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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
CAMILLA NEGRELLO HABIB 
 
 
 
O Reconhecimento da Paternidade Socioafetiva 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
Campus Dorival Caymmi 
2018.2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 
 
CAMILLA NEGRELLO HABIB 
 
 
O RECONHECIMENTO DA PATERNIDADE SOCIOAFETIVA 
 
 
 
 
 
 
 
Artigo Científico Jurídico 
apresentado à Universidade 
Estácio de Sá, Curso de 
Direito, como requisito parcial 
para a conclusão da disciplina 
Trabalho de Conclusão de 
Curso. 
 
Orientador: Professora Ana 
Lecticia 
 
 
 
 
RIO DE JANEIRO 
Campus Dorival Caymmi 
2018.2 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
O RECONHECIMENTO DA PATERNIDADE SOCIOAFETIVA 
 
Camilla Negrello Habib 
 
RESUMO 
 
 
O presente estudo tem como objetivo tratar do tema “O Reconhecimento da 
Paternidade Socioafetiva". Além disso, visa à realização de uma análise 
técnico-jurídica a respeito das normas, discussões jurisprudenciais, princípios 
norteadores para enriquecimento acerca do assunto estudado. Visa também elucidar 
questões sobre o conceito de família e suas mudanças no decorrer do tempo, tratar 
do abandono paterno que em conjunto com o reconhecimento socioafetivo, mostram 
o quão errado é restringir o sentido de família apenas aos laços sanguíneos. 
Trata-se também sobre os direitos e deveres que acompanham esse 
reconhecimento, a forma como pode ser feito o procedimento de averbação e 
também como o STF tem se posicionado em seus julgados. 
 
Palavra chave : Reconhecimento, socioafetivo, família. 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO 2. DESENVOLVIMENTO 2.1. Evolução sobre o conceito de família 
2.2. Tipos de família 2.3. Abandono paterno 2.4. Família socioafetiva 2.5. Princípios 
do Direito de Família e do ECA 2.6. Direitos e deveres 2.7. Caso concreto 2.8. 
Procedimento de averbação 2.9. Multiparentalidade e o STF 3. CONCLUSÃO . 
REFERÊNCIAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
1. INTRODUÇÃO 
 
Com o passar dos anos pode-se detectar um movimento de mudança nos 
conceitos e decisões até então engessadas do Direito de Família, tal fenômeno se 
deu através da evolução dos ideais sociais e o abandono de pensamentos 
anteriormentes dotados de preconceito, com isso a visão que se tem de família foi 
ampliada e se adequou às diferentes realidades vivenciadas pela sociedade. 
Tendo em vista as consideráveis modificações feitas em sua estrutura na 
recente evolução do Ordenamento Jurídico cabe a esse estudo apresentar e discutir 
como esses novos elementos podem aperfeiçoar a relação familiar, trazendo um 
sentimento de completude, para tanto, salienta-se a importância da implementação 
do afeto como valor jurídico a ser protegido conforme texto da Constituição Federal 
de 1988. 
Nesta discussão cumpre ressaltar o instituto da filiação socioafetiva como 
objeto de estudo do presente trabalho, recebendo um maior enfoque o viés da 
paternidade, sendo que esse reconhecimento da paternidade socioafetiva vem 
ganhando cada vez mais espaço em um cenário onde curiosamente e infelizmente o 
abandono paterno biológico só aumenta. 
Com isso se discutem os aspectos e diferenças entre o reconhecimento da 
paternidade biológica e da socioafetiva, assim como seus efeitos que possuem 
interferência direta não apenas na vida da criança ou do adolescente, mas também 
na família em seu sentido geral, assim como todos aqueles que fazem parte do 
convívio dessas pessoas. 
Sob esse raciocínio surge o questionamento: É necessário fazer uma escolha 
entre qual paternidade seria a mais benéfica? Ou, tendo em vista a colisão de 
diferentes critérios de filiação ambas podem se completar? 
Para isso a presente monografia vem discutir o instituto da multiparentalidade 
sob o viés do reconhecimento da paternidade socioafetiva, e assim a possibilidade 
de uma mesma criança possuir dois pais, apresentando também as repercussões 
que essa decisão traz tanto no aspecto moral quanto patrimonial. 
Cumpre salientar que apesar de esse ser um tema vítima de recentes 
controvérsias ainda não é um assunto que recebe a visibilidade e importância que 
 
 
 
 
 
4 
merece, sendo inclusive desconhecido por parte da população, e por esse motivo 
contém questionamentos ainda sem respostas, devendo portanto receber uma 
análise mais detalhada do tema motivo pelo qual se procede ao presente estudo 
científico. 
Para tanto foi escolhido para a pesquisa bibliográfica o método dedutivo, 
abrangendo os novos posicionamentos jurisprudenciais assim como doutrinas e 
legislação, buscando ainda apresentar casos da atualidade e sendo realizadas 
também citações bibliográficas de diversos autores expert na área estudada. 
 
 
2. DESENVOLVIMENTO 
 
 
2.1. EVOLUÇÃO SOBRE O CONCEITO DE FAMÍLIA 
 
 
 O conceito de família é algo que vem se modificando com o decorrer do tempo 
e se adaptando cada vez mais a realidade das pessoas. 
Antigamente quando se pensava em família a ideia tradicional que se tinha 
era da existência da figura paterna que era preenchida pelo homem, chefe de 
família, a figura materna sendo a mulher, dona de casa e os seus filhos. 
Nessa época o significado de família poderia ficar restrito a “um conjunto de 1
pessoas que possuem um grau de parentesco entre si e vivem na mesma casa, 
assim formando um lar”, sendo essa a tão falada família tradicional brasileira. 
Por sorte a sociedade é algo que está sempre sendo alvo de evolução, e o 
entendimento sobre o que é uma família assume diversas faces, até porque, 
convenhamos o papel da família é servir de base para o indivíduo, é a sua proteção, 
o seu cuidado e seria mesquinho dar esse mérito apenas para aqueles com quem 
temos laços sanguíneos. 
1 Brasil "Art. 5 da Lei Maria da Penha - Lei 11340/06 - JusBrasil." 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10868890/artigo-5-da-lei-n-11340-de-07-de-agosto-de-2006. 
Acessado em 4 out. 2018. 
 
