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ISSN 2176-1396 MODELOS DIDÁTICOS COMO RECURSO PARA O ENSINO DE BIOLOGIA: UMA EXPERIÊNCIA DIDÁTICO-PEDAGÓGICA COM ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DE UMA ESCOLA PÚBLICA DE IGUATU/CE Ana Carolina Sabino de Oliveira 1 - FECLI/UECE Bruna Letícia Pereira Braga 2 - FECLI/UECE Maria Mires Borges do Nascimento 3 - FECLI/UECE Clarice Cartaxo Cavalcante 4 - SEDUC/CEARÁ Alana Cecília de Menezes Sobreira 5 - FECLI/UECE Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: CAPES Resumo O Ensino de Biologia, historicamente, tem apresentado diversos desafios à sua efetivação, sobretudo por tratar de conteúdos que exigem considerável nível de abstração dos educandos para acessá-lo. Nesse sentido, este trabalho teve como objetivo analisar em que medida a inserção de modelos didáticos potencializa a aprendizagem de alunos do Ensino Médio de uma escola pública sobre conteúdos relacionados aos micro-organismos. Visou ainda auxiliá- los a compreender a morfofisiologia de vírus e de bactérias através da produção de modelos didáticos construídos pelos alunos sob a orientação dos bolsistas do PIBID/CAPES. Esta atividade foi desenvolvida em uma turma de segundo ano do Ensino Médio, sendo dividida em três etapas: primeiramente um questionário de sondagem foi aplicado aos alunos com o intuito de verificar seus conhecimentos prévios sobre o tema; logo após os bolsistas do Programa Institucional Bolsas Iniciação Docência - PIBID realizaram uma apresentação oral sobre o conteúdo de vírus e de bactérias; em seguida foi realizada a apresentação do material a ser utilizado e a divisão da turma em equipes para a construção dos modelos. Quatro modelos didáticos foram construídos: um modelo estrutural de uma célula bacteriana, um que retratava o vírus causador da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), cujo agente 1 Graduanda do curso de Ciências Biológicas da Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu FECLI/UECE e Bolsista do PIBID/CAPES. E-mail: carolina.sabino@aluno.uece.br 2 Graduanda do curso de Ciências Biológicas da Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu FECLI/UECE e Bolsista do PIBIS/CAPES. E-mail: brunaleticiapb@gmail.com 3 Graduanda do curso de Ciências Biológicas da Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu FECLI/UECE e Bolsista do PIBID/CAPES. E-mail: mires.nascimento@aluno.uece.br 4 Professora da Rede Pública Estadual de Ensino e Supervisora do PIBID/CAPES. E-mail: claricecartaxo@gmail.com 5Professora do Curso de Ciências Biológicas da Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu- FECLI/UECE e Coordenadora da área do PIBID/CAPES. E-mail: alana.cecilia@uece.br 24264 etiológico é o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), um modelo do vírus causador da gripe e modelos das diferentes formas bacterianas. Com esta atividade pode-se perceber um considerável empenho dos alunos na construção dos modelos, estes trouxeram a eles um acréscimo para a teoria, pois, ambas são complementares. Também foi possível concluir que estes materiais produzidos trouxeram aos alunos uma imagem formada das estruturas apresentadas, tendo em vista que essas são microscópicas e de difícil assimilação. Palavras-chave: Aprendizagem. Bactérias. Vírus. Ensino Médio. Introdução Os processos de ensino e aprendizagem requerem diversos meios para sua plena concretização. Esses meios referem-se a um conjunto de fatores que vão desde a estrutura escolar até as metodologias de ensino utilizadas pelos docentes. Segundo Martins e Leite (2013), atualmente, ainda há enorme carência quanto ao ensino e à aprendizagem das ciências escolares na educação básica, como por exemplo, quanto ao desenvolvimento de aulas práticas. Esta carência pode ser observada em diversos aspectos que vão desde a estrutura física e os recursos disponibilizados pela escola até a deficiência encontrada no planejamento e no desenvolvimento de aulas pelos professores, que afetam a compreensão de determinados conteúdos das ciências por parte dos alunos, principalmente os que evolvem estruturas microscópicas. Isso foi destacado por Cardoso, Castro e Silva (2003, p. 152): Faz parte da formação do profissional docente a busca de novos recursos que complementem e enriqueçam sua atividade de ensino. Um dos grandes problemas