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ob je tiv os Meta da aula Apresentar o processo de gerenciamento da água como um bem econômico. Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: identificar as principais estratégias de atuação de uma empresa no campo da economia da água; analisar os ganhos obtidos pelas empresas em suas ações de marketing da água; identificar as inovações empresariais no campo do gerenciamento do consumo da água. 1 2 3 Pré-requisito Para melhor compreensão desta aula, releia a introdução e as ameaças ambientais da Aula 6 (Desenvolvimento sustentável). A Onda Azul 10AULA 168 C E D E R J Gestão de Interface Empresa x Sociedade | A Onda Azul C E D E R J 169 A U LA 1 0 Quando olhamos para os oceanos, rios e lagos, e perdemos de vista o horizonte, temos a sensação de que a água é um recurso natural ilimitado. Pura ilusão! A água, apesar de abundante (nosso planeta é constituído aproximadamente de 70% de água), é um recurso ambiental limitado e essencial à vida. Em seu livro A riqueza de todos, Jeffrey Sachs descreve a importância da água: • sem água potável as pessoas não sobrevivem mais do que alguns dias; • sem água para os cultivos agrícolas não há comida; • sem água tratada as doenças se espalham. O Brasil é um país de águas abundantes, por enquanto. De acordo com os dados divulgados pela Agência Nacional de Água (ANA), nosso país tem a maior reserva de água doce do mundo, 16% do total mundial. A Amazônia detém 95% dos recursos hídricos brasileiros (53% dos recursos hídricos da América do Sul estão concentrados em nosso país). O consumo de água per capita brasileiro dobrou em 20 anos, enquanto a disponibilidade de água ficou três vezes menor. A agricultura é responsável por 70% do consumo de água proveniente de rios, lagos e mananciais subterrâneos, e os 30% restantes são consumidos pelas atividades industriais, consumo doméstico e geração de energia. O custo de ter água pronta para o consumo em nossas casas é muito alto, pois o planeta possui aproximadamente só 3% de água doce e nem toda essa água pode ser usada pelo homem, já que grande parte dela se encontra em geleiras, icebergs e subsolos muito profundos. Por isso, o uso da água deve ser racionalizado por todos: indústrias, empresas, indivíduos, comunidades, órgãos públicos e demais entidades. Esses fatos têm motivado o desenvolvimento de todo um aparato técnico, legal e institucional, cujo objetivo é o uso racional desse bem público. O OURO AZUL: UMA FONTE EM EXTINÇÃO No decorrer do século XX, a população do planeta Terra quadruplicou em relação ao século anterior. Com o desenvolvimento industrial e o advento da tecnologia, os desejos, as necessidades e o con- sumo dos indivíduos aumentaram consideravelmente e, como conse- qüência, a utilização da água aumentou em grandes desproporções. O homem passou a interferir com agressividade na natureza. Para construir uma hidrelétrica, por exemplo, desvia curso de rios, represa uma quantidade muito grande de água, interferindo na temperatura, na umidade, na vegetação e na vida de animais e pessoas que vivem nas proximidades. Ele tem o direito de criar tecnologias e promover o INTRODUÇÃO 168 C E D E R J Gestão de Interface Empresa x Sociedade | A Onda Azul C E D E R J 169 A U LA 1 0 desenvolvimento para suprir suas necessidades, mas tudo precisa ser muito bem pensado, pois a natureza precisa ser respeitada. Em artigo publicado em um jornal de grande circulação, o vice- governador do Estado do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, nos alerta para o problema: “É de conhecimento mundial que a água será, muito em breve, uma das principais riquezas dos países. O ouro azul hoje já é escasso em muitos países e, segundo estudos da Organização das Nações Unidas (ONU), vai ajudar na migração de milhões de pessoas” (“Espada de Dâmocles”, O Globo, 1.8.08, p. 7). Mais uma razão para a água ser um recurso limitado é a sua distribuição pelo