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OS PRINCÍPIOS DA PRECAUÇÃO E DA PREVENÇÃO NO DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO – ANÁLISE DOUTRINÁRIA E DE JULGADOS

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OS PRINCÍPIOS DA PRECAUÇÃO E DA PREVENÇÃO NO DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO – ANÁLISE DOUTRINÁRIA E DE JULGADOS
1. Introdução: Ordenamento Jurídico e Princípios 
	Podemos entender o estudo da principiologia em dois sentidos. Em primeiro lugar, em sentido amplo, eles estabelecem os elementos basilares para a constituição de saberes socialmente válidos e autorizados. Em segundo lugar, dentro de uma perspectiva propriamente jurídica, e a partir de uma concepção sistêmica – aquela que pressupõe relações de coerência entre as normas, os princípios podem ser compreendidos como elementos de auto-integração do ordenamento.[2: BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. Brasília:EdUnB, 1994, 5 ed., pág. 71.]
	Para Bobbio, existem princípios gerais expressos e não-expressos. Os primeiros são normas fundamentais ou generalíssimas do sistema, são as normas mais gerais. Os segundos são os que podem ser abstraídos de normas específicas ou ao menos não muito gerais. Sobre os princípios gerais:
“Para mim não há dúvida: os princípios gerais são normas como todas as outras... Para sustentar que princípios gerais são normas, os argumentos são dois, e ambos válidos: antes de mais nada, se são normas aquelas das quais os princípios gerais são extraídos, através de um procedimento de generalização sucessiva, não se vê por que não devam ser normas também eles (...) Em segundo lugar, a função para a qual são extraídos e empregados é a mesma cumprida por todas as normas, isto é, a função de regular um caso.[3: Idem, pág. 158.]
	
	A respeito dos princípios não-expressos: 
“... são princípios, ou normas generalíssimas, formuladas pelo intérprete, que busca colher, comparando normas aparentemente diversas entre si,aquilo a que comumente se chama o espírito do sistema.
Desse modo, neste artigo, entendemos os princípios a partir de uma visão do ordenamento jurídico como sistema coerente de normas, e sua função como sendo a de embasar a ciência jurídica e, ao mesmo tempo, permitir sua aplicabilidade. Assim, os princípios também podem ser entendidos, a partir dos postulados da Filosofia das Ciências, como elementos constitutivos do conhecimento científico autônomo[4: MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. São Paulo: RT, 2004, 3 ed., pág. 136.]
1.1. O Direito Ambiental e os Princípios
Para uma parte da doutrina, o Direito Ambiental, ou Direito do Ambiente constitui-se já em ramo autônomo da Ciência do Direito, autorizando-se a estabelecer, além dos princípios jurídicos positivados, de caráter geral no âmbito dessa ciência, os princípios específicos norteadores do desenvolvimento e da constituição desse campo específico. Deste modo, elenca a doutrina uma série de princípios.Milaré estabelece o Princípio do ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental da pessoa humana, elevando-o à categoria de “cláusula pétrea.” [5: ÉdisMilaré, Marcelo Abelha, Celso Antonio P. Fiorillo, Paulo Affonso Leme Machado.][6: Idem, pág. 137.]
Diverso é o entendimento de ToshioMukai, para o qual o Direito Ambiental ainda não se constitui como ramo autônomo do conhecimento jurídico, desdobrando-se ainda a partir dos parâmetros do Direito Administrativo, sendo inexistente uma principiologia própria. Para este autor, os estudos doutrinários ambientais são meramente setoriais, e as fontes de sua sistematização são ou legislativas ou de direito comparado. Deste modo, o autorsustenta a existência de três princípios fundamentais do Direito Ambiental sem, no entanto, desenvolvê-los. Seriam eles, o princípio da proteção, o princípio do poluidor-pagador ou da responsabilização e o princípio da cooperação.[7: MUKAI, Toshio. Direito Ambiental Sistematizado. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002, 4 ed., pág. 39-41.]
Celso Antônio Pacheco Fiorillo apresenta princípios do Direito Ambiental na Constituição Brasileira de 1988: desenvolvimento sustentável, poluidor-pagador, prevenção, participação. Reproduzindo o Princípio 15 da Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Fiorillo utiliza o vocábulo precaução, embora o subtítulo do tópico seja denominado princípio da prevenção. [8: FIORILLO, Curso de Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 6 ed., 2005, pág. 39.]
Paulo Affonso Leme Machado inaugura seu livro Direito Ambiental Brasileiro com a apresentação dos princípios, dentre eles: direito à sadia qualidade de vida, acesso eqüitativo aos recursos naturais, usuário-pagador e poluidor-pagador, precaução e prevenção. O autor, ao analisar a principiologia do Direito Ambiental no Brasil, reproduz o mesmo Princípio 15 da referida Declaração, utilizando também o termo precaução, fazendo, no entanto, diferentemente de Fiorillo, a distinção entre precaução e prevenção ao longo de seu texto. [9: MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 10 ed., 2002, pág. 54.]
Em texto de publicação recente, na Revista de Direito Ambiental, da Editora RT, Marcos Jorge Catalan desenvolve seu artigo doutrinário denominado Fontes principiológicas do Direito Ambiental. Nele apresenta o princípio da prevenção ou da precaução, querendo indicar, ao que parece serem vocábulos equivalentes. No entanto, tomando como referência o retro citado Princípio 15 da Declaração do Rio, recorda: “É imperioso destacar que a idéia de precaução é mais ampla que a de prevenção.” [10: Edição nº 38, março-abril-junho de 2005][11: Op. Cit., pág. 163]
Marcelo Abelha, compreendendo as especificidades do Direito Ambiental como campo autônomo do conhecimento jurídico, desenvolve sua argumentação a partir de quatro princípios: ubiqüidade, desenvolvimento sustentável, participação e poluidor e usuário-pagador. Além desses, ainda estabelece como princípios de concretização do poluidor/usuário-pagador, os princípios da prevenção e da precaução. Em palestra proferida no Congresso Brasileiro de Direito Público, realizado em São Paulo, capital, no dia 07.11.2003, Abelha afirma que o princípio do poluidor-pagador é concretizado por outros subprincípios, tais como a prevenção, a precaução, a responsabilidade (civil,penal ou administrativa).[12: RODRIGUES, Marcelo Abelha. Elementos de Direito Ambiental – Parte Geral. São Paulo: RT, 2 ed., 2005.]
Procuramos, até aqui, demonstrar inexistir sistematização dos princípios mesmo no interior da obra de um autor, quanto mais comparando as reflexões de diferentes autores.Pretendemos, neste artigo, avançar um pouco nessa discussão principiológica, procurando demonstrar que os princípios sãoelementos de conexão entre o ordenamento jurídico e os outros subsistemas sociais. Eles traduzem para o mundo jurídico, a normatização dos fatos sociais sedimentados, como produto do consenso social.[13: No sentido durkheimiano do conceito.]