do ensino de ciências e de biologia é a pouca compreensão dos alunos na tridimensionalidade inerente aos organismos e às estruturas biológicas observadas somente em lâminas ao microscópio ou na bibliografia especializada. Estes problemas encontrados no ensino de Biologia requerem meios para amenizar estas lacunas, tendo em vista que o professor é responsável por potencializar a aprendizagem dos alunos e para tanto precisa estar preparado para organizar, pedagogicamente, situações de ensino, de forma a envolver os alunos e sensibilizá-los para a aprendizagem dos conteúdos. Com relação a esta temática, Weisz (2000) registra que o decente necessita de estratégias metodológicas para compreender o que acontece com seus alunos e para poder refletir sobre a relação entre as suas propostas didáticas e as aprendizagens conquistadas por eles. É possível notar que o processo de aprendizagem tem sido limitado pelos métodos tradicionais de ensino utilizados em sala de aula. Isso porque, na maioria das vezes, os 24265 docentes são resistentes para aderir a novos métodos de ensino visto que “[...] à resistência a mudança pode-se dizer que é uma atitude natural diante do desconhecido, sobretudo quando estas alterações acontecem no ambiente de trabalho e atingem a sua forma de funcionamento [...]” (SILVA, 2012, p. 29). Uma alternativa viável para amenizar esta resistência a mudanças existentes entre o meio docente é a utilização de modelos didáticos como forma de melhorar o processo de ensino e aprendizagem. Barrachil e Martins (2004, p. 1) definem as metodologias de ensino como “um conjunto de procedimentos didáticos expressos pelos métodos e técnicas de ensino, que visam levar a bom termo a prática pedagógica alcançando os objetivos do ensino- aprendizagem”. Além das metodologias de ensino é preciso considerar o que nos diz Shulman (1986) que além de conhecer a matéria de ensino, o professor precisa deter o conhecimento pedagógico do conteúdo. Esse tipo de conhecimento envolve a seleção de recursos didáticos para favorecer a transformação do conhecimento científico ou "saber sábio" em "saber escolar", ou seja, saber a ser ensinado aos alunos (CHEVALLARD, 1998). Nesse contexto, faz-se necessário no ensino de Biologia a realização de aulas práticas com os discentes devido às dificuldades na compreensão e visualização dos conteúdos sobre os seres vivos apresentados por eles. Acredita-se que estas dificuldades podem ser visualizadas em diversos momentos do processo educativo, que vai desde aulas expositivas até avaliações que são aplicadas, sendo necessários meios alternativos para amenizar este empecilho. Levando isto em consideração, viu-se a necessidade de despertar a atenção dos alunos sobre assuntos de Biologia que requerem metodologias diversas e técnicas alternativas para melhor aprendizagem dos conteúdos abordados na disciplina, tendo em vista que o “interesse dos alunos pela disciplina depende de como o professor a apresenta, podendo despertar um interesse mais intenso sobre os assuntos tratados em sala de aula” (LEWONTIN, 2001 apud MELO; ALVES, 2011, p. 04). Diante do contexto apresentado, percebe-se que nos últimos anos estudos apontam a necessidade de diversificar as estratégias metodológicas usadas o ensino de Biologia,visto que existe uma grande carência quanto às utilizadas pelo professor no cotidiano escolar. Para tanto: 24266 [...] é necessário ressignificar o ensino de crianças e jovens para avançar na reforma das políticas da educação básica, a fim de sintonizá-las com as formas contemporâneas de conviver, relacionar-se com a natureza, construir e reconstruir as instituições sociais, produzir e distribuir bens, serviços, informações e conhecimentos. [...] (BRASIL, 2000, p. 6). Para esta diversificação, os modelos didáticos são ferramentas alternativas que podem potencializar o aprendizado, trazendo uma nova forma de compreender e assimilar os conteúdos. Nesse sentido, Melo e Alves (2011, p. 12), apontam: [...] a importância de modelos didáticos para se compreender e entender uma visão em nível microscópico leva a crer que as dificuldades de compreensão por parte dos alunos estejam associadas a objetos que não possuem atributos visuais suficientemente adequados, os quais se enquadram conceitos como célula, energia, átomo, entre outros. Nessa perspectiva, nota-se