Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 1. Conceito de Funcionário Público (intraneus): Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. Cargo – diz respeito ao funcionário público em sentido estrito (relação estatutária). Emprego – quando a relação funcional é regida pela CLT. Função – é a própria atividade, atribuição, tarefa objeto dos serviços prestados. Não confundir com o múnus público – encargo ou ônus conferido pela lei e imposto pelo Estado em algumas situações. Ex.: depositário, curador etc. Funcionário público por equiparação § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) Paraestatal – autarquias, sociedades de economia mista, fundações públicas, serviços sociais autônomos (sistema “S”). Prestadora de serviço – empresa (sociedade empresária ou firma individual) contratada ou conveniada para exercer atividades típicas da administração pública. Ex.: diretor de hospital privado conveniado/contratado que presta serviços de atendimento a segurados da previdência social. 2. Crimes funcionais – são os crimes praticados por funcionário público. A doutrina classifica-os em: Próprios – a qualidade de funcionário público é essencial à sua realização, não havendo outra figura típica semelhante para que não ostente tal condição. Ex.: prevaricação. Impróprios – podem ser praticados por outros agentes que não sejam funcionários públicos. 3. Causa de aumento de pena § 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. (Incluído pela Lei nº 6.799, de 1980) PECULATO Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. § 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. 1. Conceito e Objetividade Jurídica: Tutela-se a Administração Pública. 2. Sujeitos do Delito: Sujeito Ativo – funcionário público. Sujeito passivo é o Estado, bem como o particular eventualmente lesado. 3. Elementos Objetivos do Tipo: No caput (PECULATO PRÓPRIO): PECULATO APROPRIAÇÃO - Apropriar-se significa apoderar-se indevidamente; invertendo o título da posse, agindo como se fosse dono (animus rem sibi habendi). PECULATO DESVIO – desviar significa dar destinação diversa à coisa, em proveito próprio ou alheio. Se o desvio for para benefício da administração, não há crime de peculato, mas conforme o caso, pode ser emprego irregular de rendas ou verbas públicas (art. 315, CP). POSSE DESVIGIADA - O sujeito tem a posse da coisa em razão do cargo (relação direta). O proveito pode ser material ou moral. Ex.: emprestar o dinheiro desviado sem juros para ganhar a simpatia de alguém. No §1º (PECULATO IMPRÓPRIO): PECULATO FURTO – Subtrair ou concorrer para que alguém subtraia. O sujeito não tem a posse da coisa, mas se aproveita da facilidade proporcionada pelo cargo. Se não houver essa facilidade, o crime é comum de furto. OBJETO MATERIAL - dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular. No § 2º PECULATO CULPOSO: Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. Trata-se de crime autônomo caracterizado pela participação culposa em delito doloso alheio. 4. Elemento Subjetivo do Tipo: No caput e no §1º, o elemento subjetivo é o dolo. Vontade e consciência de apropriar-se, desviar ou subtrair o objeto material, valendo-se da condição de funcionário público. No § 2º PECULATO CULPOSO, a modalidade de culpa é a negligência. 5. Consumação e Tentativa: Peculato Apropriação – Quando inverte o título da posse, agindo como se fosse dono (praticando ato de disposição) ou negando-se a restituir o dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel. Peculato desvio – quando dá destino diverso ao objeto material. Peculato furto – quando subtrai/retira da esfera de vigilância e disponibilidade da administração. As três hipóteses dolosas admitem tentativa, ressalvando-se o peculato apropriação na modalidade negativa de restituição. Peculato Culposo – Consuma-se quando ocorre o resultado (a prática de outro crime por terceiro). Não há tentativa. 6. Pena e Ação Penal: Pena – caput e §1º - reclusão de 2 a 12 anos e multa. §2º - na modalidade culposa – detenção de 3 meses a 1 ano. Competência do Juizado Especial Criminal. A ação penal é pública incondicionada. CAUSA DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE E REDUÇÃO DE PENA PELA REPARAÇÃO DO DANO NO PECULATO CULPOSO: § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; Se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. Antes do trânsito em julgado da primeira decisão condenatória (em 1º grau ou no acórdão), a reparação do dano é causa de extinção da punibilidade. Após, há redução de pena pela metade. A reparação do dano em peculato doloso pode servir como arrependimento posterior (art. 16, CP), se realizada antes do recebimento da denúncia ou como atenuante (art. 65, III, b, CP), se realizada antes da sentença. Após a sentença transitada, funciona como requisito para a progressão de regime (art. 33, §4º, CP). PECULATO MEDIANTE ERRO DE OUTREM Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 1. Objetividade Jurídica: Tutela-se a Administração Pública. 2. Sujeitos do Delito: Sujeito Ativo – funcionário público no exercício do cargo. Sujeito passivo é o Estado, bem como a pessoa eventualmente prejudicada. 3. Elementos Objetivos do Tipo: Núcleo – apropriar-se (apoderar-se) Objeto material - dinheiro (pecúnia, moeda) ou qualquer utilidade (com valor econômico). No exercício do cargo – implica efetivo exercício. Recebeu por erro de outrem – o erro é a falsa representação da realidade, sendo irrelevante a causa do erro. O erro pode incidir sobre a obrigação, sobre coisa entregue (qualidade ou quantidade) ou sobre o funcionário que a recebeu. ERRO ESPONTÂNEO OU PROVOCADO? 1ª corrente (MAJORITÁRIA): O recebimento deve ser de boa fé, ou seja, o erro do terceiro deve ser espontâneo, não provocado pelo funcionário público, que num momento posterior apresenta dolo de apropriar-se do objeto material. Se, desde o início, havia dolo de ficarcom a coisa e o funcionário induz ou mantém em erro o terceiro, responde por estelionato (crime mais grave – pena de reclusão de 1 a 5 anos), dependendo do caso concreto, com o aumento de pena do §3º do artigo 171, CP. 2ª corrente (Greco, Nucci): O erro pode ser espontâneo ou provocado pelo funcionário público, que induz ou mantém em erro o terceiro. Em ambas as hipóteses, responde pelo artigo 313, CP. 4. Elemento Subjetivo do Tipo: É dolo de apropriar-se definitivamente da coisa (animus rem sibi habendi). Segundo o entendimento majoritário, o dolo deve ser posterior ao recebimento de boa fé. Se o funcionário recebe por erro, não há crime, em função do erro de tipo. 5. Consumação e Tentativa: À semelhança do crime de apropriação, consuma-se com a inversão do título da posse, em duas situações: ato inequívoco como se fosse dono da coisa ou negativa de restituição. É crime material e instantâneo. Admite-se a tentativa, embora seja de difícil configuração. 6. Pena e Ação Penal: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Cabe SURSIS PROCESSUAL(art. 89, da Lei 9099/95). A ação penal é pública incondicionada. INSERÇÃO DE DADOS FALSOS EM SISTEMA DE INFORMAÇÕES Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)). Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) 1. Objetividade Jurídica: “peculato eletrônico” Tutela-se a Administração Pública no tocante à proteção das informações constantes de seus sistemas informatizados ou bancos de dados. 2. Sujeitos do Delito: Sujeito Ativo – crime próprio, somente pode ser praticado pelo funcionário público autorizado. Sujeito passivo é o Estado, bem como o particular prejudicado. 