mundo. Há lugares com escassez do produto e outros em que ele surge em abundância. Os habitantes dos lugares onde ela é escassa migram para as grandes cidades onde há fartura. O SURGIMENTO DA ONDA AZUL Diante da grande expansão do consumo da água e das crescentes ameaças da sua escassez, cresce em todo o mundo um movimento de conscientização e mobilização para a preservação dos recursos hídricos e a redução do consumo da água em todos os setores da economia e da sociedade. Um exemplo é o Movimento Grito das Águas, uma entidade que reúne 60 organizações não-governamentais ambientais e que se dedica à preservação das águas em ambientes marinhos, costeiros e de água doce. Uma de suas ações de maior impacto foi a denúncia de disposição irregular, na Lagoa de Carapicuíba, do lodo retirado do rio Tietê (SP), por uma obra realizada pelo governo do Estado. Esse material retirado do rio e despejado na lagoa foi analisado pela Universidade de Campinas e comprovada a existência de substâncias cancerígenas (metais pesados) em concentrações muito acima dos limites permitidos. Essa experiência foi bem-sucedida e nos dá um alento para todos nós participarmos da luta pela preservação das águas e surfarmos na grande onda azul. A este movimento global denominamos Onda Azul, capitaneado em diversos países por organizações não-governamentais, associações, sindicatos, universidades, órgãos governamentais, empresas e pela própria mídia. 170 C E D E R J Gestão de Interface Empresa x Sociedade | A Onda Azul C E D E R J 171 A U LA 1 0 São freqüentes as campanhas publicitárias que pregam o consumo consciente da água, feitas por entidades governamentais, com o apoio de empresas e da sociedade. As empresas, comunidades e cidadãos que poluem a água são objetos de multas, denúncias e até mesmo ordens de prisão. Escritores, pesquisadores, jornalistas e educadores alertam todas as pessoas sobre a importância da água como um bem econômico e de uso social. Crescem o número e âmbito de atuação, as agências reguladoras federais, estaduais e municipais, que monitoram o uso da água por empresas, condomínios e outros tipos de empreendimentos, aplicando pesadas multas nos casos de consumo abusivo e poluição das águas. Algumas empresas já se adaptaram ao movimento da Onda Azul e adotam modelos sustentáveis de gerenciamento da água. No campo da construção civil, já são inúmeros os empreendimentos que privilegiam sistemas tecnologicamente avançados de redução do consumo da água. Noventa e sete por cento da água disponível no planeta são águas salgadas; é a água dos oceanos, principalmente. Dois por cento estão nas calotas polares e geleiras, inacessíveis. O um por cento restante, em sua maioria, está no subsolo. 170 C E D E R J Gestão de Interface Empresa x Sociedade | A Onda Azul C E D E R J 171 A U LA 1 0 Um estudo global sobre a situação dos recursos naturais em todo o mundo, denominado Avaliação Ecossistêmica do Milênio (AEM), foi realizado pela ONU com a participação de 1.360 cientistas de 95 países e revisto por um conselho constituído de 80 membros. Os resultados do estudo basearam-se nos relatórios e nas conclusões das quatro con- venções ambientais realizadas pela ONU: Clima, Biodiversidade, Desertificação e Áreas Úmidas. O documento foi lançado em 2005. A escassez da água foi identificada como uma das maiores ameaças ao setor privado. Segundo o estudo, 5% a 20% da captação de água para uso industrial ou doméstico não são sustentáveis, ou seja, são obtidas por transferência de bacia hidrográfica ou retirada dos lençóis freáticos em quantidades superiores à da reposiçãonatural. Fernando Almeida, em seu livro Os desafios da sustentabilidade, nos faz um alerta: “Num futuro muito próximo, a água representará para o setor privado e a economia global o que o petróleo representa hoje. A competição no setor privado pelo acesso à água aumentará, assim como o custo”. A ÁGUA – UM BEM ECONÔMICO Na Declaração de Dublin da