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70 GE GEOGRAFIA 2017 ATMOSFERA 4 CONTEÚDO DESTE CAPÍTULOarrow Camadas da atmosfera ..................................................................................72arrow Meteorologia .....................................................................................................73 arrow El Niño e La Niña .............................................................................................76 arrow Ciclone .................................................................................................................77 arrow Climas do mundo .............................................................................................78 arrow Climas do Brasil ................................................................................................80 arrow Poluição do ar ...................................................................................................82 arrow Aquecimento global ........................................................................................84 arrow Os efeitos das mudanças climáticas .........................................................86 arrow Energias renováveis .......................................................................................88 arrow Protocolo de Kyoto e Acordo de Paris .......................................................90 arrow Como cai na prova + Resumo .......................................................................92 F oram quase duas semanas de duras ne-gociações, mas o esforço compensou. Ao término da 21ª Conferência das Nações Unidas sobre o Clima, a COP21, realizada em Paris entre novembro e dezembro de 2015, as delegações dos 195 países presentes ao encontro celebraram um acordo histórico com o objetivo de reduzir as emissões de dióxido de carbono na atmosfera e conter os efeitos do aquecimento global sobre o planeta. Pelo Acordo de Paris, que valerá a partir de 2020, as nações se obrigaram a elaborar estratégias para limitar o aumento médio da temperatura da Terra até 2100 a “bem menos de 2 ºC”, buscando ainda “esforços para limitar o aumento a 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais”. Cada país comprometeu-se a cumprir metas nacionais, as chamadas INDCs (sigla em inglês para Contribuições Pretendidas Nacionalmente Determinadas), definidas por seus governos e que são voluntárias. O sucesso do acordo, o mais amplo entendi- mento sobre o clima desde o Protocolo de Kyoto, assinado em 1997, depende, em larga medida, do engajamento dos países mais poluidores do pla- neta. Essa lista é encabeçada pela China, nação que experimentou um vertiginoso crescimento econômico nas últimas décadas impulsionado principalmente pela rápida expansão indus- trial. Ocorre que a matriz energética chinesa é altamente dependente de combustíveis fósseis, principalmente carvão. Desde a década de 1980, o país consome pelo menos metade do carvão produzido no mundo, a maior parte usada para mover suas indústrias. Ao fim da COP21, os chineses se comprome- teram a aumentar em 20% a participação de combustíveis não fósseis em sua matriz ener- gética. Além disso, concordaram em reduzir as emissões de dióxido de carbono por unidade do PIB (Produto Interno Bruto) em até 65% em comparação a 2005. Isso significa que se em 2005 a China emitia 1 quilo de dióxido de carbono para produzir um 1 dólar de PIB, o compromisso é que seja 0,35 quilo para cada dólar de PIB. A questão das emissões de poluentes e seu efei- to sobre o aquecimento global é um dos temas que mais preocupam os ambientalistas. Neste capítulo, aprofunda- mos a discussão sobre esse tema e discutimos outros assuntos rele- vantes que interferem no clima e na meteo- rologia do Brasil e do mundo. Sucesso do Acordo de Paris firmado na COP21 depende do engajamento de todos os países, entre eles a China, o maior poluidor global Clima de mudança AMBIENTE TÓXICO Chaminés liberam poluentes na atmosfera em uma usina de carvão em Shanxi, na China: o país é responsável por quase um terço das emissões globais de carbono 71GE GEOGRAFIA 2017 KEVIN FRAYER/GETTY IMAGES 72 GE GEOGRAFIA 2017 ATMOSFERA CAMADAS DA ATMOSFERA F oi da junção de duas palavras gregas, atmós (vapor) e sphaîra (esfera), que nasceu o nome da estrutura de gás que envolve um saté- lite ou planeta: a atmosfera. Na Terra, essa “esfera de vapores” é composta de diversas camadas e, em sua porção mais densa, chega a até 600 quilômetros de altitude a partir do nível do mar. É uma espessura considerável, mas quase ir- Vapor essencial Explore as diversas camadas da atmosfera, a invisível esfera de gás que envolve a Terra e garante a existência de vida no planeta risória se considerarmos o tamanho do globo terrestre, de aproximadamente 12,8 mil quilômetros de diâmetro. Mas, independentemente de sua espessura, a atmosfera é essencial para a vida. Além de conter o oxigênio que respiramos, ela mantém a Terra quente, protege os seres vivos dos raios ultravioleta vin- dos do Sol e funciona como um escudo contra meteoritos. Há vários critérios pelos quais pode- mos classificar a atmosfera. A divisão mais conhecida, feita de acordo com as variações de temperatura conforme a altitude, reparte a atmosfera em cinco ca- madas distintas: troposfera, estratosfera, mesosfera, termosfera e exosfera. Veja as principais características de cada uma: AS CAMADAS DA ATMOSFERAAMADAS DA ATMOSFERA MESOSFERA A camada mais fria da atmosfera fica entre 50 e 90 quilômetros de altitude. Sua temperatura diminui conforme subimos: parte de -15 0C na divisa com a estratosfera e chega a -120 0C. É onde ocorrem as estrelas cadentes. TROPOSFERA A camada inferior da atmosfera vai do nível do mar até cerca de 12 quilômetros de altitude. Sua temperatura atinge -60 ºC na parte superior. Nessa faixa acontece a maioria dos fenômenos climáticos. ESTRATOSFERA Vai até 50 quilômetros acima do nível do mar. Sua temperatura sobe com o aumento de altitude: começa em -60 ºC e vai até -15 ºC. É onde fica a camada de ozônio. TERMOSFERA Camada mais extensa da atmosfera, ela parte dos 90 e chega aos 600 quilômetros de altitude. Também é a mais quente: na parte superior, chega a 2.000 0C. É nessa faixa que orbitam os ônibus espaciais. FAIXAS DE TRANSIÇÃO Entre as camadas da atmosfera, há regiões fronteiriças que apresentam características de transição. São elas: a tropopausa, a estratopausa, a mesopausa e a termopausa. 600 km 2.000˚C 90 km -120˚C 50 km -15˚C 20 km -60˚C CAMADA DE OZÔNIO ESTRATOPAUSA TERMOPAUSA Balões meteorológicos Poluentes Reflexão das ondas de rádio Balões tripulados Monte Everest 8.844 m Nuvens geradas por explosões atômicas Aviões a jato Satélite artificial Estação espacial Cortinas iluminadas Estrelas cadentes [1] TROPOPAUSA MESOPAUSA EXOSFERA É a última camada da atmosfera, na fronteira com o espaço sideral. Nela, as moléculas tornam-se cada vez mais rarefeitas, libertando-se da gravidade terrestre. O final da exosfera pode chegar a 10 mil quilômetros. As medições indicam que a temperatura dessa região fique em torno de 1.600 0C. 73GE GEOGRAFIA 2017 ATMOSFERA METEOROLOGIA A meteorologia é a ciência que estuda a atmos-fera terrestre e seus principais fenômenos. Trata-se de uma ciência muito complexa, já que a atmosfera é bastante extensa e instável. Mas o grau de precisão da previsão do tempo evoluiu muito desde a construção dos primeiros termômetros no século XVI. Os meteorologistas contam hoje com instrumentos como satélites, radares, boias marítimas e balões atmosféricos para estudar os mais variados fenômenos através da análise de dados em supercomputadores.Os boletins meteorológicos são essenciais para o controle do tráfego de aviões, para a agricultura, para o gerenciamento de recursos hídricos e para situações menos rotineiras, como a chegada de furacões. A seguir, confira um mapeamento dos principais fenômenos atmosféricos estudados pelos meteorologistas. Tudo o que vem do céu Conheça os fenômenos que movimentam a atmosfera terrestre e são objeto de estudo dos meteorologistas Nuvem É um agregado de gotículas de água, de cristais de gelo, ou uma combinação dos dois. As nuvens são formadas principalmente pelo movimento ascendente do ar úmido: o vapor-d’água conden- sa quando a temperatura diminui até o ponto de orvalho. Elas são classificadas em vários tipos, de acordo com o aspecto, a estrutura e a forma. Chuva É a precipitação de água em forma líquida, com gotas de diâmetro maior que 0,5 milímetro. Existem três tipos de chuva. A chuva de convecção é resultante da ascen- são do vapor-d’água das partes mais baixas da atmosfera – mais aquecido, ele esfria e se con- densa à medida que sobe. É o caso das pancadas de chuva que ocorrem durante o verão na região Sudeste do país. A chuva frontal é o resultado do encontro de duas massas de ar de diferentes temperaturas e umidades: a massa fria e seca empurra para cima a massa quente e úmida, que esfria e provoca a precipitação. Esse tipo de chuva é típico das regiões de clima temperado. A chuva orográfica ou de relevo ocorre quando a massa de ar sobe por causa de algum obstáculo de relevo, como uma montanha – a FECHOU O TEMPO Tempestade se aproxima de Queensland, na Austrália, trazendo chuvas intensas e descargas elétricas: fenômeno comum em regiões de clima tropical [2] [1] MKANNO/MULTISP [2] iSTOCK PHOTO 74 GE GEOGRAFIA 