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roteiro completo sucessão

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UNIDADE I
Aspectos Gerais do Direito das Sucessões
1.1. Breves considerações a respeito da evolução histórica e pontos importantes:
O direito sucessório é um dos ramos do direito civil mais polêmico, sendo alvo frequente de inúmeras discussões e divergências. Tal fato se justifica, principalmente pelo fato de que, é tal ramo que disciplina a forma da divisão da herança de uma pessoa após a sua morte, determinando para quem e qual é a parte que será destinada a cada um dos herdeiros do de cujus.
O direito sucessório passou por várias modificações e ainda passa, como é o caso da decisão recente do CNJ – Conselho Nacional de Justiça – onde se tem que o concubino impuro (nome que se dá àquele que envolve-se com uma pessoa que já é casada) faz jus ao recebimento da herança concorrendo com o cônjuge legítimo. Sabe-se que, há tempos atrás a herança era dividida diferenciando os filhos legítimos (nascidos da relação de casamento) dos ilegítimos (nascidos fora do casamento), bem como os naturais (filhos biológicos) dos civis (adoção ou laço afetivo), porém, com o advento da carta magna, qualquer diferenciação entre os filhos é proibida, ou seja, não pode haver diferenciação no que diz respeito aos direitos dos mesmos, seja no que se refere ao direito de família ou direito sucessório.
As inovações não se resumem apenas na igualdade entre os filhos, sendo que o código civil pode ser considerado como um grande marco no direito sucessório. É inovador até mesmo se levaar em consideração os diplomas legais de outros países. Isto porque, até o advento da diploma civil em vigência, o cônjuge sobrevivente somente era chamado a suceder na ausências de descendentes e ascendentes do de cujus, recebendo o mesmo a totalidade da herança. Se o de cujus falecesse deixando descendentes ou ascendentes, ao cônjuge era conferido apenas o que lhe cabia a título de meação (o que depende do regime de bens adotado por oportunidade do casamento), sendo a herança do de cujus dividida entre os descendentes ou ascendentes. 
Porém, com o advento do novo diploma legal, o cônjuge passou a ser considerado como concorrente, podendo ser chamado a herdar ainda que exista descendentes ou ascendentes, conforme se verá no momento oportuno. Quanto ao primeirro a concorrência dependerá do regime de bens, quanto ao segundo, a concorrência será existirá independentemente do regime de bens adotado pelo casal.
Há ainda que se ressaltar que, para um bom entendimento do direito sucessório, indispensável é uma ligação direta com o direito de família, devendo trazer à baila os conhecimentos adquiridos quando daquela disciplina, haja vista que, a influência direta de um ramo sobre o outro.
1.2. Conceito de sucessão e direito sucessório
O direito sucessório tem como objetivo disciplinar a forma de divisão da herança de uma pessoa após a sua morte (pessoa que será denominada de de cujus,) determinando a forma de divisão, legitimidade, capacidade sucessória, exclusão, dentre diversas outras questões. Porém, para que seja possível a sua análise, necessário é analisar o próprio conceito de sucessão, do que cuidará a seguir.
Segundo ensinamentos de Carlos Roberto Gonçalves (2010, p 1), a terminologia “sucessão’’, em seu sentido amplo, significa o ato através do qual uma pessoa assume o lugar de outra, substituindo-a na titularidade de determinados bens ou até mesmo determinado cargo. A título de exemplo, basta recorrer ao contrato de compra e venda, onde o comprador sucede ao vendedor, em todos os seus direitos no que diz respeito à propriedade do bem. 
Recorre-se ainda aos ensinamentos de Silvio Rodrigues (2002) que preceitua que a ideia de sucessão, em regra, sugere a transmissão de bens, implicando a existência de um adquirente, substituindo o antigo titular, podendo a substituição ocorrer a título gratuito ou oneroso, entre vivos (inter vivos) ou em razão da morte (mortis causa).
Por fim, pode-se citar o entendimento de Barros citado por Cateb (2010) que afirma que o termo sucessão, muitas vezes considerada como sinônimo de herança (embora não se deva confundir) é empregada como forma de significar a transmissão dos direitos ativos e passivos de uma pessoa falecida aos seus sucessores. 
Neste diapasão o direito sucessório, segundo Maria Helena Diniz (2010, p. 3) pode ser entendido como sendo “o conjunto de normas que disciplina a transferência do patrimônio de alguém, depois de sua morte, ao herdeiro, em virtude de lei ou de testamento”.
No mesmo sentido é o entendimento da Silvio Rodrigues (2002, p. 3) que em poucas palavras ensina que o direito sucessório é o conjunto de princípios jurídicos que regulamenta a forma de transmissão do patrimônio de uma pessoa, após a sua morte, aos seus sucessores. 
Resumindo o direito sucessório tem como finalidade disciplinar a divisão de herança, determinando o quinhão a ser destinado a cada um dos herdeiros, a capacidade sucessória, as possibilidades de exclusão, dentre diversas outras questões, sendo muito mais amplo do que se pode imaginar.
Para se entender melhor o direito sucessório é necessário entender as espécies de sucessão. A sucessão pode ser legítima ou testamentária, singular ou universal, conforme se verá a seguir.
1.2.1. Espécies e sucessão:
Sucessão legítima ou testamentária
A Sucessão legítima é aquela que decorre da vontade da lei estabelecendo uma ordem de preferência, ou seja, os primeiros chamados a suceder. Tal ordem, em linhas gerais, encontra-se disciplinada pelo artigo 1829. Tal artigo é complexo devendo ser analisado com cuidado, conforme se verá a existência do mais próximo exclui o mais remoto. Para se determinar a ordem da vocação legítima, parte do pressuposto de que uma pessoa prefere um em detrimento do outro. Veja-se o seguinte exemplo:
EXEMPLO: José é casado com Maria. O casal possui dois filhos, cada um possuindo dois filhos. José é filho de Adão e Joana. José falece. São seus herdeiros são os descendentes (filhos e netos) e ascendentes (pais). Os descendentes são os primeiros herdeiros de José e dente os descendentes os filhos (linha reta de 1º grau) são mais próximos que os netos (linha reta de segundo grau), de forma que, os filhos excluem os netos, recebendo a herança de José. Quanto a Maria, a concorrência poderá ou não existir, dependendo do regime de bens.
Considerando o exemplo acima, percebe-se que todos os descendente (filhos e netos), os ascendentes (pais), bem como, o cônjuge (Maria), são herdeiros legítimos, porém, na hora de se dividir uma herança, a classe mais próxima excluirá a mais afastada, ou seja, descendentes excluem ascendentes. A ordem de preferência encontra-se prevista no artigo 1829 determinando que assim prescreve:
Artigo 1829. A sucessão legítima defere-se na seguinte ordem:
I - aos descendentes em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se este era casado com o autor da herança no regime da comunhão universal de bens, de separação obrigatória ou comunhão parcial, se o falecido não deixou bens particulares;
II - as ascendentes em concorrência com o cônjuge qualquer que seja o regime de bens;
III - ao cônjuge sobrevivente na hipótese de ausência de ascendente e descendente, será herdeiro único, qualquer que seja o regime de bens;
IV - aos colaterais até quarto grau.
Pode-se dizer que a sucessão legítima ou ab intestato “é uma complementação natural, com a transferência do patrimônio aduirido em vida a certas e determinadas pessoas, nomeadas pela lei, sem qualquer interferência da vontade de seu titular. Verifica-se quando o autor do patrimônio morre sem deixar testamento ou o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não tiverem sido testados ou, ainda, se estes caducar ou mesmo for declarado nulo (1788)” .(CATEB, 2010).
A sucessão legítima sempre ocorrerá nas seguintes situações:
1º) Se a pessoa falecer sem deixar testamento ou deixar bens que não foram contemplados no mesmo ou se o testamento deixado por inválido;
2º) Se a pessoa falecer deixando herdeiro necessário(descendentes, ascendentes e cônjuge), pois neste caso há a reserva da parte legítima.
A sucessão testamentária é aquela que decorre da própria vontade do de cujus que, em vida, deixa um documento onde expõe a sua vontade, dizendo como que pretende dividir a herança e quem pretende beneficiar.
De acordo com os ensinamentos de Dimas Messias de Carvalho a sucessão testamentária é “aquela que se dá e obediência à vontade do defunto, prevalecendo, contudo, as disposições legais naquilo que constitua ius cogens, bem como no que for omisso ou silente o instrumento. (CARVALHO, 2010, p. 71).
A sucessão testamentária só ocorrerá se a pessoa que faleceu deixou testamento válido. O testamento é negócio jurídico formal, devendo seguir todos os requisitos impostos pela lei, sob pena de não ter validade. Os requisitos legais variam de acordo com o tipo de testamento feito, valendo ressaltar que seis são as espécies de testamento existentes no direito brasileiro.
