eliminar a existência de orçamentos paralelos. C a p í t u l o 2 • Gestão financeira e orçamentária 87 No caso do Brasil, a União possui três peças orçamentárias (o que pode sugerir o desrespeito ao princípio da unidade): 1. o orçamento fiscal; 2. o orçamento da seguridade social; e 3. o orçamento de investimentos em empresas que a União detenha a maioria do capital social votante. Esses três orçamentos estão integrados de forma harmónica dentro de um sistema integrado de planejamento-orçamento. A utilização do princípio da uni- dade no processo de elaboração torna o orçamento mais transparente, facilitando seu controle e a avaliação. Contudo, o desmembramento do orçamento no Brasil em três peças foi ba- seado em propósitos específicos. Por exemplo, a utilização de um Orçamento da Seguridade Social tem por objetivo evitar desvios de recursos, originalmente destinados a essa área, para outras finalidades. Apesar da existência de três peças orçamentárias no governo federal, eles devem ser harmónicos entre si, integrando uma única norma legal: a Lei Orça- mentária Anual (LOA). O art. 2- da Lei n 2 4.320/64 dispõe que a Lei de Orçamento conterá a discri- minação da receita e da despesa de forma a evidenciar: 1. a política econômico-financeira do governo; e 2. o programa de trabalho do governo, obedecidos os princípios de unidade, universalidade e anualidade. 2.1.1.2 Princípio da universalidade O orçamento deve conter todas as receitas e todas as despesas referentes aos po- deres da União, seus fundos, órgãos e entidades da administração direta e indi- reta. A exposição dessa totalidade ou universalidade das receitas e das despesas constitui-se o princípio da universalidade. A ideia desse princípio está associada a palavras tais como totalidade, total, todas etc, no sentido de que o orçamento deverá conter todas as receitas públicas e todas as despesas públicas. Contudo, na vida real, como veremos adiante, essa lógica nem sempre se processa no orçamento. Ou seja, existem exceções ao prin- cípio da universalidade como será apresentado a seguir. O princípio da universalidade é previsto nos artigos 2 a, 3 a, 4 a e 6 a da Lei n a 4320/64 que, no conjunto, preconizam que o orçamento deve conter as receitas 88 G e s t ã o públ ica • Edson Ronaldo Nascimento e as despesas do Estado. O objetivo do Princípio da Universalidade é possibilitar ao Legislativo conhecer e autorizar, previamente, essas receitas e despesas. Além da previsão legal do princípio da universalidade na Lei n a 4320/64, a definição constitucional do Orçamento Fiscal se enquadra muito bem nesse princípio orçamentário. Senão, vejamos: verificamos ao ler o artigo 165, § 52, I , que o orçamento fiscal possui todas as receitas e todas as despesas fiscais (com exceção dos valo- res dos Orçamentos da Seguridade Social e do Orçamento de Investimentos). Incluem-se no orçamento fiscal as receitas e as despesas dos poderes da União e de todos os tipos de administração pública da União. São receitas e despesas dos fundos, órgãos, das entidades da administração direta e indireta, incluindo as fundações. Novamente aqui, no artigo 165, § 52, I , também o princípio da universali- dade está refletido e expresso nas palavras todos e todas (receitas e despesas de todos os órgãos). Ocorre, no entanto, conforme asseverado, que esse princípio não é abso- luto, existindo exceções à regra. Ou seja, não se incluem no orçamento as re- ceitas extra-orçamentárias e as despesas extra-orçamentárias. Como exemplo de receitas extra-orçamentárias, poderíamos citar as operações de crédito por antecipação da receita (as chamadas Aros), as emissões de papel-moeda e outras entradas compensatórias no ativo e passivo financeiros, conforme citado no pa- rágrafo único do artigo 3 2 da Lei n a 4.320/64. Receitas extra-orçamentárias - com exceção dos recursos provenientes de operações de crédito, que são receitas orçamentárias, as receitas extra-orça- mentárias são recursos que o governo recebe, porém não pertencem ao ente pú- blico federal. As receitas extra-orçamentárias, a princípio, devem ser devolvidas (exigibi- lidade potencial) pois são recursos de terceiros, e não estão incluídos na previsão da receita. As receitas extra-orçamentárias funcionam como um fluxo de caixa dispo- nível. Entretanto, elas não podem ser computadas para efeito de programação das despesas, pois não são suporte de nenhuma dotação orçamentária já que não estão previstas no orçamento. Exemplos de receitas extra-orçamentárias: y salários e valores não reclamados; L operações de crédito por antecipação da receita (Aros); depósitos em garantia; C a p í t u l o 2 * Gestão financeira e orçamentária y depósitos em caução, garantia de caução; t depósitos judiciais e extrajudiciais. Segunda exceção: despesa extra-orçamentária. De acordo com o Dicionário de Orçamento, Planejamento e áreas afins de Oswaldo Maldonado Sanches, a despesa extra-orçamentária é aquela que é realizada (paga) à margem da Lei Orçamentária Anual (LOA) e dos créditos adicionais regularmente abertos, tendo, por isso, a singular natureza de ser inde- pendente de prévia autorização legislativa. Constituem exemplos típicos de despesas extra-orçamentárias: a) as saídas do passivo financeiro que sejam compensatórias de entradas no ativo financeiro em razão de receitas extra-orçamentárias(tais como as que ocorrem por ocasião da restituição de valores recebidos como caução, con- signação ou depósito) - nessa ótica a despesa extra-orçamentária é o paga- mento (restituição) de uma receita extra-orçamentária; b) os pagamentos relativos à liquidação de operações de crédito por antecipação da receita orçamentária (Operações por Aro) realizadas no exercício. 2.1.1.3 Princípio do orçamento bruto E princípio complementar à universalidade orçamentária. Determina que todas as receitas e despesas devem aparecer no orçamento em seus valores brutos. Tem a finalidade de impedir a inclusão de importâncias líquidas, sem a discrimina- ção, por exemplo, da origem e da totalidade dos recursos arrecadados. Assim, o orçamento público deve apresentar e discriminar os abatimentos e os descontos aos valores brutos com a finalidade de satisfazer a outro princípio orçamentário que é o princípio da transparência. Ao se impedir a apresentação de valores líquidos, evita-se que informações sobre valores de abatimentos, des- contos e compensações sejam escondidos pela simples apresentação de valores líquidos sem a discriminação desses diversos tipos de descontos. O princípio do orçamento bruto está previsto no artigo 6 a da Lei n a 4.320/64. 2.1.1.4 Princípio da periodicidade O princípio da periodicidade diz que o orçamento deve obedecer a uma certa pe- riodicidade, que, na maioria das vezes, é de um ano, uma vez que esta é a medida de tempo normal para previsões dentro do setor público (ano civil). Um ano também é um período razoável para que o Poder Legislativo possa interferir e controlar o orçamento, de maneira a permitir a correção de eventuais desvios que porventura venham a ocorrer. 90 G e s t ã o públ ica • Edson Ronaldo Nascimento A correção dos desvios é um preceito estabelecido pela Lei de Responsa- bilidade Fiscal (LRF), que é concretizado por meio de relatórios tais como o Relatório Resumido de Execução Orçamentária (RREO) e o Relatório de Gestão Fiscal (RGF). Ambos verificam os valores de receitas e despesas e constatam se houve desvios de limites de gastos ou desvios de metas fiscais. No caso da ocorrência de desvios, deve-se buscar na Lei das Diretrizes Orçamentárias (LDO) as medidas corretivas que deverão ser adotadas. Essas verificações dos dados orçamentários, financeiros e fiscais são feitas anualmente. Ou seja, durante o período de um ano. Por outro lado, os relatórios fiscais da LRF serão publicados quadrimestralmente (RGF) e bimestralmente (RREO). 2.1.1.5 Princípio da anualidade As previsões de receita e fixação da despesa devem corresponder ao período de um ano. Ou seja, no Brasil o orçamento obedece ao princípio da anualidade. A Constituição Federal de 1988 dispõe que leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão orçamentos anuais. Assim, o texto constitucional declara que o período de vigência do orçamento é de um ano. Esse período de vigência do orçamento denomina-se exercício financeiro. O artigo 34 da Lei n 2 4.320/64 estipula que o exercício financeiro coincide com o ano civil (de l 2 de janeiro até 31 de dezembro). Daí surge uma pergunta: qual será o foco das atenções no orçamento durante esse período? A resposta está no artigo 35 da Lei n 2 4.320 que diz: Art. 35 Pertencem ao exercício financeiro: I - as receitas nele arrecadadas; e I I - as despesas nele legalmente empenhadas. 