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Apostila Direito Civil I

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Universidade Candido Mendes - Ipanema
DIREITO CIVIL I
LIVRO III - Parte Geral 
DOS FATOS JURÍDICOS
Arts. 104 a 232, C.C.
Prof. Stefanio Nehmy Xavier
Bibliografia:
1. Carlos Roberto Gonçalves – Direito Civil Brasileiro – vol. I – parte geral – Saraiva
2. Washington de Barros Monteiro – Curso de Direito Civil - vol. 1 – parte geral – Saraiva
3. Silvio Rodrigues - Direito Civil - vol. 1 –. Saraiva
4. Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho – Novo Curso de Direito Civil – Parte Geral – vol. 1 - Saraiva
5. Orlando Gomes - Introdução ao Direito Civil – Forense.
6. Maria Helena Diniz - Curso de Direito Civil Brasileiro - 1 – Saraiva.
FATO JURÍDICO
Noções introdutórias: 
Inicialmente, temos que fato é sinônimo de evento ou acontecimento. Inúmeros são os fatos, naturais ou humanos, que ocorrem cotidianamente na vida de qualquer pessoa, uns mais, outros menos relevantes. É certo que muitos dos fatos que ocorrem no dia-a-dia de um indivíduo podem não interessar a ninguém, nem mesmo ao próprio, sendo esquecidos facilmente, como, por exemplo, o atraso do ônibus, um passeio de bicicleta, a chuva, etc.
Igualmente, nem todo acontecimento tem importância para o mundo do Direito. Um mesmo acontecimento pode, para A, não ter qualquer relevância, sendo mero fato, quando para B, ser um fato jurídico.
Exemplos: chuva e adiamento de um show; concha e aquisição de propriedade.
Definição de Fato Jurídico (lato sensu):
Fato jurídico é todo acontecimento natural ou social, dependente ou não da vontade humana, a que a lei atribui efeitos.
Em sentido amplo: seriam os acontecimentos, previstos em norma de direito, em razão dos quais nascem, se modificam, subsistem e se extinguem as relações jurídicas, causando efeitos previstos em lei.
Em outras palavras: “Todo acontecimento, natural ou humano, que determine a ocorrência de efeitos constitutivos, modificativos, ou extintivos de direitos e obrigações, na órbita do Direito, denomina-se fato jurídico.” (Pablo Stolze Gagliano)
Classificação dos Fatos Jurídicos:
Dividem-se em:
a) naturais: Ex: nascimento, o decurso do tempo, uma tempestade, uma erupção vulcânica, etc.
a.1) ordinários (Ex: o passar do tempo, a chuva, etc.)
a.2) extraordinários = Caso fortuito / Força maior; (Importância: justificam o inadimplemento de obrigações);
b) humanos:
b.1) Atos jurídicos
b.2) Negócios jurídicos
b.3) Atos Ilícitos
Fatos naturais ou Ordinários 
	 f. jurídicos stricto sensu			 Caso fortuito
			 Extraordinários
		 Força maior
 Fato
Jurídico
(lato sensu)	 	 Meramente lícitos ou
 		 Lícitos Ato jurídico sentido estrito
 	 Fatos Humanos
	ou Atos Jurídicos Negócios Jurídico
 lato sensu	
	 				 Ilícitos
Efeitos dos Fatos Jurídicos:
Como já dito, cinco são os efeitos produzidos por fatos jurídicos: aquisição, preservação, modificação, transferência ou extinção de um direito.
Exemplos respectivos: ocupação, protesto, novação, compra e venda, prescrição.
ATOS JURÍDICOS (lato sensu)
Atos meramente lícitos (ou Atos Jurídicos em sentido estrito):
São aqueles que, embora gerem efeitos jurídicos provenientes da vontade humana, tais efeitos não são perseguidos de forma imediata pelo agente, nem podem ser modificados pelo mesmo. Os efeitos emanam da lei e deles o agente não pode se afastar, só tendo a liberdade de emitir sua vontade. Não há, portanto, liberdade de negociação.
Exemplos: achado de um tesouro (efeito: aquisição da propriedade); reconhecimento de um filho (efeitos: pátrio poder, etc.), o abandono de uma coisa (efeito: perda da propriedade), a ocupação da res nullius (coisa de ninguém).
2. 	Negócio Jurídico:
Será estudado a seguir. Consiste em toda a ação humana, resultante da declaração de vontade, voltada a atingir um fim específico buscado pelas partes, capaz de gerar efeitos lícitos, denomina-se negócio jurídico.
3. 	Atos Ilícitos:
Também emana da vontade humana. Obviamente, sendo o homem o criador das regras jurídicas que regem o convívio social, a ilicitude é exclusiva do ser humano, ou melhor, das atitudes por ele traçadas como ilícitas. 
O ato ilícito além de violar a lei, pode causar prejuízo a outrem, gerando o dever de indenização. Estudaremos a diante o assunto.
FORMAS DE AQUISIÇÃO DE DIREITOS
Adquire-se certo direito com a sua incorporação ao patrimônio do indivíduo. Tal incorporação pode se dar de forma originária ou derivada, gratuita ou onerosa, singular ou universal.
- Originária: é aquela em que não vínculo jurídico entre o adquirente e o seu antecessor. Ex. quem ocupa res nullius (coisa de ninguém) ou res derelicta (coisa abandonada).
- Derivada: é aquela em que o direito é transferido de um titular anterior ao adquirente.
OBS: Interesse prático na distinção: Quando se discute a validade de um direito, analisamos a forma de aquisição do mesmo. Na aquisição originária não há que se falar em vícios anteriores. O direito é adquirido de forma plena pelo seu titular. Já na aquisição derivada, acompanharão o novo proprietário do direito todos os vícios e ônus anteriores, pois ninguém pode transferir mais direitos a outrem do que possui.
Exemplo: compra e venda de um imóvel com hipoteca. Sendo forma de aquisição originária, transmite-se a propriedade do imóvel juntamente com a referida hipoteca.
- Gratuita - aquela feita sem contraprestação. Ex.: doação, herança.
- Onerosa - a que se faz mediante contraprestação. Ex.: locação.
- Singular - tem por objeto coisa determinada. Ex.: Legado ; compra e venda de um determinado bem.
- Universal - adquiri-se uma totalidade de direitos, como todos os benefícios e ônus. Ex.: herança (créditos e débitos).
Direitos atuais e Direitos futuros:
São atuais os direitos completamente adquiridos e já incorporados ao patrimônio do titular, podendo por ele serem exercitados de forma plena.
Direito futuro é aquele que ainda não se constituiu; sua aquisição não se operou por completo. Dentre os direitos futuros, distinguem-se os deferidos dos não deferidos:
Deferidos são os que só não se incorporaram ao patrimônio do titular porque este ainda não quis, dependendo somente do seu arbítrio para que se tornem direitos atuais. Exemplo: o direito de propriedade que depende do registro da promessa de compra e venda de imóvel já quitado no RGI competente.
Não deferidos são os direitos futuros cuja consolidação subordina-se à ocorrência de fatos ou condições falíveis, alheias à vontade do adquirente. Exemplo: direitos sob condição ou encargo.
Conservação e defesa de direitos
Para resguardar ou conservar os seus direitos, o titular, por vezes, precisa tomar medidas preventivas ou repressivas, judiciais ou extrajudiciais, tais como: protestos, notificações, ação, etc.
Art. 5º, XXXV, CF. – A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
Modificação de direitos
Pode se dar com relação ao seu objeto, quanto à pessoa do sujeito e, muitas vezes, quanto a ambos os aspectos, sem que se altere a substância do direito.
Pode ser objetiva ou subjetiva:
Objetiva - há uma modificação quanto ao objeto do direito. Dividem-se em:
- Quantitativa – há um aumento ou diminuição do objeto. Ex: aluvião; perecimento total ou parcial de um bem.
- Qualitativa - há uma modificação quanto ao conteúdo do objeto. Ex: dação em pagamento.
Subjetiva - diz respeito à pessoa do seu titular. Pode dar-se inter vivos ou causa mortis. Ex: alienação, herança, etc.
Obs: Ressalte-se que há direitos que não comportam modificação subjetiva, a exemplo dos direitos personalíssimos que se extinguem com a morte do titular.
Extinção de DireitosDiversas são as formas pelas quais se extinguem os direitos. Por exemplo, pelo perecimento de seu objeto, pela renúncia, ou mesmo pela morte do seu titular.
DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
Definição: Toda a ação humana, resultante da declaração de vontade, voltada a atingir um fim específico, capaz de gerar efeitos lícitos. Logo, negócio jurídico é espécie do gênero fato jurídico.
Nos negócios jurídicos, a manifestação de vontade tem finalidade negocial. Buscam os agentes os efeitos jurídicos previstos em lei para o contrato celebrado.
CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
1.	Quanto ao número de declarantes ou manifestações de vontade:
Unilaterais – são os que se aperfeiçoam com uma única declaração de vontade. Ex.: testamento, renúncia, promessa de recompensa, procuração, confissão de dívida, etc.
	Subdividem-se em receptivos e não receptivos (vide Formas de declaração de vontade).
Bilaterais – são os que se perfazem com duas manifestações de vontade, coincidentes sobre o objeto.
Subdividem-se em:
Simples – são aqueles em que somente uma das partes aufere vantagens, enquanto a outra suporta os ônus / encargos. Ex.: doação pura, comodato.
Sinalagmáticos – conferem, reciprocamente, direitos e obrigações a ambas as partes. Há uma equivalência entre prestações e contraprestações. Ex.: compra e venda, locação, etc.
Plurilaterais – são aqueles que envolvem mais de duas partes. Ex.: contratos societários, consórcios.
2.	Quanto às vantagens patrimoniais que produzem: 
Gratuitos – uma das partes obtém benefícios ou vantagens sem qualquer contraprestação. Ex.: doação pura, comodato.