que a visualização de certos organismos e/ou estruturas por parte dos alunos fica aquém do desejado, deixando apenas na forma imaginária. Os modelos didáticos proporcionam uma representação de vírus e bactérias estudados a partir do livro didático. Ainda sobre modelos didáticos, Setúval e Bejarano (2009, p. 04) os definem como “[...] instrumentos sugestivos e que podem ser eficazes na prática docente diante da abordagem de conteúdos que, muitas vezes, são de difícil compreensão pelos estudantes, principalmente no que se refere ao ensino de Ciências e Biologia”. Na Biologia, esta dificuldade é observada com maior clareza em determinados conteúdos, visto que existe um mundo amplo de seres microscópicos a serem estudados. Diante disto, espera-se que os modelos didáticos contribuam para o processo de ensino e aprendizagem. Desse modo, este trabalho buscou analisar em que medida a inserção de modelos didáticos potencializa a aprendizagem de alunos do Ensino Médio de uma escola pública sobre conteúdos relacionados aos microrganismos, de forma que a construção de modelos didáticos pelos estudantes pudesse complementar os saberes adquiridos com os professores, sobretudo no tocante à visualização de estruturas complexas e microscópicas, como as que são abordadas no ensino de Biologia, a exemplo de células e moléculas. Construção dos Modelos didáticos Os modelos didáticos foram construídos por alunos de uma turma de 2º série do Ensino Médio em uma escola parceira do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à 24267 Docência- PIBID/CAPES, vinculada ao subprojeto de Biologia da Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu, campus da Universidade Estadual do Ceará. Esta atividade foi orientada e supervisionada pelos bolsistas de Iniciação à Docência (ID) com o auxílio das professoras supervisoras possibilitando aos mesmos uma importante prática para a formação docente. Para a realização de tal atividade fez-se necessário à aplicação de um teste de sondagem na referida sala para verificar os conhecimentos dos alunos no tocante aos conteúdos relacionados a vírus e bactérias, tendo em vista que os modelos tinham por objetivo auxiliá-los em uma melhor compreensão e assimilação do conteúdo. O teste foi constituído de 07 questões objetivas que tratavam da morfofisiologia de vírus e bactérias, sendo aplicado aos alunos que estiveram presentes no dia proposto para a realização da atividade, sendo 19 alunos. Os resultados obtidos no teste mencionado serviram como diretriz para que os bolsistas discutissem e elaborassem uma exposição sobre “Estruturas e características de vírus e bactérias” com o intuito de: promover uma revisão dos conteúdos já estudados em sala de aula; e, auxiliar os alunos na produção dos modelos didáticos. A etapa seguinte foi composta da apresentação e familiarização de todos com os materiais que seriam utilizados na confecção dos modelos didáticos. Além disso, foi realizada a divisão da turma em equipes para posterior orientação e execução dos trabalhos. Quatro modelos didáticos foram construídos: a) modelo estrutural de uma célula bacteriana; b) modelo do vírus causador da AIDS (HIV); c) modelo do vírus causador da gripe; d) modelo que reproduzia as diferentes formas bacterianas. Esses modelos foram escolhidos dados a sua relevância e por serem os mais abordados nos livros didáticos. Todo o processo realizado, desde a aplicação do teste até a produção dos modelos durou o período de 4 aulas com 50 minutos cada. Ao fim, alguns alunos foram questionados sobre o que pensaram da atividade, com o intuito de utilizar as respostas como instrumento de reflexão para a continuidade da atividade na escola. Modelo estrutural da célula bacteriana Na produção do modelo didático representando a forma da bactéria (Figura 1A), os materiais utilizados foram: tintas para tecido nas cores (verde, laranja, vermelho e amarelo), pinceis, biscuit, palitos de dente e cianoacrilato (super cola), amido de milho, cola branca, vinagre e óleo. 24268 Antes da produção do modelo propriamente dito produziu-se inicialmente a massa de biscuit; para a fabricação utilizou-se o amido de milho, cola branca, vinagre e óleo, misturou- se todos os ingredientes em um recipiente até obter-se uma massa homogênea, posteriormente esta massa foi levada ao fogo até adquirir a consistência