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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ CURSO DE DIREITO CAMILLA NEGRELLO HABIB O Reconhecimento da Paternidade Socioafetiva Rio de Janeiro Campus Dorival Caymmi 2018.2 1 CAMILLA NEGRELLO HABIB O RECONHECIMENTO DA PATERNIDADE SOCIOAFETIVA Artigo Científico Jurídico apresentado à Universidade Estácio de Sá, Curso de Direito, como requisito parcial para a conclusão da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso. Orientador: Professora Ana Lecticia RIO DE JANEIRO Campus Dorival Caymmi 2018.2 2 O RECONHECIMENTO DA PATERNIDADE SOCIOAFETIVA Camilla Negrello Habib RESUMO O presente estudo tem como objetivo tratar do tema “O Reconhecimento da Paternidade Socioafetiva". Além disso, visa à realização de uma análise técnico-jurídica a respeito das normas, discussões jurisprudenciais, princípios norteadores para enriquecimento acerca do assunto estudado. Visa também elucidar questões sobre o conceito de família e suas mudanças no decorrer do tempo, tratar do abandono paterno que em conjunto com o reconhecimento socioafetivo, mostram o quão errado é restringir o sentido de família apenas aos laços sanguíneos. Trata-se também sobre os direitos e deveres que acompanham esse reconhecimento, a forma como pode ser feito o procedimento de averbação e também como o STF tem se posicionado em seus julgados. Palavra chave : Reconhecimento, socioafetivo, família. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 2. DESENVOLVIMENTO 2.1. Evolução sobre o conceito de família 2.2. Tipos de família 2.3. Abandono paterno 2.4. Família socioafetiva 2.5. Princípios do Direito de Família e do ECA 2.6. Direitos e deveres 2.7. Caso concreto 2.8. Procedimento de averbação 2.9. Multiparentalidade e o STF 3. CONCLUSÃO . REFERÊNCIAS 3 1. INTRODUÇÃO Com o passar dos anos pode-se detectar um movimento de mudança nos conceitos e decisões até então engessadas do Direito de Família, tal fenômeno se deu através da evolução dos ideais sociais e o abandono de pensamentos anteriormentes dotados de preconceito, com isso a visão que se tem de família foi ampliada e se adequou às diferentes realidades vivenciadas pela sociedade. Tendo em vista as consideráveis modificações feitas em sua estrutura na recente evolução do Ordenamento Jurídico cabe a esse estudo apresentar e discutir como esses novos elementos podem aperfeiçoar a relação familiar, trazendo um sentimento de completude, para tanto, salienta-se a importância da implementação do afeto como valor jurídico a ser protegido conforme texto da Constituição Federal de 1988. Nesta discussão cumpre ressaltar o instituto da filiação socioafetiva como objeto de estudo do presente trabalho, recebendo um maior enfoque o viés da paternidade, sendo que esse reconhecimento da paternidade socioafetiva vem ganhando cada vez mais espaço em um cenário onde curiosamente e infelizmente o abandono paterno biológico só aumenta. Com isso se discutem os aspectos e diferenças entre o reconhecimento da paternidade biológica e da socioafetiva, assim como seus efeitos que possuem interferência direta não apenas na vida da criança ou do adolescente, mas também na família em seu sentido geral, assim como todos aqueles que fazem parte do convívio dessas pessoas. Sob esse raciocínio surge o questionamento: É necessário fazer uma escolha entre qual paternidade seria a mais benéfica? Ou, tendo em vista a colisão de diferentes critérios de filiação ambas podem se completar? Para isso a presente monografia vem discutir o instituto da multiparentalidade sob o viés do reconhecimento da paternidade socioafetiva, e assim a possibilidade de uma mesma criança possuir dois pais, apresentando também as repercussões que essa decisão traz tanto no aspecto moral quanto patrimonial. Cumpre salientar que apesar de esse ser um tema vítima de recentes controvérsias ainda não é um assunto que recebe a visibilidade e importância que 4 merece, sendo inclusive desconhecido por parte da população, e por esse motivo contém questionamentos ainda sem respostas, devendo portanto receber uma análise mais detalhada do tema motivo pelo qual se procede ao presente estudo científico. Para tanto foi escolhido para a pesquisa bibliográfica o método dedutivo, abrangendo os novos posicionamentos jurisprudenciais assim como doutrinas e legislação, buscando ainda apresentar casos da atualidade e sendo realizadas também citações bibliográficas de diversos autores expert na área estudada. 2. DESENVOLVIMENTO 2.1. EVOLUÇÃO SOBRE O CONCEITO DE FAMÍLIA O conceito de família é algo que vem se modificando com o decorrer do tempo e se adaptando cada vez mais a realidade das pessoas. Antigamente quando se pensava em família a ideia tradicional que se tinha era da existência da figura paterna que era preenchida pelo homem, chefe de família, a figura materna sendo a mulher, dona de casa e os seus filhos. Nessa época o significado de família poderia ficar restrito a “um conjunto de 1 pessoas que possuem um grau de parentesco entre si e vivem na mesma casa, assim formando um lar”, sendo essa a tão falada família tradicional brasileira. Por sorte a sociedade é algo que está sempre sendo alvo de evolução, e o entendimento sobre o que é uma família assume diversas faces, até porque, convenhamos o papel da família é servir de base para o indivíduo, é a sua proteção, o seu cuidado e seria mesquinho dar esse mérito apenas para aqueles com quem temos laços sanguíneos. 