Pode o testamento ser entendido como o “ato personalíssimo e revogável pelo qual alguém, de conformidade com a lei, não só dispõe, para depois de sua morte, no todo ou em parte (CC. Art. 1857, caput) do seu patrimônio, mas também faz estipulações extrapatrimoniais.” (DINIZ, 2010, p. 185)
Sucessão universal e singular
A sucessão universal é aquela onde há a transmissão de todo o patrimônio do falecido ou parte dele aos seus herdeiros, sejam testamentários ou legítimos. Pode-se dizer que toda pessoa chamada a suceder como herdeiro legítimo é universal.
Segundo Carvalho a sucessão universal é aquela onde “transfere-se ao sucessor herdeiro a totalidade do patrimônio, ou uma fração determinada, abrangendo tanto o seu ativo como o seu passivo”. (CARVALHO, 2010, p. 4).
O herdeiro universal pode ser legítimo ou testamentário. Valendo dizer que, toda vez que for legítima, automaticamente será universal, porém, se for testamentária, dependerá da forma como foi feita a disposição.
A sucessão singular é aquela onde uma pessoa sucede a outra em determinado bem específico e individualizado. Para que uma pessoa seja herdeira singular é necessário que seja testamentária.
Segundo mesmo doutrinador acima na sucessão singular “é transferido ao legatório um bem específico e determinado, sem ter de responder pelo passivo da herança. Não recebe uma fração, mas um bem certo, e só responde por algum débito se o de cujus tiver onerado ao legado.” (CARVALHO, 2010, p. 4)
A distinção do tipo de sucessão, nem sempre, é tarefa fácil, por exemplo, o fato de uma pessoa falecer deixando apenas uma bicicleta não quer dizer que seja a sucessão singular, pois se tal objeto for tudo que a pessoa deixar, será a sucessão universal. O que faz a sucessão ser singular ou universal não é o número de bens deixados e sim a que título é chamado a suceder.
1.3. Princípio da saisine e seus efeitos
A palavra saisine tem como origem a palavra grega sacire, tendo o sentido de apoderar-se. Assim, o princípio da saisine quer dizer a transmissão do patrimônio do de cujus aos seus herdeiros, apoderando-se, estes, dos bens deixados pelo falecido.
De acordo com o prescrito no arigo 1.784, a sucessão transmite-se, desde logo, aos seus herdeiros legítimos (herdeiros por força de determinação legal) e testamentários (herdeiros por vontade do testador). Ressalta-se que, a transmissão ocorre com a morte do autor da herança, conforme melhor veremos.
Transmissão da propriedade x transmissão da posse (posse direta e indireta). Há que se ressaltar que, com a morte do de cujus, transmite-se ao herdeiro legítimo tanto a propriedade do bem como a posse, porém, somente a indireta, sendo que a direta será concedida ao inventariante. Por outro lado, os herdeiros legatários, com a morte do de cujus, recebem somente a propriedade, sendo que, a posse somente é adquirida posteriormente quando for aprovado o testamento.
A administração dos bens deixados pelo falecido, é concedida ao Inventariante que, é nomeado pelo Juiz de Direito, dentro da ação de inventário. O inventariante possui uma série de obrigações, sendo dele a responsabilidade pelos informações, gerência dos bens, dentre outras questões.
De acordo com os ensinamentos de Caio Mário da Silva Pereira (2007), são efeitos do princípio da saisine:
a sucessão se abre no exato momento do falecimento do de cujus, ocorrendo uma substituição na titularidade da propriedade dos bens = subjetiva;
 com o falecimento transmite-se aos herdeiros a posse e a propriedade, com exceção dos herdeiros legatários que somente recebem a propriedade;
Os herdeiros possuem legitimidade ad causam (ou seja, legitimidade para representar o espólio ativa ou passivamentee em juízo);
Se o herdeiro falece após o recebimento da herança, transmite aos seus herdeiros o patrimônio recebido;
Mesmo que os bens não estejam individualizados, a herança pode ser objeto de transmissão inter vivos, seja a título oneroso ou gratuito.
Após toda análise a respeito das espécies de sucessão, bem como, do princípio da saisine, importante é analisar o momento da abertura da sucessão, bem como, o lugar de sua abertura do que se cuidará no presente momento.
2. Momento da abertura da sucessão e Regulamentação:
Saber identificar o momento da abertura da sucessão é de suma importância, conforme se verá. A sucessão considera-se aberta no exato momento do falecimento do de cujus, independentemente, da abertura do processo de inventário ou não. 
É muito comum se confundir o momento da abertura da sucessão com abertura do processo de inventário, porém, são duas coisas completamente diversas, sendo necessário identificá-los e separá-los. Quando uma pessoa falece, no exato momento, como dito acima, considera-se aberta a sucessão. Depois do falecimento, deixando bens o falecido, necessário é a feitura do inventário que, é o processo competente para determinar os herdeiros e bens, dividindo-os entre os herdeiros legítimos ou testamentários. Estabelece o Código de Processo Civil que, o prazo para o ajuizamento da ação de inventário é de 60 dias, contados da abertura da sucessão, porém, muito se tem discutido qual é a consequência do não ajuizamento. O que se pode afirmar é que, a princípio, o não ajuizamento dentro do prazo não acarreta consequência alguma, devendo se atentar apenas ao recolhimento do ITCD – imposto de transmissão causa mortis – dentro do prazo de 180 dias contadas da abertura da sucessão, sob pena de incidência de juros.
Assim, considere que A tenha falecido no dia 20 de janeiro às 23:59 hs, do ano de 2002 e o inventário tenha sido ajuizado no dia 15 de junho do mesmo ano. O momento da abertura da sucessão será o dia 20 de janeiro.
Pode até parecer insignificante identificar o momento da abertura da sucessão, porém, deve-se atentar para o disposto no artigo 1787 do CC, que determina que a divisão dos bens deixados pelo de cujus, será determinada pela lei que se encontrava em vigência no momento da abertura da sucessão. Veja-se o seguinte exemplo:
	Considere que A tenha falecido no dia 10 de janeiro de 2003 às 23:59 hs e que o processo de inventário tenha sido ajuizado no mês de maio do ano de 2003. Percebe-se que quando da abertura do processo de inventário, já estava em vigência o Código Civil votado e aprovado em 10 de janeiro de 2002 que entrou em vigência no dia 11 de janeiro do ano de 2003. A lei que determinará a divisão da herança será as constante do código civil de 1916, porém, as normas processuais, serão as que estavam em vigência no momento da abertura da ação. Parece estranho, mas é perfeitamente possível a aplicação das normas contidas no código revogado.
Assim, pode-se dizer que, é perfeitamente possível a aplicação das normas do código civil de 1916 em processos de inventários em trâmite nos dias atuais ou até mesmo, naqueles que ainda não foram ajuizados. Observando-se que se aplicará, nestes casos, o código civil de 1916 quanto à forma de partilha dos bens e as normas em vigencia do CPC.
3. Lugarda abertura da sucessão
Como o momento da abertura da sucessão é o da morte, é como associar o lugar da abertura da sucessão ao lugar da morte, porém, não é correta esta associação. O lugar da abertura da sucessão encontra-se previsto no artigo 1785 que assim prescreve “a sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido”. 
Valendo dizer que, o lugar da abertura da sucessão determina a competência para conhecimento e julgamento do processo do inventário. Porém, deve-se atentar para o fato de que, como é competência fixada considerando território, trata-se de competência relativa, passível de alteração, por vontade das partes, desde que, preenchidos todos os requisitos para tanto.
3.1. Competência para julgamento e conhecimento do inventário
Segundo dispõe o Art. 96 do CPC, o processo de inventário deve ser ajuizado no último domicílio do falecido, ou seja, o lugar da abertura da sucessão, ainda que o falecimento tenha ocorrido em lugar diverso. Porém, nem sempre é possível verificar o lugar do domicílio do falecido, talvez, porque não o tivesse ou possuía mais de um domicílio em locais diversos, assim, é necessário analisar algumas exceções à regra.
Exceções:
Mais de um domicílio = possuindo a pessoa mais de um domicílio, será competente para julgar e conhecer o processo qualquer um deles;
Sem domicilio certo, com bens imóveis = não possuindo a pessoa domicílio certo, porém, possuindo bens imóveis, será competente para analisar o lugar da situação dos bens;
Bens em locais diversos = havendo bens em locais diversos (Comarcas distintas) será competente o lugar do falecimento.
Como dito, trata-se de competência relativa, de forma que, é muito comum inventários serem ajuizados em locais diversos dos estabelecidos acima. Muito embora esta seja a prática, é importante atentar-se para o que é legal.
UNIDADE II
AQUISIÇÃO DA HERANÇA. ACEITAÇÃO E RENÚNCIA
	