desejada. Para a confecção da cápsula da bactéria foi utilizado 1Kg de biscuit e como molde uma garrafa PET (Politereftalato de Etileno) de 2L. Foram confeccionadas algumas esferas de tamanhos variados para mais adiante representarem os ribossomos e também um grande filamento para expor o material genético da bactéria e todos foram coloridos com tinta vermelha. Após todas as estruturas que haviam sido moldadas secarem, estas foram colocadas no interior da bactéria de forma a ficar bem espaçado. Por fim, foram produzidos inúmeros filamentos de pequena espessura e comprimento com o intuito de evidenciar as fímbrias. Também foi fabricado um filamento maior para demonstrar um flagelo, os mesmos foram pintados com tinta verde escuro e colados nos lados da parte externa da bactéria. Vírus HIV Os materiais utilizados para produzir o Vírus HIV, causador da AIDS (Figura 1B), foram: uma bola de isopor de 200 mm oca e dividida ao meio, tintas para tecido (azul celeste e azul turquesa, vermelho, laranja, verde fluorescente e verde escuro), pinceis, palitos de dente, arame, biscuit e cianoacrilato (super cola). Primeiramente, para a produção da parte interna do vírus foi cortada uma base de isopor redonda para apoiar o capsídeo e as estruturas contidas nele. A base foi encaixada em uma das metades da bola, logo após toda a parte interna da bola foi pintada de azul celeste e em seguida a parte externa foi pintada de vermelho. Foram confeccionadas cerca de 32 bolas de biscuit, que foram pintadas de azul turquesa para representar a proteína matriz p17, as quais foram fixadas ao redor da base produzida com a utilização de pequenos pedaços de arames. 24269 Figura 1 - Modelo estrutural da célula bacteriana (A), Modelo didático representando o vírus HIV (B) Fonte: Autores Posteriormente, cortou-se uma parte do isopor fino em forma de quadrilátero para demonstrar o capsídeo, este foi colado no meio da base e a mesma foi colorida com tinta laranja. Adiante, foram confeccionadas por volta de 38 bolas menores com o biscuit, tingidas de laranja e coladas ao redor do quadrilátero para dar a forma real do capsídeo. Subsequentemente moldou-se umaestrutura alongada e colorida de verde escuro para ilustrar o RNA, que foi fixado ao capsídeo. Três esferas de tamanho maior foram feitas e tingidas de verde fluorescente que representaram as enzimas transcriptase reversa e integrase, e estas foram coladas ao lado do RNA. Finalmente, para a parte externa, foram achatados alguns pedaços de biscuit e coloridos com tinha azul turquesa, que foram fixados em palitos de dente e colocados por toda a extensão da parte externa do vírus para representar as glicoproteínas. Vírus da gripe Para a confecção do modelo representativo do vírus da gripe (Figura 2A) foram utilizados os materiais a seguir: bola de isopor de 200 mm oca e dividida ao meio, tintas para tecido nas cores azul, laranja, branco e vermelho, pinceis, 25 bolas de isopor pequenas, 25 palitos de dente, arame e biscuit. Inicialmente, para produzir a parte interna do vírus, foi feito uma base que foi colada dentro da bola de isopor maior para dar uma visão tridimensional do material genético. Foram 24270 construídos vários espirais e também várias estruturas alongadas com o biscuit que foram enroladas umas nas outras e pintadas para formar o RNA. Depois, essas estruturas foram coladas na base feita se isopor. Logo após foi feita a parte externa e para isso as duas metades da bola de isopor foram coladas retirando um quarto da mesma. A bola de isopor grande foi colorida por fora com tinta azul, as bolas menores foram pintadas de vermelho, colocadas em palitos e fixadas no isopor representando a proteína neuraminidase, responsável por prender o vírus à célula hospedeira. Após essa etapa, pedaços de arames foram enrolados entre si representando a proteína hemaglutinina, responsável por desprender os novos vírus da célula hospedeira, que também foram fixados na bola de isopor. Formas bacterianas Os modelos de formas bacterianas (Figura 2B) foram fabricados a partir dos seguintes materiais: biscuit, tintas para tecido (azul turquesa, lilás, amarelo, vermelho, verde, dourada), pinceis, verniz, cola para biscuit, arame e uma folha de isopor com espessura média. Figura 2 – Modelo didático representando o vírus da gripe (A), Modelos estruturais das formas