Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
48 GE FUVEST 2017 O EXAME O QUE CAI NA PROVA Como a prova da primeira fase costuma trabalhar temas isolados, é importante que você tenha bem claro cada um dos principais conceitos da disciplina, como movimento, força, energia e trabalho. As questões interdisciplinares exigem do vestibulando uma capacidade de leitura e interpretação de temas relacionados, por exemplo, às fontes de energia, seus usos no âmbito social e os impactos ambientais. Já na segunda fase, a proposta é verificar se o vestibulando consegue relacionar as diferentes áreas da Física na resolução do problema. Dessa forma, uma sugestão é procurar associar o máximo possível os conceitos e leis que está estudando. Um exemplo: relacionar as leis de Newton com a quantidade de movimento, impulso e conservação do movimento. Outra ideia é construir quadros conceituais por tema (por exemplo, energia) ou por área (por exemplo, mecânica), e retomá-los na resolução dos exercícios, buscando compreender o processo. Física Temas mais pedidos nas provas MECÂNICA DESCRIÇÃO DE MOVIMENTOS – CINEMÁTICA ESCALAR E VETORIAL Na primeira fase, prevalece a descrição dos movimentos isolada dos demais temas e mais direcionada a problemas de encon- tro (por exemplo, o cálculo do tempo neces- sário para que duas pessoas que saíram de pontos distintos se encontrem), ou a rela- ção do movimento descrito na questão com as opções de gráficos. Na segunda fase, o movimento circular predomina e vem asso- ciado à dinâmica ou ao eletromagnetismo. Por exemplo, problemas que relacionam o movimento de um objeto ao longo de uma trajetória circular com influência do atrito ou o movimento de uma partícula eletriza- da no campo eletromagnético. CONSERVAÇÃO DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO Na primeira fase, a abordagem é feita isoladamente e poderá ou não solicitar cálculos, principalmente para as ques- tões que exigem o coeficiente de resti- tuição. Em geral, se o aluno souber que a conservação da grandeza é vetorial, ele conseguirá responder a questão. Já na se- gunda fase, a abordagem está associada a outros temas da mecânica, como a ener- gia, e sempre exigirá um procedimento matemático na resolução. FORÇAS MODIFICANDO MOVIMENTOS A relação entre impulso e variação na quantidade de movimento aparece com frequência na primeira fase. Já na segunda, essa proposta está relacionada a outras abordagens (tanto da mecânica quanto do eletromagnetismo) e exige do aluno determinar, por exemplo, a força resul- tante do sistema para depois calcular a aceleração (aplicar a 2ª Lei de Newton). CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO, CENTRO DE MASSA Atenção para as questões associadas às condições de equilíbrio para sistemas sujeitos a diferentes tipos de força. SISTEMAS CONSERVATIVOS: ENERGIA POTENCIAL, CONSERVAÇÃO DE ENERGIA MECÂNICA Há diversos tipos de questão. Na pri- meira fase, prevalecem as perguntas conceituais relacionadas à lei da conser- vação e a cálculos simples. Já na segunda fase, as questões estão ligadas a outros temas da Física, como a conservação da quantidade de movimento. FORÇA PESO, DE ATRITO, ELÁSTICA E CENTRÍPETA É preciso reconhecer tanto as caracte- rísticas quanto a expressão matemática para os vários tipos de força. O tema é trabalhado em conjunto com outras áreas da Física, como na situação de equilíbrio entre a força peso e a força elétrica para COMO É O EXAME 1ª FASE Média de 11 questões de múltipla escolha (podendo haver questão interdisciplinar). 2ª FASE 2 questões dissertativas no segundo dia de prova (podendo ser interdisciplinares) e, dependendo da carreira escolhida, mais 4 a 6 questões discursivas no terceiro dia. GE FUVEST 2017 49 Mecânica Eletromagnetismo Ondas, som e luz Termodinâmica Outros uma carga inserida em um campo elétrico ou na análise do movimento circular. Na primeira fase, é necessário saber identifi- car a presença dos diversos tipos de força para analisar a força resultante do sistema. Já na segunda fase você terá de calcular a força resultante do sistema para resolver a questão proposta. Ou seja, o cálculo da força resultante (utilizando variados tipos de força) é apenas uma das possíveis eta- pas da resolução do problema. TRABALHO DE UMA FORÇA E POTÊNCIA Predominam questões associadas ao cálculo da potência e trabalhadas com outras áreas da Física, como a energia mecânica ou a quantidade de calor tro- cada. Você deve reconhecer o significado da unidade watt, atribuída à grandeza potência, para estabelecer uma relação entre as grandezas energia e tempo. Esse tema, em geral, é apenas uma das etapas para você resolver a questão. ELETROMAGNETISMO EFEITO JOULE E POTÊNCIA ELÉTRICA Destaque para o cálculo da potência elétrica para diferentes situações, como o consumo de energia elétrica de aparelhos elétricos. A primeira fase possui uma abor- dagem mais qualitativa (como a relação de proporcionalidade entre as grandezas potência dissipada e corrente elétrica) se comparada à segunda fase (em que o conceito de potência elétrica é utilizado para resolução de problemas associados ao cálculo da energia consumida e eficiência). CIRCUITOS SIMPLES Prevalecem questões que exigem a aplicação da lei de Ohn. Em geral, você precisará calcular a resistência equivalen- te para depois resolver o problema. Outro ponto de atenção é na representação dos circuitos no problema que, em geral, ex- pressam uma lâmpada, um chuveiro, uma bateria etc. Assim, é preciso reconhecer o papel que cada um dos dispositivos elétricos exerce dentro circuito, ou seja, identificar os elementos que se compor- tam como resistores, geradores etc. ONDAS, SOM E LUZ REFLEXÃO E REFRAÇÃO Fique de olho na aplicação das leis da reflexão ou da Lei de Snell para diferentes situações. Em especial na segunda fase, você terá de fazer a representação dos feixes de luz para a situação descrita no problema. TERMODINÂMICA TERMOLOGIA Merecem destaque os problemas de trocas de calor com ou sem mudança de fase. Na primeira fase, esse tipo de abordagem aparece nas perguntas inter- disciplinares e, na segunda, em questões que envolvem mais de uma área da Física, como a energia mecânica. PROPRIEDADES DOS GASES IDEAIS As questões são simples e envolvem a aplicação direta da equação de Cla- peyron, na primeira fase. Na segunda, também há a necessidade de cálculos, no entanto são pedidas relações com outras áreas da Física, como os fluidos. DICAS DE ESTUDO TRANSFORME O ERRO EM ACERTO Uma sugestão para estudar Física é a partir dos seus erros. Compare o exercício que você não acertou com a resolução apresentada e procure identificar o tipo de erro: conceitual (devido à aplicação equivocada do conceito); procedimental (aqueles relacionados às etapas de resolução, em geral aos cálculos realizados); ou em função da leitura e interpretação, Outra dica durante o estudo é, an- tes de começar a resolver um exercí- cio, fazer um desenho para ilustrar a situação. Nele, você deve colocar todos os dados do problema. Aí fica mais fácil aplicar o conceito físico que, em alguns casos, corresponde à aplicação da fórmula também. 21% 14% 11% 6% 48% DISTRIBUIÇÃO DOS GRANDES TEMAS NO EXAME CONSULTORIA: PAULA SOUSA 50 GE FUVEST 2017 O EXAME O QUE CAI NA PROVA Nas provas de História são comuns dois tipos de questão: as que procuram avaliar o domí-nio do conteúdo e de habilidades relaciona-das a ele – como estabelecer relações entre fatos e processos, comparações etc. – e as que fornecem um texto, imagens e tabelas, com dados que você deve levar em consideração na resposta. Também são frequentes questões de caráter interdis- ciplinar, querelacionam História e Geografia e História e Literatura. No primeiro caso, elas costumam focar nos objetivos econômicos ou geopolíticos que predominaram num determinado período histórico. No segundo, obras ou temas literários podem ser adotados como ponto de partida para a análise de processos históricos. Temas clássicos não podem ser desprezados. Assuntos como revoluções inglesas do século XVII (Puritana e Glo- riosa), Revolução Francesa, I Guerra Mundial, Revolução Russa, II Guerra Mundial, Guerra Fria, Governos Vargas e Nova República no Brasil devem fazer parte do seu repertório. História Temas mais pedidos nas provas COMO É O EXAME 1ª FASE Média de 11 questões de múltipla escolha (podendo haver questão interdisciplinar). 