Conforme determina o princípio da Sansine, quando uma pessoa falece, o seu patrimônio transmite automaticamente aos seus herdeiros, porém, fica pendente da aceitação ou renúncia por parte do herdeiro seja ele legítimo ou testamentário, ou seja, a transmissão não é tão automática assim. Muitas vezes, tal faculdade é desconhecida, já que, é raro uma pessoa renunciar ao recebimento de uma herança, sendo a regra a aceitação, conforme melhor se verá no decorrer desta unidade.
A aceitação e a renúncia são dois institutos de grande relevância, devendo ser feita uma análise cuidadosa a respeito.
1. ACEITAÇÃO DA HERANÇA
Conceito:
De acordo com os ensinamentos de Maria Helena Diniz, “A aceitação, ou adição da herança, vem a ser o ato jurídico unilateral pelo qual o herdeiro, legítimo ou testamentário, manifesta livremente sua vontade de receber a herança que lhe é, ipso iure, transmitida.” (DINIZ, 2010, p.66)
		
A aceitação da herança é considerada como uma confirmação, já que, em regra, a pessoa chamada a suceder atende ao chamado. Desta forma, apesar de ser dada em momento posterior ao falecimento do de cujus, após manifestada a aceitação, os efeitos retroagem à data do falecimento, podendo afirmar então que, a aceitação possui efeito ex tunc. Neste sentido é o que prescreve o artigo 1804 do CC-02 que prescreve: “Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão ao herdeiro, desde a abertura da sucessão”
A aceitação, como dito, é a regra, porém, é possível a renúncia. Num primeiro momento, poderia se pensar que o herdeiro somente teria interesse em renunciar a herança, se esta fosse composta de um passivo (dívidaa) maior que um ativo (bens), porém, esta preocupação não faz sentido já que, a aceitação não traz prejuízo ao herdeiro, já que, os encargos só transmitem até a força da herança por força do artigo 1792, de forma que não haveria prejuízo algum para o herdeiro.
Veja-se o seguinte exemplo:
	EXEMPLO: José é viúvo e pai de João, Pedro e Paulo. José faleceu em 10-02-2012, oportunidade em que, deixou uma casa no valor de R$ 100.000,00 e um carro no valor de R$ 30.000,00. Além do patrimônio ativo, José deixou uma dívida no valor de R$ 200.00,00. Os filhos de José só respondem pela dívida até o montante de R$ 130.000,00, de forma que, não possuem obrigação de pagar a diferença de R$ 70.000,00. Isto porque, a dívida transmite até a força da herança, ou seja, R$ 130.000,00, hipótese em que o credor ficaria com o prejuízo.
Como a aceitação é a regra e prejuízo algum terá o herdeiro, as formas de aceitação são diversas, não estabelecendo a lei uma forma rígida, como ocorre com a renúncia. São formas de aceitação existentes.
Formas de aceitação 
expressa = por aceitação expressa deve-se entender a aceitação feita por escrito, sendo certo que, esta não é a forma mais comum. A aceitação expressa encontra-se prevista na 1ª parte do artigo 1805. 
tácita = a aceitação tácita é aquela que resulta de atos praticados pelos herdeiros, compatíveis com atos de pessoas que aceitam a herança (RODRIGUES, 2010), entendimento este extraído da 2ª parte do artigo 1805. A aceitação verbal é considerada como aceitação tácita. Deve-se ressaltar que, alguns atos não exprimem aceitação, tais como, o pagamento do funeral, feitura de benfeitorias necessárias, dentre outros, conforme consta do § 1º do artigo 1805.
presumida = o herdeiro pode simplesmente, diante do falecimento, ficar em silencia, não praticando quaisquer atos que exprimem tal aceitação, hipótese em que, poderá o interessado provocar judicialmente o herdeiro para obter a informação. Pode-se dizer que, aceitação presumida, é aquela que se dá diante da provocação de um interessado em saber se o herdeiro aceitará ou não a herança. Quando tal situação ocorre, o herdeiro é citado para se manifestar dentro do prazo nunca superior a trinta dias, de forma que, se permanecer silente, considerar-se-á aceita a herança, conforme artigo 1807. Para que esta ação seja ajuizada, é preciso que a pessoa possua legitimidade para tal, conforme prevê o artigo 1947. Não há um prazo prescricional para que a ação seja ajuizada, o que há, é um prazo mínimo para que a pessoa espere para ajuizar a ação, qual seja, 20 dias. É como se, devesse respeitar o sentimento da pessoa que perdeu o ente querido. Após o ajuizamento da ação, o réu será citado para que, no prazo de até 30 dias, manifeste a aceitação ou renúncia, sendo que, o silêncio, neste caso, subentende-se aceitação, conforme já mencionado anteriormente.
Aceitação feita pelos sucessores = quando o de cujus falece, o poder de aceitar ou não é do herdeiro, porém, se este falece, antes de se manifestar, porém, depois de ser chamado a herdar, a faculdade de aceitar ou não passará aos seus sucessores.
Aceitação pelo tutor ou curador = estes casos ocorrem quando o herdeiro está sob a tutela ou curatela de alguém, de forma que, não possuindo legitimidade para manifestar se aceita ou não, passa a mesma para o tutor ou curador, sendo que, a renúncia depende de autorização expressa, artigo 1748, II e 1781. Aceitar, mais uma vez, é a regra.
Aceitação por mandatário ou gestor de negócios = a primeira seria a hipótese de uma pessoa dar poderes para que, alguém (seja advogado ou não), manifeste a sua aceitação. Já a aceitação por gestor de negócios, só terá validade se ratificada posteriormente pelo herdeiro.
Aceitação pelos credores = se a renúncia por parte do herdeiro for lesiva a credores, poderão estes, aceitar a herança, desde que, autorizado judicialmente, óbvio que, a aceitação será proporcional ao crédito a ser recebido, de forma que, a sobra retornará ao monte partilhável (artigo 1781 e § 1º). Muitas vezes, uma pessoa é devedora de uma obrigação e não tem patrimônio para satisfaze-la, sendo que, recebendo uma herança, passa a ter condição. Se o devedor renunciar, continua sem patrimônio.
2.1.3. Impossibilidade de aceitação parcial
O herdeiro tem a faculdade de não aceitar a herança, porém, se opta pela aceitação deve ser total e nunca parcial. Porém, há que se analisar a hipótese de um mesmo herdeiroser chamado a suceder como herdeiro legítimo e como herdeiro testamentário, desta forma, poderá ele aceitar a herança legítima e renunciar a testamentária ou vice-versa. Tal fato, não configura aceitação parcial.
2.1.4. Irrevogabilidade da aceitação
Uma vez proferida a aceitação, não poderá o herdeiro renunciá-la, sendo que, a aceitação é irrevogável, conforme preceitua os artigos 1804 e 1812. Tal impossibilidade não existia no código civil de 1916 que, permitia a revogação da aceitação ou da renúncia. Assim, como é possível a aplicação da norma constante do código civil de 1916, deve-se ressaltar que, sendo a lei daquele diploma aplicável, será possível a revogação.
2.1.5. Anulação ou revogação
Embora a regra seja não ser possível a revogação, em alguns casos, será possível requerer a anulação ou revogação da aceitação, porém, trata-se de exceção, sendo cabível somente se o herdeiro provar que aceitou agindo em erro, dolo ou coação (vícios do consentimento). Pode-se dizer que a revogação somente se dará por força de decisão judicial e nunca única e exclusivamente por vontade da pessoa.
2. 2. RENÚNCIA DA HERANÇA
Conforme nos ensina Rodrigues a renúncia “É o ato solene pelo qual uma pessoa, chamada à sucessão de outra, declara que a não aceita” (RODRIGUES)
Trata-se de um ato unilateral, dependendo única e exclusivamente da vontade do herdeiro, de forma gratuita, pura e simples, sem destinatário. O destinatário não é indicado pelo renunciante, todos os demais co-herdeiros são beneficiados. Se o renunciante indica um beneficiário está fazendo uma doação, devendo pois ser feita da forma correta com a incidência dos tributos legais (ITCD)
Há que se ressaltar que, a renúncia não se confunde com a desistência, pois aquela, se dá antes da aceitação e está após a aceitação, o que não é permitido, pois a aceitação é irrevogável.
2.2.1. Impossibilidade de renúncia parcial
Não é possível a feitura da renúncia parcial, de forma que, ou o herdeiro aceita toda a herança ou a renuncia como um todo, conforme dispõe o artigo 1808. No entanto, deve-se considerar a possibilidade de uma pessoa ser chamada a herdar como herdeiro legítimo e testamentário, assim, poderá aceitar toda a herança legítima e recusar a testamentária, ou vice-versa.
A renúncia não pode ser feita sob condição, conforme dito, deve ser pura e simples. Se, embora proibido, a renúncia é feita sob condição, considera-as que, não há a condição, valendo a renúncia como pura e simples, de acordo com o artigo 1.808, § 1º. Ou seja, a renúncia subsistirá ficando sem efeito a condição ou termo.
2.2.2. Forma da renúncia
Como a renúncia é a exceção e de alguma forma pode prejudicar alguém, ainda que seja o próprio herdeiro, a renúncia é negócio jurídico solene, prescrevendo a lei a forma que deve ser observada para a sua feitura, sob pena de não ter validade. 
A forma encontra-se prevista no artigo 1806, que determina que a renúncia deva ser por instrumento público, ou termo nos próprios autos (nos autos do inventário)
Os doutrinários tem feito o levantamento da seguinte discussão: Pode a renúncia ser feita por mandatário? O entendimento é no sentido de que, para que seja possível a renúncia via procuração, é necessário que a pessoa tenha poderes especiais.
2.2.3.Capacidade do renunciante
Toda pessoa capaz para a prática dos atos da vida civil é capaz par a renúncia da herança, porém, se a pessoa é casada, deve ter o consentimento do outro consorte, salvo se o regime for o da separação de bens obrigatória. (RODRIGUES, 2010). Porém, mais uma crítica deve ser feita: qual é a finalidade de se exigir o consentimento do cônjuge quando se tratar de outro regime que não a comunhão universal? Fica a pergunta feita a vocês, acadêmicos do curso e direito.
