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DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 1 de 202 MATERIAL DE APOIO DIREITO CIVIL OBRIGAÇÕES E RESPONSABILIDADE CIVIL DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 2 de 202 S U M Á R I O 1 Conceito de Obrigação...................................................................... 4 2 Dos Fatos Jurídicos........................................................................... 6 3 Negócio Jurídico............................................................................... 10 3.1 Classificação dos Negócios Jurídicos.......................................... 11 3.2 Elementos Constitutivos dos Negócios Jurídicos........................ 12 3.3 Elementos Essenciais Gerais....................................................... 13 3.4 Elementos Essenciais Especiais.................................................. 17 3.5 Elementos Acidentais.................................................................. 18 3.6 Vícios de Consentimento............................................................ 3.6.1 Erro ou ignorância.................................................................... 23 23 3.6.2 Dolo.......................................................................................... 26 3.6.3 Coação...................................................................................... 27 3.6.4 Estado de Perigo....................................................................... 28 3.6.5 Lesão........................................................................................ 29 4 Vícios sociais..................................................................................... 30 4.1 Fraude Contra Credores.............................................................. 30 4.2 Simulação.................................................................................... 31 5 Evolução Histórica das Obrigações................................................... 33 6 Fontes das Obrigações....................................................................... 34 6.1 Contratos..................................................................................... 34 6.2 Atos unilaterais............................................................................ 34/36 6.3 Atos ilícitos................................................................................. 34 6.4 Lei............................................................................................... 34 7 Elementos Constitutivos.................................................................... 49 7.1 Sujeitos........................................................................................ 50 7.2 Objeto.......................................................................................... 51 7.3 Vínculo Jurídico.......................................................................... 52 8 Distinções fundamentais entre direitos pessoais e reais.................... 53 9 Obrigações civis e obrigações naturais............................................. 56 10 Classificação das obrigações............................................................. 57 11 Modalidade das Obrigações no Código Civil................................... 61 11.1 Obrigação de dar (entregar)....................................................... 61 11.1.1 Obrigação de dar coisa certa propriamente dita..................... 63 11.1.2 Obrigação de restituir coisa certa........................................... 63 11.2 Obrigação de dar coisa incerta.................................................. 65 11.3 Obrigação de fazer..................................................................... 66 11.4 Obrigação de não fazer.............................................................. 69 11.5 Obrigações alternativa e cumulativas........................................ 70 11.6 Obrigações divisíveis, indivisíveis e solidárias......................... 72 11.6.1 Obrigações divisíveis............................................................. 73 11.6.2 Obrigações indivisíveis.......................................................... 74 11.6.3 Obrigações solidárias............................................................. 77 11.6.3.1 Solidariedade ativa.............................................................. 78 11.6.3.2 Solidariedade passiva.......................................................... 11.6.3.3 Solidariedade mista............................................................. 78 78 12 Transmissão das Obrigações............................................................. 91 DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 3 de 202 12.1 Da cessão de crédito.................................................................. 91 12.2 Da assunção de dívida............................................................... 94 12.3 Da cessão de contrato................................................................ 94 13 Adimplemento e extinção das obrigações......................................... 97 14 Formas especiais de pagamento e extinção das obrigações.............. 104 14.1 Do pagamento em consignação................................................. 104 14.2 Pagamento com sub-rogação..................................................... 109 14.3 Imputação do pagamento........................................................... 112 14.4 Dação em pagamento................................................................ 114 14.5 Novação..................................................................................... 116 14.6 Compensação............................................................................ 120 14.7 Confusão.................................................................................... 124 14.8 Remissão de dívidas.................................................................. 126 15 Inadimplemento das obrigações........................................................ 128 16 Responsabilidade Civil...................................................................... 144 17 Responsabilidade civil e penal.......................................................... 146 18 Conceito de ato ilícito...................................................................... 146 19 Responsabilidade civil contratual...................................................... 150 20 Responsabilidade civil extracontratual.............................................. 151 21 Elementos da responsabilidade civil................................................. 152 22 Responsabilidade subjetiva e objetiva............................................... 153 23 Teorias do nexo causal ou de causalidade......................................... 157 24 Classificação dos danos..................................................................... 160 25 Excludentes da responsabilidade....................................................... 175 26 Da indenização.................................................................................. 195 DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 4 de 202 Todo direito encerra sempre uma ideia de obrigação. Pode-se dizer que não existe direito sem obrigação e nem obrigação sem o correspondente direito. Vários são os conceitos apresentados pela doutrina acerca do tema de estudo. 1. CONCEITO DE OBRIGAÇÃO: O Direito é o ordenamento das relações sociais. Só existe Direito porque há sociedade (ubi societas, ibi jus). Assim, em princípio, para um único homem isolado em uma ilha, existirá Direito, porém, nomomento em que esse homem receba a visita de semelhante. Isto porque, não mais estando o indivíduo só, irá relacionar-se com outro homem, e essa relação poderá ser jurídica (regular fatos que interessam para o Direito). A doutrina ambientalista afirma que independente da convivência em sociedade, todos devem respeito aos princípios e regras ambientais, mesmo que seja somente uma pessoa, uma vez que a preservação deve sempre existir em atenção ao meio ambiente. Nesse sentido, essa concepção histórica do direito somente em sociedade, pode ser analisada sob outro enfoque, quando o ser humano mesmo vivendo sozinho em uma ilha, deve preservar os valores e recursos ambientais (meio ambiente). É posição dos ambientalistas. A obrigação que será estudada é uma relação jurídica, esta que é a vinculação entre duas ou mais pessoas gerando direitos e deveres. Segundo Arnoldo Wald a relação jurídica é o vínculo existente entre pessoas, em virtude de norma legal ou contratual que cria direito e deveres, distinguindo-se daquelas de caráter moral ou religioso, pela ausência de obrigatoriedade, estabelecendo que ao direito de uma das partes corresponde ao dever jurídico da outra, com vínculo entre o titular do direito, denominado sujeito ativo, e dever jurídico, chamado sujeito passivo. Devemos nos limitar a estudar as obrigações que têm origem nas declarações de vontade (contrato) e atos unilaterais (promessa de recompensa, gestão de negócios, pagamento indevido e enriquecimento sem causa), na lei, no ato ilícito (responsabilidade civil) e que têm por objeto uma prestação (objeto). OB + LIGATIO = vinculação, liame, cerceamento da liberdade de ação (ETIMOLOGIA1). A todo instante na vida, por mais simples que seja a atividade da pessoa: compra e/ou vende, aluga ou empresta, comete atos contrários ao Direito que causam danos, por exemplos. Existe, portanto, um estímulo, gerado por um valor, para que seja por contraída uma obrigação. Vale ressaltar que podem ser tratadas como forma geral de obrigação as de cunho não jurídico, como as obrigações morais, religiosas ou de cortesia, mas não como obrigação jurídica porque inexistem a característica de execução e sanção obrigatórias. Todavia, o que diz respeito ao estudo propriamente proposto, trata-se de obrigação jurídica, aquela protegida pelo Estado, que dá a garantia da coerção no cumprimento (não confundir com abuso de direito), que depende de uma norma, uma lei, ou um contrato ou negócio jurídico, de ato ilícito. Em toda obrigação existe a submissão a uma norma de conduta. A relação obrigacional recebe desse modo à proteção do Direito: segurança jurídica aos envolvidos. 