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CÚSPIDES ACESSÓRIAS: UMA REVISÃO DE LITERATURA CUSP ACESSORIES: A LITERATURE REVIEW Bruno Stefany Ribeiro dos Santos Oliveira* Camilla de Jesus Oliveira Lopes** Fernanda Silva dos Santos*** João Victor Barbosa Cerqueira Rosa**** Geysiele dos Santos Capelão***** RESUMO As cúspides acessórias é uma anomalia dental de desenvolvimento, com etiologia desconhecida, porém é considerada uma possível alteração no período da odontogênese durante a etapa de morfodiferenciação. Pode ser avaliada diversas variações, porém apenas quatro merecem discussão adicional, sendo elas: Cúspide em garra, tubérculo de Carabelli, dente invaginado (dens in dente) e dente evaginado. Essa alteração é definida como uma alteração de desenvolvimento de forma que é representada por cúspides extras quando comparadas a anatomia dentária normal. Nessa perspectiva, este estudo tem como objetivo realizar uma revisão de literatura baseada nos tipos de cúspides acessórias visando abordar o máximo de informação possível sobre cada alteração. Palavras-chave: Cúspides acessórias. Odontogênese. Alteração de forma. ABSTRACT: The accessory cusps are a dental anomaly of development, with unknown etiology, but is considered a possible change in the period of Odontogenesis during morphodifferentiation step. Can be evaluated in several variations, but only four deserve further discussion, namely: Cusp claw, Carabelli tubercle, invaginated tooth (one tooth in another) and evaginated tooth. This change is defined as a change of development in a way that it is represented by extra cusps when compared to normal dental anatomy. In this perspective, this study intends to conduct a literature review based on the types of accessory cusps aimed at addressing as much information as possible about each change. Keywords: Accessory cusps. Odontogenesis. Shape change. INTRODUÇÃO Anomalias podem ser definidas como uma variação da normalidade relacionada as características anatômicas, podendo ser congênitas, genéticas ou adquiridas (SEABRA et al, 2008). Segundo Amorim (2012), as alterações da odontogênese, que ocorrem desde o período intrauterino até a infância, podem se manifestar de diversas maneiras, conforme a fase em que se processam, sendo elas: iniciação ou botão (gerando anomalia de número), proliferação ou capuz (anomalia de número e volume), histomorfodiferenciação ou sino (anomalia de forma e volume), aposição e calcificação (anomalia de estrutura) e erupção (anomalia de tempo, posição ou direção). Dentre estes distúrbios, podemos citar as cúspides acessórias. De acordo com Neville et al. (2009) a existência de cúspides acessórias, além de estarem relacionadas a um maior consumo do espaço, também está associada com a presença do dente semelhante dos restantes quadrantes com um tamanho levemente aumentado, consumindo-se assim o espaço por duas vias diferentes. Neville et al. (2009) ainda traz que, a morfologia das cúspides dentárias mostra menores modificações entre diferentes populações; destas, quatro tipos diferentes merecem discussão adicional: Cúspide de Carabelli (tubérculo de Carabelli ou tubérculo anômalo), cúspide em garra, dente evaginado e dente invaginado. Quando uma cúspide acessória está presente, geralmente o outro dente permanente apresenta um leve aumento no seu tamanho. Assim, o referido trabalho, vem através de uma revisão de literatura caracterizar as formas clínicas e radiográficas das cúspides acessórias, assim como suas características histopatológicas. METODOLOGIA O estudo contemplou uma revisão de literatura integrativa sendo utilizada base de dados como Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Scielo, Google Acadêmico, CAPES e a Biblioteca da FAMAM. Foram utilizados descritores em português como cúspides acessórias, tubérculo de Carabelli, cúspide em garra, dente invaginado e dente evaginado. Como critérios de inclusão: artigos com textos completos e escritos em português. Foram encontrados 10 artigos que condiziam com os critérios determinados e destes 9 foram selecionados para a construção da revisão de literatura, utilizando 3 livros de forma a complementar os artigos. Concluída esta etapa, deu-se início a leitura dos artigos para iniciar a revisão de literatura. REVISÃO DE LITERATURA Segundo Scavuzzi (2005), as cúspides acessórias