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multiparentalidade: reconhecimento e seus efeitos no ordenamento jurídico

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UNIVERSIDADE CEUMA 
PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
KARINA MUNIZ MESQUITA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MULTIPARENTALIDADE: RECONHECIMENTO E EFEITOS NO ORDENAMENTO 
JURÍDICO. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Luís 
2018 
 
 
KARINA MUNIZ MESQUITA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MULTIPARENTALIDADE: RECONHECIMENTO E EFEITOS NO ORDENAMENTO 
JURÍDICO. 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
como requisito de obtenção de nota parcial do 
grau à obtenção do título de Bacharel do curso de 
Direito da Universidade Ceuma. 
 
Orientadora: Profª. M.ª Ana Letícia Bacelar Viana 
Bragança. 
 
 
 
 
 
 
 
 São Luís 
2018 
 
 
KARINA MUNIZ MESQUITA 
 
 
MULTIPARENTALIDADE: RECONHECIMENTO E EFEITOS NO ORDENAMENTO 
JURÍDICO. 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao 
Curso de Direito da Universidade Ceuma, como 
requisito parcial à obtenção do título de Bacharel 
em Direito. 
 
 
Aprovado em ___/___/___ 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
_____________________________________________ 
Profª M.ª Ana Letícia Bacelar Viana Bragança (Orientadora) 
 
 
 
_____________________________________________ 
1 Examinador 
 
 
 
_____________________________________________ 
2 Examinador 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Quero agradecer primeiramente а Deus que proporcionou e permitiu que 
tudo isso acontecesse, ao longo de minha vida, е não somente nestes anos como 
universitária, mas que em todos os momentos e em todas as áreas é o maior mestre 
que alguém pode conhecer sem dúvidas. 
Aos meus pais pelo amor, incentivo, e apoio incondicional que sempre me 
deram nas horas mais difíceis, de desanimo e cansaço, e nunca desistiram para que 
tudo isso acontecesse. 
Aos meus irmãos e sobrinho por fazer parte desse momento tão valioso e 
importante, ao meu namorado Wyldison por fazer parte dessa caminhada. 
Meus agradecimentos a todos os professores e a Universidade Ceuma 
por me proporcionar o conhecimento nesse processo de formação. 
E por fim a todos que direta e indiretamente fizeram parte da minha 
formação, o meu muito obrigado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DEDICATÓRIA 
 
A minha devotada e inseparável mãe, uma mulher 
ímpar na minha vida, em que devo muito por 
todas as coisas que já me fez. 
Ao meu pai que esteve acompanhando a minha 
luta para formação e aos meus irmãos amados 
que são pessoas incríveis em minha vida e a toda 
a minha família. 
“Assim acontece com vocês. Se não proferirem 
palavras compreensíveis com a língua, como 
alguém saberá o que está sendo dito? Vocês 
estarão simplesmente falando ao ar. Sem dúvida, 
há diversos idiomas no mundo; todavia, nenhum 
deles é sem sentido. Se, porém, alguém falar em 
línguas, devem falar dois, no máximo três, e 
alguém deve interpretrar. Se não houver 
intérprete, fique calado na igreja, falando consigo 
mesmo e com Deus.” 
1 Coríntios 14:9 10,27,28 
 
 
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS 
 
Art. Artigo 
CC Código Civil 
CF Constituição Federal 
CNJ Conselho Nacional de Justiça 
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
A multiparentalidade é um fenômeno que surgiu devido às transformações ocorridas 
no conceito de família, que se modificou no decorrer do tempo. De modo, que a 
entidade familiar que antes era vista como um núcleo que visava apenas o interesse 
econômico, religioso e patriarcal, em que a figura do pai era o chefe da família e 
mandava e desmandava dentro de casa. Nota-se que está relação era 
extremamente restrita, pois a família somente era constituída através do matrimônio. 
Isso podia ser observado pelo código civil de 1916 que reconhecia apenas os filhos 
biológicos como herdeiros. Esse cenário começa a mudar já que a sociedade é um 
meio mutável, em que as pessoas mudam a forma de se relacionar e diante dessas 
transformações a família passou a ter como função primordial a busca pela 
felicidade dos seus integrantes, passando a levar em consideração não somente a 
relação sanguínea ou o casamento como única forma de construir uma família. É a 
partir desse ponto que a sociedade começa a valorizar o afeto como meio de 
estruturar uma base familiar, pois agora o que importa não é mais o patrimônio que 
irá somar com o casamento e sim a busca pela felicidade. E é assim que surge a 
multiparentalidade, como forma de proporcionar que uma criança possua mais de 
um pai ou uma mãe por meio da valorização do vínculo afetivo. 
 
Palavras-chave: Multiparentalidade; afeto; família; valorização afetiva. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
Multiparentality is a phenomenon that arose due to the transformations occurred in 
the concept of family, which has changed over time. So that the family entity that was 
formerly seen as a nucleus aimed only at economic, religious, and patriarchal 
interest, where the father figure was the head of the family and sent and unmasked in 
the house. It is noted that this relationship was extremely restricted, since the family 
was only constituted through marriage. This could be observed by the civil code of 
1916 that recognized only the biological children as heirs. This scenario begins to 
change since society is a changing medium, in which people change the way of 
relating and in the face of these transformations the family began to have as its 
primary function the search for the happiness of its members, starting to take into 
account not only the blood relationship or marriage as the only way to build a family. 
It is from this point on that society begins to value affection as a means of structuring 
a family base, because now what matters is not the patrimony that will add to 
marriage but the search for happiness. And this is how multiparentality arises, as a 
way of providing a child with more than one parent by valuing the affective bond. 
 
Keywords: Multiparentality; affection; family; affective valorization. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10 
2 FAMÍLIA ................................................................................................................. 12 
2.1 Evolução da concepção da família .................................................................. 12 
2.2 Função da família .............................................................................................. 14 
2.3 Princípios que regem o direito de família ....................................................... 16 
2.3.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana ..................................................... 16 
2.3.2 Princípio da Afetividade .................................................................................... 17 
2.3.3 Princípio do Melhor Interesse da Criança e do Adolescente ............................ 19 
3 FILIAÇÃO ............................................................................................................. 21 
3.1 Evolução conceitual de filiação e seus critérios ............................................ 21 
3.2 Espéciede filiação ............................................................................................ 24 
3.2.1 Filiação Biológica.............................................................................................. 24 
3.2.2 Filiação Adotiva ................................................................................................ 27 
3.2.3 Filiação Socioafetiva......................................................................................... 30 
4 MULTIPARENTALIDADE ..................................................................................... 34 
4.1 Conceitos e Aspectos ....................................................................................... 34 
4.2 Reconhecimento da Multiparentalidade Pelos Tribunais .............................. 37 
4.3 O valor jurídico do afeto e a multiparentalidade............................................. 41 
4.4 Dos Efeitos Jurídicos do Reconhecimento da Multiparentalidade ............... 42 
4.4.1 Na Obrigação de Alimentar .............................................................................. 43 
4.4.2 Do Direito Sucessório ....................................................................................... 44 
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 47 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 50 
 
 
 
 
10 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O presente trabalho monográfico tem como objetivo o estudo do instituto 
da multiparentalidade e os seus efeitos no mundo jurídico decorrente do seu 
reconhecimento. Em seu primeiro capítulo será analisado primeiramente a entidade 
familiar, começando com um olhar histórico que transcorrerá do que era a família na 
idade média até chegar nos dias atuais, de modo a demostrar as transformações 
ocorrida no conceito de família decorrente das mudanças ocorridas nas relações 
pessoais da sociedade, em que antigamente para que fosse formada um família 
seria necessário que houvesse o casamento e aquele filho que fosse concebido fora 
do casamento era considerado ilegítimo não tendo nenhum direito que os filhos 
advindo do casamento. 
Esse cenário começa a mudar, pois a sociedade e meio evolutivo e 
dinâmico que não fica estagno no tempo rompendo com essa ideia de família 
matrimonial e passando a forma vários tipos de familiar em que sua estrutural central 
não seria mais aquela formada pelo pai, mãe e filhos e sim com a possibilidade 
variada de formação como, por exemplo, dois pais, duas mães ou somente duas 
mães. 
Veja que a família passou de uma visão matrimonial e rígida para uma 
estrutura diversificada e passou a valorizar a busca pela felicidade dos indivíduos 
que formam a família. Tudo isso graças à promulgação da Constituição Federal de 
1988, que deu uma visão mais humanística e proibiu a distinção entre os filhos. 
Levando a família a se ligar por meio do amor e afeto e não por interesses pessoais 
e patrimoniais. 
Já no segundo capítulo o nosso foco passa a ser os tipos de filiação: 
biológica, afetiva e a adoção. O intuito desse capítulo é estudar os conceitos de 
cada tipo de filiação e demostrar que diante das transformações ocorrida no direito 
de família já está mais que superada a distinção entres os tipos de filiação, não 
havendo nenhuma hierarquia entre eles e garantido os mesmos direitos aos filhos 
seja ele biológico ou afetivo, pois o que importa não é mais o material genético que 
cada um carrega para dizer se é filho ou não e sim a existência de afeto entre as 
pessoas. Pois o panorama atual é a valorização do amor em que a relação de 
11 
 
 
 
parentesco não está mais ligada a consanguinidade e sim aos sentimento de carinho 
e cuidado que ligam as pessoas, de modo que filho é aquele independe de ter sido 
concebido no casamento ou ter o mesmo material genético. 
Superando essa parte inicial passa a ser estudado no terceiro capítulo o 
instituto da multiparentalidade, tendo como intuído o estudo do seu conceito por 
meio da analise de doutrinas e jurisprudência. E ainda como a afetividade implicou 
para o surgimento desse fenômeno e por fim analisar as consequências ocorridas 
com o reconhecimento da multiparentalidade sobre a obrigação de alimentar e no 
direito sucessório, se essa dupla filiação também gera obrigação de pagar alimentos 
tanto para o pai biológico como para o afetivo e se este filho afetivo terá direito a 
herança. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
 
 
2 FAMÍLIA 
 
O presente capítulo apresenta a temática acerca do instituto da família, 
abortando sua definição, apresentando as normas que disciplinam sobre assunto e 
os princípios que o norteiam, com a finalidade de explorar um melhor entendimento 
em relação ao conceito de família. 
 