Assim, o estudo dos princípios regentes do Direito Ambiental, tanto os gerais quanto os específicos, torna-se essencial para a sistematização e aplicabilidade desse ramo da Ciência do Direito. Ainda mais pelas discrepâncias doutrinárias registradas, reflexo das distintas visadas dos autores estudiosos dos temas ambientais. Procuraremos então demonstrar que os princípios da prevenção e da precaução são analisados pelos diferentes doutrinadores pesquisados, e que, no entanto, não há consenso sobre seu significado, e indo além, demonstrando que a principiologia não se limita a sistematizar um ramo do conhecimento cientifico dando-lhe especificidade, mas também que é um dos elementos de conexão entre o ordenamento jurídico e a dinâmica dos fatos sociais, através da ação do Poder Judiciário como aplicador das normas gerais e abstratas aos casos particulares e concretos.
Deste modo, começaremos do início, ou seja, das origens extrajurídicas dos princípios da prevenção e da precaução. Depois, sua identificação na legislação brasileira. Em seguida, analisaremos o posicionamento de diferentes doutrinadores sobre o tema em discussão. E para concluir, procederemos a uma análise de julgados selecionados a partir de pesquisa unificadajunto às bases de dados oficiais de jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e dos Tribunais Regionais Federais e ainda à base de dados dos julgados das Turmas Recursais, Turmas de Uniformização e Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais, através da internet. O objetivo é perceber como os princípios têm sido operacionalizados pelos Tribunais, e as possíveis implicações político-econômicas destas interpretações jurisprudenciais.
2 - Os Princípios da Prevenção e da Precaução no Ordenamento Jurídico Brasileiro
2.1 – Origens Extrajudiciais.
	Barbieri, ao analisar as origens recentes da preocupação com os problemas ambientais,estabelece três etapas de percepção dos problemas e das ações necessárias para sua superação: 1ª) problemas ambientais locais; atribuídos a negligência, ignorância, dolo ou se não indiferença dos agentes produtores e consumidores de bens e serviços. As ações seriam de natureza reativa, corretiva e repressiva; 2ª) problemas ambientais nacionais; embora fosse possível reconhecer sua generalização em caráter mundial. Atribuídos, além das causas apontadas anteriormente, à gestão inadequada dos recursos. Às ações anteriores seriam acrescidas medidas para a prevenção da poluição e a melhoria dos sistemas produtivos; 3ª) problemas ambientais planetários; atingindo a todos, indistintamente, e independente do modelo de produção econômica adotado. As ações deveriam questionar o economicismo dos modelos de desenvolvimento, as relações desiguais entre os diversos países, blocos de países e sistemas sociais, inclusive as práticas de dominação, e também questionar o ecologismo ingênuo dos pregadores do isolamento da vida selvagem.[14: BARBIERI, José Carlos.Desenvolvimento e Meio Ambiente. Petrópolis: Vozes, 2003, 6 ed., págs. 15-22.]
“Essa nova maneira de perceber as soluções para os problemas globais, que não se reduzem apenas à degradação do ambiente físico e biológico, mas que incorporam dimensões sociais, políticas e culturais, como a pobreza e a exclusão social, é o que vem sendo chamado de desenvolvimento sustentável.”[15: BARBIERI, op. Cit., pág. 16.]
	Sem dúvida, o contexto histórico produtor dessa nova percepção deriva do imediato pós-guerra, com a humanidade ainda sob os devastadores efeitos das explosões nucleares no Japão, as primeiras experiências nucleares soviéticas, o desastre na Baía de Minamata. Além disso, o grande desenvolvimento econômico dos EUA, aliado à reconstrução da Europa e à inserção no mercado dos países periféricos do capitalismo em processo de industrialização, projetaram de forma premente a discussão sobre a sustentabilidade.
	Assim, a partir de uma proposta do governo sueco (1969), foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, mais conhecida como Conferência de Estocolmo (1972). Nascia então o conceito de desenvolvimento sustentável, entendido como aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras de atenderem as suas próprias necessidades. Mas, “a pedra angular do desenvolvimento sustentável é um sistema de mercados abertos e competitivos em que os preços são fixados de modo a refletir os custos dos recursos ambientais.” (grifos nossos).[16: Nos termos da Comissão Brundtland, cf. BARBIERI, op. Cit., pág. 23.][17: BARBIERI, op. Cit., pág. 36. Essa afirmação necessariamente remete-nos ao princípio do poluidor-pagador. Segundo Abelha, os princípios da precaução e da prevenção são princípios de concretização do princípio do poluidor-pagador.]
	Avançando no tempo, chegamos à Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), realizada no Rio de Janeiro em 1992. Ao final dos trabalhos foram apresentados vários documentos oficiais, dentre os quais a Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. Essa Declaração é composta por vinte e sete princípios que procuram “orientar a formulação de políticas e de acordos internacionais que respeitem o interesse de todos, o desenvolvimento global e a integridade do meio ambiente...” Nesse sentido, ela reafirma e amplia a Declaração de Estocolmo, resultado da Conferência realizada em 1972.[18: BARBIERI, op. Cit., pág. 48.]
	Dentre os vinte e sete princípios, interessa-nos focalizar o de número quinze, por tratar exatamente do estudo em tela.
2.2 – O Princípio 15 da Declaração do Rio: interpretações doutrinárias
	Machado recorda-nos que o texto da Declaração foi escrito originalmente em inglês, e sua tradução não-oficial consta do Relatório da Delegação Brasileira:[19: Op. Cit., pág. 55]
	
“De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação do meio ambiente.”
E aqui começamos enfrentando se não um problema, pelo menos certa dificuldade. Nas diferentes obras consultadas, o texto do referido princípio é escrito de diferentes maneiras. Em pesquisa realizada na internet, no sítio da ONU (www.onu-brasil.org.br), no dia 24 de agosto de 2005, o texto da Declaração do Rio não foi encontrado, remetendo-nos, via link, para o sítio do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), Oficina Regional para a América Latina e o Caribe, em espanhol (www.pnuma.org). Neste sítio também não foi possível encontrar nenhuma referência sobre o assunto. 
	Diferentes autores e especialmente doutrinadores do Direito vêm interpretando o Princípio 15 da Declaração do Rio. E essas interpretações podem trazer reflexos na compreensão e na aplicabilidade dos princípios da precaução e da prevenção por parte de nossos magistrados. Vejamos entãocomo alguns autores interpretamo referido Princípio 15.
	Abelhareproduz com variação mínima a referida tradução indicada por Machado, em nota de pé de página: 
“O princípio da precaução ocupou o item 15 da Conferência das Nações Unidas realizada no Rio em 1992: ’De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental ‘ “.[20: Op. Cit., pág. 205.]