bacterianas (B). Fonte: Autores Inicialmente foram produzidas estruturas esféricas que representaram os cocos, o agrupamento destes cocos formou novas bactérias: a junção de dois cocos representou o diplococo; o enfileiramento dos cocos originou o estreptococo; os cocos foram agrupados em forma de cubo para representarem a sarcina; a união dos cocos em cacho formou o 24271 estafilococo. Foram produzidas bactérias que tinham forma de bastonete, os bacilos, que foram nomeadas de acordo com suas formas: um bacilo muito pequeno e isolado formou o cocobacilo; bacilo; dois bacilos unidos resultaram no diplobacilo; quatro bacilos dispostos em fileira formaram o estreptobacilo. Finalmente foram produzidos os vibriões que são bacilos curvos em forma de vírgula e os espirilos que são bactérias em formato de espiroquetas. Percepções sobre a prática Com a aplicação do teste antecipado à prática pôde-se perceber que existe uma carência significativa no que diz respeito ao aprendizado de estruturas microscópicas e de difícil abstração. Nesse, apenas 29,2% das questões propostas foram marcadas corretamente pelos alunos,mostrando que há uma deficiência neste aspecto do ensino considerando que tais assuntos exigem uma articulação dos conteúdos teóricos com atividades de natureza prática para potencializar sua aprendizagem pelos estudantes. Fazendo-se uma análise das questões percebeu-se que os mesmos tiveram uma boa perceptividade na questão referente a estrutura bacteriana, mostrando 53% de acertos e a questão que se referia as características gerais dos vírus, os alunos apresentaram maior dificuldade em suas respostas, com apenas 16% de acertos. Neste aspecto, fazem-se necessárias aulas que instiguem o aluno a pensar nestas estruturas microscópicas, a partir da utilização de imagens tridimensionais das estruturas biológicas, facilitando assim a compreensão das mesmas. Neste sentido, “é relevante pensar na formação de professores de modo que potencialize reflexões a partir de saberes práticos que, a partir do cotidiano laboral docente, seja capaz de estimular modificações dos processos educativos que se desenrolam nas salas de aula” (FEITOSA, 2015). Sendo assim, a produção dos modelos didáticos evidenciou habilidades e curiosidades dos alunos envolvidos e possibilitou tanto a estes quanto aos professores uma vivência distinta da rotina da sala de aula. Fato que pode ser percebido a partir do depoimento voluntário de três alunos que participaram da atividade. Foi uma experiência boa, pois aprendemos muitas coisas, foi uma aula bem moderna e bem diferenciada. Foi muito criativo porque podemos sair da rotina no trabalho em grupo (Aluno 1). 24272 Foi uma aula muito produtiva, pois podemos ver e conhecer melhor os vírus e bactérias. Foi uma aula diferente para chamar mais a atenção dos alunos e podermos trabalhar mais em equipe (Aluno 2). Nesse trabalho de grupo nós aprendemos como fazer um bom trabalho em equipe e o resultado foi excelente, além de sairmos um pouco da rotina também aprendemos muito melhor sobre o conteúdo dos vírus e bactérias (Aluno 3). Fazendo-se uma análise dos relatos dos estudantes percebeu-se que a atividade proposta atingiu seu objetivo a partir do momento que possibilitou uma aproximação dos alunos com o conteúdo tido como abstrato e com as estruturas tridimensionais construídas pelos mesmos. Além disso, como relatado, a atividade foi importante por trazer uma nova dinâmica para a sala de aula, assim, concordamos com Leite (2004) que o professor precisa reconhecer que, em sua tarefa docente, não basta saber o conteúdo a ser ensinado; é preciso inovar e, para tal, acreditamos que a metodologia através de modelos didáticos seja uma dessas formas. Considerações Finais As metodologias constituem um aspecto fundamental da prática docente, nesse sentido, é preciso destacar que é o professor o profissional responsável por selecionar as estratégias e recursos que melhor possam mobilizar a aprendizagem dos estudantes, de forma a despertá-los para a apropriação dos conhecimentos. A realização de atividades práticas no contexto da sala de aula faz-se necessária para trazer à tona sentidos e percepções que, dificilmente, afloram apenas em aulas teóricas, facilitando assim a apropriação dos conteúdos. Assim, é importante apontar que os professores devem observar durante seus