possuem a origem incerta, sendo uma possível alteração na morfodiferenciação do período de odontogênese. Porém em alguns casos como na cúspide em garra, sua origem pode ser multifatorial, ou seja, uma junção de fatores genéticos e do meio externo. Segundo Hattab et al. (1996) esta alteração é histologicamente constituída de esmalte e dentina normais e extensões variáveis de tecido pulpar, contudo, a extensão da polpa pode estar presente ou não. CÚSPIDE EM GARRA Mitchell (1892) relatou pela primeira vez a anomalia em um incisivo central superior esquerdo na face palatina como um “processo de forma semelhante a corno”. Essa anomalia levou o nome de “cúspide em garra”. O termo talon cúspide foi adotado por Mellor & Ripa (1970), devido à forma da cúspide anômala ser similar a uma garra de águia (talon = garra). De acordo com Neville et al. (2009), a cúspide em garra é uma cúspide adicional bem definida, encontrada na superfície lingual de um dente anterior e que se expande pelo menos da metade da distância da junção cemento-esmalte para a margem incisal. A cúspide em garra representa a continuação ou a ampliação de um cíngulo normal, um cíngulo elevado, uma pequena cúspide acessória, ou, por fim, a construção completa da cúspide em garra. Pesquisadores causam certa confusão com a literatura relacionada a este assunto, classificando todo cíngulo aumentado como cúspides em garra e criaram um sistema de classificação para o grau de aumento dos cíngulos. Esse sistema de classificação complica a verificação da prevalência de casos e não deve ser utilizado. (NEVILLE et al., 2009) Gonçalves et al. (2003) ainda traz que a cúspide em garra pode estar associada a outras anomalias dentárias como por exemplo: dentes supranumerários, odontomas, dentes impactados, incisivos laterais conóides, dente invaginado e dente evaginado posterior. Além disso, o fator genético tem sido discutido como influência, já que a cúspide em garra tem sido documentada em gêmeos (NEVILLE et al., 2009). Radiograficamente, a cúspide em garra pode ser vista sobrepondo a coroa do dente em que está localizada, onde pode-se observar duas linhas radiopacas compostas por camadas de esmalte e dentina e que convergem da cervical para incisal. Em alguns casos há extensões pulpares visíveis em radiografias (COCLETE et al. 2015). Quando localizada em dentes inferiores normalmente não necessitam de tratamento, porém quando em dentes superiores as cúspides em garra podem interferir na oclusão dentária além do comprometimento estético ou irritações aos tecidos moles como língua ou mucosa, podendo assim ser removida (NEVILLE et al., 2009). CÚSPIDE DE CARABELLI Segundo Neville et al. (2009), a cúspide de Carabelli é determinada como uma cúspide acessória, localizada na superfície palatina da cúspide mesiolingual de um molar superior. Essa cúspide comumente pode ser observada nos dentes decíduos e permanentes e varia de uma cúspide definida a uma fóssula ou fissura pequena e recortada. De acordo com Vier-Pelisser et al. (2007) o tubérculo de Carabelli pode ser encontrado também nos segundo e terceiro molar superiores, porém, o mesmo é mais frequente no primeiro molar superior podendo se apresentar de diversas formas morfológicas tais como sulcada, fóssula, tuberculóide e cuspóide. Neville et al. (2009) ainda traz que, quando presente, a cúspide é mais destacada no primeiro molar e menos volumosa nos segundos e terceiros molares. Quando uma cúspide de Carabelli existe, os dentes permanentes, muitas vezes, são maiores mesiodistalmente que o habitual, mas uma relação semelhante em tamanho nos dentes decíduos não é relatada caracteristicamente.Normalmente, os pacientes que apesentam cúspide de Carabelli não necessitam de tratamento, já que a mesma não interfere na função, tampouco na oclusão e estética, porém se entre a cúspide acessória e a cúspide mesiolingual do molar existir um sulco profundo, aconselha-se que este seja selado evitando o aparecimento de lesões de cáries (NEVILLE et al., 2009). DENTE EVAGINADO O dente evaginado ocorre no sulco central ou próximo ao centro da superfície oclusal de um pré-molar, é comumente bilateral ocorrendo com maior frequência na arcada inferior, podendo afetar também os molares. Tem uma prevalência variável, com uma frequência variando de 1% a 4% (NEVILLE et al., 2009) Segundo Seabra