2017 ATMOSFERAMETEOROLOGIA queda de temperatura, na ascensão, provoca a condensação do vapor. Essa chuva é comum nas áreas próximas ao litoral do Nordeste e do Su- deste, que recebem massas úmidas do Atlântico. Neve, granizo e geada Um dos mais belos fenômenos atmosféri- cos, a neve é fruto da precipitação de cristais de gelo, geralmente agrupados em flocos, que são formados pelo congelamento do vapor- -d’água suspenso na atmosfera. O granizo, por sua vez, é o cristal de gelo que, por causa de fortes correntes ascendentes dentro da nuvem, acaba subindo e caindo várias vezes, até ganhar volume e se precipitar de vez. Por fim, a geada nada mais é que orvalho congelado, que, sob a forma de uma fininha camada branca, cobre as superfícies onde cai. Vento Trata-se do deslocamento de ar, geralmente na horizontal, de um ponto de pressão atmosférica mais alta para outro onde ela é mais baixa. As diferenças de pressão, causadoras dos ventos, estão relacionadas à temperatura. A brisa nas regiões litorâneas é um bom exemplo disso: o continente e o mar concentram calor de ma- neiras diferentes, e isso faz o vento mudar de direção conforme o período do dia. Massa de ar Trata-se de um corpo de ar com características próprias de umidade, pressão e temperatura. Essas características dependem das diferentes regiões da superfície terrestre em que as massas se formam: caso ocorra nos polos, serão frias e secas; se se formarem nas áreas oceânicas tropicais, serão quentes e úmidas. A borda de uma massa de ar frio que avança em direção a outra mais quente, provocando quedas bruscas de temperatura, é chamada de frente fria. Trata-se de um mecanismo natu- ral da atmosfera para compensar diferenças de temperatura no planeta. Avançando com velocidades de até 30 km/h, o ar frio e seco, mais denso, empurra a massa quente e leve para cima. Se houver umidade suficiente, a passagem da frente causará chuvas intensas, com direito a granizo, raios e trovões. As mais severas podem provocar quedas de até 10 ºC em apenas uma hora. No Brasil, as regiões mais atingidas pelo fe- nômeno são a Sudeste e a Sul, onde também podem ocorrer geadas. Isso acontece porque, na América do Sul, a maioria das frentes frias se origina nas latitudes médias, ao extremo sul do continente. Com seu avanço, contudo, as frentes perdem energia e velocidade, e o contato VENTOS ALÍSIOS E A ZONA DE CONVERGÊNCIA A circulação dos ventos em escala global tem grande influência nos tipos de clima, sobretudo na circulação das massas de ar e, consequentemente, na formação e no volume das chuvas nas diferentes regiões do globo. Toda esta troca de ar entre as camadas mais baixas e mais altas da troposfera, bem como entre diferentes latitudes, dão origem a “células” de circulação do ar em escala global, denominadas células de Hadley. Nas baixas latitudes, em regiões próximas à linha do Equador, o ar tende a subir por ser mais aquecido e menos denso. No alto da troposfera, essas cor- rentes de ar são impulsionadas para latitudes maiores, próximas aos trópicos de Câncer e Capricórnio, onde se resfriam e tornam a descer para a superfície, em direção à região equatorial. Esses ventos, denominados alísios, são úmidos e provocam chuva. Os alísios sofrem um desvio em função do movimento de rotação da Terra: no Hemisfério Sul, eles vêm do sudeste e, no Hemisfério Norte, partem do nordeste. Esse fenômeno é conhecido como efeito de Coriólis. Nas latitudes maiores, ocorrem movimentos semelhantes, porém com sentido contrário ao da região intertropical. A faixa onde ocorre o encontro dos ventos alísios provenientes do Hemisfério Norte e do Hemisfério Sul é denominada Zona de Convergência dos Ventos Alí- sios. Essa faixa não está exatamente sobre a linha do Equador pois acompanha a variação das estações do ano: quando é verão no Hemisfério Norte, ele se forma mais ao norte e, ao contrário, move-se mais para o sul quando é verão nesse hemisfério. A Zona de Convergência, associada a outros fatores, como a temperatura das águas oceânicas e a circulação das massas de ar locais, pode favorecer a formação de chuvas, visto que é onde se encontram os ventos úmidos dos dois hemisférios na região intertropical. Veja na ilustração abaixo como são formados os ventos alísios: Células de Hadley Zona de camadas equatoriais NE Ventos alísios SE Ventos alísios 0º 30º 60º 60º 30º Células de Hadley com o solo quente reduz o frio das massas de ar. Por isso, é tão raro uma frente fria chegar até o Nordeste. Já a frente quente é a extremidade de uma massa de ar quente que se forma pela evaporação da água de correntes marítimas quentes – essas massas de ar elevam a temperatura e a umidade nas regiões que elas atingem. [1] 75GE GEOGRAFIA 2017 SAIBA MAIS AS MASSAS DE AR QUE ATUAM NO BRASIL As massas de ar têm influência direta nos tipos de clima no Brasil. Devido à localização do país no globo, predominam as massas equatoriais e tropicais. Porém, no inverno ocorre a atuação da massa Polar Atlântica em grande parte do território brasileiro. Veja a seguir como se caracteriza cada uma dessas massas. [1] ALEX ARGOZINO A ATUAÇÃO DAS MASSAS DE AR NO BRASIL DURANTE O VERÃO E O INVERNO MASSAS DE AR ATUANTES 0 250 500 750 km Oceano Atlântico Oceano Atlântico AC AM RR PA AP RO MT MA TO PI CE BA MG GO MS SP PR SC RS RJ ES SE AL PE PB RN 0 250 500 750 km Oceano Atlântico Oceano Atlântico AC AM RR PAEC EA EA EC PA TATC TA AP RO MT MA TO PI CE BA MG GO MS SP PR SC RS RJ ES SE AL PE PB RN VERÃO INVERNO TA Tropical Continental Forma-se em uma região de clima tropical mais seco, no semiárido da região conhecida como Chaco, no Paraguai. Por isso, a massa Tropical Continental caracteriza-se como quente e seca. Ela atua durante o verão nas regiões Sul e Centro-Oeste,sendo responsável pela ocorrência de estiagens, sobretudo no oeste de Santa Catarina e do Paraná e no noroeste gaúcho. Tropical Atlântica Forma-se sobre o sul do Oceano Atlântico e é caracterizada como uma massa quente e úmida. Atua diretamente sobre a porção leste do Brasil nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste, sendo responsável, por exemplo, pelas chuvas orográficas (de relevo) nas encostas das serras litorâneas, como a Serra do Mar, na Região Sudeste. Equatorial Continental Origina-se na região amazônica, onde as elevadas temperaturas e a umidade proveniente da evapotranspiração (liberação de água pelas plantas) e da evaporação de rios e lagos a tornam quente e úmida. Sua influência atinge grande parte do território nacional durante o verão no Hemisfério Sul, transferindo umidade da Floresta Amazônica para regiões de clima tropical e semiárido. No inverno no Hemisfério Sul, essa massa perde força e sua atuação se restringe à Região Norte. EC Equatorial Atlântica Esta massa também tem origem na região equatorial, mas ela surge sobre o Oceano Atlântico. O elevado índice de evaporação das águas quentes do Atlântico central torna esta massa de ar quente bastante úmida. De modo geral, a massa Equatorial Atlântica atinge a Região Norte e a faixa costeira da Região Nordeste. Sua incidência está relacionada à variação das estações: durante o verão do Hemisfério Sul encontra-se mais ao sul e, quando o Hemisfério Norte está no verão, desloca-se mais para o norte. EA TC Polar Atlântica Forma-se sobre o Oceano Antártico e sobre o extremo sul do Oceano Atlântico. Em sua origem, a massa Polar Atlântica é fria e seca devido aos baixos índices de evaporação da água nessas regiões oceânicas. À medida que se desloca para o norte e atravessa outras áreas do oceano, penetrando no continente, ela provoca chuvas com a formação de frentes frias. Com o avanço dessa massa polar, o ar úmido e mais quente (menos denso) que se encontra nas regiões por onde ela passa é forçado a subir, formando nuvens de chuva (chuvas frontais). Essa massa de ar pode chegar, ainda que com menor intensidade do que nas regiões Sul e Sudeste, até as regiões Norte e Centro-Oeste, onde a queda de temperaturas que ela provoca é denominada friagem pela população regional. Esse deslocamento até a Região Norte ocorre graças à configuração do relevo, com planícies ao centro (Planície Platina e do Chaco, por exemplo), uma cadeia de montanhas a oeste (Cordilheira dos Andes) e os planaltos brasileiros a leste, formando uma espécie de corredor para esta massa de ar. PA 76 GE GEOGRAFIA 2017 ATMOSFERA EL NIÑO E LA NIÑA EFEITOS DOS FENÔMENOS EL NIÑO E LA NIÑA NA AGRICULTURA BRASILEIRA Região El Niño La Niña Norte Secas acentuadas, principalmente no leste da Amazônia: aumento do risco de incêndios florestais e prejuízos para a produção agropecuária. Tendência ao aumento de chuvas no norte e leste da Amazônia; chuvas normais no inverno, sem prejuízos à agropecuária. Nordeste Secas severas: perdas na agricultura, na pecuária, na geração de energia elétrica e dificuldades para o abastecimento de água. Chuvas acima da média sobre a região semiárida, favorecendo a agricultura de subsistência e a pecuária. Centro-Oeste Sem efeitos evidentes, exceto tendência de aumento das chuvas no sul do MS, que favorecem a produção de grãos. Não há alterações significativas de temperatura e pluviosidade. Sudeste Leve aumento das temperaturas (redução das geadas, que prejudicam culturas como o café) e sem alterações significativas na pluviosidade. Não há alterações significativas de pluviosidade, com leve queda nas