1 Brasil "Art. 5 da Lei Maria da Penha - Lei 11340/06 - JusBrasil." https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10868890/artigo-5-da-lei-n-11340-de-07-de-agosto-de-2006. Acessado em 4 out. 2018. 5 Desta forma novos conceitos de família foram aparecendo, por exemplo no ano de 2006 por meio da Lei Maria da Penha em seu Art. 5º, II que define família como uma “Comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram 2 aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa”. Essa nova forma de compreensão também foi tratada pelo IBGE que reconheceu a família como um grupo de pessoas ligadas por laços de parentesco ou relacionamento romântico que vivem numa unidade doméstica e incluiu em seu questionário feito para o Censo de 2010, pergunta sobre a situação dos filhos nas famílias. Com toda essa movimentação favorável, dando destaque e reconhecimento ao instituto do afeto, os tipos de família foram ganhando maior visibilidade e seu reconhecimento tem se dado de forma natural. 2.2. TIPOS DE FAMÍLIA Podemos iniciar tratando da família monoparental que é composta por apenas 1 dos progenitores e seus descendentes, ficando esse pai ou essa mãe unicamente responsável pelo sustento e criação dessa criança ou adolescente. Seu reconhecimento foi positivado no Art. 226, § 4º da Constituição Federal de 88, conforme diz: Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos paise seus descendentes. 3 2 Brasil "Art. 5 da Lei Maria da Penha - Lei 11340/06 - JusBrasil." https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10868890/artigo-5-da-lei-n-11340-de-07-de-agosto-de-2006. Acessado em 4 out. 2018. 3 Brasil "Art. 226, § 4 da Constituição Federal de 88 ...." https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10644958/paragrafo-4-artigo-226-da-constituicao-federal-de-1988 . Acessado em 4 out. 2018. 6 Nada mais justo esse reconhecimento, tendo em vista que é uma situação cada vez mais normal na vida de todos, podendo ser proveniente de inúmeras causas, por exemplo em uma relação biparental, ou com a morte de um dos pais, no caso de ocorrer um divórcio no meio do caminho, da adoção que pode ser realizada por apenas uma pessoa e também sendo resultado de uma inseminação artificial. Cabe ressaltar que apesar dos exemplos citados acima, o abandono paterno ainda é uma das maiores causas para a incidência de famílias monoparentais no Brasil, sendo esse um assunto que também será aprofundado no presente trabalho. Existe também a família arco-íris ou homoafetiva que é formada por um casal homossexual, podendo ter um ou mais filhos sendo eles legítimos ou adotados. Sua constatação se deu com a queda do arcaico conceito de família, dando lugar a um novo modelo pautado no afeto, sendo o homossexualidade reconhecida como um fator inerente ao ser humano, para tanto cabe o entendimento Mascotte: “Assim como na sociedade, no campo científico, o conceito de homossexualismo também sofreu alteração. Em 1985, deixou de constar a homossexualidade no art. 302 do Código Internacional das Doenças – CID – como uma doença mental. Na última revisão, de 1995, o sufixo "ismo", que significa doença, foi substituído pelo sufixo "dade", que significa modo de ser.” (2009, p. 01). Porém esse reconhecimento ainda não foi positivado, existindo um verdadeiro silêncio sobre o tema dentro do ordenamento jurídico brasileiro, mesmo assim já vislumbramos julgamentos favoráveis nesse sentido, por exemplo no RESP nº 238.715/RS , em que o Tribunal de Justiça gaúcho foi o precursor ao tratar sobre o 4 tema do reconhecimento de uniões estáveis homoafetivas. Cabe mencionar também o entendimento esclarecedor do Ministro Marco Aurélio: "Constitui objetivo fundamental da República Federativa do Brasil promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (inciso IV do artigo 3o da Carta Federal). 5 Vale dizer, impossível é interpretar o arcabouço normativo de maneira a 4 Brasil "RECURSO ESPECIAL : REsp 238715 RS 1999/0104282-8." https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/7141764/recurso-especial-resp-238715-rs-1999-0104282-8/in teiro-teor-12851892. Acessado em 4 out. 2018. 5 Brasil "Art. 3, inc. IV da Constituição Federal de 88 - JusBrasil." https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10731577/inciso-iv-do-artigo-3-da-constituicao-federal-de-1988. Acessado em 4 out. 2018. 7 chegar-se a enfoque que contrarie esse princípio basilar, agasalhando-se preconceito constitucionalmente vedado. (...) ressaltando o Juízo a inviabilidade de adotar-se interpretação isolada em relação ao artigo 226, § 3º , também do Diploma 6 Maior, no que revela o reconhecimento da união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar. Considerou-se, mais, a impossibilidade de, à luz do artigo 5º da Lei Máxima, distinguir-se ante a opção sexual.". Sendo assim, sua proteção é feita com ajuda da jurisprudência e também dos princípios, e como seu norteador pode-se mencionar o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Esse princípio, que se encontra no art. 1º, III, da Constituição Federal de 88 , 7 trata que todos são merecedores de igual proteção de sua dignidade pelo simples fato de serem pessoas humanas. O Professor Rizzatto Nunes trata a dignidade como algo que “ nasce com a pessoa, é inata e inerente à sua essência. O indivíduo nasce com integridade física e psíquica, cresce e vive no meio social, e tudo o que o compõe tem que ser respeitado ", e conclui que: "a dignidade humana é um valor preenchido a priori, isto 8 é, todo ser humano tem dignidade só pelo fato já de ser pessoa ." 