et al. (2008) esta anomalia ocorre devido a uma evaginação do epitélio interno do órgão do esmalte ou pode resultar de uma hiperplasia focal do ectomesênquima da papila dentária Clinicamente é observada uma elevação característica de uma cúspide de esmalte, e na sua constituição apresenta esmalte, dentina e polpa. O corno pulpar apresenta-se de tamanho reduzido se estendendo para dentro da evaginação, o que pode ocasionar uma infecção pulpar devido, por exemplo, ao desgaste dessa cúspide pelo dente antagonista, dificultando, por vezes a visualização do tubérculo (WHITE; PHAROAH, 2015) Ainda segundo White e Pharoah (2015) o dente evaginado normalmente causa interferências oclusais levando há um desgaste acentuado o que pode comprometer a vitalidade pulpar. Dessa forma é indicado a sua remoção através de desgastes periódicos evitando a exposição pulpar e com tempo suficiente para deposição de dentina terciaria e recessão pulpar (NEVILLE et al., 2009). DENTE INVAGINADO (DENS IN DENTE) Denominado dente invaginado ou dens in dente, esta é uma anomalia congênita que ocorre por invaginação das células do epitélio interno do órgão do esmalte antes da calcificação tecidual promovendo uma profunda invaginação da superfície da coroa do dente ou da raiz e localiza-se no cíngulo (SEABRA et al, 2008). A prevalência do dente invagiando varia de 0,04% a 10% dos pacientes e ocorre com maior frequência nos incisivos laterais tendo maior predominância em dentes superiores (NEVILLE et al., 2009). A profundidade desta invaginação vai variar podendo atingir apenas a coroa ou se estender ao ápice. Desta forma o dente invaginado foi classificado em três classes: tipo I - a invaginação do esmalte limita-se à coroa do dente; tipo II - a invaginação estende-se apicalmente além da junção amelocementária, invadindo a raiz, podendo ou não ter comunicação com a polpa,; e tipo III - a invaginação prolonga-se além da junção amelocementária, através da raiz, mas sem contato com a polpa, criando um forame lateral ou apical (CARVALHO et al. 2008; NEVILLE et al., 2009;). Esta anomalia pode ser diagnosticada através de imagens radiográficas, até mesmo antes da erupção do dente, onde pode-se observar uma delimitação de esmalte com um alargamento da raiz dos dentes afetados (NEVILLE et al, 2009). Segundo Regezi et al. (2008) as invaginações predispõem o dente afetado a lesões cariosas e inflamações pulpares, pelo fato de se comunicarem com a cavidade oral propiciando um meio para o crescimento de bactérias. Desta forma recomenda-se a restauração na abertura destas invaginações evitando tais problemas. Já em invaginações com comprometimento pulpar o ideal seria o tratamento endodôntico. CONSIDERAÇÕES FINAIS Levando em conta que cada cúspide acessória tem suas caraterísticas peculiares é relevante que o cirurgião dentista conheça cada uma delas sabendo distingui-las, para que desta forma possa fazer um correto diagnóstico e seguir com o tratamento indicado mais adequado. Uma avaliação criteriosa a cerca destas variações se torna imprescindível durante o diagnóstico, levando o profissional a investigar sobre casos de cúspides acessórias na família, já que as mesmas podem ter origem genética além de atentar-se para casos de associações com outras anomalias dentárias. Sendo assim, é função do cirurgião dentista conhecer estas alterações da normalidade através do estudo e do conhecimento a cerca da dentição normal, a fim de diagnostica-las o mais cedo possível avaliando as suas consequências e tratando-as de forma correta podendo assim melhorar o prognostico do dente afetado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMORIM, F.C.A. et. al. Anomalias dentárias: distúrbios da odontogênese. Revista de Trabalhos Acadêmicos ISSN 2179-1584, Volume 3, Número 5. Niterói, RJ, 2012. CARVALHO, M. G. P. et al. Dens invaginatus múltiplo e bilateral. Revista de Endodontia Pesquisa e Ensino, Santa Maria, p.1-8, 2008. Disponível em: <http://www.ufsm.br/endodontiaonline>. Acesso em: 30 out. 2016. COCLETE, G. A. et al. Cúspide em garra. Arch Health Invest, São Paulo, v. 4, n. 2, p.5-8, 2015. GONÇALVES, M.P.; IMPARATO, J.C.P.; WANDERLEY, M.T. Talon cúspide: relato de caso. J Bras Odontopediatr Odontol Bebê, Curitiba, v.6, n.30, p.128-131, mar./abr. 2003. HATTAB F. 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