Efeitos da renúncia de acordo com os ensinamentos de DINIZ (2010)
o renunciante é tratado como se nunca tivesse exigido.
os descendentes do renunciante não herdam por representação como acontece na indignidade e deserdação, já que, não podem representar alguém que não existiu.
na sucessão testamentária a renúncia caduca o testamento, salvo se houver direito de acrescer ou substituto nomeado pelo próprio testador;
aquele que renuncia a herança pode aceitar o legado ou vice-versa, pois são títulos diversos.
o renunciante não perde o direito de administrar ou usufruir dos bens que por seu repúdio foi para os seus descendentes o que, somente acontecerá se o renunciante for o único na sua linha.
A irrevogabilidade
Da mesma forma como ocorre com a aceitação, a renúncia é irrevogável e irretratável, de acordo com o previsto no artigo 1812. Ficando a mesma ressalva feita quando da análise da aceitação no que diz respeito ao código civil anterior que, pode ser aplicado, se falecimento se deu na vigência daquele diploma, onde se permitia a revogação.
Destino da herança renunciada
Segundo dispõe o artigo 1810, 1ª parte, a parte renunciada se junta ao monte, acrescendo às partes dos demais herdeiros. Ou seja, A, B, C e D são herdeiros de uma pessoa. B renuncia a herança, será a mesma dividida em três partes de forma igualitária entre A, C e D.
Os filhos do renunciante não herdam a parte do renunciado, ao contrário do que ocorre com os filhos do deserdado ou indigno, conforme artigo 1811. Alguns consideram tal fato injusto.
Se o renunciante for o único herdeiro de sua classe é chamada à sucessão, a próxima classe, assim, se o renunciante é filho único, porém, possui três filhos, os filhos herdarão a herança, considerando a renúncia do pai, não por representação e sim por direito próprio. Este entendimento pode ser extraído do disposto no artigo 1810, 2ª parte do CC/02.
O mesmo raciocínio acima é utilizado quando todos os descendentes de primeiro grau renunciam, de forma que, a herança será transferida para outros descendentes, hipótese em que, a sucessão se dará por cabeça e direito próprio e não por representação. 
UNIDADE III
CESSÃO DA HERANÇA – CESSÃO DE DIREITOS HEREDITÁRIOS
A cessão de direitos hereditários é possível tanto de forma oneroso como de forma gratuita, conforme e verá a seguir.
3.1. Cessão da herança gratuita – cessão de direitos hereditários
Antes do inventário dos bens deixados pelo falecido finalizar recebendo, oportunidade em que, será deferido a cada herdeiro aquilo que lhe cabe, é possível que o herdeiro queira transferir os seus bens a terceira pessoa de forma gratuita ou onerosa. Se a cessão da herança for de forma gratuita, haverá incidência de ITCD (imposto de transmissão causa mortis e doação). Nesta hipótese, haverá a incidência, por duas vezes do imposto ITCD, o primeiro quando da transmissão do falecido aos herdeiros e a segunda, quando o herdeiro cede os seus direitos. 
Embora, muitas vezes, encontra-se na prática algumas cessões de bens específicos, tal situação não é permitida, pois antes da partilha, o herdeiro não é proprietário de bem específico e sim de uma parte do todo. Exemplo, imagine que uma pessoa seja herdeira de 1/5 de uma casa e 1/5 de um carro, caso queira ceder apenas a sua parte na casa, não poderá, a cessão deverá ser feita de toda a sua herança.
3.2. Cessão da herança onerosa – cessão de direitos hereditários
A cessão da herança poderá se dá de forma onerosa, hipótese em que teremos a cessão de direitos hereditários onerosa e não compra e venda, pois o que se está cedendo são apenas direitos e não propriedade de bens específicos. Neste caso, para saber se a transferência terá ou não incidência de imposto, é necessário verificar os bens que compõem a herança. Se houver bem móvel, não terá incidência de imposto, e se o bem for imóvel, gerará incidência da ITBI – Imposto de transmissão de bens imóveis. Como falado acima, não é permitida a cessão sobre bem específico.
A alíquota do ITCD e do ITBI são diferentes, da mesma forma que, a avaliação do bem, também, é feita por pessoa diversa. Se for ITBI a incidência será sobre o valor da avaliação feita pelo municípioonde o bem está localizado. Se ITCD a incidência será sobre o valor da avaliação feita pela administração fazendária.
UNIDADE IV
HERANÇA JACENTE / HERANÇA VACANTE
4.1. Considerações iniciais
Quando uma pessoa falece, deixando patrimônio, o mesmo transfere-se aos seus herdeiros. Os herdeiros de uma pessoa, como já foi objeto de estudo, podem ser testamentários ou legítimos. Porém, caso a pessoa faleça sem deixar herdeiros, sejam legítimos ou testamentários, ou quando não são os mesmos conhecidos, o patrimônio será arrecado e após certo lapso temporal incorporará ao patrimônio do Estado. No entanto, até que o patrimônio incorpore definitivamente ao domínio do Estado, todo um procedimento deve ser feito, conforme se verá a seguir.
Neste procedimento, o que se objetiva é verificar, exatamente, a existência ou não de herdeiros do falecido. Certo é que, a transmissão do patrimônio do de cujus ao Estado, não se dá de forma automática, tão pouco, de forma direta.
4.2. Conceitos
Para que se possa entender de forma efetiva o procedimento, necessário é que antes se faça uma breve análise conceitual de herança jacente e vacante.
4.2.1. Herança Jacente
Segundo ensinamentos de Gonçalves a herança jacente existe “Quando se abre a sucessão sem que o de cujus tenha deixado testamento, e não há conhecimento da existência de algum herdeiro, diz-se que a herança é jacente” completando afirma que, “consiste, em bem verdade, em um acervo de bens, administrado por um curador, sob fiscalização da autoridade judiciária, até que se habilitem os herdeiros, incertos ou desconhecidos, ou se declare por sentença a respectiva vacância" (GONÇALVES, 2010). 
No mesmo sentido nos ensina Monteiro que “Herança jacente vem a ser aquela cujos herdeiros não são conhecidos, ou que ainda não foi aceita pelas pessoas sucessíveis.” (MONTEIRO, 2003, p. 73) 
A Herança Jacente ocorre quando “não herdeiro certo e determinado, ou quando ao foi aceita pelas pessoas sucessíveis.” se não sabe da existência dele, ou, ainda, quando é renunciada; vacante, quando é devolvida à Fazenda Pública por ter-se verificado não haver herdeiros que se habitassem no período da jacência.” (Nelson Nery Junior in Cateb, 2011, p. 70)
Percebe-se que, a herança não é jacente apenas quando a pessoa falece sem deixar herdeiros, mas os deixando, são os mesmos desconhecidos ou renunciam a herança. Desta forma, a herança somente será considerada jacente se a pessoa falecer sem deixar herdeiros podendo ocorrer uma das seguintes hipóteses a seguir analisadas. 
4.2.2. Herança vacante
Segundo Gonçalves (2010) a herança será declarada vacante quando não houver herdeiros sucessíveis habilitados, e já houver transcorrido um ano de declaração de jacência. 
Neste sentido é a norma contida no artigo 1820 do CC-02. 
 4.3. Hipóteses de Jacência:
As hipóteses podem ser levantadas a partir da leitura do artigo 1819 do Código Civil que determina que a herança será jacente quando a pessoa falece sem deixar herdeiros, ou deixando, não são eles conhecidos. Ou, quando deixam herdeiros, porém, são os mesmos renunciantes. Assim, podemos resumir as hipóteses da seguinte forma:
Inexistência real de herdeiros = neste caso a pessoa falece sem deixar herdeiros, sejam legítimos (ascendentes, descendentes, cônjuges e colaterais até o 4º) ou testamentários;
Desconhecimento dos herdeiros = neste caso, os herdeiros são desconhecidos, porém, não há certeza da inexistência;
Renúncia dos herdeiros = hipótese em que a pessoa falecida deixa herdeiros conhecidos, porém, todos renunciam a herança;
Impossibilidade do recebimento = neste caso, a pessoa falece deixando herdeiros, porém, estão eles impossibilitados de receberem a herança, seja pela invalidade do testamento ou por serem indignos do recebimento.
4.4. Procedimento:
1º) Conhecimento da situação = Tão logo chegue ao conhecimento do juízo de que a pessoa faleceu nestas circunstâncias, será determinada a feitura de algumas diligências, com o intuito de se localizar herdeiros para o recebimento da herança.
2º) Arrecadação do patrimônio = O juiz determinará, dentre as diligências acima mencionadas, que sejam arrecadados todos os bens deixados pelo de cujus, arrolando-o, descrevendo-o e avaliando-o. 
3º) Publicação de edital = Para tanto se fará publicar três editais, com intervalo mínimo de trinta dias de um para outro, com o objetivo dos herdeiros virem a ter conhecimento do falecimento fazendo a habilitação.
4º) Declaração de vacância = Após passados um ano da primeira publicação a herança será declarada vacante, conforme dispõe o artigo 1.820 do CPC. Neste ínterim há que se lembrar que, quando se trata de herdeiros renunciantes, a declaração da vacância ocorrerá de forma imediata, conforme determina o artigo 1823 do CC-02.
5º) Possibilidade de surgimento dos herdeiros = Conforme se pode extrair de uma interpretação do artigo 1822 do Código Civil, os herdeiros necessários podem aparecer a qualquer momento, mesmo que, já tenha sido a herança declarada vacante, porém, o prazo máximo será de cinco anos após a abertura da sucessão. Já os herdeiros colaterais, não possuem tanto tempo assim já que, o prazo concedido para que eles venham a se habilitar será até a declaração da vacância, conforme preceitua o parágrafo único do artigo 1822.
4.5. Existência de credores 
	