2.1.1.6 Princípio da não-afetação (não-vinculação) e da quantificação dos créditos orçamentários Está traduzido no artigo 167, IV, da CF/1988, apresentado a seguir, in verbis: Art. 167. São vedados: IV - a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, res- salvadas a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se re- ferem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para as ações e serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e para C a p í t u l o 2 * Gestão financeira e orçamentária 91 realização de atividades da administração tributária, como determinado, respectivamente, pelos arts. 198, § 2-, 212 e 37, XXI I , e a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, § 82, bem como o disposto no § 4- deste artigo. Esse princípio define que nenhuma parcela da receita de impostos poderá ser posta em reserva para cobrir certos e específicos dispêndios. A ideia é ga- rantir ao gestor público que os recursos ficarão livres de compromissos para que eles possam atender às despesas conforme as prioridades que as circunstâncias e a conjuntura econômico-financeira requerem. Contudo, o próprio texto constitucional prevê diversas exceções à regra do princípio da não-vinculação da receita. Em contrapartida, essas exceções são tantas, que sobram poucos recursos livres para o uso dos administradores pú- blicos. Isso ocorre porque a estrutura de gastos dos governos é rígida, ou seja, é composta por muitas despesas de natureza obrigatória impostas pela própria Constituição. Ou seja, a Constituição vincula receitas a uma série de despesas ou desti- nações específicas. São essas vinculações constitucionais que representam as exceções ao princípio da não-afetação das receitas. Quando as receitas de impostos são vinculadas a despesas específicas, diz-se, em geral, que essas despesas são obrigatórias. Já o princípio da quantificação dos créditos orçamentários refere-se àquilo que o Poder Executivo está autorizado a gastar a cada exercício, sob a fiscaliza- ção e o controle do Poder Legislativo. Está traduzido em dois dispositivos cons- titucionais apresentados a seguir, in verbis: Art. 167. São vedados: (-) I I - a realização de despesas ou a assunção de obrigações diretas que ex- cedam os créditos orçamentários ou adicionais; I I I - a realização de operações de créditos que excedam o montante das despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta; (...) V I I - a concessão ou utilização de créditos ilimitados. 92 G e s t ã o públ ica * Edson Ronaldo Nascimento 2.1.1.7Princípio da discriminação ou especificação De acordo com esse princípio, as receitas e as despesas devem aparecer no or- çamento de maneira discriminada, demonstrando a origem e a aplicação dos recursos. Quanto maior a discriminação, maior será a clareza e a possibilidade de fiscalização pelos agentes competentes. O § 4 a do artigo 5 a da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) estabelece a vedação de consignação de crédito orçamentário com finalidade imprecisa, exi- gindo, assim, a especificação da despesa. Também o art. 5 a da Lei n a 4.320/64 estabelece que a Lei de Orçamento não consignará dotações globais destinadas a atender indiferentemente a despesas de pessoal, material, serviços de terceiros, transferências ou quaisquer outras. O princípio da especificação determina ainda que os montantes das recei- tas e despesas devem estar bem identificados, de modo que possam ser enten- didos por toda a sociedade, quer seja, indiretamente, pelos seus representantes (os congressistas), quer seja, diretamente, pelo cidadão comum, pelo chamado "controle social". 2.1.1.8 Princípio da exclusividade Segundo esse princípio, postulado pelo art. 165, § 8 a da Constituição, a lei orçamentária anual não conterá dispositivo estranho à previsão da re- ceita e à fixação da despesa, não se incluindo na proibição a autorização para a abertura de créditos suplementares e contratação de operação de crédito, ainda que por antecipação de receita, nos termos da lei. 2.1.1.9 Princípio do equilíbrio Esse é um princípio clássico de finanças públicas, que postula a necessidade do equilíbrio entre receita e despesa. A Constituição Federal de 1988 pretendeuobter a aplicação deste princípio no que tange às operações correntes. Esse é o foco do artigo 167, inciso I I I , da CF, o qual vedou a realização de operações de crédito que ultrapassem o montante das despesas de capital. Nesse caso, a proposta é obter o equilíbrio entre as despesas e as recei- tas (receitas aqui no seu sentido estrito, ou seja, não incluindo as operações de crédito). Dessa forma, evita-se o financiamento de despesas correntes por meio de endividamento. C a p í t u l o 2 • Gestão financeira e orçamentária • A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) também faz uso desse princípio ao determinar que o montante previsto para as receitas de operações de crédito não poderá ser superior ao das despesas de capital constantes do projeto de lei orçamentária, conforme previsto no § 2- do art. 12.1 Esses dois dispositivos, citados acima, constituem a Regra de Ouro das f i - nanças públicas, a qual tem como objetivo impedir que operações de crédito, que são receitas de capital, financiem despesas correntes. Além disso, tanto a Lei n f i 4.320/64 como a LRF e a própria Constituição Fe- deral procuram garantir o cumprimento do princípio do equilíbrio de uma forma mais ampla, estabelecendo normas e impondo condição para a criação de despe- sas. Tais normas determinam que a criação de qualquer despesa deve vir acompa- nhada da indicação da fonte de recursos para garantir o equilíbrio orçamentário. A Constituição zela também pelo princípio do equilíbrio ao determinar que criação de despesa adicional feita por emenda parlamentar só será possível me- diante a indicação de recursos necessários, só sendo admitidos àqueles recur- sos provenientes da anulação de outras despesas do orçamento. A mecânica é simples: se para cada despesa proposta pelo Executivo existem recursos corres- pondentes, ao se anular uma despesa os recursos ficarão liberados, podendo ser utilizados em outra finalidade, sem afetar o equilíbrio orçamentário. 2.1.1.10 Princípio da reserva legal (ou da legalidade) De acordo com a Constituição Federal, a iniciativa para propor a Lei do Plano Plurianual, Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei Orçamentária Anual é do Poder Executivo. Essa exclusividade em matéria orçamentária é denominada Re- serva Legal. Resta, por f im, considerar que o princípio da reserva legal foi o primeiro princípio a ser definido, historicamente. Ele declara que o orçamento deve ser, obrigatoriamente, objeto de uma lei, a qual deve ser o fruto de um processo le- gislativo completo. A legalização da despesa orçamentária ocorre da seguinte forma: uma pro- posta, que contém o projeto de lei do orçamento, deve ser elaborada pelo Execu- tivo e submetido ao Legislativo (Congresso Nacional, em nível federal), para que possa ocorrer apreciação (autorização - controle político) e a posterior devolução da lei ao Poder Executivo para sanção e publicação. Um dos aspectos mais importantes nesse processo é que as despesas do or- çamento precisam receber autorização legal. O orçamento precisa ter força de lei O dispositivo referente a Regra de Ouro foi vetado na lei, não invalidando o mandamento constitucional. 94 G e s t ã o públ ica • Edson Ronaldo Nascimento para que todos saibam que ele foi autorizado com o aval da sociedade por meio de seus representantes legais. Ainda, de acordo com esse princípio, o sistema orçamentário deverá estar em sintonia com o planejamento e a programação do poder público, garantindo que todos os atos relacionados aos interesses da sociedade devem passar pelo exame e pela aprovação do Parlamento. A legalidade pode ser dividida em duas partes: 1. a legalidade da despesa - é a autorização legislativa da despesa. A despesa deve ser autorizada por lei especial, pela Lei do Orçamento ou por lei de créditos adicionais; 2. a legalidade da receita - é autorização legislativa da receita. A receita também deve ser autorizada por lei. Antigamente, o próprio orçamento autorizava a arrecadação da receita. Hoje em dia, a lei que institui o tributo autoriza a sua cobrança e arrecadação. 2.1.2 Orçamento público no Brasil O orçamento nasceu como instrumento de controle político do Parlamento sobre a Coroa, e foi adotado pelos revolucionários franceses em 1789. Com o espírito francês, os princípios orçamentários foram transmitidos às novas nações que se formavam do outro lado do Atlântico e mesmo pelo resto do mundo. No Brasil, o orçamento surge logo após a revolução pernambucana no ano de 1817, quando D. João V I criou vários impostos no País. Mas somente na Cons- tituição de 1824 é que a peça orçamentária foi estabelecida oficialmente. No entanto, apenas em 1830 é que tivemos o primeiro Orçamento Geral no Brasil, votado para o exercício financeiro de 1830 e 1831. Em termos históricos, no Brasil, o orçamento público passou por três etapas: I a o orçamento tradicional; 2 a o orçamento de desempenho; e 3 a o orçamento-programa. 2.1.2.1 Orçamento tradicional O orçamento tradicional surge como um instrumento de controle jurídico-políti- co do Parlamento sobre o Poder Executivo. Trata-se de uma listagem dos meios utilizados pelo Estado para realizar suas ações. Daí surge a expressão jurídica C a p í t u l o 2 * Gestão financeira e orçamentária 95 "lei de meios", em que o governo estima as receitas e fixa as despesas. Com o advento do orçamento tradicional, apresentou-se, no plano técnico, a necessidade de emprego de duas classificações orçamentárias: a) classificação por unidade administrativa; b) classificação por objeto de gasto ou elemento de despesa. Depreende-se, portanto, que o orçamento tradicional caracteriza-se como um instrumento de autorização de despesas a entidades assinaladas na peça legal, em que estão relacionados os elementos de despesas (pessoal, material, equipamentos etc.) e as respectivas fontes de receita. A maior deficiência do orçamento tradicional consistia no fato de que ele não privilegiava um programa de trabalho e um conjunto de objetivos a alcançar. Adotava uma filosofia incrementalista, pois os órgãos eram contemplados no orçamento de acordo com o que gastavam no exercício anterior e não em função do que pretendiam realizar. 