	
Milaré, também em nota de pé de página – percebem-se ligeiras diferenças de redação, em relação aos textosanteriores: 
“’Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deverá ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de medidas economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.’ “[21: MILARÉ, op. Cit., pág. 145.]
Fiorillo assim refere-se: 
“’Para proteger o meio ambiente medidas de precaução devem ser largamente aplicadas pelos Estados segundo suas capacidades. Em caso de risco de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não deve servir de pretexto para procrastinar a adoção de medidas efetivas visando a prevenir a degradação do meio ambiente.’”
Parece-nos ser a abordagem de Marcelo Abelha a que mais se aproxima da necessária distinção conceitual entre os dois princípios. Para ele, o princípio da precaução antecede o princípio da prevenção, pois o seu alcance projeta-se não para evitar o dano ambiental, mas sim evitar os riscos ambientais. Se os riscos são conhecidos, trata-se de preveni-los. Se os riscos não são conhecidos – a incerteza científica – trata-se de não corrê-los. Ou seja, prevenção no primeiro caso, precaução no segundo:
“O princípio da precaução, portanto, tem uma finalidade ainda mais nobre do que aprópria prevenção, já que em última análise este último estaria contido naquele. Enquanto a prevenção relaciona-se com a adoção de medidas que corrijam ou evitem danos previsíveis, a precaução também age prevenindo, mas antes disso, evita-se o próprio risco ainda imprevisto.” [22: RODRIGUES, op. Cit., pág. 207.]
	
	É preciso, no entanto, analisar de forma mais detida as nuances conceituais existentes em relação a dano e risco. Assim, dano pressupõe ação ou omissão da qual decorre prejuízo efetivo ao meio ambiente. Ao dano praticado, por ação ou omissão, sobrevém a apuração de responsabilidadese a penalização, em sede administrativa e judicial. 
	Com relação ao risco, podemos inicialmente lembrar as origens do princípio da precaução. Nascido na Alemanha, que vem produzindo profundas discussões doutrinárias e políticas em torno da questão.Mas a doutrina admite que, embora seja adotado por diversos países europeus, constando mesmo do Tratado de Maastricht, a definição geral do princípio da precaução é ambígua. Assim, com relação ao risco, doutrina alemã estabelece nuances importantes para nossa discussão: risco inaceitável, risco simples e risco residual. Precaução pode estar referida a uma situação de dano ambiental concreto, no sentido de, diante da possibilidade de ocorrência do mesmo dano ambiental no futuro, agravada pela ausência de conhecimentos suficientes das relações de causa e efeito, é impossível atribuir o dano a substâncias particulares. Trata-se do risco inaceitável.[23: Precaution and Sustainability: Two Sides of the Same Coin. ECKARD REHBINDER. In: Revista de Direito Ambiental Econômico, nº 1, Sergio A. Fabris, Porto Alegre: 2005.]
	Precaução pode referir-se à razoável redução do risco – de poluição ou de acidentes –no caso de existirem razões específicas para se acreditar na ocorrência futura de dano ambiental. Precaução pode ainda referir-se ao princípio da não-deterioração, uma forma radical do princípio da precaução que normalmente é aplicada no sentido de contrabalançar o desenvolvimento econômico com o meio ambiente, através da preservação do status quo ambiental em áreas limpas.
	Do que se pode depreender das lições da referida doutrina alemã, embora a teoria do risco implique nas necessárias distinções de nuances, parece-nos relevante destacar que a finalidade maior do princípio da precaução é traduzir políticas públicas ambientais, em busca do afastamento, no tempo e no espaço, do perigo, buscando ainda a proteção contra o risco, analisando o potencial danoso derivado das atividades humanas. Projeta-se para as gerações futuras, vinculando-se ainda aos conceitos de afastamento do perigo e de desenvolvimento sustentável. [24: Rastreabilidade e Segurança Alimentar: o caso da carne bovina. EDILSON FERNANDO POMPEMAYER. In: Revista de Direito Ambiental Econômico, nº 1, Sergio A. Fabris, Porto Alegre: 2005.]
Ou seja, considera-se não apenas o risco ambiental iminente vinculado a determinada atividade humana, mas também os riscos projetados para o futuro, impossíveis de quantificação e mesmo qualificação à luz do atual estágio do conhecimento científico.
E ainda, o princípio da precaução visa a proteção do bem ambiental como bem difuso, interesse maior da sociedade, em detrimento de interesses privados e econômicos.[25: Transgênicos no Brasil: o descarte da opinião pública. MARIJANE LISBOA. In: Revista de Direito Ambiental Econômico, nº 1, Sergio A. Fabris, Porto Alegre: 2005.]
	De todo modo, dentro da bibliografia brasileira pesquisada, Machado é o doutrinador a desenvolver o tema de forma sistêmica. Assim, partindo da Declaração do Rio, analisa o princípio, inicialmente, conceituando precaução em francês, inglês, espanhol, latim e italiano, para concluir pelo mesmo significado: ação antecipada diante do risco ou do perigo. Recorda ainda as semelhanças para as definições de precaução e de prevenção em dicionários. Mas entendeexistirem diferenças entre elas.
	Segue Machado, lembrando a Convenção da Diversidade Biológica e a Convenção-Quadro da ONU sobre a Mudança do Clima, assinadas, ratificadas e promulgadas pelo Brasil. Ambas remetem ao princípio da precaução. Depois o autor busca jurisprudências na França, na Alemanha, nos EUA e na Austrália, em busca das características gerais do princípio da precaução. Após citar uma jurisprudência brasileira relativa aOGMs, enumera sete aspectos, à guisa de características gerais do princípio da precaução: 
1) Incerteza do dano ambiental – a incerteza científica passa a ser ônus e não tributo à ciência, isto é, não se pode atribuir aos saberes científicos o benefício da dúvida, em sede do temário ambiental.
”Em caso de certeza do dano ambiental, este deve ser prevenido, como preconiza o princípio da prevenção. Em caso de dúvida ou de incerteza, também se deve agir prevenindo. Essa é a grande inovação do princípio da precaução.”[26: MACHADO, op. Cit., pág. 62.]
	Machado refere-se, nas duas hipóteses acima, ao princípio da precaução ou da prevenção? Seu texto não esclarece, em uma leitura mais imediata. Seguindo o raciocínio de Marcelo Abelha, citado anteriormente em nosso texto, parece-nos que na primeira, temos o princípio da prevenção. Na segunda, o da precaução.
2) Tipologia do risco ou da ameaça – analisados de acordo com o setor que puder ser atingido pela obra ou atividade projetada. Aqui parece haver concordância doutrinária entre todos os autores. A aplicabilidade do princípio da precaução vincula-se às especificidades das atividades humanas que podem projetar riscos ou provocar danos efetivos ao meio ambiente.