Onerosos – estabelecem ônus e conferem benefícios a ambas as partes. Em outras palavras: há sacrifícios é benefícios recíprocos. Ex.: compra e venda, empreitada, locação, etc.
Subdividem-se em:
Comutativos – possuem prestações equivalentes e certas / determinadas.
Aleatórios – caracterizam-se pela incerteza, para ambas as partes, sobre as vantagens e ônus do negócio, que dependem de um fato futuro e imprevisível. Ex.: contrato de seguro (art. 757 e seg., CC), aposta, jogo.
Neutros – não possuem atribuição patrimonial e por isso não são nem gratuitos nem onerosos. Têm por finalidade a destinação específica de um bem. Ex.: cláusula de inalienabilidade ou incomunicabilidade de um imóvel; instituição do bem de família;
Biformes – são aqueles que podem ser gratuitos ou onerosos, de acordo com a vontade das partes, sem que a configuração de uma ou outra modalidade invalide o negócio. Ex.: contrato de mútuo, o mandato, o depósito.
OBS: A conversão só é possível se o contrato é definido em lei como gratuito. Transformar um negócio oneroso em benéfico por vontade das partes subverteria sua natureza.
Observe-se, ainda, que nem todo contrato gratuito pode ser convertido em oneroso por vontade das partes, sob pena de serem desfigurados. Por exemplo, a doação e o comodato, transformar-se-iam, respectivamente, em venda e locação.
3.	Quanto ao momento em que produz seus efeitos:
Inter vivos;
Mortis causa – o evento morte é pressuposto necessário de sua eficácia. Ex.: testamento, legado.
OBS: E o seguro de vida ??? É negócio inter vivos. O evento morte funciona como termo.
4.	Quanto ao modo de existência:
Principais – são aqueles que tem existência própria, não dependendo de qualquer outro negócio. Ex.: compra e venda, permuta, locação, etc.
Acessórios – têm sua existência subordinada à do contrato principal. A natureza do acessório é a mesma do principal. Extinta a obrigação principal, extingue-se também a acessória, pois esta acompanha aquela (accessorium sequitur principale). Ex.: fiança, penhor, hipoteca.
5.	Quanto às formalidades:
Solenes (ou formais) – devem, para se aperfeiçoarem, obedecer a forma prescrita em lei para sua celebração.
Art. 108, CC – Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renuncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.
Outros exemplos: arts. 1.806 (renúncia de herança) e 1.864 (testamento público), CC.
Não solenes (ou de forma livre) – É a regra geral, salvo as expressas exceções definidas em lei.
Art. 107, CC – A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir.
	O rol classificatório acima não é exaustivo nem unânime entre a doutrina, havendo diferentes critérios.
A DECLARAÇÃO DE VONTADE
	A vontade é o elemento propulsor dos negócios jurídicos. Mais: é requisito de sua existência. A mera vontade que permanece interna não é suficiente para gerar negócio jurídico.
	Autonomia da vontade:
A autonomia da vontade consubstancia-se na capacidade do indivíduo de, através da manifestação de sua vontade, criar direitos e contrair obrigações. A declaração de vontade é, portanto, o instrumento pelo qual o indivíduo manifesta sua intenção, sendo elemento essencial ao negócio jurídico.
Prevalência do interesse público/coletivo sobre o privado:
A autonomia de vontade é limitada pelas regras de convívio social, pelo ordenamento jurídico, pela boa-fé objetiva e pela ordem pública.
A boa-fé objetiva (art. 113)
A boa-fé objetiva - atualmente adotado pelo novo código civil – é regra obrigatória de conduta. As partes contratantes devem se conduzir efetivamente como pessoas honestas.
Trata-se de cláusula implícita e geral.
Art. 113 CC –os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.
Art. 422 CC – os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
Formas de declaração da vontade:
	a) Expressa: feita através da palavra, falada ou escrita, e de gestos ou sinais que possibilitem o conhecimento imediato da intenção do agente. Ex.: sinal de ônibus.
	b) Tácita: aquela que se revela através do comportamento do agente. Suas condutas revelam a intenção. Ex.: aceitação da herança (art. 1.805, CC); ocupação (art. 1263, CC).
	c) Presumida: aquela deduzida por lei para certos comportamentos do agente. Ex.: arts. 322, 323, 324, 539 e 1.807, CC.
	d) Receptiva: quando se dirige a pessoa determinada, que deva ter conhecimento da intenção do declarante da vontade, sob pena de ineficácia do ato. Ex.: arts. 682, I c/c 686, CC / demissão de um funcionário.
	e) Não-receptiva: não se dirige a nenhum destinatário especial, produzindo seus efeitos independentemente de uma recepção. Ex.: promessa de recompensa, revogação de testamento.
	OBS: Difere-se a manifestação tácita da presumida pois esta é estabelecida por lei para certas atitudes do declarante, enquanto declaração tácita é deduzida pelo destinatário através do comportamento do declarante.
O Silêncio como manifestação de vontade:
	Via de regra, o silêncio não produz efeitos jurídicos. Não se aplica ao direito o provérbio “quem cala consente”.
Art. 111, CC - O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa.
Art. 539, CC – donatário que, ciente do prazo para manifestar-se, fica calado, presumindo-se que aceitou a doação (sem encargo).
Art. 299, p. único, CC – Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da dívida, interpretando-se o seu silencio como recusa.
Art. 303, CC – O adquirente de imóvel hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido; se o credor, notificado, não impugnar em trinta dias a transferência do débito, entender-se-á dado o assentimento.
A Reserva Mental:
Conceito:
	Ocorre quando o declarante oculta sua verdadeira intenção. Ou seja, manifesta vontade que não corresponde a sua real intençãocom o intuito de enganar o destinatário. Quer a declaração mas não o seu efeito, podendo, ora estar agindo de boa-fé, ora de má-fé.
	Exemplos: 1. amigo que empresta dinheiro a outro (contrato de mútuo), com intenção de evitar o seu suicídio. / 2. Testador que dispõe bem em favor de suposto devedor, em prejuízo de um de seus herdeiros. / 3. Empresa que utiliza fotografia de funcionário, supostamente para fins institucionais, em propagandas comerciais.
TEORIAS DO NEGÓCIO JURÍDICO
Teoria da Vontade Real - Nem sempre a vontade interna do agente coincide com a sua exteriorização. Para essa teoria o que importa é a vontade interna do agente. Assim, exteriorização da vontade só é válida quando coincidir com a intenção do agente em atingir determinado resultado. Havendo divergência entre a vontade e sua declaração, decide-se pela vontade.
Crítica: Extremamente subjetiva. Fragiliza a segurança jurídica do negócio, a qual só é obtida com parâmetros objetivos.
Teoria Objetivista ou da Declaração – Prevalência da declaração da vontade sobre a vontade interna do agente. Para essa teoria, basta a declaração de vontade para que o negócio jurídico seja válido. Pouco importa se o resultado atingido foi aquele pretendido pelo declarante. A declaração é o elemento constitutivo do negócio.
Crítica: Frente às novas formas de contrato, como por exemplo os contratos de adesão ou “de massa”, onde o contratante/consumidor, inúmeras vezes, se vê obrigado a “concordar” com todas as cláusulas impostas para obter a contraprestação desejada, nem sempre a vontade declarada poderá ser considerada válida.
Teoria da Confiança – Teoria adotada pelo nosso Código Civil. A manifestação de vontade, a priori, prevalece sobre a vontade real do declarante. Porém, não basta analisar o dissídio entre vontade e declaração apenas no ângulo de quem a emite. É preciso levar em conta também o comportamento de quem a recebe.
A teoria da confiança retrata bem os rumos da nova ordem jurídica, que se fasta do individualismo para melhor valorizar o interesse social. Daí porque vai além da tutela da vontade do declarante para se ocupar também do interesse daqueles que confiam na segurança das relações jurídicas e que, da mesma forma, devem concorrer para que ela se concretize.
Efeitos:
Art. 110, CC – A manifestação da vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento.
Logo, se o destinatário não tinha conhecimento da reserva, o negócio produzirá normalmente seus efeitos. Todavia, se sabia, o negócio é inválido.
Ou seja: prestigia a boa-fé, seja do declarante, seja do destinatário da vontade.
INTERPRETAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
Por vezes, o negócio jurídico não traduz exatamente a vontade das partes, dado a possibilidade de conter cláusulas obscuras, duvidosas ou ambíguas.
Interpretar o negócio jurídico é, portanto, precisar o sentido e alcance do conteúdo da declaração de vontade. Busca-se apurar a vontade concreta das partes, não a vontade interna, psicológica, mas a vontade objetiva, o conteúdo, as normas que nascem da sua declaração. (Francisco Amaral, Direito Civil, cit., p. 404)
Quando, no entanto, determinada cláusula mostra-se obscura e passível de dúvida, alegando um dos contratantes que não representa com fidelidade a vontade manifestada por ocasião da celebração da avença, e tal alegação está demonstrada, deve-se considerar como verdadeira esta última... (Carlos Roberto Gonçalves, Direito Civil Brasileiro, 7ª ed., p. 301)
O Código Civil contém apenas algumas poucas normas interpretativas dos negócios jurídicos, cabendo à doutrina e à jurisprudência as demais construções, senão vejamos:
Algumas normas expressas:
Art. 112, CC – Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.
Art. 113, CC – Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.
Art. 114, CC – Obs. Devem ser interpretados estritivamente porque importam em renúncia de direitos.
Art. 423, CC – Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente.
Art. 1.899, CC – Quando a cláusula testamentária for suscetível de interpretações diferentes, prevalecerá a que melhor assegure a observância da vontade do testador.
Art. 47 da Lei 8.078/90 - As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor.