Conferência Internacional de Água e do Ambiente, realizada em 1992, a água é reconhecida como um bem econômico: “A água tem um valor econômico em todos os seus usos, devendo ser reconhecida como um bem econômico”. Por que a água é um bem econômico? Primeiro, porque a sua disponibilidade implica custos. Em segundo lugar, porque a água tem um valor para quem a consome: custos financeiros (investimento, exploração, manutenção e administração), custos econômicos (oportunidades e externalidades) e custos ambientais (impactos no meio ambiente, resul- tantes das diversas utilizações da água). Como vimos anteriormente, a água, apesar de abundante, é limitada e, devido aos maus-tratos causados pelo homem, pode se tornar escassa. Em contrapartida, seu mercado é ilimitado, pois todas as pessoas, empresas, indústrias, organizações em geral, governos, comunidades e a sociedade necessitam da água para sobreviver e desenvolver suas atividades. Além disso, a água é uma fonte de oportunidade de negócios de elevado valor agregado, pois ela é utilizada em todos os setores da 172 C E D E R J Gestão de Interface Empresa x Sociedade | A Onda Azul C E D E R J 173 A U LA 1 0 economia: na indústria, no comércio e no serviço. As oportunidades po- dem ser identificadas sob dois aspectos distintos: a oferta e a demanda. A oferta de água corresponde às disponibilidades hídricas (rios, mananciais, lagos, lagoas etc.) que são afetadas pelos setores que a utilizam. Isso significa que à medida que o consumo de água aumenta nas cidades e nos diversos setores da economia são crescentes as oportunidades de negócio no campo da redução do seu consumo. A situação se agrava porque os mananciais, rios, lagos e lagoas estão sofrendo danos irreparáveis devido à poluição e ao aquecimento global. É o caso das empresas concessionárias de serviços de tratamento e abastecimento de água, que investem em infra-estrutura e cobram tarifas por esses serviços. No campo da demanda de água, o problema ainda é maior, devido ao excesso e à crescente procura. Há diversos setores na economia que se destacam pela grande procura de água, como, por exemplo, a indústria, a agricultura e a produção de energia. Além das pessoas que precisam de água pra sobreviver, a demanda por água é crescente em todas as atividades industriais e comerciais. De olho nesse mercado, as empresas já começaram a definir e implementar suas estratégias para investimento no setor de águas. Isso porque os governos não têm recursos suficientes para investir no setor, em face da crescente necessidade de água pela população e pelas empresas. É nesse espaço que a iniciativa privada está atuando e consolidando sua presença, sobretudo nas operações de tratamento e distribuição de água. Como, por exemplo, temos os casos de algumas multinacionais, os quais analisamos a seguir: • a General Electric investiu 4 milhões de dólares no período de 2002 a 2004 na compra de quatro empresas de tecnologia de purificação de água; • a Dow Chemical criou, em 2006, uma unidade de negócio exclusiva para atuar no setor de água com expectativa de faturamento da ordem de 350 milhões de dólares por ano; • a Siemens obteve uma grande expansão no setor através da compra de sete empresas envolvidas no tratamento de água, investindo aproximadamente 10 bilhões de dólares. 172 C E D E R J Gestão de Interface Empresa x Sociedade | A Onda Azul C E D E R J 173 A U LA 1 0 O foco principal desses investimentos é o tratamento de água e a criação de novas tecnologias de irrigação de campos para a agricultura e de processos de dessalinização da água dos oceanos. Com tecnologia desenvolvida pela multinacional Dow Chemical, foi construída uma estação de tratamento para abastecimento do complexo de Mineira Escondida, a maior mina de cobre do mundo, localizada no deserto de Atacama, no Chile. A água, após ser sugada do Oceano Pacífico, é submetida a um tratamento para retirada do sal e depois é transportada por 170 