3. Elementos Objetivos do Tipo: Inserir (diretamente) ou facilitar a inserção (indiretamente) de dados falsos (objeto material). Alterar ou excluir indevidamente (elemento normativo) dados corretos (objeto material). Objeto Material - Dados são elementos de informação ou representação de fatos ou instruções de forma apropriada para armazenamento, transmissão ou processamento por meios automáticos. Banco de dados é o conjunto de elementos, materiais ou não, coordenados entre si, que funcionam como uma estrutura organizada com a finalidade de armazenar dados. Podem ser sistemas informatizados (em computadores) ou outros meios (papeis, fichas etc). 4. Elemento Subjetivo do Tipo: É composto pelo dolo (vontade e consciência de inserir, facilitar a inserção, alterar ou excluir) associado ao especial fim de agir: obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano. Não há previsão de modalidade culposa. Também não há o crime do artigo 313-A, CP, se o funcionário não atua com o intuito de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano. A vantagem tem que ser indevida e pode ser de qualquer natureza (patrimonial ou moral). O dano causado pode ser à administração ou ao particular que venha a ser prejudicado. 5. Consumação e Tentativa: Crime formal e instantâneo, consuma-se com a prática das condutas, independente de ocorrência efetiva do resultado (obtenção da vantagem ou dano), que caracteriza mero exaurimento. Admite-se tentativa, por se tratar de crime plurissubsistente. 6. Pena e Ação Penal: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. Causa de aumento de pena do artigo 327, §2º, CP (função de confiança). A ação penal é pública incondicionada. MODIFICAÇÃO OU ALTERAÇÃO NÃO AUTORIZADA DE SISTEMA DE INFORMAÇÕES Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado. 1. Objetividade Jurídica: Tutela-se a Administração Pública. 2. Sujeitos do Delito: Sujeito Ativo é funcionário público. Basta que ostente essa qualidade, não havendo necessidade de ser funcionário autorizado, até porque o crime é cometido sem autorização da autoridade competente. Sujeito passivo é o Estado, além da pessoa prejudicada, conforme previsto no parágrafo único. 3. Elementos Objetivos do Tipo: Núcleos: Modificar corresponde a uma transformação radical, já a alteração não chega a desnaturar o programa ou sistema. Objeto material: sistema de informações (sistema que manipula informação ou banco de dados) ou programa de informática (software). Elemento Normativo: Sem solicitação ou autorização da autoridade competente. 4. Elemento Subjetivo do Tipo: É o dolo, vontade livre e consciente de alterar ou modificar o objeto material, sem autorização ou solicitação da autoridade. Não há previsão de modalidade culposa. Assim, a conduta descuidada (negligência, imprudência ou imperícia) do funcionário pode trazer efeitos civis e administrativos, mas é irrelevante penal. 5. Consumação e Tentativa: O crime é material e instantâneo, consumando- se com a efetiva alteração ou modificação do sistema ou programa. Admite-se a tentativa. 6. Pena e Ação Penal: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa. Causa de aumento de pena: Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado. A ação penal é pública incondicionada. EXTRAVIO, SONEGAÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE LIVRO OU DOCUMENTO Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente: Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave. 1. Conceito e Objetividade Jurídica: Tutela-se a Administração Pública. 2. Sujeitos do Delito: Sujeito Ativo é somente o funcionário público que tem a guarda do livro oficial ou documento em razão do cargo. Há violação de dever funcional. Se não for o funcionário público, o sujeito pode responder, conforme o caso, pelo crime previsto no artigo 305 (contra a fé pública) ou 337 (particular) ou 356 (advogado), todos do CP. Sujeito passivo é o Estado. 3. Elementos Objetivos do Tipo: Núcleos: 1) extraviar (desencaminhar, perder-se do destino), 2) sonegar (ocultar, omitir, fazer desaparecer) ou 3) inutilizar (tornar inútil, imprestável, destruir total ou parcialmente). Objeto material: livro oficial (criado por lei) ou qualquer documento. 4. Elemento Subjetivo do Tipo: É o dolo, vontade livre e consciente de extraviar, sonegar ou inutilizar, total ou parcialmente, livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo. Não se exige especial fim de agir. Se o sujeito destruir, suprimir ou ocultar documento com a finalidade de obter vantagem, para si ou para outrem, responde pelo crime do artigo 305, CP. Nãohá previsão de modalidade culposa. 5. Consumação e Tentativa: Crime material e instantâneo (que pode ter efeitos permanentes na conduta de extraviar ou inutilizar), consuma-se o delito com a ocorrência efetiva do resultado (extravio, sonegação ou inutilização). Admite-se tentativa nas condutas de extraviar e inutilizar. Não cabe tentativa na conduta de sonegar, pois se o funcionário tem o dever de apresentar o livro e não o faz (omissão), o crime já está consumado. 6. Pena e Ação Penal: Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave. Trata-se de crime expressamente subsidiário. A ação penal é pública incondicionada. EMPREGO IRREGULAR DE VERBAS OU RENDAS PÚBLICAS Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. 1. Objetividade Jurídica: Tutela-se a Administração Pública. 2. Sujeitos do Delito: Sujeito Ativo somente pode ser o funcionário público que tem competência para gerir ou administrar verbas ou rendas públicas. Sujeito passivo é o Estado. 3. Elementos Objetivos do Tipo: Núcleo: dar significa canalizar, utilizar, empregar, aplicar. Objeto material: Verbas Públicas são fundos que a lei orçamentária destina aos serviços públicos ou de utilidade pública. Rendas públicas são quaisquer dinheiros recebidos pela fazenda pública. Elemento normativo: aplicação diversa da estabelecida em lei. Trata-se de norma penal em branco, que precisa ser complementada por lei em sentido material (lei ordinária, complementar ou Constituição). 4. Elemento Subjetivo do Tipo: É o dolo, vontade livre de dar aplicação às verbas e rendas públicas com consciência de que o faz de maneira diversa daquela estabelecida na lei. Não há previsão de modalidade culposa, que pode caracterizar ilícito administrativo ou improbidade. É cabível a alegação de estado de necessidade, na hipótese de emergências (calamidades, desastres) ou situações extremas imprevisíveis, que levem o administrador a aplicar determinadas verbas a destinações diversas das previstas na lei. 5. Consumação e Tentativa: Crime material e instantâneo consuma-se o delito com a efetiva destinação diversa da verba ou renda pública. Admite-se tentativa, pois é possível fracionar o iter criminis. 6. Pena e Ação Penal: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. Competência do JECRIM, se não houver foro por prerrogativa de função. A ação penal é pública incondicionada. CONCUSSÃO Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. 1. Conceito e Objetividade Jurídica: Tutela-se a Administração Pública, além da liberdade individual (constrangimento) e do patrimônio particular (vantagem indevida/prejuízo). 2. Sujeitos do Delito: Sujeito Ativo é o funcionário público. Sujeito passivo é o Estado, bem como o prejudicado. 3. Elementos Objetivos do Tipo: Núcleo: exigir significa impor, constranger, ordenar, determinar. A conduta de exigir é praticada antes de receber (exaurimento). Para si ou para outrem, mas não para a administração. Nesse último caso, há excesso de exação (§1º). Direta (de forma explícita, face a face) ou indiretamente (através de interposta pessoa). Em razão da função (violação de dever funcional/abuso de autoridade), não precisa ser necessariamente no exercício da função, pois o tipo afirma “ainda que fora da função ou antes de assumi-la”. Vantagem indevida é ilícita, injusta, ilegal. Para a maioria da doutrina, é de caráter patrimonial. Para Greco, Bitencourt e outros é qualquer vantagem (pessoal, moral, sexual etc) já que o bem jurídico é a administração pública. 