2.1 Evolução da concepção da família 
 
No decorrer dos últimos anos o conceito sobre família vem sofrendo 
várias modificações e ampliando os seus limites, saindo de um núcleo familiar 
restrito formado apenas pelo pai, mãe e filhos e passando a ter como limitador as 
relações de carinho e amor entres seus entes queridos, assim passando a ter como 
condição primordial na definição de parentescos não a ligação sanguínea e sim o 
afeto. 
Dessa forma, o que se ver é que não há mais um padrão do que seja 
família, pois como se sabe o direito vive em constante transformação e em relação 
ao direito de família não poderia ser diferente. Para melhor entendermos é preciso 
voltar a uns séculos e demostrar a evolução da definição de família para melhor 
compreensão do seu atual conceito. 
O conceito de família se estabeleceu em uma definição romana, que tinha 
como base uma relação familiar hierárquica, onde o pai (pater familias) exercia o 
papel de autoridade sobre a mãe e os filhos, tendo total poder sobre eles e até 
mesmo sobre os bens que possuíam ou sobre qualquer pessoa que vivia ao seu 
redor em sua casa como, por exemplo, os escravos. A figura do pai, além de possuir 
o papel de chefe sobre membros da família cumpria as funções políticas, 
sacerdotais e de autoridade julgadora castigando qualquer um dos membros de sua 
família como achasse ser necessário. 
Nesse sentido, Rosa (2013, p.24) em seu livro intitulado: um novo 
conceito de família? Explica como era caracterizada essa família hierarquizada: 
 
A família colonial era bem hierarquizada, estando o homem no topo da 
pirâmide. Ele era o pai, o marido, o chefe da empresa, o comandante da 
tropa, a quem todos os demais se subordinavam. O único interesse que 
13 
 
 
 
contava era o do pai. As demais vontades e interesses individuais eram 
desestimuladas. 
 
Nessa contextualização de família fica evidente a importância do homem 
como sendo o centro da entidade familiar, ressaltasse que nesse conceito de família 
a mulher exercia o mero papel de reprodutora e doméstica, cuidando apenas dos 
afazeres domésticos não tendo qualquer controle sobre sua própria vida, tendo que 
ser submetida às vontades do chefe da família, que no caso era o pai e sendo vista 
aos olhos dos seus maridos apenas como um objeto, não possuindo nenhum direito 
a opinar sobre a criação dos seus filhos ou exercer qualquer poder sobre eles. 
No entanto, essa ideia de família tradicional fundada sob a autoridade 
paternal em que ele poderia mandar em todos perde força e acaba sendo 
incorporado o novo conceito influenciado pelo direito canônico, que seria o de família 
conjugal restrita, que correspondia aos conjugues e aos filhos provenientes do 
casamento. De modo, que a família somente poderia ser formada pormeio do 
matrimônio, sendo reconhecido como o único meio legítimo de constituir família e 
tudo aquilo que for concebido fora do casamento não era reconhecido. 
É o que explica Madaleno (2013, p.8): 
 
O casamento identifica a relação formal consagrada pelo sacramento da 
Igreja, ao unir de forma indissolúvel um homem e uma mulher e cujos 
vínculos foram igualmente solenizados pelo Estado, que, durante largo 
tempo só reconheceu no matrimônio a constituição legítima de uma 
entidade familiar, marginalizando quaisquer outros vínculos informais. 
 
Ainda no século XX com a vigência do código civil de 1916 o direito 
canônico ainda exercia muita influência sobre as concepções sobre família. O código 
civil dessa época estava encharcado de preconceito em seus artigos em relação ao 
reconhecimento na formação da família fora do casamento, pois, somente era aceito 
o tipo de família gerada pelo matrimônio, esse tipo de constituição era considerada 
como a família legítima, pois era constituída pelos laços biológicos, sanguíneos 
tendo como formação os pais e os filhos. E aquele que era constituído fora do 
casamento era denominado como concubinato, essas não possuíam nenhum direito 
e eram excluídas pela sociedade. 
Nesse sentido, leciona Leite (2016, p.28): 
 
14 
 
 
 
A ocorrência ou não do casamento determinava a legitimidade da filiação e 
o status daí decorrente era de extrema importância, porque garantia as 
vantagens de ordem pessoal e patrimonial quanto à filiação “legítima”, já 
afiliação dita “ilegítima”, não usufruía na ordem civil. 
 
Diante dessa diferenciação na formação do que viria a ser família se 
gerou uma grande injustiça, pois aqueles que formavam família fora do casamento e 
tinham seus filhos e concubinas não seriam reconhecidos, de forma que eles não 
possuiriam nenhum direito igual àqueles que foram provenientes do casamento. 
Contudo, esse cenário precisou ser alterado, pois a concepção de família 
foi se ampliando, não sendo necessariamente formada apenas pela figura do pai, 
mãe e filhos, pois a sociedade com o passar dos anos evolui, a figura da mãe 
passou a ter voz e direitos, deixou de ser apenas vista como uma reprodutora e 
passou a ser vista como mulher, companheira do seu marido, adquiriram direitos e 
espaço na sociedade. 
A sociedade começou ater outro olhar sobre as relações familiares 
formada fora do casamento e com o passar do tempo essas mudanças obrigaram o 
reconhecimento dos direitos das pessoas, inclusive aos direitos das mulheres, ao 
reconhecimento daqueles que mesmo não tendo ligações matrimonias, formavam 
novas entidades familiares e precisavam ter seus direitos regimentados. O grande 
marco da conquista desses direitos foi a Constituição Federal de 1988, que deu 
adeus à família patriarcal e a matrimonial, dando um grande passo na conquista do 
direito de família criando novos tipos de família, até então nunca aceitos pela 
sociedade. 
Exemplo disso foi a redação dada pelo artigo 5°, inciso I, da Constituição 
Federal, que estabeleceu que homens e mulheres são iguais em direito e 
obrigações, dando um grande passo a quebra da constituição familiar patriarcal e se 
afastando da família matrimonial do código civil de 1916, que abortava a concepção 
de família de forma preconceituosa. De forma, que a legislação com o passar do 
tempo foi alterando lentamente para se adequar as necessidades e acompanhar as 
evoluções das relações pessoais (BRASIL, 1988). 
 
2.2 Função da família 
Como visto no tópico anterior a família possuía uma função religiosa, 
econômica, política e procracional, exercida através de um poder patriarcal o que 
15 
 
 
 
com passar dos anos foi mudando. Hoje essa família hierárquica deu espaço para 
uma família solidaria e amorosa, que aceita a comunhão e a diversidade como meio 
para formarem uma família. 
Essa dicotomia do que era ser família e nos dias de hoje pode ser 
observada com o reconhecimento do filho que era gerado fora do casamento, que 
antes era visto pela sociedade como um bastardo, não reconhecido e não tendo 
nenhum direito como tal. O que passa a mudar com a nova concepção de família, 
em que para ser filho não precisa ser aquele gerado no casamento ou fora dele e 
sim àquele que possui uma relação de afeto. De forma que esses conceitos passam 
a ser aceitos pela sociedade como definidores para formação de família o que 
ganhou mais base com a Constituição Federal de 1988 que vedou qualquer 
discriminação entre filhos deixando para trás os preconceitos do código civil de 
1916. 
Assim, a modificação dessa estrutura familiar que era fundada no poder 
marital passa a ter um condão mais afetivo deixando as funções econômicas e 
politicas em segundo plano e passando a expressar uma função mais afetiva e 
solidaria se preocupando em dar aos seus entes o desenvolvimento necessário para 
gerir as relações humanas a vivência em sociedade passando a ser um local de 
desenvolvimento da afetividade, onde buscam mutuamente o bem comum, buscam 
alcançar o desenvolvimento da personalidade dos seus membros familiares. 
É que Paulo Lôbo (2015, p. 18) esposa que: 
 
“A realização pessoal da afetividade, no ambiente de convivência e 
solidariedade, é a função básica da família de nossa época. Suas antigas 
funções feneceram, desapareceram ou passaram a desempenhar papel 
secundário. Até mesmo a função procracional, com a secularização 
crescente do direito de família e a primazia atribuída ao afeto, deixou de ser 
sua finalidade precípua” 
 
Nesse mesmo sentido a autora Dias (2013, p. 43) assevera que a família 
agora esta fundada sobre os pilares da afetividade, dando um novo olhar ao direito 
de família e que o individuo agora é que deve ser levado em conta e não mais os 
bens. 
Diante do exposto fica claro que a família passou a ter uma função 
educadora, que almeja alcançar a felicidade individual, baseada no amor se 
preocupando com cada membro da família. Se desatrelando totalmente daquele 
16 
 
 
 
conceito romano de pater famílias fundado no poder patriarcal que exercia uma 
função econômica, política e religiosa. 
 