1 Origem da palavra. DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 5 de 202 É no Direito Obrigacional que se posiciona uma situação fundamental: de um lado, a liberdade do indivíduo, sua autonomia em relação aos demais membros da sociedade e, de outro lado, a exigência dessa mesma sociedade ao entrelaçamento de relações, que devem existir harmonicamente. É absolutamente clássica a definição das Institutas de Justiniano: a obrigação é um vínculo jurídico que nos obriga a pagar/dever algo (objeto), ou seja, a fazer ou deixar de fazer alguma coisa. Sílvio de Salvo Venosa define obrigação como uma relação jurídica transitória de cunho pecuniário, unindo duas (ou mais) pessoas, devendo uma (o devedor) realizar uma prestação a outra (o credor). Pode-se também conceituar obrigação como sendo a relação jurídica, de caráter transitória, estabelecida entre devedor e credor, e cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento (cumprimento) através de seu patrimônio. Confere-se assim ao sujeito ativo (credor) o direito de exigir do sujeito passivo (devedor) o cumprimento de determinada prestação. Vejam que o conceito dado possui alguns elementos. Washington de Barros Monteiro: obrigação é a relação jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor e cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento de seu patrimônio. Para Caio Mário da Silva Pereira: Obrigação é o vínculo jurídico em virtude do qual uma pessoa pode exigir de outra uma prestação economicamente apreciável. As obrigações são, no geral, apreciáveis em dinheiro. Essas modalidades de obrigações são as que nos interessam no estudo de Direito Civil das Obrigações. Assim: a obrigação é relação jurídica, e tem caráter transitório, porque essa relação nasce com a finalidade de extinguir-se, em regra, com o seu cumprimento por parte do devedor. Uma vez que o credor é satisfeito, extrajudicial ou judicialmente, a obrigação deixa de existir, pois o vínculo jurídico desaparece. Com os conflitos sociais, os interesses econômicos e as diferentes valorações dadas ao direito obrigacional e a relação jurídica obrigacional, esta, hoje, não é mais entendida como uma relação estática, bipolar, onde temos de um lado o credor e do outro o devedor, mas sim como uma relação dinâmica e constante na sociedade. A obrigação, hoje, portanto, é entendida como totalidade, como um processo, assim, atualmente, a moderna doutrina examina a relação tanto sob o seu aspecto externo (débito e crédito, credor e devedor), como no seu aspecto interno (vínculo que liga o credor ao devedor). DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 6 de 202 FIQUE ATENTO: ATENÇÃO PARA ESTUDO DOS NEGÓIOS JURÍDICOS DE DIREITO CIVIL SEMESTRE ANTERIOR !!!!!!!!!!!!!!!! LEMBRE-SE QUE O ESTUDO DE DIREITO CIVIL É CONTÍNUO, ONDE OS CONTEÚDOS ESTÃO INTERLIGADOS, SENDO IMPORTANTE QUE O ALUNO (A) FAÇA SEMPRE UMA REVISÃO DO ASSUNTO ESTUDADO NO SEMESTRE ANTERIOR 2. DOS FATOS JURÍDICOS Inicialmente, temos que diferenciar um fato comum ou fato não jurídico de um fato jurídico. Há fatos que não interessam ao Direito. Exemplo: quando uma pessoa passeia por um jardim, está praticando um fato comum, que não sofre a incidência do Direito. Se essa pessoa, porém, andar sobre um gramado proibido, causando danos, o fato que era comum passará a interessar ao Direito. Fato Comum Ação humana ou fato da natureza que não interessa ao Direito. Se não interessa ao Direito somente necessitamos diferenciar quando é ou não jurídico. Fato Jurídico (em sentido amplo – lato sensu) Acontecimento ao qual o Direito atribui efeitos. Exemplo: um contrato de locação é um fato jurídico (mais para frente veremos que ele é mais do que isso, é um negócio jurídico), pois tanto o locador quanto o locatário assumem compromissos e ficam vinculados um ao outro (relação jurídica). Deste vínculo surgem direitos e deveres para ambas as partes, surgem efeitos. Assim, por enquanto, o que nos interessa estudar é o Fato Jurídico. Este sim causará reflexos no campo do Direito. Fatos Jurídicos pode ser conceituado como os acontecimentos, previstos em norma de direito (sentido amplo), em razão dos quais nascem, se modificam, subsistem e se extinguem as relações jurídicas. Para efeito de facilitação dos elementos do Fato Jurídico seguem os principais efeitos: Aquisição, Defesa, Modificação e Extinção de Direitos. Aquisição de Direitos é a conjunção dos direitos com seu titular. Dessa forma, surge a propriedade quando o bem se subordina a seu titular. (Exemplo: quando da compra de um determinado objeto). Os direitos podem ser adquiridos de forma originária ou derivada: - Originária o direito nasce no momento em que o titular se apossa ou se apropria de um bem de maneira direta, sem a participação de outra pessoa (exemplo: pescar um peixe em alto-mar, ficar com uma coisaabandonada). - Derivada se houver transmissão do direito de propriedade, existindo uma relação jurídica entre o anterior e o atual titular (exemplo: vender um carro ou uma casa para outra pessoa – a propriedade do carro ou da casa passou de uma pessoa para outra, daí ser considerada como transmissão derivada). DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 7 de 202 A aquisição ainda pode ser: - Gratuita quando não há uma contraprestação na aquisição (exemplo: uma pessoa adquire um bem por uma doação; neste caso não há uma contraprestação, o mesmo pode ocorrer na herança). - Onerosa quando há uma contraprestação na aquisição (exemplo: a pessoa adquire o bem por meio de uma compra e venda se por um lado recebeu o bem, por outro lado pagou por este bem, havendo, portanto, uma contraprestação na aquisição – o mesmo ocorre com a troca). Defesa dos direitos - proteção de Direitos são atos que servem para resguardar os direitos; o titular de um direito deve praticar atos conservatórios. Exemplo: Direito de Retenção - uma pessoa possui um bem (que não é seu, mas está de boa-fé nesta posse) e realiza neste bem benfeitorias necessárias (conserto dos alicerces, do telhado de uma casa); posteriormente o real proprietário move uma ação contra o possuidor de boa fé e ganha a ação; o possuidor deve ir embora; mas realizou benfeitorias, devendo ser indenizado; se a outra parte não a indeniza, ela pode reter o bem até que seja indenizado (Art. 1.219, CC2). Modificação (ou transformação) de Direitos os direitos podem sofrer modificações em seu conteúdo, seu objeto e em seus titulares, sem que haja alteração em sua substância. A modificação do direito pode ser objetiva ou subjetiva: a) Objetiva atinge a qualidade ou quantidade do objeto ou o conteúdo da relação jurídica (Exemplos: o credor de uma saca de feijão aceita o equivalente em dinheiro; uma pessoa está devendo uma quantia e o credor aceita um terreno em substituição3). b) Subjetiva substituição de uma das pessoas (sujeito ativo ou passivo) envolvidas na obrigação, podendo ser inter vivos (contrato) ou causa mortis (testamento – exemplo: morre o titular de um direito e este se transmite aos seus sucessores). No entanto, há direitos que não comportam modificação em seu sujeito por serem personalíssimos. Extinção de Direitos observem, com atenção, as principais hipóteses de extinção dos direitos: - Perecimento do objeto (anel que cai em um rio profundo e é levado pela correnteza) ou perda das qualidades essenciais do objeto (campo de plantação invadido pelo mar). - Renúncia – quando o titular de um direito, dele se despoja, sem transferi-lo a quem quer que seja; ele abre mão de um direito que teria (exemplo: renúncia à herança). - Abandono – intenção do titular de se desfazer da coisa não querendo ser mais seu dono. - Alienação – que é o ato de transferir o objeto de um patrimônio a outro, de forma onerosa (compra e venda) ou gratuita (doação). - Falecimento do titular, sendo direito personalíssimo, e por isso, intransferível. - Confusão – numa só pessoa se reúnem as qualidades de credor e devedor4. - Prescrição ou decadência. 2 Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis. 3 Será estudado mais adiante no estudo das obrigações, que se trata de Dação em Pagamento (Art. 356. O credor pode consentir em receber prestação diversa da que lhe é devida). 