3) Obrigatoriedade do controle do risco – a partir dos comandos constitucionais e mesmo infraconstitucionais brasileiros afeitos à matéria.
4) O custo das medidas de prevenção – derivados das medidas de precaução, devem ser economicamente aceitáveis.
5) Implementação imediata – “Os documentos internacionais citados entendem que as medidas de prevenção não devem ser postergadas...”. Mais uma vez encontramos os dois conceitos – precaução e prevenção – utilizados indistintamente. [27: MACHADO, op. Cit., pág. 64.]
6) Princípio da precaução e os princípios constitucionais brasileiros – analisa o poder de polícia do Estado e sua capacidade na gestão de riscos.
7) Inversão do ônus da prova – ou seja, cabe aos empreendedores provar que seu empreendimento não causa dano ou coloca em risco o meio ambiente.
	E aqui aparece uma segunda questão: se existe a possibilidade de causar dano, comprovado por EIA ou outro instrumento administrativo de controle de impacto ambiental, cabe referir-se a prevenção e não precaução.Mesmo o texto da Resolução CONAMA 237/97, ao dispor sobre os diferentes Estudos Ambientais, em seu artigo 1º, III, parece indicar, implicitamente, que tais Estudos podem considerar tanto a prevenção quanto a precaução:
	Estudos Ambientais são todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados a localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento, apresentado como subsídio para a análise da licença requerida, tais como: plano e projeto de controle ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperação de área degradada e análise preliminar de risco.
Assim, elaborar plano e projeto de controle ambiental, relatório ambiental preliminar, desenvolver diagnóstico ambiental e plano de manejo, bem como um plano de manejo, nos termos da Resolução, vinculam-se ao princípio da prevenção: cabe ao empreendedor demonstrar que, se há a possibilidade de dano, ele pode ser controlado, minimizado ou mesmo promover a recuperação do que foi lesado.
	Parece-nos que apenas na rubrica análise preliminar de risco foi contemplado o princípio da precaução. Uma análise preliminar de risco indica, nos termos do Princípio 15 da CNUMAD, que diante da incerteza científica a respeito dos riscos ao meio ambiente, não deverá o empreendimento sequer ser licenciado, quanto mais iniciado. Falando de outro modo:a inversão do ônus da prova (in dúbio pro ambiente), em termos de precaução, cabe ao empreendedor (prova da inexistência de risco significativo). 
	Para concluir este tópico, faremos algumas considerações a respeito das abordagens distintas aqui analisadas, a respeito do princípio da precaução. Em primeiro lugar, no próprio Princípio 15 da Declaração do Rio encontramos os dois vocábulos – precaução e prevenção. Então, para os autores adeptos da tese de que os dois termos teriam o mesmo significado, deve derivar daí essa convicção. Em segundo lugar, mesmo entre os doutrinadores adeptos da distinção entre os dois princípios, vez por outra ocorre uma utilização indistinta.[28: Por exemplo, Marcelo Abelha: “O vocábulo prevenção (prae+venire = vir antes) atrela-se à cautela, à precaução, qual seja, conduta tomada no sentido de se evitar o risco ambiental.” (2005:204); e ainda o já citado Machado, no texto acima.]
	Tal con-fusão doutrinária poderia indicar-nos então as armadilhas hermenêuticas que os princípios da prevenção e da precaução possuem, dificultando as interpretações e suas possibilidades de utilização e aplicabilidade.
	A título de exemplo de como a doutrina é manuseada pelos operadores do Direito, transcrevemos um trecho de uma exordial do Ministério Público, em ação civil pública contra dois Municípios e uma colônia de pescadores no Rio Grande do Sul, motivada por pesca predatória. Após narrar os fatos, passa a fundamentar os pedidos. Em um item intitulado Os princípios da prevenção e da precaução e suas aplicações no caso como base da obrigação de não fazer, o autor ressalta as distinções entre os dois princípios, escudado em Paulo Affonso Leme Machado:[29: Pesca Predatória. Período de piracema. Falta de fiscalização. Processo de destruição de recursos naturais. Alexandre SikinowskiSaltz. In: Revista de Direito Ambiental. São Paulo: RT, nº 37, 317-340. ]
	“Nesse contexto, princípios como o da prevenção e o da precaução assumem invulgar significação, máxime quando já afirmada sua força normativa.
	Deve-se, de pronto, distingui-los. Ainda que a doutrina utilize as expressões como sinônimas, por respeito à boa técnica e especial homenagem ao Prof. Paulo Affonso Leme Machado (doutrinador que indica o significado próprio de cada uma delas) .[30: Op. Cit., pág. 331.]
O autor da peça processual em exame desconheceu, em suas alegações, a doutrina de Marcelo Abelha Rodrigues, também defensor das necessárias distinções conceituais sobre o tema. Mas, contraditoriamente, após reproduzir o texto de Machado, volta ao ponto de partida, desconsiderando as distinções feitas anteriormente:
“Contudo, para facilitar a discussão e o entendimento, tanto quanto ÉdisMilaré, a expressão utilizada será unicamente ‘princípio da prevenção’”.[31: Op.cit.,pág. 332.]
	
	Para concluir este tópico, podemos levantar a questão: se os dois princípios são, efetivamente, distintos, distinta deve ser sua apreciação e aplicabilidade, para a efetiva tutela do meio ambiente, nos termos dos artigos 225, caput e 170, inciso VI da CF/88.
2.3 – O princípio da precaução na legislação brasileira
	A Convenção da Diversidade Biológica e a Convenção-Quadro sobre a Mudança do Clima, assinadas, ratificadas e promulgadas pelo Brasil, estabelecem o princípio da precaução.O legislador constitucional projetou o referido princípio no artigo 225, que em seu caput comanda:      
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”
	A Lei 9.605/98, a Lei dos Crimes Ambientais, diz, em seu artigo 54: 
“Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.”
E, em seu § 3º: 
“Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco dano ambiental grave ou irreversível.” 
	Para Machado, “medidas de precaução” devem ser entendidas, a partir da doutrina, nos termos do referido princípio.[32: Op. Cit., pág. 67.]
3 – Análise de julgados – o princípio da precaução nos Tribunais
	A pesquisa de julgados foi feita no dia 18 de agosto de 2005, via internet. Tomou-se como referência pesquisa unificada junto às bases de dados oficiais de jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e dos Tribunais Regionais Federais e ainda à base de dados dos julgados das Turmas Recursais, Turmas de Uniformização e Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais. Foi utilizada, como chave de pesquisa, a expressão princípio da precaução. Também foi utilizada, como chave de pesquisa, a expressão princípio da prevenção. No entanto, os acórdãos encontrados sob a última rubrica são numericamente inexpressivos, o que poderia indicar uma interpretação, por parte dos Tribunais, de modo a tratar os dois princípios como um só, ou tendo significado tão próximo semanticamente que não mereceriam distinção.