4. Elemento Subjetivo do Tipo: É composto pelo dolo (vontade e consciência) e pelo especial fim de agir (para si ou para outrem). Não há modalidade culposa. 5. Consumação e Tentativa: É crime formal e instantâneo, que se consuma com a conduta de exigir a vantagem, independentemente sua efetiva obtenção. 6. Pena e Ação Penal: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. A ação penal é pública incondicionada. EXCESSO DE EXAÇÃO § 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. 1. Conceito e Objetividade Jurídica: Tutela-se a Administração Pública, além da liberdade individual (constrangimento) e do patrimônio particular (tributo indevido/prejuízo). 2. Sujeitos do Delito: Sujeito Ativo – funcionário público competente para a cobrança de tributos. Sujeito passivo é o Estado e o particular prejudicado. 3. Elementos Objetivos do Tipo: Núcleos: exigir significa impor, constranger, ordenar, determinar a cobrança de tributo indevido. Empregar (utilizar) meio vexatório ou gravoso que a lei não autoriza na cobrança de tributo devido. Objeto material: Tributo ou contribuição social. Elemento normativo: tributo indevido (ilícito, injusto) ou meio vexatório ou gravoso que a lei não autoriza (norma penal em branco, a ser complementada por lei de natureza tributária). 4. Elemento Subjetivo do Tipo: É o dolo direto de exigir tributo que sabe indevido ou indireto, quando deveria sabê-lo, ou de cobrar o tributo devido empregando meio vexatório ou gravoso não autorizado pela lei. Não se exige especial fim de agir. Não há modalidade culposa. 5. Consumação e Tentativa: É crime formal e instantâneo, que se consuma com a conduta de exigir o tributo indevido ou de empregar o meio vexatório ou gravoso (sem autorização legal) na cobrança do tributo devido, independentemente sua efetiva arrecadação (mero exaurimento). 6. Pena e Ação Penal: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. A ação penal é pública incondicionada. FORMA QUALIFICADA DE EXCESSO DE EXAÇÃO § 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. 1. Conceito e Objetividade Jurídica: Se o funcionário pratica o excesso de exação e não recolhe o valor recebido aos cofres públicos, mas o desvia para si ou para outrem, responde pela forma qualificada. Tutela-se a Administração Pública, além do patrimônio particular (tributo indevido/prejuízo). 2. Sujeitos do Delito: Sujeito Ativo é o funcionário público responsável pelo recebimento e recolhimento dos tributos. Sujeito passivo é o Estado e o particular lesado. 3. Elementos Objetivos do Tipo: Núcleo: desviar em proveito próprio ou de outrem significa dar destinação diversa ao tributo recebido indevidamente em vez de recolhê-lo aos cofres públicos. Objeto material: Tributo ou contribuição social. Elemento normativo: recebidos indevidamente. 4. Elemento Subjetivo do Tipo: É composto pelo dolo de desviar (vontade e consciência) e pelo especial fim de agir (em proveito próprio ou de outrem). Não há modalidade culposa. 5. Consumação e Tentativa: É crime material e instantâneo, que se consuma com a conduta de desviar o tributo já recebido indevidamente em proveitopróprio ou de outrem. Admite-se, em tese, a tentativa. Entretanto, se o sujeito não conseguir efetivamente desviar, já está consumada a conduta anterior de excesso de exação. 6. Pena e Ação Penal: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. Note-se que, apesar de ser conduta abstratamente mais grave, a pena mínima é menor, o que soa desproporcional. A ação penal é pública incondicionada. CORRUPÇÃO PASSIVA Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 1. Conceito e Objetividade Jurídica: Tutela-se a Administração Pública, além da liberdade individual (constrangimento) e do patrimônio particular (vantagem indevida/prejuízo). 2. Sujeitos do Delito: Sujeito Ativo somente pode ser o funcionário público, prevalecendo-se da função. Sujeito passivo é o Estado, bem como o particular prejudicado. 3. Elementos Objetivos do Tipo: Núcleos: 1) solicitar significa pedir. O particular que, premido pela circunstância, cede ao pedido (sem tomar a iniciativa de oferecer) não comete crime de corrupção ativa; 2) receber significa tomar, entrar na posse da vantagem oferecida pelo particular, sem que tenha solicitado antes; 3) aceitar promessa significa anuir, concordar, admitir o recebimento futuro da vantagem indevida oferecida pelo particular. Para si ou para outrem, mas não para a administração. Direta (de forma explícita, face a face) ou indiretamente (através de interposta pessoa). Em razão da função (violação de dever funcional), não precisa ser necessariamente no exercício da função, pois o tipo afirma “ainda que fora da função ou antes de assumi-la”. Vantagem indevida é ilícita, injusta, ilegal. Para a maioria da doutrina, é de caráter patrimonial. Para Greco, Bitencourt e outros é qualquer vantagem (pessoal, moral, sexual etc) já que o bem jurídico é a administração pública. 4. Elemento Subjetivo do Tipo: É composto pelo dolo (vontade e consciência) e pelo especial fim de agir (para si ou para outrem). Não há modalidade culposa. 5. Consumação e Tentativa: Nas condutas de solicitar vantagem indevida ou aceitar promessa de tal vantagem é crime formal e instantâneo, que se consuma independentemente sua efetiva obtenção. Na conduta de receber é crime material e instantâneo, que se consuma com a efetiva posse da vantagem indevida. Em tese, admite-se a tentativa, dependendo da forma de execução (por escrito, carta extraviada). 6. Pena e Ação Penal: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. A ação penal é pública incondicionada. CAUSA DE AUMENTO DE PENA (“CORRUPÇÃO EXAURIDA”): § 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. CORRUPÇÃO PRIVILEGIADA § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. 1. Conceito e Objetividade Jurídica: Tutela-se a Administração Pública. 2. Sujeitos do Delito: Sujeito Ativo é somente o funcionário público que tem o dever funcional de praticar o ato. Sujeito passivo é o Estado. 3. Elementos Objetivos do Tipo: Núcleos: praticar (executar com violação de dever funcional), deixar de praticar (omissão dolosa) ou retardar (postergar, atrasar indevidamente, praticar com excesso de prazo). Objeto material: ato de ofício é aquele que se encontra dentro das atribuições do agente. Elemento normativo: com infração de dever funcional. Motivo determinante: Cedendo a pedido (solicitação) ou influência de outrem . 4. Elemento Subjetivo do Tipo: É dolo de praticar, deixar de praticar ou retardar ato de ofício, com a consciência da infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem. Não se exige especial fim de agir. Não há previsão de modalidade culposa. 5. Consumação e Tentativa: Crime material e comissivo na primeira modalidade, consuma-se com a efetiva prática do ato com infração de dever funcional. Admite-se tentativa. Nas demais, consuma-se com a abstenção (deixar de praticar) ou retardamento do ato de ofício, após o decurso do prazo. Quando não houver prazo definido, adota-se um critério de proporcionalidade. Não se admite tentativa. 6. Pena e Ação Penal: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Competência do JECRIM, se não houver foro por prerrogativa de função. A ação penal é pública incondicionada. PREVARICAÇÃO Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. 1. Conceito e Objetividade Jurídica: Constitui o crime o fato de o funcionário retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei para satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Tutela-se a Administração Pública, que deve pautar-se pelo Princípio da Impessoalidade. 2. Sujeitos do Delito: Sujeito Ativo é somente o funcionário público que tem o dever de praticar o ato de ofício. Sujeito passivo é o Estado, bem como a pessoa eventualmente prejudicada. 