4 Também será estudado adiante: Art. 381. Confusão - Extingue-se a obrigação, desde que na mesma pessoa se confundam as qualidades de credor e devedor. DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 8 de 202 CLASSIFICAÇÃO DOS FATOS JURÍDICOS Divide-se em Natural (é um fato qualquer da natureza) ou Humano (é o praticado por nós, os seres humanos). Cada um destes itens possui uma subdivisão. Fato Jurídico Natural (em sentido estrito ou strito senso) é o acontecimento que ocorre independentemente da vontade humana com produção de efeitos jurídicos, criando, modificando ou extinguindo direitos. Podem ser divididos ou classificados em: – Ordinários: são fatos que ocorrem naturalmente, normalmente. Exemplo: a morte, ela ocorrerá independente de nossa vontade. Portanto é um fato natural. Lógico que é a morte por causas naturais e não por consequência de um homicídio (crime que é um ato ilícito penal). Da mesma forma são Fatos Jurídicos Naturais Ordinários: o nascimento, a maioridade, o decurso de tempo que juridicamente se apresente sob a forma de prazo (intervalo de dois termos), a (ou o) usucapião, a prescrição e a decadência. – Extraordinários: são causas ligadas ao caso fortuito ou força maior (causa desconhecida - exemplo: explosão de uma caldeira em uma usina, ou se conhece a causa, fato da natureza - exemplo: raio que provoca um incêndio). Há uma imprevisibilidade, mas se tiver previsão é inevitável. Em ambos o caso se configura uma inevitabilidade do evento e ausência de culpa pelo ocorrido. A tabela a seguir é de extrema importância (não esquecer !!!!!!!!!!!). Para fins de melhor afixação do estudo, segue a tabela para não complicar e sim facilitar!!! DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 9 de 202 FATO (ACONTECIMENTO) DIVISÃO E SUBDIVISÃO EXEMPLOS FATO COMUM (NÃO JURÍDICO) Acontecimento sem repercussão no Direito. Uma folha caindo, andar devagar ou apressado. FATO JURÍDICO (Lato sensu/ Sentido amplo) Acontecimento com repercussão no Direito. FATO NATURAL (Em sentido estrito ou stricto sensu) ORDINÁRIO (Ocorre normalmente, naturalmente) nascimento, maioridade, morte, prescrição, decadência. EXTRAORDINÁRIO (Caso fortuito / força maior) Enchentes, inundações, queda de árvores. FATO HUMANO (ATO) ATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO (Lícito, voluntário) ATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO (Lei) Reconhecimento de um filho, pagamento de pensão alimentícia. NEGÓCIO JURÍDICO (Partes) contrato, atos unilaterais, testamento, casamento. ATO ILÍCITO (Ilícito, involuntário) Em desacordo com a ordem jurídica: civil, penal, administrativa, tributária. Lesão que causa dano a outrem por culpa ou dolo (acidente de trânsito) DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 10 de 202 3. NEGÓCIO JURÍDICO Conceito: é uma espécie do gênero ato jurídico em sentido amplo. É o ato destinado à produção de efeitos jurídicos, desejados pelo agente e tutelados pela lei. É toda ação humana, de autonomia privada, com o qual o particular regula por si os próprios interesses, havendo uma composição de interesses. O exemplo clássico de negócio jurídico é o contrato. Qualquer tipo de contrato. Num contrato as partes contratantes acordam/ajustam que devem conduzir-se de determinado modo, uma em face da outra (direito e deveres). Exemplo um contrato de locação. Nele, uma das partes se compromete a fornecer a outra, durante certo lapso de tempo, o uso e gozo de uma coisa infungível; por outro lado a outra parte se obriga a remunerar este uso... Os efeitos deste negócio devem ser totalmente previstos e desejados pelas partes: Qual o valor da locação? Qual o prazo da locação? Qual o dia que deve ser efetuado o pagamento? Qual o local em que o pagamento vai serefetuado? O locatário deve pagar o IPTU? E o condomínio do prédio? Quais as obrigações de cada parte durante o contrato? Todos estes itens (entre outros) são os efeitos do contrato. Todos eles podem ser “negociados” entre os contratantes. O contrato propriamente dito e os efeitos deste contrato devem ser previstos e desejados pelos interessados. Guardadas as devidas proporções, o mesmo também pode ocorrer em um contrato de compra e venda. E em todos os contratos de uma maneira geral. Assim, negócio jurídico é o principal instrumento que as pessoas têm para realizar seus interesses. Lembrar que o contrato é apenas uma das várias espécies de negócio jurídico. O contrato é um negócio jurídico bilateral (vontade de ambas as partes). Nos entanto, o negócio jurídico pode ser também unilateral, como no caso de um testamento, casamento e nos atos unilaterais5. Os efeitos de um testamento estão correlacionados aos que deseja o testador; só que neste caso só funciona apenas a sua vontade, por isso ele é unilateral (ao contrário dos contratos que é bilateral). DISTINÇÃO – Negócio Jurídico e Ato Jurídico em Sentido Estrito Não se deve confundir negócio jurídico com o ato jurídico em sentido estrito. Este não é exercício de autonomia privada. Logo, o interesse objetivado não pode ser regulado pelo particular e a sua satisfação se concretiza no modo determinado pela lei (pensão alimentícia, poder familiar). Já no negócio jurídico, o fim procurado pelas partes baseia-se na autonomia privada6. O ato jurídico em sentido estrito é um ato praticado pelo agente, com manifestação de vontade, predeterminado pela norma, sem que o agente possa qualificar diferente a sua vontade. Por exemplo, os efeitos decorrentes do poder familiar (administração da vida dos filhos menores por parte dos pais). O negócio leva em consideração o fim procurado pela parte ou partes e a esse fim a ordem jurídica adapta os efeitos. 5 Os atos unilaterais serão estudados como fontes das obrigações: promessa de recompensa, enriquecimento sem causa, gestão de negócios e pagamento indevido. 6 Autonomia privada: espaço para decibilidade dentro do ordenamento de realizar o negócio jurídico, comprar ou não, vender ou não, locar ou não (seguir as possibilidades para decidir dentro dos princípios e das regras). DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 11 de 202 Resumindo – no Ato Jurídico em Sentido Estrito a pessoa pratica uma conduta e os efeitos estão da conduta são automáticos, independente da vontade de que o pratica (reconhecimento de um filho, dupla paternidade); já o negócio jurídico a pessoa pratica uma conduta e os efeitos da conduta são os desejados pelas partes. Assim, o ato jurídico em sentido em estrito, por força da lei, é um ato não negocial, com efeitos jurídicos determinados pela lei, com espaço restrito para a autonomia da vontade. 3.1 CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS: Quanto à manifestação de vontade: Unilaterais - quando a declaração de vontade emana de uma pessoa na mesma direção colimando um único objetivo; o ato se aperfeiçoa com uma única manifestação de vontade. Exemplos: testamento, renúncia, desistência, promessa de recompensa. Bilaterais – quando a declaração de vontade emana de duas manifestações de vontade, em sentido oposto, mas coincidentes sobre o objeto. Exemplos: perdão (“A” pode perdoar “B”; mas este perdão somente surtirá efeitos se “B” aceitar o perdão), contratos como a compra e venda (comprador e vendedor), ou a locação (locador e locatário). Quanto às vantagens: Gratuito – só uma das partes aufere vantagem, não havendo contraprestação; são atos de liberalidade. Exemplos: doação simples, comodato (empréstimo gratuito de bens não fungíveis). Oneroso – ambos os contratantes possuem ônus e vantagens recíprocas. Exemplos: locação, compra e venda. Quanto ao tempo em que devam produzir efeitos: Inter vivos – destinados a produzir efeitos durante a vida dos interessados. Exemplos: locação, compra e venda, mandato, casamento. Causa mortis – emitida para a criação do direito após a morte do declarante. Exemplos: testamento, codicilo (este que é uma disposição de última vontade de pequenas coisas, como roupas – ser enterrado com o uniforme da seleção brasileira). Quanto a seus efeitos: Constitutivos – se sua eficácia se opera ex nunc (ou seja, se efetiva a partir do momento da conclusão do negócio. Exemplo: contrato de compra e venda. DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 12 de 202 Declarativos – se sua eficácia é ex tunc (ou seja, se efetiva a partir do momento em que se operou o fato a que se vincula a declaração de vontade, retroagindo (voltando) no tempo. Exemplo: reconhecimento de filho. Ex nunc Nunca retroage seus efeitos Ex tunc Retroage seus efeitos (tanto retroage) Quanto às formalidades: Solenes (formais) – obedecem a uma solenidade especial, a uma forma prescrita em lei para se aperfeiçoarem. Exemplos: casamento, testamento, compra e venda de um bem imóvel. Não solenes (informais - forma livre – é a regra do Direito Civil7) – a lei não exige formalidades especiais para seu aperfeiçoamento. Exemplos: locação, compra e venda de bens móveis. 