Assim, a finalidade desta pesquisa foi a de tentar dimensionar o entendimento dos Tribunais na aplicação do princípio da precaução; ou seja, se existe de fato uma distinção conceitual e de aplicabilidade em relação ao princípio da prevenção, ou se de fato os dois – precaução e prevenção – têm o mesmo sentido e, portanto, a mesma esfera de aplicação.
	Em acórdão da Sexta Turma Julgadora do TRF – Primeira Região, cujo Relator foi o Des. Federal Souza Prudente, em sua ementa:[33: 06/12/2004: CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO. ANTECIPAÇÃO DETUTELA CAUTELAR DO MEIO AMBIENTE. PRODUÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE "LODO DE ESGOTO"OU "BIOSSÓLIDOS". ATIVIDADE POTENCIALMENTE DANOSA AO MEIO AMBIENTE. AGRAVODE INSTRUMENTO DESPROVIDO. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA MANTIDA.]
	
I - A tutela constitucional, que impõe ao Poder Público e a toda coletividadeo dever de defender e preservar, para as presentes e futuras gerações, omeio ambiente ecologicamente equilibrado, essencial à sadia qualidade devida, como direito difuso e fundamental, feito bem de uso comum do povo(CF, art. 225, caput), já instrumentaliza, em seus comandos normativos,o princípio da prevenção (pois uma vez que se possa prever que uma certaatividade possa ser danosa, ela deve ser evitada) e a conseqüenteprecaução(quando houver dúvida sobre o potencial deletério de uma determinada açãosobre o ambiente, toma-se a decisão mais conservadora, evitando-se a ação),exigindo-se, assim, na forma da lei, para instalação de obra ou atividadepotencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudoprévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade (CF, art. 225, § 1º,IV).
	
	Neste julgado, percebemos que os dois são aparentemente entendidos como princípios distintos, sendo o da prevenção considerado mais amplo que o da precaução. Mas, de fato, não foi realmente possível compreender onde estaria a diferença entre os dois, posto que, embora com termos distintos, a idéia retratada é a mesma: prevenção – evitar certa atividade; precaução – evitar a ação. Neste caso, atividade e ação têm o mesmo sentido semântico e jurídico. 
	
	Acórdão do TRF – 1ª Região, Relator Des. Souza Prudente: 
1 - Ampara-se no princípio da razoabilidade a decisão que concede liminar emação civil pública para determinar a proibição de expedição de ATPF's quando háindicação documental de utilização das autorizações de forma fraudulenta parao transporte de espécies nativas da Mata Atlântica que tem o corte proibido.2 - Se o órgão estatal não possui condições de controlar a correta utilizaçãodas autorizações de manejo e transporte deferidas, não é sem fundamentoa decisão que fundada no princípio da precaução determina a suspensão deexpedição de novas autorizações e condiciona as hipóteses excepcionaisàanálise judicial enquanto a ação civil pública estiver em curso.3 - Correta aplicação do princípio da precaução que não merece reforma. [34: 11/11/2004: PROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. SUSPENSÃO DE EXPEDIÇÃO DEATPF'S PARAESPÉCIES NATIVAS DA MATA ATLÂNTICA. INDICAÇÃO DE UTILIZAÇÃO FRAUDULENTADE AUTORIZAÇÕES EXPEDIDAS PARA O TRANSPORTE DE PRODUTOS VEGETAIS DE CORTEPROIBIDO. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO.]
	Embora o relatório não faça referência explícita, a aplicação do princípio em tela parece fundar-se no argumento da irreversibilidade do dano ambiental, porquanto as autorizações de transporte de produtos vegetais de corte proibido, de caráter fraudulento (por não contar com a fiscalização do Poder Público), poderiam levar a extinção de espécies vegetais.
	
	Acórdão do TRF – Primeira Região, Sexta Turma, Des. Federal Selene Maria de Almeida, na ementa :[35: 24/5/2004: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AUTORIZAÇÃO PARAEXPLORAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS. CANCELAMENTO. INDÍCIOS DEIRREGULARIDADES NOS CONTRATOS DE COMPRA E VENDA DE PRODUTOSFLORESTAIS. DÚVIDAS QUANTO À ÁREA OBJETO DO PLANO DE MANEJO FLORESTALSUSTENTÁVEL E A ÁREA EFETIVAMENTE EXPLORADA. RISCO AO MEIO AMBIENTE.POSSIBILIDADE DE DANO IRREVERSÍVEL. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO.]
1. Na disciplina da Constituição de 1988, a interpretação dosdireitos individuais deve harmonizar-se à preservação dos direitosdifusos e coletivos.2. A preservação dos recursos hídricos e vegetais, assim como do meioambiente ecologicamente equilibrado é dever de todos, constituindopara o administrador público obrigação da qual não se pode declinar.3. Hipótese em que se verificou a existência de irregularidades noscontratos de compra e venda de produtos florestais, no tocante àquantidade volumétrica das espécies comercializadas, bem como deindícios que suscitam dúvidas quanto à área objeto do Plano de ManejoFlorestal e a área efetivamente explorada.4. Havendo suspeitas de que as autorizações para exploração de áreaconsiderável de recursos florestais está eivada de vícios, recomendao princípio da precaução que em defesa da sociedade não seja admitidaa exploração da área em comento, ante a irreversibilidade do danoambiental decorrente de possível extração irregular.
	Este julgado, ao colocar o princípio da precaução sob o diapasão constitucional, faz uma análise sistêmica e lógica. Parte a análise do princípio, da irreversibilidade do dano ambiental, que não autoriza correrem-se riscos.
	O mesmo teor, entendimento e argumentação podem ser observados neste acórdão do TRF – 1ª Região, Quinta Turma, Des. Federal Selene Maria de Almeida:
(...)3. Se há a intenção de criação de unidade de conservação ambiental em área onde anteriormente havia sido deferida licença de pesquisa paraexplotação de calcário biogênico, é possível a revogação da licençaconcedida, pois o princípio da precaução recomenda que em defesa dasociedade não seja admitida a exploração da área em questão.4. A irreversibilidade do dano potencial aos meios biótico,planctônico e bêntico, indicam que o prosseguimento de pesquisas deextração na área irão alterar o meio, situação que não autoriza aconcessão de tutela antecipada para revigorar a licença revogada.
	A novidade deste julgado em relação ao anterior é a argumentação desenvolvida em torno do conceito de irreversibilidade do dano ambiental, elemento justificador da decisão.[36: Machado (2002: 58), citando o jurista Jean-Marc Lavieille: “O princípio da precaução consiste em dizer que não somente somos responsáveis sobre o que nós sabemos, sobre o que nós deveríamos ter sabido, mas, também, sobre o de que nós deveríamos duvidar.”]