temperaturas no inverno, que não interferem na colheita da cana e do café. Sul Excesso de chuvas na primavera e começo de verão, no ano inicial do evento, e final de outono e começo de inverno. Beneficia as culturas de verão, como soja e milho. Chuvas abaixo do normal, com estiagens severas na parte oeste dos estados da região, prejudicando as culturas de verão, como soja e milho. A primavera seca favorece a produção de trigo. Fonte: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Presente de Natal Entenda os fenômenos do El Niño e de La Niña e de que forma eles afetam o clima mundial B atizado em referência ao Menino Jesus, por ocorrer em geral no fim do ano, à época do Natal, o El Niño (“o menino”, em espanhol) é um fenômeno de aquecimento anormal das águas superficiais do Pacífico les- te, na costa da América do Sul (para entender melhor, acompanhe o processo no infográfico). É denominado, pelos cientistas, de Enos, sigla para El Niño Oscilação Sul. O El Niño é fruto do enfraquecimento dos ventos alísios, que normalmente sopram de leste para o oeste pelo Pacífico 1 – isso faz que a água aquecida na região equatorial não seja levada em direção à Indonésia, como de costume. Com isso, as massas de ar quentes e úmidas ficam estacionadas na costa sul-americana, provocando chuvas intensas nessa área 2 e, ao mesmo tempo, seca na Indo- nésia, Austrália e em outras regiões. Na verdade, o clima de todo o planeta é alterado. O El Niño, que ocorre em média uma ou duas vezes a cada dez anos, também altera o ecossistema marinho. Como não há o deslocamento das águas quentes da superfície, as águas profundas, que são mais frias e carregadas de nutrientes, não conseguem vir à tona, na ressurgência 3– a população de peixes, por exemplo, diminui drasticamente 4. Há, ainda, o caso do La Niña, fenômeno oposto ao El Niño: em vez de as águas do Pacífico les- te se aquecerem, elas esfriam. Isso acontece porque os ventos alí- sios, que carregam a água quente para o oes- te, ficam mais intensos. Consequentemente, as águas quentes da su- perfície são deslocadas em maior quantidade para o oeste e mais água fria vem à tona 5. A temperatura do ocea- no diminui na região próxima à costa oeste da América do Sul, e o clima fica mais úmido na Austrália e Indoné- sia, por causa das mas- sas de ar quentes. ANO NORMAL ANO COM LA NIÑA Costa da Indonésia Costa da América do Sul Costa da Indonésia Costa da América do Sul Ventos alísios Ventos alísios mais fortes Oceano Pacífico Oceano Pacífico Fortes chuvas Água fria Água aquecida Ressurgência da água fria Forte ressurgência da água fria Água aquecida 1 3 ANO COM EL NIÑO Costa da Indonésia Costa da América do Sul Ventos alísios mais fracos Oceano Pacífico Água fria Água aquecida 2 4 5 [1] 77GE GEOGRAFIA 2017 ATMOSFERA CICLONE De olho no ciclone Entenda como se forma a ventania arrasadora que pode deixar milhares de mortos q p O s ciclones são uma perturbaçãoatmosférica no centro da qual a pressão é muito baixa, provo- cando ventos circulares com velocidade superior a 119 quilômetros por hora. Ele ocorre nas regiões tropicais, sobre os mares quentes, podendo causar grande destruição quando atinge o continente. Denominações Embora furacão, tufão e tornado se- jam palavras comumente usadas como sinônimos de ciclone, há uma pequena diferença entre elas. A distinção entre os termos refere-se mais a uma questão de localização. De modo geral, o ciclone que se forma sobre o Oceano Atlânti- co é chamado de furacão, enquanto o que se forma sobre o Oceano Pacífico é conhecido como tufão. Por fim, há o caso dos tornados, que surgem sobre o continente, após o choque de uma massa de ar quente com outra de ar frio – a ventania toma a forma de um cone invertido e sai num turbilhão ar- rasador com velocidades de até 500 quilômetros por hora. O desastre do ciclone Bhola Para quem já assistiu – e sobreviveu – à passagem de um ciclone, a experiência pode ser aterradora. Em Bangladesh, na Ásia, por exemplo, um desses turbilhõesarrasou o país em 13 de novembro de 1970. O redemoinho nasceu no golfo de Bengala e avançou para a costa, criando ondas de até 6 metros. Elas invadiram a densamente povoada região do delta do Rio Ganges, matando cerca de 500 mil pessoas – 100 mil só na ilha de Bhola (nome que batizou o ciclone). Foi o pior desastre natural do século XX. Para nossa sorte, o Brasil não sofre com esse tipo de fenômeno. Tudo graças às baixas temperaturas das águas do Atlântico Sul. FAIXAS DE TEMPESTADE O O FUFURARAACÃCÃOO POPORR DDEEENTNTTN RRO OlhOlhOlhOOO oooooo AR QUENTE E ÚMIDO Uma densa nuvem cobc re o furacão VENTO OESTEQuaQQuaQuaQuauaQuaQuaQuaQuaQuaQuaQ ndodndondndondo asasasaassss nununununununuvenvenvenvenvenvve s as as as as atintintiningemgemgemgeg cececercarca deddedededede 5 m5 m5 m5 m5 mililil il il il ili metmetmetmetmetmettmetetmetrosrosrosrosrosrososrosrososrososros dedededededededededededede alallalalalalalalaltuturturtururtura,a,a,a, comcomcommeçaeçeçeçaeçaeça a ca caaa ca ca ca chovhovhovhovhovhovovh er.erer.er.eer.er. NNNNeNeNN ssessesesssee popopopopoppp ntontottntonto, o,, oooo arararrrrrararar seseseseseseseseesecoocococo coco co co aaascascascaaaascascascasscs endendndendendendendendendndendendeenenennenennnnnnnnndn ententententententennentnte ee ee ee ee ee ee eee eeee eee nconconconconcooconconcontrntrntrtntrntrntrntrntra aa aa aa aaaa aa aa aa aaas ns ns ns nss ss nss s ns ns ns nnuvuveveuveuveveveuveuuuvuvuu ns,ns,ns,nsnsnss, resesfrifr a-se, ficaficaaficaandondondondodondodododondondodndodonnndodoondndodoondnd mmamamamamamamamamammaaisis isisisisisissisisis pespespespespespespespespespespesesesppespesppepesespesppespespespeppeseesesp adoadoadadoadoadodoadoadoadoadoddadoadoadoddadoadadoadodadoadoadaadodadddddd , eee, eee, e, e, ee, e, ee, ee, e, e desce pelo oooolholhoh dododdd ffufufufufuracracraccraccão.ão.ão.ão.ão.ão.ãão EsEsEsEsEsEsEsEsEsEEsEsEsEsEsEsEsEsEsEsEssessesesesesssesesesessesesesesessese ar, ao chegar àà susuperperpee fícfíccccie ie ie ie ieieieeeee do ddododododododdodooooodoood mammmmamarmamarmmarmarmarmarmmmm ,, vaivai formar novas ns uvevensns 4 O furacão começa com a combinação de dois fatores: ar quente e úmido e a água aquecida dos oceanos das regiões tropicais 127 ˚C O atrito das correntes de ar com a superfície do mar faz que os ventos e as nuvens girem de oeste para leste, no sentido de rotação da Terra. O ar mais quente vai subindo numa espiral pelo olho do furacão 3 As correntes de ar se aquecem em contato com a água, ficam mais leves e sobem, formando as primeiras nuvens. Enquanto sugam energia das águas quentes, essas correntes vão circulando em direção ao olho do furacão – região de baixa pressão no centro 2 OO ciclloone ppassaa a se desloocar quaando veentoos extternoos soppram nna direçção oestee em ggrandde vellocidaade. Se eele chhegaar ao conttinentte e enncontraar a uumidaade ddo arr baixaa, as nnuvens se ddesfazazem e – uufa! – oo venddaval aacaba 5 A tempestade começa com um emaranhado de nuvens… …que vai girando de modoo o coordenado… …até formar uma espiral de nuvens… …em torno do olho do furacão (zona de baixa pressão, no centro) e ganhar mais velocidade VEJA A SEGUIR COMO SE FORMA UM CICCLOLLOLOLOLOLONENENENENNN [1] [2] MULTI/SP [2][2][22] 78 GE GEOGRAFIA 2017 ATMOSFERA CLIMAS DO MUNDO O clima da Terra é influenciado por vários fatores, entre eles latitude, pressão atmosférica, altitude, relevo, vegetação, massas de ar, maritimidade (proximidade de um local em relação ao mar), continentali- dade (distância de um ponto em relação ao mar) e correntes marítimas. As áreas em torno da linha do Equa- dor, que recebem forte insolação, têm predominantemente clima equatorial, marcado por altas temperaturas e umi- dade. Já as regiões de latitudes mais elevadas, próximas aos polos, registram clima frio ou polar, com invernos rigo- rosos e temperaturas baixas. No mapa, você confere as mais impor- tantes correntes marítimas, os principais tipos de clima, segundo a classificação de Wilhelm Köpen, a mais aceita atu- almente, e as três principais zonas cli- máticas. Veja a seguir as características dos principais tipos de clima do planeta. Equatorial Quente e úmido durante o ano todo, está presente na região da linha do Equador e nas áreas de baixa latitude, Diversidade climática Conheça as características dos dez principais grupos de clima do planeta como a América Central, a Indoné- sia, a região central da África e o norte do Brasil. A umidade relativa do ar é elevada, com média anual de 90%, e a chuva é abundante durante o ano todo. A temperatura também é alta e estável, com média anual de 25 ºC. Tropical Fica nas áreas entre os trópicos de Câncer e de Capricórnio, cobrindo grande parte do território brasileiro e do continente africano, Índia, Península da Indochina e norte da Austrália. O clima é quente, com média anual supe- rior a 20 ºC. As chuvas são intensas no verão e, no resto do ano, ocorrem mais nas regiões próximas ao mar. No Sudeste Asiático, destacam-se as chuvas de monções, tempestades torrenciais provocadas pelo vento úmido que sopra do oceano. Quando começa o verão, o continente se es- quenta rapidamente, formando uma zona de baixa pressão, e as massas de ar do oceano trazem as chuvas. Essa dinâmica, comum em outros pontos do planeta, tem maiores proporções nessa região em virtude da vastidão de terra (o continente