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Dispepsia: Causas e Diagnóstico

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 Dr. Joachim Graf
Objetivos
1. Entender o que é dispepsia
2. Diferenciar dispepsia ulcerosa de não ulcerosa
3. Conhecer a classificação de dispepsia
4. Conhecer as causas de dispepsia
5. Elaborar diagnosticos diferenciais
O que é dispepsia?
Dispepsia é palavra híbrida, do grego dys (má) 
e latim pepsis (digestão). 
Conceitualmente significa dor ou desconforto 
no epigástrio, continua ou recorrente, na 
ausência de doenças orgânicas ou alterações 
bioquímicas que expliquem os sintomas.
Os critérios de Roma III para dispepsia 
funcional ou dispepsia não–ulcerosa incluem a 
presença de um ou mais das seguintes queixas: 
plenitude pós-prandial, saciedade precoce, dor 
epigástrica ou epigastralgia em queimação, 
por pelo menos 3 meses nos últimos seis 
meses, não existindo evidencia de alteração 
estrutural, incluindo endoscopia digestiva alta, 
para justificar tais sintomas
A anamnese deve indagar a presença de 
sintomas como eructação, náusea, vômitos, 
anorexia, dor torácica não cardiogênica ou dor, 
distensão ou plenitude abdominais, saciedade 
precoce, intolerância a gorduras para 
caracterizar a síndrome dispéptica 
Como diferenciar entre dispepsia ulcerosa de 
não ulcerosa?
Geralmente a investigação inicial é realizada 
através de endoscopia digestiva alta (EDA). De 
modo geral tais pacientes quando 
apresentarem EDA normal são rotulados como 
portadores de dispepsia funcional ou não 
ulcerosa (DNU) e tipicamente não apresentam 
pirose. Pacientes com pirose e endoscopia 
normal são portadores de refluxo 
endoscópicamente negativo e constitui grupo 
diverso da DNU.
Como se classificam as dispepsias?
Podem ser funcionais ou orgânicas. As 
dispepsias funcionais tem um importante 
componente de dismotilidade, responsável 
pela sensação de empachamento ou plenitude 
pós-prandial, saciedade precoce, náuseas e 
vômitos. Nas dispepsias ulcerosas a 
sintomatologia é centrada na dor em 
queimação no epigástrio, com ritmicidade 
durante o dia e periodicidade ao longo das 
semanas ou meses.
Qual é a frequencia da dispepsia?
É condição bastante freqüente, responsável 
por 2 a 3% das consultas com clinico geral e 
20 a 40% com gastroentrologistas. Nesta 
especialidade, quando se analisam estatísticas 
relativas a queixas do trato gastrointestinal 
superior, 16% dos pacientes apresentam 
doença péptico-ulcerosa, e o restante se divide 
entre proporções iguais de dispepsias não 
ulcerosa ou doença do refluxo gastroesofágico
Como se manifestam clinicamente as 
dispepsias?
Os complexos sintomáticos tem habitualmente 
sido divididos em sintomas do tipo úlcera, tipo 
dismotilidade e tipo refluxo.
Nas dispepsias ulcerosas o sintoma principal é 
dor epigástrica, que pode acordar o paciente a 
noite, piora com estômago vazio, melhora com 
as refeições e apresenta ritmicidade e 
periodicidade. Estes pacientes também podem 
apresentar queimação epigástrica
Nas dispepsias funcionais predominam 
manifestações de dismotilidade, como 
empachamento ou sensação de plenitude pós-
prandial, distensão epigástrica, saciedade 
precoce, e náuseas e as vezes vômitos.
As dispepsias do tipo refluxo se associam a 
queixas de regurgitação, azia, pirose ou 
queimação retroesternal, e sialorréia. Quando 
estes sintomas são claramente predominantes 
ou mesmo exclusivos, o diagnóstico clinico é 
de doença do refluxo gastro-esofágico, 
confirmada a EDA pela presença de esofagite 
de refluxo. Quando, entretanto, a EDA é 
normal, o quadro é referido como de dispepsia 
do tipo refluxo.
Quais as causas da dispepsia ulcerosa?
A dispepsia ulcerosa tem como causa mais 
destacada a infecção pelo Helicobacter pylori, 
seguido das úlceras causadas pelos anti-
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DISPEPSIA
inflamatórios não esteróides (AINES). A 
doença causada pelo H pylori é determinada 
por fatores ambientais; quando o H pylori é 
adquirido logo após o nascimento, 
especialmente em condições de má-nutrição, a 
infecção tenderá a ser disseminada em todo e 
estômago predispondo o indivíduo a ulceração 
gástrica. Se a infecção ocorrer mais 
tardiamente, quando a secreção ácida já for 
maior, o H pylori vai residir preferencialmente 
no antro gástrico onde se produz menos ácido. 
Tais indivíduos encontram-se em risco de 
desenvolver úlcera duodenal.
Já os AINES agridem a mucosa gástrica 
porque interferem nos mecanismos de defesa 
local primariamente através da inibição da 
produção de prostaglandinas gástricas e 
duodenais. e dessa forma comprometem a 
produção de muco gástrico protetor, reduzem 
o fluxo sanguíneo através da mucosa, 
comprometendo a proliferação celular e os 
mecanismos celulares de transporte de ions.