2.1.2.2 Orçamento de desempenho O orçamento clássico tradicional evoluiu para o orçamento de desempenho ou de realizações, em que se buscava saber "as coisas que o governo faz e não as coisas que o governo compra ou gasta". Assim, saber o que a administração pública compra tornou-se menos relevante do que saber para que se destina a referida aquisição. O orçamento de desempenho é aquele que apresenta os propósitos e obje- tivos para os quais os créditos se fazem necessários, os custos dos programas propostos para atingir aqueles objetivos, além de dados quantitativos que meçam as realizações e o trabalho levados a efeito em cada programa (observe-se que a figura do programa surgiu com o orçamento de desempenho e não com o orça- mento-programa). O orçamento de desempenho, embora já ligado aos objetivos, não poderia, ainda, ser considerado um orçamento-programa, visto que lhe faltava uma carac- terística essencial, que era a vinculação ao sistema de planejamento. 2.1.2.3 O orçamento-programa Embora alguns estudiosos defendam a tese de que a Lei n e 4.320/64 representa o marco da adoção do orçamento-programa no Brasil, no entendimento deste autor, ela espelha os princípios do orçamento de desempenho. O marco da 96 G e s t ã o públ ica • Edson Ronaldo Nascimento institucionalização do orçamento-programa no País é, de fato, o Decreto-Lei n 9 200. de 1967, conforme pode ser constatado a partir da leitura do artigo 16, in verbis: Art. 16 - Em cada ano será elaborado um orçamento-programa, que por- menorizará a etapa do programa plurianual a ser realizada no exer-cício seguinte e que servirá de roteiro à execução coordenada do programa anual. Parágrafo único. Na elaboração do orçamento-programa serão conside- rados, além dos recursos consignados no orçamento da União, os re- cursos extra-orçamentários vinculados à execução do programa do Governo. O Decreto n 2 71.353, de 9 de novembro de 1972, criou a estrutura organiza- cional do sistema de planejamento federal. Por sua vez, a Portaria Seplan n Q 09, de 28 de janeiro de 1974, atendendo ao disposto no artigo 180, do Decreto-Lei n Q 200/67, instituiu a classificação funcional-programática (Função/subfunção/ Programa/subprograma/Projeto, Atividade ou Operação Especial). Posterior- mente, esta classificação se desmembrou em duas classificações: a classifica- ção Funcional (Função e subfunção) e a classificação ou estrutura Programática (Programa/Projeto, Atividade ou Operação Especial). O orçamento-programa é aquele que apresenta os propósitos, objetivos e metas para as quais a administração solicita os fundos necessários, identifica os custos dos programas propostos para alcançar tais objetivos e os dados quantitativos que medem as realizações e os trabalhos realizados dentro de cada programa. Os ingredientes básicos desse modelo orçamentário são: a) definição de programas, projetos e atividades; b) conversão dos programas, projetos e atividades em termos financeiros, por intermédio de um sistema uniforme de classificação de contas; c) criação de medidas de trabalho para permitir a mensuração realista das esti- mativas orçamentárias, além da avaliação dos resultados obtidos com a ação gerencial e o desembolso dos recursos públicos. As principais diferenças entre o orçamento tradicional e o orçamento- programa podem ser definidas como na Tabela 2.1. O orçamento-programa, conforme asseverado, destaca as metas, os objeti- vos e as intenções do governo. Nesse sentido, consolida um grupo de programas que o governo se propõe a realizar durante um período. Os planos são expressos C a p í t u l o 2 • Gestão financeiro e orçamentária 97 Tabela 2.1 Principais diferenças entre orçamento tradicional e orçamento-programa Características Orçamento tradicional Orçamento-programa Interação entre planejamento e orçamento o processo orçamentário é dissociado dos processos de planejamento e programação o orçamento é o e/o entre o planejamento e as funções executivas da organização Alocação de recursos a alocação de recursos visa à aquisição de meios a alocação de recursos visa à consecução de objetivos e metas Base das decisões orçamentárias as decisões orçamentárias são tomadas tendo em vista as necessidades das unidades organizacionais as decisões orçamentárias são tomadas com base em avaliações e análises técnicas das alternativas possíveis Critérios usados na elaboração do orçamento na elaboração do orçamento são consideradas as necess/dodes financeiras das unidades organizacionais na elaboração do orçamento são considerados todos os custos dos programas, inclusive os que extrapolam o exercício Ênfase atribuída à estrutura e ao sistema de classificação do orçamento a estrutura do orçamento dá ênfase aos aspectos contábeis de gestão a estrutura do orçamento está voltada para os aspectos administrativos e de planejamento Critérios do sistema de classificação do orçamento os principais critérios classificatórios são as unidades administrativas e os elementos de despesas os principais critérios de classificação são o Funcional e o Programático Existência de sistemas de acompanhamento e padrões de medição não existem sistemas de acompanhamento e medição do trabalho e dos resultados utilização sistemática de indicadores e padrões de medição do trabalho e dos resultados Objetivos a serem alcançados pelo Controle o Contro le visa avaliar a honestidade dos agentes governamentais e a legalidade no cumprimento do orçamento o Contro le visa avaliar a eficiência, a eficácia e a efetividade das ações governamentais Fonte: Giacomoni (2004). em unidades mensuráveis e seus custos definidos. É um programa de trabalho e constitui, portanto, um instrumento de planejamento. Enquanto o orçamento tradicional mostra o que se pretende gastar ou com- prar, o orçamento-programa realça o que se pretende realizar. E um programa de trabalho definindo objetivos a serem alcançados, seus custos e as fontes dos recursos. O orçamento comum (tradicional) restringe os gastos e as compras ao 98 G e s t ã o públ ica • Edson Ronaldo Nascimento montante da receita estimada, enquanto o orçamento-programa não limita as metas governamentais aos recursos orçamentários previstos. O orçamento-programa constitui modalidade de orçamento na qual a pre- visão dos recursos financeiros e sua destinação decorrem da elaboração de um plano completo. Distingue-se do orçamento comum porque este parte da previsão de recursos para a execução de atividades instituídas, enquanto no or- çamento-programa a previsão de recursos é a etapa final do planejamento. A elaboração do orçamento-programa abrange quatro etapas: 1. planejamento, que é a definição dos objetivos a atingir; 2. programação, que é a definição das atividades necessárias à consecução dos objetivos; 3. projeto, que é a estimação dos recursos de trabalho necessários à realização das atividades; 4. orçamentação, que representa a estimação dos recursos financeiros para pagar a utilização dos recursos de trabalho, além de prever as fontes dos recursos. No orçamento-programa, as metas governamentais são classificadas em funções de governo e estas divididas em programas, subprogramas, projetos e atividades. O Anexo n Q 5, da Lei n a 4.320/64 (e a Portaria SOF n 2 42/1999, apre- sentada mais adiante), padroniza a estrutura e a codificação da Classificação Funcional Programática. 2.1.2.4 Orçamento base zero De acordo com Horngren, Foster e Datar (1997), o orçamento base zero é um método alternativo ao incremental, método geralmente utilizado que, para elaboração do orçamento atual, toma como base o imediatamente an- terior e o ajusta para mais ou para menos. No orçamento base zero exige-se que todos os gerentes justifiquem os gastos orçamentários, e não apenas as variações em relação ao orçamento do ano anterior. A linha de base é zero e não o orçamento do ano anterior. Já Atkinson (2000) postula que o orçamento base zero surgiu em parte para combater os orçamentos in- crementais indiscriminados, já que essa abordagem pode requerer muito pouco raciocínio e pode resultar em má alocação de recursos. C a p í t u l o 2 • Gestão financeira e orçamentária 99 Em teoria, o orçamento base zero representa o inverso do chamado in- crementalismo. Ou seja, parte-se do zero, desconsiderando os programas que vinham sendo realizados até então. E muito mais uma hipótese teórica mas que poderia se tornar realidade, por exemplo quando da mudança brusca de uma filosofia de governo. De acordo com João Batista Fortes de Souza Pires (1998), a principal carac- terística do orçamento base zero é a avaliação dos resultados alcançados. Ainda segundo esse autor, os objetivos do orçamento base zero são: aj planejamento orçamentário para o exercício seguinte; y obediência ao princípio da economicidade; y planejamento estratégico para identificar as reais necessidades financeiras; |y acompanhamento sistemático dos programas; e planejamento estruturado a longo prazo. Nesse sentido, o orçamento base zero representa uma evolução do orçamen- to tradicional, criando condições para a elaboração do orçamento-programa. 