Algumas regras práticas (doutrina e jurisp.):
Verifica-se, apropriadamente, a intenção dos contratantes através do modo pelo qual vinham executando o negócio, de comum acordo;
Nos casos de ambigüidade interpreta-se de conformidade com o costume do país;
Nas estipulações obrigacionais dever-se-á interpretar do modo menos oneroso para o devedor;
As cláusulas contratuais não devem ser interpretadas isoladamente, mas em conjunto com as demais;
Na cláusula suscetível de dois significados, interpretar-se-á em atenção ao que pode ser exeqüível (Princípio do aproveitamento).
EXISTÊNCIA - VALIDADE - EFICÁCIA
Distinguem-se no mundo jurídico os planos de existência, validade e eficácia dos negócios.
Quando se discute a existência de um negócio, analisam-se os seus elementos constitutivos. Não se discute nesse plano sua validade ou eficácia. Um negócio pode existir e não ser válido. Logo, a validade ou invalidade de um negócio pressupõe a sua existência.
Verificada a existência, passamos ao plano da validade, onde analisam-se os requisitos do negócio jurídico, sendo tais requisitos necessários para que se atinja o fim perquirido, ou seja, para que o negócio produza seus efeitos, conferindo-lhe, assim, eficácia.
Da mesma forma, pode existir, ser válido, mas não alcançar seus efeitos, não possuindo, portanto, eficácia. Logo, no plano da eficácia identificamos a produção dos efeitos dos negócios jurídicos.
Embora os elementos do negócio jurídico sejam as partes que compõem sua estrutura, e os requisitos, as qualidades desses elementos, a doutrina não distingue elementos de requisitos, empregando freqüentemente os termos como sinônimos. (Carlos Roberto Gonçalves, Direito Civil Brasileiro, 7ª ed., p. 311)
Pressupostos
 de existência Agente Objeto Forma
 ↓ ↓ ↓ 
Pressupostos Capaz Lícito, possível, Prescrita ou 
 de validade e determinável não defesa em lei
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS OU ESTRUTURAIS DO NEGÓCIO JURÍDICO
PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA
	A expressão “inexistente” reflete, na realidade, o caráter absolutamente não jurídico do ato, pois embora sob o ponto de vista fático o ato possa existir, o mesmo não tem existência para o direito. (José Acir Lessa Giordani, Curso Básico de Direito Civil, 2ª ed., p. 183)
 Agente emissor de vontade – Na verdade, deve haver declaração de vontade que, como vimos, é a exteriorização da vontade interna. Sem vontade, negócio não há !
Idoneidade do objeto – Significa dizer que o objeto deve apresentar os requisitos ou qualidades que a lei exige para que o negócio produza os efeitos desejados. Ou seja, é a possibilidade da coisa servir como objeto para a celebração de determinado negócio.
Exemplos:
Art. 1.473, CC – Podem ser objeto de hipoteca: imóvel, navio ou avião.
Art. 579, CC – Comodato é o empréstimo gratuito de coisas não fungíveis.
Art. 586, CC – O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis.
Contrato de Locação – bem deve ser infungível.
Forma – Deve se atentar para a forma, através da emissão de vontade em uma de seus meios de declaração (expressa, tácita, etc.).ELEMENTOS ESSENCIAIS DO NEGÓCIO JURÍDICO
PRESSUPOSTOS OU REQUISITOS DE VALIDADE
Aqueles elementos que, como o próprio nome já diz, são essenciais e indispensáveis à validade do negócio. Dividem-se em : gerais e especial.
GERAIS = São aqueles comuns a todos os negócios:
1. Declaração de vontade (livre e de boa-fé) - Consentimento;
2.Capacidade civil do agente;
3.Objeto lícito, possível e determinado ou determinável;
ESPECIAL = Presente nos negócios solenes.
4. Forma prescrita ou não defesa em lei.
ART. 104, CC – A validade do negócio jurídico requer:
I – agente capaz; Condição subjetiva de validade. O agente deve possuir capacidade de fato, ou seja, de pessoalmente praticar os atos da vida civil, contraindo obrigações e exercendo direitos.
Atendimento: Verifica-se no momento da celebração do negócio. A capacidade superveniente à prática do ato não é suficiente para sua validação. Da mesma forma, a incapacidade que sobrevém ao ato não o vicia.
Art. 3º - Incapa. absoluta = Nulo (art. 166, I, CC)
Art. 4º - Incapa. relativa = Anulável (art. 171, I, CC)
Art. 105, CC.
Art. 180, CC.
OBS: Capacidade ≠ Legitimação: Legitimação é a capacidade para agir regularmente em determinada situação jurídica. É o poder agir de uma pessoa frente a determinado bem ou interesse, sem a existência de impedimentos ou restrições legais para o negócio almejado.
Exemplos: 1. O falido não pode dispor de bens da massa; 2. O tutor não pode adquirir bens confiados à sua gestão; 3. O marido não pode vender imóvel do casal, sem o consentimento da esposa.
II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
Para que o negócio jurídico se repute perfeito e válido deverá versar sobre objeto lícito, ou seja, conforme a lei, não sendo contrário aos bons costumes, à ordem pública e à moral. (Maria Helena Diniz, p. 462)
Exemplos: 1. Contrato de prestação de serviços sexuais. 2. Compra e venda de terreno na Lua ou de objeto roubado. 3. Venda de herança de pessoa viva. 4. Volta ao mundo em duas horas.
III – forma prescrita ou não defesa em lei.
Quando a forma é exigida como condição de validade do negócio, ou seja, quando constitui a própria substância do ato, sua inobservância acarreta a invalidade do negócio.
Arts. 107, 108, 109 e166, IV e V, CC.
DA REPRESENTAÇÃO
Supre-se a incapacidade absoluta e relativa, respectivamente, através dos institutos da representação e da assistência.
Espécies de Representação: Legal ou Convencional
Art. 115, CC – Os poderes de representação conferem-se por lei ou pelo interessado.
Representação Legal: Conferida pela Lei, constitui verdadeiro ônus para o representante.
Exemplos: 1. Representação dos pais (art. 1.634, V, e 1.690 CC). 2. Tutela e Curatela (arts. 1728 e seg., CC). 3. Nomeação de advogado dativo.
Representação Convencional: Instituída pela vontade das partes, onde alguém confere a outrem poderes para agir em seu nome e intervir em determinado negócio jurídico. Materializa-se através do contrato de mandato (procuração), sendo regrada pelos arts. 653 e seguintes do Código Civil.
Exemplos: 1. Mandato (art. 653, CC). 2. Contrato de agenciamento.
- Efeitos da representação: art. 116, CC.
- Dever do representante: art. 118,CC.
- Conflito de interesse: art. 119, CC.
Contrato consigo mesmo ou Autocontrato – Art. 117, CC:
Ocorre quando o representante celebra negócio jurídico onde, ao mesmo tempo, age em nome do representado e em nome próprio.
Ex: Paulo dá a Maria poderes para que negocie a venda de seu imóvel. Maria, interessada no imóvel adquire-o, celebrando contrato consigo mesma já que a outra parte (Paulo) é representado por ela própria.
ELEMENTOS ACIDENTAIS DO NEGÓCIO JURÍDICO – Arts. 121 a 137
Os elementos acidentais influem no plano da eficácia dos negócios jurídicos, ou seja, no momento da produção dos seus efeitos. São fatores modificadores dos efeitos naturais de um negócio, que podem ou não estar inseridos através de cláusulas. Limitam ou restringem a eficácia do negócio.
São eles a condição, o termo e o encargo.
CONDIÇÃO
Conceito – Art. 121, CC: 
É o acontecimento futuro e incerto a que se subordina a eficácia do negócio jurídico. Ou seja, o nascimento, modificação ou extinção de um direito (efeitos) condicionam-se, por vontade exclusiva das partes, à ocorrência de um acontecimento futuro E incerto.
Elementos ou requisitos da condição:
1. declaração voluntária das partes – a condição deve ser voluntariamente estabelecida pelas partes.
2. futuridade do evento – deve o evento ser futuro. Em se tratando de fato passado ou presente, ainda que ignorado pelas partes, não se considera condição.
“É oportuno citar o exemplo de Spencer Vampré: Prometo certa quantia se premiado foi o meu bilhete de loteria que ontem ocorreu. Aí de duas uma: ou o bilhete não foi premiado – e a declaração é ineficaz; ou o foi - e a obrigação é pura e simples (e não condicional).�
3. incerteza do evento – A incerteza deve ser objetiva, ou seja, não basta que exista na mente dos contratantes, mas na realidade.
Classificação das condições:
1.	Quanto à licitude – lícitas ou ilícitas:
Art. 122, 1ª parte, CC.- tem-se, portanto, o princípio da liberdade de condicionar um negócio, salvo se ilícito o objeto da obrigação.
Obs: as cláusulas que restringem a liberdade individual de uma pessoa serão ilícitas se absolutas (Ex: proibição de se casar; obrigatoriedade de mudar de religião ou de sair do país.); se relativas, reputam-se válidas, como por exemplo, a proibição de se casar com determinada pessoa.
Condições perplexas, incompreensíveis ou contraditórias (art. 122, 2ª parte) – são aquelas que privam de todo o efeito o negocio jurídico celebrado.
Ex: 1. Vendo-te o imóvel desde que não o ocupe. 2. Te dou R$ 1.000,00 desde que não gaste-o.
2.	Quanto ao modo de atuação – suspensivas ou resolutivas:
Condição suspensiva – art. 125 – aquela que condiciona os efeitos (eficácia) do negócio à realização de um evento incerto e futuro. Gera para o credor condicional, apenas uma expectativa de direito enquanto não se verificar a ocorrência da condição.
Ex: 1. te dou um carro, se for aprovado no exame da ordem. 2. Comprarei sua casa se for contratado na empresa.