asiático) e de mar (os oceanos Índico e Pacífico) envolvidas no fenômeno. Mediterrâneo É o clima predominante no sul da Europa. Os verões são quentes e secos – a temperatura chega a 30 ºC – e os invernos, moderados e com um pouco de chuva. As mínimas de temperatura podem atingir 0 ºC. Temperado Também de latitudes médias, o tem- perado está presente nas áreas da Amé- rica do Norte, da Europa e do leste da Ásia. No temperado continental, o inverno é muito rigoroso e o verão é quente – as médias de temperatura são -5 ºC e 24 ºC, respectivamente. As chu- vas são escassas, sobretudo no inverno. A continentalidade justifica a umidade relativa do ar mais baixa e a grande amplitude térmica anual nesses locais. Já o temperado oceânico está pre- sente no oeste e no noroeste da Europa. As chuvas são abundantes durante o Corrente fria Corrente quente CORRENTES MARÍTIMAS TIPOS DE CLIMA (adaptação da classificação de Köpen) Mediterrâneo Temperado Subtropical Semiárido Frio de montanha Tropical Desértico Frio Polar Equatorial ZONAS CLIMÁTICAS Polar Polar Intertropical Polar Polar Temperada Temperada MAPA MUNDIAL DO CLIMA E CORRENTES MARÍTIMAS DEU BRANCO Nevascas em países de clima temperado, como o Canadá, são comuns no inverno 79GE GEOGRAFIA 2017 ano, e as temperaturas não sofrem muita variação – os invernos são frios (média de -3 ºC) e os verões, frescos (média de 15 ºC). A proximidade com o mar (ma- ritimidade) é um fator que influencia a baixa amplitude térmica e as chuvas bem distribuídas durante o ano. Subtropical É outro clima de latitudes médias, que se caracteriza como uma faixa de transição entre os climas tropicais e os mais frios. Está presente nas regiões ao sul do trópico de Capricórnio (sul de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) e na região leste dos Estados Unidos. A quantidade de chuva não varia muito durante o ano, mas as temperaturas mudam bastante: o inverno é frio e o verão, quente. Desértico Ocorre em regiões como o Saara, o centro da Austrália, norte do México e sul dos EUA. O índice pluviométrico é baixíssimo: a média anual de preci- pitação é inferior a 250 milímetros, o equivalente a aproximadamente ummês de chuva no clima equatorial. A umidade relativa do ar também é mui- to baixa, cerca de 40%. A amplitude térmica diária é elevada: de dia, a tem- peratura ultrapassa os 40 ºC e, à noite, chega a graus negativos. Semiárido Clima seco, presente na Ásia Central (Cazaquistão, no interior da China e Mongólia), na Patagônia e no planalto oeste das Montanhas Rochosas (EUA). A precipitação é escassa e irregular, com longos períodos de estiagem, não ultrapassando os 600 milímetros por ano. As temperaturas são elevadas du- rante o ano, com média entre 25 ºC e 27 ºC. No Brasil localiza-se no chamado Polígono das Secas. Frio de montanha Ocorre nas cadeias de montanhas ao redor do globo: áreas elevadas dos Andes, Montanhas Rochosas, Alpes e Himalaia. É um clima frio, com tem- peratura que diminui 6 ºC a cada mil metros de altitude. Acima dos 2 mil metros, há neve constante. A umidade relativa do ar varia conforme o lado da cadeia: a média é de 90% do lado do vento (barlavento), caindo para até 30% do lado contrário (sotavento). A quantidade de precipitação também é variável, chegando a 2 mil milímetros por ano nas regiões tropicais. Frio É o clima do norte do Canadá e da Sibéria, na Rússia. O inverno é bastante rigoroso e prolongado, com mínima de -15 ºC, e o verão, brando e curto, com temperatura máxima de 10 ºC. A precipitação é escassa, menos de 300 milímetros por ano. Polar É o clima com as menores temperatu- ras do planeta: no inverno, ela permane- ce em torno de -30 ºC e, no verão, a mé- dia é de 4 ºC. Está presente no extremo norte do Canadá, da Rússia e do Alasca, em parte da Península Escandinava e na Antártica. A umidade relativa do ar é alta, entre 70% e 80%, mas a precipi- tação, bastante reduzida: cerca de 100 milímetros de neve acumulados ao ano. ANTÁRTICA OCEANIA ÁFRICA EUROPA ÁSIA AMÉRICA OCEANO ATLÂNTICO OCEANO PACÍFICO OCEANO PACÍFICO OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO OCEANO GLACIAL ÁRTICO OCEANO ATLÂNTICO OCEANO ÍNDICO CÍRCULO POLAR ANTÁRTICO CÍRCULO POLAR ÁRTICO TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO TRÓPICO DE CÂNCER EQUADOR Fonte: IBGE C. Norte Equatorial C. Sul Equatorial C. de Humboldt C. do Brasil C. da s F al kl an d C. Circumpolar da Antártica C. da Antártica C. da Antártica C. Australiana C. de Benguela C. Sul Equatorial C. Sul Equatorial C. Norte Equatorial C. do Japão C. Oia Sivo C. das Monções C. de Madagáscar C. Sul Equatorial C. da Guianas C. Norte Equatorial C. do Golfo C. das Canárias C. Norte Atlântica C. da Groenlândia C. do Labrador C. do Atlântico Sul C. da Califórnia C. do Pacífico Norte CORRENTE FRIA E DESERTO As correntes marítimas são grandes deslocamentos de massas de água que influenciam o clima. No Chile, a fria Corrente de Humboldt provoca chuvas no Oceano Pacífico. Com isso, a massa de ar chega sem umidade ao continente, o que explica a aridez do Deserto do Atacama. CHUVAS DE MONÇÕES Trata-se de um fenômeno típico do Oceano Índico e do Sudeste Asiático. Elas têm origem na grande diferença de temperatura das águas do mar e do continente durante o verão. Um vento contínuo leva a umidade do oceano e a transforma em fortes chuvas sobre o continente. iSTOCK PHOTO ja n fe v m a r a b r m a i ju n ju l a g o se t o u t n o v d ez ja n fe v m a r a b r m a i ju n ju l a g o se t o u t n o v d ez Clima equatorial Temperatura (oC) Precipitação (mm) 1. MANAUS Clima tropical Temperatura (oC) Precipitação (mm) 2. GOIÂNIA 400 350 300 250 200 150 100 50 0 30 25 20 15 10 400 350 300 250 200 150 100 50 0 30 25 20 15 10 1. Equatorial 2. Tropical 3. Semiárido 4. Tropical de altitude 5. Tropical atlântico 6. Subtropical 80 GE GEOGRAFIA 2017 ATMOSFERA CLIMAS DO BRASIL M esmo sendo conhecido como “um país tropical”, com mais de 90% do território entre os trópicos de Câncer e de Capricórnio, o Brasil também compreende variações climáticas. Os tipos de clima no país são definidos com base em critérios diversos, mas, sobretudo, a partir da quantidade de chuva e da temperatura média no decorrer do ano. Essas informações aparecem juntas em um gráfico denominado climo- grama, que você vê acima. A leitura dele pode parecer complicada, mas é bastante simples: as barras representam a média pluviométrica no mês, expressa em milímetros; já as linhas indicam a temperatura média mensal, em graus Celsius. O climograma permite a identificação de cada um dos climas e até uma dife- renciação entre eles. Uma comparação interessante, por exemplo, é a do clima equatorial com o do semiárido. A princípio, eles podem parecer semelhantes por causa da temperatura média, que oscila em torno de 26 ºC. Porém, ficam claramente diferentes quando observamos as barras que indicam o índice pluviométrico de cada um: enquanto no clima equatorial chove abundantemente durante o ano todo, no semiárido, o índice pluviométrico é muito baixo e distribuído de forma irregular. Confira a seguir as principais características dos seis principais tipos climáticos do Brasil, além de alguns climogramas a eles relacionados. Muito além de tropical Apesar de o nosso país estar localizado quase inteiramente entre os trópicos, o clima do Brasil apresenta muitas variações 1. Clima equatorial Fica nas proximidades da linha do Equador, abarcando a Amazônia, norte de Mato Grosso e oeste do Maranhão. Chove durante o ano todo, e em grande quanti- dade; é bastante úmido e a temperatura varia pouco no decorrer do ano, com média de 26 ºC. O climograma 1 acima traz informações sobre a pluviosidade e a temperatura da cidade de Manaus (AM), localizada nessa faixa de clima. Repare como, no gráfico, a quantidade de precipitação (representada pelas barras verticais) é bem alta, atingindo mais de 300 milímetros no mês de março, com apenas uma pequena queda no meio do ano (em julho, agosto e setembro), quando fica abaixo dos 100 milímetros. A pequena variação de temperatura, típica do clima equatorial, também pode ser vista no climograma de Manaus: a linha horizontal, formada pelas temperaturas médias de cada mês, quase não sobe nem desce, ficando em torno dos 26 0C. 2. Clima tropical Predominante no território brasileiro, pega toda a faixa do centro do país, leste MAPA DE CLIMAS DO BRASIL RECANTO GELADO As mais baixas temperaturas no país são registradas na Região Sul, a única com clima subtropical. As temperaturas médias anuais são inferiores a 21 0C. MÁXIMA E MÍNIMA A temperatura máxima oficial no país foi registrada em Bom Jesus do Piauí, em 21 de novembro de 2005. Os termômetros chegaram a 44,7 oC. A mínima foi na cidade de Xanxerê, em Santa Catarina: -11,1 oC, em 20 de julho de 1953. CHUVAS DE VERÃO As tempestades que costumam atingir a Região Sudeste durante o verão são causadas pelo encontro de duas massas de ar que formam a zona de convergência do Atlântico Sul. ja n fe v m a r a b r m a i ju n ju l a g o se t o u t n o v d ez ja n fe v m a r a b r m a i ju n ju l a g o se t o u t n o v d ez ja n fe v m a r a b r m a i ju n ju l a g o se t o u t n o v d ez ja n fe v m a r a b r m a i ju n ju l a g o se t o u t n o v d ez ja n fe v m a r a b r m a i ju n ju l a g o se t o u t no v d ez 400 350 300 250 200 150 100 50 0 30 25 20 15 10 400 350 300 250 200 150 100 50 0 30 25 20 15 10 Clima semiárido Temperatura (oC) Precipitação (mm) 3. JUAZEIRO Clima tropical de altitude Temperatura (ºC) Precipitação (mm) 4. BELO HORIZONTE 400 350 300 250 200 150 100 50 0 30 25 20 15 10 400 350 300 250 200 150 100 50 0 30 25 20 15 10 400 350 300 250 200 150 100 50 0 30 25 20 15 10 Clima tropical atlântico Temperatura (ºC) Precipitação (mm) 5. JOÃO PESSOA Clima tropical atlântico Temperatura (ºC) Precipitação (mm) 5. RIO DE JANEIRO Clima subtropical Temperatura (ºC) Precipitação (mm) 6. CURITIBA 81GE GEOGRAFIA 2017 do Maranhão, Piauí e oeste da Bahia e de Minas Gerais. Inverno e verão são estações bem marcadas pela diferença de pluviosidade: o verão é bastante chu- voso e há seca no inverno. No climo- grama 2, de Goiânia (GO), conseguimos enxergar essa diferença pela variação na altura das barras de precipitação: em julho, a precipitação chega a quase zero e, em janeiro, ultrapassa 250 milíme- tros. A temperatura no clima tropical, de modo geral, é alta, caindo um pouco nos meses de inverno; a média fica entre 18 ºC em locais de serra e 28 ºC na maior parte do território. 