Por óbvio se uma pessoa falecer sem deixar herdeiros conhecidos, porém, deixando credores, poderá os mesmos, de acordo com o artigo 1821 reclamar o pagamento da dívida. De forma que, a herança não se transferirá totalmente ao Estado, devendo satisfazer, primeiramente, as dívidas. Havendo sobras, esta será destinada ao Estado. O procedimento encontra-se previsto no artigo 1821 do CC-02.
4.6. Efeitos da declaração da vacância (sentença judicial meramente declaratória):
Fim dos deveres do curador: com a declaração da vacância cessam os deveres do curador nomeado para a administração, conservação e administração dos bens;
Propriedade resolúvel = após a declaração da vacância é possível o surgimento de herdeiros sucessíveis, conforme visto acima, portanto, dentro do período de cinco anos da abertura da sucessão, é possível que a propriedade se resolva, saindo do domínio do Estado, passando a ser de propriedade do herdeiro que apareceu.
UNIDADE V
CAPACIDADE PARA SUCEDER E INDIGNIDADE
5.1 – Capacidade para suceder
 
5.1.1. Considerações iniciais:
É possível afirmar que, a capacidade para receber a herança, também denominada de capacidade ativa, é a aptidão de uma pessoa para receber a herança de uma pessoa falecida.
No direito brasileiro, prevalece a regra de que todo herdeiro (legítimo ou testamentário) possui capacidade para suceder, já que, para uma pessoa ser afastada do recebimento da herança, é necessário que ocorra uma das hipóteses previstas em lei, quais sejam: a indignidade ou a deserdação. Os casos que podem levar à indignidade ou deserdação são previstos de forma taxativa pela lei, porém, conforme se verá, não basta a prática do ato é necessária a provocação judicial.
A análise da capacidade para suceder pode ser feita sob duas óticas diversas: a capacidade ativa para sucessão legítima e a capacidade ativa par sucessão testamentária.
Capacidade ativa para sucessão legítima
a.1. Pessoas naturais - Artigo 1798 – só possui capacidade ativa legítima as pessoas naturais, sejam já nascidas ou pelo menos concebidas no momento da abertura a sucessão, conforme pode-se depreender do contido no artigo 1798 do CC-02. Tal fato se justifica, principalmente pela segurança jurídica necessária.
Capacidade ativa para sucessão testamentária
Ao contrário da capacidade ativa para a sucessão legítima, a capacidade ativa para a sucessão testamentária pode ser deferida a pessoas jurídicas e até mesmo para pessoas ainda não nascidas, nem concebidas.
b.1. Pessoas naturais
Possui capacidade ativa para sucessão testamentária tanto as pessoas nascidas como as concebidasao tempo da abertura da sucessão, da mesma forma como ocorre na sucessão legítima.
b.2. Pessoas jurídicas
Para que as pessoas jurídicas possam receber herança testamentária, necessário é que as mesmas tenham existência no momento do falecimento. Como é sabido, uma “empresa” só possui existência no mundo jurídico com o registro no órgão competente que é elemento constitutivo. Diante de tal necessidade, as sociedades de fato, estariam impossibilitadas de receber herança testamentárias, ainda que, beneficiadas no testamento deixado pelo de cujus. 
As fundações, também, podem receber herança testamentária, sendo que, neste caso, ainda que não possuam existência jurídica no momento do falecimento do testador, poderão receber herança, sendo esta uma exceção conforme preceitua o art. 1799, III.
Pessoa futura
Diferentemente do que ocorre na sucessão legítima, a sucessão testamentária permite que seja chamada a suceder pessoa ainda não nascida, tampouco concebida. No entanto, para que a pessoa futura receba herança testamentária, é necessário que a pessoa responsável pela sua concepção esteja viva no momento da abertura a sucessão do de cujus.
Após a abertura da sucessão, estabelece a lei, que o herdeiro testamentário, tenha que ser concebido dentro do prazo de dois anos, sob pena da herança voltar ao monte partilhável, ou seja, ser dividida entre os herdeiros legítimos.
Diante de tal situação surge a seguinte indagação: Com quem ficam os bens até o momento do nascimento? Tal resposta pode ser obtida através da leitura do artigo 1800 e parágrafos do Código Civil que, estabelece que nestes casos, será nomeado um curador especial (de acordo com o § 1º), este terá uma série de deveres e responsabilidade, já que, administrará um patrimônio de outra pessoa, com a obrigação de devolvê-lo, juntamente com os frutos e rendimentos. 
Outra discussão que pode ser feita é quanto ao termo usado pelo Código Civil “conceber”, dando a ideia de que, somente faria jus ao recebimento da herança se o herdeiro fosse concebido, filho natural, esbarrando aí com a igualdade pregada pela Constituição Federal entre os filhos, sendo vedada qualquer discriminação.
Após a análise da capacidade ativa sucessória, legítima ou testamentária, cuidar-se-á, neste momento, de analisar a incapacidade testamentária.
5.2. Incapacidade testamentária
A incapacidade sucessória não se confunde com a ilegitimidade. Na ilegitimidade, a pessoa, em algum momento, era capaz de receber a herança, porém, por um ato específico, tornou-se ilegítimo. A incapacidade, por sua vez, parte do pressuposto que a pessoa nunca foi capaz. Exemplo de ilegitimidade é o herdeiro indigno, da incapacidade, o concubino do testador casado. A incapacidade se refere aos herdeiros testamentários; a deserdação, aos herdeiros legítimos e necessários e a indignidade, aos herdeiros legítimos (necessários ou não) e aos herdeiros testamentários).
5.2.1.Incapazes de receber a herança testamentária 
Não podem receber herança testamentária, de acordo com o previsto no artigo 1801 do CC-02:
a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge, ou companheiro, ou seus ascendentes e seus irmãos. A letra do artigo é silente quanto a possibilidade dos descendentes da pessoa que escreveu a rogo, poder ou não ser herdeiro do testador. O entendimento unânime, entre os doutrinadores civilistas, é que houve uma omissão da lei, porém, lógico é que, os descendentes, também, estariam incapazes de recebe a herança testamentária.
a testemunha do testamento, também, estaria impossibilitada do recebimento da herança, por força do artigo 1800, isto porque, estaria comprometida a sua imparcialidade.
c) o concubino do testador casado, o objetivo é resguardar, principalmente, o direito do cônjuge em detrimento do concubino. Neste caso, excepciona a lei, a possibilidade, do concubino, ser beneficiado, se o testador estiver separado de fato, sem sua culpa, por mais de cinco anos, do seu cônjuge. Ressalva a lei (artigo 1803), ainda, a possibilidade dos filhos do testador com o concubino, serem beneficiados, o que faz sentido se considerarmos a igualdade entre os filhos, independentemente da origem.
d) o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim como o que o fizer ou aprovar o testamento, o objetivo é que não seja comprometida a fé pública.
Todas as pessoas contidas no artigo 1800 do CC-02, são consideradas como incapazes para o recebimento da herança testamentária, de forma que, se não houver a observância do dispositivo legal, prescreve o artigo 1802 que, são nulas as disposições testamentárias. São nulas, também, as disposições testamentárias, que utilizam interpostas pessoas para beneficiar os incapazes para o recebimento, sendo que, serão presumidas como interpostas pessoas: os ascendentes, os descendentes, os irmãos e o cônjuge ou companheiro, conforme preceitua o parágrafo único do artigo 1802. 
5.3. Ilegitimidade para o recebimento da herança
O principal objetivo de se considerar um herdeiro como ilegítimo é estabelecer uma pena civil para aquele que pratica determinado ato em face do autor da herança ou de alguns de seus parentes, de acordo com o previsto em lei. O herdeiro ilegítimo para o recebimento será afastado do recebimento da herança.
Como dito, anteriormente, no direito brasileiro, a regra é a legitimidade e capacidade para o recebimento da herança, porém, duas são as exceções, quanto a legitimidade: indignidade e deserdação. 
A deserdação e a indignidade são institutos semelhantes, neste sentido nos ensina Rodrigues: “Exclusão por indignidade e deserdação, todavia, são institutos paralelos, que remedeiam a mesma situação, visto que por intermédio deles se afasta da sucessão o beneficiário ingrato, pois, como observa LACERDA DE ALMEIDA, a sucessão hereditária assenta na afeição real ou presumida do defunto pelo sucessor, afeição que deve nesse último o sentimento de gratidão. A quebra desse dever de gratidão acarreta a perda da sucessão; nisso se combinam a indignidade e a deserdação”. (RODRIGUES, 2003, p 66.)
Quanto a diferença nos ensina Monteiro, a indignidade é peculiar à sucessão testamentária ou legítima, enquanto a deserdação existe apenas na sucessão legítima, porém, devendo ser feita via testaamenta”. (MONTEIRO, 2003, p. 260).
5.3.1. Indignidade
Segundo Cateb (2010) “A indignidade é uma forma de exclusão de herdeiros legítimos e testamentários, e abrange, portanto, a sucessão legítima e testamentária; não obstante tendo a capacidade para suceder, o excluído perde-a, como pena civil pela prática de determinados atos considerados pela lei, como danosos à vida, à honra ou à liberdade de testar do autor da herança, diretamente a ele ou a pessoas necessárias à sua convivência social, como cônjuge, o companheiro,, os descendentes, os ascendentes.”
Esclarecedor é o entendimento de Busso que afirma que, com a indignidade o herdeiro se dá como excluído da herança, por ter cometido ato que contraria a ordem jurídica, atingindo tanto os herdeiros legítimos – necessários e não necessários-, como também os testamentários, incluindo-se ai os legatários. É caracterizada como uma pena civil, pois priva o infrator do direito de herança. (BUSSO, 2003)
São os casos de indignidade :
o autor ou partícipe do homicídio doloso ou tentativa contra o de cujus, seu cônjuge, descendente ou ascendente.
 Neste caso, algumas indagações são frequentes: e se o crime for culposo? E se for legítima defesa? E ser for por estado de necessidade? Casos em que não haveria a intenção do autor do homicídio em praticar tal crime. Todas as indagações podem ser respondidas com base em um único raciocínio, se não há dolo, não há hipótese de exclusão. Lembrando ainda que, nestes casos, a lei dispensa a necessidade de sentença criminal transitada em julgado.
quem fez denunciação caluniosa em juízo ou cometeu crime contra a honra do autor da herança, seu cônjuge ou companheiro.A denunciação caluniosa em juízo é tipo penal específico, previsto no artigo 339 do Código Penal (CP), já os crimes contra a honra, estão regulamentados pelos artigos 138 a 140 do CP. Em todos os casos, para que haja, exclusão do recebimento da herança, será necessária condenação criminal, pois até o trânsito em julgado, presume-se a inocência da pessoa.
quem, por violência ou meios fraudulentos, inibiram ou obstaram o de cujus de dispor dos bens em vida
A indignidade é uma pena civil que se aplica aos herdeiros testamentários ou legítimos, bastando que, um deles, pratique um dos atos previstos em lei e que haja o reconhecimento da indignidade.
5.3.1.1. O reconhecimento da indignidade
O Reconhecimento da indignidade não se dá de forma automática, não basta que a pessoa tenha cometido o ato repudiado pela lei, dependendo de provocação por parte de interessado e de sentença judicial, conforme preceitua o artigo 1815 do CC-02.
Estabelece a lei um prazo prescricional de quatro anos, contados da abertura da sucessão do autor da herança para a propositura da ação. Tal prazo não está ligado a data da prática do ato repudiado. Lembrando que, o prazo não se conta do ato que dá causa à indignidade e sim da abertura da sucessão.
5.3.1.2. Reabilitação do indigno
É facultado ao futuro autor da herança, reabilitar o possível indigno, ou seja, perdoá-lo, pela prática do ato. No entanto, a lei estabelece que, seja o perdão feito de forma expressa e por escrito, através de testamento ou de documento autêntico, conforme preceitua o artigo 1818. O simples fato do autor da herança deixar testamento beneficiando o herdeiro excluído não presume a reabilitação, conforme melhor se verá.
É possível que o indigno seja indigno e ainda assim esteja apto a receber a herança testamentária, tal hipótese é prevista no parágrafo único do artigo 1818 do CC-02 que assim prescreve “Não havendo reabilitação expressa, o indigno, contemplado em testamento do ofendido, quando o testador, ao testar, já conhecia a causa da indignidade, pode suceder no limite da disposição testamentária”. 
5.3.1.3. Efeitos da indignidade
De acordo com os ensinamentos de Caio Mário, todos os efeitos são pessoais, podendo assim serem resumidos:
1º) o excluído é obrigado a restituir os frutos e rendimentos: a obrigação se refere a todos os frutos percebidos, podendo, no entanto, cobrar pelos gastos que teve com a conservação, conforme dispõe o artigo 1817, parágrafo único. 
2º) os efeitos são pessoais: quando o herdeiro é indigno, a parte que lhe caberia no recebimento da herança, será deferida aos seus descendentes, porém, se não houver descendentes, a herança retorna ao monte, sendo dividida entre os demais herdeiros legítimos do autor da herança, conforme dispõe o artigo 1816 do CC-02.
3º) o excluído não terá direito ao usufruto ou à administração: quando a parte do indigno se transfere aos seus descendentes, mesmos sendo estes incapazes, não será concedido, ao indigno, o direito de administrar ou usufruir dos bens. Da mesma forma, se o descendente do indigno vier a falecer, deixando a herança que recebeu em virtude da indignidade do ascendente, será o indigno, considerado ilegítimo para a sucessão.
4º) os atos praticados pelo excluído são válidos: preceitua o artigo 1817 do CC-02 que todos os atos praticados pelo indigno são válidos, não sendo atingido o 3º de boa-fé, porém, poderá os demais herdeiros, demandar em face do indigno, perdas e danos.
	