Art. 126 – Trata-se de norma de proteção ao credor condicional, em vista da sua justa expectativa em relação ao direito, a qual não pode ser frustrada. (Ver art. 1.359, CC).
Ex: Doação feita sob condição suspensiva e posterior oferecimento do mesmo bem a terceiro em penhor. Realizada a condição extingue-se o penhor e pode o credor condicional exigir seu direito.
Condição resolutiva – art.127 – o negócio tem eficácia desde o momento da sua celebração, tendo seu fim condicionado à realização de um evento incerto e futuro. Ocorrendo a condição, o negócio perde sua eficácia. O adquirente do direito permanecerá com ele se, e até quando, a condição ocorrer.
Regra geral: art. 128, 1ª parte – Princípio da retroatividade das condições – efeitos ex tunc 
Exemplos: 1. Te vendo meu carro desde que não saia com ele desta cidade. 2. Te empresto meu apartamento desde que não pare de me visitar.
Obs: Exceções: Prestações continuadas ou periódicas (também chamadas de trato sucessivo) – efeito ex nunc, salvo disposição das partes em contrário. Ex: contrato de locação;
Direitos reais – não se aplica também a retroatividade da condição suspensiva ao direitos reais, uma vez que o direito só é transferido com a tradição da coisa (art. 1.225, CC). Ex: Te dou um apartamento. Mas se abandonar o emprego terá que me restituí-lo.
3.	Quanto à possibilidade – possíveis ou impossíveis, física ou juridicamente.
Fisicamente impossíveis – não podem ser cumpridas fisicamente por nenhum ser humano.
Exemplo: Se saltar e atingir o 8º andar, te dou meu relógio.
Juridicamente impossíveis –não podem se concretizar por serem contrárias à lei, esbarrando em determinação do ordenamento jurídico ou ferindo a moral e os bons costumes. Parte da doutrina considera que em nada diferem das obrigações ilícitas posto que, aquilo que é juridicamente impossível o é em virtude de sua ilicitude.
Exemplos: 1. Alienar uma praça pública, bem de todos, se conseguires ao menos dez interessados no negócio. 2. Negociar herança de pessoa viva.
4.	Quanto à origem – causais, potestativas ou mistas:
Causais – aqueles que dependem do acaso, de fato alheio à vontade das partes (caso fortuito e força maior), ou ainda, que dependa da vontade exclusiva de terceiro.
Exemplos: 1. Te dou meu carro se fizer sol amanha. 2. Te pagarei com minha colheita caso chova na horta. 3. Se Pedro me pagar, compro seu cavalo.
Puramente potestativas (art. 122, 2ª parte)– Aqueles que derivam do exclusivo arbítrio de uma das partes, de seu mero capricho, sem a influencia de qualquer fator externo. A exemplo, as expressões “se eu quiser”, “caso seja do interesse deste declarante” ...
Simplesmente potestativas – não dependem exclusivamente da vontade de uma das partes, havendo um grau de dependência de algum fator ou circunstância externa. Por isso são tidas como válidas.
Exemplos: 1. Te dou R$ se vencer a corrida. 2. Se for à Itália, te dou meu casaco.
Mistas – aquelas que dependem simultaneamente da vontade de uma das partes e da vontade de um terceiro.
Exemplo: 1. Te dou esse apartamento se casar com Helena. 2. Darei o capital se formar sociedade com Maira.
Efeitos: As condições impossíveis, quando suspensivas, invalidam o negócio jurídico. Quando resolutivas, tem-se como inexistentes. (arts. 123, I, c/c 124)
Art. 123 – Invalidade das condições.
Art. 124 – O que se reputa inexistente é a clausula condicional e não o negócio a ela relacionado.
Como exemplo, o ato de emprestar um bem a um condenado a prisão perpétua até que ele saia da cadeia. Tal condição nunca ocorrerá e o que se pode abstrair da vontade real do agente era o ato de doação pura. Do mesmo modo, o ato de doar um bem com a condição de que o donatário não dê a volta ao mundo em 2 dias. (deixar de fazer coisa impossível)
Má-fé quanto ao implemento: Art. 129 – Exemplo: Te pago desde que as ações da Vale atingirem R$. Havendo manipulação para que o valor não seja atingido, caracterizada está a malicia do devedor condicional no implemento da condição.
Art. 130 – permitida a prática de atos de conservação e guarda.
Negócios jurídicos que não admitem condição
Não são admitidas na aceitação e renúncia da herança (art. 1.808, CC), nos direitos de família puros, nos direitos personalíssimos, nos atos jurídicos em sentido estrito (ex: casamento, reconhecimento de filho, adoção, aceitação de tutela ou curatela, etc)
TERMO
Conceito: É dia ou o momento em que se inicia ou se extingue a eficácia de negócio jurídico.
Características: Futuridade e certeza.
Espécies:
Termo convencional – é a cláusula imposta por vontade das partes.
Termo de direito – é o que decorre da lei.
Termo de graça – é a dilação de prazo concedida ao devedor (de boa-fé) por determinação judicial, para que cumpra voluntariamente sua obrigação.
Termo certo ou incerto – É certo aquele com data ou lapso temporal pré-determinado. Ex.: Prazo de duração de um contrato.
Incerto aquele que, embora certo quanto à sua ocorrência, não se pode precisar o momento exato em que irá acontecer. Ex.: doação mediante o falecimento.
Termo inicial ou suspensivo – art.131 (dies a quo) – fixa o momento para o início da produção dos efeitos do negócio.
Ao contrário da condição suspensiva, que suspende a eficácia e a própria aquisição do direito, gerando para o credor condicional apenas expectativa desse direito, o termo inicial suspende apenas o exercício do direito, o qual é adquirido desde o momento da realização do negócio.
Ex: o contrato de locação terá início no verão.
Termo final ou resolutivo (dies ad quem) – determina o momento para a cessação dos efeitos do negócio.
Ex.: Prestação de serviço de vigilância por 1 ano.
OBS: Art. 135 – aplicação, no que couber, das regras das condições ao termo:
Como exemplo, a aplicação do art. 123, I, CC: o termo suspensivo impossível é considerado invalido, pois demonstra a falta de vontade da parte de obrigar-se, gerando a nulidade do negócio.
Ex: contrato de prestação de serviço de aquecimento residencial com previsão de início no dia em que nevar no Rio de Janeiro.
E também, a inexistência do termo resolutivo impossível (vide art. 124), que demonstra a vontade das partes em não rescindir o negócio.
Ex: contrato de locação com termo final no dia 31 de fevereiro (dia impossível).
OBS: Há negócios que não admitem termo, com a renúncia da herança (art. 1.808, CC).
PRAZO
É o lapso temporal entre a manifestação de vontade e o advento do termo. Não se confunde com o termo que é o momento do término ou início da produção dos efeitos do negócio celebrado.
Contagem do prazo:Art. 132, CC
Art. 133, CC – a presunção do prazo milita em favor do herdeiro (entenda-se herdeiro na qualidade de devedor de um legado deixado a terceiro pelo de cujos) ou do devedor. 
Significa dizer que é facultado ao herdeiro-devedor entregar o legado antes do termo, bem como ao devedor quitar a dívida antes do vencimento, independentemente da aceitação do credor. Todavia o contrário não é permitido, não podendo o credor exigir seu crédito antes da ocorrência do termo.
Nos contratos é facultado as partes estipularem os prazos em benefício do credor ou de ambos.
Art. 134, CC – norma supletiva, aplicada somente no silêncio das partes. Não havendo prazo estipulado, são exeqüíveis desde logo os negócios inter vivos, salvo se tiverem que ser realizados em local diverso ou pela natureza, demandem tempo.
Ex: contrato de transporte de carga; empreitada de obra; contrato por lavoura ou colheita.
“A exceção prevista no art. 134 do Código Civil trata de prazo tácito, pois decorre da natureza do negócio ou das circunstâncias. P. ex.: na compra de uma safra de laranja, o prazo será a época da colheita, mesmo que não tenha sido estipulado; no transporte de uma mercadoria de São Paulo a Manaus, mesmo que não haja prazo, mister será um espaço de tempo para que seja possível a efetivação da referida entrega no local designado.” (Maria Helena Diniz, p. 163)
ENCARGO OU MODO
Conceito: É a determinação imposta em negócios jurídicos gratuitos, por quem pratica ato de liberalidade (doações, testamentos), restringindo–a através de uma obrigação fixada para o beneficiário.
“Modo ou encargo é uma determinação acessória incidental do negócio jurídico que impõe ao beneficiário um ônus a ser cumprido, em prol de uma liberalidade (gratuidade) maior.”
Exemplo: doação de terreno para que seja construída uma creche.
Admissível também em declarações unilaterais de vontade, como na promessa de recompensa. Exemplo: promessa de prêmio, onde o contemplado tem o encargo de participar de ações sociais.
Não é admissível em negócios onerosos, pois, obviamente, o encargo equivaleria a uma contraprestação.
Obrigatoriedade: O encargo tem como característica principal sua obrigatoriedade. (art. 553, CC)
Ação Revocatória
Art. 555 – revogação da doação por inexecução do encargo.
Necessário citar que o autor da liberalidade, seus herdeiros (quando o autor tiver morrido e já tiver proposto a ação revocatória), ou o Ministério Público (nos casos do parágrafo único do artigo 553 do CC, quando o encargo for de interesse público), podem cobrar a obrigação do destinatário da liberalidade, ou, ainda, requerer a revogação da doação.
Ação Cominatória
No entanto, o terceiro beneficiário do encargo relativo à negócio jurídico celebrado entre A e B não pode pedir a revogação do referido negócio pelo descumprimentodo encargo, mas, tão somente, exigir que o mesmo seja cumprido (mediante ação cominatória).