2.3 Princípios que regem o direito de família 
 
Esse tópico tem como objetivo estudar os principais princípios que são 
aplicáveis ao direito de família e como devem ser abortados. Visa mostrar a 
necessidade da aplicabilidade desses princípios na garantia dos direitos e na 
formação dos novos tipos de família. 
 
2.3.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana 
 
A previsão legal do princípio da dignidade da pessoa humana está 
previsto no artigo 1º, inciso III da Constituição Federal é o princípio basilar do estado 
democrático de direito. Não se trata de um princípio específico do direito de família, 
mas deve serve como base para orientar no caso concreto, uma vez que tem como 
diretrizes a proteção dos direitos fundamentais, bem como a justiça social e os 
direitos humanos. 
 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel 
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado 
Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
III - a dignidade da pessoa humana; 
 
Tal princípio tem como objetivo preservar a dignidade da pessoa humana 
de forma igualitária defendendo-a de qualquer situação degradante ou desumana, 
visualizando a pessoa com um ser possuidor de direitos e respeitando suas formas 
de interação em sociedade. É o que Valadares (2017, p.31) explica ao afirmar que 
para que se tenha dignidade humana se precisa respeitar primeiro a individualidade. 
Dessa forma, o princípio da dignidade da pessoa humana deve ser levado 
em conta para interpretação de todo o direito, devido à importânciaque a 
Constituição Federal deu a este princípio na busca pela proteção da pessoa humana 
é de suma relevância a sua observância no direito de família. 
A família como um todo tem como função primordial exercer o 
desenvolvimento dos membros de sua família. É na família as primeiras interações 
17 
 
 
 
com a sociedade é nesse convívio familiar que se aprende as primeiras palavras, 
sentimentos e afetos. À vista disso, essas relações devem se basear no respeito da 
pessoa humana, por meio desse princípio, devendo ser observado por todos os 
membros da família, promovendo um convívio familiar harmonioso, de mútuo 
respeito. Ressalta-se que também é dever do Estado a proteção da família por ser o 
principal ambiente desenvolvimento da pessoa humana. 
Desse modo, o princípio da dignidade da pessoa humana deve ser visto 
como um dos alicerces para a formação da família. Ele veio para quebrar as barreias 
do preconceito e dar um novo olhar sobre o ser humano e nas suas formas de 
interação. Desmitificando a conceituação rígida do que era família e mostrando que 
o que importa na formação de uma família é o respeito, o amor, o afeto que liga as 
pessoas não se permitindo mais as desigualdades entre filhos legítimos e ilegítimos, 
ou se a família é formada por dois pais ou mais, pois o que se leva em consideração 
é o respeito sobre o individuo. 
É o que ensina Maria Berenice Dias (2014, p. 63). 
 
O princípio da dignidade humana, em ultima análise, igual dignidade para 
todas as entidades familiares. Assim, é indigno dar tratamento diferenciado 
às varias formas de filiação ou aos vários tipos de constituição família, com 
o que se consegue visualizar a dimensão do aspectro desse princípio, que 
tem contornos cada vez mais amplos. 
 
Conforme as palavras da autora supracitada o ordenamento jurídico e a 
Constituição Federal ao reconhecer este princípio deu uma ampliada na construção 
da entidade familiar. Pois, há uma pluralidade de famílias sendo formada de forma 
diversificada, pois o que move as pessoas a formarem famílias hoje é simplesmente 
o afeto envolvido entre eles, independente dos laços sanguíneos, raça, cor ou o 
casamento. Essa diversidade de famílias se deve ao princípio da dignidade da 
pessoa humana 
 
2.3.2 Princípio da Afetividade 
 
O princípio da afetividade não está expressamente previsto na 
Constituição Federal, porém este fato não impede a sua observância e até mesmo a 
sua constitucionalidade. Um exemplo disso é o reconhecimento pela Carta Magna 
18 
 
 
 
da união estável como entidade familiar, estabelecendo mesmo que de forma 
implícita a observância do princípio da afetividade. 
É o que Maurício Póvoas (2014, p.28) explica: 
 
Prova de que o afeto é albergado pela constituição da republica, ainda que 
de forma implícita, consiste no fato de reconhecer o constituinte na união 
estável como entidade familiar, dando-lhe proteção jurídica. Não é 
necessário fazer esforço para concluir que está se prestigiando a 
afetividade, na medida que a união estável nada mais é do que um 
consórcio afetivo entre duas pessoas sem os laços do casamento civil. 
 
Desse modo, mesmo que de forma implícita no ordenamento jurídico a 
sua importância não é reduzida tampouco retirado o seu caráter constitucional. Veja 
que as transformações sofridas ao logo do tempo na formação da entidade familiar, 
devido à valorização do afeto trouxeram mudanças importadíssimas, pois além da 
família formada pelo casamento foi possível reconhecer outros tipos de entidade 
familiar decorrentes de outras formas de interações humanas como, por exemplo a 
da união estável sejam elas homoafetivas ou heteroafetivas, ou a família formada 
por filhos adotivos, ou até mesmo famílias formadas por mais de um pai ou mãe. 
Nota-se que na formação dessas novas entidades familiares o afeto é a 
base para sua formação, de modo que a única coisa que importa é a vontade dos 
indivíduos em forma família e o desejo de conviver com seus entes queridos sejam 
eles de sangue ou não. 
É o que o autor Maurício Póvoas (2014, p. 26) explica define sobre a 
afetividade: 
 
O afeto deve ser reconhecido como uma relação de carinho, amor, cuidado 
e atenção mútuos entre pessoas, tenham ela relação parental ou conjugal, 
esta num sentido mais amplo da palavra, abrangendo, além do casamento 
civil nos moldes preconizados na legislação ordinária, também a união 
estável, seja ela entre pessoas do mesmo sexo ou de sexos diferentes. 
 
Assim, o afeto passou a ser elemento fundamental nas relações familiares 
sejam elas conjugais, de companheirismo ou até mesmo com os filhos. O que 
ocasionou o reconhecimento de diversos tipos de entidade familiar, além disso, o 
princípio da afetividade deu outro olhar a função desempenhada pela família, que 
passou de uma função patrimonialista para uma função solidaria com o objetivo em 
buscar a felicidade dos membros da família e sendo pautada no amor. 
19 
 
 
 
2.3.3 Princípio do Melhor Interesse da Criança e do Adolescente 
 
O princípio do melhor interesse da criança e do adolescente está fundado 
na teoria da proteção integral e tem como principal objetivo fazer a criança e o 
adolescente sujeito possuidores de direitos e não somente os adultos. Tal princípio 
vem como ferramenta de proteção aos direitos dessas crianças que se encontram 
em situação de fragilidade, pois estão no processo de formação da personalidade e 
começando a amadurecer. Esse princípio tem previsão legal tanto na Constituição 
Federal em seu artigo 227, caput, bem como no estatuto da criança e do 
adolescente em seus artigos 4º e 5º, respectivamente mencionados: 
 
Art. 227 É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, 
ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à 
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, 
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, 
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão. 
 
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do 
poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos 
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, 
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à 
convivência familiar e comunitária. 
 
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de 
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, 
punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus 
direitos fundamentais. 
 
Observa-se que por meio desses artigos e devido às alterações sofridas 
na estruturação familiar, em que o filho era dominado pelo pátrio poder e sua vida 
era decidida pelas vontades de seu pai, o princípio do melhor interesse da criança e 
adolescente buscou regularizar a nova figura de filho dada pela Constituição Federal 
e pelo estatuto da criança e adolescente. 
Com base nos artigos acima mencionados, podemos ver que é dever da 
família, da sociedade e do Estado assegurar com absoluta prioridade a efetivação 
dos direitos dessas crianças, assegurando a eles a condição de ser um sujeito de 
direito e assim dentro do novo contexto a criança e o adolescente adquirem 
visibilidade e são reconhecidos como detentores de direitos. 
20 
 
 
 
Dessa forma, quebra-se aquele olhar em que somente os pais possuíam 
direitos e se deixava de lado o que viria a ser melhor para criança, o que a criança 
realmente queria. 
Para o escritor Paulo Lobô (2014. p, 75 e 76) por meio desse princípio a 
criança deixou de ser vista apenas comoum objeto e onde haja uma disputa familiar 
sobre a investigação de paternidade ou filiações socioafetivas o que o juiz deve levar 
em consideração é o melhor interesse da criança e não as vontades dos pais. 
 
