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* * * POETAS MODERNISTAS * * * MANUEL BANDEIRA * * * Temáticas dos Poemas: -Desejo Insatisfeito; -A evocação da Infância; -A tristeza da Vida; -A preparação para a morte -A temática social; * * * Desejo insatisfeito: -Caráter confidencial; -Tuberculose; -”A vida que podia ser e que não foi”; * * * Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconseqüente Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive * * * As três mulheres do sabonete Araxá me invocam, me bouleversam, me hipnotizam. Oh, as três mulheres do sabonete Araxá às 4 horas da tarde! O meu reino pelas três mulheres do sabonete Araxá! Que outros, não eu, a pedra cortem Para brutais vos adorarem, Ó brancaranas azedas, Mulatas cor da lua vem saindo cor de prata Ou celestes africanas: Que eu vivo, padeço e morro só pelas três mulheres do sabonete Araxá! São amigas, são irmãs, são amantes as três mulheres do sabonete Araxá? São prostitutas, são declamadoras, são acrobatas? São as três Marias? Meu Deus, serão as três Marias? A mais nua é doirada borboleta. Se a segunda casasse, eu ficava safado da vida, dava pra beber e nunca mais telefonava. Mas se a terceira morresse...Oh, então, nunca mais a minha vida outrora teria sido um festim!Se me perguntassem: queres ser estrela? queres ser rei? queres uma ilha no Pacífico? Um bangalô em Copacabana? Eu responderia: Não quero nada disso, tetrarca. Eu só quero as três mulheres do sabonete Araxá: O meu reino pelas três mulheres do sabonete Araxá! * * * REMEMORAÇÃO DO MUNDO iNFANTIL -Memória recolhe lembranças da Infância; * * * Porquinho-da-Índia Quando eu tinha seis anos Ganhei um porquinho-da-índia. Que dor de coração eu tinha Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão! Levava ele pra sala Pra os lugares mais bonitos, mais limpinhos, Ele não se importava: Queria era estar debaixo do fogão. Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas... - O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada * * * Tristeza da Vida Surge em cenas do cotidiano; Utilização da Ironia para analisar a fragilidade da existência humana; * * * Poema tirado de uma notícia de jornal João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado. * * * Pneumotórax Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse. Mandou chamar o médico: — Diga trinta e três. — Trinta e três . . . trinta e três . . . trinta e três . . . — Respire. ...................................................................................... — O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. — Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? — Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino * * * MORTE -Poemas servem de preparação para a morte; -”Eu faço versos como quem morre; ” * * * Momento Num Café Quando o enterro passou Os homens que se achavam no café Tiraram o chapéu maquinalmente Saudavam o morto distraídos Estavam todos voltados para a vida Absortos na vida Confiantes na vida. Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado Olhando o esquife longamente Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade Que a vida é traição E saudava a matéria que passava Liberta para sempre da alma extinta * * * Profundamente Quando ontem adormeci Na noite de São João Havia alegria e rumor Estrondos de bombas luzes de Bengala Vozes, cantigas e risos Ao pé das fogueiras acesas. No meio da noite despertei Não ouvi mais vozes nem risos Apenas balões Passavam, errantes * * * Silenciosamente Apenas de vez em quando O ruído de um bonde Cortava o silêncio Como um túnel. Onde estavam os que há pouco Dançavam Cantavam E riam Ao pé das fogueiras acesas? — Estavam todos dormindo Estavam todos deitados Dormindo Profundamente. * Quando eu tinha seis anos Não pude ver o fim da festa de São João Porque adormeci Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo Minha avó Meu