3. Elementos Objetivos do Tipo: Núcleos: praticar (executar contra disposição expressa de lei), deixar de praticar (omissão dolosa) ou retardar (postergar, atrasar indevidamente, praticar com excesso de prazo). Objeto material: ato de ofício é aquele que se encontra dentro das atribuições do agente. Elemento normativo: indevidamente (injustamente, com infração de dever funcional) ou contra disposição expressa de lei em sentido material (sendo óbvio que quando há violação de dever funcional, em última análise, também se contraria a lei). 4. Elemento Subjetivo do Tipo: É dolo de praticar o ato de ofício contra disposição expressa de lei ou de deixar de praticá-lo ou retardá-lo, com a consciência da infração de dever funcional, Especial fim de agir “para satisfazer a interesse ou sentimento pessoal”. Interesse pessoal diz respeito ao aspecto patrimonial, material ou moral. Sentimento pessoal se relaciona com afetividade, ódio, benevolência. Ainda que seja nobre o sentimento (altruísmo), há crime, pois viola-se a impessoalidade da administração pública. Não há previsão de modalidade culposa. 5. Consumação e Tentativa: Crime material e comissivo na primeira modalidade, consuma-se com a efetiva prática do ato com violação expressa de norma legal. Admite-se tentativa. Nas demais, consuma-se com a abstenção (deixar de praticar) ou retardamento do ato de ofício, após o decurso do prazo. Quando não houver prazo definido, adota-se um critério de proporcionalidade. Não se admite tentativa. 6. Pena e Ação Penal: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Competência do JECRIM, se não houver foro por prerrogativa de função. A ação penal é pública incondicionada. “PREVARICAÇÃO IMPRÓPRIA” Art. 319-A. Deixaro Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo: (Incluído pela Lei nº 11.466, de 2007). Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. 1. Conceito e Objetividade Jurídica: Veda-se o acesso indevido ao meio de comunicação. Tutela-se a Administração Pública. 2. Sujeitos do Delito: Sujeito Ativo é somente o Diretor de Penitenciária e/ou agente público que tem o dever funcional de vedar ao preso o acesso indevido a aparelho de comunicação. Sujeito passivo é o Estado. 3. Elementos Objetivos do Tipo: Núcleos: deixar de cumprir o dever de vedar (omissão dolosa/violação funcional). Objeto material: aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo. 4. Elemento Subjetivo do Tipo: É dolo de deixar de cumprir o dever funcional de vedar ao preso o acesso indevido a aparelho de comunicação. Não se exige especial fim de agir. Não há satisfação de interesse ou sentimento pessoal (prevaricação), tampouco intuito de obter vantagem indevida (corrupção passiva). Não há previsão de modalidade culposa. 5. Consumação e Tentativa: Crime omissivo, consuma-se com a mera abstenção (deixar de cumprir o dever de vedar), ou seja, tendo conhecimento do acesso indevido, o agente deixa de vedá-lo. Não se admite tentativa. 6. Pena e Ação Penal: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Competência do JECRIM, se não houver foro por prerrogativa de função. A ação penal é pública incondicionada. O preso que utilizar indevidamente o aparelho de comunicação comete falta grave na execução (art. 50, VII, LEP). CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. 1. Conceito e Objetividade Jurídica: Tutela-se a Administração Pública, sobretudo o seu poder disciplinar. 2. Sujeitos do Delito: Sujeito Ativo – funcionário público que tenha atribuição de disciplinar (superior hierárquico) ou do mesmo nível ou hierarquia distinta (não tem competência). Sujeito passivo é o Estado. 3. Elementos Objetivos do Tipo: Núcleo: deixar (abster-se – conduta omissiva) de responsabilizar (apurar e punir, caso necessário) o subordinado ou de levar o fato ao conhecimento da autoridade competente quando lhe faltar competência. Elemento normativo: Por indulgência (benevolência, tolerância), com violação da disciplina e hierarquia da administração pública. Infração (sentido amplo – administrativa ou penal) cometida no exercício do cargo. Não alcança fatos que não tenha relação com o efetivo exercício funcional. 4. Elemento Subjetivo do Tipo: É o dolo, vontade e consciência de não responsabilizar o subordinado ou comunicar a infração à autoridade competente. Não se exige especial fim de agir. Se houver satisfação de interesse ou sentimento pessoal, o crime é de prevaricação. Se houver recebimento ou promessa de vantagem indevida, há corrupção passiva exaurida. 5. Consumação e Tentativa: É crime omissivo próprio, consumando-se com a mera omissão. Não cabe tentativa. Não há previsão de um prazo específico, mas a lei 8112/90 dispõe que a apuração da infração deve ser imediata (art. 143). 6. Pena e Ação Penal: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. Competência do JECRIM. A ação penal é pública incondicionada. ADVOCACIA ADMINISTRATIVA Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo: Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa. 1. Conceito e Objetividade Jurídica: Tutela-se a Administração Pública (moralidade, impessoalidade). 3. Elementos Objetivos do Tipo: Núcleo: Patrocinar significa defender, advogar (agir como advogado, procurador), assumir a causa. “Valendo-se da qualidade de funcionário”. O sujeito deve se prevalecer da condição de funcionário para ter acesso ao órgão público (“perante a administração pública”. Interesse privado – o interesse deve ser alheio. Não há crime, se o funcionário defende interesse público, próprio ou de familiares. Direta (pessoalmente) ou indiretamente (por interposta pessoa). 5. Consumação e Tentativa: É crime comissivo, instantâneo e de mera conduta, consumando-se com a prática de qualquer ato que configure patrocínio de interesse privado. Admite-se a tentativa. 6. Pena e Ação Penal: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. A ação penal é pública incondicionada. Forma qualificada Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo: Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa. ABANDONO DE FUNÇÃO Art. 323 - Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. § 1º - Se do fato resulta prejuízo público: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. § 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira: Pena - detenção, de um a três anos, e multa. Sujeitos do Delito: Sujeito Ativo – funcionário público. É crime de mão própria. Sujeito passivo é o Estado. 3. Elementos Objetivos do Tipo: Núcleo – Abandonar significa deixar ao desamparo, largar. Para caracterizar o abandono, é necessário que seja criada situação de risco para a administração pública. É crime de perigo concreto. Segundo Hungria, é necessária a acefalia do cargo público, a inexistência ou ocasional ausência de substituto legal do desertor. De acordo com a lei 8112/90, em seu art. 138, “Configura abandono de cargo a ausência intencional do servidor ao serviço por mais de trinta dias consecutivos. Trata-se de infração disciplinar, que não pode ser confundida com o crime de abandono de função. O decurso do prazo acima não é determinante para a existência do crime, desde que não exista efetivo perigo de dano à administração. Não há objeto material. Para Nucci, o objeto material é o Cargo público. Cargo público (conceito restrito) é o conjunto de atribuições e responsabilidades previstas na estrutura organizacional que devem ser cometidas a um servidor (art. 3º, da lei 8112/90). Elemento normativo - “fora dos casos permitidos em lei” – norma penal em branco, a ser complementada pela lei em sentido material. Ex.: estado de necessidade, inexigibilidade de conduta diversa. 4. Elemento Subjetivo do Tipo: É o dolo de abandonar o cargo público gerando perigo de dano para a administração. Não há modalidade culposa. 