O princípio do melhor interesse ilumina a investigação das paternidades e 
filiações socioafetivas. A criança é o protagonista principal, na atualidade. 
No passado recente, em havendo conflito, a aplicação do direito era 
mobilizada para interesses dos pais, sendo a criança mero objeto da 
decisão. O juiz deve sempre, na colisão da verdade socioafetiva, apurar 
qual delas contempla o melhor interesse dos filhos, em cada caso, tendo em 
conta a pessoa em formação. 
 
Assim sendo, com o advento das novas formas de família, que tem como 
fundamento a busca pela dignidade de cada membro da família, que além do laço 
sanguíneo pode ser unido pelo laço da afetividade, o princípio do melhor interesse 
da criança e do adolescente encontra guarida, pois a criança passa a ser vista, 
respeitada e escutada levando em consideração os sentimentos dela para a 
proteção dos seus direitos. 
Nesse diapasão, o poder judiciário ao se deparar com demandas 
envolvendo crianças e adolescentes, como no caso de investigação de paternidade 
ou filiação socioafetiva, deve levar em conta o melhor interesse da criança. Se 
aquele que almeja o reconhecimento como pai for capaz de proporcionar todos os 
cuidados necessários para o filho, tanto na formação educacional, moral, amorosa e 
profissional, independente dos laços que os une, seja sanguíneo ou afetivo. É nesse 
sentido que baseado no princípio do melhor interesse da criança e adolescente a 
paternidade socioafetiva tem prevalecido sobre a biológica, pois muitas vezes a 
criança possui laços mais fortes com o pai socioafetivo. 
 
3 FILIAÇÃO 
 
Este capítulo tem como base para o estudo do conceito de filiação que 
passou por diversas modificações com o passar dos anos que passou de um modelo 
21 
 
 
 
de família baseada no pater poder, exercido pelo chefe da família e logo em seguida 
o modelo desenvolvido com base no código civil de 1916, que reconhecia apenas 
como filho aquele proveniente do casamento, não reconhecendo o que era gerado 
fora desde instituto matrimonial, vulgarmente conhecido como bastado. Desse 
modo, o objeto de analise desse capítulo será o conceito da atual estrutura do que é 
filiação e os tipos de filiação. 
 
3.1 Evolução conceitual de filiação e seus critérios 
 
Como analisado anteriormente a entidade familiar era baseada no 
paternalismo, sua função se debruçava sobre a proteção do patrimônio da família, 
tinha como preocupação proteger seus bens daqueles que não integravam a família, 
como no caso de filhos que eram gerados fora do casamento. 
Diante do exposto o código civil de 1916, tinha em seu corpo um texto 
impregnado de preconceitos perante aqueles filhos que eram gerados fora do 
casamento, fazendo uma distinção entre os filhos gerados dentro da união 
matrimonial, que eram chamados de legítimos e os que eram gerados fora do 
casamento, conhecidos como ilegítimos, este por sua vez não eram reconhecidos 
como filhos, de modo, que devido a esta distinção essas crianças tinham seus 
direitos desconhecidos. 
Destaca-se que esses filhos ilegítimos ainda sofriam outra distinção, 
sendo divididos em três categorias: os naturais que eram gerados sem nenhum 
impedimento pelos seus genitores; o incestuoso que era quando os genitores eram 
ligados por um parentesco e os adulterinos quando um dos seus genitores fosse 
casado. Sobre esse tema a autora Suzana Marques (2014, p.50), explica como era 
feito essa divisão entre os filhos ilegítimos pelo código civil de 1906: 
 
O código civil de 1906 classificava os filhos em legítimos, legitimados, 
ilegítimos e adotivos. Filhos legítimos eram aqueles oriundos do casamento. 
Os legitimados oriundos do casamento dos pais posterior aos seus 
nascimentos, com os mesmo direitos dos filhos legítimos. Os ilegítimos, 
quando não havia relação matrimonial entre os genitores. Estes, por sua 
vez, se subdividiam em naturais, quando não houvesse impedimento 
conjugal entre os genitores. Os incestuosos quando os genitores 
estivessem ligados pelo laço de parentesco. Os adulterinos, quando um dos 
genitores fosse casado. E o filho adotivo, cujo o parentesco era civil, não 
decorrente da consanguinidade. 
 
22 
 
 
 
Essa distinção dos filhos tinha como objetivo proteger o patrimônio 
formado pelo casamento, de forma que qualquer filho que fosse proveniente de 
outras relações que não o casamento não era considerado filho legítimo. Nesse 
sentido estes filhos ilegítimos, incestuosos e adulterinos não poderiam ter seus 
diretos reconhecidos, conforme o código civil de 1916, no entanto, o que se observa 
é que diante do “erro” que era cometido por seus genitores, quem pagava o preço 
era o filho que não tinha nenhuma participação nas escolhas tomadas por seus pais, 
pois ele era prejudicado, uma vez que era visto pela sociedade como um bastado, 
renegado e sem poder exerce nenhum direito. 
Tudo passa a mudar com a promulgação da Constituição Federal de 
1988, conhecida como a carta cidadã, que estabeleceu a igualdade entre os filhos 
proibindo qualquer tipo de distinção feita entre eles independente de sua origem, 
seja por meio de adoção, relacionamentos extraconjugais ou durante o casamento, 
conforme o artigo 227, § 6º da Carta Magna. 
 
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, 
ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à 
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, 
à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, 
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, 
exploração, violência, crueldade e opressão. 
 
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por 
adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer 
designações discriminatórias relativas à filiação.( grifo nosso). 
 
 
Dessa forma, foi por meio da constituição federal de 1988 regrada pelo 
princípio da dignidade da pessoa humana e no garantismo, que se pôs fim a função 
patriarcal e matrimonialista passando a se buscar nas relações familiares a 
realização pessoal de cada integrante e não mais aumentar o patrimônio familiar 
através de casamentos bem sucedidos, com bons dotes e a exclusão daquele filho 
que era gerado fora do casamento. 
É o que os autores De Farias e Rosenvald (2014, p.611), explicam como 
essa nova concepção de família mudou seu conceito e passou a ter um olhar mais 
humano, amoroso e afetivo nas relações familiares: 
 
A nova ordem filiatória, centrada no garantismo constitucional e nos valores 
fundantes da República (dignidade, solidariedade social, igualdade e 
23 
 
 
 
liberdade), implica em funcionalizar a filiação à realização plena das 
pessoas envolvidas (pais e filhos), além de despatrimonializar o conteúdo 
da relação jurídica (compreendida de forma muito mais ampla do que uma 
simples causa de transmissão de herança) e de proibir discriminações, 
como forma promocional do ser humano. 
 
Mais adiante em 1990 é criado o Estatuto da Criança e do Adolescente 
pela lei 8.609/90, que reforçou a igualdade entre irmãos contida na Constituição 
Federal ao estabelecer os direitos da criança e do adolescente. Como analisado 
anteriormente no primeiro capitulo o estatuto se baseia no princípio na proteção 
integral da criança e do adolescente e no melhor interesse da criança, de modo que 
agora o que interessa não são os laços sanguíneos para determinar se eles são pais 
e filhos e sim a relação que os uni,seja ela de afeto ou de sangue, o que importa é o 
é decidir de forma consciente e levando em consideração o melhor interesse da 
criança, se esse pai que será instituído como tal é capaz de dar a ela todas as 
condições essenciais para sua sobrevivência independente de laços sanguíneos. 
É o que autor Paulo Lobô (2015, p.200) retrata essa mudança: 
 
A norma retrata verdadeira mudança de paradigmas, envolvente da 
concepção de família. A desigualdade entre filhos, particularmente entre 
filhos legítimos, ilegítimos e adotivos, era a outra e dura face da família 
patriarcal que perdurou no direito brasileiro até praticamente os umbrais da 
Constituição de 1988, estruturada no casamento, na hierarquia, no chefe de 
família, na redução do papel da mulher, nos filhos legítimos, nas funções de 
procriação e de unidade econômica e religiosa. A repulsa aos filhos 
ilegítimos e a condição subalterna dos filhos adotivos decorriam dessa 
concepção. 
 
Assim, com base nessas mudanças o conceito de filiação passa a 
repulsar qualquer tipo de discriminação entre filhos e passa a adotar além do vinculo 
sanguíneo um vinculo afetivo, valorizando mais as relações de amor do que as 
funções de procriação, unidade econômica e religiosa da família. 
A vista disso, diante das evoluções sofridas pela família no decorrer do 
tempo o conceito de filiação sofreu diversas mutações para chegar ao que é hoje. 
Como demonstrado a mudança começou a surgir com a promulgação da carta 
magna em 1988, rompendo com as distinções entre irmãos e em 1990 com a lei de 
nº 8.609/90, conhecida como o estatuto da criança e adolescente que consolidou 
esse direito, bem como garantiu por meio de seus artigos que a criança e o 
adolescente não eram apenas um objeto e que eles eram também sujeitos de direito 
24 
 
 
 
e que por estarem em uma fase de amadurecimento deveria se ter uma maior 
atenção e cuidado com eles priorizando sempre o melhor interesse dessas crianças. 
Desta forma, pode se concluir que apesar da consanguinidade ser ainda 
um fator importante para estabelecer a relação de parentesco não o torna um fator 
absoluto, pois em muitos casos a consanguinidade é um critério insuficiente para 
determinação da filiação, fazendo necessário levar em conta o fator da afetividade 
para solucionar muitas vezes o caso em questão. 
 