2ª FASE 2 questões dissertativas no segundo dia de prova (podendo ser interdisciplinares) e, dependendo da carreira escolhida, mais 4 a 6 questões discursivas no terceiro dia. IDADE CONTEMPORÂNEA CAPITALISMO Você deve saber caracterizar o capita- lismo nas suas variadas formas (liberalis- mo clássico, keynesiano, neoliberalismo) e identificar os períodos nos quais cada uma dessas formas foram predominantes (respectivamente no século XIX até 1930, 1945/73, décadas de 80 e 90). IMPERIALISMO E NEOCOLONIALISMO Saiba relacionar imperialismo e neo- colonialismo, e imperialismo e I Guerra Mundial. As características do imperialis- mo e das guerras imperialistas na África, na Ásia e na Europa, assim como suas consequências, também são aspectos im- portantes. Compare, ainda, imperialismo com exploração colonial moderna, lem- brando de suas diferenças e semelhanças. PERÍODO ENTRE GUERRAS O período entre as duas Grandes Guer- ras tem aparecido com frequência. A crise de 1929, suas causas e consequências e o New Deal de Roosevelt estão no topo das aparições. A relação entre 1929 e a crise mundial iniciada em 2008 também tem caído repetidamente. Nazismo (ca- racterísticas e objetivos) e antissemitis- mo, além da Guerra Civil Espanhola e sua relação com a II Guerra Mundial, devem receber atenção especial. DESCOLONIZAÇÃO AFRICANA E ASIÁTICA Os aspectos mais valorizados têm sido a caracterização da dominação política sobre a África e seus efeitos e a relação entre o mundo pós-II Guerra Mundial e es- ses movimentos. Atenção também para a comparação entre processos de luta pela independência e de afirmação nacional no período entre países de características semelhantes (Índia e China, por exemplo). BRASIL REPÚBLICA DITADURA MILITAR Principalmente após a criação da Comis- são da Verdade, em 2012, o período tem sido cobrado regularmente. Foque no au- mento da oposição e da repressão a partir da edição do AI-5, bem como nas pressões para o fim do regime, com manifestações e criação de grupos e movimentos sociais. BRASIL COLÔNIA ECONOMIA E SOCIEDADE COLONIAIS Foco na montagem do sistema colonial e nas características do sistema de plan- tation, na comparação entre colonização portuguesa e espanhola na América. Não deixe de estudar o padrão de urbanização na colônia, ordem social e econômica, mi- neração e domínio inglês (Tratado de Me- thuen), e as relações entre Igreja, índios e escravidão e entre tráfico e escravidão. GE FUVEST 2017 51 Idade Contemporânea Brasil República Brasil Colônia Antiguidade Brasil Império Idade Moderna Idade Média História da América Outros* DICAS DE ESTUDO ESTABELECER RELAÇÕES É FUNDAMENTAL Em História, registrar o que o pro- fessor põe no quadro e comenta já é uma atividade de estudo. Comece repassando essas anotações. Depois, leia o livro ou a apostila que tratam do assunto e tente fazer exercícios sem consulta. Compare o que respondeu com suas anotações ou com o conteú- do do livro. Se for preciso, corrija sua resposta e acrescente o que falta. Esse tipo de verificação indica o que você já sabe e o que precisa estudar mais. Tenha em mente que estudar História é estabelecer relações. É necessário escrever, fazer esquemas, resumos e produzir textos que apresentem as relações do tema analisado. ANTIGUIDADE ANTIGUIDADE CLÁSSICA Conteúdos sobre temas clássicos de Grécia e Roma foram cobrados nas úl- timas provas, com pequena vantagem para a Grécia. Atente para a política grega, com destaque para a democracia e sua comparação com os governos atuais. Os legisladores Sólon e Clístenes também merecem atenção, bem como as bases do pensamento filosófico grego. Os fatores externos e internos para a crise do Império Romano também devem ser estudados. BRASIL IMPÉRIO ESCRAVIDÃO Tema recorrente nas últimas provas, a escravidão tem aparecido de formas muito variadas. Desde a lucratividade do comér- cio e sua relação com a substituição da escravidão indígena, passando pelo apoio da Igreja à exploração dos negros africa- nos, até análises sobre o período em que o comércio/tráfico vigorou no Brasil. Outra recorrência é a relação entre expansão cafeeira e aumento do tráfico, mesmo com as pressões da Inglaterra, durante o século XIX. Atente, ainda, para a relação entre o fim da escravidão e a queda da monarquia. IDADE MODERNA EXPANSÃO MARÍTIMA As perguntas, muitas contendo ma- pas, associam o tema com os tratados (Tordesilhas, por exemplo) e abordam os interesses mercantis e a propagação do catolicismo. Também cobram as conquis- tas e as consequências das expedições. Atenção para a expansão portuguesa – os interesses de cada grupo (Igreja, nobreza, rei e burguesia) no processo e os fatores para o pioneirismo de Portugal. IDADE MÉDIA FEUDALISMO As questões sobre o feudalismo têm fo- cado na organização social (estamentos e relações entre as ordens) e política (su- serania e vassalagem) do sistema. Além disso, concentre-se também no poder exercido pela Igreja Católica e sua relação com o final do Império Romano, e nas relações servis de produção. Cruzadas, Renascimento Comercial e Urbano e suas relações com a desagregação do sistema feudal também costumam aparecer. HISTÓRIA DA AMÉRICA AMÉRICA COLONIAL Foco nas semelhanças e diferenças da colonização espanhola e da portuguesa e os efeitos das conquistas sobre as popula- ções nativas. São comuns questões sobre as doutrinas (liberalismo) e instituições associadas às guerras napoleônicas e seus efeitos na Espanha e em suas colônias. Lembre-se, ainda, das formas de mão de obra compulsória (mita e encomienda) ado- tadas pelos espanhóis em suas colônias. AMÉRICA CONTEMPORÂNEA Estude a política externa dos Estados Unidos para a América Latina e suas consequências (intervencionismo). Sai- ba comparar as revoluções Mexicana e Cubana e as ditaduras militares no Brasil, na Argentina, no Uruguai e no Chile nas décadas de 60, 70 e 80. DISTRIBUIÇÃO DOS GRANDES TEMAS NO EXAME 16% 10% 9% 6% 10% 5% 6% 20% 18% CONSULTORIA: ROBERSON DE OLIVEIRA/JULIO CESAR DE SOUZA *Questões que envolvem mais de um tema. 52 GE FUVEST 2017 O EXAME O QUE CAI NA PROVA Acada ano, a prova de Química tem se tornado mais conceitual. Com menos cálculos, dá-se mais importância aos conteúdos fundamen-tais. Mas não basta decorar as fórmulas ou mesmo conceitos; é preciso compreendê-los integralmente. Os enunciados são longos, porém claros: iden- tifique os comandos, os conceitos e as variáveis apresentadas. Na primeira fase são cobrados os conteúdos mais básicos e há pouco ou mesmo nenhum cálculo. Já na segunda fase caem questões mais específicas e, portanto, mais difíceis. Faça-as com cuidado e apresente uma resolução completa, porém objetiva. Em geral, as perguntas são feitas numa sequência lógica de raciocínio, em que o item “a” podeaju- dar na resolução do item “b”. Em questões que envolvem procedimentos experimentais, mesmo que você não tenha intimidade com o laboratório, é possível compreendê-los. Basta ter atenção e analisar cada parte e variável do experi- mento com muito cuidado. Química COMO É O EXAME 1ª FASE Média de 11 questões de múltipla escolha (podendo haver questão interdisciplinar). 2ª FASE 2 questões dissertativas no segundo dia de prova (podendo ser interdisciplinares) e, dependendo da carreira escolhida, mais 4 a 6 questões discursivas no terceiro dia. Temas mais pedidos nas provas PROPRIEDADES E USO DOS MATERIAIS QUÍMICA INDUSTRIAL Algumas substâncias químicas têm especial relevância em razão de sua im- portância econômica e/ou ambiental. Você precisa conhecer um pouco sobre suas aplicações e processos de produção industrial ou seus ciclos na natureza. É o caso da amônia, do óxido de cálcio, do hidróxido de sódio e dos ácidos clorídrico, nítrico e sulfúrico, que aparecem com muita frequência nas provas. PROPRIEDADES DA MATÉRIA É importante saber das propriedades dos elementos químicos, o que vem asso- ciado ao conhecimento da estrutura da tabela periódica. E também as proprieda- des das substâncias que são decorrentes das ligações químicas presentes nelas. Além do tipo de ligação (metálica, iônica ou molecular), você deve dar ênfase às forças intermoleculares, como as liga- ções de hidrogênio, que têm influência na solubilidade e nos pontos de ebulição dos materiais. TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS REAÇÕES E EQUAÇÕES QUÍMICAS Assim como é fundamental interpretar corretamente uma equação química que aparece com seus símbolos e represen- tações universais, também é necessário que você seja capaz de identificar e trans- formar uma reação química, descrita em palavras do enunciado, em equação cor- retamente balanceada. É importante, ainda, reconhecer suas peculiaridades – como mudanças de cor, formação de gás, aparecimento ou desaparecimento de sólidos – e saber interpretar corre- tamente os modelos moleculares que representam esses fenômenos. ASPECTOS QUANTITATIVOS DAS REAÇÕES QUÍMICAS Mol, massa molar e cálculos estequio- métricos aparecem frequentemente associados a outros conteúdos. São im- portantes as relações de massa, quan- tidade de matéria e volume molar. As propriedades do estado gasoso e a Lei do Gás Ideal também são pedidas com bastante frequência. A ÁGUA NA NATUREZA SUBSTÂNCIAS INORGÂNICAS É preciso reconhecer substâncias como ácidos, bases, sais e óxidos e suas proprie- dades químicas. Substâncias de um mes- mo grupo reagem de forma semelhante, e, muitas vezes, para compreender exata- mente o que o enunciado da questão pede, é necessário saber de suas propriedades, semelhanças e distinções. Você terá de memorizar a nomenclatura de algumas delas, mas a quantidade é pequena e está descrita no programa do manual do can- didato. Para outros casos, o enunciado traz nome e fórmula quando necessários. GE FUVEST 2017 53 Propriedades e uso dos materiais Transformações químicas A água na natureza Compostos orgânicos Energia nas transformações químicas Dinâmica das transformações químicas Outros DICAS DE ESTUDO COMBINE FICHAS-RESUMOS COM EXERCÍCIOS Fazer fichas-resumos para cada as- sunto costuma funcionar bem para o estudo da parte mais teórica da Química. Explore os conceitos, usan- do palavras-chave. Depois, como em qualquer ciência exata, é importante o treino para fixar o conteúdo. Pro- cure fazer exercícios de diferentes níveis de dificuldade e registre nas fichas os conceitos mais frequentes e também as dificuldades que encon- trou. Você terá um excelente material de revisão. Leia os enunciados cuida- dosamente, prestando atenção em nomes, fórmulas e no contexto apre- sentado – e a linguagem química vai se tornando cada vez mais familiar. SOLUÇÕES AQUOSAS É necessário compreender o