	Em decisão da Quinta Turma do TRF – Primeira Região, sendo Relatora a Des. Federal Selene Maria de Almeida:[37: 24/11/2003: AMBIENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPLANTAÇÃO DEUSINA HIDROELÉTRICA. LICENÇA PRÉVIA. COMPETÊNCIA. RISCO DE DANOSSIGNIFICATIVOS AO MEIO AMBIENTE. EQUILÍBRIO ECOLÓGICO DO PARQUENACIONAL DAS EMAS. PARTICIPAÇÃO DO IBAMA NO LICENCIAMENTO.IMPRESCINDIBILIDADE. POSSIBILIDADE DE PERDA DO FINANCIAMENTO OBTIDO.INTERESSE PÚBLICO. PREVALÊNCIA. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO. PRESENÇA DOSREQUISITOS NECESSÁRIOS À CONCESSÃO DA LIMINAR.]
(...) 4. O princípio da precaução recomenda, no presente caso, aparticipação do IBAMA no processo de licenciamento, visando a coibira ocorrência de danos ambientais irreparáveis no Parque Nacional dasEmas.
	Nesta outra decisão, do mesmo Tribunal e Turma, com o relatório da mesma Desembargadora[38: 22/4/2002: PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. TUTELA ANTECIPADA. RISCOAO MEIO AMBIENTE. POSSIBILIDADE DE DANO IRREVERSÍVEL. PRINCÍPIO DAPRECAUÇÃO. PROVIMENTO DO AGRAVO.]
(...) 3. Se há suspeitas de que determinada autorização para exploração deárea considerável de recursos vegetais está eivada de vício, oprincípio da precaução recomenda que em defesa da sociedade não sejaadmitida a exploração da área em questão, pois o prejuízo que podeser causado ao meio ambiente é irreversível.4. A irreversibilidade do dano potencial não autoriza a concessão detutela antecipada.
	Como é de se observar, tratam os casos em análise, da irreversibilidade do dano ambiental, o que propugna pela prevenção. 
	
	A próxima decisão faz remissão direta às origens do princípio da precaução, indicando a CNUMAD (Rio-92) e a elevação dos Princípios de sua Declaração à categoria de regras do Direito Internacional. Mais uma vez, a argumentação se estabelece a partir da constatação do risco ambiental,determinando conduta omissiva até a necessária elaboração de um EIA/RIMA :[39: 12/2/2001: DIREITO AMBIENTAL. HIDROVIA PARAGUAI-PARANÁ. ANÁLISE INTEGRADA.NECESSIDADE DO ESTUDO DO IMPACTO AMBIENTAL EM TODA EXTENSÃO DO RIO, ENÃO POR PARTES. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO.]
1. O Projeto da Hidrovia Paraguai-Paraná, envolvendo realização deobras de engenharia pesada, construção de novos portos e terminais,ampliação dos atuais, construção de estradas de acesso aos portos eterminais, retificações das curvas dos rios, ampliação dos raios decurvatura, remoção dos afloramentos rochosos, dragagens profundas aolongo de quase 3.500 Km do sistema fluvial, construção de canais, afim de possibilitar uma navegação comercial mais intensa, com otransporte de soja, minério de ferro, madeira etc, poderá causargrave dano à região pantaneira, com percussões maléficas ao meioambiente e à economia da região. É necessário, pois, que se faça umestudo desse choque ambiental em toda a extensão do Rio Paraguai atéa foz do Rio Apa.2. Aplicação do princípio que o intelectual chama de precaução, quefoi elevado à categoria de regra do direito internacional ao serincluído na Declaração do Rio, como resultado da Conferência dasNações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento - Rio/92. "Masvale prevenir do que remediar", diz sabiamente o povo.3. Os serviços rotineiros de manutenção, como, por exemplo, asdragagens que não exijam grandes obras de engenharia, devemcontinuar. A navegação atual, a navegação de comboios de chatas no Rio Paraguai, permanece da maneira como vem sendo feita há anos,obedecendo-se às normas baixadas pela Capitania Fluvial do Pantanal eàs orientações do IBAMA.
	A decisão (TRF – Primeira Região, Segunda Turma, sendo Relatora a Juíza. Assuzete Magalhães) a seguir é paradigmática da aplicação do princípio da precaução em sede de risco ambiental. Trata da liberação e descarte de OGM no meio ambiente sem norma regulamentadora e sem o prévio EIA. Mais uma vez, a argumentação pressupõe a irreversibilidade do dano ambiental, sustentada na incerteza científica a respeito do tema:[40: 15/3/2001:CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL - AÇÃO CAUTELAR - LIBERAÇÃO DO PLANTIO E COMERCIALIZAÇÃO DE SOJA GENÉTICAMENTE MODIFICADA (SOJA ROUND UP READY), SEM O PRÉVIO ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL - ART. 225.§ 1º, IV, DA CF/88 C/C ARTS. 8º, 9º E 10º, § 4º, DA LEI Nº 6.938/81 EARTS 1º, 2º, CAPUTE E § 1º, 3º, 4º E ANEXO I, DA RESOLUÇÃO CONAMA Nº237/97 - INEXISTÊNCIA DE NORMA REGULAMENTADORA QUANTOÀ LIBERAÇÃO E DESCARTE, NO MEIO AMBIENTE, DE OGM - PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO E DAINSTRUMENTALIDADE DO PROCESSO CAUTELAR - PRESENÇA DO FUMUS BONI IURISE DO PERICULUM IN MORA - PODER GERAL DE CAUTELA DO MAGISTRADO IN MORA- PODER GERAL DE CAUTELA DO MAGISTRADO - INEXISTÊNCIA DE JULGAMENTOEXTRA PETITA - ART. 808, III, DO CPC - INTELIGÊNCIA.]
(...) IV - A existência de uma situação de perigo recomenda a tutelacautelar, no intuito de se evitar - em homenagem ao princípios daprecaução e da instrumentalidade do processo cautelar -, até odeslinde da ação principal, o risco de dano irreversível eirreparável ao meio ambiente e à saúde pública, pela utilização deengenharia genética no meio ambiente e em produtos alimentícios, sema adoção de rigorosos critérios de segurança.
	O próximo acórdão trata o princípio da prevenção, nos termos da doutrina de Machado e Abelha, como se fosse o princípio da precaução. Isto é, a situação de fato foi consumada, com a construção de banheiros e cozinhas em quiosques, sem autorização do Poder Público. Assim, não se trata de risco – que não se pode correr, impedindo assim a conduta lesiva ao meio ambiente, mas de dano, a ser equacionado e reparado diante do fato consumado. [41: 03/12/2003: TRIBUNAL - SEGUNDA REGIÃO SEXTA TURMAAGRAVO DE INSTRUMENTO. AGRAVO INTERNO. PROCESSUAL CIVIL. TUTELAANTECIPADA RECURSAL. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO. MEIO AMBIENTE.]