5. Consumação e Tentativa: Consuma-se com o abandono, por lapso temporal juridicamente relevante, a ponto de levar à efetiva criação de perigo concreto para a administração (possibilidade de dano) em razão da acefalia do cargo. Em tese, admite-se tentativa, apesar de ser difícil a sua ocorrência e comprovação. 6. Pena e Ação Penal: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. FORMAS QUALIFICADAS § 1º - Se do fato resulta prejuízopúblico: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Trata-se de efetivo resultado de dano para a administração. § 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira: Pena - detenção, de um a três anos, e multa. Faixa de fronteira é faixa interna paralela à fronteira, com largura de 150 km (Art. 1º da Lei 6634/79). A ação penal é pública incondicionada. EXERCÍCIO FUNCIONAL ILEGALMENTE ANTECIPADO OU PROLONGADO Art. 324 - Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou suspenso: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. Sujeitos do Delito: Sujeito Ativo é funcionário público. É crime de mão própria. Sujeito passivo é o Estado. Continuar a exercê-la é prosseguir realizando, sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou suspenso. Exercício de função pública é o efetivo desempenho das atribuições do cargo público ou função de confiança. Elemento Normativo (norma penal em branco): “antes de satisfeitas as exigências legais, ou, sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou suspenso. 4. Elemento Subjetivo do Tipo: É o dolo de entrar no exercício antecipado ou de continuar (dolo direto “depois de saber”). Não há modalidade culposa. 5. Consumação e Tentativa: Crime de mera conduta e instantâneo, consuma- se com a prática de algum ato funcional, que caracterize que o sujeito entrou em exercício antes de satisfeitas as exigências legais ou permaneceu no exercício do cargo sem autorização. Não é necessária a existência de dano para a administração pública. Admite-se tentativa. 6. Pena e Ação Penal: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. A ação penal é pública incondicionada. VIOLAÇÃO DE SIGILO FUNCIONAL Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar- lhe a revelação: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não constitui crime mais grave. § 1o Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública; II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. § 2o Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a outrem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. 1. Conceito e Objetividade Jurídica: Tutela-se a Administração Pública. Viola-se o dever de lealdade para com a administração pública. É crime de perigo concreto. 2. Sujeitos do Delito: Sujeito Ativo é somente o funcionário público que, em razão do cargo (não necessariamente no exercício), revela ou facilita a revelação de fato sigiloso. Sujeito passivo é o Estado e a pessoa prejudicada com a revelação do segredo. 3. Elementos Objetivos do Tipo: Núcleos: Revelar significa desvelar, divulgar diretamente; facilitar significa tornar fácil, retirar os obstáculos para a revelação (ex.: permitir passivamente o acesso ao segredo). É necessário que fato de que tem ciência em razão do cargo não seja de conhecimento do púbico e que deva permanecer em segredo. Formas equiparadas: permitir ou facilitar o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública (ver art. 313-A, CP), mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra forma, bem como de utilizar, indevidamente, do acesso restrito. Ex.: Rede Infoseg, Receita. 4. Elemento Subjetivo do Tipo: É o dolo (vontade e consciência) de revelar ou facilitar a revelação da informação sigilosa ou de permitir ou facilitar o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou de utilizar indevidamente o acesso restrito. Não se exige especial fim de agir, tampouco que seja causado algum prejuízo. Não há previsão de modalidade culposa. 5. Consumação e Tentativa: Crime instantâneo e formal, consuma-se com a efetiva revelação do fato sigiloso ou com a facilitação da revelação a pelo menos uma pessoa ou com a permissão ou facilitação de acesso a pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou com a utilização indevida do acesso restrito, não se exigindo a ocorrência de dano. Admite-se a tentativa. 6. Pena e Ação Penal: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. Crime subsidiário “se o fato não constitui crime mais grave”. A ação penal é pública incondicionada. RESISTÊNCIA Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio: Pena - detenção, de dois meses a dois anos. § 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa: Pena - reclusão, de um a três anos. § 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência. Núcleo: opor-se à execução - apresentar resistência ativa a fim de impedir a realização de ato que está em andamento (exige-se a atualidade da execução do ato). Ato legal - deve abranger o aspecto material (a ordem a ser executada) e o formal (a forma ou ao meio de sua execução). Ato ilegal é aquele que não tem fundamentação na lei ou que não cumpre as formalidades legais. Não há crime em resistir ao ato ilegal. Meios de execução: mediante violência (vis corporalis) ou ameaça (vis compulsiva), que não precisa ser grave. A violência deve ser dirigida à pessoa do funcionário ou quem o auxilie. Não caracteriza resistência a atitude passiva, contemplativa ou omissiva (ex.: deitar no chão, agarrar-se a um poste, não abrir a porta), que pode configurar crime de desobediência (art. 330, CP). Exige-se, além do dolo, o especial fim de impedir a execução do ato legal. Não há crime, pois, no ato instintivo de autodefesa, sem intenção positiva de ofender. STJ: a resistência oposta pelo assaltante para evitar a prisão, quando perseguido logo após a prática do crime de roubo não constitui crime autônomo, pois representa desdobramento da violência característica do crime patrimonial (RE 173466/PR). Crime formal, consuma-se com a prática de violência ou ameaça para impedir a realização do ato, não havendo necessidade de que se impeça efetivamente a sua execução. Forma qualificada (§1º): Exaurimento. Deve haver nexo causal entre a resistência e não execução do ato. Concurso com outro crime violento (violência física) (§ 2º): Trata-se de concurso formal impróprio (soma de penas). DESOBEDIÊNCIA Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público: Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa. Núcleo: desobedecer - descumprir, desatender. Ordem legal Não é mera solicitação ou pedido, mas de ordem (legalidade - mesmo comentário do crime de resistência). Não há crime em desobedecer à ordem ilegal. O funcionário deve ser competente para emitir a ordem, que deve se dirigida expressamente a quem tem o dever legal de cumpri-la. Não há crime de desobediência quando a lei ou a decisão judicial cominam para o ato penalidade administrativa ou civil, a menos que se ressalve expressamente a aplicação do artigo330, CP. Ex.: art. 219, CPP x art. 201, §1º, CPP. Crime formal e instantâneo, consuma-se com a prática ou abstenção de ato que corresponda ao não atendimento da ordem legal emanada por funcionário público. Na forma omissiva, consuma-se com o decurso do prazo para o cumprimento da ordem. Admite-se a tentativa na forma comissiva. DESACATO (art. 331 do CP) Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. Controvérsia: o funcionário público no exercício de suas funções pode desacatar outro funcionário público? 1ª Corrente – não, a não ser que se tenha despido da qualidade funcional ou o fato tenha sido cometido fora do exercício de suas funções. 2ª Corrente - Sim, desde que o funcionário seja inferior hierárquico do ofendido. 