 
 
 
 
5 
Desta forma novos conceitos de família foram aparecendo, por exemplo no 
ano de 2006 por meio da Lei Maria da Penha em seu Art. 5º, II que define família 
como uma “Comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram 2
aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa”. 
Essa nova forma de compreensão também foi tratada pelo IBGE que 
reconheceu a família como um grupo de pessoas ligadas por laços de parentesco ou 
relacionamento romântico que vivem numa unidade doméstica e incluiu em seu 
questionário feito para o Censo de 2010, pergunta sobre a situação dos filhos nas 
famílias. 
Com toda essa movimentação favorável, dando destaque e reconhecimento 
ao instituto do afeto, os tipos de família foram ganhando maior visibilidade e seu 
reconhecimento tem se dado de forma natural. 
 
2.2. TIPOS DE FAMÍLIA 
 
 
Podemos iniciar tratando da família monoparental que é composta por apenas 
1 dos progenitores e seus descendentes, ficando esse pai ou essa mãe unicamente 
responsável pelo sustento e criação dessa criança ou adolescente. 
Seu reconhecimento foi positivado no Art. 226, § 4º da Constituição Federal 
de 88, conforme diz: 
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do 
Estado. 
§ 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade 
formada por qualquer dos paise seus descendentes. 3
 
 
 
2 Brasil "Art. 5 da Lei Maria da Penha - Lei 11340/06 - JusBrasil." 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10868890/artigo-5-da-lei-n-11340-de-07-de-agosto-de-2006. 
Acessado em 4 out. 2018. 
3 Brasil "Art. 226, § 4 da Constituição Federal de 88 ...." 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10644958/paragrafo-4-artigo-226-da-constituicao-federal-de-1988
. Acessado em 4 out. 2018. 
 
 
 
 
 
6 
Nada mais justo esse reconhecimento, tendo em vista que é uma situação 
cada vez mais normal na vida de todos, podendo ser proveniente de inúmeras 
causas, por exemplo em uma relação biparental, ou com a morte de um dos pais, no 
caso de ocorrer um divórcio no meio do caminho, da adoção que pode ser realizada 
por apenas uma pessoa e também sendo resultado de uma inseminação artificial. 
Cabe ressaltar que apesar dos exemplos citados acima, o abandono paterno 
ainda é uma das maiores causas para a incidência de famílias monoparentais no 
Brasil, sendo esse um assunto que também será aprofundado no presente trabalho. 
Existe também a família arco-íris ou homoafetiva que é formada por um casal 
homossexual, podendo ter um ou mais filhos sendo eles legítimos ou adotados. 
Sua constatação se deu com a queda do arcaico conceito de família, dando 
lugar a um novo modelo pautado no afeto, sendo o homossexualidade reconhecida 
como um fator inerente ao ser humano, para tanto cabe o entendimento Mascotte: 
“Assim como na sociedade, no campo científico, o conceito de homossexualismo 
também sofreu alteração. Em 1985, deixou de constar a homossexualidade no art. 
302 do Código Internacional das Doenças – CID – como uma doença mental. Na 
última revisão, de 1995, o sufixo "ismo", que significa doença, foi substituído pelo 
sufixo "dade", que significa modo de ser.” (2009, p. 01). 
Porém esse reconhecimento ainda não foi positivado, existindo um verdadeiro 
silêncio sobre o tema dentro do ordenamento jurídico brasileiro, mesmo assim já 
vislumbramos julgamentos favoráveis nesse sentido, por exemplo no RESP nº 
238.715/RS , em que o Tribunal de Justiça gaúcho foi o precursor ao tratar sobre o 4
tema do reconhecimento de uniões estáveis homoafetivas. 
Cabe mencionar também o entendimento esclarecedor do Ministro Marco 
Aurélio: "Constitui objetivo fundamental da República Federativa do Brasil promover 
o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer 
outras formas de discriminação (inciso IV do artigo 3o da Carta Federal). 5
Vale dizer, impossível é interpretar o arcabouço normativo de maneira a 
4 Brasil "RECURSO ESPECIAL : REsp 238715 RS 1999/0104282-8." 
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/7141764/recurso-especial-resp-238715-rs-1999-0104282-8/in
teiro-teor-12851892. Acessado em 4 out. 2018. 
5 Brasil "Art. 3, inc. IV da Constituição Federal de 88 - JusBrasil." 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10731577/inciso-iv-do-artigo-3-da-constituicao-federal-de-1988. 
Acessado em 4 out. 2018. 
 
 
 
 
 
