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Jéssica N. Monte Turma 106 P2 Patologia Aula 9 – Bases Genéticas e Moleculares do Câncer Bases da genética: No interior do núcleo de cada célula está localizado o DNA, que é o local onde estão contidas todas as informações genéticas do ser. O DNA é responsável pelas características genotípicas e fenotípicas individuais e também pela herança genética, que incluem algumas doenças. O DNA (ácido desoxirribonucleico) é composto por sequências de nucleotídeos que formam genes, e cada gene é responsável por uma informação fundamental. Um gene é qualquer trecho de DNA com informação para a síntese de RNA ou de uma proteína. Assim, os genes são a parte funcional do DNA e correspondem a 3% do total. Os genes são formados por uma sequência de nucleotídeos e se organizam dentro dos cromossomos, em carreteis de histonas, nos quais se enrola o DNA. Os nucleotídeos são formados por um grupamento fosfato, uma pentose e pelas bases nitrogenadas. No caso do DNA, as bases nitrogenadas são a adenina, guanina, citosina e timina, ligadas entre si por pontes de hidrogênio, e a pentose é a desoxirribose. Caso ocorra uma alteração em alguma base nitrogenada componente do nucleotídeo, pode ocorrer ou não a troca do aminoácido correspondente. Quando essa alteração acontece, a mudança de aminoácido altera toda a estrutura da expressão gênica. Quando se nasce com alguma alteração na estrutura do DNA, diz-se que houve uma mutação na linhagem de células germinativas, e isso determina a predisposição a doenças. Já quando a alteração ocorre ao longo da vida, a mutação ocorre na linhagem de células somáticas. Embriologia: Na formação do zigoto, que é uma célula diploide (2n), ocorre a união dos 23 cromossomos maternos com os 23 cromossomos paternos. Dentre esses 23 pares de cromossomos, 22 pares autossômicos e 1 par sexual. A partir do zigoto, todas as células serão diploides (2n), somáticas e geradas por mitose. Assim, todas as células anteriores ao zigoto são germinativas, e todas as células a partir do zigoto são somáticas. Seguindo o desenvolvimento embrionário, depois do zigoto se tem os blastômeros, a mórula e o blastocisto (que surge a partir da dispersão das células da mórula formando uma cavidade onde se localiza o amnio). A partir do blastocisto surge o trofoblasto, que dá origem ao blastocélio. O blastocélio contém as células embrionárias pluripotentes, ou seja, as que darão origem a todos os tecidos humanos. Já o zigoto, o blastômero e a mórula inicial são totipotentes, pois originam tecido embrionário e extraembrionário (como a placenta). As células totipotentes originam tecido embrionário e extraembrionário. As células pluripotentes originam somente tecido embrionário (células-tronco embrionárias). As células multipotentes são as células mais indiferenciadas de um tecido já especializado ou aquelas que são capazes de se diferenciar somente no tecido do qual fazem parte (células-tronco adultas). Jéssica N. Monte Turma 106 P2 Patologia Mutações: Qualquer alteração permanente no DNA é considerada uma mutação. Uma célula iniciada, ou seja, que tem uma primeira mutação, tem uma tendência maior de sofrer outras mutações, pois está em instabilidade genética. O impacto dessas mutações é diferente se ocorre ela em células germinativas ou em células somáticas. Quando a mutação acontece nas células germinativas, ou seja, nas que antecedem a formação do zigoto, essa mutação será carregada para todas as células somáticas que irão compor o indivíduo. Assim, todas as células somáticas apresentarão o alelo daquele gene em questão mutado. O fato de a mutação estar presente em todas as células somáticas confere uma probabilidade muito grande de o gene mutado ser expresso e o indivíduo desenvolver a doença que corresponde a essa mutação. Quando a mutação acontece na linhagem das células germinativas, ela é transmitida para as gerações futuras, por