1. Ocorre que, procedendo-se à análise dos documentos acostados aospresentes autos, conclui-se que, ao contrário do afirmado pelos oraAgravados, a construção dos banheiros e cozinhas nos quiosquessupracitados, não ocorreu sem objeção da União. (...) 2. Noutro eito, consta dos Termos de Permissão colacionados aosautos, cláusula determinando a impossibilidade de qualqueralteração nos quiosques3. Desta forma, aplicando o princípio da precaução, visando àpreservação do meio ambiente, voto no sentido de desprover esteAgravo Interno.
	Trata o próximo acórdão da manutenção de decisão que indeferiu tutela antecipada para atividades de escolas e operadoras de mergulho em uma reserva biológica em Santa Catarina, através da aplicação do princípio da precaução, entendido aqui no sentido de não se correr risco :[42: 23/09/2003:TRIBUNAL - QUARTA REGIÃO - TERCEIRA TURMA. Relator: JUIZ JOSE PAULO BALTAZAR JUNIOR. ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. RESERVA BIOLÓGICA.]
1- Mantida decisão que indeferiu antecipação da tutela parapermitir a atividade de escolas e operadoras de mergulho na ReservaBiológica Marinha do Arvoredo, aplicando-se ao caso o princípio daprecaução.
	O próximo julgado versa sobre ação civil pública movida pelo MP Federal e pelo MP do Estado do Paraná para vedar a construção de uma rodovia, sob a alegação de risco ambiental. Este acórdão articula o conceito-mor de desenvolvimento sustentável – eixo dos trabalhos da CNUMAD – ao princípio da precaução, entendendo-o no sentido de não se correr riscos, dentro, portanto da concepção doutrinária já referida, de Abelha :[43: 22/04/2003: TRIBUNAL - QUARTA REGIÃO TERCEIRA TURMA. Ementa: ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONSTRUÇÃO DERODOVIA. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. IBAMA. INTERESSE NA LIDE.DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO. PERÍCIA.CERCEAMENTO DE DEFESA.]
(...)4. O desenvolvimento sustentável é aquele que atende àsnecessidades do presente, sem comprometer a possibilidade de asgerações futuras atenderem a suas próprias necessidades.5. Manifesto potencial de poluição e degradação da obra impugnada,havendo indícios inclusive no sentido de que a rodovia pode serconstruída sobre área de preservação permanente.6. Imprescindibilidade da realização de prova pericial, de modo ainstruir os autos com suporte probatório suficiente quanto ao realimpacto da obra sobre a vegetação e os sítios arqueológicos daregião, bem como no tocante à eficácia das medidas mitigadorasprevistas no projeto.
	Mais um acórdão que, de forma sucinta, fundamenta a decisão no princípio da precaução, sob o argumento da irreversibilidade do dano ambiental, desautorizador de atividade econômica:[44: 26/03/2003: TRIBUNAL - QUARTA REGIÃO.Relator: JUIZ AMAURY CHAVES DE ATHAYDEEmenta	PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DANOAMBIENTAL. COMPETÊNCIA. LIMINAR. DEFERIMENTO. PRINCÍPIO DAPRECAUÇÃO.]
(...) 2. A conjugação dos legais requisitos torna imperativa a concessãode liminar em ação civil pública. É como se dá quando, por um lado,se requer a sustação de novas autorizações de atividadepotencialmente desagregadora do meio ambiente, e, por outro, háforte presunção de degradação. Em casos tais, são prevalentes osprincípios desse particular domínio da ciência jurídica,destacando-se o princípio da precaução (CF/88, art. 225), pois asocorrências da espécie se mostram, amiúde, irreversíveis.
	Do mesmo modo o entendimento do acórdão seguinte, tratando de desmatamento e construção em APP[45: 11/03/2003: TRIBUNAL - QUARTA REGIÃO - TERCEIRA TURMA. Relatora: JUIZA MARGA INGE BARTH TESSLER. Ementa: ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE.DESMATAMENTO. LICENÇA DE CONSTRUÇÃO. FISCALIZAÇÃO. COMPETÊNCIA DOIBAMA. AUTOS DE INFRAÇÃO E DE EMBARGO. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO.]
1. Nos termos do art. 225 da CF/88, o meio ambiente ecologicamenteequilibrado é bem comum de uso do povo, cabendo ao Poder Público eà coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo.2. Os autos de infração e de embargo lavrados pela fiscalização doIBAMA revestem-se de presunção de legitimidade, em especial quandodiscriminarem minuciosamente os fatos imputados ao infrator,mencionando inclusive os dispositivos legais supostamente violados,sendo dispensável, em um primeiro momento, a existência de laudotécnico acerca das irregularidades apontadas e sem força paradesconstituí-lo previamente à ocorrência de equívoco na localizaçãogeográfica do imóvel. (...) 4. Tratando-se de discussão acerca da preservação do meio ambiente,não há como se negar prevalência ao interesse público, devendo seraplicado o princípio da precaução ao caso, que ora é examinado comprecários elementos de fato.5. Agravo regimental improvido.
	Os dois acórdãos a seguir estão vinculados à degradação ambiental (construção) em áreas de manguezais no Estado de Pernambuco. Nos dois casos, as decisões são unânimes no sentido de se evitar o risco, sob o argumento da irreversibilidade do dano ambiental. A fundamentação dos acórdãos é exatamente a mesma :[46: A) 25/11/2004: TRIBUNAL - QUINTA REGIAO - Terceira Turma. Relator: Desembargador Federal Paulo Machado Cordeiro.Ementa	PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. ANTECIPAÇÃO DETUTELA. PRELIMINARES REJEITADAS. POSSIBILIDADE DE DANO IRREVERSÍVEL NAÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO. DESPROVIMENTO DOAGRAVO.B) 04/11/2004: TRIBUNAL - QUINTA REGIAO - Terceira Turma. Relator: Desembargador Federal Paulo Machado CordeiroDecisão 	UNÂNIME Ementa: PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. ANTECIPAÇÃO DETUTELA. POSSIBILIDADE DE DANO IRREVERSÍVEL NA ÁREA DE PRESERVAÇÃOPERMANENTE. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO. DESPROVIMENTO DO AGRAVO.]
(...) Na disciplina da Constituição de 1988,a interpretação dos direitos individuais deve harmonizar-se à preservaçãodos direitos difusos e coletivos.A preservação dos recursos hídricos evegetais, assim como do meio ambiente equilibrado, deve ser preocupaçãode todos, constituindo para o administrador público obrigação da qual nãopode declinar.A Política Nacional do Meio Ambiente prevê a necessidadede licença ambiental para as atividades potencialmente degradadoras domeio ambiente.