significado de vários tipos de concentração de soluto, como porcentagem, ppm, mol/L e g/L e também as relações existentes entre elas. Pode vir associado ao cálculo estequiomé- trico em titulações e também a sucessivas diluições, o que demanda bastante aten- ção na execução desses exercícios. COMPOSTOS ORGÂNICOS QUÍMICA ORGÂNICA As questões da primeira fase frequente- mente pedem a identificação das funções orgânicas e a identificação dos vários tipos de isomeria, principalmente as isomerias geométrica e óptica. A iden- tificação de monômeros em polímeros também é importante. Já na segunda fase são mais frequentes as reações orgânicas e bioquímicas. Essas questões vêm, na maioria das vezes, com um modelo que permite compreender o tipo de reação e então aplicá-lo para uma nova substân- cia. Por isso, é muito importante atentar para todos os passos. ENERGIA NAS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS TERMOQUÍMICA Saber classificar uma reação como en- dotérmica ou exotérmica pela variação de entalpia é um conceito básico para a termoquímica. Mas, na maioria das vezes, isso não é um dado direto – é preciso sa- ber calcular essa variação. As formas mais frequentes são a Lei de Hess, a entalpia de formação e os gráficos de entalpia. Em muitos casos, também é necessário fazer a relação entre calor liberado ou absorvido e a estequiometria da reação. ELETROQUÍMICA Fique de olho nos conceitos que envol- vem a transferência de elétrons em uma reação química: número de oxidação, oxi- dação/redução e agente oxidante/agente redutor. Eles aparecem isoladamente nas questões ou associados à obtenção de energia elétrica nas pilhas e ao seu consu- mo na eletrólise. É importante conhecer o significado dos potenciais-padrão de redução e a estrutura fundamental de cada um deles. DINÂMICA DAS TRANSFORMAÇÕES QUÍMICAS EQUILÍBRIOS QUÍMICOS Os equilíbrios em fase gasosa e os iô- nicos são os principais. É preciso saber o significado da constante de equilíbrio e como calculá-la. Em muitos casos, você vai ver que as questões vêm associadas a gráficos. Merecem destaque ainda os fatores que deslocam um equilíbrio quí- mico e as consequências do aumento/ diminuição da temperatura no valor da constante de equilíbrio de uma reação. Ainda neste tópico, não deixe de lado os cálculos de pH, à acidez e à basicidade das substâncias. CINÉTICA QUÍMICA Atenção aos fatores que influenciam a velocidade das reações químicas – con- centração, superfície de contato, tempe- ratura e catalisadores. Essas questões geralmente vêm acompanhadas de gráfi- cos ou tabelas que mostram as variáveis envolvidas. DISTRIBUIÇÃO DOS GRANDES TEMAS NO EXAME 27% 15% 14% 7% 6% 2% 29% CONSULTORIA: ANDREA GODINHO / JULIA KAWASHIMA 54 GE FUVEST 2017 O EXAME O QUE CAI NA PROVA As provas avaliam o seu domínio da linguagem matemática, a compreensão de conceitos e a ca-pacidade de aplicá-los na resolução de proble-mas. Priorizam o raciocínio em detrimento da memorização de fórmulas e da mera execução de cálculos. Há uma forte tendência em se buscarem contex- tos significativos também fora da própria Matemática, o que se observa principalmente nas questões da prova do 2º dia. No exame de múltipla escolha, diferentemente de outras disciplinas, é difícil eliminar alternativas com a leitura do texto. Para se decidir pela resposta correta, o trabalho geral- mente corresponde à resolução de uma questão dissertativa longa. Diminua o risco de errar nas contas fazendo simpli- ficações sempre que puder. E atenção: trabalhar com dados apresentados em gráficos e tabelas, habilidade fortemente relacionada à Matemática, vem sendo cada vez mais exigido, inclusive em outras disciplinas. Matemática COMO É O EXAME1ª FASE Média de 11 questões de múltipla escolha (podendo haver questão interdisciplinar). 2ª FASE 2 questões dissertativas no segundo dia de prova (podendo ser interdisciplinares) e, dependendo da carreira escolhida, mais 4 a 6 questões discursivas no terceiro dia. GEOMETRIA GEOMETRIA ESPACIAL Além do cálculo de volumes de poliedros e de corpos redondos e das áreas das su- perfícies que formam esses sólidos geomé- tricos, atente ainda para o reconhecimento das posições relativas dos elementos dos sólidos entre si, no espaço. O cálculo de distâncias pelo Teorema de Pitágoras e a aplicação de conceitos como a semelhança de triângulos também são frequentes. GEOMETRIA ANALÍTICA Fique de olho no uso das coordenadas cartesianas na descrição de objetos geo- métricos por meio da linguagem algébri- ca. As resoluções das questões exigem a Temas mais pedidos nas provas aplicação de conceitos, como o Teorema de Pitágoras e a semelhança de figuras planas. Você deve conhecer as equações de retas e cônicas, o cálculo de distâncias e reconhecer as posições relativas de duas ou mais figuras em um mesmo plano. TRIGONOMETRIA Merecem atenção o triângulo retân- gulo, a resolução dos triângulos não retângulos com a aplicação da lei dos senos e da lei dos cossenos e o cálculo das razões trigonométricas para arcos de qualquer valor real, além da aplicação dessas razões na resolução dos referidos triângulos. Além do triângulo retângulo, é muito importante conhecer as caracte- rísticas dos triângulos isósceles e equilá- tero, principalmente no que se refere às relações métricas entre seus elementos. GEOMETRIA PLANA As questões envolvem o cálculo de áre- as e de comprimentos, o reconhecimento de posições relativas entre duas figuras, a aplicação do conceito de semelhança, o cálculo de ângulos e as propriedades mé- tricas que envolvem os diversos tipos de figuras. Incluem-se aqui circunferências e círculos, triângulos os mais diversos, quadriláteros e polígonos em geral. Me- recem destaque os polígonos regulares, principalmente em situações de inscrição e circunscrição. Conceitos como apótema, altura, mediana, mediatriz, bissetriz, para- lelismo, tangência e perpendicularidade são fundamentais para a compreensão e interpretação dos enunciados. NÚMEROS EQUAÇÕES, INEQUAÇÕES E SISTEMAS LINEARES Envolve desde conhecimentos básicos de Álgebra, como aquele exigido para se substituir uma variável por um valor nu- mérico, até conteúdos mais elaborados, misturando muitas vezes dois ou mais conceitos tão distintos como logaritmo e razões trigonométricas. Os sistemas lineares estão, geralmente, atrelados a situações de resolução de problemas, com enunciados mais contextualizados e também nas questões multidisciplinares. GE FUVEST 2017 55 Geometria Números Funções Análise combinatória, probabilidade e estatística DICAS DE ESTUDO ESTUDE COM AS PROVAS ANTIGAS Uma boa estratégia para estudar Matemática é por meio das pro- vas dos anos anteriores. Apesar das mudanças ocorridas a partir de 2010 em relação ao número de questões, os temas mais pedidos e o formato das perguntas permane- cem e, além disso, você passa a ter mais familiaridade com o exame. Note que nas questões é frequente a mistura de conteúdos aparente- mente desconexos, como os com- primentos dos lados de um triângu- lo que estão em PA ou as raízes de uma equação polinomial que formam uma PG. Conhecer as propriedades de sequências como essas e tentar estabelecer relações novas entre os conteúdos também é importante. RAZÕES E PROPORÇÕES Pode aparecer em várias situações: nos cálculos proporcionais (diretos ou inver- sos), nas relações entre grandezas, no cál- culo percentual, na semelhança de figuras planas (principalmente os triângulos), na interpretação de mapas com escalas e na transformação de unidades e de seus múltiplos. Veja que o próprio conceito de probabilidade envolve uma razão. FUNÇÕES FUNÇÃO POLINOMIAL Aqui estão incluídas as funções polino- miais de 1º e 2º graus, cujos gráficos são, respectivamente, retas e parábolas. No caso das parábolas, são frequentes pro- blemas que envolvem valores máximos ou mínimos, relacionados ao vértice da pará- bola. As funções polinomiais de maior grau ou aquelas com raízes não reais exigem conhecimento sobre os números comple- xos: operações, representação no plano de Argand-Gauss, forma trigonométrica, obtenção e significado do conjugado. Você deve ainda saber obter raízes, analisar o sinal, fazer esboço do gráfico e interpretá- los. A fórmula de Bhaskara e as estratégias de fatoração são fundamentais. FUNÇÃO TRIGONOMÉTRICA Além das funções trigonométricas pro- priamente ditas, merecem destaque as equações e as inequações trigonométri- cas, bem como as identidades trigonomé- tricas. Não deixe de revisar as expressões para arco duplo e arco metade. É essencial também conhecer as razões trigonométri- cas, seus significados quando aplicadas no triângulo retângulo e seus valores as- sociados aos chamados ângulos notáveis. Para relacionar todos esses conceitos, é fundamental conhecer e saber navegar pela circunferência trigonométrica. FUNÇÕES EXPONENCIAL E LOGARÍTMICA As funções exponenciais e logarítmicas têm como base as definições de potência e logaritmo. Tais definições fazem refe- rência uma a outra e são indissociáveis. Uma operação, pode-se dizer, é a inversa da outra. Tem sido frequente a solicitação de esboçar gráficos de funções como es- sas, de modo que se torna importante sa- ber em que condições elas são crescentes ou decrescentes, se e onde cruzam os ei- xos coordenados, bem como determinar pontos de intersecção de seus gráficos. É importante saber resolver equações ex- ponenciais e logarítmicas, garantindo as condições de existência das expressões. ANÁLISE COMBINATÓRIA, PROBABILIDADE E ESTATÍSTICA ANÁLISE COMBINATÓRIA, PROBABILIDADE E ESTATÍSTICA Esses dois primeiros temas, em geral, aparecem juntos. As questões costumam pedir um cálculo combinatório no iní- cio, muitas das vezes um problema de contagem que requer o uso de alguma estratégia de agrupamento. Em seguida, apresenta-se uma pergunta que de algum modo envolve o conceito de probabilida- de. As questões sobre estatística costu- mam solicitar o cálculo e a interpretação de medidas de tendência central e/ou de medidas de variância. 