2.1.2.5 O ciclo orçamentário Oswald Maldonado Sanches (1997) descreve o Ciclo ou Processo Orçamentário como o conjuntode etapas e procedimentos a serem cumpridos com o propósito de elaborar e aprovar o orçamento do setor público. Além disso, completa o autor, no processo orçamentário desenvolvem-se atividades de planejamento e programação a cargo das unidades técnicas e operacionais no Poder Exe- cutivo e as atividades de apreciação da proposta orçamentária pelo Poder Legislativo. (Sanches, 1997, p. 206) Já Giacomoni (2004) destaca que no Brasil o processo de integração do orçamento com o planejamento envolve as seguintes etapas: y elaboração e revisão dos planos; y programação; y elaboração da proposta orçamentária; y discussão, votação e aprovação da lei orçamentária; y execução orçamentária; y controle e avaliação. 100 G e s t ã o públ ica • Edson Ronaldo Nascimento As questões que serão apresentadas nessa parte são baseadas em estudos desenvolvidos por Giacomoni (2004) e Sanches (1997). Dentro da concepção do sistema de planejamento e orçamento, a Lei Orçamentária Anual é o ins- trumento de operacional ização de curto prazo da programação constante dos planos setoriais e regionais. A principal matéria-prima utilizada para a elabora- ção da proposta do orçamento é buscada em elementos integrantes do sistema de planejamento. O ciclo orçamentário, também conhecido como processo orçamentário, pode ser definido como um processo de caráter contínuo e simultâneo, por meio do qual se elabora, aprova, executa, controla e avalia a programação de dispên- dios do setor público nos aspectos físico e financeiro. Logo, ciclo orçamentário corresponde ao período de tempo em que se processam as atividades típicas do orçamento público, desde sua concepção até a apreciação final. Esse conceito terá um alcance ainda mais amplo se incluir todos os demais instrumentos previstos, além do orçamento propriamente dito, que é apenas uma etapa detalhada da execução do Plano Plurianual, complementado por planos nacionais, regionais e setoriais, e cujas diretrizes orçamentárias orientam a sua elaboração e execução. Tudo se passa de acordo com uma concepção abrangente, sistemática e continuada, a que se pode denominar planejamento. E fácil, assim, perceber como o ciclo orçamentário não se confunde com o exercício financeiro, este bem mais restrito, de duração rigorosamente definida e representado por etapas sucessivas e não superpostas. O ciclo orçamentário envolve um período muito maior que o exercício f i - nanceiro, uma vez que abrange todas as fases do processo orçamentário: elabora- ção da proposta, discussão e aprovação, execução e acompanhamento e, por f im, controle e avaliação do orçamento. Exercício financeiro é o espaço de tempo compreendido entre l e de janeiro e 31 de dezembro de cada ano, no qual se promove a execução orçamentária e demais fatos relacionados com as variações qualitativas e quantitativas que afetam os elementos patrimoniais dos órgãos/entidades do setor público. O art. 34 da Lei n a 4.320/64 determina que o exercício financeiro coincidirá com o ano civil. O art. 35 desse mesmo dispositivo legal dispõe que "pertencem ao exercício financeiro as receitas nele arrecadadas e as despesas nele legalmen- te empenhadas". E o regime misto da contabilidade pública no Brasil: de caixa para as receitas e de competência para as despesas. 2.1.2.6 Elaboração da proposta Essa fase é de responsabilidade essencialmente do Poder Executivo e deve ser compatível com os planos e as diretrizes já submetidos ao Legislativo (LDO), conforme disposição constitucional. - tmm batido Nascimento C a p í t u l o 2 • Gestão financeira e orçamentária 101 •das em estudos I ro da concepção Anual é o ins- constante dos para a elabora- srantes do sistema s>: orçamentário, •feâneo, por meio mação de dispên- ã d o orçamentário r- l i^es típicas do ^todos os demais »que é apenas uma Botado por planos las orientam a sua kpçãY abrangente, •to. t confunde com o •mente definida e •ae o exercício f i - •entár io: elabora- •roento e, por fim, entre l f i de janeiro ção orçamentária quantitativas que r público. Meeiro coincidirá t que "pertencem as nele legal men- a Brasil: de caixa cutivo e deve ser igislativo (LDO), Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (...) X X I I I - enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento previstos nesta Constituição. Ressalte-se que essa previsão constitucional se repete no artigo 166 remeten- do à Lei Complementar a fixação do exercício financeiro, a vigência, os prazos, a elaboração e a organização do PPA, a LDO e a LOA (art. 165, § 9 a da CF/1988). Art. 165 (...) § 9 a - Cabe à lei complementar: I - dispor sobre o exercício financeiro, a vigência, os prazos, a elaboração e a organização do plano plurianual, da lei de diretrizes orçamentá- rias e da lei orçamentária anual; II - estabelecer normas de gestão financeira e patrimonial da administra- ção direta e indireta bem como condições para a instituição e funcio- namento de fundos. Enquanto não aprovada a Lei Complementar prevista no artigo 165, o arti- go 35 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) regulamen- ta a matéria. Cumpre ressaltar que os Poderes Legislativo e Judiciário e o Ministério Pú- blico têm autonomia para a elaboração de suas propostas, dentro das condições e limites já estabelecidos nos planos e diretrizes. O órgão central do sistema de orçamento (Secretaria de Orçamento Fede- ral - SOF) fixa determinados parâmetros a serem adotados no âmbito de cada órgão/unidade orçamentária. Como visto anteriormente, há dois níveis de com- patibilização e consolidação: o primeiro, que decorre das discussões entre as unidades de cada órgão; o segundo, já no âmbito do órgão central do sistema de orçamento, entre os vários órgãos da administração pública. Disso resulta a proposta consolidada que o presidente da República encami- nha, anualmente, ao Congresso Nacional. Vale notar que, antes da etapa de elaboração da proposta orçamentária, o órgão central de orçamento indica o volume de dispêndios coerente com a parti- cipação do setor público no PIB, conforme o estabelecido no Plano Plurianual. O volume assim estabelecido determinará a quantificação da demanda f i - nanceira e servirá para formular o limite da expansão ou retração do dispêndio. 102 G e s t ã o públ ica • Edson Ronaldo Nascimento Os recursos financeiros serão determinados em função das recomendações do Plano Plurianual sobre: y comportamento da arrecadação tributária; y política de endividamento; y participação das fontes internas e externas no financiamento das despesas. 2.1.2.7 O projeto de lei e sua tramitação Estabelece o art. 165, § 9 a, da Constituição Federal, que cabe à lei complementar dispor sobre o exercício financeiro, a vigência, os prazos, a elaboração e a or- ganização do Plano Plurianual (PPA), da Lei de Diretrizes Orçamentárias e da Lei Orçamentária Anual. No entanto, na ausência desse diploma legal, conforme visto, os prazos para tramitação dos projetos de lei do PPA, das Diretrizes Orça- mentárias e do Orçamento Anual, ou Lei de Meios, são aqueles estabelecidos no art. 35, § 2 a dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT). Art. 35 (...) § 2° - Até a entrada em vigor da lei complementar a que se refere o art. 165, § 9S, 1 e I I , serão obedecidas as seguintes normas: I - o projeto do plano plurianual, para vigência até o final do primeiro exercício financeiro do mandato presidencial subsequente, será enca- minhado até quatro meses antes do encerramento do primeiro exercí- cio financeiro e devolvido para sanção até o encerramento da sessão legislativa; I I - o projeto de lei de diretrizes orçamentáriasserá encaminhado até oito meses e meio antes do encerramento do exercício financeiro e devol- vido para sanção até o encerramento do primeiro período da sessão legislativa; I I I - o projeto de lei orçamentária da União será encaminhado até quatro meses antes do encerramento do exercício financeiro e devolvido para sanção até o encerramento da sessão legislativa. Os projetos referentes às leis orçamentárias, assim como as leis de créditos adicionais (especiais e suplementares), serão apreciados pelas duas casas do Con- gresso Nacional, na forma do Regimento Comum. y Proposta de Emendas à Lei Orçamentária Anual (LOA): somente poderão ser aprovadas emendas ao texto original caso sejam compatíveis com o Plano Plurianual (PPA) e a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), indiquem os C a p í t u l o 2 • Gestão financeira e orçamentária 103 recursos necessários, admitidos apenas os que derivem de anulação de des- pesas que não se refiram a despesas com pessoal, encargos da dívida e trans- ferências constitucionais (obrigatórias) e sejam relacionadas com a correção de erros e omissões ou com os dispositivos do texto do projeto de lei. U Proposta de Emendas à LDO: somente poderão ocorrer se compatíveis com o PPA. U Proposta de Emendas ao PPA: não será admitido o aumento de despesa pre- vista nos projetos de iniciativa exclusiva do presidente da República (LDO e LOA). Portanto, o PPA não poderá receber emendas que aumentem as despesas. 