meio da formação de gametas mutantes. Já quando a mutação acontece na linhagem das células somáticas, ou seja, depois da formação do zigoto, ela não será transmitida para as gerações futuras, podendo ser expressa somente no indivíduo que a adquiriu ao longo da vida. Câncer: O câncer é uma doença genética, monoclonal e heterogênea. Ele é monoclonal porque um único clone dá origem ao câncer, e é heterogêneo porque classes diferentes de genes são mutadas, translocadas, amplificadas, etc. Isso explica o fato de os cânceres, mesmo os de mesmo tipo, nunca serem iguais, e também o porquê da necessidade de um tratamento específico para cada tipo de câncer. Além disso, o câncer é considerado uma doença genômica que resulta do acúmulo de alterações não letais no DNA da célula. Somente 10% a 12% dos cânceres são herdados, portanto, as mutações em células germinativas podem ser consideradas raras. A grande maioria dos cânceres é esporádica, pois as mutações na linhagem de células somáticas são adquiridas ao longo da vida. Quando o câncer é herdado, ele tende a acontecer em uma idade mais precoce. Isso acontece porque quando uma pessoa herda uma mutação, todas as células somáticas já têm um alelo daquele gene mutado. Assim, ao longo da vida, a mutação de somente um alelo será suficiente para o desenvolvimento da célula mutada, uma vez que o outro alelo já se encontra alterado. Já se o câncer for esporádico, ele tende a acontecer em uma idade mais tardia, pois ao longo da vida do indivíduo será necessária a ocorrência de duas mutações no mesmo gene para que ocorra o desenvolvimento da célula mutada. Os cânceres provocam lesões no DNA que são sempre do tipo subletal, já que a célula não morre e não entra em apoptose. Inclusive, um dos genes que se encontra alterado no câncer é justamente aquele que deflagra a apoptose, a fim de evitar que a célula inicial morra, permitindo o crescimento da célula tumoral. Mutação na linhagem de células germinativas – câncer herdado. Mutação na linhagem de células somáticas – câncer esporádico. Jéssica N. Monte Turma 106 P2 Patologia Dessa forma, o câncer altera a expressão gênica, mas não desencadeia morte celular. A progressão do câncer depende também do microambiente tumoral, que é capaz de modular a extensão da proliferação celular, invasividade e potencial metastático por meio de mudanças no estroma do tumor e da angiogênese. O que determina o prognóstico do tumor é seu grau de proliferação e de diferenciação, fatores que estão ambos relacionados entre si. Alterações genéticas do câncer: As classes de genes que são alteradas no câncer estão envolvidas com proliferação, diferenciação, apoptose, reparo do DNA e controle do ciclo celular. Os processos relacionados a essas classes de genes são: ativação de proto- oncogenes em oncogenes, alteração dos genes que regulam a apoptose, inativação de genes de reparo do DNA e inativação de genes supressores tumorais. 1) Ativação de proto-oncogenes em oncogenes: Os proto-oncogenes são genes normais envolvidos na proliferação e na diferenciação celular, processos intimamente interligados. Os proto-oncogenes codificam fatores de crescimento, receptores de fatores de crescimento, fatores de transdução de sinal e fatores de transcrição. Esses produtos são essenciais para a mitose. Portanto, em condições celulares normais os proto-oncogenes são extremamente necessários. O câncer, geralmente, não tem um proto-oncogene alterado (oncogene), mas sim uma combinação. Quando os proto-oncogenes sofrem mutação, amplificação ou translocação, eles se transformam em oncogenes. O oncogene, que é um proto-oncogene alterado, produz o mesmo fator que o seu corresponde,mas de uma forma anormal e, na maioria das vezes, exacerbada. Por exemplo: se o proto-oncogene SIS codifica o fator de crescimento derivado de plaquetas, o oncogene SIS vai codificar o fator de crescimento derivado de plaquetas de forma exacerbada, e isso