30% 48% 19% 3% DISTRIBUIÇÃO DOS GRANDES TEMAS NO EXAME 25% 22% 12% 41% CONSULTORIA: FÁBIO MARSON FERREIRA 56 GE FUVEST 2017 O EXAME O QUE CAI NA PROVA As provas da 1ª e da 2ª fase têm o objetivo de avaliar a capacidade do aluno de estabelecer relações entre os conceitos-chave da Geografia e as condições socioeconômicas, políticas e/ou ambientais que os envolvem. Por isso, é funda- mental manter-se informado e acompanhar o desenrolar dos acontecimentos contemporâneos com criticidade, sabendo reconhecer as diferentes motivações que levam aos fatos. Na resolução das questões, leia atentamente os enunciados, considerando as informações disponíveis nos mais diversos tipos de texto-base, como gráficos, mapas, tabelas, charges, ilustrações ou trechos de obras de autores conhecidos. Ex- traia deles as informações pertinentes e as possíveis relações entre o que está exposto e o conceito a ser desenvolvido. Geografia COMO É O EXAME 1ª FASE Média de 11 questões de múltipla escolha (podendo haver questão interdisciplinar). 2ª FASE 2 questões dissertativas no segundo dia de prova (podendo ser interdisciplinares) e, dependendo da carreira escolhida, mais 4 a 6 questões discursivas no terceiro dia. Temas mais pedidos nas provas O ESPAÇO GEOGRÁFICOBRASILEIRO SETORES DA ECONOMIA Dê prioridade para os seguintes temas: a distribuição das atividades econômicas no território nacional, os setores da economia e o desenvolvimento da industrialização no país, especialmente o advento da atividade industrial no Brasil, o período Vargas, o modelo de substituição de importações e a abertura da economia. A relação do Bra- sil com o Mercosul e a posição do país no mercado global também são importantes. AGROPECUÁRIA E AGRONEGÓCIO É fundamental que você saiba o pa- pel de destaque do Brasil na produção de commodities na economia mundial, bem como localizar espacialmente essas produções no território brasileiro, espe- cialmente a soja, a cana de açúcar e a criação de bovinos. Também é importante relacionar a expansão do agronegócio com as questões ambientais decorrentes desse movimento e entender o processo de exploração da mão de obra no campo. URBANIZAÇÃO Como se deu o processo de urbaniza- ção no Brasil e como e por que se acen- tuou ao longo do século XX. Esse rápido processo levou a diversos problemas sociais, econômicos e ambientais nos espaços urbanos e é um tema recorrente nas provas. Dentro desse tema merece destaque o papel de comando da metró- pole paulista, assim como os problemas relacionados ao transporte e à habitação. DINÂMICA POPULACIONAL O tema costuma ser trabalhado por meio da análise de tabelas, gráficos e mapas com dados e informações dos censos. As questões tratam das mudan- ças na configuração da pirâmide etária brasileira, com o aumento da população idosa; da questão de gênero – a mulher no mercado de trabalho, por exemplo –; e das de ordem étnica, tanto em relação à população negra quanto à indígena. O ESPAÇO MUNDIAL GEOPOLÍTICA E DINÂMICAS MIGRATÓRIAS É necessário compreender a Nova Or- dem Mundial dentro do contexto da geo- política contemporânea, identificando os novos atores desse cenário – as potên- cias regionais (os BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), os blocos econômicos e a participação das gran- des corporações nas decisões políticas e econômicas mundiais. Destaque para o papel da China nesse contexto e para o reestabelecimento das relações diplomá- ticas entre Cuba e Estados Unidos. Não deixe de estudar as ondas migratórias em direção à Europa, ligadas a conflitos políticos e territoriais do norte da África e da região do Oriente Médio, levando a um aumento da xenofobia. GE FUVEST 2017 57 O espaço geográfico brasileiro O espaço mundial – economia, população, geopolítica e conflitos atuais O planeta Terra – clima, ecossistemas, relevo e hidrografia Cartografia e representação do espaço geográfico A questão ambiental DICAS DE ESTUDO MAPAS CONCEITUAIS AJUDAM NO ESTUDO Uma boa maneira de iniciar os estu- dos de Geografia é pela compreensão de algumas categorias e conceitos es- truturadores da disciplina. Paisagem, território, espaço geográfico, região e cartografia, por exemplo, são con- ceitos fundamentais que norteiam outros conteúdos a serem estudados. Uma técnica interessante é a elabo- ração de mapas conceituais. Você deve extrair dos textos os conceitos principais e as palavras de ligação que lhes dão sentido, de modo que possam, posteriormente, ser utiliza- dos como guias em seu estudo oral sobre os conteúdos. DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS As questões relativas à geografia eco- nômica abarcam temas como o papel dos organismos internacionais, os processos de desconcentração industrial e o cresci- mento do setor terciário da economia nas metrópoles. É fundamental compreender como as finanças tornam-se uma variável importante dentro desse novo período, denominado globalização. GLOBALIZAÇÃO Atente para as dinâmicas espaciais, econômicas e culturais do período técnico-científico-informacional, com destaque para o uso das tecnologias de informação e comunicação. Também sai- ba relacionar o processo de globalização com o aumento da desigualdade social. Algumas questões pedem para identifi- car esses fenômenos espacialmente, por meio da análise de mapas. Também há uso de dados de relatórios internacionais, como o Índice de Desenvolvimento Hu- mano (IDH), a fim de estabelecer relações entre globalização e pobreza. O PLANETA TERRA RELAÇÕES ENTRE NATUREZA E SOCIEDADE As perguntas de geografia física costu- mam associar a ação dos agentes externos (processos de transporte e deposição das águas e erosão, por exemplo) e internos (movimentos tectônicos e vulcanismo, en- tre outros) com escorregamento de encos- tas, ocupação de áreas de risco, processos de desertificação e distribuição hídrica. Questões referentes a clima, vegetação e hidrografia são por vezes atreladas a temas ambientais. Há questões interdisciplinares que utilizam poemas ou textos literários com a descrição e análise da paisagem de uma dada região brasileira. CARTOGRAFIA E REPRESENTAÇÃO ANÁLISE DE MAPAS Você deve saber ler um mapa, pois nas questões de diferentes temas da geo- grafia é requerida a interpretação das dinâmicas espaciais mapeadas, tanto na primeira como na segunda fase. Destaca- se o uso de mapas temáticos e mapas em anamorfose que se utilizam de transfor- mações territoriais para representar os mais diversos fenômenos. A QUESTÃO AMBIENTAL MEIO AMBIENTE – BRASIL E MUNDO Os itens que envolvem conhecimentos ambientais analisam dados extraídos de relatórios internacionais sobre questões climáticas, hídricas, condições ambien- tais dos ecossistemas terrestres e trata- dos internacionais. Em muitos casos, há vínculo interdisciplinar com a Biologia. As questões que envolvem meio am- biente em Geografia do Brasil, em geral, buscam estabelecer relações entre as ca- racterísticas dos biomas – amazônico, do cerrado e caatinga – e os fatores socioeco- nômicos que ameaçam sua preservação. Também são comuns perguntas que rela- cionam a questão ambiental com o uso de fontes energéticas não renováveis e/ou renováveis. Nos últimos anos, destacam- se questões relacionadas à crise hídrica da Região Sudeste. DISTRIBUIÇÃO DOS GRANDES TEMAS NO EXAME 26% 22% 10% 11% 31% CONSULTORIA: ANGELA CORREA DA SILVA/CAROLINA GABRIEL DE PAULA 58 GE FUVEST 2017 O EXAME O QUE CAI NA PROVA Além da redação (veja a matéria na pág. 72), o con-teúdo de Português pedido na prova da Fuvest compreende Língua Portuguesa e Literatura. As questões de Língua Portuguesa exploram interpretação de texto e gramática de forma associada – muitas vezes relacionadas também à literatura. Por isso, é importante estudar o funcionamento da sintaxe, das categorias gramaticais, das figuras de estilo e da coesão, por exemplo, e, principalmente, observar as relações estabelecidas entre esses recursos para a construção de sentido do texto. Em Literatura, são cobrados detalhes das obras da lista obrigatória (veja pág. 61) e conhecimento do contexto em que elas foram produzidas. Algumas questões trazem tre- chos literários que devem ser associados com outras obras. Português COMO É O EXAME 1ª FASE Média de 19 questões de múltipla escolha, sendo algumas delas interdisciplinares. 