7 
chegar-se a enfoque que contrarie esse princípio basilar, agasalhando-se 
preconceito constitucionalmente vedado. (...) ressaltando o Juízo a inviabilidade de 
adotar-se interpretação isolada em relação ao artigo 226, § 3º , também do Diploma 6
Maior, no que revela o reconhecimento da união estável entre o homem e a mulher 
como entidade familiar. Considerou-se, mais, a impossibilidade de, à luz do artigo 5º 
da Lei Máxima, distinguir-se ante a opção sexual.". 
Sendo assim, sua proteção é feita com ajuda da jurisprudência e também dos 
princípios, e como seu norteador pode-se mencionar o Princípio da Dignidade da 
Pessoa Humana. 
Esse princípio, que se encontra no art. 1º, III, da Constituição Federal de 88 , 7
trata que todos são merecedores de igual proteção de sua dignidade pelo simples 
fato de serem pessoas humanas. 
O Professor Rizzatto Nunes trata a dignidade como algo que “ nasce com a 
pessoa, é inata e inerente à sua essência. O indivíduo nasce com integridade física 
e psíquica, cresce e vive no meio social, e tudo o que o compõe tem que ser 
respeitado ", e conclui que: "a dignidade humana é um valor preenchido a priori, isto 8
é, todo ser humano tem dignidade só pelo fato já de ser pessoa ." 9
 Ocorre que também com o evoluir da sociedade o casamento não é mais 
aquele que obrigatoriamente vai durar para todo, salvo exceções, tendo em vista que 
as relações se tornaram progressivamente mais vulneráveis e as pessoas cada vez 
mais substituíveis. 
Conforme estatística de registro civil publicado pelo IBGE na data de 14 de 
Novembro de 2017 além da queda no volume de casamentos podendo se destacar 
os Estados do Piauí com queda em 13,2%, o Estado de, Alagoas com menos 12,5% 
6 Brasil"Art. 226, § 3 da Constituição Federal de 88 - JusBrasil." 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10645006/paragrafo-3-artigo-226-da-constituicao-federal-de-1988
. Acessado em 4 out. 2018. 
7 Brasil"Art. 1, inc. III da Constituição Federal de 88 - JusBrasil." 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10731879/inciso-iii-do-artigo-1-da-constituicao-federal-de-1988. 
Acessado em 4 out. 2018. 
8 "Os princípios constitucionais no Direito de Família: dignidade da ...." 7 ago. 2017, 
http://conteudojuridico.com.br/index.php?artigos&ver=2.589572. Acessado em 16 nov. 2018. 
9 "A dignidade da pessoa humana e a honra individual - Constitucional ...." 
http://ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=17631. Acessado em 16 
nov. 2018. 
 
 
 
 
 
8 
e por fim o Estado da Paraíba com menos 11,3%, houveram mais de 344 mil 
divórcios no ano anterior. 
Com isso os casamentos chegam ao fim, muita das vezes de forma até bem 
precoce, e aquele vínculo entre homem e mulher se extingue, porém, o vínculo entre 
pai e filho continua, ou, deveria continuar. 
 
2.3. ABANDONO PATERNO 
 
 
Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com base no Censo 
Escolar de 2011, apontam que há 5,5 milhões de crianças brasileiras sem o nome do 
pai na certidão de nascimento. 
O Estado do Rio lidera o ranking, com 677.676 crianças sem filiação 
completa, seguido por São Paulo, com 663.375 crianças com pai desconhecido. O 
Estado com menos problemas é Roraima, com 19.203 crianças que só têm o nome 
da mãe no registro de nascimento. 
Conforme os dados da pesquisa o abandono paternal é um problema triste e 
evidente na vida de muitos, se você felizmente não passa por isso, no mínimo deve 
conhecer alguém que passe, é algo muito sério e muita das vezes não recebe a 
visibilidade que merece, sendo capaz de trazer traumas e resquícios eternos para 
aqueles que são punidos apenas porque nasceram. 
Um caso que ganhou destaque a pouco tempo e tomou proporções 
internacionais, foi a história do jogador Paulinho que esteve presente nos jogos da 
Copa de 2018, enquanto estava na Rússia representando o Brasil, seu pai também 
virou notícia pela Folha Uol com o tema “Feirante, pai distante de Paulinho vê a 
Copa em pequena tv chuviscada”. 
A reportagem aparentemente foi projetada para chocar, mostrando a atual 
realidade de vida humilde que leva o pai de um jogador que atualmente vale 
milhões, ocorre que a história não é tão bem assim como se pinta e também foi 
bastante real o abandono paterno sofridopor Paulinho em sua infância. 
 
 
 
 
 
9 
Em sua resposta o jogador contou uma face de seu pai biológico, o feirante 
João Paulo Bezerra Maciel, que não ficou clara pela Folha Uol, pois ele havia 
abandonado Paulinho que não o via desde seus oito anos de idade. 
Com o atleta já jogando em grandes times, eles se encontraram após um jogo 
do Corinthians, Paulinho chegou a dar a camisa com que jogou para o seu pai e 
após isso não houve mais contato até a Copa deste ano. 
Como muito bem tratado pelo Eddie e o Leo, no canal Manual do Homem 
Moderno e m um vídeo que retrata de forma sensível o abandono paterno e conta um 
pouco desse fato na vida do jogador, geralmente esses pais que somem nos 
momentos de aperto costumam retornar na fases de glória. 
Por sorte já podemos observar a jurisprudência que vem julgando de forma 
mais enérgica sobre o tema, cabendo destacar o julgamento do STF no Recurso de 
Revista com nº 1.159.242 do Estado de São Paulo . 10
Aqui não se fala ou se discute o amar e, sim, a imposição 
biológica e legal de cuidar, que é dever jurídico, corolário da 
liberdade das pessoas de gerarem ou adotarem filhos.[…] Em 
suma, amar é faculdade, cuidar é dever. A comprovação que essa 
imposição legal foi descumprida implica, por certo, a ocorrência de 
ilicitude civil, sob a forma de omissão, pois na hipótese o non 
facere que atinge um bem juridicamente tutelado, leia-se, o 
necessário dever de criação, educação e companhia – de cuidado 
– importa em vulneração da imposição legal. 
 
Cabe mencionar também a aprovação pela Comissão de Direitos Humanos 
do Senado Federal do projeto de lei 700/2007 que trata da obrigação de reparação 11
moral aos pais que deixarem de dar a devida assistência afetiva aos filhos, sendo 
essa no mínimo por meio de visitas periódicas, ou seja, o abandono afetivo aos 
filhos foi criminalizado. 
 