5º) o excluído terá direito a indenização por quaisquer benfeitorias: como o direito brasileiro veda o enriquecimento ilícito, o herdeiro indigno que, fez benfeitorias de conservação no bem, terá direito a demandar o valor delas.
5.3.2. DESERDAÇÃO
5.3.2.1 Conceito
Segundo nos ensina Lisboa a deserdação pode ser entendida como sendo “o ato voluntário do testador de afastar o herdeiro necessário do direito à sucessão, mediante cláusula testamentária, por causa de infração grave por ele cometida, prevista em lei”. (LISBOA, 2009).
No mesmo sentido, é o que nos ensina Silvio Rodrigues ao afirmar que a deserdação “é o ato pelo qual alguém, apontando como causa uma das razões permitidas em lei, afasta de sua sucessão, e por meio de testamento, um herdeiro necessário”. (RODRIGUES, 2003, p.253)
Em outras palavras, a deserdação pode ser considerada como a privação, por disposição testamentária, da legítima do herdeiro necessário. Ressaltando que, no direito brasileiro, a pessoa que possui herdeiro necessário somente pode dispor, via testamento, de 50% (cinquenta por cento) de seu patrimônio, havendo, então, a restrição da liberdade de testar.
A possibilidade de se afastar um herdeiro, principalmente, se for necessário, do recebimento da herança, é uma exceção ao princípio geral que garante a todos os herdeiros o direito ao recebimento da herança. Por se tratar de uma exceção, a legislação estabelece, taxativamente, todos os casos em que se admite a exclusão da herança, via deserdação, conforme se pode depreender do artigo 1.850 do CC-02.
Enfim, pode-se dizer que, a deserdação é a vontade do autor da herança, porém, está restrita aos casos previstos em lei. Além do que, deve-se atentar ao fato de que, segundo o artigo 1964, a deserdação deve ser feita via testamento, não sendo admissível nenhuma outra forma, por mais especial que seja. Percebe-se pois que não basta a vontade do autor da herança dependendo de se seguir uma formalidade muitas vezes desconhecida pela pessoa.
5.3.2.2. Hipóteses
Conforme dito alhures, a deserdação somente ocorrerá, se o herdeiro praticar um dos atos previstos em lei, sendo que, as hipóteses estão previstas no artigo 1814, 1962 e 1963.
Duas são as possibilidades de deserdação, quais sejam, ascendente deserda descendente e descendente deserda ascendente, estando assim disciplinadas:
Ascendente deserda descendente: pelos seguintes motivos:
1º ) se ocorrer uma das hipóteses do artigo 1814 – sendo que o artigo 1814 trata exatamente dos casos que pode gerar indignidade;
2º) se houver ofensa física, praticada pelo descendente em face do ascendente;
3º) se houver injúria grave por parte do descendente em face do ascendente;
4º) se o descendente mantiver ou tiver mantido relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto, ou seja, com o cônjuge ou companheiro do testador;
5º) se o descendente desamparar o ascendente em alienação mental ou grave enfermidade.
Descendente deserda ascendente = pelos seguintes motivos:
Os casos em que será possível a deserdação de ascendente por parte de ascendente, são os mesmos casos em que se permite a deserdação de descendente, feito pelo ascendente, bastando ser feita uma análise contrário sensu das hipóteses.
5.3.2.3. Exposição das causas 
Quando da feitura do testamento, o testador deve expor os motivos que o levou a fazer a deserdação. O testador deve-se atentar para o fato de que, após o seu falecimento, a veracidade dos fatos ali elencados, deve ser provada, de forma que, quanto maior o cuidado ao fazê-lo e constar os motivos, bem como, constar as provas, maior é a possibilidade de surtir os efeitos após o falecimento.
A prova da veracidade dos fatos elencados no testamento deve ser feita via ação judicial, e segundo o artigo 1965 a legitimidade para a propositura compete ao herdeiro instituído ou àquele a quem aproveite a deserdação. Em outras palavras, a legitimidade seria do próprio herdeiro deserdado, provando a não veracidade dos motivos, ou àqueles herdeiros que serão beneficiados pela deserdação, como exemplo, um irmão ou um descendente do deserdado.
5.3.2.4. Prazo
A ação deve ser proposta dentro do prazo de quatro anos, contados da abertura da sucessão, sob pena de não ter validade, de forma que, não será o herdeiro excluído do recebimento da herança. Ressalvando que, trata-se de prazo decadencial.
Percebe-se que, o fato do autor da herança ter deixado testamento, deserdando uma pessoa, não garante que a deserdação seja realmenteprocessada, o que poderá ocorrer se a ação não for ajuizada no prazo de quatro anos ou se ajuizada, não for provada a veracidade dos fatos.
UNIDADE VI
VOCAÇÃO HEREDITÁRIA
6.1. NOÇÕES GERAIS
A sucessão legítima defere-se de acordo com a ordem prevista no código civil, mais precisamente em seus artigos 1829 e 1790. A ordem foi estabelecida considerando a presunção da vontade do de cujus. O artigo 1829 do CC-02 determina a sucessão considerando a existência de cônjuge ou de uma pessoa que falece solteira ou viúva. Já o artigo 1790, prescreve a sucessão de uma pessoa que falece deixando companheiro. Conforme já dito, por diversas vezes, a igualdade quanto aos direitos do cônjuge e do companheiro, não foi recepcionada pelo direito sucessório. Algumas discussões já foram feitas e hipóteses levantadas, porém, as normas não foram alteradas, prevalecendo da forma como está elencada no CC.
A ordem de vocação hereditária manteve-se a mesma da prevista no código civil de 1916, porém, com alterações significativas quanto ao direito do cônjuge e do companheiro. Conforme se verá no curso do presente capítulo
 No diploma legal civil anterior, a sucessão era deferida aos descendentes, sendo que, em caso de inexistência ou impedimento, eram chamados a suceder os ascendentes; na ausência ou impedimento destes, o cônjuge, e caso não existisse ou fosse impedido, eram chamados ao recebimento da herança, os colaterais. Quanto ao companheiro, o código civil anterior era silente, restando, ao aplicador do direito, a analogia, com o estabelecido para o cônjuge. Sendo que, após 1988, normalmente, se equipava o direito do companheiro ao direito do cônjuge casado com o regime da comunhão parcial. O companheiro, por analogia, ocupada a terceira ordem da vocação hereditária.
O código civil atual, apesar de ter mantido a mesma ordem de vocação hereditária, trouxe a possibilidade do cônjuge concorrer ao recebimento da herança juntamente com os descendentes – dependendo do regime de bens e dos bens deixados – e taxou a concorrência entre o cônjuge sobrevivente e os ascendentes, independentemente, do regime de bens. Mantendo o fato de o cônjuge excluir o direito sucessório dos colaterais. Alteração ainda mais significativa foi dispensada à sucessão do companheiro. O companheiro, conforme melhor se verá, sempre concorrerá com o descendente, quanto aos bens adquiridos onerosamente na constância da união, o mesmo ocorrendo com os ascendentes. Porém, a existência de companheiro, não exclui o direito sucessório dos colaterais, havendo, uma concorrência.
Muito se criticou a distinção entre o direito sucessório do cônjuge e do companheiro, sob a alegação de que, o diploma civil retroagiu aquilo que foi estabelecido pela Constituição Federal. Porém, discussões que não saíram do campo doutrinário.
Ressaltando ainda que, até a decisão recente do STF, era denominado de companheiro aquele que viva em união estável, sendo comum a afirmação que “considera companheiros pessoas de sexos diferentes, que formam uma entidade familiar, constituindo uma união estável, podendo converter-se essa união em casamento, por inexistir impedimento para sua celebração.” (CATEB, 2010, p. 99). Porém, após a referida decisão, união de duas pessoas do mesmo sexo, pode configurar união estável, de forma que, estaria a sucessão disciplinada pelo artigo 1790.
A ordem de vocação hereditária estabelece classes, o que analisar a seguir. A respeito das classes nos esclarece Cateb (2010, p. 99) que “a forma de chamamento, denominada de “classes”, estabelece uma hierarquia entre elas, de tal maneira que o chamamento de uma resulta na extinção da outra seguinte, até o chamamento da última delas.”
Dentro de cada classe há uma divisão entre graus, sendo que, o grau pode ser considerado com a distância existente entre uma geração e outra, como exemplo, considere-se o seguinte caso:
	Joaquim e Maria possuem três filhos: João, José e Pedro. João por sua vez é pai de Tiago e Bruno. Bruno é pai de Caio. João, Tiago, Bruno e Caio, são descendentes de Joaquim e Maria. Porém, João é de 1º grau, Tiago e Bruno de 2º grau e Caio de 3º grau.
6.2. CLASSES 
As classes são estabelecidas considerando o disposto, principalmente, no artigo 1829 que, assim prescreve:
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este como falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art.1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - ao cônjuge sobrevivente;
IV - aos colaterais.
Algumas regras são comuns a todas as sucessões. A primeira consiste no fato de que, o chamamento de uma classe exclui a outra, sendo que, se numa mesma classe houver igualdade de graus de herdeiros, a sucessão decorrerá por direito próprio, sendo partilhada por cabeça – in capita-. Nestas condições se contará o número de herdeiros na mesma classe e se dividirá a herança em quantas partes quantos forem os herdeiros.
6.2.1. Descendentes
A primeira classe a ser chamada a suceder é a de descendentes. Estabeleceu o legislador a primeira classe considerando a existência de afinidade existente entre pais e filhos, ou entre avós e netos, e etc. O mais próximo exclui o mais remoto, conforme dispõe o artigo 1833. Dentro da mesma classe a divisão é feita por cabeça, havendo igualdade.
Conforme dito, é possível a concorrência do cônjuge com os descendentes, desta forma, subdividiremos a análise em duas partes, a primeira considerando a inexistência de cônjuge e/ou companheiro, posteriormente, a concorrência com os mesmos.
divisão da herança entre os descendentes:
	