3.2 Espécie de filiação 
 
Esse tópico irá estudar quais são os tipos de filiação adotada pelo Brasil, 
explicando a denominação de cada um delas e como se dar o seu reconhecimento e 
por fim analisar quais os efeitos jurídicos causados pela aceitação desses tipos de 
filiação. 
 
3.2.1 Filiação Biológica 
 
A filiação biológica acontece por meio da relação sexual entre seus 
genitores, em que haverá a transferência de material genético dos pais para os 
filhos, sendo esta a forma mais comum para gerar uma criança. No entanto, com a 
evolução cientifica este tipo de filiação não se realiza apenas por meio de relação 
sexual. Um exemplo de filiação biológica que não seja feita por meio do coito é a 
fertilização in vidro, que uni artificialmente o material genético dos genitores em uma 
proveta, sendo fecundados e implantados no útero da mãe para que gere a 
gravidez. 
Dessa forma, observa-se que a filiação biológica se dá por meio da 
ligação sanguínea ou genética entres pais e filhos, que embora seja comumente 
realizado por meio do coito progenitores hoje em dia se possui outros meio artificiais 
capazes de gerar um filho. 
É importante destaca que essa evolução não ciência que gera uma 
gestação sem a necessidade de se ter relações sexuais, também trouxe avanços no 
reconhecimento de paternidade. O exame de DNA que é capaz de identificar a 
origem genética dos filhos e dizer com exatidão se há uma relação genética entre 
25 
 
 
 
eles, removendo qualquer dúvida que exista sobre a paternidade. É o que a autora 
Dias (2014, p. 372) explica ao analisar os efeitos do surgimento do exame de DNA 
no mundo jurídico. 
 
O outro acontecimento que produziu reflexos significativos nos vínculos 
parentais foi o avanço científico, que culminou com a descoberta dos 
marcadores genéticos. A possibilidade de identificar a filiação biológica por 
meio de singelo exame do DNA desencadeou verdadeira corrida ao 
Judiciário, na busca da “verdade real”. 
 
Além do mais é importante mencionar que o nosso ordenamento jurídico 
valoriza o vínculo biológico entre pais e filhos ao disciplinar no Estatuto da Criança e 
Adolescente que o menor tem o direito de reedificar e perseguir o reconhecimento 
de filiação, sendo este um direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, 
conforme o artigo 27 da Lei 8.069/90. 
 
Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, 
indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus 
herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça. 
 
No entanto, a doutrina tem entendido que o parentesco biológico não é 
suficiente para determinar a parentalidade, pois como estudado anteriormente a 
família atual baseia-se na busca pela felicidade de cada individuo, rompendo com os 
meros laços sanguíneos e se alicerçando pelo afeto na busca pela igualdade e 
dignidade entres os membros das famílias. 
Nesse sentido, diante da notória evolução a filiação biológica não é 
garantia de parentalidade, de dar aquele que gerou a figura de pai ou mãe, de modo 
que a filiação se dá muito além da semelhança genética. Diante desses fatos o 
provimento 52/2016 do CNJ em seu artigo 2º, § 4º, vem aludir que o conhecimento 
da ascendência biológica não importará no reconhecimento de vínculo de 
parentesco. 
 
Art. 2º. É indispensável, para fins de registro e da emissão da certidão de 
nascimento, a apresentação dos seguintes documentos: 
§ 4º. O conhecimento da ascendência biológica não importará no 
reconhecimento de vínculo de parentesco e dos respectivos efeitos 
jurídicos entre o doador ou a doadora e o ser gerado por meio da 
reprodução assistida.(grifo nosso) 
 
26 
 
 
 
Contudo, como analisado no artigo 27 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente, esse direito de buscar o reconhecimento da paternidade é um direito 
personalíssimo que procura respeitar ao princípio da dignidade da pessoa humana. 
É o que entende a jurisprudência, conforme o julgado do Tribunal de Justiça do 
Estado do Rio Grande do Sul ao decidir que o reconhecimento de paternidade é um 
direito personalíssimo e que pode ser reconhecimento desconstituído ate mesmo o 
liame registral existente. 
 
TJ-RS - Apelação Cível AC 70078484078 RS (TJ-RS) 
Data de publicação: 03/09/2018 
Ementa: INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE CUMULADA COM 
ALTERAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. PROVA DO VÍNCULO BIOLÓGICO. 
PAI REGISTRAL FALECIDO. 1. Considerando o caráter vinculante da 
decisão do Supremo Tribunal Federal, que foi proferida no julgamento do 
Recurso Extraordinário nº 898.060/SC Tema nº 622 da Repercussão Geral, 
no qual foi declarado que a paternidade socioafetiva, declarada ou não em 
registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação 
concomitante baseado na origem biológica, com os efeito jurídicos próprios , 
impõe-se a revisão do posicionamento até aqui adotado por esta Câmara e 
pelo próprio Tribunal de Justiça, passando-se a admitir, então, como 
legítima a pretensão de investigação de filiação biológica. 2. O pedido de 
reconhecimento de filiação biológica constitui direito personalíssimo, 
sendo juridicamente viável também o pedido de desconstituição do 
liame registral. 3. Comprovado cabalmente que o investigado é o pai 
biológico do autor e não havendo oposição dos descendentes do pai 
registral, que é falecido, torna-se imperioso o juízode procedência da ação 
de investigação de paternidade para o fim de declarar a relação de filiação e 
retificar os assentos do registro civil. Recurso desprovido. (Apelação Cível 
Nº 70078484078, Sétima Câmara Cível, Tribunal... de Justiça do RS, 
Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 
29/08/2018). (grifo nosso) 
 
Encontrado em: Sétima Câmara Cível Diário da Justiça do dia 03/09/2018 - 
3/9/2018 Apelação Cível AC 70078484078 RS (TJ-RS) Sérgio Fernando de 
Vasconcellos Chaves 
 
No entanto, não podemos confundir esse direito de buscar conhecer a 
ancestralidade com os novos conceitos dados a parentalidade, pois nos dias de hoje 
aquele que gera a criança necessariamente não tem o condão de pai ou mãe. O 
que geralmente acontece nessa busca pelo reconhecimento de paternidade é a 
necessidade de saber de onde se veio, de conhecer o passado e não 
necessariamente a busca por uma figura de pai que muitas vezes já esta ocupada 
por aquele que criou. 
É o que esclarece Maria Berenice Dias ( 2016, p.136): 
 
27 
 
 
 
Conhecer o vínculo biológico, ainda que não haja a mínima intenção de 
“trocar” de pai ou de mãe, vez ou outra corresponde a um simples desejo. 
Mera curiosidade, mas às vezes vai além. Por isso a busca da identidade da 
ascendência genética não pode ser negada nunca. Mesmo quando existem 
pais registrais ou pais afetivos 
 
Dessa forma, conclui-se que apesar da filiação biológica ainda possuir 
sua importância e ser um direito personalíssimo, imprescritível e indisponível não 
pode ser levada como absoluta, pois as relações familiares mudaram e se 
consubstanciam sobre o afeto, de modo que a carga genética teve relevância 
diminuída passando a ter uma papel em alguns casos um caráter de mera 
curiosidade, porém esse reconhecimento nunca pode ser negado mesmo que já se 
tenha pais registrados ou afetivos. 
 
3.2.2 Filiação Adotiva 
 
A filiação por adoção é um espécie de filiação artificial que tem como 
objetivo substituir a filiação biológica de forma que prevaleçam os laços afetivos e 
assim as pessoas que pratiquem esses atos aceitem um estranho como filho, de 
modo a beneficiar os dois lados, tanto daquele que iram adotar como os que forem 
adotados. 
Esse tipo de filiação não é resultado de uma relação sexual entre seus 
genitores, mas sim de uma manifestação de vontade de um casal ou apenas um 
homem ou mulher que desejam ter um filho ou de sentença judicial. A filiação 
biológica se fundamenta sobre o vínculo sanguíneo enquanto que a filiação por 
adoção constitui exclusivamente por um ato jurídico, que se firma por meio de uma 
relação afetiva. Resumindo a adoção é um adoto jurídico que vai criar uma relação 
de parentesco entre duas pessoas desconhecidas por meio do afeto. 
A previsão legal da adoção se encontra no Estatuto da Criança e do 
Adolescente que é a lei 8.069/90 (ECA), em seus artigos 39 a 52 e pelo Código Civil 
nos artigos 1.618 a 1.629, devendo está sempre em consonância com os princípios 
estabelecidos pela Constituição Federal que proibiu qualquer distinção entres filhos, 
de modo que o vínculo afetivo preconizado pela adoção para que haja uma relação 
de parentalidade é igual ao vínculo biológico. 
Nesse sentido vejamos o artigo 41 do Estatuto da Criança e do 
Adolescente: 
28 
 
 
 
Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os 
mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de 
qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais. 
(grifo nosso) 
 
Como estabelece o ECA o filho adotado terá os mesmo direitos que o 
filho biológico não podendo existir quaisquer distinção até mesmo em relação a 
filiação, pois filho é filho independente se foi adotado ou não. Logo os filhos 
adotados terão os mesmo direitos a herança que os filhos biológicos. Com base 
nessa linha de raciocínio é importante analisar a jurisprudência diante do julgado do 
Supremo Tribunal de Justiça em que foi pedido a exclusão da filha adotiva do 
inventario, de forma que diante da decisão da Suprema Corte e com base na 
igualdade preconizada pela Constituição Federal em que proíbe a distinção entre 
filhos esse pedido foi negado. 
 