E das dispepsias não-ulcerosas?
Os fatores etiológicos das DNU não estão 
esclarecidos. Estão envolvidos na 
fisiopatologia alterações da motilidade 
gastrointestinal, sensibilidade visceral 
exacerbada, fatores psicossociais, e certas 
intolerância alimentares. Num subgrupo de de 
pacientes os sintomas de dispepsia 
desenvolvem após uma infecção 
gastrointestinal aguda.
As alterações na motilidade gastrointestinal 
observadas nestes pacientes são retardo no 
esvaziamento gástrico, relaxamento 
inadequado do fundo gástrico, hipomotilidade 
do antro gástrico com retenção de alimentos e 
distensão deste compartimento, e 
dismotilidade intestinal. O esvaziamento 
gástrico mais lento parece estar associado ao 
sexo feminino.
A sensibilidade visceral aumentada, 
relacionada a alterações no processamento 
cerebral das informações sensoriais 
provenientes do tubo digestivo alto, tem sido 
cada vez mais reconhecida. Paciente com DNU 
apresentam, limiar mais baixo para percepção 
da sensações de dor e distensão.
Os distúrbios psicossociais são reconhecidos 
como importantes componentes das DNU. 
Tais paciente tendem a ser mais 
frequentemente ansiosos ou deprimidos. 
Questiona-se se estes indivíduos teriam maior 
percepção das sensações viscerais 
normalmente ignoradas, traduzindo-as com 
odor ou desconforto.
A intolerância a certos alimentos é frequente 
entre pacientes com DNU, que relatam 
exacerbações de seus sintomas com alimentos 
gordurosos, cebola, pimentão, cítricos, café, 
maioneses, chocolates e castanhas, entre 
outros. Esta intolerância pode estar 
relacionada a alteração na acomodação dos 
alimentos no estômago, em virtude da 
dismotilidade gástrica presente nestes 
indivíduos.
Quais os principais diagnósticos 
diferenciais das dispepsias?
Pacientes com doença coronariana isquêmica 
como angina pectoris freqüentemente 
relacionam seus sintomas a problemas de 
digestão, podendo desencadear uma crise 
anginosa após uma refeição. A própria angina 
abdominal é desencadeada pela alimentação.
Sintomas dispépticos são mais freqüentes 
entre pacientes com esclerodermia, luopus 
eritematoso, e entre pacientes que tomam 
digitálicos, corticoesteróides ou complementos 
de potássio.
Doenças da árvore biliar como litíase biliar e 
dismotilidade como disfunção do esfíncter de 
Oddi tem sido conectadas provavelmente de 
forma inadequada com dispepsias. A presença 
de pirose, dor abdominal vaga, intolerância a 
alimentos gordurosos e flatulência é descrito 
na mesma freqüência entre paciente com ou 
sem cálculos biliares. A cólica biliar, 
entretanto, é manifestação bem 
individualizada de litíase biliar, e consiste de 
intensa crise dolorosa episódica, durando 
algumas horas, e desencadeada 
freqüentemente pela ingestão de alimentos 
gordurosos.
Doença do refluxo gastro-esofagico deve ser 
considerada sempre que o paciente apresentar 
pirose retroesternal, regurgitação, piora dos 
sintomas no decúbito ou quando se inclina 
para frente, piora com ingestão de 
determinados alimentos como chocolate, 
hortelã, frituras e produtos cafeinados,ou 
mesmo na presença de sintomas considerados 
atípicos como tosse seca crônica, rouquidão.
A dispepsia por vezes é a primeira 
manifestação de neoplasia subjacente, 
possivelmente câncer gástrico. Tais paciente 
tendem a ser mais idosos, dispepsia de inicio 
mais recente, apresentando dor que aumenta 
com a alimentação, anorexia e perda de peso.
A dispepsia que se associa predominantemente 
com retardo no esvaziamento gástrico, vômitos 
alimentares tardios de produtos 
incompletamente digeridos, sugere 
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gastroparesia, causada por distúrbios 
metabólicos, como diabetes mellitus, disfunção 
tireoidena, hiperparatireoidsimo
Finalmente cabe suspeitar de causas 
medicamentosas quando se avalia dispepsias. 
Um cuidadoso inventário farmacológico deve 
incluir todas as medicações consumidas pelo 
paciente, mesmo as não prescritas por medico. 
Relacionam-se particularmente com 
dispepsias os AINES,os medicamentos 
fosfonados para tratamento da osteoporose e 
certos antibióticos.
Bibliografia
1. Moayyedi P. Dyspesia: ulcer and nonulcer 
In: Weinstein W.M.; Hawkey C.J.; Bosch J. 
Clinical Gastroenteroly and Hepatology 1aEd 
2005
2. Mesquita M.A., Magalhães, A.F.N. Dispepsia 
In: Galvão-Alves J. ; Dani R Terapêutica em 
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3. Chehter L. Dispepsia Funcional In: Forones 
N.M., Miszputen S.J. Manual de 
Gastroenterolgia, Disciplina de 
Gastroenterologia da Escola Paulista de 
Medicina/UNIFESP, 2000.
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