9 Ocorre que também com o evoluir da sociedade o casamento não é mais aquele que obrigatoriamente vai durar para todo, salvo exceções, tendo em vista que as relações se tornaram progressivamente mais vulneráveis e as pessoas cada vez mais substituíveis. Conforme estatística de registro civil publicado pelo IBGE na data de 14 de Novembro de 2017 além da queda no volume de casamentos podendo se destacar os Estados do Piauí com queda em 13,2%, o Estado de, Alagoas com menos 12,5% 6 Brasil"Art. 226, § 3 da Constituição Federal de 88 - JusBrasil." https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10645006/paragrafo-3-artigo-226-da-constituicao-federal-de-1988 . Acessado em 4 out. 2018. 7 Brasil"Art. 1, inc. III da Constituição Federal de 88 - JusBrasil." https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10731879/inciso-iii-do-artigo-1-da-constituicao-federal-de-1988. Acessado em 4 out. 2018. 8 "Os princípios constitucionais no Direito de Família: dignidade da ...." 7 ago. 2017, http://conteudojuridico.com.br/index.php?artigos&ver=2.589572. Acessado em 16 nov. 2018. 9 "A dignidade da pessoa humana e a honra individual - Constitucional ...." http://ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=17631. Acessado em 16 nov. 2018. 8 e por fim o Estado da Paraíba com menos 11,3%, houveram mais de 344 mil divórcios no ano anterior. Com isso os casamentos chegam ao fim, muita das vezes de forma até bem precoce, e aquele vínculo entre homem e mulher se extingue, porém, o vínculo entre pai e filho continua, ou, deveria continuar. 2.3. ABANDONO PATERNO Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com base no Censo Escolar de 2011, apontam que há 5,5 milhões de crianças brasileiras sem o nome do pai na certidão de nascimento. O Estado do Rio lidera o ranking, com 677.676 crianças sem filiação completa, seguido por São Paulo, com 663.375 crianças com pai desconhecido. O Estado com menos problemas é Roraima, com 19.203 crianças que só têm o nome da mãe no registro de nascimento. Conforme os dados da pesquisa o abandono paternal é um problema triste e evidente na vida de muitos, se você felizmente não passa por isso, no mínimo deve conhecer alguém que passe, é algo muito sério e muita das vezes não recebe a visibilidade que merece, sendo capaz de trazer traumas e resquícios eternos para aqueles que são punidos apenas porque nasceram. Um caso que ganhou destaque a pouco tempo e tomou proporções internacionais, foi a história do jogador Paulinho que esteve presente nos jogos da Copa de 2018, enquanto estava na Rússia representando o Brasil, seu pai também virou notícia pela Folha Uol com o tema “Feirante, pai distante de Paulinho vê a Copa em pequena tv chuviscada”. A reportagem aparentemente foi projetada para chocar, mostrando a atual realidade de vida humilde que leva o pai de um jogador que atualmente vale milhões, ocorre que a história não é tão bem assim como se pinta e também foi bastante real o abandono paterno sofridopor Paulinho em sua infância. 9 Em sua resposta o jogador contou uma face de seu pai biológico, o feirante João Paulo Bezerra Maciel, que não ficou clara pela Folha Uol, pois ele havia abandonado Paulinho que não o via desde seus oito anos de idade. Com o atleta já jogando em grandes times, eles se encontraram após um jogo do Corinthians, Paulinho chegou a dar a camisa com que jogou para o seu pai e após isso não houve mais contato até a Copa deste ano. Como muito bem tratado pelo Eddie e o Leo, no canal Manual do Homem Moderno e m um vídeo que retrata de forma sensível o abandono paterno e conta um pouco desse fato na vida do jogador, geralmente esses pais que somem nos momentos de aperto costumam retornar na fases de glória. Por sorte já podemos observar a jurisprudência que vem julgando de forma mais enérgica sobre o tema, cabendo destacar o julgamento do STF no Recurso de Revista com nº 1.159.242 do Estado de São Paulo . 10 Aqui não se fala ou se discute o amar e, sim, a imposição biológica e legal de cuidar, que é dever jurídico, corolário da liberdade das pessoas de gerarem ou adotarem filhos.[…] Em suma, amar é faculdade, cuidar é dever. A comprovação que essa imposição legal foi descumprida implica, por certo, a ocorrência de ilicitude civil, sob a forma de omissão, pois na hipótese o non facere que atinge um bem juridicamente tutelado, leia-se, o necessário dever de criação, educação e companhia – de cuidado – importa em vulneração da imposição legal. Cabe mencionar também a aprovação pela Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal do projeto de lei 700/2007 que trata da obrigação de reparação 11 moral aos pais que deixarem de dar a devida assistência afetiva aos filhos, sendo essa no mínimo por meio de visitas periódicas, ou seja, o abandono afetivo aos filhos foi criminalizado. 2.4. FAMÍLIA SOCIOAFETIVA 10 "EREsp 1159242 SP 2012/0107921-6 - Superior Tribunal de Justiça." https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/25102821/embargos-de-divergencia-em-recurso-especial-ere sp-1159242-sp-2012-0107921-6-stj/inteiro-teor-25102822. Acessado em 23 nov. 2018. 