3. Clima semiárido É o clima das zonas mais secas do interior do Nordeste. Caracteriza-se pela baixa umidade, pouca chuva e temperaturas elevadas. O climogra- ma 3, referente à cidade baiana de Juazeiro, na divisa com Pernambuco, representa graficamente essas carac- terísticas: note que entre julho e se- tembro as barrinhas de precipitação são bastante baixas – em agosto a mí- nima de chuva chega a 1,7 milímetro. A chuva se concentra entre os me- ses de novembro e abril, mas o total anual de precipitação não chega a 550 milímetros – o volume é inferior ao atingido em apenas dois meses (fe- vereiro e março) no clima equatorial. Já a linha de temperatura varia entre 24,5 ºC e 28,5 ºC durante o ano, médias térmicas bastante elevadas. 4. Clima tropical de altitude É o clima das áreas com altitude acima de 800 metros em Minas Gerais, no Es- pírito Santo, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Os verões são quentes e chuvosos, e os invernos, frios e secos. Isso pode ser visto no climograma 4, que mostra as médias de temperatura e pluviosidade de Belo Horizonte (MG). No inverno, as barras de chuva atingem o mínimo de cerca de 10 milímetros e, no verão, passam de 300 milímetros. Em compa- ração com o clima tropical, o tropical de altitude tem o mesmo comportamento pluviométrico, mas as médias anuais de temperatura são menores, ficando em torno dos 20 ºC – no inverno, as tem- peraturas são bem mais baixas. 5. Clima tropical atlântico Esse clima cobre quase todo o lito- ral do país: começa no Rio Grande do Norte e vai até o Paraná. A quantidade de chuvas varia conforme a latitude da localidade. Por exemplo, enquanto no Nordeste chove muito no inverno, no Sudeste chove mais no verão, como pode ser visto nos climogramas 5 de João Pessoa (PB) e do Rio de Janeiro (RJ). A variação de temperatura é maior na porção mais ao sul do litoral. No Rio de Janeiro, oscila entre 21,5 ºC e 26,5 ºC e, em João Pessoa, entre 24 ºC e 28 ºC. 6. Clima subtropical É o clima das regiões ao sul do Tró- pico de Capricórnio: sul de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A quantidade de chuva não varia muito durante o ano, mas as temperatu- ras mudam bastante: o inverno é frio e o verão, quente. No climograma 6, que representa Curitiba (PR), por exemplo, a temperatura oscila entre 12,5 ºC e 20 ºC, enquanto as barras de precipi- tação apresentam pouca variação (a média anual é de 110 milímetros). 82 GE GEOGRAFIA 2017 ATMOSFERA POLUIÇÃO DO AR A poluição do ar é provocada principalmente pela queima de combustíveis fósseis nos transportes e na geração de energia elétrica e pela atividade industrial. Dióxido de carbono (CO2), monóxido de carbono (CO) e hidrocarbone- tos (HC) são alguns dos poluentes mais emitidos. Veja a seguir alguns dos efeitos mais comuns provocados pela emissão desses gases. Buraco na camada de ozônio O aparecimento de buracos na camada de ozônio é um processo natural, já que, em certas épocas do ano, reações químicas na atmosfera produzem aberturas, que depois se fecham. O ozônio absorve parte da radiação ultravioleta B (UVB) emitida pelo Sol. Sem ela, as plantas teriam redução na capacidade de fotossíntese e haveria maior incidência de câncer de pele e catarata. A atividade humana, porém, acentuou o processo. As reações que destroem o ozônio são intensificadas pela emissão de compostos químicos halogenados artificiais, sobretudo os clorofluorcarbonos (CFCs), criados nos anos 1930 e usados como fluidos refrigerantes em geladeiras, aparelhos de ar condicionado e como propelente de aerossóis. A boa notícia é que, nos últimos anos, acordos internacionais levaram ao fim da produção das substâncias nocivas à camada de ozônio. Estu- dos recentes indicam que o buraco na camada de ozônio atualmente está 9% menor do que no ano 2000. No entanto, desde 2010, o tamanho do rombo não diminui – são 23 milhões de quilôme- tros quadrados, área equivalente à da América do Norte. A perspectiva, segundo a Organização Mundial de Meteorologia, é que a camada deverá voltar à espessura original por volta de 2050. Atmosfera carregada A emissão de poluentes no ar causa uma série de efeitos nocivos ao homem e à natureza Fonte: Nasa 1979 1987 2006 2015 CORTINA DE FUMAÇA Um denso nevoeiro paira sobre as ruas de Krabi, na Tailândia: efeito do dióxido de carbono liberado pelas queimadas na Indonésia EVOLUÇÃO DO BURACO NA CAMADA DE OZÔNIO (1979-2015) A abertura na atmosfera é representada pela cor azul nas imagens abaixo 83GE GEOGRAFIA 2017 Chuva ácida Toda chuva é naturalmente ácida (pH infe- rior a 7), em função das reações do vapor-d'água com o gás carbônico presente na atmosfera. Entretanto, ao atingir um pH inferior a 5,6 a chuva é considerada, de fato, ácida e passa a ser tratada como um problema ambiental. Esse aumento de acidez se deve à queima de com- bustíveis fósseis, feita principalmente pelas atividades industriais e pelos automóveis, que liberam óxido de nitrogênio (NOx) e dióxido de enxofre (SO2) na atmosfera. Esses compos- tos reagem com o vapor-d'água presente na atmosfera, formando o ácido nítrico (HNO3) e o ácido sulfúrico (H2SO4). Quando chove, essas substâncias atingem o solo e a água, alterando suas características e prejudicando lavouras, florestas e a vida aquática. Também danificam edifícios e monumentos históricos. As principais áreas de ocorrência se encon- tram próximas às regiões de maior emissão de gases causadores do efeito estufa, ou seja, as mais urbanizadas e industrializadas, como o Nordeste dos Estados Unidos, a Europa oci- dental, o leste da China, o eixo Rio-São Paulo. Entretanto, essas substâncias podem ser trans- portadas pelos ventos para regiões mais afasta- das desses grandes centros urbano-industriais, causando a chuva ácida. Trata-se, portanto, de uma “poluição transfronteiriça”. O leste do Canadá, por exemplo, sofre com a chuva ácida proveniente da poluição gerada na megalópole Boston-Washington-Nova York e nas cidades industriais da região dos Grandes Lagos, dos Estados Unidos. Já os países escandinavos como Noruega, Finlândia e Suécia recebem as corren- tes de ar que trazem a poluição da Alemanha, Holanda, Bélgica e Inglaterra. wedge O QUE ISSO TEM A VER COM QUÍMICA A reaçãoentre dióxido de carbono (CO2) e as moléculas de água (H2O) libera íons H+. Quanto maior a concentração de H+ maior é a acidez. Essa concentração é medida pelo pH, o potencial hidrogeniônico, que segue uma escala de zero a 14 na qual: 0 < pH < 7: soluções ácidas pH = 7: soluções neutras 7 < pH ≤ 14: soluções básicas ou alcalinas Para saber mais, veja o GUIA DO ESTUDANTE QUÍMICA. Ilhas de calor Os poluentes lançados na atmosfera, principal- mente o dióxido de carbono, ajudam a aumentar a temperatura do ar mais próximo da atmosfera. Em regiões urbanas, esse fato é agravado pela substituição da cobertura vegetal por prédios de concreto e cimento e ruas asfaltadas. Esses materiais absorvem mais calor e o devolvem na forma de radiação térmica. A combinação desses fenômenos tende a aumentar a temperatura nos grandes centros, criando as ilhas de calor. A dife- rença de temperatura entre uma área verde e uma típica zona central de uma cidade pode ser de 8 graus centígrados a mais (veja o mapa ao lado). Inversão térmica A inversão térmica é um fenômeno atmosférico natural que ocorre principalmente nas manhãs de outono e inverno, com a penetração de massas de ar frio, em regiões de clima tropical e subtropical. Caracteriza-se pela alteração na sequência de camadas de ar. Em condições normais, a tempe- ratura fica cada vez mais baixa conforme aumenta a altitude. Em uma situação de inversão térmica, porém, forma-se uma camada de ar mais quente logo acima da camada de ar mais frio próxima ao solo. Isso ocorre graças ao resfriamento da superfície e do ar durante o final da madrugada e início da manhã, quando as temperaturas, tanto da terra quanto do ar, são mais baixas. Em regiões onde o ar não se encontra carregado de poluentes, a inversão térmica não provoca nenhum problema ambiental. No entanto, em ambientes urbanos, a inversão térmica causa o bloqueio das correntes ascendentes de ar, retendo grande quantidade de poluentes próximos à su- perfície durante algumas horas. Isso ocorre por- que as trocas verticais de