3.2 ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO NEGÓCIO JURÍDICO: Alguns elementos do negócio jurídico são chamados de essenciais porque constituem elementos de existência e validade. Outros são chamados de acidentais, pois são requisitos de eficácia do negócio. O gráfico abaixo classifica os elementos constitutivos. Depois vamos analisá- los um a um, a denominada “escada ponteana”, de autoria de Pontes de Miranda. ►PLANO DA EXISTÊNCIA: Para ser válido, todo negócio jurídico deve antes existir com os seguintes elementos: A) Partes (sujeitos) B) Vontade C) Objeto D) Forma Observação: o CC/2002 não adotou expressamente o plano da existência, vez que já inicia no Art. 104 com o plano da validade. ►PLANO DA VALIDADE: Essenciais – dizem respeito à validade do Negócio. 7 Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir. ► PLANO DA EXISTÊNCIA ► PLANO DA VALIDADE ► PLANO DA EFICÁCIA DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 13 de 202 A) Gerais 1 – Capacidade das partes. 2 – Objeto lícito, possível fisicamente, determinado ou determinável. 3 – Vontade livre: consentimento/manifestação. B) Especiais – forma prescrita ou não defesa em lei. Vale ressaltar, mais uma vez, que o CC/2002 inicia o estudo do negócio jurídico com o plano da validade. ►PLANO DA EFICÁCIA (EFEITOS): 1 – Condição: evento futuro e incerto. 2 – Termo: evento futuro e certo. 3 – Encargo: ônus. 3.3 ELEMENTOS ESSENCIAIS GERAIS (Art. 104, CC): Como vimos acima, os requisitos de validade do negócio jurídico são: capacidade das partes (elemento subjetivo), objeto lícito, possível, determinado ou determinável (elemento objetivo), consentimento e forma prescrita ou não defesa em lei (Art. 104 do CC). Os três primeiros são elementos gerais, comuns a todos os Negócios Jurídicos. Já o último (a forma) é um elemento especial, pois diz respeito apenas alguns atos. Nem todos os negócios jurídicos exigem uma forma especial, do contrário prevalece a liberdade das formas entre as partes. Segundo Ricardo Fiúza, Elementos essenciais do ato negocial: os elementos essenciais são imprescindíveis à existência e validade do ato negocial, pois formam sua substância; podem ser gerais, se comuns à generalidade dos negócios jurídicos, dizendo respeito à capacidade do agente, ao objeto lícito e possível e ao consentimento dos interessados;e particulares, peculiares a determinadas espécies por serem concernentes à sua forma e prova. A) CAPACIDADE DO AGENTE Se todo negócio jurídico pressupõe uma declaração de vontade, a capacidade do agente é indispensável. Os artigos 3º e 4º do Código Civil apresentam o rol das pessoas absoluta ou relativamente incapazes. Enquanto os absolutamente incapazes são representados em seus interesses por seus pais, tutores e curadores, os relativamente incapazes (embora possam participar pessoalmente dos negócios jurídicos) devem ser assistidos pelas pessoas a quem a lei determinar. Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos: VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento; O ato praticado pelo absolutamente incapaz sem representação é nulo: Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 14 de 202 O ato realizado pelo relativamente incapaz sem assistência é anulável: Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I - por incapacidade relativa do agente; Para não esquecer – incapacidade: Absoluta (Art. 3º, CC) falta de representação → ato nulo, não produz efeitos. Relativa (Art. 4º, CC) falta de assistência ato → anulável, produz efeitos até a declaração de anulação. Como todo ato negocial pressupõe uma declaração de vontade, a capacidade do agente é indispensável à sua participação válida na seara jurídica. Para relembrar que a capacidade poderá ser: a) geral, ou seja, a de exercer direitos por si, logo o ato praticado pelo absolutamente incapaz sem a devida representação será nulo (Art. 166, I, CC) e o realizado pelo relativamente incapaz sem assistência será anulável (Art. 171, I, CC). b) legitimação / específico, requerida para a validade de certos negócios em dadas circunstâncias (exemplo: pessoa casada é plenamente capaz, embora não tenha capacidade para vender imóvel sem autorização do outro (Art. 1.649, CC), exceto se o regime matrimonial de bens for o de separação. Espécies de Representantes (Arts. 115 – 120, CC): a) Legais – a norma jurídica confere poderes para administrar bens alheios. Exemplos: pais, tutores e curadores, em relação aos bens dos filhos, tutelados e curatelados, os síndicos em representação ao condomínio. b) Judiciais – nomeados pelo Juiz para exercer certo cargo em um determinado processo. Exemplos: administrador judicial de uma falência, inventariante. c) Convencionais – através de mandato, expresso ou tácito, verbal ou escrito. Exemplos: o contrato de mandato (Art. 653, CC), procuração outorgada (fornecida) a um advogado para patrocinar um processo judicial. B) OBJETO LÍCITO, POSSÍVEL, DETERMINADO OU DETERMINÁVEL O negócio jurídico válido deve ter em todas as partes que o constituírem, um conteúdo legalmente permitido. Além da capacidade das partes, para que o negócio jurídico se repute perfeito e válido, deverá versar sobre um objeto lícito, conforme a lei, não sendo contrário aos bons costumes, à ordem pública e à moral. Exemplo: na locação de um imóvel para fins residenciais, este é o objeto do contrato. Assim, eu não se pode desvirtuar o que foi pactuado e abrir naquele imóvel (que era para fins residenciais), uma casa para exploração da prostituição (Código Penal: Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a abandone / Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiros, estabelecimento em que DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 15 de 202 ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente). Desta forma, se o objeto do contrato foi ilícito, nulo será o negócio jurídico, por exemplo, na compra e venda de objeto roubado. NÃO TORNAR AQUILO QUE É LÍCITO COMO SINÔNIMO DE LEI (SOMENTE LEI PROPRIAMENTE DITA), E SIM LÍCITO AQUILO QUE ESTÁ EM CONFORMIDADE COM O DIREITO. Além disso, o objeto deve ser possível, realizável. Se o negócio implicar prestações impossíveis, também será considerado nulo; a impossibilidade é física ou impossibilidade jurídica que é similar à objeto ilícito porque contraria o ordenamento jurídico. Exemplos: venda de herança de pessoa viva (impossível juridicamente ou ilícito - Art. 426, CC); ir à lua e voltar em 2 horas (impossibilidade física); compra e venda de um terreno em marte (impossibilidade física). Finalmente deve ser o mesmo determinado ou, ao menos, determinável, ou seja, deve ser previamente conhecido e individualizado ou devem existir critérios que permitam sua futura individualização (indicação de gênero e quantidade, ainda que não seja mencionada a qualidade). IMPOSSIBILIDADE INICIAL (RELATIVA) - Art. 106, CC: A impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado. Exemplos: contratação de uma empresa para construção de um muro durante 03 dias, no segundo dia o pedreiro ficou doente, outro virá para conclusão; venda de um objeto, sem inicialmente, ser o proprietário (dono), porém no momento da entrega do objeto, já havia adquirido a propriedade dele. “Falta de objeto lícito, possível, determinado ou determinável → Negócio Jurídico Nulo” C) CONSENTIMENTO – VONTADE LIVRE A manifestação de vontade exerce papel importante no negócio jurídico, sendo um elemento básico. Portanto, é necessário que esta vontade seja espontânea, livre de qualquer vício (erro, dolo, lesão, coação moral, estado de perigo). O consentimento pode ser expresso (se declarado por escrito ou verbalmente, mas de maneira explícita) ou tácito (se resultar de um comportamento do agente que demonstre, implicitamente, sua anuência, sua concordância com a situação), desde que o negócio, por sua natureza ou por disposição legal, não exija forma expressa. O Art. 110, CC, trata da Reserva mental: Há reserva mental quando um dos contratantes reserva-se, secretamente, a intenção de não cumprir o contrato. A reserva mental é combatida no Código Civil no seu artigo 110, onde dispõe que "a manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento". DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 16 de 202 Alguns doutrinadores a chamam de "Simulação Unilateral". Exemplos: - um autor declara que o produto da venda de seus livros será para fins filantrópicos, mas faz isto unicamente para obter a simpatia e assim fazer com que a venda seja boa; não poderá depois voltar atrás e não destinar o valor auferido para o fim anunciado, isto é, deverá dar a destinação filantrópica; - alguém vende imóvel supondo que a venda será anulada por vício de forma, por exemplo a ausência de escritura pública; a venda do imóvel poderá até não estar concluída, mas a relação obrigacional persistirá. O silêncio pode importar em anuência, se as circunstâncias e os usos o autorizarem e não for necessária a declaração de vontade expressa (Art. 111, CC). Ou seja, o silêncio somente terá valor jurídico se a lei assim determinar. Portanto, não é totalmente aceito o brocardo: “quem cala consente”. Mas em alguns casos ele se aplica, como na hipótese da doação pura (Art. 539.O doador pode fixar prazo ao donatário, para declarar se aceita ou não a liberalidade. Desde que o donatário, ciente do prazo, não faça, dentro dele, a declaração, entender-se-á que aceitou, se a doação não for sujeita a encargo), onde o silêncio do beneficiário é considerado como aceitação, concluindo o contrato. Outro princípio básico relativo às declarações de vontade é de que