quilômetros em dutos até o local onde está situada a mina, em pleno deserto. DE QUE FORMA AS EMPRESAS GERENCIAM A ÁGUA COMO UM BEM ECONÔMICO ESCASSO? Para as empresas, a água é um bem econômico porque é escasso, como vimos anteriormente, e seu consumo é excessivo como ingrediente do processo produtivo e das operações de apoio. Daí porque muitas empresas implantaram modos de gerencia- mento da água, fazendo uso de modernas tecnologias de captação e reaproveitamento. As empresas já estão conscientes da necessidade de tratar a água como um bem econômico e um recurso natural exaurível e de que o gerenciamento do seu consumo deve orientar-se pelos princípios da eficiência e da otimização do seu uso. É cada vez maior o número de empresas que desenvolvem processos de reutilização, reaproveitamento, redução de consumo da água e novas formas de captação. De acordo com os dados divulgados pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), se todas as indústrias brasileiras reutilizassem a água que compram das concessionárias, a economia gerada seria da ordem de 1,65 bilhões de litros por dia. No Brasil, apenas 1% das indústrias faz o reaproveitamento da água. Vejamos alguns exemplos de sucesso de gestão empresarial da água: A Ambev é a maior indústria cervejeira da América Latina e também uma referência mundial na gestão da água. Através de uma política bem definida, que consta do documento “Mandamentos da água Ambev”, a empresa criou procedimentos a serem utilizados em todas as suas fábricas com o objetivo de economizar e reaproveitar a 174 C E D E R J Gestão de Interface Empresa x Sociedade | A Onda Azul C E D E R J 175 A U LA 1 0 água, pois os recursos hídricos utilizados em seu processo de produção são fundamentais para o sucesso do seu negócio. Trata-se, portanto, de uma política de gestão da água. Os resultados não demoraram a aparecer: em 2004, algumas unidades da empresa superaram a média mundial, cerca de 4 a 5 litros de água por litro de cerveja, pois utilizaram 3,75 litros de água para produzir um litro de cerveja; a unidade de Curitiba teve um desempenho ainda melhor: 3,39 litros. Isso na produção de cerveja. Na produção de refrigerante, a fábrica de Jundiaí (SP) consumiu apenas 1,68 litros de água para a produção de um litro de refrigerante. A empresa utiliza dois tipos de água: a água de processo (água nobre), utilizada na preparação de cervejas, refrigerantes, isotônicos (bebidas energéticas) e outras bebidas; e a água de reaproveitamento, utilizada nos serviços de lavagem de tanques. A Ambev economiza, em média, 1,3 bilhões de metros cúbicos de água captada por ano, suficiente para abastecer, por um mês, uma cidade com 250 mil habitantes, o correspondente a uma economia de R$ 1,2 milhões. A Coca-Cola é um outro exemplo de destaque empresarial na economia da água. A famosa fórmula do refrigerante é composta de 97% de água, 2,7% de açúcar e 0,3 % de mistério. A direção da empresa estabeleceu como meta usar cada vez menos litros de água na produção do refrigerante: 0,7% de litro de água usado por litro de bebida produzida. Temos ainda o exemplo do Complexo de Tubarão, localizado no Espírito Santo, de propriedade da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD),que reduziu em 74% o consumo de água em suas sete usinas. Ao longo de dezessete anos, a economia de água alcançou o volume de 3 bilhões de litros. 174 C E D E R J Gestão de Interface Empresa x Sociedade | A Onda Azul C E D E R J 175 A U LA 1 0 A empresa Docol Metais Sanitários lançou no mercado uma linha de pro- dutos automáticos – Docolmatic – economizadores de água (torneiras, mis- turadores e válvulas). Esses produtos representam soluções inovadoras para incrementar a economia de água. Além de produzir e comercializar tais produtos (vale lembrar que a empresa domina 90% do mercado de metais sanitários eco- nomizadores de água), a empresa também realiza o uso racional da água em sua fábrica (a água utilizada na produção industrial é tratada e devolvida ao meio ambiente livre de impurezas). No campo social, a empresa desenvolve projetos de educação ambiental para as comunidades localizadas próximas à sua fábrica. É o Programa Água Nossa, dirigido a professores e alunos da rede pública. O programa realiza palestras, cursos e seminários, e distribui material didático – a revista em quadrinhos Água Nossa. Identifique as principais estratégias de atuação da empresa no campo da economia da água. ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ Resposta Comentada A Docol Metais Sanitários atua em três estratégias no campo da economia da água. A primeira estratégia faz da economia da água um conceito-chave para os seus produtos e atua como líder absoluto no mercado de metais economizadores de água. A segunda estratégia de atuação é de âmbito interno, pois a empresa desenvolve práticas de redução do consumo e reaproveitamento de água em sua fábrica. A terceira estratégia é o desenvolvimento de programas de educação ambiental voltados para a conscientização das populações mais carentes quanto ao uso racional e preventivo da água em suas residências. Atividade 1 1 176 C E D E R J Gestão de Interface Empresa x Sociedade | A Onda Azul C E D E R J 177 A U LA 1 0 A SOCIEDADE TAMBÉM PRECISA SE PREOCUPAR A economia da água não compete apenas às empresas. É dever de toda a sociedade mobilizar-se para economizar este bem econômico de grande valor. Segundo o Instituto Akatu, o consumo de água de uma pessoa ao longo da vida tem efeito danoso sobre este bem e o meio ambiente. Em São Paulo, por exemplo, um funcionário de um escritório gasta em média 60 litros de água por dia (somente no banheiro, ao acionar a descarga, são 20 litros!). É possível reduzir o consumo de água para 40 litros ao dia através de medidas que racionalizem e otimizem seu uso. Se multiplicarmos os 20 litros economizados por 7 milhões de trabalhadores, é possível economizar um volume de água capaz de abastecer mais de 3,5 milhões de pessoas. De acordo com a pesquisa “Responsabilidade social empresarial: o que o consumidor consciente espera das empresas”, realizada pelo Instituto Akatu, a implantação de programas de uso racional de água e energia pelas empresas é considerada, pelos consumidores, uma das ações mais importantes. O Instituto Akatu fornece algumas dicas para economizar água, como, por exemplo, se fecharmos a torneira enquanto escovamos os dentes, economizaremos mil litros de água no final do mês. Outras dicas: diminuir o tempo no chuveiro, lavar o máximo de roupas de uma só vez. Acesse o site www.akatu.net! A EXTERNALIDADE DA ÁGUA A água é um bem de consumo que se caracteriza por sua elevada externalidade, isto é, a sua utilização por um grupo ou região afeta sua disponibilidade e garantia para outros. Essa situação é denominada interdependência hidrológica. Por exemplo, quando o curso de um rio é desviado para irrigação de lavouras, a conseqüência será, certamente, a redução da disponibilidade de água rio abaixo. Uma represa, no curso superior de um rio, pode instaurar uma escassez de água nas comunidades. Um exemplo que representa a ocorrência desse fenômeno foram as enchentes no município de Campos, no norte do Estado do Rio de Janeiro, em dezembro de 2008. O número de desabrigados e desalojados 176 C E D E R J Gestão de Interface Empresa x Sociedade | A Onda Azul C E D E R J 177 A U LA 1 0 ultrapassou 20 mil. Representantes do governo do Estado sobrevoaram a cidade e disseram que represas irregularmente construídas em fazendas podem ter provocado as enchentes. Foi necessário dinamitar tais diques para o escoamento da água. No Brasil, temos uma tradição muito forte de uso de águas superficiais. Quando se fala em água, sempre são mencionados os mananciais de superfície: represas, lagos, rios, córregos. Entretanto, para surpresa de muitos, no Estado de São Paulo, o mais desenvolvido da federação, aproximadamente 50% dos