A importância dos manguezais vem do fato de inserirem umagrande diversidade biológica, além de exercerem funções essenciais parao equilíbrio da vida não só nas regiões onde se localizam, como tambémpor irradiarem reflexos extra-regionais. Indispensáveis o estudo préviode impacto ambiental e o relatório de impacto ambiental - EIA/RIMA, comocondição para a concessão de licença ambiental para empreendimentos em áreasde manguezais. Sua falta contaminacom nulidade absoluta o procedimento queculminou na concessão do licenciamento.O princípio da precaução recomendaque em defesa da sociedade não seja admitida a exploração da área emquestão.
	Neste último acórdão, mais uma vez do Tribunal da Quinta Região, Segunda Turma, temos uma decisão que, fundada no princípio da precaução, pressupõe a irreversibilidade do dano e recomenda não submeter o meio ambiente a risco:[47: 03/08/2004: Relator: Desembargador Federal Petrucio Ferreira. Decisão: UNÂNIME. Ementa: ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AGRAVOREGIMENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA QUE OBJETIVA O DESFAZIMENTO DE ATERROCLANDESTINO REALIZADO NA LAGOA DO GOMES - BARRA DE CATUAMA, DISTRITODE PONTA DE PEDRAS/PE - POR OFENSA AO MEIO AMBIENTE. PROVA PERICIALPRODUZIDA EM AÇÃO ORDINÁRIA E RELATÓRIO TÉCNICO DO IBAMA QUE CONCLUIRAMPELAEXISTÊNCIA DE ATERRO DE MARGENS E ÁREAS INTERNAS DA LAGOA. PRINCÍPIODA PRECAUÇÃO. OBSERVÂNCIA. MANUTENÇÃO DA DECISÃO AGRAVADA.]
(...) 2. Não se pode olvidarque nas ações que envolvam o meio ambiente, é de aplicar-se o princípioda precaução, que objetiva exatamente, evitar a ocorrência do dano e nãoaguardar as suas conseqüências que, na maioria das vezes são irreversíveisao ecossistema. Ademais, no caso presente, resta inclusive constatado peloRelatório Técnico do IBAMA, bem como pelo laudo pericial acostados aosautos a ofensa ao meio ambiente acarretado pelo loteamento, razão pela qual,apresenta-se irreparável a decisão singular que não traz qualquer teratologiaa justificar a sua reforma.
4. Conclusões
	Esse artigo tratou de apresentar as distinções doutrinárias e judiciais relativas aos princípios da precaução e da prevenção, basilares de aplicabilidade das diretivas ambientais. E também como os princípios têm se configurado nas decisões judiciais de segunda instância. Vele lembrar ainda que a pesquisa de julgados foi delimitada por circunstâncias práticas. 
A pretensão inicial do artigo revestia-se de um caráter mais amplo geograficamente, procurando abrangência nacional e sem restrição temática. Além disso, a pesquisaem tela – com base nos critérios anteriormente apontados, quais sejam, os princípios da precaução e da prevenção – nos TJs de Minas Gerais e de Goiás, quedou-se infrutífera. De fato, decisões judiciais nestes dois TJs, relativas ao meio ambiente, só puderam ser localizadas a partir da palavra ambiental inserida na ferramenta de busca oferecida pelo sítio, inexistindo quaisquer referências aos termos de pesquisa propostos.
	Destarte, procurou-se demonstrar como, a despeito de ser corrente minoritária da doutrina pátria, a que considera distintos os dois princípios, faz-se urgente e necessário, para efeitos de aplicabilidade e eficácia jurídicas, em sede da tutela ambiental regulada constitucionalmente em nosso país, explicitar tais diferenças.
	Pois parece mesmo ser inútil o debate jurisdicional sobre as necessárias distinções conceituais entre os dois princípios, se, ao final, são con-fundidos, no momento da decisão judicial vir a lume.
	Restam ainda algumas importantes observações a fazer. Precisamos considerar os princípios jurídicos não apenas como diretrizes para a integração ou interpretação dos sistemas jurídicos. De fato, como assegura Bobbio, eles são regras deontológicas gerais. (FAZER A REFERENCI VER LIVRO AÇÃO PENAL) Desse modo, os princípios não visam a substituição da regras, mas possuem amplidão suficiente para evitar o “engessamento” das possibilidades de aplicação do direito, nos momentos de envelhecimento dos Códigos, na ausência de sistematização ou nas chamadas crises de legalidade.[48: Boa parte da doutrina brasileira vem cobrando a sistematização da legislação ambiental sob a forma de uma Consolidação. ]
	Portanto, a título de simples sugestões para promover o necessário debate, aclarando assim o tema, passaremos a algumas considerações. De todo modo, a nossa intenção é demarcar, precisar conceitualmente os princípios, no sentido de dar-lhes aplicabilidade. Quando a aplicação dos princípios como fundamentação de decisões judiciais leva a tensão entre eles – como pudemos observar, mesmo que tangencialmente, no caso da precaução e da prevenção – deve-se considerar a relatividade dos princípios, ou seja, deve-se considerar caso por caso, tendo como visada a ponderação, a proporcionalidade. Dito de outro modo, nos casos apresentados à apreciação jurisdicional de feição extremada, vinculados à incerteza científica, deve prevalecer a precaução. Diante de dano consumado, prevenção, no sentido de reparação em espécie e também sujeição dos responsáveis às sanções administrativas, civis e penais. 
Prevenção e precaução têm sido, em sede ambiental, entendidos pela doutrina, basicamente de três maneiras: a) como princípios conceitualmente distintos e, portanto, de aplicabilidade distinta; b) como sinônimos; c) um como mais abrangente que o outro eventualmente englobando-se um no outro; variação deste modelo estabelece uma como etapa anterior da outra. 
Em nosso entendimento, o princípio da precaução e o princípio da prevenção guardam entre si importantes distinções. Dispõe a prevenção da reparação ao dano cometido, em face de ação ou omissão humana. Trata a precaução, como afirmado anteriormente, de evitar o risco, entendido como possibilidade de dano, caso ação ou omissão humana sejam efetivadas. 
Desse modo, levando-se em conta as infinitas possibilidades concretas de exposição do meio ambiente a risco, diante de deliberadas ações ou omissões dos agentes humanos – vale lembrar, com a doutrina alemã, risco inaceitável, risco simples e risco residual – surge então como possibilidade de efetiva aplicabilidade dos princípios da precaução e da prevenção, em sede jurisdicional, as definições legais de percentuais de dano e de risco (perigo, prevenção, risco: inaceitável, simples ou residual), bem como dos procedimentos necessários às suas mensurações técnicas.
	Tais definições legais teriam como atribuição estabelecer marcos seguros de aplicabilidade dos princípios anteriormente referidos, superando assim as ambigüidades e equívocos aos quais estão submetidas as decisões judiciais, em sede ambiental.
BIBLIOGRAFIA

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