se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem (Art. 112, CC). Aqui está presente o princípio da boa-fé (lealdade, honestidade, retidão, camaradagem, informação, confiança). Os negócios, de uma forma geral, podem conter alguma cláusula duvidosa ou algum ponto controvertido, sendo necessária uma interpretação. Pelo Código esta interpretação deve procurar se situar mais na vontade real dos contratantes, procurando as consequências e os efeitos desejados por eles, indagando sua real intenção, do que no sentido literal do negócio (que seria o exame gramatical, de forma “fria” de um texto do contrato). Além disso, os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé objetiva e os usos do lugar de sua celebração (Art. 113 CC). Trata-se de referência à boa fé objetiva que representa um dever de conduta das partes, de acordo com a lealdade, honestidade, confiança, conforme acima já apontado. Finalmente o Art. 114, do CC, estabelece que os negócios jurídicos benéficos (Exemplo: uma doação pura e simples) e a renúncia (dispensar algo) interpretam-se estritamente, isto é, o Juiz não poderá dar a estes negócios uma interpretação mais ampla. A hermenêutica do Juiz deve ficar restrita ao que foi estipulado pelas partes. O Juiz não pode substituir as partes com sua vontade. Um exemplo clássico disso é a fiança nos contratos de locação: sua natureza é gratuita, portanto é considerado um negócio jurídico benéfico; por tal motivo, se houver alguma dúvida quanto a sua abrangência, esta deve ser resolvida fazendo-se uma interpretação restritiva, ou seja, em favor daquele que prestou a fiança (o fiador), não se ampliando as obrigações do mesmo. Conceito contrato de fiança: pelo contrato de fiança, uma pessoa garante satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo devedor, caso este não a cumpra (Art. 818, CC). DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 17 de 202 3.4 ELEMENTOS ESSENCIAIS ESPECIAIS: Veremos agora o elemento essencial especial, que é a forma prescrita ou não defesa em lei. Cuidado com esta expressão! Forma prescrita é a determinada pela lei; forma não defesa em lei é a forma não proibida pela lei. Forma é o meio pelo qual se externa a manifestação de vontade nos negócios jurídicos; é o conjunto de formalidades, solenidades, para que o ato tenha eficácia jurídica. Forma prescrita ou não defesa em lei Em regra, a vontade pode se manifestar livremente, não havendo uma forma especial. Pode-se recorrer à palavra falada, escrita, ao gesto e até mesmo ao simples silêncio. O Art. 107 CC determina que: “A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir”. Todavia, em casos determinados, para maior segurança das relações jurídicas, a lei prescreve a observância de forma especial. Forma especial (ou solene) é o conjunto de solenidades (procedimentos) que a lei estabelece como requisito para a validade de determinados atos jurídicos. Tem por finalidade garantir a autenticidade do ato, facilitando sua prova e assegurando a livre manifestação de vontade das partes. Nulo é o negócio jurídico quando não se revestir da forma prescrita em lei ou quando preterir alguma solenidade que a lei considere essencial para sua validade (Art. 166, V, do CC). Ante o que foi aqui falado sobre a forma dos negócios jurídicos em geral, concluímos que eles podem ter: 1 – Forma Livre (ou geral) – para os contratos consensuais (também chamados de não formais) pode ser usado qualquer meio de exteriorização da vontade (desde que não prevista forma especial): palavra escrita ou falada, gestos e até mesmo o silêncio. Exemplos: admite-se a forma verbal para a doação de bens móveis de pequeno valor (Art. 541, CC); mandato (Art. 656, CC); mútuo. 2 – Forma Especial (ou solene) – para os contratos formais ou solenes conjunto de formalidades que a lei estabelece como requisito para a validade de certos atos. Citamos alguns exemplos (entre outros) de negócios jurídicos que exigem uma formalidade especial: ● casamento - para se casar é imprescindível todo um conjunto de formalidades, um rito totalmente formal e adequado, inclusive quanto ao regime de bens escolhido. ● pactos antenupciais - deve ser escritura pública. ● herança - por meio de um testamento, com inúmeras formalidades essenciais. ● adoções - registro de pessoas naturais. DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 18 de 202 ● compra e venda e doações de imóvel - formalizado por uma escritura pública e posterior registro. ● bem de família - escritura pública. ● testamento - deve ser feito por escrito, rito adequado e número de testemunhas determinado. ● hipoteca - registro de imóveis criação de fundação escritura pública ou testamento. ● reconhecimento de filho - no próprio termo do nascimento, por escritura pública ou particular, por testamento ou manifestação expressa e direta perante o Juiz. Com efeito, quando a lei não determina, as partes estão livres quanto à forma (exteriorização) do ato; no entanto, as partes podem ajustar uma determinada forma se a lei não exigir, conforme admite o Art. 109, CC. A previsão contratual de forma especial - a emissão da vontade é dotada de poder criador; assim sendo, se houver cláusula negocial estipulando a invalidade do negócio jurídico, se ele não se fizer por meio de escritura pública, esta passará a ser de sua substância. Logo, tal declaração de vontade somente terá eficácia jurídica se o ato negocial revestir a forma prescrita contratualmente. 3.5 ELEMENTOS ACIDENTAIS – PLANO DA EFICÁCIA (Arts. 121 – 137, CC): Os elementos acidentais do negócio jurídico são as cláusulas que se lhe acrescentam com o objetivo de modificar uma ou algumas de suas consequências naturais, ou seja, na geração dos efeitos jurídicos que lhe sejam próprios. São elementos ditos acidentais porque o ato negocial pode estar perfeito sem eles; sua presença é dispensável para a existência do negócio. Desta forma são declarações acessórias de vontade. Um contrato pode ter ou não esses elementos. São elementos acidentais: ● Condição ● Termo ● Modo ou Encargo CONDIÇÃO Condição (Art. 121, CC) é a cláusula que subordina o efeito do ato jurídico a evento futuro e incerto. Exemplo: eu lhe darei o meu carro, se eu ganhar na loteria. Antes de se realizar a condição, o ato é ineficaz (não produz efeitos). Os requisitos para a condição são a futuridade e a incerteza. O titular de direito eventual (seja a condição suspensiva ou resolutiva) pode exercer os atos destinados à conservação do direito (exemplo: requerer inventário, pedir caução, etc.). DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 19 de 202 A condição pode ser classificada em: 1 – QUANTO AO MODO DE ATUAÇÃO: a) Suspensiva (Art. 125, CC) - é a condição cuja eficácia (efeito) do ato fica suspensa até a realização do evento futuro e incerto; protela-se, temporariamente, a eficácia do negócio. Exemplo: eu lhe darei uma joia se você ganhar a corrida; enquanto você não ganhar, eu não preciso entregar o bem, pois a condição suspende a doação. Assim o efeito (eficácia) do negócio jurídico que é o recebimento da joia, fica suspenso até a realizaçãoda condição (ganhar a corrida – futuro e incerto); por consequente, com a efetiva realização da condição, ou seja, ganhou a corrida, negócio jurídico válido e com produção dos efeitos: recebeu a joia. Outro exemplo: eu lhe darei um carro, se você passar no concurso / exame de ordem. - Enquanto não verificada (realizada, concretizada) a condição, ela é chamada de pendente (suspensa). - A ocorrência (ou o cumprimento) da condição é chamada de implemento. - Quando a condição não é realizada, chamamos de frustração. IMPORTANTE E NÃO ESQUECER: “Pendente a condição, não há direito adquirido, mas uma expectativa de direito ou um direito eventual”. b) Resolutiva (Art. 127, CC) é a condição que subordina à ineficácia do negócio jurídico a um evento futuro e incerto. É a condição cujo implemento extingue os efeitos do ato (resolver = extinguir). Exemplo: deixar de te dar uma mesada (certa quantia) caso repetir de ano. Enquanto a condição não se realizar, vigorará o negócio jurídico. Verificada a condição, extingue-se o direito. Exemplo: emprestar uma casa para outra pessoa residir enquanto for solteiro. Isto quer dizer que no dia em que você se casar (condição) perderá o direito de usar a casa (efeito); portanto, resolve-se, extingue-se o seu direito, ou enquanto cursar direito no Uninorte. 2 – QUANTO À PARTICIPAÇÃO DOS SUJEITOS: a) Causal - se depender de força maior ou um acontecimento fortuito; ao acaso. Exemplo: dar um anel de brilhantes se chover amanhã – chover amanhã é um acontecimento futuro e imprevisível. b) Potestativa - se decorrer da vontade de uma das partes. Subdivide-se em: - Puramente potestativa - quando decorre de um capricho ou arbítrio do proponente; decorre da vontade absoluta de uma das partes, segundo um critério exclusivo de sua conveniência. DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 20 de 202 Exemplo: dar um carro se eu quiser. São proibidas pelo nosso Direito – Art. 122, CC. - Meramente (ou simplesmente) potestativa - depende da prática de algum ato do contraente e de um fator externo. Exemplo: dar uma joia se você cantar bem; ou passar num concurso; pagar quando revender a coisa. Um dos contratantes tem poder sobre a ocorrência do evento, mas não um poder absoluto, pois depende, ainda, de fatores ligados ao outro contratante. Por este motivo a cláusula é válida (ao contrário da puramente potestativa em que decorre da vontade exclusiva, do puro arbítrio de uma das partes). Observação – pode haver uma combinação entre todas as espécies de condição. Exemplo: a condição pode ser suspensiva e causal ao mesmo tempo, ou suspensiva e potestativa. Também resolutiva e causal e resolutiva e potestativa. 