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A dispepsia é definida como um distúrbio da digestão caracterizado por um conjunto de sintomas relacionados ao trato gastrointestinal superior, como dor, queimação ou desconforto na região superior do abdome, que podem estar associados a saciedade precoce, empachamento pós-prandial, náuseas, vômitos, timpanismo, sensação de distensão abdominal, cujo aparecimento ou piora pode ou não estar relacionado à alimentação ou ao estresse Comitê ROMA IV – sintomas originados na região gastroduodenal na ausência de doença orgânica, sistêmica ou metabólica O aparecimento da dispepsia ou sintomas dispépticos pode estar associado a vários distúrbios do trato do trato gastrointestinal superior, como doença ulcerosa péptica, doença do refluxo gastrointestinal, gastrites, neoplasias do trato gastrointestinal superior, doença do trato biliar e dispepsia funcional DISPEPSIA ORGÂNICA A causa foi diagnosticada como doença orgânica como ulcera péptica crônica, refluxo gastresofágico, carcinoma, doença pancreática ou biliar, intolerância a um alimento ou efeito colateral de um medicamento DISPEPSIA FUNCIONAL É uma desordem heterógena caracterizada por períodos de abrandamentos e exarcebações, e seu diagnostico é em geral empregada quando, em uma avaliação completa em um paciente que apresenta dispepsia, não se consegue identificar a causa para os seus sintomas. O mecanismo fisiopatológico ainda é controverso e o tratamento ainda não totalmente estabelecido EPIDEMIOLOGIA • Acomete 15% a 40% dos individuos adultos da população ocidentais • Constitui 3 a 5% das consultas ambulatoriais de clinica geral, em um centro de atenção primaria • Representa uma das principais causas de consultas ao gastroenterologista (20-40%), incidência anual de 8% • A intensidade da dor e/ou do desconforto e a ansiedade se constituem nos principais motivos de procura ao especialista (22%) • Os sintomas dispépticos podem surgir em qualquer idade e são mais prevalentes no sexo feminino • Problema socioeconômico – alta prevalência, caráter crônico e ausência de tratamento satisfatório • Pode afetar de forma significativa a qualidade de vida CLASSIFICAÇÃO • Dispepsia não investigada X dispepsia funcional: • Importância para dados epidemiológicos • Distinguir sintomas dispépticos que não tenha sido investigado (principalmente EDA) • Após essa investigação dispepsia investigada com ou sem identificação de doença especifica (causa orgânica), condição associada (AINE) = dispepsia funcional FISIOPATOLOGIA − FISIOLÓGICO − GENÉTICO − AMBIENTAL − PSICOLÓGICO MOTILIDADE • 30 a 80% dos pacientes apresentam alterações como: • Retardo no esvaziamento gástrico • Contração fúndica e antral anormais • Disritmias gástricas • Má distribuição pós-prandial do conteúdo intragástrico • Procinéticos não apresentam benefício em todos os casos HIPERSENSIBILIDADE VISCERAL • Papel importante na dispepsia funcional • Refere-se a um limite baixo para indução da dor EXPOSIÇÃO AO ÁCIDO • Uso de inibidores de bomba de prótons (IBP) devido ao ácido estar envolvido no mecanismo de producao de dor • Estudos evidenciam secrecao ácida normal- sensibilidade elevada ao ácido mesmo em niveis normais H. PILORY • O papel do H. pylori na DF ainda não está esclarecido • O processo inflamatório provocado pelo H. pylori pode causar dismotilidade, desencadear uma hipersensibilidade visceral, alteração na secreção ácida – porém não há estudos consistentes estabelecendo a relação PÓS – INFECÇÃO • Associada entre infecção intestinal e dispepsia funcional • Aumento da prevalência de DF após infecção por G. lamblia e Salmonela, S. stercoralis INTOLERÂNCIA ALIMENTAR • Alguns alimentos são referidos com frequência como causa de sintomas dispépticos • É provável que a intolerância a esses alimentos seja por hipersensibilidade MECANISMO PSICOEMOCIONAIS • Prevalência de fatores psicológicos e distúrbios funcionais, mas nenhuma personalidade especifica tem sido relacionada • Associação com agregação familiar, disfunção do sono, somatização, ansiedade, depressão, hipocondria ou neuroticismo geral ENVOLVIMENTO DO SISTEMA IMUNE E ALTERAÇÕES HORMONAIS • Alterações da celularidade na lâmina própria e submucosa, (eosinofilia duodenal e o aumento dos linfócitos ativados) • Fenômenos de ativação imunológica e microinflamação • Alterações hormonais como: motilina, colecistocinina (CCK), gastrina, entre outros. • Fatores geneticos talvez promovam uma percepção visceral da dor alterada CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS • Queixas dispépticas durante os últimos 