2.1.2.8 Discussão, votação e aprovação da proposta No Legislativo, o projeto é encaminhado à Comissão Mista de Planos, Orçamen- tos Públicos e Fiscalização, a que se refere o parágrafo I a do art. 166 da Consti- tuição, composta por 84 membros titulares, sendo 63 deputados e 21 senadores, com igual número de suplentes, de acordo com a Resolução n f l 01, de 1993-CN. A Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização tem por competência examinar e emitir parecer sobre: U planos e programas nacionais, regionais e setoriais previstos no art. 166, § I a , inciso I , da Constituição Federal; U contas prestadas pelos poderes da República nos termos do caput e do § 2 a do art. 56 da Lei Complementar n 2 101, de 2000 (LRF); U projetos de lei relativos ao plano plurianual, às diretrizes orçamentárias, ao orçamento anual e aos créditos adicionais (suplementar e especial); U créditos extraordinários (créditos adicionais) encaminhados ao Congresso Nacional por meio de medidas provisórias; kj avisos do Congresso Nacional que tratam de subtítulos relativos a obras e serviços com indícios de irregularidades graves informados pelo Tribunal de Contas da União; U relatórios pertinentes ao acompanhamento e à fiscalização da execução or- çamentária e financeira, nos termos dos arts. 70 a 72 e 166, § I a , inciso I I , da Constituição Federal; U relatórios de gestão fiscal previstos no art. 54 da Lei Complementar n 2 101, de 2000 e na Lei de Diretrizes Orçamentárias; 104 G e s t ã o públ ica • Edson Ronaldo Nascimento U relatórios referentes aos atos de limitação de empenho e movimentação f i - nanceira, nos termos do art. 9 a da Lei Complementar n a 101, de 2000; fcj informações prestadas pelo Poder Executivo ao Congresso Nacional, nos termos dos §§ 4 a e 5 a do art. 9 a da Lei Complementar n a 101, de 2000; e # demais atribuições constitucionais e legais. Anualmente, serão renovados, no mínimo, 50% dos membros titulares da Comissão, vedada a permanência de qualquer parlamentar por mais de dois anos consecutivos. O presidente da comissão designa o relator-geral. A este caberá submeter à comissão um parecer preliminar, em que são fixados parâmetros que orientarão a elaboração dos relatórios parciais e setoriais, inclusive quanto à formulação de emendas. Os relatórios setoriais, no âmbito das subcomissões, consolidarão os relatórios parciais, que tratarão de partes da proposta, correspondentes a um ou mais órgãos e unidades orçamentárias. Os relatórios parciais e setoriais são discutidos e votados no âmbito das sub- comissões. Ao relator-geral compete adequar os pareceres setoriais aprovados em cada subcomissão, vedada qualquer modificação, ressalvadas as alterações por ele propostas e aprovadas pelo plenário da comissão, bem como as decorren- tes de destaques aprovados pela comissão. O relatório geral é discutido e votado pelo plenário da comissão e, poste- riormente, submetido ao Plenário do Congresso Nacional. Aprovada a redação final, o projeto é, então, encaminhado à sanção do presidente da República. A devolução para sanção deve ocorrer até o encerramento da sessão legislativa. Por conseguinte, a sessão não poderia ser encerrada sem a aprovação e o encaminha- mento do projeto de lei orçamentária ao Executivo. 2.1.2.9 Sanção e veto Conforme disposição do artigo 66 da Constituição Federal, in verbis: Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará. § l e - Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte, inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto. C a p í t u l o 2 • Gestão financeira e orçamentária 105 § 2 2 - O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de pará- grafo, de inciso ou de alínea. § 3 a - Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente da Repú- blica importará sanção. § 4 a - O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias a contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores, em escrutínio secreto. § 5a - Se o veto não for mantido, será o projeto enviado, para promulgação, ao Presidente da República. § 6 a - Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido no § 4 a, o veto será colocado na ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas as demais proposições, até sua votação final. (Redação dada pela Emenda Cons- titucional n a 32, de 2001.) § 1° - Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo Presidente da República, nos casos dos § 3a e § 5a, o Presidente do Senado a promulgará, e, se este não o fizer em igual prazo, caberá ao Vice-Presidente do Senado fazê-lo. Portanto, o presidente da República terá 15 dias úteis, a contar da data do recebimento do projeto, para sancioná-lo. Poderá, também, vetá-lo, no todo ou em parte, comunicando o fato em 48 horas ao presidente do Senado Federal, expondo seus motivos. O silêncio importa sanção. Na ocorrência de veto, ele será apreciado em sessão conjunta, dentro de 30 dias de seu recebimento. Não havendo deliberação, o veto será colocado na ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas as demais proposições, até sua votação final, com exceção das medidas provisórias. Para que o veto seja rejeitado, isto é, para que se restabeleça o texto aprova- do, originalmente, pelo Plenário, é necessária maioria absoluta dos deputados e senadores, em escrutínio secreto. No caso de o presidente da República não promulgar a lei - nas hipóteses de silenciar até 48 horas, após sua aprovação ou derrubada de veto - , cabe ao presidente do Senado e, em igual prazo, ao seu vice-presidente fazê-lo. Se o veto não for mantido, o projeto será enviado, para promulgação, ao pre- sidente da República. Ressalte-se que a publicação da lei e, portanto, sua entrada em vigor, só se dará com a sanção pelo presidente da República ou a promulga- ção pelo presidente do Senado. Cumpre ressaltar que a Constituição Federal de 1988 não admite a rejeição do projeto da LDO, enquanto prevê a possibilidade de rejeição do projeto da 106G e s t ã o públ ica * Edson Ronaldo Nascimento LOA. Isso se depreende da leitura dos artigos 57, § 2 a e 168, § 82, apresentados a seguir: Art. 57. O Congresso Nacional reunir-se-á, anualmente, na Capital Federal, de 15 de fevereiro a 30 de junho e de l s de agosto a 15 de dezembro. (...) § 2 a - A sessão legislativa não será interrompida sem a aprovação do pro- jeto de lei de diretrizes orçamentárias. Art. 166. Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, às diretrizes orçamentárias, ao orçamento anual e aos créditos adicionais serão apreciados pelas duas Casas do Congresso Nacional, na forma do re- gimento comum. (...) § 8a - Os recursos que, em decorrência de veto, emenda ou rejeição do pro- jeto de lei orçamentária anual, ficarem sem despesas correspondentes poderão ser utilizados, conforme o caso, mediante créditos especiais ou suplementares, com prévia e específica autorização legislativa. A rejeição do projeto da LOA apresenta-se como possibilidade remota dentro do processo orçamentário. Isso porque, rejeitado o projeto original, não poderá ser aprovado outro projeto, já que não é possível elaborar orçamento para o mesmo exercício financeiro. Mas o que ocorreria no caso da rejeição da LOA? Nesse caso, as despesas que não poderão se efetivar (senão devidamente autori- zadas pelo Poder Legislativo) terão de ser autorizadas prévia e especificamente, caso a caso, mediante leis de abertura de créditos especiais. Para nortear o desenvolvimento da sua missão institucional, a Secretaria de Orçamento Federal (SOF) tem se baseado em um conjunto de premissas, com- preendendo: 1. orçamento visto como instrumento de viabilização do planejamento do governo; 2. ênfase na análise pela finalidade do gasto da administração, transformando o orçamento em instrumento efetivo de programação de modo a possibilitar a implementação da avaliação dos programas e ações; 3. aprimoramento das metodologias de cálculo das despesas obrigatórias, quais sejam, aquelas que constituem obrigações constitucionais e legais da União, nos termos do art. 9 a, § 2 a, da LRF; C a p í t u l o 2 • Gestão financeira e orçamentária 707 4. administração do processo por meio de cronograma gerencial e operacional com etapas claramente especificadas, produtos definidos e configurados, participação organizada e responsável dos agentes envolvidos e circulação de informações, garantindo o crescimento da confiança e da credibilidade nos diversos níveis da administração; 5. ciclo orçamentário desenvolvido como processo contínuo de análise e deci- são ao longo de todo o exercício; 6. integração da execução orçamentária com a elaboração, conferindo racio- nalidade e vitalidade ao processo, por meio da padronização e agilização na produção de informações gerenciais que subsidiem, simultaneamente, as decisões que ocorrem no desencadeamento dos dois processos; 7. incorporação das repercussões de decisões geradas em uma das instâncias, que afetam o desenvolvimento da outra; 8. criação de instrumentos de atualização das projeções de