avô Totônio Rodrigues Tomásia Rosa Onde estão todos eles? — Estão todos dormindo Estão todos deitados Dormindo Profundamente. * * * Poesia Social O bicho Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem. * * * Mário Quintana * * * Temáticas Herança Simbolista-Temática da morte e da tristeza das coisas Linguagem de absoluta simplicidade Poemas em prosa aparecem em sapato florido e em Do caderno H. São poemas curtos,em prosa e geralmente irônicos. * * * Poemas Olho o mapa da cidade como quem examinasse a anatomia de um corpo Sinto uma dor infinita das ruas de Porto Alegre Onde jamais passarei Todos esses que aí estão Atravancando meu caminho, Eles passarão... Eu passarinho * * * CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE * * * CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (1902-1987) “(A Rosa do Povo) reflete um ‘tempo’, não só individual mas coletivo no país e no mundo. Escrito durante os anos cruciais da Segunda Guerra Mundial, as preocupações então reinantes são identificadas em muitos poemas, através da consciência e do modo pessoal de ser de quem os escreveu.” * * * O POETA ITABIRANO VIVEU OS PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS DO SÉCULO XX: I E II GUERRAS MUNDIAIS, ESTADO NOVO, QUEBRA DA BOLSA DE NOVA IORQUE, CRISE DO ANOS 30, BI-POLARIZAÇÃO MUNDIAL. * * * TEMPO Passado/Infância Presente Homem Poesia Infância Itabira Engajamento social Questões existenciais Metapoesia “A preocupação com o tempo – passado, presente, em função dos quais se delineia o futuro - , sendo um novo tema, une as diversas facetas da poesia drummondiana. É, pois, o elemento aglutinador de todos os temas que, se cruzando ou se alternando, percorrem a obra poética de Carlos Drummond de Andrade.” (Rita de Cássia Barbosa) * * * Gauche (francês: torto, esquerdo): imagem do desajuste entre o eu e o mundo - o anti-herói, o torto,o desajeitado Poema de sete faces Quando nasci, um anjo torto Desses que vivem à sombra, disse: - Vai, Carlos, ser gauche na vida “Esse gauchisme tem desdobramentos psicológicos, políticos e metafísicos.” (Affonso Romano de Sant’Ana) * * * A ROSA DO POVO (1945) * * * Contexto Estado Novo II Guerra Mundial Bi-polarismo * * * “Obra-chave dentro da produção de Drummond, A Rosa do Povo, publicada em 1945, reflete a maturidade que o poeta alcançou desde sua estréia. Nela, (...) estão presentes duas conquistas decisivas para a evolução de nossa literatura: o realismo social,particularmente penetrante e que não se restringe,apenas,ao lirismo da poesia engajada; e a poesia metapoética,alimentada pela reflexão introspectiva sobre o sentido da escrita como obra de arte.” (Rita de Cássia Barbosa) * * * Temas Questões existenciais Metapoesia Cotidiano Engajamento social Passado “Cantar”de amigos * * * CONSIDERAÇÃO DO POEMA Não rimarei a palavra sono Com a incorrespondente palavra outono. Rimarei com a palavra carne Ou qualquer outra , que todas me convêm. As palavras não nascem amarradas, Elas saltam, se beijam, se dissolvem, No céu livre por vezes um desenho, São puras, largas, autênticas, indevassáveis. METAPOESIA* * * METAPOESIA PROCURA DA POESIA Não faça versos sobre acontecimentos. Não há criação nem morte perante a poesia. Diante dela, a vida é um sol estático, Não aquece nem ilumina. As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam Não faça poesias com o corpo Esse excelente, completo e confortável corpo tão infenso à efusão lírica. (…) Penetra surdamente no reino das palavras. Lá estão os poemas que esperam ser escritos. Estão paralisados, mas não há desespero, Há calma e frescura na superfície intata. Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. (...) Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma Tem mil faces secretas sob a face neutra E te pergunta, sem interesse pela resposta Pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave? * * * CARTA A STALINGRADO Stalingrado... Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes cidades O mundo não acabou, pois que entre as ruínas Outros homens surgem, a face negra de pó e de pólvora, E o hálito selvagem da liberdade Dilata os teus peitos, Stalingrado, Seus peitos (...) Os telegramas de Moscou repetem Homero. Mas Homero é velho. Os telegramas cantam um mundo novo Que nós, na escuridão, ignorávamos. (...) Saber que resistes. Que enquanto dormimos, comemos e trabalhamos, resistes. Que quando abrirmos o jornal pela manhã teu nome (em ouro oculto) estará firme no alto da página Terá custado milhares de homens, tanques e aviões, mas valeu a pena ENGAJAMENTO SOCIAL * * * ENGAJAMENTO SOCIAL A FLOR E A NÁUSEA Preso à minha classe e a algumas roupas, Vou de branco pela rua cinzenta. Melancolias, mercadorias espreitam-me. Devo seguir até o enjôo? Posso, sem armas revoltar-me? Olhos sujos no relógio da torre: Não, o tempo não chegou de completa justiça. O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera. O tempo pobre, o poeta pobre Fundem-se no mesmo impasse. (…) * * * Uma flor nasceu na rua! Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego. Uma flor ainda desbotada Ilude a polícia, rompe o asfalto. Façam completo silêncio, paralisem os negócios, Garanto que uma flor nasceu. Sua cor não se percebe. Suas pétalas não se abrem. Seu nome não está nos livros. É feia. Mas é realmente uma flor. (...) É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio. ENGAJAMENTO SOCIAL * * * COTIDIANO O CASO DO VESTIDO Nossa mãe, o que é aquele Vestido, naquele prego? Minhas filhas é o vestido De uma dona que passou. Passou quando, nossa mãe? Era nossa conhecida? (...) Era uma dona de longe, Vosso pai enamorou-se E ficou tão transtornado, Se perdeu tanto de nós, Se afastou de toda vida Se fechou, se devorou, Chorou no prato de carne, Bebeu, brigou, me bateu Me deixou com vosso berço, Foi para a dona de longe, Mas a dona não ligou. (...) Então vosso pai, irado, Me pediu que lhe pedisse, A essa dona perversa, Que tivesse paciência E fosse dormir com ele... (...) E lhe roguei que aplacasse De meu marido a vontade. Eu não amo teu marido, Me falou ela se rindo * * * A MORTE DO LEITEIRO Então o moço que é leiteiro De madrugada com sua lata Sai correndo e distribuindo Leite bom para gente ruim. (...) Mas este acordou em pânico (ladrões infestam o bairro), não quis saber de mais nada. O revólver da gaveta Saltou para sua mão. (...) Os tiros na madrugada Liquidaram o meu leiteiro. (...) COTIDIANO Da garrafa estilhaçada, No ladrilho já sereno Escorre uma coisa espessa Que é leite, sangue... não sei. Por entre os objetos confusos, Mal redimidos da noite, Duas cores se procuram, Suavemente se tocam, Amorosamente se enlaçam, Formando um terceiro tom A que chamamos aurora * * * VINÍICIUS DE MORAES * * * Características: I-Fase neo-simbolista,com conotações místicas II-Fase moderna,com aproximação do cotidiano; Caracterísicas Principais:Tendência ao verbalismo,contida pelo uso frequente do soneto; * * * Soneto da devoção Essa mulher que se arremessa, fria E lúbrica aos meus braços, e nos seios Me arrebata e me beija e balbucia Versos, votos de amor e nomes feios. Essa mulher, flor de melancolia Que se ri dos meus pálidos receios A única entre todas a quem dei Os carinhos que nunca a outra daria. Essa mulher que a cada amor proclama A miséria e a grandeza de quem ama E guarda a marca dos meus dentes nela. Essa mulher é um mundo! — uma cadela Talvez... — mas na moldura de uma cama Nunca mulher nenhuma foi tão bela! Soneto de Fidelidade De tudo ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. * * * CONCRETISMO Representantes:Haroldo de Campos,Augusto de Campos,Décio Pignatari. Cracterísticas:Destruição do lirismo usual,valorização do espaço visual; Uso da palavra solta,sem verbos; * * * * * * * * * * * *
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