municípios são abastecidos exclusivamente por águas subterrâneas (OLIVEIRA, 2008). Fonte: www.revistasustentabilidade.com.br A CRISE HÍDRICA A escassez de água e o nível excessivo de poluição das águas são dois problemas graves que preocupam governos, empresas, sociedade civil e toda a humanidade. Tais problemas configuram o fenômeno denominado crise hídrica. A seguir, a crise hídrica sob cada perspectiva: (a) A crise hídrica sob a perspectiva da escassez da água. É a crise da falta de água provocada pelo elevado consumo na sociedade e nas empresas. Muitas indústrias são consumidoras em potencial de grandes volumes de água em seus processos de fabricação. O melhor exemplo é o caso das indústrias automobilísticas, que consomem em média 147 mil litros de água para produzir um carro (incluindo os pneus). Um consumo irresponsável porque, além de intensivo e sem qualquer preocupação com o esgotamento desse recurso, é predatório, porque afeta os lençóis d´água e o represamento constante dos rios. Isso está produzindo, em algumas partes do mundo, uma crise sem precedentes, pois foram ultrapassados os limites sustentáveis da retirada de água dos aqüíferos subterrâneos (reservas subterrâneas de água) e dos rios. E por que isso ocorre? O primeiro e principal fator é o uso da água para a irrigação da lavoura. Em algumas regiões do planeta, poços artesianos profundos são escavados em uma velocidade impressionante, ameaçando os aqüíferos subterrâneos. Tais práticas de bombeamento em excesso das águas sob a terra causam o desaparecimento desse recurso e, conseqüentemente, a sua falta. 178 C E D E R J Gestão de Interface Empresa x Sociedade | A Onda Azul C E D E R J 179 A U LA 1 0 Segundo Jeffrey Sachs, “a utilização em grande escala de água, particularmente com o bombeamento de água subterrânea, pode vir a minar um recurso que é esgotável”. O segundo fator é o elevado número de represas construídas (impedindo o curso natural dos rios) em prol da geração de energia elétrica, como também os desvios de água para uso industrial e agrícola. Atualmente, existem no mundo 45 mil represas grandes e mais 800 mil represas pequenas. Uma outra conseqüência fruto da externalidade da água é o impacto ambiental de tais empreendimentos, pois destroem ecossistemas que existem ao longo do curso do rio que é represado. As conseqüências da construção de represas são diversas: fragmentação de rios; destruição de pântanos; redução da fertilidade dasplanícies de inundação, pois as entopem de sedimentos; enorme perda de água por evaporação dos reservatórios; desaparecimento de lagos e mares interiores; interrupção de rios em seus cursos para o mar e empobrecimento das populações que vivem dos recursos econômicos extraídos dos rios represados. (b) A crise hídrica sob a perspectiva da poluição da água. Uma outra dimensão da crise hídrica é a poluição provocada pelo lançamento e pela infiltração de substâncias nocivas na água. Dentre as atividades que mais poluem as águas estão a indústria, a mineração, a agricultura e os esgotos das cidades. A poluição das águas pelas atividades industriais é causada pelos dejetos despejados nos rios, oriundos de fábricas, sobretudo metais pesados e outras substâncias químicas, e pelo lixo e esgoto industriais que correm para os rios e mares. As águas dos rios e lagos são contaminadas pelo lançamento de substâncias tóxicas, de metais pesados, como o chumbo e o mercúrio, de resíduos industriais, de detritos petroquímicos, de lixo hospitalar e muitos outros. As empresas industriais, em sua grande maioria, além de poluírem o meio ambiente, conseguem fugir das multas e regulamentações impostas pelos governos locais, contornando as obrigações legais e éticas. 