2ª FASE 10 questões dissertativas e a elaboração de uma redação no primeiro dia. No segundo, as 16 perguntas sobre as disciplinas do núcleo comum do Ensino Médio contêm algumas questões interdisciplinares de Português. Temas mais pedidos nas provas INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS GÊNERO E TIPOS TEXTUAIS As questões não exploram apenas a identificação dos gêneros (carta, artigo, resenha, publicidade etc.), mas também a percepção do seu papel na organização do texto, ou seja, a sua intencionalidade. A escolha de determinado gêneroestá atrelada a diferentes fatores, como o tipo de registro linguístico (por exemplo, tex- tos científicos e jornalísticos tendem a valorizar a linguagem formal), à recep- ção do texto em seu contexto histórico e também às características inerentes ao gênero (como a ilustração, no caso de charges e quadrinhos). Atenção também aos tipos textuais: narração, descrição e dissertação. IDENTIFICAÇÃO DE RECURSOS LINGUÍSTICOS É importante observar situações em que a polissemia (palavra que apresenta vários sentidos), por exemplo, pode enfatizar determinada intenção comunicativa ou simplesmente tornar o texto confuso e ambíguo. Há casos em que a compreensão da ironia, do humor ou da ambiguidade está atrelada à classe gramatical empre- gada ou à construção sintática. LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL Questões que associam linguagem ver- bal e não verbal são bastante frequentes. Toda mensagem possui uma intenção comunicativa. Por isso, é preciso prestar muita atenção tanto no texto como na imagem dos enunciados, que podem se complementar e reforçar a mensagem. Por exemplo, peças publicitárias trazem imagens associadas a um texto cuja es- trutura apresenta caráter persuasivo. Assim, as imagens atendem ao discurso apelativo proposto no texto. GRAMÁTICA CONJUGAÇÃO, FLEXÃO E CORRELAÇÃO VERBAL Tanto na primeira como na segunda fase são cobrados conhecimentos sobre conjugações de tempo e de modo, corre- lações verbais entre essas conjugações, vozes verbais e a atuação do verbo na construção de sentido do texto. Você deve saber usar os modos imperativo, subjuntivo e indicativo e relacionar os tempos e os aspectos verbais. É impor- tante notar os valores semânticos de de- terminados tempos e modos verbais. É comum, por exemplo, um verbo no modo indicativo (é) com valor de subjuntivo (seja): Polícia acredita que fulano é/seja suspeito de corrupção. USO DAS CATEGORIAS GRAMATICAIS As mais solicitadas são: pronome, con- junção, advérbio, substantivo e adjetivo. Essas classes gramaticais são responsá- veis pela organização estrutural do texto e são cobradas nesse sentido. É importan- GE FUVEST 2017 59 Interpretação de textos Literatura (veja pág. 61) Gramática Estilística e redação DICAS DE ESTUDO SABER LER É A CHAVE DO SUCESSO Um dos objetivos da prova de Por- tuguês é avaliar sua capacidade de ler, compreender e interpretar criti- camente textos de toda natureza. Assim, habitue-se à leitura de jornais, revistas, propagandas e livros de li- teratura e fique atento à linguagem empregada, aos recursos linguísticos utilizados e à intencionalidade embu- tida nos textos. Dê especial atenção à lista de livros obrigatórios. Os textos literários apresentam diversidade de estilo, são ricos em recursos linguís- ticos e nos proporcionam a possibi- lidade de desenvolver a capacidade de leitura e de interpretação, além de ampliar o repertório cultural. te perceber, por exemplo, que pronomes e advérbios funcionam como elementos de coesão e de coerência no texto e que são explorados em seu caráter remissivo, uma vez que são empregados na substi- tuição de um determinado termo. SINTAXE – PERÍODO SIMPLES E PERÍODO COMPOSTO A prova da Fuvest não explora a mera classificação dos termos sintáticos. Por isso, preste atenção na colocação dos termos nas frases, pois podem valorizar determinada enunciação. Nos períodos compostos, por exemplo, é importante perceber a variação de sentido propor- cionada pela escolha de uma conjunção ou um conectivo. São comuns questões que cobram a identificação de desvios de regência e de concordância. Preste atenção também na relação entre esses mecanismos linguísticos e as variantes linguísticas. VARIANTE LINGUÍSTICA Nos últimos anos, em todo exame há uma questão sobre esse tema. Não basta apenas identificar o tipo de variante em- pregado: regional, popular, culta etc. – é importante notar a interferência dela na organização do texto. As variantes podem ser responsáveis pela identidade do enunciador e também pela composi- ção das personagens nas obras literárias (algumas são demarcadas pelo registro linguístico). Por isso, fique atento à inten- cionalidade na escolha desse registro. VOCABULÁRIO As questões costumam exigir conhe- cimentos sobre categorias gramaticais e estrutura de palavras. Em algumas, há necessidade de compreender a catego- ria gramatical para que não ocorra erro em relação à coesão, à coerência ou ao paralelismo, uma vez que a substitui- ção deve estar adequada à estrutura do texto. Outras pedem a reestruturação do período com emprego de sinônimos em construções sintáticas diferentes da utilizada no texto, o que envolve conheci- mento de sintaxe, categorias gramaticais e variante linguística. ESTRUTURA E FORMAÇÃO DE PALAVRAS Você deve ter conhecimento dos ele- mentos mórficos formadores das pala- vras e seus papéis na semântica do texto. Fique atento ao sentido de prefixos e sufixos em palavras dicionarizadas e em neologismos. Há prefixos (negação, por exemplo) e sufixos (diminutivo e aumen- tativo, por exemplo) que podem tornar a palavra mais enfática ou contribuir para a inadequação. Peças publicitárias e tex- tos literários exploram bastante essas possibilidades. É comum a ocorrência dessas estruturas associadas às figuras de linguagem. ESTILÍSTICA E REDAÇÃO FIGURAS DE LINGUAGEM É importante estudar todas as figuras – especialmente metáfora, metonímia, e ironia – e compreender os efeitos e as nuances de sentido que elas provocam. As figuras são fundamentais como recursos persuasivos e como caracterizadoras do discurso das personagens. DISTRIBUIÇÃO DOS GRANDES TEMAS NO EXAME 28% 10% 17% 45% CONSULTORIA: JOÃO JONAS VEIGA SOBRAL 60 GE FUVEST 2017 O EXAME O QUE CAI NA PROVA A prova de Inglês da Fuvest já sofreu diversas reformulações. Atualmente, consiste apenas em interpretação de texto e não traz questões específicas de gramática. Ainda assim, é essen-cial conhecer os principais conteúdos grama- ticais, pois são importantes para a compreensão do texto. Após uma primeira leitura do texto para identificar os assuntos tratados, leia as questões e as alternativas, pois isso facilitará a busca das respostas em uma segunda leitura. Se tiver dúvidas em uma questão específica, volte ao trecho referente a ela. Na 2ª fase, valem as mesmas orientações, mas lembre-se de que você não terá as alternativas para ajudá-lo na compreensão. Inglês COMO É O EXAME 1ª FASE Dois textos em inglês, que servem de base para as cinco questões pedidas. As perguntas e suas respectivas alternativas vêm em português. 2ª FASE Dois textos em inglês, no 2º dia. Os dois têm perguntas dissertativas em português, que devem, também, ser respondidas em português. DICAS DE ESTUDO TREINE A LEITURA Para um bom desempenho no exa- me, é necessário que você se acostu- me a ler textos em inglês. Uma dica é treinar a leitura e a interpretação com artigos e notícias de revistas e jornais norte-americanos e ingle- ses, como The Economist, Newsweek, Scientific American, The New York Times e The Guardian. Os trechos usados nas provas muitas vezes são tirados desses periódicos. Os textos não precisam ser longos, já que os utilizados na prova costumam ser curtos. Os temas abrangem tecno- logia, ciência, economia e outros assuntos atuais. Principais pontos gramaticais ORDEM REGULAR DAS FRASES Isto é, sujeito + verbo + complementos (adjetivos, objetos ou adjuntos adver- biais). TEMPOS VERBAIS Atente para os advérbios que indicam o tempo da ação e a sequência dos fatos. CONJUNÇÕES Dão diferentes sentidos ao texto: causa (because, as), finalidade(so, therefore), oposição (but, although) etc. VOZ PASSIVA Elas dão ênfase à ação realizada em detrimento do sujeito. REPORTED SPEECH Explicita quem é o emissor da informa- ção (ex: John said that he loved Susan). ARTIGOS Preste atenção na diferença entre ar- tigos indefinidos (a, an) e definidos (the). ADJUNTOS ADVERBIAIS São essenciais à interpretação do tex- to, pois indicam quando (when), onde (where), por quanto tempo (how long) e, principalmente, como (how) uma ação foi realizada. PRONOMES É essencial saber se eles se referem a pessoas, objetos ou animais (singular ou plural) e reconhecer se eles são pessoais ou possessivos, pois isso pode trazer in- ferências erradas sobre o texto. PRONOMES RELATIVOS Eles são usados para evitar a repetição de palavras no início de uma nova oração. Exemplo: “This is the man who robbed the bank last night”. Fique atento: which (para coisas e animais), who/whom (pes- soas) e whose (possessivo). PHRASAL VERBS São verbos que mudam de significado de acordo com a preposição ou advér- bio que o complementam, como get up (levantar-se), get in (entrar), get out (sair). CONSULTORIA: CLEUSA REGINA CARPINELLI GE FUVEST 2017 61 O EXAMELEITURA OBRIGATÓRIA Os livros essenciais O resumo e a análise das nove obras literárias cobradas nas provas de Português da primeira e da segunda fases ILUSTRAÇÃO: ZÉ OTAVIO 62 GE FUVEST 2017 O EXAME LEITURA OBRIGATÓRIA A A narrativa de Iracema estrutura-se em torno da história do amor do português Martim por Iracema, a “virgem dos lábios de mel”. A relação entre Martim e Iracema signifi ca a união entre o branco colonizador e o índio, entre a cultura europeia, civilizada, e os valores indígenas, apresentados como naturalmente bons. É uma espécie de mito de fundação da identidade brasileira. FOCO NARRATIVO A narração é feita em terceira pessoa. Um narrador onisciente (que tem conhe- cimento de tudo) recria alegoricamente o processo de colonização do Brasil e de toda a América pelos invasores portu- gueses e europeus. Seu olhar idealizado recria poeticamente a história de amor entre Iracema e Martim e sobre o mito de nossa