STJ - AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL AgInt 
no AREsp 1013845 RJ 2016/0295266-4 (STJ) 
Data de publicação: 12/06/2018 
 
Ementa: AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. 
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE ANULAÇÃO DE ESCRITURA PÚBLICA 
DE INVENTÁRIO E PARTILHA. PROCEDÊNCIA. EXCLUSÃO DE FILHA 
NA DIVISÃO DO MONTANTE. PRETENSÃO DA PARTE RÉ DE 
ANULAÇÃO DE REGISTRO DE ADOÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. 
INEXISTÊNCIA DE VÍCIOS DE VONTADE. QUESTÃO ACOBERTADA 
PELA COISA JULGADA. SÚMULA 7/STJ. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. 
Na hipótese em exame, verifica-se que os réus já ingressaram com duas 
ações visando revogar a adoção, sendo que ambas foram julgadas 
improcedentes, razão pela qual tal questão encontra-se acobertada pela 
coisa julgada. 2. Em decorrência do preconizado pelo art. 227 , § 6º , da 
CF , que não permite qualquer tipo de distinção ou discriminação 
relativas à natureza da filiação, há de se reconhecer a nulidade da 
escritura de inventário e partilha que excluiu a filha adotiva da 
sucessão. 3. Agravo interno não provido.(grifo nosso) 
 
Encontrado em: Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima 
indicadas, decide a Quarta Turma, por unanimidade, negar provimento ao 
agravo interno, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros 
Luis Felipe Salomão, Maria Isabel Gallotti, Antonio Carlos Ferreira 
(Presidente) e Marco Buzzi votaram com o Sr. Ministro Relator. T4 - 
QUARTA TURMA DJe 12/06/2018 - 12/6/2018 AGRAVO INTERNO NO 
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL AgInt no AREsp 1013845 RJ 
2016/0295266-4 (STJ) Ministro LÁZARO GUIMARÃES 
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO) 
 
A adoção tem uma finalidade bem clara em dar aquelas pessoas que não 
possuem condições de gerarem filhos pelos meios naturais a realizarem seus 
29 
 
 
 
desejos de se tornarem pais por meio da adoção e dar a essas crianças ou 
adolescente que se encontram abandonadas pelos seus pais biológicos ou às vezes 
perderam seus pais estando em estado de desamparo em orfanatos a possibilidade 
de dar a eles uma família, um ambiente familiar confortável e acolhedor. 
No entanto, é importante mencionar que a adoção só será deferida 
quando apresentar reais vantagens ao adotando e se fundar em motivos legítimos 
como prevê o artigo 43 do ECA. 
 
Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o 
adotando e fundar-se em motivos legítimos. 
 
É necessário entender que não basta a vontade dos futuros pais em 
querer adotar, tem que analisar se eles serão capazes de dar todo o suporte, 
carinho e educação para o adotando. É por isso que a lei estabelece requisitos a 
serem seguidos no processo de adoção para que se leve sempre em consideração o 
melhor para a criança. Após os candidatos passarem por todo o processo e os pais 
adotivos constituíram em definitivo por meio de uma decisão judicial transitada em 
julgado que excluirá completamente o vinculo que a criança tinha com sua família 
biológica alterando o registro civil do adotado, conforme estabelece o artigo 47, § 7º 
do ECA. 
 
Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que 
será 
inscrita no registro civil mediante mandado do qual não se fornecerá 
certidão. (grifo nosso) 
[...] 
§ 7º. A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito em julgado da 
sentença constitutiva, exceto na hipótese prevista no § 6o 
do art. 42 desta Lei, caso em que terá força retroativa à data do óbito.(grifo 
nosso) 
 
 
Assim, com o processo de adoção deferido o vínculo com a famíliabiológica é rompido estabelecendo uma nova relação de parentesco entre a criança 
adotada e os que queriam adotar passando a serem pais e filhos. É o que explica o 
autor Madeleno (2013, p.670) ao refletir sobre os efeitos da adoção. 
 
A adoção rompe os vínculos parentais com a família natural, à exceção dos 
impedimentos para o casamento (ECA, art. 41) e se estabelece nova 
relação de parentesco entre o adotante e os descendentes do adotado, 
seus filhos e netos, que passam também a ser parentes do adotante, assim 
30 
 
 
 
como os irmãos biológicos do adotado deixam de ser seus parentes, 
embora mantida a vedação do incesto. 
 
 
Portanto, logo após a sentença transitada em julgado que defira a adoção 
o filho adotado passa a ter o mesmo status que um filho biológico e os mesmo 
direitos não podendo existir qualquer distinção que seja. A vista disso a filiação 
adotiva é um meio de filiação fundada no afeto e amor que irá unir essas pessoas 
que inicialmente são desconhecidas. 
 
3.2.3 Filiação Socioafetiva 
 
Como foi analisado o conceito de família sofreu várias alterações saindo 
de um contexto histórico, em que a família era fundada pelo matrimônio e se 
estruturava sobre o poder patriarcal, em que o pai era considerado o chefe da 
família para uma entidade familiar calcada pela afetividade entre seus integrantes. 
De modo, que se deixou de lado a obrigatoriedade do casamento para formação de 
uma família, bem como a exigência do vínculo biológico para se tenha uma relação 
parental, de forma que esse vínculo biológico passou a não ser mais suficiente para 
estabelecer de forma absoluta a relação pai e filho devendo agora se ater também 
as relações afetivas que une as pessoas. 
Assim as famílias passaram a se reger pela afetividade de modo que a 
correlação sanguínea não é mais suficiente para formar uma família. Nota-se que a 
filiação socioafetiva decorre dessas alterações ocorridas na estruturação da família, 
sendo reconhecido o status de filho tanto no sentido biológico como afetivo não 
havendo qualquer tipo de distinção entre eles e ate mesmo a cumulação desses 
parentescos. 
Nesse sentido com a promulgação da Constituição Federal de 1988 o 
status de filho seja ele consanguíneo ou afetivo não deve haver distinção entre eles, 
pois filho é filho independente dos meios de laços que os une. 
É importante mencionar que o artigo 1.593 do código civil estabelece os 
tipos de parentescos que podem resultar tanto da consanguinidade como também 
31 
 
 
 
outras origens e entre elas se encontra a filiação por socioafetividade, que é uma 
filiação que preserva os laços de afeto, amor, carinho, proteção, cuidado e a posse 
de estado de filho, possuindo o mesmo status da filiação biológica. 
Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de 
consangüinidade ou outra origem. 
 
 
O autor Paulo Lobô (2017, p.1) afirma que para se tenha a filiação 
socioafetiva não é necessário ter a filiação consanguínea. 
O ponto essencial é que a relação de paternidade não depende mais da 
exclusiva relação biológica entre pai e filho. Toda paternidade é 
necessariamente socioafetica, podendo ter origem biológica ou não 
biológica; em outras palavras, a paternidade socioafetiva é gênero do qual a 
são espécies a paternidade biológica e a paternidade não-biológica 
 
A filiação sócioafetiva se dá por meio de laços de amor que são criados 
por meio de pessoas desconhecidas que acabam tendo uma ligação intensa, que 
apesar de não possuírem laços sanguíneos e não terem a mesma genética se veem 
em uma relação de pai e filho pelo o amor que sentem uns pelos outros, fazendo 
com que esse sentimento seja visto por todos e assim a sociedade também os veem 
com parentes. 
Nesse sentido, destaca CASSETTARI, (2014, P. 17). 
 
[...] entendemos que a parentalidade socioafetiva pode ser definida como o 
vínculo de parentesco civil entre pessoas que não possuem entre si um 
vínculo biológico, mas que vivem como se parentes fossem, em decorrência 
do forte vínculo afetivo existente entre elas. 
 
 Ainda, neste mesmo sentido o autor Bairros (2014, p.8). 
 
A paternidade socioafetiva surge então como sendo aquela emergente da 
construção afetiva, através da convivência diária, do carinho e cuidados 
dispensados à pessoa. Surge dentro do conceito mais atual de família, ou 
seja, de família sociológica, unida pelo amor, onde se busca mais a 
felicidade de seus integrantes (BAIRROS, 2007, p.8). 
 
É importante mencionar que o reconhecimento da filiação sócioafetiva 
possui requisitos que foram construídos doutrinariamente e entre eles está a posse 
de estado de filho, que também possuem requisitos intrínsecos que são 
32 
 
 
 
pressupostos básicos tais como nome, fama e tratamento. É da existência desses 
pressupostos que ira surge o vínculo filial para que se possa ser feito o 
reconhecimento é o que compreende a autora Maria Berenice Dias (2016, sem 
paginação) 
 
Para o reconhecimento da posse do estado de filho, a doutrina atenta a três 
aspectos: (a) tractatus - quando o filho é tratado como tal, criado, educado e 
apresentado como filho pelo pai e pela mãe; (b) nominatio – usa o nome da 
família e assim se apresenta; e (c) reputatio – é conhecido pela opinião 
pública como pertencente à família de seus pais. Confere-se à aparência os 
efeitos de verossimilhança que o direito considera satisfatória. 
 
