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Perdas por Interceptação em Ambiente Semiárido

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Perdas por interceptação em uma região semiárida tropical
Taiane de Almeida Pereira1; Helba Araújo de Queiroz Palácio2; José Bandeira Brasil3; Geovane Barbosa Reinaldo Costa4; Marcos Makeison Moreira de Sousa5
1Graduanda em Tecnologia em Irrigação e Drenagem; Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará - Campus Iguatu; Iguatu, CE; e-mail: taianeirrigacao@gmail.com; 2Licenciada em Ciências Agrícolas, D.Sc., Profa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará - Campus Iguatu; 3Mestrando em Engenharia Agrícola; Universidade Federal do Ceará; 4Graduando em Tecnologia em Irrigação e Drenagem; Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará - Campus Iguatu; 1Graduando em Tecnologia em Irrigação e Drenagem; Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará - Campus Iguatu.
 
RESUMO: Estudos relacionados a perda por interceptação em ambientes semiáridos é fundamental para compreender o balanço hídrico. Diante disto, este trabalho objetiva avaliar as relações existentes entre a precipitação interna, escoamento pelo caule e as perdas por interceptação em uma área experimental com caatinga em regeneração no semiárido cearense. O experimento foi realizado no ano de 2017 em uma microbacia experimental pertencente ao Instituto Federal de Educação, Ciência, e Tecnologia do Ceara (IFCE), Campus Iguatu, com área de 10 x 10 m2. A precipitação total foi determinada através de um pluviômetro tipo “Ville de Paris” instalado em área aberta. Verificou-se que a precipitação total (P) totalizou 528,3 mm. Este total foi redistribuído na forma de precipitação interna (Pint) 416,2 mm (78,3% de P), escoamento pelos caules (Esc) 34,2 mm (5,2% de P) e perdas por interceptação (I) e 77,9 mm (16,5% de P). Contrário ao comportamento da interceptação, a precipitação interna e escoamento pelo caule aumentaram para eventos de maior altura pluviométrica.
PALAVRAS–CHAVE: Caatinga em regeneração, Semiárido, Altura pluviométrica.
INTRODUÇÃO
Em ambientes áridos e semiáridos as perdas por interceptação são essenciais para compreensão do balanço hídrico. O conhecimento dessa perda inicial dá-se mediante a quantificação da precipitação total e da precipitação interna e escoamento pelo caule (BRASIL, 2015).
O tipo de cobertura vegetal existente na área de estudo contribui no balanço hídrico, e pode influenciar na entrada da água no solo. A cobertura presente nas árvores funciona como um sistema de amortecimento, direcionamento e retenção das gotas que efetivamente chegam a superfície do solo, aferindo assim na execução do escoamento superficial e o procedimento de infiltração (OLIVEIRA JUNIOR e DIAS, 2005).
As perdas das chuvas através da interceptação das precipitações variam conforme o tipo de cobertura vegetal, onde são importantes para a compreensão do estudo hidrológico em bacias experimentais (BRASIL, 2015). 
As quantidades relativas de chuva, seu regime sazonal e a intensidade de chuvas individuais são algumas das características que afetam direta ou indiretamente a interceptação em uma bacia hidrográfica (LIMA et al., 2012). 
Estudos conduzidos em diferentes tipos vegetais no Brasil e no Mundo constataram interceptações que variaram de 21% na floresta Amazônica, 13% na Caatinga, 14,5% na Floresta Subtropical, 14,9% na Mata Atlântica e 22,5% em vegetação Fraxinus rotundifolia Mill (OLIVEIRA et al., 2008; MEDEIROS et al., 2009; CALUX e THOMAZ, 2012; LORENZON et al., 2013; SADEGHI et al., 2015).
Nesse contexto, objetivou avaliar as relações existentes entre a precipitação interna, escoamento pelo caule e as perdas por interceptação em uma área experimental com caatinga em regeneração no semiárido cearense. 
MATERIAL E MÉTODOS
 Optou-se por estimar as perdas por interceptação na cidade de Iguatu-CE em escala de comunidade vegetal segundo Medeiros (2005), tendo-se medido precipitação total, precipitação interna e escoamento pelos troncos das árvores em uma área de 10 x 10 m.
 A medição do escoamento pelos caules na microbacia se deu em seis árvores, cada uma de acordo com classe de circunferência inferior a 20 cm (classes 1 e 2) e as classes 3, 4, 5 e 6 tem circunferência superior a 21,1 cm, estas árvores são representativas das classes de diâmetros existentes na área. Os mesmos foram confeccionados com calhas de zinco colocadas na envoltura dos troncos, prendidas nas árvores com massa epóxi, e uma mangueira plástica que ligava o dispositivo a um recipiente coletor de água (Figura 1).
 O cálculo do escoamento pelos caules é obtido pela soma dos produtos do escoamento da árvore representativa de cada classe pela quantidade de árvores da classe, sendo expresso pela Equação 1.
(1)
Em que: Esc - escoamento pelo caule calculado para cada evento de chuva diário, mm; n - número de classes de diâmetros; Ei - escoamento pelo caule da árvore representativa da classe i; qi - quantidade de árvores daclasse i.
As perdas por interceptação foram estimadas indiretamente pela diferença entre a precipitação total e a quantidade de água que atinge o solo expressa pela soma da precipitação interna e do escoamento pelos caules das árvores (Equação 2).
I = P-(Pint + Esc) (02)
Em que: I - perda por interceptação, mm; P - precipitação total, mm; Pint - precipitação interna medida sob a vegetação, mm; Esc - escoamento pelos caules das árvores, mm.
 Observa-se na Figura 1 um esquema apresentando a medição dos componentes da interceptação, ou seja, o balanço de entrada e saída de água na planta. 
Figura 1 - Esquema de medição dos componentes da interceptação (I). IFCE, Campus Iguatu.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante o ano de 2017 foram contabilizados 40 eventos de precipitação pluviométrica (Tabela 1). As maiores alturas pluviométricas foram verificadas nos meses de fevereiro a abril (Tabela 1). No mês de maio foi registrado um decréscimo na precipitação, representando o final do período chuvoso, que é característica da região, onde os maiores volumes de precipitação se concentram nos primeiros meses do ano, como constatado por Guerreiro et al. (2013) e Andrade et al. (2016). O total precipitado durante o período de estudo foi de 528,3 mm, estando 39,06% abaixo da média histórica da região, que é de 867 mm (SANTOS et al., 2017). Observando os percentuais médios de interceptação, nota-se que o mês de maio teve o maior percentual de interceptação. Tal fato é atribuído a dois eventos que concentraram baixas alturas pluviométricas e intensidade. 
Tabela 1. Valores mensais e totais obtidos para a precipitação total, precipitação interna, escoamento pelos caules e perdas por interceptação em (mm) e (%).
	Meses
	Número 
de eventos
	P
	Pint
	Esc
	I
	