fundação. O nome Iracema é um anagrama da palavra América. Mar- tim alude ao deus greco-romano Marte, o deus da guerra e da destruição. O narra- dor compara Iracema à natureza exube- rante do Brasil, retrata-a, portanto, como a síntese perfeita das maravilhas da na- tureza cearense, brasileira e americana. A heroína é o próprio espírito harmonioso da fl oresta virgem, que ao encontrar o branco cai em perdição e em desarmonia. TEMPO E ESPAÇO Ainda que o primeiro capítulo se estrutu- re em fl ashback, a história segue em tempo cronológico. Mostra, em forma de lenda, o início do povoamento do Ceará, represen- tando o processo de colonização do Brasil. ENREDO A primeira cena antecipa o fi m do livro: Martim e Moacir (fi lho de Martim e Iracema) deixam a costa do Ceará em uma embar- cação, quando o vento lhes traz aos ouvidos o nome de Iracema. No segundo capítulo, a narrativa retrocede no tempo até o nascimento de Iracema. A “virgem dos lábios de mel” é descrita como uma linda e excelente guerreira tabajara. Ao encontrar, por acaso, Martim na fl oresta, fere-o com uma fl echada, pos- sível metáfora para a paixão, pois remete ao mito de Cupido. Martim não revida, e Iracema leva o estrangeiro branco para sua tribo a fi m de socorrê-lo. Ainda que Martim seja um aliado de seus inimigos potiguaras, o pajé Araquém, pai de Iracema, o trata com hospitalidade. Mas Martim corre perigo na tribo, uma vez que Irapuã, grande guerreiro tabajara, inimigo dos potiguaras, o mataria vendo-o com Iracema, seu grande amor. Forma-se aí o triângulo amoroso e o confl ito entre os guerreiros e as tribos. Temendo pela sorte de Martim, Iracema o conduz ao bosque sagrado, onde lhe ministra uma poção alucinógena. Iracema guarda o segredo da jurema e da feitura do licor sagrado. Ao se entregar para o branco inimigo trai a Tupã e à sua tribo, que acaba derrotada. O casal muda-se então para uma cabana afastada, numa praia idílica. Lá vivem um tempo de felicidade, culminando com a gravidez de Iracema e o batismo indígena de Martim. Com o passar do tempo, contudo, o português se entristece por não poder dar vazão a seu espírito guerreiro e por estar com muita saudade de sua gente. Numa ocasião em que Martim e seu amigo Poti saem para uma batalha, Iracema dá à luz Moacir. Quando os dois retornam, encontram Iracema à beira da morte. O corpo da índia é enterrado aos pés de um coqueiro, em cujas folhas se pode ouvir um lamento. Daí vem o nome Ceará, canto da jandaia de estimação de Iracema, uma ave que sempre a acompanhava. ANÁLISE Iracema, por amor a Martim, abandona família, povo, religião e deus. É uma clara referência à submissão do indígena ao coloniza- dor português. Em muitas passagens do romance vê-se a simbo- logia da dominação do homem branco sobre o índio. A história de Adão e Eva é retomada na relação proibida de Iracema e Martim. Iracema José de Alencar PUBLICADO EM 1860 E ESCRITO EM PROSA POÉTICA, ESSE ROMANCE É UM DOS PRINCIPAIS REPRESENTANTES DA VERTENTE INDIANISTA DO MOVIMENTO ROMÂNTICO E TRAÇA UMA ESPÉCIE DE MITO DE FUNDAÇÃO DA IDENTIDADE BRASILEIRA CONEXÕES Iracema, a índia idealizada, faz contraponto a Virgília, personagem de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Ao contrário da heroína romântica, Virgília é capaz de diferenciar seus interesses pessoais de seu desejo amoroso. Deixa de fugir com Brás Cubas e mantém-se casada com Lobo Neves porque almeja ser marquesa. Iracema, ao contrário, abre mão da sua condição na tribo, e morre por isso. GE FUVEST 2017 63 Publicado em 1881, o livro narra as experiências de um homem abastado da elite brasileira do século XIX, Brás Cubas. Começa pela sua morte, descreve a cena do enterro, dos delírios antes de morrer, até retornar a sua infância, quando a narrativa segue de forma mais ou menos linear – inter- rompida apenas por comentários digressivos do narrador. FOCO NARRATIVO A narração é feita em primeira pessoa e postumamente, ou seja, o narrador se autointitula um defunto-autor – um mor- to que resolveu escrever suas memórias. Com esse procedimento, o narrador con- segue fi car além de nosso julgamento terreno e, desse modo, pode contar as memórias como melhor lhe convém. Elas nos permitirão ter acesso aos bastidores da sociedade carioca do século XIX. TEMPO A obra é apoiada em dois tempos. Um é o tempo psicológico, do autor além- túmulo, que, desse modo, pode contar sua vida de maneira arbitrária, mani- pulando os fatos à revelia, sem seguir uma ordem temporal linear. A morte, por exemplo, é contada antes do nascimento e dos fatos da vida. No tempo cronológico, os acontecimen- tos obedecem a uma ordem lógica: infân- cia, adolescência, ida para Coimbra, volta ao Brasil e morte. Os leitores da época, acostumados com a linearidade das obras (início, meio e fi m), veem-se obrigados a situar-se nessa incomum condição. ENREDO A infância de Brás Cubas, como a de todo membro da sociedade patriarcal brasileira da época, é marcada por privilégios patroci- nados pelos pais. Como “brinquedo” de estimação, o garoto tinha o negrinho Prudêncio, que lhe servia de montaria e para praticar maus-tratos em geral. Na escola, Brás era amigo de Quincas Borba, que aparecerá no futuro defendendo o humanitismo (fi losofi a fi ctícia criada por ele, segundo a qual impera a lei do mais forte, do mais rico e do mais esperto): “Aos vencedores, as batatas”, ou seja: só os mais fortes e aptos devem sobreviver. Em sua juventude, as benesses fi cam por conta dos gastos com uma cortesã chamada Marcela. O pai deBrás, para dar um basta a isso, faz o que era mais comum às classes ricas da época: envia o fi lho para a Europa para estudar leis e garantir o título de bacharel em Coimbra. Lá, Brás Cubas tem seu segundo e mais duradouro amor. Enamora-se de Virgília, aconselhado pelo pai, que via no casamento do fi lho um futuro político, já que a moça era parente de um ministro da corte. Ela, porém, acaba se casando com Lobo Neves, que arrebata do protagonista não só a noiva como também a candidatura a deputado que o pai preparava. As reviravoltas amorosas e a vida cheia de revezes revelam os infortúnios do narrador, que conclui de maneira irônica que sua vida foi repleta de negativas, mas que não precisou comprar pão com o suor do próprio rosto. ANÁLISE No romance, Machado de Assis alia profundidade e sutileza, expondo muitos problemas de nossa sociedade que existem até hoje. Irônico, ele atualiza os processos em que o país foi formado, suas contradições e os desmandos ainda presentes. Note-se a carga pessimista presente no capítulo fi nal, em que o narrador enumera todas as negativas que lhe compuseram a existência. Com sarcasmo, valoriza o fato de não ter de morrer pobre como a empregada D. Plácida, de não enlouquecer como Quincas Borba e de não necessitar de trabalho para sobreviver. Isso é mencionado como uma pequena compensação para tantos insucessos na vida. Machado de Assis empresta voz à elite de seu tempo para revelar um personagem cheio de ilusões, empáfi a, egoísmo e contradições. Memórias Póstumas de Brás Cubas Machado de Assis AO CRIAR UM NARRADOR QUE RESOLVE CONTAR SUA VIDA DEPOIS DE MORTO, MACHADO DE ASSIS MUDA RADICALMENTE O PANORAMA DA LITERATURA BRASILEIRA, ALÉM DE EXPOR DE FORMA IRÔNICA OS PRIVILÉGIOS DA ELITE DA ÉPOCA CONEXÕES Considerado o primeiro romance realista brasileiro, é revolucionário em vários aspectos: na quebra do enredo convencional, na utilização de um “narrador-defunto” como o autor da obra e na negação de toda e qualquer redenção de personagens. Ao contrário dos heróis românticos idealizados, como Iracema, Brás Cubas é repleto de defeitos e ambiguidades, no que se aproxima de Leonardo, de Memórias de um Sargento de Milícias. ILUSTRAÇÃO: ZÉ OTAVIO 64 GE FUVEST 2017 O EXAME LEITURA OBRIGATÓRIA Ao ser lançado, em 1890, O Cortiço teve boa recepção da crítica. Isso se deve ao fato de Aluísio Azevedo estar em sintonia com a doutrina naturalista, que gozava de grande prestígio na Europa. O livro é composto de 23 capítulos, que relatam a vida em uma habitação coletiva de pessoas pobres (cortiço) na cidade do Rio de Janeiro. O romance tornou-se peça-chave para o melhor entendimento do Brasil do século XIX. A ideologia e as relações sociais representadas de modo fi ctício em O Cortiço estavam muito presentes no país. FOCO NARRATIVO A obra é narrada em terceira pessoa, com narrador onisciente (que tem co- nhecimento de tudo), como propunha o movimento naturalista. O narrador entra no pensamento dos personagens, faz julgamentos e tenta comprovar, como se fosse um cientista, as infl uências do meio, da raça e do momento histórico no comportamento das pessoas. TEMPO E ESPAÇO O tempo é trabalhado de maneira linear, com princípio, meio e desfecho da narra- tiva. A história se desenrola no Brasil do século XIX, sem precisão de datas. São dois os espaços explorados: o cor- tiço, que representa a mistura de raças e a promiscuidade das classes baixas; e o sobrado do comerciante Miranda e de sua família, que simboliza a burguesia. Esses espaços fi ctícios são enquadrados no cenário do bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. ENREDO O livro narra inicialmente a saga de João Romão, dono do cortiço, de uma taverna e de uma pedreira, rumo ao enriqueci- mento. Para acumular capital, ele explora os empregados e se utiliza até do furto. Sua amante, Bertoleza, o ajuda de domingo a domingo, trabalhando sem descanso. Em oposição a João Romão, surge a fi gura de Miranda, o comerciante bem estabelecido que