Dessa forma é importante analisar cada um desses pressupostos de 
forma individual. Começando pelo nome que deve ser utilizado de forma pública 
através do sobrenome dos genitores pelo filho. O tratamento que é o modo como o 
pai trata o filho tratando como se filho fosse, assumindo seu papel de pai de forma 
integral e dando a ele toda a assistência necessária para sua criação. E por fim a 
fama que é o reconhecimento público pela sociedade, de modo que não é 
necessário que todos saibam, mas que pelo menos os mais próximos como amigos, 
vizinhos e familiares tenha conhecimento dessa relação. 
O reconhecimento de filiação socioafetiva será feito com a observância 
desses requisitos até mesmo após a morte dos interessados, conforme a decisão do 
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul e por meio da atual 
jurisprudência e baseado no entendimento do Supremo Tribunal de Justiça o 
reconhecimento da paternidade ou maternidade socioafetiva é juridicamente 
possível até mesmo após o falecimento, que dependerá apenas da prova cabal da 
posse do estado de filho. 
 
TJ-RS - Apelação Cível AC 70075882415 RS (TJ-RS) 
Data de publicação: 23/05/2018 
Ementa: APELAÇÃO CÍVEL E AGRAVO RETIDO. PEDIDO DE 
RECONHECIMENTO PÓSTUMO DE FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA. 1. Agravo 
retido: A atual orientação da jurisprudência deste Tribunal, alinhando-se ao 
entendimento do STJ, é no sentido de que o pedido de reconhecimento de 
paternidade socioafetiva é juridicamente possível. Seu acolhimento, ou não, 
constitui questão de mérito, a ser solvida ao final, após regular dilação 
probatória. 2. Mérito do apelo: A declaração da existência de paternidade ou 
maternidade socioafetiva depende de prova cabal da posse do estado de 
filho. No caso dos autos, a autora foi criada pelo falecido e com ele conviveu 
uma relação paterno-filial publicamente reconhecida. Inexigibilidade de 
manifestação expressa e oficial da intenção de adotar. Precedentes do STJ. 
Logo, mostra-se viável o reconhecimento da relação de filiação, ainda que 
33 
 
 
 
postumamente ao pai. NEGARAM PROVIMENTO AO AGRAVO RETIDO, 
UNÂNIME. NO MÉRITO, POR MAIORIA, NEGARAM PROVIMENTO AOS 
APELOS, VENCIDO O RELATOR. (Apelação Cível Nº 70075882415, Oitava 
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, 
Redator:Rui Portanova, Julgado em 10/05/2018). 
Encontrado em: Oitava Câmara Cível Diário da Justiça do dia 23/05/2018 - 
23/5/2018 Apelação Cível AC 70075882415 RS (TJ-RS) Luiz Felipe Brasil 
Santos 
 
Por seguinte, além desses requisitos acima mencionados é essencial que 
se observe também a convivência afetiva, os cuidados com a educação, 
alimentação dentre outros. Destaca-se que uma vez reconhecido a parentalidade 
afetiva ela é irretratável é o que disciplina o enunciado 339 do CJF: 
 
Enunciado 339 CJF: a paternidade socioafetiva, calcada na vontade livre, 
não pode ser rompida em detrimento do melhor interesse do filho. 
 
Portanto, diante do exposto conclui que o reconhecimento da filiação 
socioafetiva é possível juridicamente, pois a entidade familiar diante das 
transformações sofridas não se exige mais que o filho legítimo seja apenas aquele 
concebido no casamento ou que seja o filho de sangue já que na atualidade a 
família se baseia pelo afeto, podendo ser reconhecido o filho apenas pelo amor que 
os une, de modo que para que haja este reconhecimento é necessário observa os 
requisitos, tais como a posse do estado de filho e uma vez reconhecido esse ato é 
irretratável. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
 
 
4 MULTIPARENTALIDADE 
 
Neste capítulo será tratado o instituto da multiparentalidade no direito de 
família, os principais aspectos em relação ao seu reconhecimento, como o 
fenômeno se manifesta e em quais estruturas familiares com base nas doutrinas e 
jurisprudências. Inicialmente será estudado o conceito desse instituto e em seguida 
a análise de acordo com a doutrina majoritária e a jurisprudência sobre o seu 
reconhecimento em relação às novas estruturas familiares, e em sequência a estudo 
dos efeitos causados devido a este reconhecimento da multiparentalidade. 
 
4.1 Conceitos e Aspectos 
 
Como estudado até o momento notou-se que o conceito de família sofreu 
uma transformação se tornando um conceito mais amplo abarcando não somente 
aquele conceito rígido em que apenas por meio do casamento era possível construir 
uma família, passando a ter uma nova concepção abrindo o leque para uma 
multiplicidade de formas na estrutura familiar. 
Diante dessa evolução no direito de família é nesse novo cenário vivido 
pela sociedade em que as relações pessoais não são mais definidas, padrões em 
que vivemos na era da diversidade se abre espaço para um ambiente mais plural na 
família e nas relações parentais. 
É nesse contexto que surge a ideia de dupla paternidade por meio das 
mudanças sofridas no conceito de família e é nesse contexto que se insere os novos 
modelos de constituição familiar como, por exemplo, a filiação socioafetiva e o 
instituto da multiparentalidade, pois a família ao rompe com sua formação tradicional 
se afasta daquele modelo patriarcal, em que a família tinha como função ser um 
núcleo econômico, religioso e de mera reprodução e passa a ser um núcleo de 
amor, carinho e afeto que almeja alcançar a felicidade individual de cada membro da 
família. 
Outro fator que ajudou no reconhecimento da multiparentalidade foi a 
promulgação da Constituição Federal de 1988 que estabeleceu a igualdade entre 
irmãos proibindo qualquer tipo de distinção entre filhos e o código civil de 2002 em 
seu artigo 1.593 que prever a possibilidade da parentalidade socioafetiva. 
35 
 
 
 
Nesse sentido, Valadares (2016, p.53) nos ensina: 
 
Nessa incessante busca de um direito mais humano, vários foram os 
paradigmas quebrados, com o fim da unicidade do casamento como 
exclusiva forma de família, a igualdade dos filhos, qualquer que seja a 
origem, o fim da discussão da culpa para o término da sociedade conjugal, 
a ausência de requisitos para a decretação do divórcio e o reconhecimento 
das uniões homoafetivas. Democráticas e solidária: assim é que se 
denomina a família de hoje. 
 
Como mencionada pela autora a família de hoje é totalmente diferente de 
anos atrás devido a essas modificações sofridas tanto no mundo jurídico como nas 
relações humanas, no qual o direito deve seguir, uma vez que sendo as relações 
humanas variáveis o direito não pode ser inerte e sim mutável. 
Ante o exposto o fenômeno da multiparentalidade surge com a 
possibilidade de múltiplos arranjos familiares para que assim o mundo jurídico seja 
capaz de acompanhar a evolução no direito de família e as necessidades da 
sociedade em ter um aparado jurídico em suas novas relações. 
A multiparentalidade é um fato jurídico que decorreu da alteração sofrida 
pela família brasileira, que passou a valorizar o laço afetivo ao invés de somente 
aceitar o biológico. Consiste no reconhecimento da dupla parentalidade dando pelo 
lado paterno ou materno, de modo que esteja acompanhado por um terceiro elo. É 
importante frisar que o reconhecimento da filiação socioafetiva pode se dar de forma 
concomitante ou sucessiva com a filiação biológica não havendo entre elas qualquer 
hierarquia. 
Esse tipo de situação é muito comum com as famílias recompostas, que 
são aquelas formadas após um divórcio em que a mãe ou o pai forma uma nova 
família por meio de um novo casamento ou união com outro companheiro, em que o 
padrasto ou madrasta cria o filho advindo da outro casamento como se seu fosse 
nascendo um laço muito forte com a criança, de modo que esta criança começa a 
considerar esta madrasta ou padrasto seu pai ou mãe de verdade. 
Nesta esteira de raciocínio Rodrigo da Cunha Pereira (2015, p. 20) 
conceitua multiparentalidade por meio dessas famílias recompostas: 
 
É a família que tem múltiplos pais/mães, isto é, mais de um pai e/ou mais de 
uma mãe. Geralmente a multiparentalidade se dá em razão de constituições 
de novos vínculos conjugais em que padrastos e madrastas assumem e 
exercem funções de pais biológicos e/ou registrais, ou em substituição a 
36 
 
 
 
eles e também em casos de inseminação artificial com material genético de 
terceiros. 
 
Sendo assim, o conceito de multiparentalidade consiste no 
reconhecimento do filho possuir dois pais ou duas mães tanto pelo vínculo biológico 
como afetivo, deve a valorização pela afetividade surgida pelo novo paradigma de 
família. Nesse liame a autora Maria Berenice Dias conceitua a multiparentalidade da 
seguinte forma: 
 
Para o reconhecimento da filiação pluriparental, basta flagrar a presença do 
vínculo de filiação com mais de duas pessoas. A pluralidade é reconhecida 
sob o prisma da visão do filho, que passa a ter dois ou mais novos vínculos 
familiares. Coexistindo vínculos parentais afetivos e biológicos, mais do que 
apenas um direito, é uma obrigação constitucional reconhecê-los, na 
medida em que preserva direitos fundamentais de todos os envolvidos, 
sobretudo o direito à afetividade. 
 