funcionará como um estímulo positivo para a proliferação e diferenciação da célula cancerígena. Alguns exemplos de proto-oncogenes: Proto-oncogene SIS: produz o fator de crescimento derivado de plaquetas. Proto-oncogenes ERB-B1 e ERB-B2: produzem o receptor do fator de crescimento epidérmico do tipo 1 e do tipo 2, respectivamente. Proto-oncogenes K-RAS, H-RAS, N-RAS e ABL: produzem fatores de transdução de sinal. Proto-oncogenes C-Myc, N-Myc e L-Myc: produzem fatores de transcrição. Jéssica N. Monte Turma 106 P2 Patologia Os eventos genéticos que podem converter um proto-oncogene em oncogene são a mutação pontual, a amplificação ou hiperexpressão e a translocação. a) Mutação pontual: A mutação pontual ocorre por substituição de bases que leva à alteração do aminoácido. O grupo de proto-oncogenes que são convertidos a oncogenes por meio da mutação pontual são: K-RAS, H-RAS e N-HAS. Exemplo de mutação pontual: uma troca de bases é capaz de alterar o 12º aminoácido do gene H-RAS, ativando o oncogene H-RAS, que está relacionado ao câncer de bexiga. b) Amplificação ou hiperexpressão: A amplificação gênica causa o aumento no número de cópias de um oncogene e a hiperexpressão dos seus produtos. Os grupos de proto-oncogenes que são convertidos a oncogenes por amplificação são: SIS, ERB-B1 e ERB-B2, N-Myc e L-Myc. Hiperexpressão do oncogene SIS: A hiperexpressão do oncogene SIS está diretamente relacionada ao astrocitoma e ao osteossarcoma. Hiperexpressão de ERB-B1: A hiperexpressão de ERB-B1 codifica a expressão do receptor de fator de crescimento epidérmico do tipo 1 (EGFR1) de forma anormal, e está relacionada aos gliomas em geral e ao câncer de pulmão. Os cânceres de pulmão se dividem em três tipos: pequenas células, não-pequenas células e grandes células. Os cânceres de pulmão que hiperexpressam o ERB-B1 são os cânceres de pulmão do tipo não-pequenas células, os quais incluem o carcinoma de células escamosas e o adenocarcinoma de pulmão. Para o grupo dos cânceres de pulmão não-pequenas células existe terapia alvo- molecular. Eles devem ser tratados com: Afatinib (nome comercial Giotrif), Erlotinib (nome comercial Tarceva), Gefitinib (nome comercial Iressa) ou Cetuximab (nome comercial Erbitux). Hiperexpressão de ERB-B2: A hiperexpressão de ERB-B2 codifica a expressão do receptor de fator de crescimento epidérmico do tipo 2 (EGFR2) de forma anormal, e está relacionada a 20%- 25% dos cânceres de mama. Para o grupo de cânceres de mama que apresentam ERB-B2 hiperexpresso existe terapia alvo-molecular. Essas pacientes devem ser tratadas com Trastuzumab (nome comercial: Herceptin). O Trastuzumab ocupa o sítio de ligação dos receptores de EGFR2, bloqueando a sua ação. Mutação pontual: Troca de bases do 12ª aminoácido de H-RAS – câncer de bexiga. Jéssica N. Monte Turma 106 P2 Patologia Hiperexpressão de N-Myc e L-Myc: A hiperexpressão de N-Myc e de L-Myc atua na produção exacerbada de fatores de transcrição. O N-Myc está relacionado a 30% dos neuroblastomas. Além disso, a amplificação de N-Myc e de L-Myc tem relação com o câncer de pulmão do tipo pequenas células. c) Translocação: A translocação leva à hiperexpressão de um oncogene e resulta em rearranjos e novos genes quiméricos. Os grupos de proto-oncogenes que são convertidos a oncogenes por translocação são: ABL e C-Myc. As translocações podem ser recíprocas ou não-recíprocas. Translocações recíprocas: Um exemplo de translocação recíproca é a realizada entre um segmento do gene C-Myc, situado no cromossomo 8, e um segmento do gene da cadeia pesada da imunoglobulina (Ig), situado no cromossomo 14. Quando ocorre a troca, o segmento C-Myc vai para o cromossomo 14 e o segmento do gene Ig vai para o cromossomo 8. Esse evento amplifica as cópias do oncogene C-Myc, pois toda vez que o gene da imunoglobulina for expresso, o oncogene C-Myc também será. Esse evento genético está relacionado ao Linfoma de Burkitt. Translocações