fechamento da exe- cução e da elaboração do orçamento para subsidiar a tomada de decisão no âmbito das metas fiscais a serem atingidas; e 9. elaboração do projeto, aprovação e execução da lei orçamentária realizadas de modo a evidenciar a transparência da gestão fiscal, observando o princí- pio da publicidade e permitindo o amplo acesso da sociedade às informações relativas a cada uma das etapas do processo. Outra questão importante a ser analisada em relação a elaboração das leis orçamentárias refere-se aos procedimentos que deverão ser seguidos no caso do atraso na votação, por exemplo, da LOA. Tal fato ocorreu na votação da LOA/2006 devolvida para sanção do presidente da República no dia 24/4/2006, após 130 dias de atraso. Como executar então as despesas públicas em nível federal, na ausência da lei orçamentária? Nesse caso, e execução da despesa terá como referencial o pro- jeto encaminhado ao Congresso Nacional e será realizada na proporção de 1/12 até a sanção da Lei, conforme disposição da LDO. M n i i A Constituição de 1988, no tocante ao planejamento na administração pública, teve a clara preocupação de institucionalizar a integração entre os processos de planejamento e orçamento, ao tornar compulsória a elaboração dos três instru- mentos básicos para esse f im. C a p í t u l o 2 • Gestão financeira e orçamentária 107 4. administração do processo por meio de cronograma gerencial e operacional com etapas claramente especificadas, produtos definidos e configurados, participação organizada e responsável dos agentes envolvidos e circulação de informações, garantindo o crescimento da confiança e da credibilidade nos diversos níveis da administração; 5. ciclo orçamentário desenvolvido como processo contínuo de análise e deci- são ao longo de todo o exercício; 6. integração da execução orçamentária com a elaboração, conferindo racio- nalidade e vitalidade ao processo, por meio da padronização e agilizacâo na produção de informações gerenciais que subsidiem, simultaneamente, as decisões que ocorrem no desencadeamento dos dois processos; 7. incorporação das repercussões de decisões geradas em uma das instâncias, que afetam o desenvolvimento da outra; 8. criação de instrumentos de atualização das projeções de fechamento da exe- cução e da elaboração do orçamento para subsidiar a tomada de decisão no âmbito das metas fiscais a serem atingidas; e 9. elaboração do projeto, aprovação e execução da lei orçamentária realizadas de modo a evidenciar a transparência da gestão fiscal, observando o princí- pio da publicidade e permitindo o amplo acesso da sociedade às informações relativas a cada uma das etapas do processo. Outra questão importante a ser analisada em relação a elaboração das leis orçamentárias refere-se aos procedimentos que deverão ser seguidos no caso do atraso na votação, por exemplo, da LOA. Tal fato ocorreu na votação da LOA/2006 devolvida para sanção do presidente da República no dia 24/4/2006, após 130 dias de atraso. Como executar então as despesas públicas em nível federal, na ausência da lei orçamentária? Nesse caso, e execução da despesa terá como referencial o pro- jeto encaminhado ao Congresso Nacional e será realizada na proporção de 1/12 até a sanção da Lei, conforme disposição da LDO. A Constituição de 1988, no tocante ao planejamento na administração pública, teve a clara preocupação de institucionalizar a integração entre os processos de planejamento e orçamento, ao tornar compulsória a elaboração dos três instru- mentos básicos para esse fim. 108 G e s t ã o públ ica • Edson Ronaldo Nascimento O primeiro deles, o Plano Plurianual (PPA), destinado às ações de médio prazo, equivalendo mas não coincidindo com a duração de um mandato do chefe do Executivo; o orçamento anual, para discriminar os gastos de um exercício financeiro; e a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), para servir de elo entre aqueles dois instrumentos. A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) - Lei Complementar n a 101 de 4/5/2000 - procura aperfeiçoar a sistemática traçada pela norma constitu- cional, atribuindo novas e importantes funções ao orçamento e à LDO e à LOA, principalmente. 2.2.1 Plano Plurianual (PPA) Previsto no art. 165, inciso I , da Constituição Federal, o PPA tem a função de estabelecer, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da admi- nistração para as despesas de capital e outras delas decorrentes, abrangendo um período de quatro anos. O Plano Plurianual é o instrumento de planejamento estratégico das ações do governo para um período de quatro anos. Comprometido com o desenvolvi- mento sustentável e com a evolução das estruturas de gerenciamento dos órgãos da administração pública, visa expressarcom clareza os resultados pretendidos pelo governante que o elabora. Por meio de seu acompanhamento e avaliação, torna-se possível a verifica- ção da efetividade (alcance dos resultados esperados) na execução de seus pro- gramas e a revisão dos objetivos e metas definidas no planejamento inicial que porventura se mostrem necessários. 2.2.2 Base legal Integrado às Leis de Diretrizes Orçamentárias (LDOs) e às Leis Orçamentárias Anuais (LOAs), primeiro pela Constituição Federal e mais recentemente pela Lei de Responsabilidade Fiscal, o PPA orienta as funções programáticas desses instrumentos e fortalece o conteúdo das outras peças orçamentárias. A Constituição Federal de 1988 prevê, em seu art. 165, que: Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: I - o plano plurianual; I I - as diretrizes orçamentárias; III os orçamentos anuais. 1 Edson Ronaldo Nascimento ações de médio mandato do chefe de um exercício serv ir de elo entre pnpkmentar n° 101 peia norma constitu- Deoto e à LDO e à PPA tem a função de os e metas da admi- • K S . abrangendo um estratégico das ações lo com o desenvolvi- :•. j. . dos órgãos sultados pretendidos C a p í t u l o 2 • Gestão financeira e orçamentária § l 2 - A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá, de forma regio- nalizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração pública federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada. 109 Já a Lei de Responsabilidade Fiscal cria vínculos específicos de integração do PPA com as LDOs e LOAs, conforme se verifica nos artigos 5fi e 16fi da LRF, transcritos a seguir. Art. (...) Art. (...) (...) II 52 O projeto de lei orçamentária anual, elaborado de forma compatível com o plano plurianual, com a lei de diretrizes orçamentárias e com as normas desta Lei Complementar: 16. A criação, expansão ou aperfeiçoamento de ação governamental que acarrete aumento da despesa será acompanhado de: declaração do ordenador da despesa de que o aumento tem adequação orçamentária e financeira com a lei orçamentária anual e compatibili- dade com o plano plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias. r possível a verifica- secucão de seus pro- lejamento inicial que Importante verificar ainda a existência de previsões a respeito de Plano Plu- rianual na Lei Orgânica dos municípios. Aos órgãos de planejamento compete a coordenação dos trabalhos de ela- boração do PPA, promovendo a ampla participação das áreas de interesse, res- ponsáveis pela elaboração das LDOs e LOAs, garantindo-se, dessa forma, a integração desejada. i Leis Orçamentárias is recentemente pela programáticas desses lentánas. ,que: rão: 2.2.3 Responsáveis pela aprovação do PPA e o prazo para sua aprovação A consolidação do planejamento e da gestão por programas repousa no desen- volvimento de competência gerencial de condução dos programas nos órgãos setoriais. A equipe de gestores do PPA tem a responsabilidade de garantir a reali- zação dos compromissos assumidos no plano, os objetivos dos programas, pelas posturas, comportamentos e processos administrativos decididamente orienta- dos para resultados. A gestão voltada para resultados pressupõe a adoção de um modelo de ge- renciamento em que a responsabilidade esteja claramente atribuída e os objetivos delineados de forma consistente. Além disso, o órgão gestor deverá desenvolver G e s t ã o públ ica * Edson Ronaldo Nascimento processos produtivos eficientes, promover a conscientização e o controle de custos e buscar sistematicamente a qualidade e efetividade dos resultados alcançados. 2.2.4 Conteúdo mínimo de um PPA Uma vez entendido o que é e para que serve o PPA, pode-se discutir sua elabora- ção. A metodologia aqui apresentada procurará trabalhar conceituação e prática de forma conjunta. O PPA compõe-se basicamente de dois grandes módulos. São eles: U a base estratégica; e y os programas. A base estratégica compreende: y a análise da situação económica e social do ente público; U as diretrizes do PPA; y a análise setorial prospectiva das ações de governo; U a avaliação regional do ente público. Os programas compreendem: y a definição dos problemas que se tem por objetivo solucionar; y o conjunto de ações que deverão ser empreendidas para atingir os objetivos estabelecidos. 