Exemplo: Suponhamos que eu diga que dôo um apartamento para João desde que ele ajude mensalmente, por dois anos, com duas cestas básicas mensais ao Asilo São Vicente de Paula. Os responsáveis pelo asilo somente poderão exigir o cumprimento da liberalidade daquele que se beneficiou do encargo, e não a revogação da doação.
Há que se ressaltar, ainda, que mesmo nos casos em que a liberalidade com encargo foi prevista em testamento, é possível que os herdeiros e o Ministério Público exijam o encargo do beneficiário, sob pena da revogação da gratuidade/liberalidade.
Art. 136 – Regra Geral: O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito. Ou seja, é cláusula anexa ao negócio cuja a aquisição e o exercício do direito a que visa não dependem do seu cumprimento.
Exceção: Encargo como condição suspensiva: 
Exemplo: Terá que me levar à igreja todos os domingos se quiser receber a doação do meu colar de brilhante.
Art. 137 – encargos ilícitos ou impossíveis são considerados inexistentes sempre que não forem o motivo determinante do negócio. Note-se que é inexistente a cláusula do encargo, sendo o negócio plenamente válido e puro. Mas se foram o motivo principal ou determinante da liberalidade estabelecida, invalidam-na. Caberá ao juiz, na análise caso a caso, decidir qual foi o motivo determinante.
Ex: doação de uma casa para que seja construído um cassino.
Encargo suspensivo ≠ Condição suspensiva:
O que difere o encargo (como condição suspensiva) da condição suspensiva em si, é que ninguém pode ser obrigado a cumprir uma condição (lembre-se, evento futuro e incerto), ao contrário do encargo que é coercitivo podendo ser exigido pelo instituidor.
Encargo ≠ Condição Resolutiva:
O encargo difere da condição resolutiva porque nesta extingue-se os efeitos do negócio jurídico, enquanto no encargo (caso não cumprido) o instituidor do benefício poderá ou não cobrá-lo ou revogá-lo, ou seja, poderá ou não propor ação cominatória ou revocatória.
Logo, a liberalidade prevalecerá, caso não seja exigido o cumprimento do encargo pelo seu instituidor.
DOS DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
São as imperfeições oriundas da declaração de vontade ou da intenção de lesar terceiros intencionalmente, que irão acarretar, ora a nulidade, ora a anulabilidade do negócio jurídico. Dividem-se em:
Vícios de consentimento – incidem sobre a vontade que não é manifestada de forma livre ou de boa-fé: erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão.
Vícios sociais – Fraude contra credores e Simulação.
VÍCIOS DE CONSENTIMENTO
1. ERRO OU IGNORÂNCIA
Conceito: Consiste numa falso conhecimento das circunstâncias, numa noção inexata e não verdadeira da realidade que, caso fosse do conhecimento do agente, não teria manifestado sua vontade. 
O agente engana-se sozinho, “sendo levado a praticar ato ou realizar negócio que não celebraria por certo, ou que praticaria em circunstâncias diversas, se estivesse devidamente esclarecido.” (Washington de Barros Monteiro, Curso de direito civil, v. 1, p. 195)
Art. 138 – erro tem que ser substancial e escusável (perdoável):
Erro substancial e Erro acidental:
Susbstancial - incide sobre as circunstâncias e os aspectos relevantes ao negócio.
Acidental – incide sobre circunstâncias secundárias da pessoa ou objeto, não invalidando o negócio que teria se realizado da mesma forma, caso se tivesse conhecimento do mesmo. Ex: erro sobre o estado civil da pessoa, ou sobre sua idade.
art. 139, CC – O erro é substancial quando:
Erros de fato:
São quatro os tipos de erros de fato:
1 – error in negocio – incide sobre a natureza do negócio, onde uma das partes celebra um determinado negócio pensando estar celebrando outro diferente.
Exemplo: pessoa entende estar emprestando (contrato de comodato) ou vendendo e a outra pensa tratar-se de doação;
2 – error in corpore – incide sobre a identidade do objeto.a manifestação de vontade recai sobre objeto diverso do pretendido pelo agente
Exemplos: 1. pensa comprar um quadro de Monet quando trata-se de outro pintor; 2. adquire-se um lote de terreno que pensa estar localizado em área nobre, quando trata-se de rua com o mesmo nome em local desvalorizado. 3. arremato em leilão o boi A e acabo levando o boi B.
3 – error in substancia – versa sobre a essência da coisa, de suas qualidades reputadas essências pelo declarante da vontade.
Exemplos: 1. Adquire-se anel de cobre, pensando tratar-se de ouro. 2. Compra quadro do Monet pensando ser original, mas trata-se de réplica. 3. Compra um cavalo de salto, pensando ser de corrida.
4 – error in persona – refere-se tanto à identidade quanto às qualidades de determinada pessoa.
Exemplos: 1. Doar quantia a A pensando ser o salvador de sua família. 2. Casamento de uma moça de boa educação e índole com marido que pensava ser íntegro e honesto. 3. Negócio celebrado com homônimo daquela com quem de fato gostaria de ter celebrado.
Erro de direito ou error juris – Não havendo por parte do agente a intenção de descumprir a lei, mas sim de evitar os efeitos do negócio através de sua anulação, e estando ainda agindo de boa-fé, admite-se, excepcionalmente, que o erro de direito seja causa de anulabilidade.
Exemplos: 1. pessoa importa determinada substância ignorando existir lei que proíbe tal importação. 2. “A” adquire de “B” um lote de terreno desconhecendo que a lei local proibira o loteamento naquela região.
Art. 3º, LICC – “Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.” Significa que não se pode alegar o desconhecimento da lei com a intenção de burlá-la.
Erro escusável – art. 138, 2ª parte:
Aquele erro justificável, perdoável, levando-se em conta as características pessoais do agente em cada caso. O Código adotou como parâmetro o critério abstrato do “homem médio”, para sua averiguação.
Crítica da doutrina: homem médio (“pessoa de diligência normal”) ou características pessoais do agente no caso concreto ???
Exemplo: compra e venda de uma jóia falsa pode ser um erro escusável para um particular, mas jamais para um especialista em tal comércio.
Art. 140, CC – falso motivo. Motivos são as razões psicológicas e subjetivas que levam uma pessoa a realizar um negócio. Não precisam ser declarados pelas partes sendo, em regra, irrelevante para a apreciação da validade do negócio. Inúmeros podem ser os motivos do alienante, por exemplo, na venda de um imóvel: necessidade de capital, dar de presente a alguém, gerar renda com sua locação, etc.
Exemplo: 1. Se alguém faz uma doação, pensando ser a pessoa beneficiada quem lhe salvou a vida, quando não o era, fazendo constar como razão expressa do negócio. 2. Se A comprou de B um terreno, para construir edifício residencial, do qual promete vender a B o décimo andar, e após, constrói edifício comercial ou não lhe vende o décimo andar.
Art. 144, CC – Convalescimento do erro – Princípio da conservação dos negócios jurídicos. Não há nulidade sem que haja prejuízo a uma das partes.
Exemplo: Paulo pensa que comprou o lote n°. 1 da quadra A, quando, na verdade, adquiriu o n°. 1 da quadra B. Trata-se de erro substancial (in corpore) que a princípio anularia o negócio. Mas antes de ser anulado, o vendedor, percebendo a real vontade de Paulo, lhe entrega o lote n°. 1 da quadra A.
2. DO DOLO
Conceito: Dolo é o artifício ou expediente astucioso, empregado para induzir alguém à pratica de um ato que o prejudica e aproveita ao autor do dolo ou a terceiro. (Clóvis Beviláqua, Comentários ao Código Civil, v.1, p. 363)
Em sentido amplo, é todo artifício empregado para enganar alguém.
Enquanto o erro é espontâneo, derivando de equivoco do próprio autor, que se torna vítima de seu erro, o dolo é intencional, sendo provocado por seu autor ou por terceiro para induzira vítima à prática de ato que lhe é prejudicial.
Espécies:
a) Dolus bonus ou dolus malus:
Dolus bonus, ou dolo tolerável, é aquele destituído de gravidade, não suficiente para viciar o consentimento do outro e, por conseguinte incapaz de tornar o negócio anulável. Comum nas práticas do comércio, onde os vendedores exaltam as qualidades de suas mercadorias.
Exemplos: “Shoptime”, “011-1406”
OBS: Código de defesa do consumidor: proibição de publicidade enganosa ou abusiva. (Ex: Facas guinsu X Meias Vivarina)
Também é considerado dolus bonus o fato de alguém, propositalmente, frustra o plano de um inimigo ou assassino. Ou ainda, quando alguém dolosamente induz outrem a tomar um remédio que se recusa a ingerir, quando tal remédio lhe é necessário.
Dolus malus é aquele revestido de gravidade, exercido com o intuito de ludibriar e prejudicar alguém, ensejando, portanto, a anulabilidade do negócio, ou o dever de indenizar as perdas e danos, conforme sua gravidade. É esta espécie de dolo que trata o Código Civil.
OBS: Análise caso a caso – Oportuno que se esclareça que a lei não distingue essas duas espécies de dolo, cabendo ao juiz, na análise do caso concreto, decidir se o agente excedeu ou não o limite da razoabilidade.
b) Dolo principal – art. 145, CC – somente quando o dolo é a causa motivadora do negócio, ou seja, o negócio só se realiza porque uma das partes maliciosamente induziu a outra a consentir, será passível de anulação.
c) Dolo acidental – art. 146, CC – Ocorre quando a vítima é levada a realizar o negócio em condição que lhe é mais onerosa ou menos vantajosa. Não enseja a anulação do negócio, pois esse se realizaria da mesma forma, porém em condições justas; mas obriga quem agiu dolosamente a ressarcir as perdas e danos causados ao outro.
Exemplo: Alguém induz outrem a adquirir um bem por R$ 100.000,00, quando na verdade, vale R$ 50.000,00.
d) Dolo positivo (comissivo) ou Dolo negativo (omissivo):
É positivo quando deriva de ação dolosa do agente, com a intenção de enganar outrem.