planejamentos a necessidade de incluir aulas práticas no ensino de Biologia; os ambientes escolares necessitam de professores reflexivos, ativos e que busquem novas alternativas metodológicas. Com a realização dessa atividade confirmou-se que as modificações no contexto educativo, no que diz respeito às metodologias utilizadas no âmbito escolar, são eficazes, o que foi claramente percebido no andamento destas aulas, aonde verificou-se um considerável empenho na produção dos modelos. No entanto, um aspecto importante precisa ser ressaltado: o planejamento é fundamental para um desenvolvimento satisfatório na condução destas atividades, tendo em vista que atividades diferenciadas requerem uma maior atenção para o seu desenvolvimento devido a não constância da utilização e aplicação das mesmas. Devem ser levados em conta 24273 aspectos como se o conteúdo é o mais adequado, os materiais e recursos que precisarão ser utilizados, dentre outros. Por fim, é importante frisar que o sucesso da aprendizagem dos alunos não depende, única e exclusivamente,da ação do professor ou da metodologia de ensino utilizada. Antes, é influenciada por diversos fatores, como os socioeconômicos, culturais, psicológicos, estruturantes da escola, etc. Assim, cabe entender o papel do professor de Biologia nesse processo, como sujeito intelectual, crítico, e que, conhecendo sua profissão e os contextos que a envolvem, é capaz de reconhecer as possibilidades de superação das limitações que, comumente, fragilizam o ensino e a aprendizagem na Educação Básica. REFERÊNCIAS CARDOSO, N. S.; CASTRO, M. M. M.; SILVA, J. R. F. A busca de novas ferramentas para a atividade docente no ensino de embriologia e histologia: modelos tridimensionais. In: Encontro Nacional de Biólogos, 5. 2003, Natal. Anais... Natal, 2003, p. 151-152. CHEVALLARD, Y. La transposición didática: del saber sabio al saber enseñado. Buenos Aires, Aique, 1998. BARRACHIL, S. B. M.; MARTINS, M. S. A. Metodologia diferenciada e integrada. In: Congresso de Iniciação Científica, 1, e Congresso de Pesquisadores da Fundação Educacional de Ituverava, 1, 2004, São Paulo. Anais... São Paulo, set./out. 2004. BRASIL. Proposta de diretrizes para a formação inicial de professores da educação básica, em cursos de nível superior. mai. 2000. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/basica.pdf>. Acesso. 6 ago. 2015. FEITOSA, R. A. As teorias sobre o “professor reflexivo” e suas possibilidades para a formação docente na área de Ciências da Natureza. Revista entreideias, Salvador, v. 4, n. 1, p. 185-199, 2015. Disponível em: <http://www.portalseer.ufba.br/index.php/enreideias/article/download/9776/9485.>. Acesso em: 10 jun. 2015. LEITE, M. A. Formação docente – Ciências e Biologia: estudo de caso. São Paulo: EDUSC, 2004. MARTINS, M. M. M. C.; LEITE, R. C. M. Aulas práticas e experimentos no ensino de ciências na escola básica: as contribuições de Derek Hodson. In: CARNEIRO, C. C. B. S.; LEITE, R. C. M. (Org.) Ensino de ciências abordagens múltiplas. Curitiba: CRV, 2013. MELO, G. S.; ALVES, L. A.; Dificuldades no processo de ensino-aprendizagem de biologia celular em iniciantes do Curso de graduação em Ciências Biológicas. 2011. 37p. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2011. Disponível em: 24274 <http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/CCBS/Cursos/Ciencias_Biologicas/1o_2012 /Biblioteca_TCC_Lic/2011/2o_2011/Gislene_Melo_e_Laura_Alves.pdf.>. Acesso em: 20 jun. 2015. SETÚVAL, F. A. R.; BEJARANO, N. R. R. Modelos didáticos com conteúdo de Genética e a sua importância na formação inicial de professores para o ensino de Ciências e Biologia. In: Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, 7, 2009, Florianópolis. Anais... Florianópolis: ABRAPEC, 2009. Disponível em: <http://posgrad.fae.ufmg.br/posgrad/viienpec/pdfs/1751.pdf>. Acesso em: 05 jul. 2015. SILVA, D. M. A. P. Formação docente em tecnologias digitais: em busca do caminho. Porto Alegre, 2012. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/95746/000913667.pdf?sequence=1>. Acesso em: 06 ago. 2015. SHULMAN, L, Those who understand: knowledge growth in teaching. Educational Researcher, v. 15, n. 4, p. 4-14, 1986. WEISZ, T. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. São Paulo: Ática, 2000.
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