não-recíprocas: Um exemplo de translocação não-recíproca é acontece com um segmento do gene BCR, situado no cromossomo 22, que é translocado para o cromossomo 9, onde está o proto-oncogene ABL. Essa translocação é não-recíproca porque somente o segmento do BCR, localizado no cromossomo 22, vai para o cromossomo 9, onde está o ABL. O proto-oncogene ABL permanece no cromossomo 9, e após a translocação se transforma em oncogene ABL. Essa translocação forma uma proteína quimérica no cromossomo 9 que é oriunda da fusão dos dois segmentos, a proteína BCR-ABL. Hiperexpressão: SIS – astrocitoma e osteossarcoma. ERB-B1 – câncer de pulmão não-pequenas células. ERB-B2 – 20% a 25% dos cânceres de mama. N-Myc – 30% dos neuroblastomas e câncer de pulmão pequenas células. L-Myc – câncer de pulmão pequenas células. Translocação Recíproca: C-Myc no cromossomo 8 e Ig no cromossomo 14 – Linfoma de Burkitt. Jéssica N. Monte Turma 106 P2 Patologia O segmento do BCR que é translocado para o cromossomo 9 pode ser maior ou menor. Com base nisso proteína quimérica pode será longa ou curta. Quando ocorre a formação de uma proteína quimérica longa, esse evento genético se relaciona especificamente à leucemia mieloide crônica. Já quando ocorre a formação de uma proteína quimérica curta, esse evento genético se relaciona especificamente à leucemia linfoblástica aguda. 2) Alteração dos genes que regulam a apoptose: A célula maligna, em geral, hiperexpressa BCL-X e BCL-2. Isso significa que há um número de cópias maior desses genes. BCL-X e BCL-2 têm a função de impedir a apoptose, por meio da ligação ao complexo APAF1 que impede a saída do citocromo C da mitocôndria. Assim, diante desse maior impedimento da apoptose, a célula mutante progride no ciclo celular, acumulando instabilidades genéticas que darão origem ao câncer. Esse evento genético está intimamente relacionado com o crescimento tumoral. 3) Inativação dos genes de reparo do DNA: Os genes de reparo do DNA são importantes na manutenção da integridade do genoma, por isso são chamados também de mantenedores. Os genes de reparo do DNA propriamente ditos não são oncogênicos, mas suas anormalidades permitem mutações em outros genes durante o processo de divisão celular. A inativação da função dos genes de reparo do DNA acontece por mutação. Os genes de reparo têm alelos recessivos. Assim, para que ocorra a inativação do gene, a mutação deve ocorrer em homozigose, ou seja, nos dois alelos. Caso a mutação acontece em heterozigose, ou seja, em somente um dos alelos, o outro alelo normal é capaz de compensar a ação do que foi mutado. Quando o indivíduo possui essa mutação de forma hereditária e ela ocorre em homozigose, resultando na inativação dos genes de reparo, há uma alta chance de o indivíduo desenvolver a síndrome de Lynch, isto é, ter o desenvolvimento de câncer de intestino grosso e delgado (câncer colorretal não polipose hereditário), câncer de endométrio e de ovário. Câncer colorretal não polipose hereditário (HNPCC): Os genes de reparo PMS e PMS2, MLH1 e MSH2 quando são inativados apresentam relação com o câncer colorretal não polipose hereditário. No câncer colorretal não polipose hereditário, a mutação ocorre nas células germinativas, uma vez que é hereditário.Isso dá ao indivíduo uma propensão muito grande de desenvolver um câncer de intestino que não está relacionado a pólipos ou adenomas. Esse tipo de câncer está entre os 10% de cânceres de intestino que são herdados, uma vez que 90% deles são esporádicos e apresentam relação com adenomas. . Translocação Não-recíproca: BCR no cromossomo 22 e ABL no cromossomo 9. Proteína quimérica longa – leucemia mieloide crônica. Proteína quimérica curta – leucemia linfoblástica aguda. Inativação dos genes de reparo: Síndrome de Lynch: HNPCC, câncer de endométrio e câncer de ovário. HNPCC: genes de reparo PMS, PMS2, MLH1 e MSH2. Jéssica N. Monte Turma 106 P2 Patologia 4) Inativação de genes supressores