11 Brasil "Projeto de Lei do Senado n° 700, de 2007 - Pesquisas - Senado Federal." https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/83516. Acessado em 4 out. 2018. 10 Ocorre que nem tudo é descaso e tragédia e muita das vezes essas crianças acabam encontrando acolhimento naquele que teoricamente não possuiria qualquer obrigação, porém, o vínculo se torna tão forte que a família afetiva se sobrepõe a sanguínea mudando o cenário sombrio do abandono e trazendo o colorido da harmonia familiar. É normal quando um relacionamento acaba as pessoas voltarem a se relacionar e quando se trata de uma mulher que já tenha um filho, ele, mesmo que indiretamente, está dentro do pacote, querendo o novo companheiro ou não. No melhor dos cenários a figura do padrasto irá entrar na família para agregar e muita das vezes o encaixe é tão perfeito que pelo convívio ninguém é capaz de dizer que aquela criança ou adolescente foi fruto de outro relacionamento, e ele acaba, sendo o pai natural ausente ou não, incluso também na categoria de pai. Trata-se do reconhecimento da paternidade que pode ser biológico, que é o mais comum, se dando a filiação pelo laço de sangue e o reconhecimento socioafetivo que é proveniente da relação de afeto. Mas antes caberia apresentar o raciocínio que vem acompanhado da palavra socioafetivo, que junta o social com a afetividade mostrando a importância e como o afeto pode gerar as relações. Uma das frases que mais representa esse reconhecimento quando se dá pelo lado paterno é “Pai é aquele que cria”, e é por meio da criação, aquela que nos desgasta diariamente mas também nos alegra com cada pequena evolução daqueles que queremos bem, que se estrutura o elo da paternidade. Nesse sentido é bastante esclarecedora a definição de Arlindo Mello do Nascimento, que diz. A nova família, que anteriormente era definida pela obrigação e hoje é definida pelo afeto, cada vez mais aparece no cenário nacional, num debate em torno de presente e do futuro da instituição família e do valor da família diante da generalização do individualismo. 12 12 "Paternidade Socioafetiva: Direitos Dos Filhos De Criação." https://books.google.com.br/books?id=jfoRBQAAQBAJ&pg=PT13&lpg=PT13&dq=A+nova+fam%C3% ADlia,+que+anteriormente+era+definida+pela+obriga%C3%A7%C3%A3o+e+hoje+%C3%A9+definida +pelo+afeto,+cada+vez+mais+aparece+no+cen%C3%A1rio+nacional,+num+debate+em+torno+de+pr esente+e+do+futuro+da+institui%C3%A7%C3%A3o+fam%C3%ADlia+e+do+valor+da+fam%C3%ADli a+diante+da+generaliza%C3%A7%C3%A3o+do+individualismo.&source=bl&ots=BTx7VY7Lf0&sig=E BaIJ-z06DhJ11A0vg7gtQ9gMU0&hl=pt-BR. Acessado em 23 nov. 2018. 11 Porém, apesar de uma bela iniciativa é algo a ser muito bem pensado antes de ser decidido, tendo em vista que a partir da solidificação da posse que se dá primeiramente com a existência de afeto entre as partes e a ausência de qualquer vício de consentimento, de acordo com entendimento dos tribunais o reconhecimento da paternidade socioafetiva será algo irrevogável, ou seja, nao tem como voltar atrás.. 2.5. PRINCÍPIOS NORTEADORES DO DIREITO DE FAMÍLIA E DO ECA Para tanto cumpre observar alguns princípios que foram de suma importância para a construção dessa idéia. Primeiramente é impossível tratar do reconhecimento da dupla paternidade e não citar o Princípio da Afetividade, tendo em vista que é tal princípio que fundamenta o direito de família na estabilidade das relações socioafetivas e na comunhão da vida, com primazia em face de considerações de caráter patrimonial ou biológico, conforme diz Paulo Luiz Netto. 13 Esse princípio traz a importância do amor nas relações, porque apenas ele é capaz de trazer o sentimento de porto seguro, de apoio que a família deveria ser, afinal, de que serve ser do mesmo sangue se não existe afeto nessa relação? Lembrando que bem material não é tudo. Nesse sentido, é de suma importância compreender o que diz João Baptista Villela. A consanguinidade tem, de fato e de direito, um papel absolutamente secundário na configuração da paternidade. Não é a derivação bioquímica que aponta para a figura do pai, senão o amor, o desvelo, o serviço com que alguém se entrega ao bem da criança. 14 13 "Reconhecimento da paternidade socioafetiva e suas consequências ...." http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9280. Acessado em 23 nov. 2018. 14 "A multiparentalidade decorrente da filiação socioafetiva: análise dos ...." https://kamilabarrosoklb.jusbrasil.com.br/artigos/534002375/a-multiparentalidade-decorrente-da-filiaca o-socioafetiva-analise-dos-criterios-para-seu-reconhecimento-no-ordenamento-juridico-brasileiro. Acessado em 23 nov. 2018. 12 Cumpre ressaltar que o Princípio da Afetividade serve de base para o entendimento dos conceitos de família natural e família afetiva, sendo a família natural aquela conceituada no artigo 25º, caput do ECA , que trata: “Art. 25. 