cria uma disputa acirrada com o taverneiro por um pedaço de terra que queria comprar para aumentar seu quintal. Não havendo consenso, há o rom- pimento provisório de relações entre os dois. No cortiço, paralelamente, estão os moradores de menor ambição fi nanceira. Destacam-se Rita Baiana e Capoeira Firmo, Jerônimo e Piedade. Um exemplo de como o romance procura demonstrar a infl uência do meio sobre o homem é o caso do português Jerônimo, que tem uma vida exemplar até cair nas graças da mulata Rita Baiana. Opera-se uma transformação no português trabalhador, que muda todos os seus hábitos. A relação entre Miranda e João Romão melhora quando o comerciante recebe o título de barão e passa a ter superio- ridade garantida sobre o oponente. O cortiço todo também muda, perdendo o caráter desorganizado e miserável para se transformar na Vila João Romão. ANÁLISE Mais do que empregar os preceitos do naturalismo, a obra mostra práticas recorrentes no Brasil do século XIX. Na situação de capitalismo incipiente, o explorador vivia muito próximo do explorado, daí a estalagem de João Romão estar ao lado dos pobres moradores do cortiço. Nesse local, o burguês Miranda, de projeção social mais elevada que João Romão, vive em seu palacete com ares aristocráticos e teme o crescimento do cor- tiço. Por isso, pode-se dizer que O Cortiço não é somente um romance naturalista, mas uma alegoria do Brasil. O autor naturalista tinha uma tese a sustentar sua história. A intenção era provar, por meio da obra literária, como o meio, a raça e a história determinam o homem e podem o levar à degeneração. O Cortiço Aluísio Azevedo AO TER COMO CENÁRIO UMA HABITAÇÃO COLETIVA, O ROMANCE DIFUNDE AS TESES NATURALISTAS, QUE EXPLICAM O COMPORTAMENTO DOS PERSONAGENS COM BASE NA INFLUÊNCIA DO MEIO, DA RAÇA E DO MOMENTO HISTÓRICO CONEXÕES Em O Cortiço deve-se observar a oposição nítida ao romantismo idealizado. O herói naturalista se constrói a partir da opressão e das injustiças cometidas, e o amor se envereda pelos caminhos do instinto e do desejo. É a maior obra naturalista brasileira, marcada pelo zoomorfi smo (comportamento animalesco atribuído aos homens) e pelo determinismo do meio. GE FUVEST 2017 65 Último livro de Eça de Queirós, A Cidade e as Serras foi publicado em 1901, um ano após a morte do autor português. A temática do campo versus cidade – recorrente nas obras do escritor – é o cerne do romance. A obra não estava inteiramente acabada, pois faltava a meticulosa re- visão que Eça dedicava a seus romances antes de publicá-los. É considerado um dos mais importantes livros do escritor. FOCO NARRATIVO O narrador-personagem, José Fernan- des, conta a história de Jacinto. Ele quer entender o que faz um homem rico trocar o conforto da cidade pelo campo. O foco narrativo (“eu como testemunha”) esco- lhido é apropriado para obras críticas. O personagem-narrador acompanha o protagonista e pode ser bem crítico e irô- nico por analisar melhor a ação narrativa. TEMPO E ESPAÇO A obra se divide em três tempos: Ja- cinto exalta a civilização urbana; Jacin- to se decepciona com Paris; e Jacinto e seu amigo José Fernandes retornam a Portugal, e Jacinto reencontra o equilí- brio ao sintetizar a vida no campo com o progresso das cidades. Tudo se passa no século XIX, quando Paris era considerada o centro do mundo e Portugal mantinha- se como país agrário e decadente. Nessa época, havia grande entusiasmo pelas teorias positivistas de Augusto Comte, criador do sistema que ordena as ciências experimentais, considerando-as o modelo por excelência do conhecimento humano. ENREDO Em 1831, dom Pedro retorna do Brasil para assumir otrono português, destronando seu irmão, dom Miguel. Indignado, dom Galião muda-se de Portugal para Paris, levando consigo Grilo, futuro criado de Jacinto. Em Paris, o fi lho de dom Galião, Cintinho, torna-se uma criança doente e tristonha. Quando adulto, seu aspecto não melhora. Em sua única decisão men- cionada no livro, prefere fi car em Paris e casar-se com a fi lha de um desembargador a ir tratar-se no campo. Conclusão: morre três meses antes de nascer Jacinto, seu único fi lho. Em Paris, andavam em voga as teorias positivistas, das quais o protagonista se revela entusiasta. Jacinto elabora uma fi lo- sofi a de vida: “A felicidade dos indivíduos, como a das nações, se realiza pelo ilimitado desenvolvimento da mecânica e da erudição”. O resultado desse entusiasmo de Jacinto pela capital francesa, porém, se revela desastroso. Amigo de Jacinto, Zé Fernandes também se deixa levar por Paris, ao ser dominado por uma paixão pela prostituta Madame Colombe. O caso contraria as teorias de Jacinto, segundo as quais o homem se tornava um selvagem no campo. Nesse caso, foi a cidade que transformou Zé Fernandes num escravo de seus instintos. Na viagem de volta a Portugal, Jacinto perde quase toda a baga- gem. Em seu país, porém, recupera a saúde. Revigorado, promove diversas melhorias em Tormes, seu lugar de origem. Finalmente, ele se casa com Joaninha, camponesa e prima de Zé Fernandes. No fi nal, Zé Fernandes, também enfastiado de Paris, parte para Tormes – o “castelo da grã-ventura” – com Jacinto e Joaninha. ANÁLISE A obra é uma sátira ao culto da tecnologia e uma crítica à precariedade da vida no campo. A estrutura do romance faz alusão à dialética dos fi lósofos alemães: tese (a civilização industrial, a cidade), antítese (a vida no campo, as serras) e síntese (a vida no campo com os benefícios da cidade). Vale a pena também observar as referências ao positivismo, evo- lucionismo, determinismo e socialismo utópico, em que são projetadas nas falas e em algumas atitudes de Jacinto e de Zé Fernandes. A Cidade e as Serras Eça de Queirós PUBLICADA EM 1901, UM ANO APÓS A MORTE DE EÇA DE QUEIRÓS, A OBRA AMENIZA O RIGOR DO MÉTODO REALISTA E MARCA A RECONCILIAÇÃO DO AUTOR COM SEU PAÍS, PORTUGAL, DURAMENTE CRITICADO EM SEUS ROMANCES ANTERIORES CONEXÕES O narrador- personagem excêntrico José Fernandes não se confunde com o protagonista, Jacinto de Tormes. O narrador dá a Jacinto tratamento diferenciado, parecendo idealizar o protagonista. Mas não deixa de observar de forma crítica e irônica a vaidade e a futilidade excessivas do amigo. Sua narrativa se aproxima da de Memórias Póstumas de Brás Cubas. ILUSTRAÇÃO: ZÉ OTAVIO 66 GE FUVEST 2017 O EXAME LEITURA OBRIGATÓRIA Capitães da Areia, de Jorge Amado, publicado em 1937, revela uma situação real. O descaso social com os meninos de rua é a tônica do romance. Em todos os capítulos, esse abandono é abordado, seja por meio da refl exão dos garotos ou da dos adul- tos que estão ao seu lado, seja pelos comentários do narrador. FOCO NARRATIVO O romance é narrado em terceira pessoa, por um narrador onisciente (que sabe tudo o que ocorre). Essa característica narrativa possibilita que seja cumprida uma tarefa facilmente notada pelo leitor: mostrar o ou- tro lado dos Capitães da Areia. O narrador, ao penetrar na mente dos garotos, apre- senta não apenas as atitudes que a vida os obriga a tomar, mas também seus desejos e pensamentos infantis. O narrador não se esforça por ser imparcial; participa com seus comentários, muitas vezes sutis, mas sempre favoráveis aos Capitães da Areia. PERSONAGENS A obra não possui um personagem prin- cipal. Para indicar um protagonista, o mais apropriado seria apontar o conjunto do bando, ou seja, o grupo. Isso porque as ações não giram em torno de um ou de outro personagem, mas ao redor de todos. Pedro Bala, o líder do bando, não é mais importante para o enredo do que o Sem-Pernas ou o Gato. Daí a ideia de que o protagonista é o elemento coletivo, e cada membro do grupo funciona como uma parte da personalidade, uma faceta desse organismo maior. ENREDO O enredo, sobretudo no início, tem a função de apresentar os personagens, revelando a personalidade de cada integrante do grupo, suas ambições e frustrações. Dos vários capítulos que compõem o romance, alguns são particularmente signifi cativos. Em “As Luzes do Carrossel”, o bando, conhecido pela periculosidade, esbalda-se ao brincar em um decadente carrossel. Essa passagem é importante por fazer o contraponto à opi- nião vigente na alta sociedade baiana em relação aos Capitães da Areia. A visão de que os garotos eram bandidos sem recupe- ração, que deveriam ser tratados de forma desumana no refor- matório, é confrontada com essa situação. Pedro Bala e seus comandados são apenas crianças socialmente desamparadas. Outro capítulo que merece destaque é “Família”. Aqui, é mostrada a carência afetiva de um dos membros do grupo, o Sem-Pernas. O menino manco tinha grande talento para a dissimulação, por isso se especializara na tarefa de espião do bando. Ele se infi ltrava na casa de famílias ricas, apresentando- se como pobre órfão que pedia um lugar para morar. Quando obtinha sucesso na empreitada, observava onde os moradores guardavam seus bens valiosos e informava o bando, que, dias depois, invadia a casa e a roubava. Em uma dessas ocasiões, tratado como um verdadeiro fi lho, o garoto fi ca dividido entre a lealdade ao bando e os novos “pais” que lhe davam o carinho e o amor que nunca havia conhecido. Opta pela fi delidade ao grupo, que invade e saqueia a casa. ANÁLISE Ao fi nal, os Capitães da Areia deixam de ser infratores e se engajam em atividades políticas. Isso mostra o fi m de um pro- cesso de conscientização que se torna possível porque, na visão do romance, eles não são criminosos, mas sim vítimas de uma sociedade injusta e excludente. A obra faz