1º) filhos
Se o de cujus falecer deixando filhos, todos vivos, receberão eles partes iguais conforme dispõe o artigo 1834, independentemente, da origem do filho. A sucessão se dará por cabeça, isto quer dizer: será contado o número de filhos e dividirá a herança pelo número de filhos, conforme dispõe o artigo 1835.
	Joaquim é pai de cinco filhos, todos vivos. Joaquim faleceu, oportunidade em que, deixou uma única casa no valor de R$ 300.000,00. A herança será dividida em cinco partes, de forma que, cada um receberá 1/5, no total de R$ 60.000,00.
2º) netos
Se o de cujus falecer deixando somente netos, todos filhos de filhos pré-morto, a sucessão se dará em partes iguais, por cabeça, independentemente de filhos de quem são. Assim, neste caso, não se aplica a regra do direito de representação. Imaginemos o seguinte exemplo:
	Joaquim é pai de três filhos, todos falecidos. Um dos filhos deixou três filhos, o outro dois e o outro não deixou filhos. Joaquim faleceu, oportunidade em que, deixou uma única casa no valor de R$ 300.000,00. A herança será dividida em cinco partes, de forma que, cada um receberá 1/5, no total de R$ 60.000,00.
	
3º) filhos vivos e netos de filhos falecidos (pré-mortos)
Se o de cujus falecer, deixando filhos vivos e netos de filhos pré-mortos, será necessária a feitura de duas divisões. Primeiramente, será contado o número de filhos, considerando os vivos e os pré-morto, havendo aí uma divisão por cabeça, em partes iguais. As partes dos filhos pré-morto, serão redivididas entre o número de filhos do pré-morto, herdando por representação, ou seja, estirpe (artigo 1835)
			
	Joaquim é pai de cinco filhos, dois pré-mortos e três filhos vivos. Um dos pré-mortos deixou quatro filhos e o outro, 3 filhos. Joaquim faleceu, oportunidade em que, deixou uma única casa no valor de R$ 300.000,00. A herança será dividida em cinco partes, de forma que, cada um dos filhos vivos receberá 1/5, no total de R$ 60.000,00. Os quatro filhos, do primeiro filho-morto, receberão ¼ do 1/5, ou seja, R$ 15.000,00. Os outros três filhos do outro filho pré-morto, receberão 1/3 de 1/5, ou seja, R$ 20.000,00.
a.1. Concorrênciado cônjuge –sobrevivente – viúvo (a) com os descendentes
A primeira coisa a se saber para determinar a concorrência do cônjuge é o regime de bens adotado por oportunidade do casamento. Três são as hipóteses em que o cônjuge não concorrerá, quais sejam: comunhão universal de bens (independentemente da comunhão dos bens ou não); separação obrigatória de bens (nos casos em que os nubentes não possuíam a liberdade de escolha, ainda que haja a aplicação da súmula 377 do STF); comunhão parcial de bens (se não houver bens excluídos da comunhão).
Depois de se analisar o regime de bens e se chegar à conclusão de que o cônjuge concorrerá ao recebimento da herança, é preciso verificar se o cônjuge é ascendente dos descendentes ou não.
		1°) cônjuge ascendente dos descendentes:
Se o cônjuge for ascendente dos descendentes do de cujus, a sua parte nunca pode ser inferior a ¼, assim, podemos concluir que:
			- até 3 descendentes, com o cônjuge serão 4 herdeiros, sendo que, a herança será dividia em partes iguais.
	Joaquim é casado com Maria (regime da comunhão parcial de bens) sendo que, do casamento nasceram dois filhos, sendo estes, os únicos filhos de Joaquim. Joaquim faleceu, oportunidade em que, deixou duas casas, uma comum com Maria, no valor de R$ 120.00,00 e a outra, somente dele, no valor de R$ 150.000,00. Da primeira casa, Maria terá 50% referente à meação (R$ 60.000,00) e os outros 50% serão divididos em duas partes (30.000,00 para cada um). Da outra casa, Maria será herdeira, recebendo 1/3, da mesma forma que os dois filhos, ou seja, R$ 50.000,00.
			- mais de três descendentes, com o cônjuge serão mais de quatro herdeiros, sendo que, ao cônjuge, será dado ¼ os outros ¾ serão divididos em tantas partes quantos forem os descendentes.
	Joaquim é casado com Maria (regime da comunhão parcial de bens) sendo que, do casamento nasceram quatro filhos, sendo estes os únicos filhos de Joaquim. Joaquim faleceu, oportunidade em que, deixou duas casas, uma comum com Maria, no valor de R$ 120.00,00 e a outra, somente dele, no valor de R$ 150.000,00. Da primeira casa, Maria terá 50% referente à meação (R$ 60.000,00) e os outros 50% serão divididos em quatro partes (15.000,00 para cada um). Da outra casa, Maria será herdeira, recebendo ¼ (37.500,00), sendo que os outros ¾ serão redivididos em quatro partes, ou seja, R$ 28.125,00 para cada um
		
		2°) cônjuge não ascendentes dos descendentes
			- a concorrência do cônjuge se dará em partes iguais, independentemente de quantos herdeiros são.
	Joaquim é casado com Maria (regime da comunhão parcial de bens) sendo que, do casamento não nasceram filhos, porém, Joaquim deixou quatro filhos. Joaquim acabou de falecer, oportunidade em que, deixou duas casas, uma comum com Maria, no valor de R$ 120.00,00 e a outra, somente dele, no valor de R$ 150.000,00. Da primeira casa, Maria terá 50% referente à meação (R$ 60.000,00) e os outros 50% serão divididos em quatro partes (15.000,00 para cada um). Da outra casa, Maria será herdeira, recebendo 1/5, da mesma forma que os quatros filhos, ou seja, R$ 30.000,00. Pois neste caso, não há reserva de ¼.
		3°) cônjuge ascendente de alguns descendentes e não ascendente de outros
		
		- a concorrência do cônjuge sobrevivente com os descendentes somente do de cujus e de ambos, se dará com a junção das normas anteriormente analisadas quando da análise da concorrência com descendentes de ambos e somente do de cujus. Desta forma, a divisão deverá obedecer aos seguintes passos: 1º) os descendentes devem ser divididos em dois grupos, quais sejam, o dos descendentes comuns e o dos descendentes só do de cujus; 2º) conta-se quantos descendentes são (todos) e divide-se a herança em partes iguais; 3º) soma-se quantos descendentes se tem no grupo dos descendentes comuns e multiplica-se o valor de cada parte pelo número de descendentes comuns; 4º) obtida a soma das partes deve-se fazer a concorrência considerando que quando concorre com os filhos comuns, a parte do cônjuge sobrevivente, não pode ser inferior a ¼; 5º) soma-se quantos descendentes se tem no grupo dos descendentes só do falecido e multiplica-se o valor de cada parte pelo número de descendentes só do de cujus; 6º) obtida a soma das partes deve-se fazer a concorrência considerando que quando concorre com os filhos só do falecido, será sempre em partes iguais, independentemente de quantos filhos são.
	Joaquim é casado com Maria (regime da comunhão parcial de bens) sendo que, do casamento nasceram quatro filhos. Joaquim possui três outros filhos, nascidos de relações anteriores ao casamento. Joaquim acabou de falecer, oportunidade em que, deixou duas casas, uma comum com Maria, no valor de R$ 120.00,00 e a outra, somente dele, no valor de R$ 140.000,00. Da primeira casa, Maria terá 50% referente à meação (R$ 60.000,00) e os outros 50% serão divididos em sete partes (R$ 8.571,42 para cada um). Da outra casa, Maria concorrerá ao recebimento da herança da seguinte forma: 1º) dividem-se os descendentes em dois grupos: os grupo dos descendentes comuns, possui 4 descendentes, e o grupo dos descendentes só do falecido possui 3 descendentes, somando 7 descendentes; 2º) divide-se o valor da casa, R$ 140.000,00, em sete partes, cada parte possuirá o valor de R$ 20.000,00; 3º) no grupo dos descendentes comuns tem-se quatro descendentes, assim, temos 4 partes de R$ 20.000,00, totalizando R$ 80.000,00; 4º) como são quatros descendentes e a parte do cônjuge sobrevivente não pode ser inferior a ¼, tira-se R$ 20.000,00 para o cônjuge sobrevivente e os outros R$ 60.000,00 (R$ 80.000,00 – R$ 20.000,00) será dividido em 4 partes, cada um receberá R$ 15.000,00; 5º) no grupo dos descendentes só do falecido, temos 3 partes de R$ 20.000,00, totalizando R$ 60.000,00; 6º) são três descendentes só do falecido somando com o cônjuge temos 4, assim, deve-se dividir os R$ 60.000,00 em partes iguais, cada um, inclusive o cônjuge, receberá R$ 15.000,00. No final o cônjuge receberá da casa R$ 20.000,00 + R$ 15.000,00. Aquele por concorrência com os descendentes comuns e este por concorrência com os descendentes só do de cujus.
Feitas as considerações quanto à divisão do cônjuge com os descendentes, passar-se-á a análise da concorrência do companheiro com descendentes.
a.2. Concorrência do companheiro – sobrevivente - com os descendentes do de cujus
1º) companheiro ascendente dos descendentes do de cujus 
Inicialmente, há que se ressaltar que, o companheiro só concorrerá ao recebimento da herança se o falecido deixar bens adquiridos onerosamente na constância da união, lembrando que, sobre estes bens, o companheiro possui meação. Se os descendentes do falecido forem, também, descendentes do companheiro, a concorrência se dará em partes iguais, independentemente da quantidade, conforme preceitua o artigo 1790, I, CC.
	Joaquim vive em união estável com Maria, com quem teve quatro filhos, sendo estes, os únicos filhos de Joaquim. Joaquim faleceu, oportunidade em que, deixou duas casas, uma adquirida onerosamente na constância da união, no valor de R$ R$ 120.000,00, e a outra anterior à união, no valor de R$ 160.000,00. Da primeira casa, Maria terá 50% referente à meação (R$ 60.000,00) e os outros 50% serão divididos em cinco partes (4 filhos + Maria), cada um recebendo, então, R$ 12.000,00. Da outra casa, Maria não será herdeira, nem meeira, sendo que, será a mesma dividida somente entre os descendentes, ou seja, quatro filhos, cada um recebendo R$ 40.000,00.
		