15 Entende-se por família natural a comunidade formadapelos pais ou qualquer deles e seus descendentes”. Já a família afetiva é aquela que se fundamenta nos laços afetivos cotidianos e no relacionamento de carinho, companheirismo, proteção e doação entre pais e filhos, porém é sempre bom ressaltar que no caso da paternidade, o seu reconhecimento em caráter socioafetivo não descarta o direito da criança ou adolescente ter reconhecida a sua paternidade biológica. O segundo que também cabe mencionar é o Princípio do Melhor Interesse da criança e do adolescente, que veio para proteger o cumprimento dos seus direitos, ele pode ser extraído do Art. 227, caput da CF/88 que diz: 16 Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. E também no Estatuto da Criança e do Adolescente, em seus artigos 3º, 4º, 5º: 171819 Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim 15 Brasil"Art. 25 do Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei 8069/90." https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10617684/artigo-25-da-lei-n-8069-de-13-de-julho-de-1990. Acessado em 4 out. 2018. 16 Brasil"Constituição da República Federativa do Brasil - Art. 227." https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_06.06.2017/art_227_.asp. Acessado em 4 out. 2018. 17 Brasil"Art. 3 do Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei 8069/90 - JusBrasil." https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619587/artigo-3-da-lei-n-8069-de-13-de-julho-de-1990. Acessado em 4 out. 2018. 18 Brasil"Art. 4 do Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei 8069/90 - JusBrasil." https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619550/artigo-4-da-lei-n-8069-de-13-de-julho-de-1990. Acessado em 4 out. 2018. 19 Brasil"Art. 5 do Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei 8069/90 - JusBrasil." https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619333/artigo-5-da-lei-n-8069-de-13-de-julho-de-1990. Acessado em 4 out. 2018. 13 de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. . Cabe também mencionar o entendimento do pedagogo Antonio Carlos Gomes da Costa tratando da proteção. Afirma o valor intrínseco da criança como ser humano ; a 20 necessidade de especial respeito à sua condição de pessoa em desenvolvimento; o valor prospectivo da infância e da juventude, como portadora da continuidade do seu povo e da espécie e o reconhecimento da sua vulnerabilidade, o que torna as crianças e adolescentes merecedores de proteção integral por parte da família, da sociedade e do Estado, o qual deverá atuar através de políticas públicas específicas para promoção e defesa dos seus direitos. Destaca-se também o Princípio da Solidariedade Familiar, pois um princípio que carrega uma palavra tão forte, que é a solidariedade, e conforme o Dicionário Michaelis aponta como significado. Dir: Compromisso pelo qual as pessoas se obrigam umas pelas outras e cada uma delas por todas. Sociol: Condição grupal resultante da comunhão de atitudes e sentimentos, de modo a constituir o grupo unidade sólida, capaz de resistir às forças exteriores e mesmo de tornar-se ainda mais firme em face da oposição vinda de fora. 21 Trata-se do ato de se importar, amar, cuidar do outro não apenas no seio familiar mas também em todo o social, já se encontra protegido pela Constituição 20 "Os Regimes de Atendimento no Estatuto da Criança e do Adolescente." http://ens.sinase.sdh.gov.br/ens2/images/Biblioteca/Livros_e_Artigos/material_curso_de_formacao_da _ens/Os%20Regimes%20de%20Atendimemto%20no%20Estatuto%20da%20Crian%C3%A7a%20e% 20do%20Adolescente.pdf. Acessado em 16 nov. 2018. 21 "Solidariedade | Michaelis On-line." http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/solidariedade/. Acessado em 23 nov. 2018. 14 Federal de 88 em seu Art. 3º, inciso I, que diz: “Constituem objetivos fundamentais 22 da República Federativa do Brasil:I - construir uma sociedade livre, justa e solidária”. Como também pelo Código Civil em seus artigos 1.511 e 1.694 , com seus 23 24 parágrafos, conforme exposto abaixo: Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges. Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação. § 1o Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada. § 2o Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia. O Princípio da Proteção Integral se estende, além da criança e do adolescente, para os idosos e trata-se de uma combinação do princípio da dignidade da pessoa humana com o princípio da isonomia. Tendo em vista que por se tratarem de partes naturalmente mais frágeis necessitam também de uma maior proteção, inclusive jurídica, e como exemplo nesse caso pode-se citar a tramitação preferencial nos processos que figuram como parte. Referente a esse princípio faz-se necessário citar a Carta Magna em seu artigo 227, caput , que impõe a família uma série que ações que visam a proteção 25 dos direitos fundamentais, conforme fragmento abaixo: Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, 22 Brasil"Art. 3, inc. I da Constituição Federal de 88 - JusBrasil." https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10731686/inciso-i-do-artigo-3-da-constituicao-federal-de-1988. Acessado em 4 out. 2018. 23 Brasil"Art. 1511 do Código Civil - Lei 10406/02 - JusBrasil." https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10631976/artigo-1511-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002. Acessado em 4 out. 2018. 24 Brasil"Art. 1694 do Código Civil - Lei 10406/02 - JusBrasil."https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10615295/artigo-1694-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002. Acessado em 4 out. 2018. 25 Brasil"Art. 227 da Constituição Federal de 88 - JusBrasil." https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10644726/artigo-227-da-constituicao-federal-de-1988. Acessado em 4 out. 2018. 