Na visão da autora o reconhecimento da multiparentalidade não é um 
mero direito e sim uma obrigação constitucional, de modo que havendo a presença 
de vinculo de filiação sendo ele afetivo ou biológico a pluralidade de parentesco sera 
reconhecida pela visão do filho. 
É importante mencionar que a multiparentalidade não tem regramento 
legal, tal instituto surge por meio de uma interpretação analógica, entendimentos 
doutrinários e jurisprudência, pois a omissão do legislativo não pode impor barreiras 
aos anseios da sociedade ou negar um estado de fato. Visto que muitas vezes pelo 
fato da sociedade ser evolutiva e dinâmica o direito acaba não acompanho o seu 
ritmo, mas isso não deve ser usado como desculpa. 
É nesse sentido que a autora Valadares (2016, p. 99), afirma que: 
 
Julgar pela impossibilidade jurídica do pedido de multiparentalidade em todo 
e qualquer caso concreto, sobo pretexto de de que uma pessoa só pode ter 
um pai ou uma mãe, não atende as expectativas de uma sociedade 
multifacetária. Mesmo porque não há nenhuma vedação no ordenamento 
jurídico brasileiro. 
 
Perante o exposto, clarividente que o fenômeno da multiparentalidade 
surgiu devido as modificações sofridas na constituição da família, de modo que hoje 
existe vários formas de entidade familiar, seja aquela formada pelo casamento, 
união, ou pela união homoafetiva ou o poliamor, pois o que importa é o amor e 
respeito entre os membros na formação de uma família, assim a multiparentalidade 
37 
 
 
 
surgiu com a possibilidade de reconhecer o parentesco de mais de um pai ou uma 
mãe devido aos vínculos de afeto entres eles, no entanto esse reconhecimento não 
possui hierarquia sobre a filiação biológica e tão pouco é menos importante. 
 
4.2 Reconhecimento da Multiparentalidade Pelos Tribunais 
 
Atualmente tem ocorrido um aumento na quantidade de famílias 
recompostas, devido ao grande número de divórcios. São famílias em que muitas 
vezes os padrastos/madrastas acabam tendo uma relação de afeto muito forte com 
seu enteado, gerando uma relação fraterna realmente verdadeira de pai e filho. 
Neste sentido, Rodrigues leciona (2013, sem paginação): 
 
Uma vez desvinculada a função parental da ascendência biológica, sendo a 
paternidade e a maternidade atividades realizadas em prol do 
desenvolvimento dos filhos menores, a realidade social brasileira tem 
mostrado que essas funções podem ser exercidas por “mais de um pai“ ou 
“mais de uma mãe” simultaneamente, sobretudo, no que toca à dinâmica e 
ao funcionamento das relações interpessoais travadas em núcleos 
familiares recompostos, pois é inevitável a participação do pai/mãe afim nas 
tarefas inerentes ao poder parental, pois ele convive diariamente com a 
criança; participa dos conflitos familiares, dos momentos de alegria e de 
comemoração. Também simboliza a autoridade que, geralmente, é 
compartilhada com o genitor biológico. Por ser integrante da família, sua 
opinião é relevante, pois a família é funcionalizada à promoção da dignidade 
de seus membros. 
 
Diante desse novo cenário da família brasileira e a omissão do legislativo 
sobre este fato social a jurisprudência acabou tomando para si a obrigação na busca 
pela consolidação do entendimento desse fenômeno da multiparentalidade, pois 
essas famílias não poderiam ficar desamparadas. 
No entanto, no começo houve bastante divergência visto que alguns 
ministros possuíam muita consideração ao vínculo afetivo de modo que não 
admitiam estabelecer outro vínculo ainda que este fosse biológico. Já outros 
entendiam que o vínculo biológico poderia prevalecer já que em alguns casos o pai 
biológico teria mais condições de cuidar do filho do que o pai afetivo esse 
entendimento levava em conta o principio do melhor interesse da criança e do 
adolescente e dessa forma essas divergências acabavam levando a 
inadmissibilidade da multiparentalidade. 
38 
 
 
 
Em 2012 no Estado de Rondônia na comarca de Ariquemes a Juíza Deisy 
Cristhian Lorena de Oliveira Ferraz foi à pioneira ao prolatar a primeira sentença de 
1º grau reconhecimento a multiparentalidade. 
Assim, eis o dispositivo da decisão in verbis: 
 
[...] a pretendida declaração de inexistência do vínculo parental entre a 
autora e o pai registro afetivo fatalmente prejudicará seu interesse, que 
diga-se, tem prioridade absoluta, e assim também afronta a dignidade da 
pessoa humana. Não há motivo para ignorar o liame socioafetivo 
estabelecido durante anos na vida de uma criança, que cresceu e manteve 
o estado de filha com outra pessoa que não o seu pai biológico, sem se 
atentar para a evolução do conceito jurídico de filiação, como muito bem 
ponderou a representante do Ministério Público em seu laborioso estudo 
(RONDÔNIA, 2012). 
 
Ainda sobre a decisão da Juiza Deisy levou em consideração a vontade 
da autora que no caso seria a filha. 
 
“(...) é mister considerar a manifestação de vontade da autora no sentido de 
que possui dois pais, aliado ao fato que o requerido M. não deseja negar a 
paternidade afetiva e o requerido E. pretende reconhecer a paternidade 
biológica, e acolher a proposta ministerial de reconhecimento da dupla 
paternidade registral da autora.”(RONDÔNIA, 2012) 
 
Tal sentença foi um pontapé inicial para que surgissem outras sentenças 
iguais a essa reconhecendo a possibilidade da dupla paternidade nos tribunais de 
primeiro grau, porém este entendimento não foi pacífico entre os tribunais estaduais 
havendo decisões contrárias a este posicionamento em que se baseava pela 
omissão legislativa para a negativa do reconhecimento. 
De modo que esta polêmica acabou chegando ao Superior Tribunal de 
Justiça que também não chegou a uma conclusão estável. O que ocasionou logo 
após o reconhecimento da repercussão geral da matéria o que levou o relator da 
Suprema Corte, Ministro Luiz Fux, julgar o recurso extraordinário 898.060/SC 
reconheceu expressamente o instituto da multiparentalidade, conforme destaca o 
trecho da decisão. 
A omissão do legislador brasileiro quanto ao reconhecimento dos mais 
diversos arranjos familiares não pode servir de escusa para a negativa de 
proteção a situações de pluriparentalidade. É imperioso o reconhecimento, 
para todos os fins de direito, dos vínculos parentais de origem afetiva e 
biológica, a fim de prover a mais completa e adequada tutela aos sujeitos 
envolvidos. (BRASIL, 2016). 
 
 
39 
 
 
 
Em face da decisão prolatada pelo Ministro Luiz Fux é nítido que o 
tribunal superior prolatou tal entendimento com interesse de tutelar a criança, 
evitando que a omissão do legislativo frente aos novos modelos de família possa 
limitar os seus direitos, bem como defendo a busca da felicidade pessoal de cada 
individuo e o respeito à dignidade da pessoa humana frente as suas relações 
pessoais. É o que demostra o trecho da decisão 898.060/SC (2016, BRASIL) 
 
Tanto a dignidade humana, quanto o devido processo legal, e assim 
também o direito à busca da felicidade, encartam um mandamento comum: 
o de que indivíduos são senhores dos seus próprios destinos, condutas e 
modos de vida, sendo vedado a quem quer que seja, incluindo-se 
legisladores e governantes, pretender submetê-los aos seus próprios 
projetos em nome de coletivos, tradições ou projetos de qualquer sorte. 
 
Diante da conceituação de multiparentalidade, Ricardo Calderón (2016 
sem paginação) faz um breve comentário sobre o posicionamento adotado pelo 
Supremo Tribunal Federal: 
 
Esta aceitação da possibilidade de concomitância de dois pais foi objeto de 
intenso debate na sessão plenária que cuidou do tema, face uma 
divergência do Min. Marco Aurélio, mas restou aprovada por ampla maioria. 
Com isso, inequívoco que a tese aprovada acolhe a possibilidade jurídica da 
multiparentalidade. 
 
Dessa forma a dupla filiação não é uma invenção que surgiu do nada e 
sim transcorreu pelas alterações vividas pela sociedade em que a norma jurídica 
deve que se adequar. Nessa mesma linha de raciocínio a decisão da repercussão 
geral de nº 622 do Supremo Tribunal Federal deixou claro que não há hierarquia 
entre os tipos de filiação, conforme transcrito a tese da decisão abaixo: 
 
A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não 
impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na 
origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios. 
 
Assim, deixando claro que as duas filiações podem ser reconhecidas 
de forma concomitante ou ate mesmo sucessiva produzindo todos os efeitos 
jurídicos pertinentes de uma filiação originária. 
Conforme demostrado o caminho percorrido para a unificação

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