2.2.5 Tipos de atividades que podem ser inseridas ou não em um PPA Os programas do PPA podem ser classificados em quatro tipos, a saber:2 y Programas Finalísticos - classificam-se neste tipo os programas cujos ob- jetivos visam solucionar problemas ou atender a demandas da sociedade. Quando suas ações são desenvolvidas por mais de um órgão setorial são chamados Programas Finalísticos Multissetoriais. y Programas de Serviços ao Estado - são os programas destinados a atender a demandas do próprio governo. Suas ações são executadas por órgãos que têm por finalidade o atendimento à administração pública. Para o PPA 2008/201 I o governo federal adotou uma classificação de programas com apenas duas tipologias: programas finalísticos e programas de apoio às políticas públicas e áreas especiais. C a p í t u l o 2 • Gestão financeira e orçamentária 111 y Programas de Gestão de Políticas Públicas - este tipo de programa congrega ações que têm por finalidade o planejamento e a formulação de políticas setoriais, a coordenação e o controle dos programas que se encontram sob a responsabilidade de determinado órgão. y Programas de Apoio Administrativo - conjunto de atividades padronizadas que visam atender ao financiamento dos insumos que não são passíveis de apropriação direta pelos demais tipos de programa. Portanto, o Plano Plurianual conterá, sob a forma de programas: 4 as ações que resultem em bens e serviços ofertados diretamente à sociedade; y as ações de gestão de governo relacionadas à formulação, coordenação, su- pervisão, avaliação e divulgação de políticas públicas; y as ações que resultam em bens e serviços ofertados diretamente ao Estado, por instituições públicas criadas para esse fim específico; e y as despesas de natureza tipicamente administrativa que, embora colabo- rem para a consecução dos objetivos dos programas finalísticos e de ges- tão de políticas públicas, não são passíveis, no momento, de apropriação a esses programas. As Operações Especiais, assim denominadas as despesas relativas a dívidas interna e externa, transferências, ressarcimentos, indenizações e outras afins, que representam agregações neutras, não integrarão o PPA. Todas as ações deverão observar as seguintes estratégicas (exemplo PPA 2000-2003): 1. consolidar a estabilidade económica com crescimento sustentado; 2. promover o desenvolvimento sustentável voltado para a geração de empregos e oportunidades de renda; 3. combater a pobreza e promover a cidadania e a inclusão social; 4. consolidar a democracia e a defesa dos direitos humanos; 5. reduzir as desigualdades inter-regionais; e 6. promover os direitos de minorias vítimas de preconceitos e discriminação. 2.2.6 Prazos para o envio do projeto do PPA A Constituição Federal procurou impingir a concepção moderna em que o orça- mento é visto como integrante de forma sistémica do planejamento. 112 G e s t ã o públ ica • Edson Ronaldo Nascimento O PPA, conforme asseverado, é a lei de maior alcance no estabelecimento das prioridades e no direcionamento das ações do governo, para um período de quatro anos. Cabe destacar que o Plano Plurianual é o instrumento que explicita a visão do governo quanto ao desenvolvimento do País. Nesse sentido, traduz, de um lado, o compromisso entre as estratégias e o projeto de futuro e, deoutro, a alo- cação real e concreta dos recursos orçamentários nas funções, nas áreas e nos órgãos públicos. Esse instrumento tem por finalidade intermediar as ações de longo prazo e as necessidades imediatas. O PPA representa a mais abrangente peça de planejamento governamen- tal, uma vez que promove a convergência do conjunto das ações públicas e dos meios orçamentários para a viabilização dos gastos públicos; é superior ao antigo Orçamento Plurianual de Investimentos (OPI), pois contém diretrizes, objetivos e metas. Conforme dispõe o § 2-, do artigo 35, do Ato das Disposições Constitucio- nais Transitórias, o PPA tem como prazo de encaminhamento pelo Poder Exe- cutivo ao Congresso Nacional o dia 31 de agosto do primeiro ano de governo, devendo o Congresso aprová-lo até o término da sessão legislativa daquele ano (meados de dezembro). Sua vigência irá até o dia 31 de dezembro do primeiro ano do governo subsequente. 2.2.7 A LDO como elo entre o PPA e a LOA De acordo com a doutrina, a LDO deverá estabelecer os parâmetros necessá- rios à alocação dos recursos no orçamento anual, de forma a garantir a realização das metas e objetivos contemplados no PPA. Trata-se, portanto, de instrumento que funciona como elo entre o PPA e os orçamentos anuais, compatibilizando as diretrizes do plano à estimativa das disponibilidades financeiras para determi- nado exercício. Conforme o artigo 35, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), da Constituição Federal de 1988, o projeto de lei de diretrizes orçamen- tárias será encaminhado até oito meses e meio antes do encerramento do exercí- cio financeiro (até meados de abril) e devolvido para sanção até o encerramento do primeiro período da sessão legislativa (final de junho). Esses prazos dizem respeito à União, prevalecendo para Estados, Distrito Federal e municípios o que estiver disposto nas suas respectivas constituições e leis orgânicas. Além disso, a LDO fornece as seguintes informações: a) estabelece regras gerais substantivas; C a p í t u l o 2 • Gestão financeira e orçamentária 113 b) traça as metas anuais; e c) indica os rumos a serem seguidos e priorizados no decorrer do exercício financeiro, não se detendo em situações específicas ou individuais, próprias do orçamento. O papel da LDO consiste em ajustar as ações de governo, previstas no PPA, às reais possibilidades de caixa. A Lei de Diretrizes Orçamentárias tem também o mérito de submeter à soberania popular a definição das prioridades para a apli- cação dos recursos públicos. A despeito de ser a própria LDO uma inovação constitucional em matéria orçamentária, dois aspectos desse instrumento reforçam o elenco de inovações à legislação federal anterior, que são: a) disposições sobre alterações na legislação tributária; b) estabelecimento de políticas de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento (BB, CEF, BNDES, Basa, BNB). O que se constata, com a instituição da LDO, é que a Carta Constitucional de 1988 devolveu à soberania popular (por meio de seus representantes legíti- mos) a prerrogativa de participar da definição das prioridades para aplicação dos recursos públicos. Anteriormente à vigência da atual Constituição, as prio- ridades do setor público eram definidas unilateralmente pelo Poder Executivo, sem trânsito pelo Parlamento, não podendo, portanto, negar-se o fato de que a transformação das diretrizes orçamentárias em lei representa um grande avanço do modelo orçamentário brasileiro. A título de exemplo, identificamos a Lei de Diretrizes Orçamentárias para o exercício de 2001, Lei n f i 9.995, de 25 de julho de 2000. A citada legisla- ção estabelecia que, em consonância com o Plano Plurianual para o período de 2000 a 2003, seriam estratégias básicas da administração pública federal para aquele exercício: 1. consolidar a estabilidade económica com crescimento sustentado; 2. promover o desenvolvimento sustentável voltado para a geração de empregos e oportunidades de renda; 3. combater a pobreza e promover a cidadania e a inclusão social; 4. consolidar a democracia e a defesa dos direitos humanos; 5. reduzir as desigualdades inter-regionais; e 6. promover os direitos de minorias vítimas de preconceitos e discriminação. 112 G e s t ã o públ ica • Edson Ronaldo Nascimento O PPA, conforme asseverado, é a lei de maior alcance no estabelecimento das prioridades e no direcionamento das ações do governo, para um período de quatro anos. Cabe destacar que o Plano Plurianual é o instrumento que explicita a visão do governo quanto ao desenvolvimento do País. Nesse sentido, traduz, de um lado, o compromisso entre as estratégias e o projeto de futuro e, de outro, a alo- cação real e concreta dos recursos orçamentários nas funções, nas áreas e nos órgãos públicos. Esse instrumento tem por finalidade intermediar as ações de longo prazo e as necessidades imediatas. O PPA representa a mais abrangente peça de planejamento governamen- tal, uma vez que promove a convergência do conjunto das ações públicas e dos meios orçamentários para a viabilização dos gastos públicos; é superior ao antigo Orçamento Plurianual de Investimentos (OPI), pois contém diretrizes, objetivos e metas. Conforme dispõe o § 2 2, do artigo 35, do Ato das Disposições Constitucio- nais Transitórias, o PPA tem como prazo de encaminhamento pelo Poder Exe- cutivo ao Congresso Nacional o dia 31 de agosto do primeiro ano de governo, devendo o Congresso aprová-lo até o término da sessão legislativa daquele ano (meados de dezembro). Sua vigência irá até o dia 31 de dezembro do primeiro ano do governo subsequente. 