2.4. FAMÍLIA SOCIOAFETIVA 
 
 
10 "EREsp 1159242 SP 2012/0107921-6 - Superior Tribunal de Justiça." 
https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/25102821/embargos-de-divergencia-em-recurso-especial-ere
sp-1159242-sp-2012-0107921-6-stj/inteiro-teor-25102822. Acessado em 23 nov. 2018. 
11 Brasil "Projeto de Lei do Senado n° 700, de 2007 - Pesquisas - Senado Federal." 
https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/83516. Acessado em 4 out. 2018. 
 
 
 
 
 
10 
Ocorre que nem tudo é descaso e tragédia e muita das vezes essas crianças 
acabam encontrando acolhimento naquele que teoricamente não possuiria qualquer 
obrigação, porém, o vínculo se torna tão forte que a família afetiva se sobrepõe a 
sanguínea mudando o cenário sombrio do abandono e trazendo o colorido da 
harmonia familiar. 
É normal quando um relacionamento acaba as pessoas voltarem a se 
relacionar e quando se trata de uma mulher que já tenha um filho, ele, mesmo que 
indiretamente, está dentro do pacote, querendo o novo companheiro ou não. 
No melhor dos cenários a figura do padrasto irá entrar na família para agregar 
e muita das vezes o encaixe é tão perfeito que pelo convívio ninguém é capaz de 
dizer que aquela criança ou adolescente foi fruto de outro relacionamento, e ele 
acaba, sendo o pai natural ausente ou não, incluso também na categoria de pai. 
Trata-se do reconhecimento da paternidade que pode ser biológico, que é o 
mais comum, se dando a filiação pelo laço de sangue e o reconhecimento 
socioafetivo que é proveniente da relação de afeto. 
Mas antes caberia apresentar o raciocínio que vem acompanhado da palavra 
socioafetivo, que junta o social com a afetividade mostrando a importância e como o 
afeto pode gerar as relações. 
Uma das frases que mais representa esse reconhecimento quando se dá pelo 
lado paterno é “Pai é aquele que cria”, e é por meio da criação, aquela que nos 
desgasta diariamente mas também nos alegra com cada pequena evolução 
daqueles que queremos bem, que se estrutura o elo da paternidade. 
Nesse sentido é bastante esclarecedora a definição de Arlindo Mello do 
Nascimento, que diz. 
A nova família, que anteriormente era definida pela obrigação e 
hoje é definida pelo afeto, cada vez mais aparece no cenário 
nacional, num debate em torno de presente e do futuro da 
instituição família e do valor da família diante da generalização do 
individualismo. 12
 
12 "Paternidade Socioafetiva: Direitos Dos Filhos De Criação." 
https://books.google.com.br/books?id=jfoRBQAAQBAJ&pg=PT13&lpg=PT13&dq=A+nova+fam%C3%
ADlia,+que+anteriormente+era+definida+pela+obriga%C3%A7%C3%A3o+e+hoje+%C3%A9+definida
+pelo+afeto,+cada+vez+mais+aparece+no+cen%C3%A1rio+nacional,+num+debate+em+torno+de+pr
esente+e+do+futuro+da+institui%C3%A7%C3%A3o+fam%C3%ADlia+e+do+valor+da+fam%C3%ADli
a+diante+da+generaliza%C3%A7%C3%A3o+do+individualismo.&source=bl&ots=BTx7VY7Lf0&sig=E
BaIJ-z06DhJ11A0vg7gtQ9gMU0&hl=pt-BR. Acessado em 23 nov. 2018. 
 
 
 
 
 
11 
Porém, apesar de uma bela iniciativa é algo a ser muito bem pensado antes 
de ser decidido, tendo em vista que a partir da solidificação da posse que se dá 
primeiramente com a existência de afeto entre as partes e a ausência de qualquer 
vício de consentimento, de acordo com entendimento dos tribunais o 
reconhecimento da paternidade socioafetiva será algo irrevogável, ou seja, nao tem 
como voltar atrás.. 
 
2.5. PRINCÍPIOS NORTEADORES DO DIREITO DE FAMÍLIA E DO ECA 
 
 
Para tanto cumpre observar alguns princípios que foram de suma importância 
para a construção dessa idéia. 
Primeiramente é impossível tratar do reconhecimento da dupla paternidade e 
não citar o Princípio da Afetividade, tendo em vista que é tal princípio que 
fundamenta o direito de família na estabilidade das relações socioafetivas e na 
comunhão da vida, com primazia em face de considerações de caráter patrimonial 
ou biológico, conforme diz Paulo Luiz Netto. 13
Esse princípio traz a importância do amor nas relações, porque apenas ele é 
capaz de trazer o sentimento de porto seguro, de apoio que a família deveria ser, 
afinal, de que serve ser do mesmo sangue se não existe afeto nessa relação? 
Lembrando que bem material não é tudo. 
Nesse sentido, é de suma importância compreender o que diz João Baptista 
Villela. 
A consanguinidade tem, de fato e de direito, um papel 
absolutamente secundário na configuração da paternidade. Não é 
a derivação bioquímica que aponta para a figura do pai, senão o 
amor, o desvelo, o serviço com que alguém se entrega ao bem da 
criança. 14
13 "Reconhecimento da paternidade socioafetiva e suas consequências ...." 
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9280. 
Acessado em 23 nov. 2018. 
14 "A multiparentalidade decorrente da filiação socioafetiva: análise dos ...." 
https://kamilabarrosoklb.jusbrasil.com.br/artigos/534002375/a-multiparentalidade-decorrente-da-filiaca
o-socioafetiva-analise-dos-criterios-para-seu-reconhecimento-no-ordenamento-juridico-brasileiro. 
Acessado em 23 nov. 2018. 
 