3ª Corrente (MAJORITÁRIA - STJ) - Sim, em qualquer caso, em razão do decoro da função pública que deve vigorar entre os funcionários. Núcleo: desacatar - ofender, humilhar, agredir, desprestigiar o funcionário público. Crime formal, independe de o funcionário sentir-se ofendido em sua honra, bastando que a conduta seja capaz de causar dano à sua honra profissional (objetiva). A censura ponderada ou a crítica sincera, ainda que feitas com veemência, não constituem o delito. Ofensa cometida no exercício da função - o funcionário, no momento do fato, está desempenhando um ato de seu ofício. Ofensa cometida em virtude da função - embora o sujeito passivo, no momento da conduta, não esteja realizando ato de ofício. É indispensável que o fato seja cometido na presença do sujeito passivo, que ele tome conhecimento imediato (direto) da ofensa. Se não for na presença, há crime contra a honra com causa de aumento de pena (CP, art. 141, II). O dolo é de ofender o prestígio da função pública, o que distingue o desacato cometido mediante violência física ou moral do crime de resistência. Controvérsia: O ânimo calmo é elemento subjetivo do crime? 1ª Corrente (dominante na jurisprudência) exige ânimo calmo, sendo que o estado de exaltação exclui o elemento subjetivo do tipo. 2ª Corrente - não exige ânimo calmo. O estado de exaltação não exclui o elemento subjetivo do tipo. Controvérsia: A embriaguez exclui o elemento subjetivo? 1ª Corrente (majoritária) - O crime de desacato exige dolo específico, sendo que a embriaguez do agente é incompatível com esse elemento subjetivo, excluindo o delito. 2ª Corrente (minoritária) - O desacato não exige dolo específico, assim, o estado de embriaguez do agente não exclui o crime. 3ª Corrente (minoritária) - Não é qualquer estado de embriaguez que exclui o elemento subjetivo do crime de desacato. Delito formal, consuma-se no momento em que o sujeito realiza o ato ofensivo. Independe de o sujeito passivo sentir-se ofendido ou de restar abalado o prestígio ou a autoridade da função pública. Por exigir a presença do sujeito passivo, o crime é unissubsistente, não admitindo a tentativa. Concurso de Crimes: O desacato absorve, pelo princípio da consunção, as infrações de menor gravidade objetiva que o integram: vias de fato, a lesão corporal leve, a difamação e a injúria. Se a outra infração for mais grave, como a lesão corporal grave, haverá concurso formal (CP, art. 70). Se o sujeito, com uma só conduta, ofende diversos funcionários, há um só crime. Pena e Ação Penal: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. Competência do JECRIM. A ação penal é pública incondicionada. CORRUPÇÃO ATIVA (art. 333, do CP) Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional. Núcleos: Oferecer - expor à aceitação, apresentar no sentido de que seja aceito pelo funcionário. Prometer - obrigar-se, comprometer-se, garantir a entrega de alguma coisa. É indispensável que não exista exigência ou solicitação por parte do funcionário. O oferecimento ou a promessa por parte do particular devem ser espontâneos e anteriores a ação do funcionário. O tipo penal não apresenta a previsão do verbo dar. Assim, a conduta do particular que dá a vantagem, atendendo a pedido ou exigência do funcionário público é atípica. Elementos Subjetivos do Tipo: Exige-se, além do dolo, o especial fim de agir), contido na expressão "para determiná- lo a praticar (corrupção imprópria), omitir ou retardar ato de ofício (corrupção própria)". O objeto material é a vantagem de qualquer natureza (material ou moral), que deve endereçar-se ao funcionário, não a terceiro (parente ou amigo), mas o delito pode ser realizado mediante interposta pessoa (intermediário). Não há corrupção ativa se a vantagem é oferecida ou prometida ao funcionário depois de sua regular conduta funcional (ativa ou omissiva). Dá-se a vantagem para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício. Também não há crime na hipótese de o sujeito dar ao funcionário pequenas gratificações ou doações em agradecimento a comportamento funcional seu. Não há crime de corrupção ativa se o agente oferece ou promete vantagem para impedir que o funcionário realize um ato ilegal que o prejudica ou que não é de sua competência. Consumação e Tentativa: Crime formal ou de consumação antecipada, atinge o momento consumativo no instante em que o funcionário toma conhecimento da oferta ou da promessa. A recusa do funcionário é irrelevante à consumação. A tentativam depende da forma de execução. Causa de Aumento de Pena (corrupção exaurida): Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço), nos termos do parágrafo único do art. 333, "se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional“. Se o funcionário, em razão da vantagem ou promessa, pratica ato de ofício legal, sem infringir dever funcional, não se aplica a majorante. REINGRESSO DE ESTRANGEIRO EXPULSO Art. 338 - Reingressar no território nacional o estrangeiro que dele foi expulso: Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo de nova expulsão após o cumprimento da pena. Reingressar significa voltar, entrar novamente. Crime instantâneo, consuma-se no momento em que o estrangeiro penetra no território. A tentativa é admissível. Pressuposto: o estrangeiro foi expulso legalmente, nos termos dos arts. 65 a 75 do Estatuto dos Estrangeiros (Lei n. 6815/80). Sujeito ativo só pode ser o estrangeiro, admitindo-se a participação de 3º, nacional ou não, ainda que não expulso. É crime próprio (Greco) e de mão-própria (Bitencourt). DA DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. § 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto. § 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção. Calúnia (CP, art. 138): o sujeito somente atribui, falsamente, ao sujeito passivo, a prática de um falo descrito como crime. Denunciaçãocaluniosa: não somente atribui à vítima, falsamente, a prática de um delito, como leva o fato ao conhecimento da autoridade, causando a instauração de inquérito policial ou de ação penal contra ela. Comunicação falsa de crime ou de contravenção" (CP, art. 340): não há acusação contra pessoa determinada, apenas a comunicação de um fato. Auto-acusação falsa (CP, art. 341): o denunciado não imputa o fato a terceiro, mas a si mesmo. Dar causa - provocar, originar, Diretamente - apresenta a notícia criminal à autoridade policial ou judiciária, verbalmente ou por escrito; Indiretamente - o sujeito dá causa à iniciativa da autoridade por qualquer outro meio (como carta e telefonema anônimos, gestos, rádio, telegrama, televisão, colocação de entorpecente ou objeto furtado na bolsa de alguém, recado à autoridade etc). A ação da autoridade pública deve ter sido causada por conduta espontânea do sujeito. Assim, não há denunciação caluniosa no caso de um réu ou uma testemunha acusar alguém da prática de infração penal durante o interrogatório ou o depoimento. Nessas hipóteses, subsiste a responsabilidade do réu a título de calúnia e da testemunha, a título de falso testemunho. Elemento Subjetivo do Tipo: É o dolo direto. Não há delito quando o sujeito apenas tem dúvida a respeito da existência do crime ou de sua autoria. Momento Consumativo e Tentativa: Consuma-se o delito com o início da investigação policial, administrativa etc ou o processo judicial. O entendimento majoritário é que basta qualquer ato investigatório. COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU DE CONTRAVENÇÃO (CP, art. 340) Art. 340 - Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. É necessário que a autoridade pública aja, iniciando diligências (ouvindo pessoas, colhendo dados etc). Não é preciso, entretanto, que seja instaurado inquérito policial. Refere-se o texto à autoridade pública (judicial, policial ou administrativa). A comunicação precisa ser falsa. A infração penal (crime ou contravenção) não deve ter ocorrido. Elementos Subjetivos do Tipo: É o dolo direto. Se houver dúvida sobre a sua ocorrência, inexiste delito. É