15 crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) Quanto ao direito dos idosos é possível consultar o artigo 230, caput , da 26 Constituição Federal de 88, que trata.”A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida”. Por fim, no que trata falar sobre os princípios, deve-se esclarecer o Princípio da Boa Fé na Relações Familiares, que se encontra representado pelo Código Civil, em seus artigos 113 e 187 que determinam: 27 28 Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. 2.6. DIREITOS E DEVERES QUE ACOMPANHAM O RECONHECIMENTO DA DUPLA PATERNIDADE Deve-se partir do princípio que o reconhecimento da filiação possui natureza universal, ou seja, ele se dando por reconhecimento biológico ou reconhecimento socioafetivo irá trazer consigo todos os direitos e deveres inerentes a esse instituto. Raciocinando nesse sentido, se conclui que no caso da dupla paternidade no registro civil a criança ou adolescente terá seus direitos sucessórios garantidos tanto a frente de seu pai biológico quanto de seu pai socioafetivo assim como todo o dever de zelo pela sua integridade e qualidade de vida. 26 Brasil"Art. 230 da Constituição Federal de 88 - JusBrasil." https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10643796/artigo-230-da-constituicao-federal-de-1988. Acessado em 4 out. 2018. 27 Brasil"Art. 113 do Código Civil - Lei 10406/02 - JusBrasil." https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10722821/artigo-113-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002. Acessado em 4 out. 2018. 28 Brasil "Art. 187 do Código Civil - Lei 10406/02 - JusBrasil." https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10718722/artigo-187-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002. Acessado em 4 out. 2018. 16 Ressaltando-se também o fato de um reconhecimento não excluir o outro e não havendo também qualquer diferença se ele se deu de forma voluntário ou se foi por meio coercitivo, por exemplo em uma Ação de Reconhecimento de Paternidade. Tendo em vista o Princípio da Igualdade, que veda a discriminação da filiação, independente de sua origem, garantindo o gozo dos mesmos direitos e deveres. Sua importância é tamanha que nos dizeres da Mestra Maria Berenice se reconhece como “Um dos sustentáculos do Estado Democrático de Direito” , 29 Existe vedação expressa a qualquer forma de discriminação nesse sentido conforme o entendimento do Art.227, §6º da Constituição Federal de 88 que traz a 30 seguinte redação: “Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”. 2.7. CASO CONCRETO A pouco tempo foi ao conhecimento por meio da mídia a notícia em que foi reconhecido pela justiça a paternidade socioafetivo do atual marido da Kelly Key, conhecido como Mico Freitas, em relação a Suzanna Freitas que é fruto da União Estável de Latino com Kelly Key. O fato aconteceu na data de 14 de Agosto de 2018, e conforme notícia do site UOL a decisão foi tomada tendo em vista o distanciamento que tem com seu pai biológico, que é o Latino “Eu convivo com o meu padrasto e ele é o meu pai. Não convivo com o meu pai de sangue e ele não está muito presente na minha vida como o meu padrasto está. E não sei qual foi a última vez que tirei uma foto com o meu pai. [Mico] É a pessoa que mora dentro da minha casa, que me dá beijo de boa noite, que me criou". 29 "A felicidade no Estado Democrático de Direito - Constitucional ...." http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=18836&revis ta_caderno=9. Acessado em 23 nov. 2018. 30 Brasil"Art. 227, § 6 da Constituição Federal de 88 - JusBrasil." https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10644116/paragrafo-6-artigo-227-da-constituicao-federal-de-1988 . Acessado em 4 out. 2018. 17 Ou seja, mais uma vez se fez presente a importância da reciprocidade do sentimento nas relações, sendo algo que vai muito além de um simples DNA, transcende a matéria e faz a gente pensar que tudo acontece da forma como de fato deveria acontecer, 2.8. PROCEDIMENTO DE AVERBAÇÃO Com a existência do Provimento nº 63 de 14 de novembro de 2017 ficou 31 mais fácil realizar esse reconhecimento, tendo em vista que ele autoriza a possibilidade desse procedimento ser feito diretamente no Cartório de Registro Civil onde conste a certidão de nascimento da criança ou do adolescente e informar que há o interesse em se reconhecer a paternidade socioafetiva, lembrando que esse reconhecimento é o voluntário, pois existe o reconhecimento judicial que não se enquadra em casos de paternidade socioafetiva. O reconhecimento voluntário se encontra no artigo 1.609 do Código Civil , em 32 síntese: Art. 1.609. O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito: I - no registro do nascimento; II - por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório; III - por testamento, ainda que incidentalmente manifestado; IV - por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém. Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou ser posterior ao seu falecimento, se ele deixar descendentes. 31 Brasil"Provimento Nº 63 - Atos Administrativos - Portal CNJ." http://www.cnj.jus.br/busca-atos-adm?documento=3380. Acessado em 4 out. 2018. 32 Brasil"Art. 1609 do Código Civil - Lei 10406/02 ...." https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10622271/artigo-1609-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002. Acessado em 4 out. 2018. 