Art. 147 - O dolo negativo, ou omissão dolosa, configura-se pelo silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato do negócio ou qualidade do objeto, que se fosse do conhecimento do outro contratante, este não realizaria o negócio. Ou seja, o omissão beneficia seu próprio autor.
Exemplos: 1. segurado que oculta dolosamente doença pré-existente quando da adesão ao plano de saúde. 2. Alienante de imóvel que oculta a existência de fissuras no prédio. 3. O vendedor de um pomar de laranjas que oculta estarem os frutos atacados por uma praga. 4. Vendedor de veículo que oculta já ter sido o mesmo reformado em razão de batida que lhe comprometeu o chassi.
e) Dolo de terceiro – art. 148: somente ensejará a anulação do negócio se a parte a quem aproveita dele tivesse ou devesse ter conhecimento do dolo. Nesse caso, sabendo o beneficiário da atitude dolosa do terceiro, e não alertando a outra parte a respeito, torna-se cúmplice, respondendo pela sua má-fé.
Entretanto, se o beneficiário não sabia nem tinha como saber, persiste o negócio, respondendo o terceiro que agiu dolosamente pelas perdas e danos causados. Cabe à parte lesada requerer a anulação ou pleitear o ressarcimento.
Exemplo: se o adquirente é influenciado por um terceiro de que a jóia que está querendo comprar é rara, ou de ouro quando não é, e o vendedor, escutando o artifício, não alerta o comprador, o negócio é anulável. Mas se o vendedor não sabia nem podia presumir o dolo do terceiro, responde este pelas perdas e danos causadas ao comprador.
f) Dolo do representante – art. 149:
Representante legal (pais, tutores ou curadores) – enseja a reparação do dano pelo representado, limitada pelo proveito que obteve.
Representação convencional (mandatário ou procurador) – por ser uma opção do representado, que tem a liberdade de escolher e nomear a pessoa que irá lhe representar, responderá solidariamente com este em caso de dolo, cabendo ação regressiva contra o representante para reaver o prejuízo.
g) Dolo bilateral – art. 150: não pode ser argüido por nenhuma das partes; não havendo boa-fé a ser protegida, não há que se falar em anulação. Ademais, vale lembrar, “o torpe não pode se beneficiar da própria torpeza”.
3. COAÇÃO
Conceito: É toda ameaça ou violência injusta exercida sobre um indivíduo, capaz de forçá-lo a realizar um negócio jurídico contra a sua vontade.
Espécies:
Coação física ou absoluta – nessa espécie de coação, a vítima não manifesta qualquer consentimento ou vontade. O negócio só é celebrado porque houve emprego de força física, não restando qualquer alternativa a vítima. Logo, não havendo manifestação de vontade, tal negócio é inexistente.
Exemplo: “A” utiliza força física para que “B” assine um contrato, segurando seu braço e colocando-o sobre o local da assinatura.
Coação moral ou relativa – é a coação psicológica, capaz de ensejar a invalidade (anulabilidade) do negócio jurídico. Nesta espécie, a vítima pode optar entre praticar o ato exigido mediante a coação, ou correr os riscos e conseqüências da ameaça que lhe foi feita. Esta coação causa na vítima um temor constante e capaz de perturbar seu espírito, fazendo com que ela manifeste seu consentimento de maneira viciada.
Exemplo: “Assina esse contrato senão eu vou por fogo no seu carro”.
Coação principal X Coação acidental – Apesar do Código Civil não fazer essa distinção, a doutrina entende, assim como no dolo, haver coação principal (causa determinante da celebração do negócio) e coação acidental (o negócio seria celebrado com o sem a coação, porém em condições menos desfavoráveis à vítima), sendo passível de anulação somente quando principal, e resolvendo-se em perdas e danos quando for acidental.
Requisitos da coação - Art. 151, CC:
Violência psicológica;
Causa determinante do ato (coação principal) – Deve a coação ser a causa motivadora do negócio jurídico. Cabe à vítima provar o nexo de causalidade entre a coação e a manifestação viciada de sua vontade para pleitear a anulação do negócio;
Gravidade da ameaça – a coação deve ser grave, efetivamente capaz de atribuir à vítima fundado medo dos efeitos que possa incorrer, caso não atenda ao causador da coação.
Critério concreto para aferição da gravidade: Art. 152, CC:
Para verificar se houve ou não gravidade na ameaça o Código Civil adotou, expressamente, o critério concreto/objetivo. Ou seja, devem ser analisadas as características pessoais e particulares da vítima no caso concreto. Por exemplo: um ato incapaz de abalar/amedrontar um homem jovem e saudável pode ser suficiente para aterrorizar uma senhora de idade indefesa.
OBS: Diferentemente do critério subjetivo do “homem médio” adotado pelo Código para avaliação do Erro (art. 138).
Deve ser injusta: Art. 153, CC – Ou seja, deve ser ilícita, contrária ao direito, ou abusiva. Assim, a ameaça consistente no regular exercício de um direito não pode ser considerada coação.
Exemplo: 1. A ameaça feita por um credor, de levar a leilão um bem do devedor penhorado, ou executar a dívida caso não pague. 2. Ameaça de abertura de inquérito policial.
Note-se que o direito deve ser exercido de forma regular e não abusiva, sob pena de se configurar a coação. Como exemplo de abuso do exercício do direito: 1. O credor que ameaça executar o devedor, caso este não lhe venda seu carro por um valor irrisório. 2. Alguém que flagra uma pessoa praticando um crime e ameaça denunciá-la caso não celebre determinado negócio. 3. O credor que expõe o devedor a situação constrangedora/vergonhosa ao cobrar a dívida.
Temor reverencial – consiste no natural receio que uma pessoa tem de desagradar alguém por quem tenha respeito ou deva obediência, tais como os pais em relação aos filhos, o marido em relação à mulher e vice versa, e os superiores hierárquicos. Dessa forma, a alegação do filho, empregado ou soldado, por exemplo, de que teria celebrado negóciopor medo de desgostar, respectivamente, seus pais, patrão ou coronel, não é considerada coação.
Todavia, o temor reverencial acompanhado de ameaças ou violências, constitui vício de consentimento apto a ensejar a anulação do negócio. Ainda; se as ameaças provierem de pessoas que, por sua situação inspirem respeito ou obediência, não necessitarão sequer estar revestidas do requisito “gravidade” pois, o temor reverencial é, por si só, um agravante da coação exercida.
Como exemplo, o fato do pai coagir sua filha, mediante ameaças de castigo, a se casar com determinada pessoa. Ou as ameaças feitas pelo patrão ao seu empregado.
Dano atual ou iminente – a ameaça deve ser atual e inevitável. A ameaça de um mal impossível, remoto ou evitável, não configura coação capaz de viciar o negócio. Havendo tempo hábil entre o momento da ameaça e os efeitos nela contidos para que a pessoa possa evitá-la, não se configura também a coação.
Dano à sua pessoa, família ou bens – deve o termo família ser interpretado de forma ampla, compreendendo não só aqueles ligados por laços sanguíneos, mas também por afinidade.
Art. 151, p. único – o juiz decidira caso a caso.
OBS: Coação exercida por sua própria vítima – Há doutrinadores que também consideram haver coação quando o mal se destina ao próprio coator. Como exemplo, a ameaça do filho de suicidar-se para obter do pai determinada anuência ou a prática de algum ato.
Coação de terceiro – Art. 154 e 155, CC: Só vicia o negócio jurídico se a parte que dela se beneficiou teve ou devesse ter conhecimento da coação exercida pelo terceiro, respondendo, nesse caso, solidariamente com o coator. Caso contrário, responderá somente o coator por todas as perdas e danos causados ao coacto.
4. ESTADO DE PERIGO – Art. 156, CC
Conceito: Constitui estado de perigo a situação de extrema necessidade, de alguém salvar-se ou salvar familiar de grave dano conhecido pela outra parte, fazendo com que celebre negócio jurídico em condições que lhes são excessivamente desproporcionais ou exorbitantes.
Exemplos: 1. O náufrago que promete recompensar com todo o seu patrimônio aquele que lhe salvar a vida. 2. O pai que, para salvar a vida do seu filho aceita a proposta de qualquer valor exigido pelos médicos-cirurgiões. 3. A assinatura de confissão de dívida ou prestação de fiança para conseguir a internação no hospital em situação de emergência. 4. Os pais que, para obter a quantia do resgate exigida pelos seqüestradores de seu filho, realizam negócios extremamente onerosos. 5. “Meu reino por um cavalo” (Shakespeare).
Em que pese o Código Civil tratar especificamente de tal vício de consentimento em um único artigo, a anulabilidade do negócio celebrado mediante estado de perigo encontra respaldo nos consagrados princípios da boa-fé e da probidade, bem como nos limites à autonomia da vontade impostos pela função social dos contratos (ver arts. 421 e 422, CC).
Requisitos ou elementos caracterizadores do estado de perigo:
Ameaça atual ou iminente de grave dano à sua pessoa ou a familiar – o perigo de dano deve ser atual ou iminente, ou seja, deve a pessoa celebrar o contrato tendo em vista acreditar que, se não o fizer, os males do perigo fatalmente ocorrerão. Além disso, o dano deve ser grave e atingir o próprio declarante ou pessoa de sua família. Não o sendo, o juiz decidirá no caso concreto de acordo com as circunstâncias do negócio.
Nexo de causalidade entre a declaração e o perigo de grave dano – a vontade é manifestada de forma viciada em função do perigo do dano. Ou seja, é o perigo que motiva a celebração do negócio desvantajoso.