preciso que ele tenha plena consciência de que realmente a comunicação é falsa. Momento Consumativo e Tentativa: Crime material, consuma-se com a ação da autoridade (audiência de pessoas, coleta de informações, diligências etc). A tentativa é admissível. AUTO-ACUSAÇÃO FALSA Art. 341 - Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem: Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa. O objeto da auto-acusação deve ser crime inexistente ou cometido por terceiro. Se for atribuída a prática de contravenção, o fato será atípico. A conduta deve ser realizada perante a autoridade (judicial, policial ou administrativa), que tenha o dever de apurar o fato. Não haverá crime quando a auto- acusação se fizer perante funcionário sem essa atribuição ou particular. O conhecimento da prática do delito pode ser levado à autoridade por escrito, verbalmente, por nome suposto. Elemento Subjetivo Do Tipo: É o dolo direto. Momento Consumativo e Tentativa: Crime instantâneo, consuma-se no momento em que a autoridade toma conhecimento da auto- acusação. Crime formal ou de consumação antecipada, torna- se irrelevante para a consumação eventual efeito da conduta (instauração de inquérito policial etc.). Quanto à tentativa, é admissível na forma realizada por escrito; na auto-acusação verbal, a tentativa é impossível (crime unissubsistente). A retratação não tem efeito de extinguir a punibilidade ou o delito, podendo funcionar como circunstância atenuante genérica. FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERÍCIA (art. 342 do CP) Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral Pena - reclusão, de dois a quatro anos, e multa. § 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta. § 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade É necessário que essas pessoas, no momento do fato, se revistam da qualidade jurídica exigida pela figura típica. Controvérsia: A testemunha não compromissada comete crime de falso testemunho? 1ª Corrente (Nucci, Bitencourt, Fragoso) - Não, pois nos termos do que dispõem os art. 206 e 208, do CPP, as pessoas ali referidas não prestam compromisso como testemunha (art. 203, CPP), não tendo a obrigação de dizer a verdade, porque por muito natural se tem que o parente não seja capaz de se libertar da influência afetiva decorrente dessa relação. 2ª Corrente (majoritária) - Sim, pois todos têm o dever de dizer a verdade em juízo (Greco), o compromisso é somente de ordem processual para o juiz valorar a prova, não sendo elementar do crime (como ocorria no Código Penal de 1890). Controvérsia: possibilidade de participação se um terceiro induz ou instiga a testemunha a faltar com a verdade sem que lhe ofereça nada em troca: 1ª Corrente - Não se admite participação. Sustenta- se que o legislador, no tema do falso testemunho, criou uma exceção dualista ao princípio unitário do concurso de pessoas. Quando se trata de "suborno de testemunha", esta responde pelo crime do art. 342, §1º,CP mas aquele que dá, oferece ou promete dinheiro ou qualquer outra vantagem à testemunha, a fim de que ela cometa o falso testemunho, sofre as penas do crime do art. 343, CP. 2ª Corrente - O STF (RHC 81327 / SP) e o STJ, em diversos julgados, vêm entendendo que, apesar de existir o art. 343, admite-se a participação no art. 342, se somente induzir e instigar se a testemunha realmente falte com a verdade (RHC 36287/SP) fazer afirmação falsa - a testemunha afirma uma inverdade a respeito de um fato. Ex.: diz que o réu agiu em legítima defesa (falsidade positiva). negar a verdade (falsidade negativa), o sujeito nega um fato real. Ex.: nega que o indiciado tenha reagido a uma agressão injusta, quando, na verdade, agiu em legítima defesa. calar a verdade (falsidade omissiva) - há a chamada "reticência", pois a testemunha esconde o que é de seu conhecimento ou se recusa a responder. É necessário que o depoimento falso verse sobre fato juridicamente relevante ao deslinde do processo e que possa ser apta, de algum modo, a influir na decisão judicial. Por ser crime de natureza formal, não integra o crime a exigência de o falso testemunho haver influído na decisão da causa (exaurimento), sendo suficiente que tenha incidido sobre fato juridicamente relevante (HC81951-SP, 1ª Turma, Rel. MIn. Ellen Grace, DJ 30/04/2004). Consumação e Tentativa: O falso testemunho se consuma com o encerramento do depoimento (art. 216, CPP). A tentativa, em tese, é admissível, embora de difícil configuração. Ex.: o depoimento, por qualquer circunstância, não se encerra (falta de energia elétrica). Consuma-se a falsa perícia com a entrega do laudo à autoridade. É admissível, em tese, a tentativa.Ex.: o laudo não chega às mãos da autoridade por circunstâncias alheias à vontade do perito (extravio). Retratação (§2º): "o fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade". Para os admitem a participação, alguns entendem cabível a extensão do benefício aos demais corréus, enquanto outros não aceitam a comunicabilidade. Causa Especial de Aumento de Pena (§1º): As penas aumentam-se de 1/6 a 1/3, se o crime é praticado: 1) mediante suborno - nessa hipótese há quebra da teoria monista, pois o corruptor responde pelo crime do artigo 343, CP. 2) com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal - a expressão não inclui o inquérito policial, a uma, por não ser processo, mas procedimento administrativo, a duas, porque já está previsto no caput o falso testemunho em inquérito policial (Nucci e Greco). 3) com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta. Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou interpretação: Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa. Parágrafo único. As penas aumentam- se de um sexto a um terço, se o crime é cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta. 1. Conceito e Objetividade Jurídica: Constitui delito o fato de o sujeito "fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite". O objeto da tutela penal é a administração da justiça. Pretende-se que alguém que tenha uma pretensão não a satisfaça pessoalmente, incumbindo à justiça a sua realização. Ninguém deve ser juiz e parte ao mesmo tempo. Neste crime, o agente despreza a justiça e toma para si a tarefa de realizar o seu direito. 2. Sujeitos Do Delito: Crime comum, pode ser realizado por qualquer pessoa. Tratando-se de funcionário público, entretanto, pode surgir outro delito, como abuso de autoridade, abuso de poder etc. Sujeitos passivos: o Estado e a pessoa diretamente lesada. 3. Elementos Objetivos do Tipo: A conduta consiste em fazer justiça pelas próprias mãos, realizando uma ação tendente a satisfazer uma pretensão. Crime de forma livre, admite qualquer meio de execução, direto ou indireto: fraude, violência física, violência moral (grave ameaça), subtração etc. 4. Elementos Subjetivos Do Tipo: O primeiro é o dolo, vontade livre e consciente de fazer justiça pelas próprias mãos. O tipo reclama um segundo elemento subjetivo (especial fim de agir), contido na expressão "para satisfazer pretensão, embora legítima". Exige-se que o sujeito realize a conduta para a concretização de um fim determinado: satisfazer a sua pretensão. A pretensão deve referir-se a um direito que o sujeito realmente tem ou supõe possuir. Assim, pode ocorrer hipótese de pretensão legítima ou ilegítima. Como a lei fala em pretensão "embora legítima", de rigor admitir-se a ilegítima, necessitando, contudo, que o agente, por fundadas razões a suponha lícita. Se o sujeito tem plena consciência da ilegitimidade de sua pretensão não comete exercício arbitrário das próprias razões, por atipicidade do fato, podendo responder por outro crime, de acordo com o meio executório empregado (furto, estelionato, lesão corporal, violação de domicílio, ameaça etc). O elemento subjetivo é endereçado à satisfação da