 
 
 
 
12 
Cumpre ressaltar que o Princípio da Afetividade serve de base para o 
entendimento dos conceitos de família natural e família afetiva, sendo a família 
natural aquela conceituada no artigo 25º, caput do ECA , que trata: “Art. 25. 15
Entende-se por família natural a comunidade formadapelos pais ou qualquer deles e 
seus descendentes”. 
Já a família afetiva é aquela que se fundamenta nos laços afetivos cotidianos 
e no relacionamento de carinho, companheirismo, proteção e doação entre pais e 
filhos, porém é sempre bom ressaltar que no caso da paternidade, o seu 
reconhecimento em caráter socioafetivo não descarta o direito da criança ou 
adolescente ter reconhecida a sua paternidade biológica. 
O segundo que também cabe mencionar é o Princípio do Melhor Interesse da 
criança e do adolescente, que veio para proteger o cumprimento dos seus direitos, 
ele pode ser extraído do Art. 227, caput da CF/88 que diz: 16
 
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar 
à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o 
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à 
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade 
e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo 
de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, 
crueldade e opressão. 
 
 E também no Estatuto da Criança e do Adolescente, em seus artigos 3º, 
4º, 5º: 171819
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos 
fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da 
proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por 
lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim 
15 Brasil"Art. 25 do Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei 8069/90." 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10617684/artigo-25-da-lei-n-8069-de-13-de-julho-de-1990. 
Acessado em 4 out. 2018. 
16 Brasil"Constituição da República Federativa do Brasil - Art. 227." 
https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_06.06.2017/art_227_.asp. Acessado em 
4 out. 2018. 
17 Brasil"Art. 3 do Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei 8069/90 - JusBrasil." 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619587/artigo-3-da-lei-n-8069-de-13-de-julho-de-1990. 
Acessado em 4 out. 2018. 
18 Brasil"Art. 4 do Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei 8069/90 - JusBrasil." 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619550/artigo-4-da-lei-n-8069-de-13-de-julho-de-1990. 
Acessado em 4 out. 2018. 
19 Brasil"Art. 5 do Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei 8069/90 - JusBrasil." 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619333/artigo-5-da-lei-n-8069-de-13-de-julho-de-1990. 
Acessado em 4 out. 2018. 
 
 
 
 
 
13 
de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual 
e social, em condições de liberdade e de dignidade. 
 
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral 
e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a 
efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à 
educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e 
comunitária. 
 
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer 
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, 
crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, 
por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. 
. 
Cabe também mencionar o entendimento do pedagogo Antonio Carlos 
Gomes da Costa tratando da proteção. 
Afirma o valor intrínseco da criança como ser humano ; a 20
necessidade de especial respeito à sua condição de pessoa em 
desenvolvimento; o valor prospectivo da infância e da juventude, 
como portadora da continuidade do seu povo e da espécie e o 
reconhecimento da sua vulnerabilidade, o que torna as crianças e 
adolescentes merecedores de proteção integral por parte da 
família, da sociedade e do Estado, o qual deverá atuar através de 
políticas públicas específicas para promoção e defesa dos seus 
direitos. 
 
Destaca-se também o Princípio da Solidariedade Familiar, pois um princípio 
que carrega uma palavra tão forte, que é a solidariedade, e conforme o Dicionário 
Michaelis aponta como significado. 
Dir: Compromisso pelo qual as pessoas se obrigam umas pelas 
outras e cada uma delas por todas. Sociol: Condição grupal 
resultante da comunhão de atitudes e sentimentos, de modo a 
constituir o grupo unidade sólida, capaz de resistir às forças 
exteriores e mesmo de tornar-se ainda mais firme em face da 
oposição vinda de fora. 21
 
Trata-se do ato de se importar, amar, cuidar do outro não apenas no seio 
familiar mas também em todo o social, já se encontra protegido pela Constituição 
20 "Os Regimes de Atendimento no Estatuto da Criança e do Adolescente." 
http://ens.sinase.sdh.gov.br/ens2/images/Biblioteca/Livros_e_Artigos/material_curso_de_formacao_da
_ens/Os%20Regimes%20de%20Atendimemto%20no%20Estatuto%20da%20Crian%C3%A7a%20e%
20do%20Adolescente.pdf. Acessado em 16 nov. 2018. 
21 "Solidariedade | Michaelis On-line." 
http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/solidariedade/. Acessado 
em 23 nov. 2018. 
 
 
 
 
 
14 
Federal de 88 em seu Art. 3º, inciso I, que diz: “Constituem objetivos fundamentais 22
da República Federativa do Brasil:I - construir uma sociedade livre, justa e solidária”. 
Como também pelo Código Civil em seus artigos 1.511 e 1.694 , com seus 23 24
parágrafos, conforme exposto abaixo: 
Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com 
base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges. 
Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros 
pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de 
modo compatível com a sua condição social, inclusive para 
atender às necessidades de sua educação. 
§ 1o Os alimentos devem ser fixados na proporção das 
necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada. 
§ 2o Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, 
quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os 
pleiteia. 
 
O Princípio da Proteção Integral se estende, além da criança e do 
adolescente, para os idosos e trata-se de uma combinação do princípio da 
dignidade da pessoa humana com o princípio da isonomia. 
Tendo em vista que por se tratarem de partes naturalmente mais frágeis 
necessitam também de uma maior proteção, inclusive jurídica, e como exemplo 
nesse caso pode-se citar a tramitação preferencial nos processos que figuram como 
parte. 
Referente a esse princípio faz-se necessário citar a Carta Magna em seu 
artigo 227, caput , que impõe a família uma série que ações que visam a proteção 25
dos direitos fundamentais, conforme fragmento abaixo: 
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar 
à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o 
direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à 
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade 
e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo 
de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, 
22 Brasil"Art. 3, inc. I da Constituição Federal de 88 - JusBrasil." 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10731686/inciso-i-do-artigo-3-da-constituicao-federal-de-1988. 
Acessado em 4 out. 2018. 
23 Brasil"Art. 1511 do Código Civil - Lei 10406/02 - JusBrasil." 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10631976/artigo-1511-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002. 
Acessado em 4 out. 2018. 
24 Brasil"Art. 1694 do Código Civil - Lei 10406/02 - JusBrasil."https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10615295/artigo-1694-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002. 
Acessado em 4 out. 2018. 
25 Brasil"Art. 227 da Constituição Federal de 88 - JusBrasil." 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10644726/artigo-227-da-constituicao-federal-de-1988. Acessado 
em 4 out. 2018. 
 