2.2.7 A LDO como elo entre o PPA e a LOA De acordo com a doutrina, a LDO deverá estabelecer os parâmetros necessá- rios à alocação dos recursos no orçamento anual, de forma a garantir a realização das metas e objetivos contemplados no PPA. Trata-se, portanto, de instrumento que funciona como elo entre o PPA e os orçamentos anuais, compatibilizando as diretrizes do plano à estimativa das disponibilidades financeiras para determi- nado exercício. Conforme o artigo 35, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), da Constituição Federal de 1988, o projeto de lei de diretrizes orçamen- tárias será encaminhado até oito meses e meio antes do encerramento do exercí- cio financeiro (até meados de abril) e devolvido para sanção até o encerramento do primeiro período da sessão legislativa (final de junho). Esses prazos dizem respeito à União, prevalecendo para Estados, Distrito Federal e municípios o que estiver disposto nas suas respectivas constituições e leis orgânicas. Além disso, a LDO fornece as seguintes informações: a) estabelece regras gerais substantivas; C a p í t u l o 2 • Gestão financeira e orçamentária 113 b) traça as metas anuais; e c) indica os rumos a serem seguidos e priorizados no decorrer do exercício financeiro, não se detendo em situações específicas ou individuais, próprias do orçamento. O papel da LDO consiste em ajustar as ações de governo, previstas no PPA, às reais possibilidades de caixa. A Lei de Diretrizes Orçamentárias tem também o mérito de submeter à soberania popular a definição das prioridades para a apli- cação dos recursos públicos. A despeito de ser a própria LDO uma inovação constitucional em matéria orçamentária, dois aspectos desse instrumento reforçam o elenco de inovações à legislação federal anterior, que são: a) disposições sobre alterações na legislação tributária; b) estabelecimento de políticas de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento (BB, CEF, BNDES, Basa, BNB). O que se constata, com a instituição da LDO, é que a Carta Constitucional de 1988 devolveu à soberania popular (por meio de seus representantes legíti- mos) a prerrogativa de participarda definição das prioridades para aplicação dos recursos públicos. Anteriormente à vigência da atual Constituição, as prio- ridades do setor público eram definidas unilateralmente pelo Poder Executivo, sem trânsito pelo Parlamento, não podendo, portanto, negar-se o fato de que a transformação das diretrizes orçamentárias em lei representa um grande avanço do modelo orçamentário brasileiro. A título de exemplo, identificamos a Lei de Diretrizes Orçamentárias para o exercício de 2001, Lei n f l 9.995, de 25 de julho de 2000. A citada legisla- ção estabelecia que, em consonância com o Plano Plurianual para o período de 2000 a 2003, seriam estratégias básicas da administração pública federal para aquele exercício: 1. consolidar a estabilidade económica com crescimento sustentado; 2. promover o desenvolvimento sustentável voltado para a geração de empregos e oportunidades de renda; 3. combater a pobreza e promover a cidadania e a inclusão social; 4. consolidar a democracia e a defesa dos direitos humanos; 5. reduzir as desigualdades inter-regionais; e 6. promover os direitos de minorias vítimas de preconceitos e discriminação. 114 G e s t ã o públ ica • Edson Ronaldo Nascimento Essas prioridades e metas teriam precedência na alocação de recursos nos orçamentos para o exercício de 2001. Cumpre por fim ressaltar que a Lei de Responsabilidade Fiscal trouxe novas regras para a elaboração e execução da LDO. Essas alterações serão analisadas no Capítulo 3. 2 . j | Lei Orçamentária Anual (LOA) A Lei Orçamentária Anual (LOA), popularmente conhecida por Orçamento da União, é o mais importante instrumento de gerenciamento orçamentário e finan- ceiro da Administração Pública Federal, cuja principal finalidade é gerenciar o equilíbrio entre receitas e despesas públicas. Dentre as diversas funções que desempenha o Orçamento da União, destaca-se, nos termos do § 7-, art. 165, a de reduzir as desigualdades inter-regionais segundo o critério populacional. Considerado o instrumento que funciona como um conjunto de freios e con- trapesos entre os três Poderes constituídos, o Orçamento da União tornou-se a mais importante e cobiçada peça política em poder dos governantes. Embora seja a modalidade orçamento-programa relativamente nova na experiência brasileira em orçamentação (modalidade instituída pela Lei n 2 4.320/64 e implementada pelo Decreto-Lei n 2 200/67), o tema orçamento pú- blico data de tempos bastante remotos. A propósito, citamos a milenar lei de Marcus Tullius Cícero: O Orçamento Nacional deve ser equilibrado. Os pagamentos a governos estrangeiros devem ser reduzidos, se a nação não quiser ir à falência. As dívidas públicas devem ser reduzidas. A arrogância das autoridades deve ser moderada e controlada. As pessoas devem novamente aprender a trabalhar em vez de viver por conta pública. (Roma, ano 55 a.C.) Na Constituição Federal, art. 165, § 52, o tema "orçamento" fica claramente evidenciado, integrando o Orçamento Fiscal, o Orçamento da Seguridade Social e o Orçamento de Investimentos das Empresas Estatais. A integração desses três orçamentos impõe a necessidade de apropriação de todas as despesas do setor público federal em um único Orçamento Geral da União, atendendo, com isso, aos requisitos do princípio da universalidade e da unidade orçamentária. C a p í t u l o 2 • Gestão financeira e orçamentária 115 Ainda sob o aspecto constitucional e diferentemente dos procedimentos an- teriores a 1988 no atual sistema orçamentário, as entidades que não recebem subvenções ou transferências à conta do Orçamento da União (autarquias, funda- ções, empresas públicas e sociedades de economia mista, por meio do Orçamen- to de Investimento das empresas estatais) também integram a lei orçamentária. Pelo sistema anterior, os orçamentos das entidades da administração indireta eram aprovados diretamente pelo Poder Executivo. Por f im, merecem destaque os arts. n - 166 e 167 do Estatuto da Nação, em cujo texto fica clara a subordinação do orçamento anual à peça maior, o Pla- no Plurianual: Art. 166. § 3a As emendas ao projeto de lei do orçamento anual ou aos projetos que o modifiquem somente podem ser aprovados caso: I - sejam compatíveis com o plano plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias; Art. 167. Nenhum investimento cuja execução ultrapasse o exercício finan- ceiro poderá ser iniciado sem prévia inclusão no plano plurianual. É incontestável, conclui-se, a explícita vinculação dos orçamentos ao Plano Reitor, o que propicia a revisão dos conceitos tradicionais em que o orçamento não se vinculava a um plano democrático, aberto à participação popular. Conforme o artigo 35 do ADCT, o projeto de lei orçamentária da União será encaminhado ao Poder Legislativo até quatro meses antes do encerramento do exercício financeiro (final de agosto) e devolvido para a sanção até o encer- ramento da sessão legislativa (até meados de dezembro). Esses prazos, em geral, também são observados pelos Estados e municípios. De acordo com o artigo 5 e da Lei de Responsabilidade Fiscal, a LOA con- terá, dentre outros itens: a) o demonstrativo de que a LOA está compatível e adequada ao Anexo de Metas Fiscais, conforme previsto na LDO; b) o demonstrativo de efeitos sobre as receitas e as despesas decorrentes da renúncia de receitas (anistias, isenções, subsídios etc). Nesse caso, a LOA, sendo orientada pela LDO, deve manter os objetivos definidos nesta. É o que se observa, ainda, na reserva de contingência, que G e s t ã o públ ica * Edson Ronaldo Nascimento a LDO deverá prever para o atendimento às despesas previstas no Anexo de Riscos Fiscais. A dívida pública terá um tratamento especial na LOA, de acordo com o artigo 5 2 da LRF. O serviço da dívida (encargos mais amortizações), previsto contratualmente, e as receitas para esse f im, devem estar destacadas na Lei. No Capítulo 3 serão abordados outros aspectos relativos à Lei Orçamentária Anual (LOA). Finalizando essa parte, a Tabela 2.2, na página a seguir, apresenta uma sín- tese das principais característticas das leis orçamentárias juntamente com as al- terações propostas pela LRF a partir do exercício financeiro de 2000. Hi Receita pública A receita pública é um conjunto de ingressos financeiros com fontes e fatores geradores próprios e permanentes, oriundos de ação e de atributos inerentes à instituição (União, Estados e municípios), e que, integrando o patrimônio e m qualidade de elemento novo, produz-lhe acréscimos, sem contudo gerar obriga ções, reservas ou reivindicações de terceiros, destinando-se a atender à manuter ção e conservação dos serviços públicos. Na administração pública, a receita origina-se do seu poder de impei e do poder de gerência dos órgãos públicos sobre o patrimônio econômic administrativo. Além disso, a receita pública pode ser decorrente de transfer cias de outras entidades, sendo essas públicas ou privadas. O tributo é um dos itens da receita pública e refere-se à prestação pecuniária compulsória, em moeda corrente ou cujo valor nela se possa exprimir, "que não constitui sanção de ato ilícito", instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. A arrecadação tributária constitui a principal fonte de recursos utilizados no financiamento dos programas governamentais. Ressalte-se que muitos Esta- dos e municípios brasileiros sobrevivem a partir de transferências do governo Federal, do Fundo de Participação Estadual (FPE) e do Fundo de Participação Municipal (FPM). Esses fundos serão analisados detalhadamente quando forem estudadas as receitas de transferências. As receitas públicas compreendem o ingresso de recursos que se integram ao patrimônio público sem quaisquer reservas, condições ou correspondências no passivo,
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