tumorais: Os genes supressores promovem o controle, a modulação e a regulação do ciclo celular. Isso acontece através da produção de proteínas que suprimem o ciclo e impedem o crescimento desenfreado da célula. A perda da função ou a inativação de genes supressores leva a perda do controle do ciclo celular. A inativação desses genes é um evento chave em muitos ou possivelmente todos os tumores humanos, pois permite o crescimento desenfreado de células cancerígenas. Os genes supressores, assim como os de reparo do DNA, possuem alelos recessivos. Dessa forma, a sua inativação acontece a partir de uma mutação em homozigose, que acontece nos dois alelos. A mutação em heterozigose, de apenas um alelo, em um gene supressor tumoral não inativa a sua função, pois o outro alelo normal compensa o alelo mutado, tal qual ocorre nos genes de reparo do DNA. Gene supressor tumoral P53: O protótipo da classe de genes supressores tumorais é o gene P53, também conhecido como guardião do genoma ou policia molecular. O gene P53 sempre reconhece alguma alteração em nível de DNA. Por isso, ele é o alvo mais comum para alterações genéticas nos tumores humanos. Em condições de normalidade, o gene P53 pode ser chamado de P53 selvagem ou P53 silvestre. O gene P53 expressa a proteína P53, que por ser uma proteína instável, é rapidamente degradada por ação da proteína MDM2. Essa degradação acontece na região do nucleossoma celular, que é o local onde as proteínas citoplasmáticas são degradadas. Assim, a degradação da proteína P53 é muito rápida em condições normais. No entanto, quando há uma alteração no genoma e a consequente necessidade da ação do gene P53, a proteína P53 se torna mais estável e diminui a sua rapidez de degradação. O gene P53 para o ciclo celular entre as fases G1 e S para ativar os genes de reparo do DNA. Quando isso não é possível, o P53, a fim de impedir a replicação mutante, deflagra a apoptose. Já em condições de anormalidade, o gene P53 pode estar inativado por mutação. O que inativa o gene P53 é uma mutação em homozigose, ou seja, que acontece em ambos os alelos. Quando ocorre a inativação de P53, diz-se que houve uma perda homozigótica, pois a inativação causa uma perda da função. Devido à mutação do gene P53, ele perde a capacidade de parar o ciclo celular, induzir o reparo ou induzir a apoptose. A partir daí, a mutação inicial se propaga, possibilitando o surgimento do câncer. A perda homozigótica da atividade do gene P53 (nas células somáticas) ocorre em mais de 50% das neoplasias humanas, especialmente naquelas que mais ocorrem, como o câncer de pulmão, de intestino e de mama. Assim, mais de 50% das neoplasias humanas tem perda homozigótica somática da atividade do gene P53. Já a perda homozigótica herdada (que se inicia como uma perda heterozigótica) é um evento raro, e sempre fará parte de uma síndrome genética. Para uma pessoa com perda homozigótica herdada ter o gene P53 inativado, ela precisa ter ao longo da vida uma mutação no outro alelo do gene. Entretanto, a chance de isso acontecer é muito alta, uma vez que um dos alelos já está mutado em todas as células Jéssica N. Monte Turma 106 P2 Patologia somáticas, devido ao fato de a mutação ser herdada a partir da linhagem de células germinativas. Quando a mutação do gene P53 é herdada, tem-se uma das síndromes características do câncer, a síndrome de Li-Fraumeni. A inativação do gene P53 pode ocorrer também por outros motivos, que não só a mutação. Se alguma neoplasia apresentar a hiperexpressão de MDM2, a proteína que degrada a proteína P53, esta será degradada mais rapidamente e haverá perda da função do gene P53. Nesse caso, a perda da função do gene não está relacionada a uma mutação no gene P53, mas sim na proteína MDM2. A hiperexpressão de MDM2 é comum em 33% dos sarcomas humanos e em 50% das leucemias, os quais têm o gene P53 inativado mesmo sem a sua mutação. Outro mecanismo capaz de inativar