pretensão legítima ou supostamente legítima. A pretensão pode incidir sobre qualquer direito: real (propriedade, posse etc.), pessoal (contratos) ou de família (guarda de filhos). É necessário que a pretensão, em sua essência, possa ser satisfeita perante o Judiciário. Assim, não há exercício arbitrário das próprias razões nas hipóteses em que o sujeito não poderia levar sua pretensão ao conhecimento da autoridade judiciária. Ex.: dívida prescrita, preço carnal etc. A pretensão pode ser do próprio agente ou de terceiro, nos casos em que age como mandatário etc. 5. Elemento Normativo Do Tipo: Está contido na expressão "salvo quando a lei o permite". Não há delito, por atipicidade do fato, quando a conduta do sujeito está autorizada pela lei, ou seja, quando a lei admite a justiça particular. Ex.: direito de retenção, desforço imediato (art. 319, 1210, §1º, 1219, 1283, todos do CC/2002). Legítima defesa, exercício regular de direito. FAVORECIMENTO PESSOAL (art. 348) 1.Conceito e objetividade jurídica: É o fato de auxiliar autor de crime a subtrair-se à ação de autoridade pública (art. 348 do CP). Bem Jurídico: a administração da justiça criminal. Impõe-se o dever de o sujeito não colocar obstáculos à ação judiciária na luta contra a criminalidade. 2. Sujeitos do delito Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, desde que não seja o co-autor ou partícipe do delito anterior. Entende-se que o advogado também pode ser sujeito ativo desse crime, desde que no fato estejam presentes as elementares da definição legal. Sujeito passivo é o Estado. 3. Tipo Objetivo: A conduta consiste em prestar auxílio a autor de crime com o fim de subtraí-lo à ação da autoridade pública. Quanto às figuras típicas, há dois tipos penais: Simples: quando ao delito anterior é cominada pena de reclusão (art. 348. caput). Privilegiado: quando imposta abstratamente ao crime antecedente pena de detenção (§ lº). Se o auxílio é para subtrair autor de contravenção penal, o fato é atípico. Crime de forma livre, o auxílio admite qualquer modo de realização (material ou moral), como o emprego de meios para a fuga, engano da autoridade, ocultação do autor do delito etc. A expressão "autor de crime" é empregada em sentido amplo, abrangendo o autor propriamente dito, os co-autores e partícipes. O auxílio deve ser prestado após a consumação do delito. Se antes dele ou durante sua prática, haverá co-autoria ou participação no delito antecedente e não favorecimento pessoal. O delito antecedente pode ser doloso, culposo ou preterdoloso, consumado ou tentado. Não há favorecimento pessoal nos seguintes casos (fundamento: não há crime ou inexiste pretensão punitiva ou executória): se, em relação ao fato anterior, ocorreu causa excludente da ilicitude; se incide, no tocante ao fato antecedente, causa excludente da culpabilidade; se houve extinção da punibilidade; se ocorreu escusa absolutória (ex.: art. 181, CP). Se o crime anterior for de ação penal privada ou pública condicionada não se pode falar em favorecimento pessoal enquanto não for oferecida a queixa ou exercida a representação ou apresentada a requisição ministerial. Autoridade pública é a judiciária, policial ou administrativa. Não é necessário que no momento do auxílio o criminoso esteja sob perseguição da autoridade pública. 4. Consumação e Tentativa: Crime material e instantâneo, consuma-se no momento em que o beneficiado, em razão do auxílio do sujeito, consegue subtrair-se, ainda que por breves instantes, da ação da autoridade pública. É necessário o sucesso. Tentativa: se, prestado o auxílio, o beneficiado não se livra da ação da autoridade pública. 5. Tipo Subjetivoé o dolo de subtrair o autor de crime à ação da autoridade. Não há modalidade culposa. 6. Escusa Absolutória (§ 2.°) - causa pessoal de isenção de pena (Nucci, Bitencourt, Damásio e outros) - O legislador isenta de pena o ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso que presta auxílio a este. Preservam-se as relações familiares em detrimento da administração da justiça. Para Greco é hipótese de inexigibilidade de conduta diversa. Para alguns, a enumeração legal é taxativa, não podendo ser ampliada, não abrangendo os afins, nem a relação de adoção. Neste caso, porém, nada impediria que o sujeito fosse absolvido por inexigibilidade de conduta diversa, excludente da culpabilidade. Em sentido contrário, sustenta-se a aplicação da analogia in bonam partem a fim de alcançar o companheiro e os laços de adoção. 7. Pena e Ação Penal: Caput (simples) - detenção de 1 a 6 meses e multa. §1º (Privilegiado) - detenção de 15 dias a 3 meses e multa. Competência do JECRIM (cabe transação penal e suspensão condicional). Ação penal pública incondicionada. FAVORECIMENTO REAL (art. 349, CP) 1. Conceito e Objetividade jurídica: pune-se a conduta de "prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime" (CP, art. 349). Na receptação, o sujeito recebe a coisa para si ou para terceiro com o intuito de tirar proveito econômico, enquanto que no favorecimento real a intenção é somente de ajudar o criminoso. Bem jurídico: é a administração da justiça. Procura-se evitar que se preste colaboração a criminoso após a prática do crime no sentido de tornar seguro o proveito obtido, dificultando a ação da justiça. 2. Sujeitos do delito Sujeito Ativo - crime comum, pode ser cometido por qualquer pessoa, com exceção do concorrente no delito antecedente ou do receptador. Sujeito passivo é o Estado. 3. Tipo Objetivo O legislador empregou a expressão "co-autoria" no sentido amplo, abrangendo a co-autoria propriamente dita e a participação. É necessário que o sujeito que presta o auxílio não tenha sido co-autor ou partícipe do delito anterior. Se prometeu auxílio antes ou durante a anterior prática delituosa, responde como partícipe do crime antecedente e não por favorecimento real. A conduta consiste em prestar auxílio a criminoso com o fim de tornar seguro o proveito do crime. Crime de forma livre, a prestação de auxílio admite qualquer forma de execução: direta ou indireta, material ou moral. Proveito é toda utilidade, material ou não, abrangendo o objeto material do delito, o preço do delito e as coisas obtidas com a prática criminosa (ex.: o dinheiro obtido com a venda do objeto material). Ficam excluídos os instrumentos do crime, pois caracterizaria participação. O tipo pressupõe a prática anterior de um crime, patrimonial ou não, tentado ou consumado. Se a infração anterior é contravenção penal, o fato é atípico. Não há favorecimento real nos seguintes casos (fundamento: não há crime): se, em relação ao fato anterior, ocorreu causa excludente da ilicitude; se incide, no tocante ao fato antecedente, causa excludente da culpabilidade; Subsiste o favorecimento real, mesmo se houver extinção da punibilidade, ressalvando-se as hipóteses de abolitio criminis e anistia. Também há crime nas hipóteses de escusas absolutórias (ex.: art. 181, CP). 4. Tipo Subjetivo é o dolo - vontade livre e consciente de prestar colaboração a criminoso. É necessário que o sujeito tenha consciência de que, por intermédio do auxílio, tornará seguro o proveito do crime. Assim, além do dolo, o tipo reclama outro elemento subjetivo (especial fim de agir): o fim de tornar seguro o proveito do delito. Se o comportamento do sujeito visa à obtenção de lucro, haverá crime de receptação. Não há forma culposa. 5. Consumação e tentativa Trata-se de Crime formal, portanto, consuma-se com a idônea prestação do auxílio, ainda que a pessoa beneficiada não tenha conseguido tornar seguro o proveito do crime anterior. A tentativa é admissível, se fracionável o iter criminis. 6. Pena e Ação Penal Pena - detenção de 1 a 6 meses e multa. Competência do JECRIM (cabe transação penal e suspensão condicional). Ação Penal é pública incondicionada.
Compartilhar