 
 
 
 
15 
crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda 
Constitucional nº 65, de 2010) 
 
Quanto ao direito dos idosos é possível consultar o artigo 230, caput , da 26
Constituição Federal de 88, que trata.”A família, a sociedade e o Estado têm o dever 
de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, 
defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida”. 
 
Por fim, no que trata falar sobre os princípios, deve-se esclarecer o Princípio 
da Boa Fé na Relações Familiares, que se encontra representado pelo Código Civil, 
em seus artigos 113 e 187 que determinam: 27 28
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme 
a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. 
 
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao 
exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim 
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. 
 
2.6. DIREITOS E DEVERES QUE ACOMPANHAM O RECONHECIMENTO DA 
DUPLA PATERNIDADE 
 
 
 
Deve-se partir do princípio que o reconhecimento da filiação possui natureza 
universal, ou seja, ele se dando por reconhecimento biológico ou reconhecimento 
socioafetivo irá trazer consigo todos os direitos e deveres inerentes a esse instituto. 
Raciocinando nesse sentido, se conclui que no caso da dupla paternidade no 
registro civil a criança ou adolescente terá seus direitos sucessórios garantidos tanto 
a frente de seu pai biológico quanto de seu pai socioafetivo assim como todo o dever 
de zelo pela sua integridade e qualidade de vida. 
26 Brasil"Art. 230 da Constituição Federal de 88 - JusBrasil." 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10643796/artigo-230-da-constituicao-federal-de-1988. Acessado 
em 4 out. 2018. 
27 Brasil"Art. 113 do Código Civil - Lei 10406/02 - JusBrasil." 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10722821/artigo-113-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002. 
Acessado em 4 out. 2018. 
28 Brasil "Art. 187 do Código Civil - Lei 10406/02 - JusBrasil." 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10718722/artigo-187-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002. 
Acessado em 4 out. 2018. 
 
 
 
 
 
16 
Ressaltando-se também o fato de um reconhecimento não excluir o outro e 
não havendo também qualquer diferença se ele se deu de forma voluntário ou se foi 
por meio coercitivo, por exemplo em uma Ação de Reconhecimento de Paternidade. 
Tendo em vista o Princípio da Igualdade, que veda a discriminação da filiação, 
independente de sua origem, garantindo o gozo dos mesmos direitos e deveres. 
Sua importância é tamanha que nos dizeres da Mestra Maria Berenice se 
reconhece como “Um dos sustentáculos do Estado Democrático de Direito” , 29
Existe vedação expressa a qualquer forma de discriminação nesse sentido 
conforme o entendimento do Art.227, §6º da Constituição Federal de 88 que traz a 30
seguinte redação: “Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por 
adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações 
discriminatórias relativas à filiação”. 
 
2.7. CASO CONCRETO 
 
 
A pouco tempo foi ao conhecimento por meio da mídia a notícia em que foi 
reconhecido pela justiça a paternidade socioafetivo do atual marido da Kelly Key, 
conhecido como Mico Freitas, em relação a Suzanna Freitas que é fruto da União 
Estável de Latino com Kelly Key. 
O fato aconteceu na data de 14 de Agosto de 2018, e conforme notícia do site 
UOL a decisão foi tomada tendo em vista o distanciamento que tem com seu pai 
biológico, que é o Latino “Eu convivo com o meu padrasto e ele é o meu pai. Não 
convivo com o meu pai de sangue e ele não está muito presente na minha vida 
como o meu padrasto está. E não sei qual foi a última vez que tirei uma foto com o 
meu pai. [Mico] É a pessoa que mora dentro da minha casa, que me dá beijo de boa 
noite, que me criou". 
29 "A felicidade no Estado Democrático de Direito - Constitucional ...." 
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=18836&revis
ta_caderno=9. Acessado em 23 nov. 2018. 
30 Brasil"Art. 227, § 6 da Constituição Federal de 88 - JusBrasil." 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10644116/paragrafo-6-artigo-227-da-constituicao-federal-de-1988
. Acessado em 4 out. 2018. 
 
 
 
 
 
17 
Ou seja, mais uma vez se fez presente a importância da reciprocidade do 
sentimento nas relações, sendo algo que vai muito além de um simples DNA, 
transcende a matéria e faz a gente pensar que tudo acontece da forma como de fato 
deveria acontecer, 
 
 
 
 
 
2.8. PROCEDIMENTO DE AVERBAÇÃO 
 
 
Com a existência do Provimento nº 63 de 14 de novembro de 2017 ficou 31
mais fácil realizar esse reconhecimento, tendo em vista que ele autoriza a 
possibilidade desse procedimento ser feito diretamente no Cartório de Registro Civil 
onde conste a certidão de nascimento da criança ou do adolescente e informar que 
há o interesse em se reconhecer a paternidade socioafetiva, lembrando que esse 
reconhecimento é o voluntário, pois existe o reconhecimento judicial que não se 
enquadra em casos de paternidade socioafetiva. 
O reconhecimento voluntário se encontra no artigo 1.609 do Código Civil , em 32
síntese: 
Art. 1.609. O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento 
é irrevogável e será feito: 
I - no registro do nascimento; 
II - por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em 
cartório; 
III - por testamento, ainda que incidentalmente manifestado; 
IV - por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o 
reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o 
contém. 
Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do 
filho ou ser posterior ao seu falecimento, se ele deixar 
descendentes. 
 