Conhecimento do perigo pela outra parte – a ciência do perigo pela outra parte é requisito essencial para se caracterizar o estado de perigo, “pois pessoa que, abusando da situação, se vale de terror alheio para assumir negócio excessivamente oneroso, não poderá ser tida como contraente de boa-fé.” (Maria Helena Diniz, p. 493)
Onerosidade excessiva da obrigação à época da celebração do negócio – a prestação assumida há que ser demasiadamente desproporcional à contraprestação. O desequilíbrio ou a onerosidade do negócio deve ocorrer no momento de sua celebração, para que enseje a anulação. Se a prestação se tornou excessiva após sua celebração estaríamos diante de possibilidade de revisão do negócio celebrado, mas não de sua anulação.
Efeitos do estado de perigo:
Art. 171, II, CC – causa de anulabilidade.
Dolo de Aproveitamento X Teoria do enriquecimento sem causa – nos caso em que a parte beneficiada agiu de boa-fé, não obstante a oferta vantajosa que lhe foi feita, poderá invocar a teoria do enriquecimento sem causa para não ver simplesmente anulado o negócio celebrado, pleiteando uma remuneração justa ou proporcional ao serviço prestado.
Parte da doutrina, criticando a solução trazida pelo Código Civil no sentido de anular o negocio celebrado mediante estado de perigo e, pensando na parte que agiu de boa-fé (ou seja, não configurou o dolo de aproveitamento) e não provocou o perigo, propõem a conservação do negócio, mediante a complementação do valor ou modificação da oferta anteriormente feita, até que se chegue ao equilíbrio entre prestação e contraprestação.
De toda sorte, é aconselhável ao órgão julgador, em cada caso, aplicar com prudência a anulação do negócio, de modo a evitar tanto o empobrecimento injusto do beneficiado, quanto o enriquecimento sem causa daquele que se encontrava em perigo.
Enunciado 148 aprovado pela III Jornada de Direito Civil (2004): “Ao ‘estado de perigo’ (art. 156) aplica-se, por analogia, o §2º do art. 157”.
5. LESÃO – Art. 157, CC
Conceito: É o prejuízo resultante da manifesta desproporção existente entre as prestações de um determinado negócio jurídico no momento de sua celebração, em face do abuso da inexperiência, necessidade econômica ou leviandade de uma das partes.
A lesão ocorre, muitas vezes, através do abuso do poder econômico de uma das partes, em detrimento da outra, hipossuficiente na relação jurídica, sendo comum, por exemplo, nos contratos de massa (contratos de adesão).
Todavia, o conhecimento da parte beneficiada no negócio é indiferente para se caracterizar a lesão. O Código preocupou-se em proteger o lesado, sendo indiferente a intenção ou não do lesionador em auferir vantagem excessiva.
Exemplos: 1. Pessoa que, para evitar falência, vende seu imóvel por preço muito inferior ao de mercado, por não ter outro meio de obter recursos para saldar a dívida. 2. Sujeito que, sem experiência das conseqüências, celebra contrato de financiamento de veículo, onde incidem juros exorbitantes. 3. Sujeito que, prestes a ser despejado do apartamento, aluga às pressas outro, com valor de aluguel desproporcional e excessivo, sendo indiferente o conhecimento da premente necessidade por parte do locador.
Características:
Admissível nos contratos comutativos, onde se presume a equivalência entre as prestações assumidas.
Pouco importa para sua caracterização, o conhecimento da necessidade ou inexperiência do lesado pela parte que se beneficiou do negócio.
O contrato já nasce desequilibrado. Não se fala aqui, em ruptura do equilíbrio contratual por fato superveniente. Na lesão, a desproporção é excessiva no momento da celebração do negócio. (art. 157, §1º, CC)
Elementos (ou requisitos) da Lesão:
a) Elemento objetivo: manifesta desproporção entre as prestações avençadas;
b) Elemento subjetivo: premente necessidade ou inexperiência do lesado.
Premente necessidade = necessidade econômica, ou seja, necessidade de obtenção do produto ou serviço negociado por motivos financeiros. Ou ainda, a impossibilidade de evitar o contrato. Não se exige seja a pessoa lesada economicamente desfavorecida (pobre). A necessidade econômica pode ser momentânea e atingir pessoa rica.
Inexperiência = falta de habilidade para o trato do negócio, sem necessariamente significar falta de instrução ou cultura.Efeitos da Lesão:
A lesão torna o negócio jurídico anulável (art. 171, II, CC)
Todavia, poderá o lesionado, ao invés de pleitear a anulação do negócio, exigir a revisão judicial do mesmo, com a redução do proveito auferido pela outra parte ou complementação do valor recebido.
Note-se que, mesmo que o lesionado pleiteie judicialmente somente sua anulação, poderá o lesionador, ainda assim, evitá-la, oferecendo suplemento suficiente ou reduzindo o proveito que obteve, tornando equilibradas as prestações e contraprestações do negócio (art. 157, §2º, CC).
Enunciado 149 do Conselho da Justiça Federal - III Jornada de Direito Civil - Art. 157: Em atenção ao princípio da conservação dos contratos, a verificação da lesão deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial do negócio jurídico e não à sua anulação, sendo dever do magistrado incitar os contratantes a seguir as regras do art. 157, § 2º, do Código Civil de 2002.
Enunciado 150 da III Jornada de Direito Civil - Art. 157: A lesão de que trata o art. 157 do Código Civil não exige dolo de aproveitamento.
A lesão no Código de Defesa do Consumidor:
Art. 51, IV e §1º, III do CDC (Lei 8.078/90):
“São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;
§1º - Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:
III – se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e o conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstancias peculiares ao caso.
VÍCIOS SOCIAIS
1. FRAUDE CONTRA CREDORES – Art. 158 e seg., CC:
Conceito: Todo ato suscetível de diminuir ou onerar o patrimônio de devedor insolvente ou levado à insolvência, reduzindo ou eliminando a garantia do pagamento de suas dívidas ao credores.
Ou ainda: “É todo ato de disposição ou oneração de bens, créditos e direitos, a título gratuito ou oneroso, praticado por devedor insolvente, ou por ele tronado insolvente, que acarrete redução de seu patrimônio, em prejuízo de credor preexistente.” (Marcos Bernardes de Mello, citado por Carlos Roberto Gonçalves)
Credor quirografário X Credor pignoratício:
Quirografário – credor que não possui garantia de pagamento do seu crédito.
Pignoratício – credor com garantia real (penhor ou hipoteca) sobre determinado bem do devedor, estando assegurado em caso de eventual inadimplemento deste.
Princípio da responsabilidade patrimonial: 
Art. 957, CC: “Não havendo título legal à preferência, terão os credores igual direito sobre os bens do devedor comum”.
Elementos constitutivos: 
A fraude contra credores possui dois elementos caracterizadores, um objetivo (eventus damni), e outro subjetivo (consilium fraudis).
Eventus damni (evento danoso) – consiste na insolvência do devedor, ou seja, no prejuízo efetivo causado a credores pela sua insolvência. Logo, deve o ato praticado ser efetivamente capaz de levar o devedor ao estado de insolvente pois, se puder adimplir suas dívidas de outra forma, não há evento danoso.
Consilium fraudis – má-fé do devedor, a sua intenção de prejudicar seus credores com a frustração do recebimento de seus respectivos créditos.
Hipóteses legais:
1.	Atos de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida – art. 158: tais atos serão anulados, ainda que o devedor ignore seu estado de insolvência. Ou seja, em tais hipóteses não precisa o credor provar o consillium fraudis (conluio fraudulento) entre o devedor e o adquirente dos bens ou o perdoado de dívida.
Logo, o critério para averiguação da fraude é puramente objetivo, bastando que o ato do devedor tenha sido capaz de leva-lo à insolvência, pouco importando se tinha ou não a intenção de fraudar.
Exemplos de transmissão gratuita de bens: doação; renúncia de herança; renúncia de usufruto, etc.
2.	Atos de transmissão onerosa – art. 159: na hipótese de transmissão onerosa de bens, quando for notória a insolvência ou por qualquer motivo deve ser do conhecimento do terceiro adquirente, a fraude é presumida, também não havendo a necessidade do credor provar o conluio fraudulento daquele com o devedor. Basta que prove que o adquirente tinha ou deveria ter conhecimento do estado de insolvência do devedor-alienante.
A insolvência é notória quando, por exemplo, existem inúmeras ações judiciais de cobrança propostas em face do devedor ou quando possui títulos de crédito protestados em cartório, ou ainda, quando existe contra ele protesto contra alienação de bens.
É presumido o conhecimento da outra parte quando, por exemplo, o preço da coisa é vil ou o negócio é celebrado entre parentes. (Exemplo: Pai (devedor) celebra contrato de compra e venda de seu imóvel com o filho (terceiro adquirente) para ocultar seu patrimônio e fugir de eventual cobrança.
Art. 160 – possibilidade de conservação do negócio pelo adquirente, com o depósito judicial do valor recebido e a citação dos interessados, caso o preço seja o de mercado, evitando assim, a sua anulação.
3.	Pagamento antecipado de dívida – art. 162: Presume-se, na hipótese de pagamento de dívida não vencida, que há fraude entre o devedor e o credor preterido, devendo este repor o que recebeu ao concurso de credores.
O objetivo dessa norma consiste em colocar em condições de igualdade todos os credores (quirografários) que possuem como garantia de seu crédito apenas o patrimônio geral do devedor.
4.	Concessão fraudulenta de garantias reais - art. 163: Não pode o devedor instituir garantia real (penhor, hipoteca, anticrese) à um de seus credores, em prejuízo dos demais, os quais só viriam receber seus valores após o pagamento ao credor a quem foi dada a garantia.
Ação Pauliana ou revocatória – art. 161:
Ação cabível (aos credores) para se pleitear a anulação do negócio jurídico celebrado em fraude contra os credores, nas hipóteses legais acima citadas.
Legitimação passiva: Deve ser proposta em face do devedor e do adquirente, e ainda, de terceiros que venha a adquirir o bem posteriormente.