ar, chamadas cor- rentes de convecção, não chegam a atingir a superfície, formando- -se somente a partir da camada de ar quente para cima. Por esse motivo, os poluentes não conseguem se dis- persar. Quando o Sol esquenta a superfície no decorrer da manhã, o ar da camada mais baixa se aquece e sobe, as correntes de con- vecção voltam a atingir o solo e os poluentes voltam a ser dispersa- dos em camadas mais elevadas. Temperatura aparente da superfície Menor Maior Distribuição da vegetação em SP Rural Urbano Fonte: Atlas Ambiental do Município de São Paulo No sul da cidade, onde há mata e quase não existem prédios nem casas, as temperaturas são bem mais baixas. A região central de São Paulo, altamente urbanizada, apresenta temperaturas mais elevadas. Município de São Paulo, com variação de temperatura de 24 °C a 32 °C DENSIDADE DEMOGRÁFICA E ILHAS DE CALOR DIA NORMAL AR QUENTE AR FRIO AR MAIS FRIO AR FRIO AR QUENTE AR FRIO INVERSÃO TÉRMICA FENÔMENO DA INVERSÃO TÉRMICA iSTOCK PHOTO 84 GE GEOGRAFIA 2017 ATMOSFERA AQUECIMENTO GLOBAL EFEITO ESTUFA O fenômeno permite a existência de vida na Terra. Veja como ele funciona e o modo como as ações humanas o afetam 1 2 3 4 5 O Sol emite sua energia pelo espaço na forma de luz visível, radiação ultravioleta e infravermelha Quando os raios do Sol chegam à Terra, cerca de 30% da energia luminosa volta para o espaço, refletida por poeira e nuvens na atmosfera e, ainda, por refletores naturais na superfície, como áreas cobertas de neve e gelo O ar, terras e águas absorvem cerca de 70% da radiação solar Aquecida, a superfície emite calor na forma de radiação infravermelha Um pouco da radiação térmica da Terra vai para o espaço, mas a maior parte é retida na atmosfera, absorvida por vapor-d'água, dióxido de carbono, metano e outros gases do efeito estufa 6 7 A temperatura do planeta varia, de maneira natural, por causa dos ciclos solares e geológicos. Mas, de acordo com o relatório do IPCC, as atividades humanas afetaram o ritmo normal do ciclo e o equilíbrio natural de produção e absorção de gases Se o calor não fosse retido pelo efeito estufa, o planeta congelaria a uma temperatura média de 18 ºC negativos Planeta em ebulição Cientistas confirmam que a atividade humana está provocando alterações climáticas em todo o globo S e antes a ideia do aquecimento global era apenas uma hipótese, hoje os cientistas já contam com evidências mais seguras para afirmar que a ação do homem sobre o meio ambiente está alterando a temperatura do planeta. O estudo mais consistente a respeito foi divulga- do em 2007 pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), entidade que reúne 2.500 cientistas de mais de 130 países sob a chan- cela da Organização das Nações Unidas (ONU). A partir deste documento, que representou um marco ambiental, especialistas do mundo todo passaram a culpar nosso padrão de desen- volvimento pelo aquecimento da Terra. Em setembro de 2013, o IPCC divul- gou um novo estudo no qual aumenta de 90% para 95% o grau de certeza científica quanto à participação do homem na elevação da temperatura do planeta: “É extremamente provável que a influência humana sobre o clima tenha causado mais da metade do aumento observado da temperatura média da superfície global entre 1951 e 2010”, dizem os cientistas. O relatório da ONU aponta que entre 1880 e 2012 a temperatura média na Terra subiu 0,85 ºC. Em algumas regiões, que incluem o Brasil, o aumento foi de até 2,5 graus. Além disso, o nível médio da água dos oceanos subiu 19 centímetros e as últimas três décadas foram as mais quentes desde 1850. O estudo também permitiu aos cientistas projetar as dramáticas consequências que as próximas gerações enfrentarão, caso esse processo não seja revertido (veja mapa na pág. 86). O efeito estufa Sempre ouvimos falar que o efeito estufa é o grande vilão do aquecimento global, o que não deixa de ser verdade. Mas uma coisa precisa ficar clara: é graças a ele que existe vida em nosso planeta. O efeito estufa é um fenômeno natural que faz com que a temperatura média do globo se conserve nos limites necessários para a manutenção da vida, em torno de 14,5 ºC. Ele ocorre em razão da existência de gases que estão naturalmente na atmosfera e impedem a 85GE GEOGRAFIA 2017 8 Hoje, milhões de toneladas de carbono que a natureza tirou de circulação, armazenado como petróleo no subsolo ou biomassa nas matas, são jogadas pela ação humana na atmosfera em poucas horas, na forma de CO 2 . Ao aumentar a concentração desse e de outros gases, o homem amplia o efeito estufa, o que provoca o aquecimento do planeta OS GASES DA ATMOSFERA 78,084% Nitrogênio (N 2 ) 20,946% Oxigênio (O 2 ) 0,934% Argônio (Ar) 0,036% Outros gases DIÓXIDO DE CARBONO (CO 2 ): 0,0332% NEÔNIO (NE): 0,0018% OUTROS GASES: 0,0010% [1] Fonte: Nasa CONCENTRAÇÃO DE DIÓXIDO DE CARBONO NA ATMOSFERA NOS ÚLTIMOS 10 MIL ANOS 8.000 a.C. 5.500 a.C. 3.000 a.C. 500 a.C. 2.000 350 300 250 D ió xi d o d e c a rb o n o (p p m ) 350 330 15,5 15 14,5 310 290 19001880 1920 1940 1960 1980 2000 CO 2 ( pp m ) Gr au s C el si us CO 2 e temperatura média da Terra MAIS GÁS, MAIS CALOR No gráfico à esquerda, veja como a concentração de dióxido de carbono (CO 2 ) deu um salto a partir da Revolução Industrial, no século XVIII. Isso pode ser visto por meio da linha vermelha no lado direito do gráfico,que sobe quase perpendicularmente. No detalhamento desse período, no gráfico acima, a relação do CO 2 com o aquecimento global fica clara: a curva de aumento de CO 2 coincide com a da elevação da temperatura. PARA IR ALÉM O documentário Uma Verdade Inconveniente, dirigido por Davis Guggenheim e apresentado pelo ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, procura evidenciar as causas e as consequências do aquecimento global. Parte da análise de dados de variação de temperaturas e concentração de CO2 na atmosfera terrestre, e chama a atenção sobre as responsabilidades individuais e coletivas do homem diante dessa situação. dissipação para o espaço de parte da radiação vinda do Sol, que é absorvida e refletida pela Terra (veja o infográfico). O problema é que, por causa da ação do homem, esse benéfico “cobertor” atmosférico está se trans- formando num forno. E quando nos referimos à ação do homem, trata-se daquelas atividades que resultam na emissão e no acúmulo na atmosfera de gases responsáveis pelo efeito estufa. Entre os principais, estão o dióxido de carbono (CO2), produzido pela queima de combustíveis fósseis (especialmente carvão mineral e derivados de petróleo, como óleo cru, diesel e gasolina) para gerar energia; o metano (gás natural, CH4), libe- rado pela decomposição de lixo, digestão do gado, plantações alagadas (principalmente de arroz); e óxido nitroso (N2O), que advém, entre outros meios, do tratamento de dejetos de animais, do uso de fertilizantes e de alguns processos industriais. Além disso, ao alterar a terra por meio do desma- tamento e de atividades agrícolas, o ser humano está lançando no ar, por apodrecimento ou queima, CO2, que estava acumulado nas plantas e no solo. Todas essas atividades são realizadas mais intensamente nos países desenvolvidos. Esta- dos Unidos, Japão e muitas nações europeias apresentam elevada produção de gases do efeito estufa per capita, principalmente por causa do uso de automóveis e da elevada industrialização. Contudo, países em desenvolvimento, como a China, vêm aumentando significativamente as emissões desses gases nos últimos anos. Os chineses já ultrapassaram os norte-america- nos como os maiores poluidores do planeta, tornando-se responsáveis por um quarto das emissões mundiais. EL NIÑO E EFEITO ESTUFA FAZEM GÁS CARBÔNICO TER AUMENTO RECORDE O dióxido de carbono (CO2) na atmosfera registrou um aumento recorde com um crescimento de 3,05 partes por milhão (ppm) em 2015 – segundo medições da estação de referência de Mauna Loa, no Havaí. Segundo informou nesta quinta-feira (10) a Agência Oceânica e Atmosférica (NOAA), este “importante” aumento se explica em especial pelo surgimento da corrente marinha quente do Pacífico conhecida como El Niño. Esta corrente reaparece a cada três a cinco anos e provoca mudanças em florestas e outros ecossistemas terrestres que reagem a modificações no clima e ao aumento das precipitações, explicou a agência (...). “Mas as emissões de gases de efeito estufa provenientes das atividades humanas são o principal fator de longo prazo que explicam o aumento do CO2 atmosférico (...)”, afirmou em comunicado.