3 meses e que se iniciaram, no mínimo, 6 meses antes • É fundamental a presença de um ou mais dos sintomas: o Empachamento pós-prandial o Saciedade precoce o Dor epigástrica o Queimação epigástrica • É fundamental a ausência de lesões estruturais (incluindo a realização de endoscopia digestiva alta que possam justificar os sintomas • Para uma melhor orientação propedêutica e terapêutica, os pacientes devem ser classificados de acordo com o sintoma principal em duas síndromes o SÍNDROME DO DESCONFORTO PÓS-PRANDIAL − Sintomas são desencadeados pelas refeições − Fundamental a presença de pelo menos um dos critérios abaixo (ocorrendo varias vezes por semana nos últimos 3 meses) Empachamento pós-prandial: necessariamente após refeições habituais Saciedade precoce: impossibilita o termino normal das refeições − Sintomas que reforçam o diagnóstico: distensão do abdome superior, náusea pós-prandial ou eructação − Síndrome da dor epigástrica pode coexistir o SÍNDROME DA DOR EPIGÁSTRICA − Sintomas de dor ou queimação epigástrica − É fundamental a presença de todos os critérios abaixo Dor ou queimação localizada no epigástrico (moderada) – no mínimo, uma vez por semana, nos últimos 3 meses Dor intermitente Dor não generalizada ou localizada em outras regiões do abdome ou tórax Dor não aliviada pela defecação ou eliminação de flatos − As características da dor não preenchem critérios para o diagnóstico dos distúrbios funcionais da vesícula biliar ou esfíncter de Oddi − Sintomas que reforçam o diagnostico A dor pode ter características de queimação, mas sem radiação retroesternal A dor é comumente induzida ou aliviada pela ingestão de alimentos, podendo ocorrer em jejum − Síndrome do desconforto pós-prandial pode coexistir A dor epigástrica é o sintoma característico A expressão desconforto (incômodo, angustia) é importante para enfatizar muitos pacientes que não se queixaram de dor, mas afirmam que tem queimação, pressão ou enchimento na área epigástrica ou que não podem terminar DIAGNOSTICO DIFERENCIAL Dispepsia funcional X DRGE • QUEIMOR - típico da DGRE: pode estar presente na dispepsia funcional • PIROSE – sensação de queimação retroesternal que se irradia do esterno à base do pescoço, podendo atingir a garganta • QUEIMOR NA DF – sensação de queimação é predominantemente epigástrica (região entre a cicatriz umbilical e a porção inferior do esterno) Dispepsia funcional X SII • Pode haver a associação de sintomas – ser secundário a alterações na funcionalidade do sistema nervoso entérico • Expressar sintomas do trato gastrointestinal alto (epigastralgia, desconforto (incômodo, angustia) abdominal, náusea) ou baixo (dor abdominal, distúrbios da defecação) • Considerar a sensibilidade do paciente em perceber o seu sintoma • Expresso de acordo com o seu estado de vida atual Dispepsia funcional X Parasitose intestinal Dispepsia Funcional DRGE Síndrome Intestino Irritável Náuseas, vômitos e eructações, não foram considerados como sintomas cardinais nos diagnósticos, embora possam ser critérios para o suporte diagnóstico Parasitose Intestinal • A parasitoseestá entre os mais frequentes agravos do mundo e deve ser considerada como causa de queixas abdominais antes de considerar como dispepsia funcional • Segundo a OMS deve ser administrado antiparasitários com intervalos regulares para população de risco, reforçando a posição de teste terapêutico • A prevalência é alta no brasil – incluir na investigação de dispepsia DIAGNÓSTICOS DISPEPSIA FUNCIONAL E DUODENO • O duodeno é um órgão com riqueza funcional - é a porção do tubo digestivo onde ocorre os processos finais da digestão e absorção dos alimentos • Uma alteração fisiopatológica – ser o ponto inicial no desenvolvimento de um complexo sintomatológico o Diminuição da secreção de HCO3 duodenal o Aumento da secreção diurna e noturno de H+ o Aumento da carga ácida duodenal o Aumento da gastrina basal o Aumento da liberação de gastrina pós-prandial o Aumento do esvaziamento gástrico o Diminuição do pH pela liberação de gastrina • Tem descrito alterações estruturais no duodeno em pacientes com DF similares as que aparecem em pacientes com SII • Consistem em trocas a nível da mucosa de duodeno que se traduzem em uma maior permeabilidade da barreira EXAMES COMPLEMENTARES • ENDOSCOPIA o Segundo o ROMA IV – pacientes com sinais de alarme ou naqueles com mais de 50 anos, que relatam início recente dos sintomas o Para o diagnóstico definitivo de DF é recomendável a realização de endoscopia digestiva alta e biopsias para pesquisa de H. pylori (se presente ser erradicado) − Emagrecimento − Sangramento − Anemia − Icterícia − Febre − Massa palpável − Histórico de câncer do aparelho digestivo na infância • USG – pode ser indicada quando se pretende excluir patologias biliares e pancreáticas • HEMOGRAMA – para verificar anemia, eosinofilia principalmente alertando para doenças orgânicas • PARASITOLÓGICO – verificar a presença de S. stercoralis entre os parasitas TRATAMENTO • O principal objetivo é o alivio dos sintomas • Deve ser direcionado ao sintoma predominante • Importante estabelecer uma boa relação médico-paciente • O médico deve adotar uma postura confiante e otimista, inspirar segurança • Esclarecer que os seus sintomas decorrem de um distúrbio funcional • Que não caracteriza nenhuma doença grave ou risco de vida • É preciso também explicar sobre os possíveis fatores envolvidos na etiopatogênese Orientação Dietéticas E Comportamentais • Alivio dos sintomas com mudança em seu estilo de vida como uma alimentação saudável e atividade física regular • A inclusão ou exclusão de determinados alimentos vai depender da tolerância de cada paciente • Recomendar hábitos dietéticos saudáveis (comer devagar, mais vezes ao dia e em menor quantidade), redução no consumo de alimentos gordurosos, condimentados, ácidos, café, álcool e cigarro • Plenitude pós-prandial: exclusão de alimentos gordurosos • Saciedade precoce: fracionamento das refeições • Abordar sobre o ambiente onde as refeições são realizadas • Identificar possíveis fatores desencadeantes ou agravantes • Fatores emocionais – precisam ser abordados e esclarecidos da possível associação • A psicoterapia e outras técnicas que objetivem a redução do estresse e relaxamento podem ser recomendadas Tratamento Medicamentoso • Antisecretores o Cursos intermitentes de 2 a 4 semanas – períodos de piora clinica o Modo continuo – sintomas continuo e de grande intensidade – doses menores do que as convencionais • Procinéticos o Superiores ao placebo em vários ensaios clínicos o Indicados para os portadores da síndrome do desconforto pós-prandial (empachamento/peso pós- prandial e saciedade precoce) o Melhoram vários parâmetros da motilidade gastrointestinal ao aumentar o tônus gástrico, a motilidade antral, a coordenação antroduodenal e relaxar o fundo gástrico o Medicamentos Metocolopramida 20 a 30 mg/dia Domperidona 20 a 30 mg/dia Bromoprida 20 a 30 mg/dia Motilineos derivados da eritromicina • Bloqueadores de H2 o Ranitidina 150 a 300 mg/dia o Cimetidina 400 a 800 mg/dia o Famotidina 20 a 40 mg/dia • IBP o Omeprazol 10 a 20 mg/dia o Lansoprazol 15 a 30 mg/dia o Pantoprazol 20 a 40 mg/dia o Rabeprazol 10 a 20 mg/dia o Esomeprazol 20 a 40 mg/dia • Antidepressivos o Amitriptilina 12,5 a 50 mg/dia o Nortriptilina 10 a 25 mg/dia o Fluoxetina 10 a 20 mg/dia o Paroxetina 10 a 20 mg/dia o Sertralina 20 a 50 mg/dia o Citalopram 10 a 20 mg/dia o Mirtazapina 30 a 60 mg/dia • Tratamento H. pylori o Poucos estudos confirmam um real benefício da erradicação do H. pylori o Alguns pacientes permanecem sintomáticos após o tratamento o Controvérsias – atualmente a maioria dos autores concordava que a erradicação da bactéria possa ser realmente útil o III CONSENSO BRASILEIRO DO H. pylori 2012 – a sua erradicação constitui a primeira alternativa terapêutica na DF o Tratamento para erradicação do H.pylori = antibióticos + IBP • Prebióticos, Probióticos e Simbióticos o Melhora os sintomas dispépticos como plenitude pós-prandial, diminuição do número de eructação e menor distensão abdominal • Parasitose o Alta prevalência de parasitose – justifica o tratamento empírico de pacientes com dispepsia não investigativa o O custo com antiparasitários é baixo, estão disponíveis em grande parte dos serviços de saúde publica e apresentam poucos efeitos adversos CONSIDERAÇÕES FINAIS • Na investigação de dispepsia considera-se como pontos relevantes o Realizar EDA na presença de sinais de alarme o Tratar H. pylori em um subgrupo de pacientes o Novos estudos com prebióticos, probióticos e simbióticos o Avaliação da funcionalidade do duodeno, vias biliares e pâncreas o Parasitose intestinal não é relacionado em Roma IV, mas em nosso meio justifica-se o tratamento empírico o É fundamental lembrar que o diagnóstico dos distúrbios funcionais é CLINICO, baseando-se nos critérios propostos pelo Roma IV o É importante realizar uma anamnese detalhada e um exame físico criterioso, ver o paciente como um todo e então definir a conduta que melhor se adeque o Avaliar a necessidade de uma investigação mais profunda e a terapêutica a ser instituída
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