18 Para tanto é necessário comparecer munido dos documentos pessoais e assinatura do pai socioafetivo, autorização do pai biológico e da criança caso ela seja maior de 12 anos e quanto ao valor, deve-se atentar também para o fato que o pai que está fazendo o reconhecimento seja ao menos 16 anos mais velho que o filho e que eles não sejam irmãos ou ascendentes. Quanto ao valor, esse procedimento custa cerca de R$ 130,00. 2.9. MULTIPARENTALIDADE E O STF Com a maior visibilidade que o tema vem ganhando, houve um aumento nos pedidos para reconhecimento de filiação socioafetiva nas certidões de nascimento,e consequentemente devido a demanda essa questão acabou chegando no STF. E com isso, o STF vem julgando esses casos de forma revolucionária, por exemplo no julgamento do Recurso Extraordinário nº 898.060 , que julgou: ““A 33 paternidadesocioafetiva, declarada ou não em registro, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante, baseada na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios”. Porém é necessário também analisar uma outra fase que esse reconhecimento da multiparentalidade pode trazer, questões que ainda não possuem resposta. tendo em vista se tratar de um tema consideravelmente prematura e não estar ainda com todas as suas questões consumadas. Por exemplo, o dever de prestação de alimentos é considerado algo recíproco, ou seja, no caso do filho ser considerado na relação a parte mais frágil deverá o pai auxiliar no seu sustento, assim como no caso do pai, que muita das vezes se encontra nessa situação devido a sua idade ou saúde e assim se tornar o lado mais desprotegido, neste caso é do filho a responsabilidade de prover em razão de seu pai, sendo assim no caso do filho possuir dois pais em sua certidão de 33 Brasil "Paternidade Socioafetiva - STF." http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE898060.pdf. Acessado em 4 out. 2018. 19 nascimento, e ambos por algum motivo tiverem que se tornar dependentes desse filho eles terão direito a requerer prestação de alimento? Ressaltando o que traz o Art. 1.696.do Código Civil : 34 Art. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros. § 1º Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada. § 2º Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia. Sendo inegável que dependendo da condição financeira desse filho, arcar com a despesa de dois pais, além da sua, poderá se tornar uma prestação excessivamente onerosa,capaz de causar um colapso financeiro na vida desse indivíduo. Desta forma, no caso de o juízo tiver que optar pelo deferimento de um dos dois, qual serão os requisitos que fundamentaram esse julgamento? Cabe o questionamento também quanto ao direito sucessório, no caso desse filho morrer antes dos pais sem deixar descendentes, como ficará a sucessão de seus bens? Tendo em vista que deverão ser herdados pelos seus pais, conforme Art. 1.836 do Código Civil , que apresenta o seguinte entendimento: 35 Art. 1.836. Na falta de descendentes, são chamados à sucessão os ascendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente. § 1o Na classe dos ascendentes, o grau mais próximo exclui o mais remoto, sem distinção de linhas. § 2o Havendo igualdade em grau e diversidade em linha, os ascendentes da linha paterna herdam a metade, cabendo a outra aos da linha materna E normal por se tratar de um tema da atualidade, ainda serem encontradas algumas perguntas sem respostas e essa é uma das principais tarefas do STF, que é se posicionar com um olhar livre de qualquer preconceito e também com cuidado, por se tratar de um assunto com repercussão geral e que possui efeitos que vão além do direito de família. 34 Brasil"Art. 1696 do Código Civil - Lei 10406/02 - JusBrasil." https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10615156/artigo-1696-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002. Acessado em 4 out. 2018. 35 Brasil"Art. 1836 do Código Civil - Lei 10406/02 - JusBrasil." https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10604381/artigo-1836-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002. Acessado em 4 out. 2018. 20 3 CONCLUSÃO Foi explorado no presente trabalho o instituto da multiparentalidade e o reconhecimento da paternidade socioafetiva, que tem como base o afeto, que nada mais é do que o combustível para a solidificação da relação familiar, é um tema de suma importância, pois traz uma maior visibilidade e validade ao vínculo paterno ligado apenas, mas não menos importante, estima em formar uma família. Como tratado no presente artigo, apesar de ser um tema que entrou em discussão recentemente, trata-se da realidade de muitas famílias desde os tempos mais antigos, e por isso merecidamente vem ganhando seu espaço, sendo inclusive um paradigma em tempos onde o abandono paterno só cresce. Neste artigo inicialmente foi tratado a forma como o conceito de família veio sofrendo alterações com o decorrer da evolução da sociedade e com isso novas modalidades de formação familiar foram ganhando o seu devido reconhecimento. Ressalta-se que os tipos de família que foram tratados, por exemplo a monoparental que é formada apenas por um dos progenitores e seus descendentes, existem desde que o mundo é mundo, ocorre que por fugir do estereótipo da família de comercial