Efeitos: art. 165: Julgada procedente a ação, o bem retorna ao patrimônio do devedor ou é revertido em proveito do concurso de credores. 
art. 165, p. único, CC – Tratando-se de garantia preferencial concedida a determinado credor, anula-se esta (penhor, hipoteca).
Presunção de boa-fé de atos onerosos do devedor- Art. 164:
Assim, por exemplo, presume-se de boa-fé: a) a dívida assumida por empresário para aquisição de maquinário indispensável ao funcionamento de sua fábrica; b) a dívida contraída para a própria sobrevivência e de sua família; c) a dívida para aquisição de um trator para arar a terra a ser plantada.
2. SIMULAÇÃO – art. 167, CC:
Conceito: Trata-se de vício social considerado tão grave pelo legislador que, diferentemente dos demais vícios tratados anteriormente, acarreta a nulidade do negócio jurídico simulado, estando previsto dentro do capítulo V do Código – Da invalidade do negócio jurídico, que a seguir veremos.
Para Clóvis Beviláqua, a simulação “é a declaração enganosa da vontade, visando produzir efeito diverso do ostensivamente indicado”.
“Por simulação entende-se o ato de alguém que, conscientemente e com a conivência de outra pessoa, a quem a sua declaração de vontade é dirigida (ou seja, com quem celebrará o negócio fraudulento), faz conter nesta, uma coisa que nenhuma delas quer, ou coisa diversa daquela que ambas querem”, com o intuito de burlar a lei e/ou prejudicar terceiros estranhos ao negócio.
Na simulação não há deficiência do elemento vontade, como ocorre nos vícios de consentimento (erro, dolo, coação, lesão e estado de perigo). Ao contrário, os agentes simuladores tem plena consciência em seu agir, buscando com a realização do negocio infringir a leiou interesse de terceiro. Assim é que tal vício envolve não só os particulares no negócio, como também o interesse público, na medida em que não se poderia permitir tamanha malicia e leviandade dessa conduta.
Espécies:
Absoluta – Na simulação absoluta as partes fingem celebrar determinado negócio, que na verdade não produzirá efeito algum. Na simulação absoluta procura-se aparentar o que não existe.
Por absoluta, entende-se a realização de um negócio de conteúdo vazio, configurando uma mera aparência, um negocio por assim dizer “de fachada”, isto é, destinado a não produzir nenhum efeito jurídico.
Exemplo: 1. O marido que pretendendo se separar da esposa, para sonegar um bem da partilha pelo casal, contrai falsamente uma dívida com um amigo (negócio dissimulado), para supostamente transferir-lhe a propriedade do referido bem a título de quitação. 2. O devedor que em conluio com parente finge doar um bem a este (negócio simulado), mas que continua de fato em seu patrimônio, para esquivar-se de perdê-lo para seus credores, cometendo assim, fraude contra credores através da simulação de um negócio. 3. A simulação da venda de imóvel feita pelo locador, com o intuito de facilitar o despejo de seus locatários.
Relativa (ou dissimulação) – Nesta espécie, com o intuito de enganar terceiro ou burlar a lei, os contraentes celebram negócio jurídico simulado, no qual os efeitos verdadeiramente almejados diferem daqueles efetivamente produzidos pelo negócio.
Para esconder o negócio dissimulado (aquele verdadeiramente desejado e ocultado pelos contratantes), as partes celebram negócio simulado. Podemos identificar, portanto, dois negócios: o simulado (aquele que aparenta ser e destina-se a esconder o outro negócio, que é o dissimulado (oculto).
Exemplo: 1. um homem casado, para fugir da proibição legal de fazer doação à concubina (negócio dissimulado), simula venda a um terceiro (testa-de-ferro), para que este transfira o bem aquela. 2. Contratantes que, para recolher imposto menor, fazem constar na escritura de compra e venda preço inferior ao efetivamente negociado.
Efeitos – art. 167, caput: nulidade do negócio simulado, subsistindo o dissimulado, caso seja valida sua substancia e forma, e ainda, desde que não prejudique terceiros ou tenha a intenção de burlar a lei.
§1° - Hipóteses de simulação
DA INVALIDADE DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
Neste capítulo, o Código Civil traz as causas de nulidade e anulabilidade do negócio jurídico. O legislador, de acordo com a gravidade da ofensa à lei, ao interesse das partes ou a ordem pública, determina a imposição da sanção adequada.
Nulidade (absoluta): É a sanção imposta por lei aos negócios jurídicos realizados sem o atendimento dos requisitos essenciais, produzindo, assim, efeitos diversos dos previstos no ordenamento legal, os quais ofendem norma de ordem pública, de interesse geral.
O negócio nulo não é passível de confirmação pelo decurso do tempo ou pelas partes. Em outras palavras, não é possível sanar nulidade absoluta existente em determinado negócio, seja pelo passar do tempo, seja pela vontade das partes, tendo em vista o interesse público da coletividade e o grau de ofensa à lei que caracterizam as suas hipóteses.
Anulabilidade (ou nulidade relativa): É a sanção imposta por lei para proteger o interesse particular de pessoas, facultando a estas promoverem a anulação do negócio jurídico celebrado em desacordo com suas vontades.
A anulabilidade visa proteger o livre consentimento ou a incapacidade relativa da parte, devendo ser declarada por decisão judicial.
“Diversamente do negócio jurídico nulo, o anulável produz efeitos até ser anulado em ação, para a qual são legitimados os interessados no ato, isto é, as pessoas prejudicadas e em favor de quem o ato se deve tornar ineficaz.” (Francisco Amaral – Direito Civil, p. 519)
CAUSAS DE NULIDADE:
Art. 166 c/c art. 104, CC: a nulidade do negócio é efeito da inobservância de algum dos requisitos de validade do negócio, elencados no art. 104.
Legitimados para arguir - Art. 168 – As causas de nulidade, por serem de interesse público, podem ser argüidas por qualquer interessado, inclusive pelo Ministério Público quando age como fiscal da lei (custos legis).
P. único – Devem ser pronunciadas pelo juiz de ofício, caso delas tenha conhecimento.
Efeitos da Nulidade - Art. 169 – não podem as partes confirmar (ou seja, sanar, “consertar”) negócio nulo, tampouco a nulidade deixa de existir com o passar do tempo.
Conversão do contrato nulo - Art. 170: 
O instituto da conversão permite às partes conservarem os efeitos do negócio nulo celebrado, como se outro fosse. Assim, pela conversão, atendendo-se ao princípio da conservação do negócio jurídico, o contrato nulo poderá produzir os efeitos de um contrato diverso.
Requisitos da conversão: 1. Presunção hipotética de que ambos os contratantes teriam querido o negócio sucedâneo, caso tivessem ciência da nulidade do contrato efetivado. 2. Que o negócio reputado como nulo tenha os requisitos do negócio sucedâneo.
Exemplos: A conversão de: 1. Doação de bem inalienável (nula) em constituição de usufruto sobre o bem. 2. Nota promissória nula por falta de requisito formal em confissão de dívida. 3. Contrato de compra e venda nulo em promessa de compra e venda.
Nulidade total e nulidade parcial: Art. 184.
CAUSAS DE ANULABILIDADE: Art. 171, CC
Confirmação / Ratificação do negócio anulável: Art. 172
“Nulidade de ato jurídico praticado por incapaz antes da sentença de interdição. Reconhecimento da incapacidade e da ausência de notoriedade. Proteção do adquirente de boa-fé. Precedentes da Corte. 1. A decretação da nulidade do ato jurídico praticado pelo incapaz não depende da sentença de interdição. Reconhecida pelas instâncias ordinárias a existência da incapacidade, impõe-se a decretação da nulidade, protegendo-se o adquirente de boa-fé com a retenção do imóvel até a devolução do preço pago, devidamente corrigido, e a indenização das benfeitorias, na forma de precedente da Corte. 2. Recurso Especial conhecido e provido” (STJ, 3ª. T., REsp 296.895/PR)
Terceiro de boa-fé: Se a confirmação do negócio vier a trazer prejuízo a terceiros de boa-fé, não será permitida.
Art. 173 – Confirmação expressa.
Art. 174 – Confirmação tácita. É escusada (desnecessária, inútil) a confirmação expressa, quando já feita de forma tácita.
Efeitos da confirmação - art. 175: extinção do direito de ação da vítima do defeito, visto que este é fulminado mediante a sua confirmação. Subentende-se que com a confirmação voluntária, a parte renunciou ou desistiu do direito de pleitear sua anulação, até mesmo porque o vício que atingia o negócio é extinto.
Art. 176 – Ex.: ver art. 1.647, CC.
Efeitos da anulabilidade – art. 177: Só será declarada a anulação do negócio, caso haja provocação dos interessados, não podendo o juiz de ofício declara-la. Além disso, os efeitos da anulação só se produzem mediante sentença judicial e atingem aqueles interessados que participaram da ação proposta.
Art. 182 – Busca-se sempre o restabelecimento do status quo, ou seja, deixar as coisas como eram antes da celebração do negócio, ressarcindo os prejuízos a quem os tiver suportado injustamente.
Art. 184 – “O acessório acompanha o principal”. Essa regra de direito aplicada aos negócio jurídicos traduz que, os contratos acessórios seguem o mesmo caminho que o principal ao qual estão atrelados. Ou seja, se invalido o contrato principal, também serão seus acessórios.
Síntese das diferenças entre nulidade e anulabilidade:
A nulidade é decretada no interesse público da coletividade, para a manutenção da ordem e da segurança jurídica. A anulabilidade é suscitada no interesse privado da parte prejudicada no negócio.
A nulidade deve ser declarada de ofício pelo Juiz quando dela tiver conhecimento, sendo-lhe proibido saná-la, ainda que a requerimento das

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