2º) companheiro não ascendente dos descendentes do de cujus
		Se os descendentes não são descendentes do companheiro sobrevivente, caberá ao mesmo ½ do que couber aos mesmos, conforme preceitua o artigo 1790 do CC-02. Num primeiro momento, pode parecer difícil fazer a conta, porém, se tentar seguir a seguinte regra ficará mais fácil, valendo ressaltar que, a regrinha é de autoria da professora da disciplina: se são três filhos, deve-se contar para cada um duas partes, totalizandoseis partes, para a companheira, temos apenas uma parte (que é exatamente a metade de duas partes), somando as partes temos 7 partes (6 partes – 3 descendentes x 2 duas partes para cada um - + 1 parte – do companheiro-), dividindo a herança em sete partes, dar-se-á duas partes para cada filho e uma parte para a companheira.
	Joaquim vive em união estável com Maria. Joaquim não teve filhos com Maria, porém, possui quatro filhos. Joaquim faleceu, oportunidade em que, deixou duas casas, uma adquirida onerosamente na constância da união, no valor de R$ R$ 120.000,00, e a outra anterior à união, no valor de R$ 160.000,00. Da primeira casa, Maria terá 50% referente à meação (R$ 60.000,00) e os outros 50% serão divididos em nove partes (quatro filhos, duas partes para cada um, totalizam oito partes + Maria – 1 parte apenas), cada filho receberá 13.333,33, e Maria R$ 6.666,66. Da outra casa, Maria não será herdeira, sendo que, será a mesma dividida somente entre os descendentes, ou seja, quatro filhos, cada um recebendo R$ 40.000,00.
		3º) companheiro ascendente de uns e não ascendentes de outros
	
		- a concorrência do companheiro sobrevivente com os descendentes somente do de cujus e de ambos, se dará com a junção das normas anteriormente analisadas quando da análise da concorrência com descendentes de ambos e somente do de cujus. Desta forma, a divisão deverá obedecer aos seguintes passos: 1º) os descendentes devem ser divididos em dois grupos, quais sejam, o dos descendentes comuns e o dos descendentes só do de cujus; 2º) conta-se quantos descendentes são (todos) e divide-se a herança em partes iguais; 3º) soma-se quantos descendentes se tem no grupo dos descendentes comuns e multiplica-se o valor de cada parte pelo número de descendentes comuns; 4º) obtida a soma das partes deve-se fazer a concorrência considerando que quando concorre com os filhos comuns, a parte do companheiro sobrevivente, será em partes iguais; 5º) soma-se quantos descendentes se tem no grupo dos descendentes só do falecido e multiplica-se o valor de cada parte pelo número de descendentes só do de cujus; 6º) obtida a soma das partes deve-se fazer a concorrência considerando que quando concorre com os filhos só do falecido, o companheiro receberá a ½ que cada um deles vier a receber
	Joaquim vive em união estável com Maria, sendo que, da união nasceram quatro filhos. Joaquim possui três outros filhos, nascidos de relações anteriores à União. Joaquim acabou de falecer, oportunidade em que, deixou duas casas, uma adquirida onerosamente na constância da união, no valor de R$ 120.00,00 e a outra, anterior à união, no valor de R$ 140.000,00. Da segunda casa, Maria não será herdeira, sendo a herança dividida somente entre os descendentes, ou seja, em sete partes, cada um recebendo a quantia de R$ 20.000,00. Da primeira, Maria terá 50% referente à meação (R$ 60.000,00) e os outros 50% serão divididos entre os descendentes e o companheiro da seguinte forma: 1º) dividem-se os descendentes em dois grupos: os grupo dos descendentes comuns, possui 4 descendentes, e o grupo dos descendentes só do falecido possui 3 descendentes, somando 7 descendentes; 2º) divide-se o valor da ½ da casa, R$ 60.000,00, em sete partes, cada parte possuirá o valor de R$ 8.571, 42; 3º) no grupo dos descendentes comuns tem-se quatro descendentes, assim, temos 4 partes de R$ 8.571,42, totalizando R$ 34.285,71; 4º) como são quatros descendentes e a parte do companheiro sobrevivente é a mesma dos companheiros, devemos dividir R$ 34.285,71 em cinco partes ( 4 filhos + o companheiro), cada um receberá R$ 6.857,14; 5º) no grupo dos descendentes só do falecido, temos 3 partes de R$ 8.571,42, totalizando R$ 25.714,26; 6º) são três descendentes só do falecido, assim, considerando duas partes para cada um, temos 6 partes somando com o companheiro, temos 7, assim, deve-se dividir os R$ 25.714,26 em sete partes, obtendo o valor de cada parte de R$ 3.673,46, cada filho receberá duas partes, ou seja, R$ 7.346,93e o companheiro R$ 3.673,46. No final o companheiro receberá da casa R$ 60.000,00(meação) + R$ 6.857,14 + R$ 3.673,46. O primeiro, meação, o segundo por concorrência com descendentes comuns e o último por concorrência com os descendentes só do falecido.
5.2.2. Ascendentes:
Se ao falecer, o de cujus, não deixar descendentes, a herança será deferida aos descendentes, em partes iguais. Porém, se o de cujus, deixar cônjuge ou companheiro, bem como, ascendentes, estes não excluirão aqueles, concorrendo ao recebimento da herança. Porém, para facilitar o entendimento, far-se-á a divisão considerando somente os ascendentes, depois ascendentes com o cônjuge, por último, considerando ascendentes e companheiro. Vejamos:
		B) divisão entre os ascendentes
		1º) Ascendentes de primeiro graus – pai e mãe – vivos
		Se o de cujus, falecer deixando os dois ascendentes de primeiro grau (pai e mãe), a herança será dividida em partes iguais.
	Joaquim é solteiro, filho de José e Maria, ambos vivos. Joaquim faleceu, oportunidade em que, deixou duas casas, uma no valor de R$ R$ 120.000,00, e a outra no valor de R$ 160.000,00. As duas casas serão divididas em partes iguais, ficando 50% de cada casa para a mãe e 50% de cada casa para o pai.
		2º) Ascendentes de primeiro graus – pai vivo e mãe falecida
		Se, por outro lado o de cujus falecer deixando apenas o pai ou a mãe, a herança será toda deferida ao ascendente (pai ou mãe) vivo. Vale ressaltar que, ainda que, o ascendente falecido tenha deixado pais vivos, a herança, será toda deferida ao sobrevivente.
	Joaquim é solteiro, filho de José e Maria, Maria falecida e José vivo. Joaquim faleceu, oportunidade em que, deixou duas casas, uma no valor de R$ R$ 120.000,00, e a outra no valor de R$ 160.000,00. As duas casas serão destinadas ao pai.
		3º) Ascendentes de segundo graus – avós paternos e maternos – vivos
		
		Se os pais do de cujus, forem falecidos, porém, os avós estiverem vivos, se divide a herança em duas linhas, materna e paterna, cada linha possuindo os dois avós vivos, se divide a ½ em duas partes, no final, cada um receberá 25%.
	Joaquim é solteiro, filho de José e Maria, Ambos falecidos, os pais de José (Tião e Joana) e os pais de Maria (Xico e Francisca) são vivos. Joaquim faleceu, oportunidade em que, deixou duas casas, uma no valor de R$ R$ 120.000,00, e a outra no valor de R$ 160.000,00. As duas casas serão divididas em duas linhas (materna e paterna), cada linha se dividirá em duas partes, no final, cada um receberá 25%.
		4º) Ascendentes de segundo grau – avós uns vivos e outros falecidos.
		Se os pais do de cujus, forem falecidos, porém, estiverem vivos os dois avós paternos e apenas a avó materna, se divide a herança em duas linhas, materna e paterna, a linha paterna se dividirá em duas partes e a linha materna será toda deferida à avó viva.
	Joaquim é solteiro, filho de José e Maria, Ambos falecidos, os pais de José (Tião e Joana), são vivos, e a mãe de Maria (Francisca) está viva. Joaquim faleceu, oportunidade em que, deixou duas casas, uma no valor de R$ R$ 120.000,00, e a outra no valor de R$ 160.000,00. As duas casas serão divididas em duas linhas (materna e paterna), 50% para cada uma. Na linha paterna, os 50% serão divididos entre a avó e o avô paterno, ou seja, 25% para cada um. Na linha paterna, como somente a avó é viva, os 50% será deferido à mesma.
	b.1. Ascendente com cônjuge sobrevivente
	 Como se viu, quando da análise da concorrência do cônjuge sobrevivente com os descendentes, necessário era a análise do regime de bens e dos deixados pelo falecido, porém, quanto à concorrência com os ascendentes, prescreve o artigo 1829, II que: “II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge. Desta forma, pode-se dizer que o cônjuge sempre receberá herança se concorrer com os ascendentes. São possíveis as hipóteses abaixo.”
	1º) Cônjuge sobrevivente com os ascendentes de primeiro grau
	Se ambos os ascendentes estão

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