3 – QUANTO À POSSIBILIDADE: Física impossível - é a que não se pode efetivar por ser contrária à natureza (exemplos: doação de uma casa condicionada à ingestão de 1000 litros de água; dar um carro se você filtrar toda a água do mar ou retirar o sal; obrigação de trazer uma montanha para a praça principal de uma cidade) ou à ordem legal (exemplo: dar um carro se você renunciar à pensão alimentícia, recebimento de um benefício sob a condição de renúncia ao trabalho). Importante: a) Invalidam os Negócios Jurídicos: as condições físicas e juridicamente impossíveis, quando suspensivas (Art. 123, I, CC), as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita (Art. 123, II, CC), bem como as condições incompreensíveis ou contraditórias (Art. 123, III, CC), por exemplo, dou meu único carro para João se ele obtiver nota 8,0 em Direito Civil, a casa, se você nunca a ocupar. b) O CC/2020 considera como condições inexistentes as condições impossíveis quando forem resolutivas e as de não fazer coisa impossível (Art. 124, CC). 4 – QUANTO À LICITUDE: a) Lícita - quando não for contrária à lei, ou seja, ela é permitida ou tolerada por nosso Direito. Exemplo: quando a filha voltar do exterior, o pai doará um carro. b) Ilícita - quando for condenada pela norma jurídica, pela ordem pública, pela moral e pelos bons costumes. Exemplo: dar uma joia se você deixar viver em adultério; ou, se você mudar de religião; ou se você não se casar. Condições não aceitas pelo nosso Direito: ■ não se casar - não pode haver essa condição; ■ exílio ou morada perpétua em determinado lugar - porém nada impede a condição de que vá morar em outro lugar, como no interior do Estado. DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 21 de 202 ■ religião - a condição para mudança de religião atenta contra a liberdade de consciência assegurada pela Constituição. ■ profissão - não pode haver condição para que não se exerça determinada profissão, porém pode haver para que se siga certa profissão. ■ aceitação ou renúncia (dispensa) de herança – este ato deve ser puro e simples, sem condições. ■ reconhecimento de filhos, emancipação – também não pode haver qualquer condição para se reconhecer um filho (exemplo: alguém reconhece um filho, desde que não receba pensão alimentícia ou renuncie o direito de eventual herança). ■ aquelas vinculadas aos direitos da personalidade – liberdade, dignidade, honra, vida, respeito, igualdade. TERMO Termo é o dia em que começa e/ou se extingue a eficácia (efeito) do negócio jurídico. Subordinando-se a um evento futuro e certo (embora a data deste evento possa ser determinada ou indeterminada). O termo pode ser classificado em: ◙ Inicial ou Suspensivo (dies a quo) - se fixar o momento em que a eficácia do negócio deve iniciar, retardando o exercício do direito (exemplo: a locação terá início dentro de dois meses). O termo inicial não suspende a aquisição do direito, que surge imediatamente, mas só se torna exercitável com a superveniência do termo. O Termo suspende o exercício (efeito), mas não a aquisição do direito. O exercício do direito fica suspenso até o instante em que o acontecimento futuro e certo, previsto, ocorrer. ◙ Final ou Resolutivo (dies ad quem) - se determinar a data da cessação dos efeitos do negócio, extinguindo as obrigações (exemplo: a locação se findará no prazo de 05 anos). Antes de chegar o dia estipulado para seu vencimento, o negócio, subordinado a um termo final vigorará plenamente e seu titular poderá exercer todos os direitos dele provenientes. ◙ Certo - quando estabelece uma data determinada do calendário (exemplos: a locação terá início no dia 1º de janeiro do próximo ano, pagamento daqui a 30 dias, quando completar a maioridade). ◙ Incerto - se se referir a um acontecimento futuro, mas com uma data incerta, indeterminada, mas que ocorrerá, e não há uma condição. Exemplo: dar um imóvel quando fulano falecer; o evento é futuro e certo (pois a morte é sempre certa), porém a data é incerta; um imóvel para ser de outro após a morte de seu proprietário. Não confundir termo com prazo: - Prazo é o lapso de tempo compreendido entre a declaração de vontade e a superveniência do termo em que começa o exercício do direito ou extingue o direito até então vigente. Ou seja, DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 22 de 202 prazo é o intervalo entre o termo inicial e o termo final. É contado por unidade de tempo (hora, dia, mês e ano), excluindo-se o dia do começo (dies a quo) e incluindo-se o dia do vencimento (dies ad quem), salvo disposição legal ou convencional em contrário. Regras (Art. 132 e 133, CC): ► Se o vencimento se der em feriado ou domingo, prorroga-se até o primeiro dia útil subsequente. ► Meado considera-se, em qualquer mês, o seu 15º dia. ► O prazo estipulado por mês (30 dias) ou por ano (12 meses), expira-se no dia de igual número de início ou no imediato,se faltar essa correspondência. ► O prazo fixado por horas, conta-se de minuto a minuto. ► Nos testamentos presumem-se os prazos em favor do herdeiro. Nos contratos, presumem-se em favor do devedor (salvo se do teor do instrumento ou das circunstâncias resultar que se estabeleceu em benefício do credor, ou de ambos os contratantes). Também pode haver uma combinação entre todas as espécies de Termo. Exemplo: o termo pode ser inicial e certo; inicial e incerto; final e certo; final e incerto. DOS DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO (Arts. 138 a 165, CC): CONCEITO - Defeito é todo vício que macula (atinge) o ato jurídico, tornando-o passível de anulação ou nulidade. O defeito pode ser grave (vicia o ato de forma definitiva) ou leve (pode ser remediado/convalidado pelo interessado). O legislador seleciona o que entende por anulação (leve) ou nulidade (grave). Pode-se dizer que um ato é válido, quanto ao consentimento: se “Maria faz algo que queria fazer e isto não prejudica ninguém”. Às vezes ela pode ter feito algo que não era o que ela queria fazer (e quantas vezes isso ocorre); quer comprar algo e se engana... ou é enganada. Outras vezes, fez afeta a terceiros, prejudicando essas pessoas, que não foram partes do negócio principal, mas que foram lesados com a sua conduta. É importante notar que em qualquer uma destas duas situações (fez algo que não queria ou fez algo que ela queria, mas prejudicou interesses de terceiros) surgem os defeitos relativos à vontade. Assim sendo, se existe uma vontade, porém sem a correspondência com aquela que o agente quer exteriorizar, sem ser uma vontade LIVRE, o Negócio Jurídico será viciado ou deturpado, tornando-se anulável (defeito leve), se no prazo decadencial de 04 anos for movida ação de anulação, do contrário, sem a anulação, produz os efeitos jurídicos. São os chamados vícios de consentimento (erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão). Nestes casos há uma desavença entre a vontade real e a vontade declarada. Existem outras hipóteses em que se tem uma vontade funcionando normalmente, havendo até correspondência entre a vontade interna e a manifestação, mas, no entanto, ela se desvia da lei DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 23 de 202 ou da boa-fé. O que foi colocado no contrato infringe a lei e prejudica terceiros. Também são passíveis de apresentarem defeitos. São os chamados vícios sociais (simulação e fraude contra credores). Conforme será visto, o vício o ato pode ser nulo, anulável ou até mesmo válido com vício. Resumindo: VÍCIOS (DEFEITOS) VÍCIOS DE CONSENTIMENTO VÍCIOS SOCIAIS - ERRO OU IGNORÂNCIA - DOLO - COAÇÃO - ESTADO DE PERIGO - LESÃO - FRAUDE CONTRA CREDORES - SIMULAÇÃO AUSÊNCIA DE VONTADE → NEGÓCIO JURÍDICO NULO 3.6 VÍCIOS DE CONSENTIMENTO: Os vícios de consentimento estão vinculados a elementos psicológicos oriundo da vontade do sujeito na realização de negócios jurídicos, que causam defeito na manifestação de vontade. 3.6.1 - ERRO OU IGNORÂNCIA (Arts. 138 a 144, CC) Este é o primeiro defeito relativo ao consentimento. O aluno que conseguir entender o seu alcance não sentirá nenhuma dificuldade de entendimento dos demais defeitos. Por isso, muita atenção!