parte da literatura de conteúdo social produzida pela geração dos romancistas da década de 1930, à qual pertence Jorge Amado, fi liado à época ao Partido Comunista Brasileiro. A esperança revolucionária dá um tom otimista e panfl etário, expresso nas palavras que concluem o livro: “a revolução é uma pátria e uma família”. Capitães da Areia Jorge Amado O ROMANCE, QUE RETRATA O COTIDIANO DE UM GRUPO DE MENINOS DE RUA, PROCURA MOSTRAR NÃO APENAS OS ASSALTOS E AS ATITUDES VIOLENTAS DO GRUPO, MAS TAMBÉM AS ASPIRAÇÕES E OS PENSAMENTOS INGÊNUOS, COMUNS A QUALQUER CRIANÇA CONEXÕES Capitães da Areia e O Ateneu (1888), de Raul Pompeia, retratam meninos que são vítimas da exposição precoce à vida adulta, embora em contextos e classes sociais diferentes. O Ateneu relata a vida de um pré-adolescente em um internato para garotos. Sérgio, estudante de classe média alta, descobre o mundo no colégio interno. O menor Pedro Bala, de Capitães da Areia, nas ruas de Salvador. GE FUVEST 2017 67 V idas Secas, de Graciliano Ramos, romance publicado em 1938, retrata a vida miserável de uma família de retirantes sertanejos obrigada a se deslocar de tempos em tempos para áreas menos castigadas pela seca. A obra pertence à segunda fase modernista, conhecida como regionalista. FOCO NARRATIVO A escolha da narração em terceira pessoa é emblemática – é a única obra do autor em que ele usou tal recurso. Por causa da pobre articulação verbal dos personagens, refl exo das adversidades naturais e sociais que os afl igem, nenhum parece capacitado a ser o narrador. O autor utilizou também o discur- so indireto livre, forma híbrida em que as fa- las dos personagens se mesclam ao discurso do narrador em terceira pessoa. Essa foi a solução para que a voz dos marginalizados pudesse participar danarração sem que tivessem de arcar com a responsabilidade de conduzir de maneira integral a narrativa. TEMPO Além da falta de linearidade do tempo, em Vidas Secas há nítida valorização do tempo psicológico, em detrimento do cronológico. A ausência de uma marcação cronológica temporal serve, enquanto elemento estrutural, como mais uma forma de evidenciar a exclusão dos per- sonagens. Por outro lado, a valorização do tempo psicológico faz com que as an- gústias dos personagens fi quem mais próximas do leitor, que as percebe com mais intensidade. ENREDO O enredo, marcado por essa falta de linearidade temporal, tem dois capítulos bem defi nidos: o primeiro (Mudança) e o último (Fuga). “Mudança” narra as agruras da família sertaneja na cami- nhada impiedosa pela aridez da caatinga, enquanto em “Fuga” os retirantes partem da fazenda para uma nova busca por con- dições mais favoráveis de vida. O romance estrutura-se por meio da sequência retirada/permanência em terras alheias/retirada. Nos 11 capítulos intermediários, a família de retirantes não se estabelece em um local próprio, mas na propriedade de um fazendeiro, onde Fabiano, o chefe dessa família, assume a condição de meeiro, lavrador que planta em sociedade com o dono do terreno, tendo direito à metade da colheita. ANÁLISE A narrativa é ambientada no sertão, região marcada pelas chuvas escassas e irregulares. Essa falta de chuva – somada a uma política de descaso do governo com os investimentos sociais – transforma a paisagem em ambiente inóspito e hostil. Inverno, na região, é o nome dado à época de chuvas, em que a esperança sertaneja fl oresce. O sonho de uma existência menos árida e miserável esboça-se no horizonte e dura até as chuvas cessarem e a seca retornal implacável. Essa esperança aparece no capítulo “Inverno”, em que Fabiano alimenta a expectativa de uma vida melhor, mais digna. O livro consegue desde o título mostrar a desumanização que a seca promove nos personagens. A miséria causada pela seca, como elemento natural, soma-se à miséria imposta pelo meio social, representada pela exploração dos ricos proprietários da região. Os retirantes, como o próprio nome indica, estão alijados da possibilidade de continuar a viver no espaço que ocupavam. São, portanto, obrigados a retirar-se para outros lugares. Uma das implicações dessa vida nômade dos sertanejos é a fragmen- tação temporal e espacial. A proposital falta de linearidade, ou seja, de capítulos que se ligam, temporalmente, por relações de causa e de consequência, dá aos 13 capítulos de Vidas Secas uma autonomia que permite, até mesmo, a leitura de cada um de forma independente. Vidas Secas Graciliano Ramos O DRAMA DA FAMÍLIA DE RETIRANTES, OBRIGADA A SE MUDAR CONSTANTEMENTE POR CAUSA DA SECA, É NARRADO NUM ESTILO COM ECONOMIA DE ADJETIVOS, QUE TRANSMITE A ARIDEZ DO AMBIENTE E SUAS CONSEQUÊNCIAS PARA OS SERTANEJOS CONEXÕES A visão de sertão e a do sertanejo são diferentes em Vidas Secas e em Capitães da Areia, de Jorge Amado. Em Capitães da Areia, a paisagem sertaneja é vista como lírica e bela e, apesar de a miséria do homem ser reconhecida, há beleza na força do sertanejo e esperança de que o cangaço possa mudar a realidade social no sertão. Já em Vidas Secas, o sertão é rude e castiga os homens, e o conformismo impede o desejo de transformação. ILUSTRAÇÃO: ZÉ OTAVIO 68 GE FUVEST 2017 O EXAME LEITURA OBRIGATÓRIA Publicado em 1951, Claro Enigma nos mostra um poeta mais amargo, voltado para questões mais refl exivas sobre a condição humana. O Drummond social que se destaca na segunda geração modernista da década de 1930, engajado em questões sociais em Sentimento do Mundo (1940), dá a vez a um poeta mais introspectivo e fi losófi co nesta obra. TEMPO E CONTEXTO No fi nal da década 1940 e início da de 1950, período de criação dos poemas de Claro Enigma, a Guerra Fria e a ameaça de uma bomba atômica atormentavam um mundo dividido em dois blocos: o ca- pitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o socialista, encabeçado pela União Soviética. Para o poeta Drummond, que sempre lutou pela liberdade, a percepção de regimes ideologicamente tão distintos e a imposição da necessidade de se aderir a um dos lados conduz à perplexidade e ao pessimismo. Incomodado, o poeta aban- dona o desejo de encontrar respostas e soluções para os problemas sociais e pas- sa a buscar as perguntas que precisam ser feitas. Ao invés da crença na comunhão entre as pessoas, característica de sua poesia anterior, passa a vigorar a certe- za melancólica da dissolução próxima. A esperança no homem politizado é subs- tituída pelo desencanto em relação ao homem e à vida. As referências explícitas ao mundo real e concreto, historicamente localizado, são abandonadas em nome de um universo fi losófi co e metafísico, que mergulha no íntimo do ser humano, excluindo o mundo externo e seu entorno. PROJETO LITERÁRIO Essa relativa incerteza quanto ao rumo a ser seguido representa um encaminhamento para a formulação de um novo projeto lite- rário. O indivíduo agora é melancólico e desiludido como atesta o poema Cantiga de Enganar: “O mundo não vale o mundo, / meu bem. / Eu plantei um pé-de-sono, / brotaram vinte roseiras. / Se me cortei nelas todas / e se todas se tingiram / de um vago sangue jorrado / ao capricho dos espinhos, / não foi culpa de ninguém”. A FORMA A forma dos poemas também difere da de outras obras de Drummond. Em Claro Enigma há uma preocupação com o res- gate do poema clássico. Nesse momento distante da primeira geração modernista, da qual também fez parte, o poeta sente- se à vontade para rever os poemas de formas fi xas e de versos rimados. Inclusive, alguns poemas são sonetos – compostos por 14 versos – e fazem referência à poesia formal. O poema Ofi cina Irritada é um exemplo dessa reexperimenta- ção poética, em que a preocupação com a forma se mostra forte e mais importante do que o próprio conteúdo, num exercício de metalinguagem. Em outro poema, A Máquina do Mundo, que para muitos é a obra-prima de Drummond, o poeta dialoga com a tradição clássica e camoniana. OS TEMAS Os poemas versam sobre vida, amor, ausência, tempo, sexo e a própria poesia. Abordam o homem em suas questões existen- ciais em busca da compreensão metafísica desses temas. Em Remissão, percebe-se esse mergulho existencial e a perspectiva interior, introspectiva (“enquanto o tempo, em suas formas bre- ves / ou longas, que sutil interpretavas, / se evapora no fundo de teu ser?”). Em Legado, o poeta dialoga de forma irônica e melancólica com sua própria obra (“De tudo quanto foi meu passo caprichoso / na vida, restará, pois o resto se esfuma, / uma pedra que havia no meio do caminho”). Já em Amar, Drummond anuncia que somos “conchas vazias” à procura de “mais e mais amor” numa busca quase compulsória da experiência amorosa. Claro Enigma Carlos Drummond de Andrade OS 41 POEMAS DESTA OBRA, QUE REGISTRA O VAZIO DA VIDA HUMANA E O ABSURDO DO MUNDO, TÊM COMO PANO DE FUNDO OS SENTIMENTOS E AS ANGÚSTIAS DO HOMEM DIANTE DAS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS DA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX CONEXÕES A introspecção da poesia de Drummond, em Claro Enigma, encontra ecos em Jacinto de A cidade e as Serras quando este busca reconstruir sua vida depois de uma constatação melancólica e pessimista de sua estada na França. Também liga-se a contos de Guimarães Rosa, como Conversa de Bois, em que os animais dialogam sobre a falta de sentido da maldade humana. GE FUVEST 2017 69 Livro de estreia de João Guimarães Rosa, Saga-rana foi publicado em sua versão fi nal em 1946. O título do livro é um exemplo de seu peculiar processo de invenção de palavras, o hibridismo, que
Compartilhar