o gene P53 tem relação com o HPV. A função carcinogênica do HPV tem uma íntima relação com a produção de onco- proteínas E6 e E7. A onco-proteína E6 aumenta a degradação da proteína P53, enquanto a onco- proteína E7 aumenta a degradação do gene supressor tumoral RB. Nesse caso, novamente, a perda da função do gene não está relacionada a uma mutação no gene P53, mas sim à expressão do oncogene E6. Gene supressor tumoral RB: Sua degradação é aumentada pela expressão do oncogene E7. Quando a mutação é esporádica, tem relação com retinoblastoma, osteossarcoma, câncer de mama, câncer de cólon e câncer de pulmão. Quando ocorre a mutação é hereditária, tem relação com retinoblastoma e osteossarcoma. Retinoblastoma: O retinoblastoma é causado pela mutação do gene supressor RB, tanto na linhagem das células germinativas quanto na linhagem das células somáticas. Quem herda o gene RB mutante tem um risco muito grande de desenvolver retinoblastoma em uma idade mais precoce, uma vez que a mutação está presente em todas as células germinativas. Genes supressores PTEN e KLFG: Sua mutação ocorre somente na linhagem de células somáticas, portanto é esporádica, e apresenta relação com o câncer de próstata. Não existem estudos relacionando a mutação hereditária desse gene e neoplasias malignas. Genes supressores BRCA1 e BRCA2: Sua mutação acontece somente nas células germinativas, portanto é hereditária. Apresenta relação com o câncer de mama feminino e masculino e com o câncer de ovário. *O BRCA2 é o gene da polêmica da mastectomia da Angelina Jolie. Jéssica N. Monte Turma 106 P2 Patologia Genes supressores APC e Beta-catenina: Quando a mutação é somática, está relacionada com câncer de intestino, câncer de estômago e câncer de pâncreas. Já quando ocorre a mutação é herdada, apresenta relação com a polipose adenomatosa familiar (quando ocorre em heterozigose) e com o câncer de pulmão (quando ocorre em homozigose). Polipose adenomatosa familiar (PAF): A polipose adenomatosa familiar é uma síndrome genética hereditária e rara. O indivíduo que contêm essa síndrome apresenta inúmeros adenomas pelo trato gastrointestinal, o que resulta em uma chance muito grande de desenvolvimento de um adenocarcinoma. Pacientes que têm essa síndrome podem realizar uma colectomia como forma profilática ao adenocarcinoma, dependendo da parte do trato onde a polipose está concentrada. Gene supressor WT1: Quando a mutação é somática, tem relação com tumor de Wilms (nefroblastoma) e câncer de mama. Quando a mutação é hereditária, tem relação somente com o tumor de Wilms. Gene supressor P16 (INK4a): Quando a mutação é somática, tem relação com câncer de esôfago e câncer de pâncreas. Quando a mutação é hereditária, tem relação com o melanoma. Gene supressor NF1: Quando a mutação é somática, tem relação com o neuroblastoma. Quando a mutação é hereditária, tem relação com a neurofibromatose tipo 1 com esarcomas (neoplasias mesenquimais malignas) em geral. Neurofibromatose do tipo 1: A neurofibromatose do tipo 1 é uma doença herdada relacionada à mutação hereditária do gene supressor NF1. Clinicamente, o paciente apresenta neurofibromas (tumores sólidos espalhados pelo corpo, mas benignos), além de glioma de nervo óptico, nódulo de Lisch (nódulo hiperpigmentado da íris) e manchas hiperpigmentadas na pele do tipo café com leite. Gene supressor NF2: Quando a mutação é somática, tem relação com meningiomas (tumor benigno do revestimento cerebral) e Schwanomas (tumores benignos das células de Schawm que produzem mielina). Quando a mutação é hereditária, tem relação com a neurofibromatose do tipo 2. Neurofibromatose tipo 2: A neurofibromatose do tipo 2 é causada por uma mutação esporádica do gene supressor NF2, não hereditária, que apresenta meningiomas e Schwanomas múltiplos. Jéssica N. Monte Turma 106 P2 Patologia Células cancerígenas: Para que as células cancerígenas apresentem o potencial de invasividade local e