(...) G1, 10/3/2016 SAIU NA IMPRENSA 86 GE GEOGRAFIA 2017 ATMOSFERA OS EFEITOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS PARA IR ALÉM O documentário Seis Graus que Podem Mudar o Mundo, da National Geographic, simula possíveis cenários decorrentes do aumento de um até seis graus Celsius na temperatura global sobre os diversos ecossistemas e populações humanas. O pior cenário Extremos climáticos como secas prolongadas e furacões devem se tornar mais frequentes em função do processo de mudança climática Desde 1880, quando a temperatura do planeta começou a ser medida, a popu-lação mundial não entrentou um ano tão quente como o de 2015. Segundo a Nasa, a Agência Espacial Norte-Americana, os recordes de temperatura são uma constante neste século: 15 dos 16 anos mais quentes da história foram registrados após o ano 2000. Esses dados con- solidam uma tendência de aquecimento global de longo prazo, o que abre a possibilidade da ocorrência mais frequente de eventos climáti- cos extremos, como secas prolongadas, chuvas torrenciais e violentos ciclones. É o que pode ocorrer se não houver uma redução na emissão de gases do efeito estufa, na análise dos cientistas do Painel Intergovernamental sobre a Mudança no Clima (IPCC). As projeções do IPCC indicam que, se as emis- sões permanecerem nos níveis atuais, a temperatu- ra média do planeta pode subir até 4,8 ºC, e o nível dos mares deve aumentar em até 82 centímetros. As geleiras irão continuar a derreter e é fortemente provável que o gelo do Ártico diminua até o final do século. Segundo os cientistas, nenhuma parte do globo ficará imune aos efeitos do aquecimento global (veja mais no mapa). Os terríveis cenários previstos pelos cientistas do IPCC certamente teriam consequências em termos estratégicos e geopolíticos. O Departa- mento de Defesa dos Estados Unidos alerta para o fato de que, atingido pelas mudanças climá- ticas, o mundo seria mais instável e perigoso. Haveria um aumento de migrações e até mesmo invasões populacionais para obter recursos como água e alimentos. E os maiores problemas ocorreriam justamente onde hoje já existem graves questões políticas, como em regiões da Ásia e da África. Para o órgão de governo dos EUA, em alguns locais, a tensão social causada pela fome poderia se tornar mais explosiva, combinada com a tensão étnico-religiosa. A corrente cética As explicações sobre as causas do aumento da temperatura global não são aceitas por todo mundo. Há cientistas que questionam seus fun- damentos. Eles alegam que a temperatura média da Terra subiu e desceu várias vezes durante sua existência, e que isso pode estar ocorrendo neste momento. Ou seja, esse esquenta-esfria do planeta faria parte de um ciclo natural no qual o clima alterna períodos quentes e eras glaciais. Além disso, essa “corrente cética” acredita que, mesmo que exista uma tendência para o aquecimento, ela está mais ligada aos fatores na- turais do que à ação humana. O clima seria mais influenciado pelas glaciações, pelo vulcanismo e por fenômenos astronômicos. Esses cientistas também contestam a capacidade científica de prever com antecedência de décadas como será o clima da Terra. No entanto, os que defendem esta tese são acusa- dos de agir em favor daqueles que atuam no lobby de interesses das indústrias que vivem do petróleo e de governos que seriam afetados pelas medidas necessárias para conter o aquecimento global. AMÉRICA LATINA Na América Central aumentará a ocorrência de ciclones tropicais. As chuvas devem diminuir na Bacia Amazônica e aumentar na Bacia do Prata, região que abrange o sul do Brasil, além de Paraguai, Uruguai e Argentina. AMÉRICA DO NORTE A região deve ser afetada por fortes secas e queda na disponibilidade de água, especialmente na parte central. Haverá maior ocorrência de ciclones tropicais no golfo do México e na costa leste dos EUA e do Canadá. MUDANÇAS NA TEMPERATURA 2081-2100 110 C 90 70 50 40 30 20 1,50 10 0,50 87GE GEOGRAFIA 2017 OS EFEITOS NO BRASIL Segundo o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), até 2100, a temperatura no país irá aumentar entre 1 ºC e 6 ºC, em comparação com a registrada no fim do século XX. Nesse cenário, a agricultura, a geração e a distribuição de energia e a gestão dos recursos hídricos serão afetados. Veja os efeitos regionais no mapa ao lado. ÁSIA As chuvas de monções devem se tornar mais intensas no sul e no leste do continente. A frequência de tempestades e ciclones iráaumentar em áreas como o Mar do Japão, a Baía de Bengala, o Mar do Sul da China e o Golfo da Tailândia. OCEANIA Fortes ondas de calor devem atingir a Austrália, com chuvas extremas no sul do país e secas no noroeste. As ilhas do Pacífico ficarão mais vulneráveis à passagem de ciclones tropicais. ÁFRICA As temperaturas devem aumentar principalmente no sul do continente. É provável que a seca piore na parte ocidental e na região do Sahel, provocando queda da safra e agravando a situação de fome. REGIÕES POLARES O gelo do Ártico pode diminuir até 94% durante o verão. Com o derretimento na calota norte da Terra, o nível do mar pode aumentar de 45 a 82 centímetros, nível considerado perigoso pelos cientistas. EUROPA A temperatura deve aumentar de forma generalizada no continente, com menos dias de frio intenso no inverno. No sul e leste europeus, os períodos de seca devem reduzir a água disponível e a produtividade agrícola, enquanto, no noroeste do continente, o IPCC prevê maior volume de chuvas. OUTRAS POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS: arrow Ameaças à biodiversidade e aceleração da extinção de espécies. arrow Esgotamento das reservas de água e agravamento de sua distribuição. arrow Comprometimento da produção agrícola e da segurança alimentar, especialmente nas regiões tropical e subtropical. arrow Elevação do nível dos oceanos e ameaças a cidades litorâneas. NORTE O volume de chuvas na Amazônia deve cair até 40%, o que levaria a uma substituição da floresta por uma vegetação mais rala, semelhante à do cerrado. NORDESTE Até 2100, a temperatura na caatinga poderá subir até 4,5 ºC, e a ocorrência de chuva irá diminuir entre 40% e 50%. CENTRO-OESTE As chuvas devem diminuir entre 35% e 45%. No Pantanal e no cerrado, as temperaturas devem subir de 3,5 ºC a 5,5 ºC. SUDESTE Na região da Mata Atlântica, o clima deverá ficar até 3 ºC mais quente e até 30% mais chuvoso. ZONA COSTEIRA O aumento do nível do mar em até 30 cm afetaria ecossistemas costeiros do Norte e Nordeste, como manguezais; a população litorânea teria de ser remanejada. SUL Na região dos pampas, a temperatura deve subir 3 ºC, com previsão de um aumento de 40% na ocorrência de chuvas. 88 GE GEOGRAFIA 2017 ATMOSFERA ENERGIAS RENOVÁVEIS Alternativas limpas Investimentos em fontes de energia renováveis são essenciais para reduzir as emissões de gases do efeito estufa O s cientistas do Painel Intergovernamen-tal sobre a Mudança no Clima (IPCC) são enfáticos em apontar o que é pre- ciso ser feito para evitar os efeitos dramáticos das mudanças climáticas: suspender o uso sem restrições de combustíveis fósseis. Desde a Revolução Industrial, há mais de 200 anos, nossas atividades econômicas são baseadas na queima de fontes não renováveis e altamente poluentes como petróleo, gás e carvão. A energia que consumimos para gerar eletricidade e aque- cimento, para nos locomovermos em viagens de carro, avião ou navios e para mover a atividade manufatureira contribui com cerca de metade das emissões dos gases de efeito estufa. Na prática, para alterar essa matriz de energia e reduzir a dependência econômica de combustíveis fósseis, seria preciso ampliar o uso de energias renováveis. Trata-se de um procedimento que já está em andamento ao redor do mundo, ainda que num ritmo abai- xo do desejável. A China, o maior emissor de gases do efeito estufa do planeta, é o país que mais vem investindo em energia renovável há alguns anos. Os Estados Unidos e a Europa também avançam em projetos para baratear o custo dessas fontes de energia. O Brasil, que é o nono maior investidor em energias renováveis wedge MATRIZ DE ENERGIA Combinação das fontes de energia disponíveis numa economia ou país e dos usos de energia. A economia moderna consome energia em duas principais formas: a energia combustível, que alimenta principalmente equipamentos mecânicos, como motores, e a energia elétrica, que alimenta essencialmente equipamentos eletrônicos.wedge O QUE ISSO TEM A VER COM HISTÓRIA A Revolução Industrial é o processo de transformação da economia agrária, baseada no trabalho manual, em outra, dominada pela indústria mecanizada, que se caracteriza pelo uso de novas fontes de energia e de máquinas, pela especialização do trabalho e pela aplicação da ciência na indústria. Ela teve início por volta de 1760, na Inglaterra. Para saber mais, veja o GUIA DO ESTUDANTE HISTÓRIA. do mundo, tem cerca de 40% de sua matriz energética proveniente de recursos renováveis (veja o gráfico acima) e caminha para ter 93% de sua energia elétrica com origem em fontes que não se esgotarão até 2050, de acordo com um estudo da ONG Greenpeace. Vale ressaltar que algumas das fontes de ener- gia alternativas ainda têm um custo ambiental alto. As usinas hidrelétricas, por exemplo, cos- tumam afetar a biodiversidade, como no caso da Usina de Belo Monte, no Pará, que vem causando polêmica por reduzir a vazão do Rio Xingu, o que comprometeria o ecossistema da região Amazônica. Já a energia nuclear pode causar sérios danos ambientais com o lixo radioativo. Confira alguns exemplos de fontes de energia renováveis e limpas. Energia eólica A energia é produzida quando a força do vento gira as hélices das turbinas eólicas, que conver- tem a energia mecânica em elétrica. O Brasil tem grande potencial nessa área, especialmente no Nordeste e no Sul, por possuir condições naturais favoráveis. Com o aumento dos in- vestimentos, a previsão é de que a participação da energia eólica na matriz elétrica brasileira alcance 5,4% até 2016. Petróleo e derivados 39,4% Carvão 5,7% Gás natural 13,5% Nuclear 1,3% Biomassa 23,8% Hidráulica 11,5% Outras* 4,8% BRASIL – 2014 Fontes: Agência Internacional de Energia e Ministério de Minas e Energia RenovávelNão renovável Gás natural 21,4% Nuclear 