31 Brasil"Provimento Nº 63 - Atos Administrativos - Portal CNJ." 
http://www.cnj.jus.br/busca-atos-adm?documento=3380. Acessado em 4 out. 2018. 
32 Brasil"Art. 1609 do Código Civil - Lei 10406/02 ...." 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10622271/artigo-1609-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002. 
Acessado em 4 out. 2018. 
 
 
 
 
 
18 
Para tanto é necessário comparecer munido dos documentos pessoais e 
assinatura do pai socioafetivo, autorização do pai biológico e da criança caso ela 
seja maior de 12 anos e quanto ao valor, deve-se atentar também para o fato que o 
pai que está fazendo o reconhecimento seja ao menos 16 anos mais velho que o 
filho e que eles não sejam irmãos ou ascendentes. Quanto ao valor, esse 
procedimento custa cerca de R$ 130,00. 
 
 
 
2.9. MULTIPARENTALIDADE E O STF 
 
 
Com a maior visibilidade que o tema vem ganhando, houve um aumento nos 
pedidos para reconhecimento de filiação socioafetiva nas certidões de nascimento,e 
consequentemente devido a demanda essa questão acabou chegando no STF. 
E com isso, o STF vem julgando esses casos de forma revolucionária, por 
exemplo no julgamento do Recurso Extraordinário nº 898.060 , que julgou: ““A 33
paternidadesocioafetiva, declarada ou não em registro, não impede o 
reconhecimento do vínculo de filiação concomitante, baseada na origem biológica, 
com os efeitos jurídicos próprios”. 
Porém é necessário também analisar uma outra fase que esse 
reconhecimento da multiparentalidade pode trazer, questões que ainda não possuem 
resposta. tendo em vista se tratar de um tema consideravelmente prematura e não 
estar ainda com todas as suas questões consumadas. 
Por exemplo, o dever de prestação de alimentos é considerado algo 
recíproco, ou seja, no caso do filho ser considerado na relação a parte mais frágil 
deverá o pai auxiliar no seu sustento, assim como no caso do pai, que muita das 
vezes se encontra nessa situação devido a sua idade ou saúde e assim se tornar o 
lado mais desprotegido, neste caso é do filho a responsabilidade de prover em razão 
de seu pai, sendo assim no caso do filho possuir dois pais em sua certidão de 
33 Brasil "Paternidade Socioafetiva - STF." 
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/RE898060.pdf. Acessado em 4 out. 2018. 
 
 
 
 
 
19 
nascimento, e ambos por algum motivo tiverem que se tornar dependentes desse 
filho eles terão direito a requerer prestação de alimento? Ressaltando o que traz o 
Art. 1.696.do Código Civil : 34
Art. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre 
pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a 
obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros. 
§ 1º Os alimentos devem ser fixados na proporção das 
necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada. 
§ 2º Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, 
quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os 
pleiteia. 
Sendo inegável que dependendo da condição financeira desse filho, arcar 
com a despesa de dois pais, além da sua, poderá se tornar uma prestação 
excessivamente onerosa,capaz de causar um colapso financeiro na vida desse 
indivíduo. 
Desta forma, no caso de o juízo tiver que optar pelo deferimento de um dos 
dois, qual serão os requisitos que fundamentaram esse julgamento? 
Cabe o questionamento também quanto ao direito sucessório, no caso desse 
filho morrer antes dos pais sem deixar descendentes, como ficará a sucessão de 
seus bens? Tendo em vista que deverão ser herdados pelos seus pais, conforme 
Art. 1.836 do Código Civil , que apresenta o seguinte entendimento: 35
Art. 1.836. Na falta de descendentes, são chamados à sucessão 
os ascendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente. 
§ 1o Na classe dos ascendentes, o grau mais próximo exclui o 
mais remoto, sem distinção de linhas. 
§ 2o Havendo igualdade em grau e diversidade em linha, os 
ascendentes da linha paterna herdam a metade, cabendo a outra 
aos da linha materna 
 
E normal por se tratar de um tema da atualidade, ainda serem encontradas 
algumas perguntas sem respostas e essa é uma das principais tarefas do STF, que é 
se posicionar com um olhar livre de qualquer preconceito e também com cuidado, 
por se tratar de um assunto com repercussão geral e que possui efeitos que vão 
além do direito de família. 
34 Brasil"Art. 1696 do Código Civil - Lei 10406/02 - JusBrasil." 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10615156/artigo-1696-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002. 
Acessado em 4 out. 2018. 
35 Brasil"Art. 1836 do Código Civil - Lei 10406/02 - JusBrasil." 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10604381/artigo-1836-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002. 
Acessado em 4 out. 2018. 
 
 
 
 
 
20 
 
 
3 CONCLUSÃO 
 
Foi explorado no presente trabalho o instituto da multiparentalidade e o 
reconhecimento da paternidade socioafetiva, que tem como base o afeto, que nada 
mais é do que o combustível para a solidificação da relação familiar, é um tema de 
suma importância, pois traz uma maior visibilidade e validade ao vínculo paterno 
ligado apenas, mas não menos importante, estima em formar uma família. 
Como tratado no presente artigo, apesar de ser um tema que entrou em 
discussão recentemente, trata-se da realidade de muitas famílias desde os tempos 
mais antigos, e por isso merecidamente vem ganhando seu espaço, sendo inclusive 
um paradigma em tempos onde o abandono paterno só cresce. 
Neste artigo inicialmente foi tratado a forma como o conceito de família veio 
sofrendo alterações com o decorrer da evolução da sociedade e com isso novas 
modalidades de formação familiar foram ganhando o seu devido reconhecimento. 
Ressalta-se que os tipos de família que foram tratados, por exemplo a 
monoparental que é formada apenas por um dos progenitores e seus descendentes, 
existem desde que o mundo é mundo, ocorre que por fugir do estereótipo da família 
de comercial de margarina eram marginalizadas. 
Tratou-se também do abandono paterno que é um tema extremamente 
importante, e com toda certeza deveria estar mais presente dentre os assuntos 
discutidos nos almoços de domingo, pois assim, quem sabe as pessoas tomariam a 
devida noção de como a ausência de um pai pode trazer prejuízos. 
Assim como desconstruir a idéia que o simples pagamento de uma pensão 
alimentícia, que muita das vezes é paga apenas por imposição da justiça, não faz do 
progenitor um pai presente. 
Estar presente é estar para o seu filho de corpo e alma, e não representado 
apenas em um depósito bancário, é se importar em como está a sua saúde mental, 
buscar evoluir junto dele, nao necessariamente ajudando mas mostrando que está 
ao seu lado enquanto ele enfrenta as dificuldades que a vida nos dá, é ter 
compaixão e principalmente afeto. 
 