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Erro e Ignorância são sinônimos? O Código Civil equipara o erro à ignorância quanto aos efeitos; ou seja, o Código não distingue um instituto do outro e afirma que as suas consequências são idênticas no campo do Direito, porém a doutrina faz distinção entre o Erro e a Ignorância. Conceito de erro - é a falsa noção que se tem de um objeto ou de uma pessoa. Ocorre quando o agente pratica o ato baseando-se em falso juízo ou engano. O Art. 138, CC, assim dispõe: são anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio. Exemplo: Ana pensou que era uma blusa, mas é outro (camisa). DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 24 de 202 Já a ignorância é o completo desconhecimento acerca do objeto (blusa/camisa) ou da pessoa. Assim, às vezes usamos a expressão “erro”, mas queremos nos referir ao erro e à ignorância. Importante notar que o ato somente será anulável se o erro ou a ignorância for essencial, conforme veremos. Na verdade, o erro é um registro falso. A pessoa se engana sozinha. Ninguém a induz a erro. Pode ser cometido por conta própria. O erro (ou a ignorância) pode ser classificado em: A) ESSENCIAL OU SUBSTANCIAL (também chamado de escusável ou real) - é o que se refere à natureza do próprio ato; recai sobre circunstâncias e aspectos principais, relevantes do negócio. O erro essencial pode recair sobre: 1) o próprio negócio – o erro recai sobre a modalidade de contrato que foi feito. Maria pensou em fazer um contrato, mas fez outro. Exemplos: Maria emprestou uma blusa para Ana, mas ela entende que houve uma doação do objeto; Luiz quer vender um livro, mas acaba doando; quer alugar (o aluguel é oneroso), mas termina fazendo um comodato (que é um empréstimo gratuito) de um imóvel. 2) o objeto principal da declaração de vontade – o erro recai sobre alguma qualidade essencial do objeto do contrato. Exemplos: Lucas pensa estar comprando uma pulseira de ouro, mas na verdade trata-se de uma liga de cobre, compra um cavalo de carga pensando se tratar de “puro- sangue”, pensa comprar um quadro de um artista famoso, mas é uma cópia. Notem, mais uma vez, que ninguém enganou. Ele errou sozinho (quando alguém engana se trata de outro defeito, como veremos). 3) a qualidade essencial da pessoa – houve um erro em relação à pessoa. Neste caso o erro pode incidir sobre o: Casamento: Art. 1.557 (CC). Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge: I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado; II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida conjugal; III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável que não caracterize deficiência ou de moléstia grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência; São critérios subjetivos (depende da análise da pessoa) por isso é anulável. Em ambas as situações o casamento pode ser anulado por “vício essencial sobre a pessoa”. Testamento: Exemplo – deixar uma joia para X, que salvou minha vida. Descubro, posteriormente, que foi Z e não X quem salvou minha vida. Se eu soubesse que foi Z quem salvou minha vida, eu não teria dado aquela joia a X. Eu a teria dado a quem realmente salvou minha vida, ou seja, Z. Neste exemplo o erro é chamado de “erro quanto ao fim colimado ou por falsa causa”. Ele somente vicia a declaração de vontade, quando expresso como razão determinante. DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 25 de 202 4) erro de direito – O erro de direito é o engano quanto à existência ou interpretação da norma jurídica. Como regra ele não admite escusa, não pode ser alegada. No entanto, admite-se o erro de direito (e, por consequência, o negócio jurídico pode ser anulado) se o ato não implicar em recusa à aplicação da lei e for o motivo único ou principal do Negócio Jurídico (Art. 139, III, CC). Isto é, não pode o ato recair sobre a norma cogente (impositiva, de ordem pública), mas tão- somente sobre normas dispositivas (ou seja, referentes a direitos que a pessoa poderia dispor). Lembrem-se: “Ninguémpode se escusar de cumprir a lei alegando que não a conhece” - Princípio da Obrigatoriedade Explicando um pouco melhor. O erro, como regra, recai sobre uma situação de fato (como vimos, um contrato propriamente dito, ou o objeto deste contrato, ou uma pessoa). É o erro de fato sobre uma situação concreta. Já o erro de direito é aquele que diz respeito à existência (ou não) de uma norma jurídica. A pessoa supõe que uma lei não existe ou que não esteja mais em vigor. Exemplo: firmar um contrato de locação com base na lei antiga, pensando que ela ainda está vigorando. O tema é polêmico exatamente porque não se pode alegar desconhecimento da norma. Num caso concreto o Juiz fará análise e o seu convencimento será fundamental para indicar ou não o erro de direito, pois tem previsão legal no Art. 139, III, CC. Importante - Só o erro substancial, essencial, escusável, real, anula o negócio jurídico. O erro deve ser de tal forma que, caso a verdade fosse conhecida, o ato não seria realizado. Mas o contratante que se achou em erro e promove a invalidade do contrato pode ser condenado a ressarcir os danos que causar à outra parte por não ter procedido com a diligência necessária ao prestar o seu consentimento. Segundo Ricardo Fiúza, o erro é uma noção inexata sobre um objeto, que influência a formação da vontade do declarante, que a emitirá de maneira diversa da que a manifestaria se dele tivesse conhecimento exato. Para viciar a vontade e anular o ato negocial, deste deverá ser substancial, escusável e real. Escusável, no sentido de que há de ter por fundamento uma razão plausível ou ser de tal monta que qualquer pessoa de atenção ordinária seja capaz de cometê-lo em face da circunstância do negócio. Real, por importar efetivo dano para o interessado. Não há o erro imaginário (sem dano real, efetivo). O erro substancial é erro de fato por recair sobre circunstância de fato, ou seja, sobre as qualidades essenciais da pessoa ou da coisa. Poderá abranger o erro de direito (CC, Art. 139, III), relativo à existência de uma norma jurídica dispositiva, desde que afete a manifestação da vontade, caso em que viciará o consentimento. B) ACIDENTAL - é o concernente às qualidades secundárias ou acessórias da pessoa ou do objeto. Não vicia o ato; este continua válido, produzindo efeitos, por não incidir sobre a declaração de vontade. DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 26 de 202 Exemplo: comprar um carro de número de série diferente; compro uma casa pensando que tem quatro janelas, mas só tem três; dor um relógio a uma pessoa pensando ser ela solteira, mas é casada, etc. Também o chamado erro de cálculo (inexatidão material) não é causa de anulação do negócio, mas de simples retificação (Art. 143, CC). Pode incidir sobre o peso, a medida, a quantidade, o valor do bem, etc. É uma espécie de erro acidental, não incidindo sobre a declaração de vontade; não vicia o consentimento. Exemplo: comprar 12 camisas, sendo que o valor de cada uma delas é de R$ 45,00; logo deveria pagar R$ 540,00, mas acabei pagando somente R$ 450,00. É evidente que houve um erro na elaboração aritmética dos dados do negócio, pois as partes sabiam do valor do negócio, errando apenas no momento da realização do cálculo final. 3.6.2 - DOLO (Arts. 145 a 150, CC) Conceito: é o artifício empregado por uma pessoa para enganar a outra. Segundo Clóvis Beviláqua é o emprego de um artifício ou expediente astucioso para induzir alguém a prática de um ato que prejudica e aproveita o autor do dolo ou a terceiro. Classificação: Dolus Malus (dolo mau) - consiste em manobras astuciosas para enganar alguém e lhe causar prejuízo. Por isso é anulável. É desse dolo que trata o CC/2002. O dolo mau pressupõe: a) prejuízo para o autor do ato. b) benefício para o autor do dolo ou uma terceira pessoa. Dolus Bonus (dolo bom) - é um dolo tolerável, lícito, não induz anulabilidade, que consiste em reticências, exageros nas boas qualidades da mercadoria ou dissimulações de defeitos. É o artifício que não tem a finalidade de prejudicar ninguém. Não é anulável, desde que não venha a enganar o consumidor, mediante propaganda abusiva. Exemplo: Maria, mãe de Luiz, incentiva-o a tomar um remédio que não deseja ingerir e que lhe é necessário, o vendedor exagera nas qualidades do produto (o melhor produto do mundo). Não há normas absolutas que possibilitem diferenciar essas duas espécies de dolo, cabendo ao órgão judicante, em cada caso concreto, levar em contar a inexperiência e o nível de informação da vítima. Dolo Principal, essencial ou substancial (dolus causam) é o que recai sobre aspectos essenciais do negócio; aquele que dá causa ao negócio jurídico, sem o qual ele não se teria concluído, acarretando, então, a anulabilidade do negócio jurídico. É preciso que haja uma relação de causa e efeito entre a indução do erro e a prática do negócio Dolo Acidental (dolus incidens) - leva a vítima a realizar o negócio, porém em condições mais onerosas ou menos vantajosas, não afetando sua declaração de vontade. O negócio teria sido praticado de qualquer forma, embora de outra maneira. Não anula o negócio, não é considerado um vício de consentimento, apenas obriga a satisfação de perdas e danos ou uma redução da prestação pactuada. DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 27 de 202 O dolo ainda pode ser: Positivo (ou comissivo) - resulta de uma ação dolosa; são os artifícios positivos. Exemplo: falsas afirmações sobre as qualidades de uma coisa: pode comprar este “cachorrinho” que eu garanto... ele vai ficar bem pequeno... ele é da espécie “toy” ... passados alguns meses o “cachorrinho” se torna um “cachorrão”. Negativo (ou omissivo) - resulta de uma omissão dolosa, ocultação de algo que a parte contratante deveria saber no momento da realização do contrato. Exemplo: seguro de vida omitindo doença grave e vem a falecer dias depois; venda de um cachorrinho já doente que vem a morrer logo depois da venda. Desta forma o silêncio pode ser considerado como um mecanismo de atuação dolosa. Observações Importantes: Dolo x Erro - o erro deriva de um equívoco da própria vítima, sem que a outra parte tenha concorrido para isso; já o dolo é intencionalmente provocado na vítima pelo autor do dolo. Em outras palavras: no erro a pessoa erra sozinha; no dolo alguém enganou, isto é, a pessoa foi induzida a cometer este erro pela conduta da outra parte. Dolo recíproco - quando ambas as partes agem com dolo, configurando-se torpeza bilateral, ocorre a neutralização do delito. Isto é, no caso de dolo recíproco não haverá a anulação para nenhuma das partes. O ato é considerado válido. 