4,8% Biomassa 10,2% Hidráulica 2,4% Outras* 1,2% Petróleo e derivados 31,1% Carvão 28,9%** MUNDO – 2013 OFERTA DE ENERGIA POR FONTE *Inclui eólica e solar **Inclui xisto (folhelho) 89GE GEOGRAFIA 2017 Energia solar A principal forma de captar a energia prove- niente do Sol é por meio de painéis fotovoltaicos, que possuem células solares capazes de trans- formar a radiação solar em eletricidade. Quanto maior a intensidade de luz, maior o fluxo de energia elétrica. O Brasil também é privilegia- do em radiação solar, especialmente na região Nordeste. O elevado preço dessa tecnologia, porém, ainda inviabiliza investimentos mais pesados nesse tipo de energia no país. Biomassa A matéria orgânica também vem sendo utilizada para gerar energia. Seu aproveitamento pode ser feito pela combustão direta, por processos termo- químicos ou biológicos. No Brasil, óleos vegetais e bagaço de cana, entre outros materiais, dão origem à energia elétrica. A biomassa também pode se transformar em biocombustíveis – o álcool etílico já é amplamente usado nos veículos brasileiros. Energia geotérmica O calor interno do globo, principalmente em áreas geologicamente ativas, pode produzir energia em usinas termelétricas a partir dos gêiseres (fontes de vapor no interior da Terra), presentes em países como EUA, México e Japão. PETRÓLEO A combinação de material decomposto com as altas temperaturas e a pressão do subsolo forma jazidas de petróleo e gás. O carbono guardado nesses depósitos soma 300 bilhões de toneladas CO 2 + água + energia solar O 2 + açúcares CO 2 H 2 O EN ER GI A SO LA R FOTOSSÍNTESE Na fotossíntese, as plantas absorvem CO 2 e liberam oxigênio. Os vegetais estão na base de todas as cadeias alimentares doplaneta VEGETAÇÃO Cerca de 600 bilhões de toneladas de carbono ficam estocadas nas plantas naturais ou cultivadas QUEIMADAS E DESMATES A queima da vegetação libera carbono no ar. A mata derrubada significa menos organismos para absorver o carbono. Restos de matéria orgânica sobre o solo têm 1 trilhão de toneladas de carbono CARVÃO MINERAL Formado com os restos soterrados de plantas e animais, o carvão mineral estoca cerca de 3 trilhões de toneladas de carbono DEVOLUÇÃO DO CARBONO A atmosfera devolve à superfície da Terra e aos oceanos cerca de 200 bilhões de toneladas de carbono a cada ano SEDIMENTOS MARINHOS O carbono depositado em sedimentos marinhos guarda 150 bilhões de toneladas de carbono OCEANO Grande parte do CO 2 da atmosfera dissolve-se na água e é absorvida por seres marinhos ATMOSFERA A camada gasosa que envolve a Terra guarda 750 bilhões de toneladas de dióxido de carbono O CICLO DO CARBONO O carbono tem um ciclo natural entre o subsolo, os organismos, a atmosfera e os mares. As atividades humanas aumentam sua quantidade no ar. O volume de carbono em cada etapa é estimado pelos cientistas O Sol é a fonte de energia que sustenta a vida na Terra COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS A queima de petróleo e carvão acelera a liberação de carbono para a atmosfera, soltando mais de 5 bilhões de toneladas no ar a cada ano SAIBA MAIS CICLO DO CARBONO Apesar de ser o responsável direto pelo efeito estu- fa e, consequentemente, pelo aquecimento global, o carbono é um elemento químico essencial para a vida humana. Ele faz parte de um ciclo natural: transita entre a atmosfera, a biosfera e a hidrosfera, garantindo o equilíbrio do meio ambiente. Para se desenvolverem, as plantas transformam o dióxido de carbono presente na atmosfera em carboidratos, que formam folhas e troncos. Nesse processo, conhecido como fotossíntese, os vegetais liberam oxigênio. Os oceanos também absorvem o carbono da atmosfera – em contato com a água do mar, o dióxido de carbono se transforma em ácido carbônico, dissolvendo-se nas profundezas dos oceanos. Mas, além de absorver carbono, esse ciclo natural libera o elemento na atmosfera, num processo que pode se dar de diversas formas: pela erupção de vulcões, pela decomposição de organismos, pela respiração, ou mesmo pela flatulência de animais. Infelizmente, nosso padrão de desenvolvimento, baseado na queima de combustíveis fósseis para a geração de energia, vem rompendo esse equilíbrio natural. Em suma, estamos emitindo mais carbono do que a natureza é capaz de absorver, desestabilizando o ciclo. wedge O QUE ISSO TEMQ A VER COM BIOLOGIAA VER COM BIOLOGIA A fotossíntese é um processo metabólico, pelo qual os vegetais transformam gás carbônico (CO2) e água em açúcares e oxigênio. A energia necessária para que a fotossíntese ocorra vem do Sol e é captada pelo pigmento clorofila. A fotossíntese pode ser resumida na seguinte equação: 6 CO2 + 12 H2O + luz = C6H12O6 + 6 O2 + 6H2O O C6H12O6 é a glicose, um carboidrato (açúcar). Para saber mais, veja o GUIA DO ESTUDANTE BIOLOGIA. MULTI/SP 90 GE GEOGRAFIA 2017 ATMOSFERA PROTOCOLO DE KYOTO E ACORDO DE PARIS Nova esperança Apesar das divergências para o estabelecimento de metas de redução de gases do efeito estufa, os governantes de 195 países chegam a um acordo na COP21 A constatação de que a intensa emissão de gases do efeito estufa está alterando o clima do planeta vem mobilizando a comunidade internacional nos últimos anos. Mas enfrentar um problema global dessas proporções requer um difícil alinhamento entre os líderes mundiais. As ações políticas para tentar reverter o aquecimento global são tratadas em fóruns mundiais, como a Conferência Geral das Partes, um encontro reali- zado anualmente com a participação de todos os países para discutir a mudança climática – ela é conhecida por sua sigla em inglês COP. Chegar a um consenso nesses encontros é uma tarefa muito complicada porque há vários interesses conflitantes entre as nações ricas e os países em desenvolvimento quanto as respon- sabilidades que cada um deveria assumir para reduzir as emissões de carbono. O Protocolo de Kyoto O primeiro grande marco de ação governamen- tal coletiva foi o Protocolo de Kyoto, assinado em 1997 durante a terceira COP. O documento é o primeiro acordo oficial com metas e prazos para reduzir as emissões de gases do efeito estu- fa. Ele estabeleceu que os países desenvolvidos, responsáveis por lançar a maior parte dos gases, deveriam reduzir suas emissões em pelo menos 5% em relação aos níveis de 1990. Já as nações em desenvolvimento, como o Brasil e a China, que ti- veram uma industrialização tardia, não precisaram adotar metas, mas comprometiam-se a diminuir a emissão de carbono voluntariamente. Mas o Protocolo de Kyoto já nasceu prati- camente condenado. Os EUA não assinaram o documento por se recusar a mudar sua matriz energética – fortemente dependente de petróleo – e não concordar com a ausência de metas para os países em desenvolvimento. Posteriormente, outros países também abandonaram os compro- missos firmados no protocolo. Os governos de Canadá, Japão, Austrália e Rússia passaram a reclamar da falta de compromisso das economias emergentes. Eles alegam que o crescimento eco- nômico de países como China e Índia aumentou muito a emissão de carbono global, e exigiam o cumprimento de metas dessas nações. AGORA VAI? O presidente da França, François Hollande (à dir.), e outras autoridades mundiais celebram a assinatura do Acordo de Paris, em dezembro de 2015, durante a COP21 91GE GEOGRAFIA 2017 SAIBA MAIS MERCADO DE CARBONO Para minimizar o dese- quilíbrio entre as emis- sões de gases dos países ricos e dos menos de- senvolvidos, o Protoco- lo de Kyoto estabeleceu o “mercado de carbono”. Ele funciona da seguinte forma: os países desen- volvidos, incapazes de substituir o carvão e o pe- tróleo de uma hora para outra, podem compensar parte de suas emissões comprando créditos de carbono de outros países cujas emissões ficaram abaixo do limite estipu- lado. Esses créditos são pagos com investimentos em projetos que ajudem as nações vendedoras a reduzir suas emissões de gases do efeito estufa. O primeiro projeto ba- seado nesse mercado de carbono foi implemen- tado em 2005, em Nova Iguaçu (RJ). Um antigo lixão foi transformado em aterro sanitário com o fi- nanciamento da Holanda. Hoje em dia, centenas de projetos como esse estão em andamento em várias partes do mundo. O Acordo de Paris Por todas essas dificuldades, o Acordo de Paris firmado durante a COP21, realizada na capital francesa, em dezembro de 2015, foi recebido com bastante otimismo. O documento assinado por representantes de 195 países foi considerado histórico: pela primeira vez houve um entendi- mento para a redução das emissões de carbono que envolve quase todas as nações do mundo. O acordo entrará em vigor a partir de 2020 e obriga a participação de todos os países – e não apenas os ricos – no estabelecimento de metas para limitar o aumento da temperatura média do planeta até 2100. O objetivo é restringir o aqueci- mento a “bem menos de 2º C”. Cada nação fica obrigada a apresentar um con- junto de metas para reduzir a emissão de carbono em um documento conhecido como INDCs (sigla em inglês para Contribuições Pretendidas Nacio- nalmente Determinadas). Mas se o estabelecimen- to das metas é compulsório para todas as nações, o cumprimento desses objetivos é voluntário. O documento final também estabeleceu que os países ricos irão garantir um financiamento de, no mínimo, 100 bilhões de dólares por ano para projetos de combate às
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