 
 
 
 
21 
Afeto é algo que nao se compra, nem se pode forçar, até porque neste caso 
estaríamos apenas mascarando a realidade, lembrando-se que o antônimo de afeto 
é o desafeto ou indiferença, e essa indiferença dói e quando não tratada será 
carregada por toda a vida. 
A filiação socioafetiva vem para esfregar em nossa cara que o afeto não é 
algo que obrigatoriamente vem com o laço de sangue, ela simplesmente floresce em 
uma relação onde se tem carinho, admiração, dedicação, apego, entre outros 
sentimentos bons. 
Inevitável também falar deste tema que abrange mais especificamente o 
direito de família e da criança e do adolescente e não mencionar os seus princípios 
norteadores que sem dúvida auxiliam em uma melhor absorção do conteúdo. 
Foi explanado o Princípio da Afetividade que é o grande porta voz do 
reconhecimento socioafetivo, tratamos também sobre o Princípio do melhor 
interesse do menor, tendo em vista que esse reconhecimento não pode vir apenas 
de um lado, mas ambos tem que se sentir à vontade para isso, principalmente a 
criança, entre outros princípios que carregam consigo esse forte sentimento. 
Importante abordar os efeitos que esse reconhecimento paterno irá trazer, 
tendo em vista que o reconhecimento socioafetivo carrega os mesmos direitos e 
deveres que o reconhecimento biológico, portanto não é algo a ser feito por impulso, 
pois, cabe salientar que trata-se de um instituto irrevogável, ou seja, uma vez pai vai 
ser pai para sempre. 
Para tanto, apesar de toda sua seriedade o reconhecimento da paternidadesocioafetiva se tornou menos burocrático, graças ao Provimento nº 63 de 14 de 
novembro de 2017 que autoriza a sua realização diretamente no Cartório de 
Registro Civil onde conste a certidão de nascimento da criança ou do adolescente. 
Trata-se de um reconhecimento voluntário, inclusive foi dessa forma que foi 
feita a declaração de paternidade no caso de Suzanna Freitas, filha da cantora Kelly 
Key, que foi elucidado no presente trabalho. 
A repercussão do assunto ganhou espaço também no STF, que como já 
demonstrado, se encontra a vontade para julgar de forma positiva o tema, até 
porque convenhamos, nada mais é do que o reconhecimento do amor, sentimento 
 
 
 
 
 
22 
esse cada vez mais escasso e quando evidenciado deve ser aplaudido e não 
afugentado. 
Por fim, apresento um poema que explica um pouquinho o que é afinal esse 
tal de afeto: 
 
Afeto (s.m.) 
é doce de padaria, é gosto particular, é um cafuné 
à distância, são cócegas no coração, é esparramar 
sorrisos ao te ver, é ponte entre duas almas distantes, 
é o primo mais novo do amor, é a bebida morna que 
enche a xícara da amizade. 
é o sussurro ao pé do coração que te conta quando 
você gosta muito de alguém. 
 
 JOÃO DOEDERLEIN 
 @akapoeta 
 
 REFERÊNCIAS 
 
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Código Civil Comentado: direito de família, 
relações de parentesco, direito patrimonial : arts. 1591 a 1993. 
Álvaro Villaça Azevedo (coord.). São Paulo: Atlas, 2003, v.XVI. 
 
VILLELA, João Baptista. Repensando o Direito de Família . Cadernos 
jurídicos:São Paulo, v.3, n. 7, jan./fev. 
 
COSTA, Antonio Carlos Gomes. Natureza e implantação do novo 
Direito da Criança e do Adolescente . Rio de Janeiro: Renovar, 2002. 
 
Redação proposta pelo relator, Ministro Luiz Fux, vencidos os 
Ministros Dias Toffoli e Marco Aurélio Mello . Não votou o Ministro 
Luís Roberto Barroso, em viagem a trabalho. 
https://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/entretenimento/2018/08/1
7/filha-de-kelly-key-tem-mais-um-pai-como-isso-e-possivel-legalmente.
htm Acesso em: Setembro de 2018. 
 
 
 
 
 
 
23 
http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2017-11/brasil-registra-que
da-no-numero-de-casamentos-e-aumento-de-divorcios-em-2016 
Acesso em: Setembro de 2018. 
 
http://franzoni.adv.br/abandono-afetivo-dos-filhos/ Acesso em: 
Setembro de 2018 
 
https://patriciadantasadvogada.jusbrasil.com.br/noticias/238667648/aba
ndono-afetivo-dos-filhos-pode-ser-caracterizado-como-crime Acesso 
em: Outubro de 2018 
 
http://www.cnj.jus.br/busca-atos-adm?documento=3380 Acesso em: 
Outubro de 2018 
 
http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=91a0ac7c34ea63ff 
Acesso em: Outubro de 2018 
 
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos
_leitura&artigo_id=14366 Acesso em: Outubro de 2018 
 
http://segredosdaconquista.com.br/%E2%9A%AB-pai-do-paulinho-e-o-
abandono-paterno-no-brasil/ Acesso em: Outubro de 2018 
 
https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/5737/Relacoes-socioafetiva
s Acesso em: Outubro de 2018.

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