	
	mm
	mm
	%
	mm
	%
	mm
	%
	Janeiro
	6
	66,0
	51,6
	79,3
	5,5
	6,3
	9,0
	14,4
	Fevereiro
	7
	87,6
	68,6
	78,6
	5,4
	6,0
	13,7
	15,5
	Março
	15
	199,0
	156,6
	77,9
	13,0
	5,2
	29,4
	16,9
	Abril
	7
	89,8
	69,8
	76,3
	6,3
	5,2
	13,7
	18,6
	Maio
	3
	49,8
	34,6
	77,7
	2,1
	3,0
	6,9
	19,3
	Junho
	2
	36,1
	35,0
	79,9
	2,0
	5,6
	5,3
	14,6
	Total
	40
	528,3
	416,2
	-
	34,2
	-
	77,9
	-
	Média
	-
	-
	-
	78,3
	-
	5,2
	-
	16,5
Constatou-se que a precipitação interna (Pint) correspondeu a 416,2 mm (78,3% de P), o escoamento pelo caule (Esc) totalizou 34,2 mm (5,2% de P) e perdas por interceptação (I) de 77,9 mm (16,5% de P) (Tabela 1). Comparando o valor médio de interceptação encontrado neste estudo, observa-se que as perdas por interceptação foram próximo as obtidas por Návar et al. (1999) de 16,4% na região semiárida no Nordeste do México; em regiões com clima e vegetação distintas observa-se mesma relação com valores de 14,9 a 18,6 (LORENZON et al. 2013; ARCOVA et al., 2003). A variação entre os valores encontrados no presenteestudo e os valores dos autores supracitados explica-se pelas diferentes características das precipitações de cada região.
De acordo com a (Figura 2), a precipitação interna representa o maior componente da entrada de precipitação na floresta (normalmente valores > 70% da precipitação total (ZHANG et al., 2015; SADEGHI et al., 2016). Eventos de baixa altura pluviométrica induzem alta variabilidade na distribuição da precipitação interna, devido à diferença na perda por interceptação inicial, como verificado por (STAELENS et al., 2008).
Figura 2. Partição das chuvas em precipitação interna, escoamento pelo caule e perda por interceptação em função da altura pluviométrica 
O percentual do escoamento pelo caule aumentou para eventos de maiores alturas pluviométricas, como verificado pela boa correlação entre as duas variáveis. Já o percentual de perda por interceptação diminuiu com o aumento da altura pluviométrica, confirmando que a maior porcentagem de perda de interceptação ocorre durante eventos de baixa altura pluviométrica (STAELENS et al., 2008; ZHANG et al., 2015; SADEGHI et al., 2016).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As perdas médias por interceptação durante o período de estudo foram de 16,5%. Contrário ao comportamento da interceptação, a precipitação interna e escoamento pelo caule aumentaram para eventos de maior altura pluviométrica.
No período chuvoso a precipitação interna representou aproximadamente 78,3% da precipitação, enquanto que para a época seca representou 81,2% e os escoamentos pelos caules correspondem a 5,2% da precipitação total.
REFERÊNCIAS
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