de gerar metástases, é necessária, por meio da inativação de genes do reparo do DNA, a mutação dos genes das caderinas e a hiperexpressão dos genes das metaloproteinases. As células cancerígenas apresentam em comum a hiperexpressão do gene da telomerase. A telomerase tem a função de reconstituir os telômeros, que estão relacionados com o ciclo de vida da célula. Com o gene da telomerase hiperexpresso, os telômeros são amplificados e não encurtam. Em consequência disso, a célula não entra em morte celular, tornando as células malignas imortais. Marcas fenotípicas das células neoplásicas adquiridas através da aquisição do genótipo maligno: 1. Autonomia de proliferação: Os genes de proliferação estão superativados por meio da ativação de oncogenes. 2. Insensibilidade aos sinais inibidores de mitoses: Essa insensibilidade acontece porque há inibição dos supressores, e a mitose perde totalmente a sua regulação. Os supressores geralmente controlam as proteínas que regulam as proteínas que controlam a mitose, como a MAPKS (proteína mitogênica ativadora). A partir disso, há, portanto, uma inibição do inibidor que regula as MAPKS, as quais regulam a mitose. Além disso, também existe relação com a inibição do inibidor das CDKIs (quinases dependentes de ciclinas), que são ativadas para o início da mitose. 3. Evasão da apoptose: As células cancerígenas fogem da apoptose por meio da hiperexpressão de BCLX e BCL2. Genes supressores tumorais: P53: Mutação somática: 50% das neoplasias humanas. Mutação hereditária: rara, síndrome de Li-Fraumeni. Oncogene E6 produzido pelo HPV. Proteína MDM2. RB – retinoblastoma. BRCA2 – câncer de mama. APC e Beta-catenina – polipose adenomatosa familiar (PAF) NF1 – Mutação hereditária: neurofibromatose do tipo 1. NF2 – Mutação somática: neurofibromatose do tipo 2. Jéssica N. Monte Turma 106 P2 Patologia 4. Evasão da senescência: As células cancerígenas escapam do envelhecimento devido à hiperexpressão do gene da telomerase. 5. Evasão do sistema imunológico: As células cancerígenas mimetizam antígenos que são reconhecidos pelo sistema imune como próprios, passando despercebidas. Acontece um bloqueio da função do linfócito T citotóxico, que seria capaz de destruir a célula tumoral, pois este não reconhece a célula tumoral como uma célula diferente. Principais mecanismos da imunoterapia: O Ipilimab (nome comercial Yervoy) é usado para melanoma metastático. Ele provoca a inativação do CTLA-4, que nesse caso é quem bloqueia o linfócito T. Anti-PDL: algumas espécies de cânceres têm células que hiperexpressam uma proteína chamada PDL, que engana o linfócito T, bloqueando-o, impedindo a sua ação de citotoxicidade de reconhecimento da célula tumoral. Quando esses tumores expressam mais de 50% de PDL, utiliza-se essa terapêutica, pois o anti-PDL se liga ao sítio de ligação da PDL, liberando o linfócito para agir e, consequentemente, desbloqueando o sistema imune. Essa terapêutica é muito utilizada em cânceres de pulmão. 6. Instabilidade genômica: A instabilidade genômica da célula tumoral já se inicia a partir da primeira mutação, que deixa a célula instável e propensa a novas mutações adicionais. 7. Capacidade de invasão: Todas as células malignas possuem essa capacidade. Essa invasão é propiciada pelo evento genético da mutação das caderinas e da hiperexpressão das metaloproteinases. A mutação dos genes das caderinas promove disjunções celulares e permite que as células se liguem aos receptores de laminina e fibronectina para degradar a membrana basal e invadir localmente. 8. Capacidade de metastizar: Todas as células malignas possuem essa capacidade. Alterações epigenéticas do câncer: A epigenética estuda a influência do ambiente na expressão gênica, sem necessariamente alterar o gene. A epimutação se equivale à mutação, uma vez que não ocorre uma alteração genética, mas a expressão do gene é mutada.
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