3.6.3 – COAÇÃO (Arts. 151 a 155, CC) Conceito - é a pressão física ou psicológica (moral) exercida sobre alguém para obrigá-lo a praticar determinado ato. Na coação o agente sofre intimidação, oferecendo-se à vítima duas alternativas: emitir a declaração de vontade que não pretendia originalmente ou não o fazer o ato e sofrer as consequências decorrentes da concretização de uma ameaça ou de uma chantagem. Na coação a vítima também é chamada de paciente. Espécies: Coação Física (vis absoluta) - é o constrangimento corporal que retira toda capacidade de querer, implicando ausência total de consentimento, acarretando nulidade do ato (exemplo: amarrar a vítima, segurar sua mão e fazê-la assinar contrato). Coação Moral (vis compulsiva) - atua sobre a vontade, sem aniquilar-lhe o consentimento, pois conserva ela uma relativa liberdade, podendo optar entre a realização do negócio que lhe é exigido e o dano com que é ameaçada. (exemplos: se Maria não assinar o contrato, Marcos vai quebrar sua casa; empréstimo de uma casa dianteda possibilidade de mostrar uma foto sua em uma situação constrangedora). Efeitos Coação Física – não há consentimento algum - ausência de vontade “ato nulo”. Coação Moral – há um consentimento viciado “ato anulável”, DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 28 de 202 Requisitos para anulação da coação moral: - Causa determinante do negócio jurídico – ou seja, nexo causal entre o meio intimidativo e o ato realizado pela vítima. - Temor justificado – na maioria das hipóteses se trata de ameaça ou chantagem. Exemplos como a ameaça de morte, cárcere privado, desonra, mutilação. O grau de ameaça ou de chantagem deve ser apreciado pelo Juiz, para o reconhecimento (ou não) do defeito e a anulação do ato. - Dano iminente – suscetível de atingir a pessoa da vítima, sua família, seus bens, etc. - Dano grave e sério – ameaça deve ser grave (se a ameaça for indeterminada ou impossível não é capaz de anular o ato) e séria, capaz de assustar a vítima (ou paciente). Observação – O dano pode atingir pessoa não pertencente à família da vítima, hipótese em que o Juiz decidirá com equidade, se houve ou não a coação. A coação exercida por terceiro, ainda que dela não tenha ciência o contratante, vicia o negócio (anulável). Se a coação exercida por terceiro for previamente conhecida pela parte a quem aproveitar, esta responderá solidariamente com aquele por todas as perdas e danos (Art. 154 CC). Excluem a coação (ou seja, não se configura coação): - Ameaça do exercício normal de um direito (exercício regular de direito). Exemplo: se você não pagar a dívida, vou protestar o título e ingressar com uma ação de execução ou requerer sua falência; - Simples temor reverencial - o receio de desgostar os pais, ou pessoas a quem se deve respeito e obediência também é incapaz de viciar o negócio. A coação prevista no Código Civil (Arts. 151 a 155) refere-se à coação moral (anulação), uma vez que a coação física (inexistência de vontade) causa a nulidade do negócio. 3.6.4 – ESTADO DE PERIGO (Arts. 156, CC) Conceito – quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa (Art. 156 do CC). A vítima não errou, não foi induzida a erro ou coagida, mas pelas circunstâncias de um caso concreto, foi compelida a celebrar um negócio que lhe era extremamente desfavorável. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do contratante o Juiz decidirá segundo as circunstâncias. A pessoa temerosa de grave dano moral ou material (situação equiparada ao estado de necessidade, mas que com ele não se confunde), acaba assinando contrato, mediante prestação exorbitante. Exemplo: um pai teve filho sequestrado, sendo o que bandido lhe pediu 100 mil reais para o resgate. Um “amigo” sabendo do problema, se oferece para comprar suas joias; estes valem 500 DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 29 de 202 mil, mas ele oferece por 100 mil, que é o valor do resgate. O que faria um pai nesta hora?? Acaba vendendo as joias para o “amigo” (que amigo!!!!!!!!) por valor muito inferior ao mercado. Posteriormente pode anular o negócio. Outros exemplos: vítima de acidente automobilístico que assume obrigação exagerada para ser salva de imediato; venda de imóvel por valor ínfimo para poder pagar cirurgia de filho, que corre risco de morte. É necessário, em todos os exemplos fornecidos, que a outra parte tenha conhecimento da situação de desespero do primeiro e se aproveite dessa situação. Realizado um contrato sob um Estado de Perigo, a sanção é a anulação – Arts. 171, II e 178, II do CC. O prazo é decadencial (pois atinge o direito propriamente dito) de 04 anos. A anulação se dá pela ofensa ao senso de justiça que deve estar presente nos contratos em razão da sua função social; a parte agiu contra o princípio da boa-fé objetiva, pois se aproveitou da situação de necessidade para tirar vantagem do negócio. 3.6.5 – LESÃO (Arts. 157, CC) Trata-se de outra inovação do atual Código. Este instituto tem o intuito de proteger o contratante em posição de inferioridade ante o prejuízo por ele sofrido na conclusão do contrato, devido a desproporção existente entre as prestações. Decorre do abuso praticado em situação de desigualdade, punindo a chamada “cláusula leonina” (alguns autores também chamam de cláusula draconiana) e o aproveitamento indevido na realização do contrato. Exemplo: pessoa está em vias de ser despejado e, premido pela necessidade de abrigar sua família e não ver seus bens deixados ao relento, acaba realizando outro contrato por valor muito acima do mercado, negócio esse que, se tivesse condição de meditar, jamais faria. Conceito (Art. 157, CC) - prescreve que ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que o contrato foi celebrado. Requisitos: ► Objetivo – manifesta desproporção entre as prestações recíprocas. ►Subjetivo – aproveitamento de necessidade, de inexperiência alheia ou premente necessidade, levando-a a realizar negócio que lhe é prejudicial. Ocorrendo a lesão, a sanção é a anulação do ato – Arts. 171, II e 178, II do CC. O prazo é decadencial – atinge o direito propriamente dito – de 04 (quatro) anos. DISCIPLINA: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES_RESP CIVIL Professor Dr. Eriverton Resende 2020.1 (primeiro semestre/2020) Página 30 de 202 É importante acrescentar que não se decretará a anulação do negócio se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito (lesão especial ou qualificada). Exemplo: a pessoa favorecida reconhece que exorbitou e concorda na redução da prestação que lhe era extremamente favorável; evita-se assim, a anulação do ato. Estado de Perigo x Lesão – diferença básica Enquanto no estado de perigo o contratante, entre as consequências do grave dano que o ameaça e o pagamento de uma quantia exorbitante, opta pelo último (com a intenção de minimizar ou sanar o mal), na lesão o contratante, devido a uma necessidade econômica, realiza negócio desproporcional; há uma situação de hipossuficiência de uma das partes e o aproveitamento desta circunstância pela outra. 4 VÍCIOS SOCIAIS No vício social, embora a vontade se manifeste de acordo com o desejo dos contratantes, a intenção é sempre de prejudicar um terceiro. 4.1 – FRAUDE CONTRA CREDORES (Arts. 158 a 165, CC) Constitui fraude contra credores a prática maliciosa, pelo devedor, de atos que desfalcam seu patrimônio, com o fim de colocá-lo a salvo de uma execução por dívidas em detrimento dos direitos creditórios alheios. Ressalvadas as hipóteses de credores com garantia real (exemplo: uma casa em garantia do pagamento da dívida) os demais credores estão em idênticas condições no recebimento de seus créditos. Se o patrimônio do devedor não for suficiente para o pagamento de todos os credores haverá um rateio (divisão). E, no caso de o devedor praticar atos com a finalidade de frustrar o pagamento devido, ou tendentes a violar a igualdade entre os credores, ocorrerá a fraude contra credores. Observe que não é a vontade que se encontra viciada; o vício reside na finalidade ilícita do ato (portanto é um vício social). São suscetíveis de fraude os negócios realizados: - A título gratuito - doação de bens, perdão (remissão) de dívidas. Exemplo: Marta deve uma determinada importância e não deseja pagá-la, tem bens para saldar a dívida; então começa a “doar” seus bens. Basta a prática de um
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