de margarina eram marginalizadas. Tratou-se também do abandono paterno que é um tema extremamente importante, e com toda certeza deveria estar mais presente dentre os assuntos discutidos nos almoços de domingo, pois assim, quem sabe as pessoas tomariam a devida noção de como a ausência de um pai pode trazer prejuízos. Assim como desconstruir a idéia que o simples pagamento de uma pensão alimentícia, que muita das vezes é paga apenas por imposição da justiça, não faz do progenitor um pai presente. Estar presente é estar para o seu filho de corpo e alma, e não representado apenas em um depósito bancário, é se importar em como está a sua saúde mental, buscar evoluir junto dele, nao necessariamente ajudando mas mostrando que está ao seu lado enquanto ele enfrenta as dificuldades que a vida nos dá, é ter compaixão e principalmente afeto. 21 Afeto é algo que nao se compra, nem se pode forçar, até porque neste caso estaríamos apenas mascarando a realidade, lembrando-se que o antônimo de afeto é o desafeto ou indiferença, e essa indiferença dói e quando não tratada será carregada por toda a vida. A filiação socioafetiva vem para esfregar em nossa cara que o afeto não é algo que obrigatoriamente vem com o laço de sangue, ela simplesmente floresce em uma relação onde se tem carinho, admiração, dedicação, apego, entre outros sentimentos bons. Inevitável também falar deste tema que abrange mais especificamente o direito de família e da criança e do adolescente e não mencionar os seus princípios norteadores que sem dúvida auxiliam em uma melhor absorção do conteúdo. Foi explanado o Princípio da Afetividade que é o grande porta voz do reconhecimento socioafetivo, tratamos também sobre o Princípio do melhor interesse do menor, tendo em vista que esse reconhecimento não pode vir apenas de um lado, mas ambos tem que se sentir à vontade para isso, principalmente a criança, entre outros princípios que carregam consigo esse forte sentimento. Importante abordar os efeitos que esse reconhecimento paterno irá trazer, tendo em vista que o reconhecimento socioafetivo carrega os mesmos direitos e deveres que o reconhecimento biológico, portanto não é algo a ser feito por impulso, pois, cabe salientar que trata-se de um instituto irrevogável, ou seja, uma vez pai vai ser pai para sempre. Para tanto, apesar de toda sua seriedade o reconhecimento da paternidadesocioafetiva se tornou menos burocrático, graças ao Provimento nº 63 de 14 de novembro de 2017 que autoriza a sua realização diretamente no Cartório de Registro Civil onde conste a certidão de nascimento da criança ou do adolescente. Trata-se de um reconhecimento voluntário, inclusive foi dessa forma que foi feita a declaração de paternidade no caso de Suzanna Freitas, filha da cantora Kelly Key, que foi elucidado no presente trabalho. A repercussão do assunto ganhou espaço também no STF, que como já demonstrado, se encontra a vontade para julgar de forma positiva o tema, até porque convenhamos, nada mais é do que o reconhecimento do amor, sentimento 22 esse cada vez mais escasso e quando evidenciado deve ser aplaudido e não afugentado. Por fim, apresento um poema que explica um pouquinho o que é afinal esse tal de afeto: Afeto (s.m.) é doce de padaria, é gosto particular, é um cafuné à distância, são cócegas no coração, é esparramar sorrisos ao te ver, é ponte entre duas almas distantes, é o primo mais novo do amor, é a bebida morna que enche a xícara da amizade. é o sussurro ao pé do coração que te conta quando você gosta muito de alguém. JOÃO DOEDERLEIN @akapoeta REFERÊNCIAS LÔBO, Paulo Luiz Netto. Código Civil Comentado: direito de família, relações de parentesco, direito patrimonial : arts. 1591 a 1993. Álvaro Villaça Azevedo (coord.). São Paulo: Atlas, 2003, v.XVI. VILLELA, João Baptista. Repensando o Direito de Família . Cadernos jurídicos:São Paulo, v.3, n. 7, jan./fev. COSTA, Antonio Carlos Gomes. Natureza e implantação do novo Direito da Criança e do Adolescente . Rio de Janeiro: Renovar, 2002. Redação proposta pelo relator, Ministro Luiz Fux, vencidos os Ministros Dias Toffoli e Marco Aurélio Mello . Não votou o Ministro Luís Roberto Barroso, em viagem a trabalho. https://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/entretenimento/2018/08/1 7/filha-de-kelly-key-tem-mais-um-pai-como-isso-e-possivel-legalmente. htm Acesso em: Setembro de 2018. 23 http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2017-11/brasil-registra-que da-no-numero-de-casamentos-e-aumento-de-divorcios-em-2016 Acesso em: Setembro de 2018. http://franzoni.adv.br/abandono-afetivo-dos-filhos/ Acesso em: Setembro de 2018 https://patriciadantasadvogada.jusbrasil.com.br/noticias/238667648/aba ndono-afetivo-dos-filhos-pode-ser-caracterizado-como-crime Acesso em: Outubro de 2018 http://www.cnj.jus.br/busca-atos-adm?documento=3380 Acesso em: Outubro de 2018 http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=91a0ac7c34ea63ff Acesso em: Outubro de 2018 http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos _leitura&artigo_id=14366 Acesso em: Outubro de 2018 http://segredosdaconquista.com.br/%E2%9A%AB-pai-do-paulinho-e-o- abandono-paterno-no-brasil/ Acesso em: Outubro de 2018 https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/5737/Relacoes-socioafetiva s Acesso em: Outubro de 2018.
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