178 C E D E R J Gestão de Interface Empresa x Sociedade | A Onda Azul C E D E R J 179 A U LA 1 0 Figuras 10.1: Imagens mostrando o que a poluição das águas pode causar. Fontes: www.sxc.hu/photo/1043051 | www.sxc.hu/photo/1015172 | www.sxc.hu/photo/731549 No Brasil, o rio Tietê, que atravessa a cidade de São Paulo, recebe os esgotos da cidade. Os rios Pardo e Moji, em São Paulo, são alvos dos esgotos despejados das usinas de açúcar e álcool da região. No nordeste da China, em 2005, o rio Songhua foi poluído por benzina devido a uma explosão em uma fábrica da região. Em 2006, o rio Amarelo foi totalmente poluído por um grande despejo de tintas industriais de uma indústria local. 180 C E D E R J Gestão de Interface Empresa x Sociedade | A Onda Azul C E D E R J 181 A U LA 1 0 Os mares e oceanos também sofrem com a poluição, pois além de todos os dejetos decorrentes das cidades, que deságuam no mar, são conhecidos os casos de acidentes com navios petroleiros e com oleodutos litorâneos, que despejam grandes quantidades de óleo nas águas dos mares, afetando a vida marinha e poluindo as praias. A poluição não pára por aí. Ainda há os detritos domésticos, como lixo orgânico e inorgânico, jogados pelas pessoas sem qualquer cerimônia nos rios, lagos, mares e nas ruas. Todo o lixo jogado na rua, após as chuvas, vai para os rios e mares, causando acidentes com a fauna marinha e com as embarcações. A poluição da água afeta suas características físicas e químicas, degradando todo o ecossistema. Criado há 22 anos pela ONG internacional A Conservação do Oceano (The Ocean Conservancy), o dia 20 de setembro (Dia Mundial de Limpeza de Rios e Praias) tem como objetivo conscientizar as pessoas da necessidade de manter as praias e rios livres da poluição. Em todo o mundo, milhões de voluntários recolhem lixo acumulado nesses locais, como embalagens recicláveis, garrafas pet, sacos plásticos, sacolas, copos, garrafas de vidro e outros descartes. AS CONSEQÜÊNCIAS DA CRISE HÍDRICA Em março de 2003, foi realizado concomitantemente em três cidades japonesas (Kyoto, Shiga e Osaka) o III Fórum Mundial da Água. Técnicos e representantes de diversos países aprovaram medidas e mecanismos de preservação dos recursos hídricos. Foram priorizadas as seguintes questões: • o atendimento das necessidades básicas da população; • a garantia do abastecimento de alimentos; • a proteção dos ecossistemas e mananciais; • a administração de riscos; • a valorização da água; • a divisão dos recursos hídricos; • a eficiente administração dos recursos hídricos. A falta de água e a sua contaminação vão gerar conseqüências graves para o planeta. As terras áridas vão se tornar ainda mais áridas (crescente desertificação), as áreas úmidas da faixa equatorial se tornarão ainda mais úmidas e alvo de grandes enchentes, as grandes cidades vão 180 C E D E R J Gestão de Interface Empresa x Sociedade | A Onda Azul C E D E R J 181 A U LA 1 0 experimentar falta de água, haverá aumento do número e freqüência das secas, as safras agrícolas terão baixa produtividade e surgirão novas zonas de risco hídrico. E o que fazer para evitar ou reduzir as conseqüências dos problemas causados pela crise hídrica? Juntos, governos, empresas, sociedade, mídia e demais entidades da sociedade civil organizada devem buscar soluções inovadoras para esses problemas, como por exemplo: • elaborar planos de ação com o objetivo de garantir água potável e saneamento para todos; • obter uma maior eficiência no uso da água pelas pessoas, comu- nidades, empresas e governos; • desenvolver sistemas eficientes de armazenamento de água para combater a escassez e as secas; • reduzir a dependência das populações em relação às chuvas; • combater a poluição dos rios, mares, lagos, lagoas e mananciais. Tais ações, em sua grande maioria, focam problemas específicos no âmbito do gerenciamento do consumo da água. Isso, no entanto, não é suficiente diante da gravidade da crise hídrica. A comunidade internacional, constituída dos países-membros da ONU, já está mobilizada para a solução desse grave problema. Uma das Metas do Milênio inclui a redução pela metade do número de pessoas sem acesso à água potável e ao saneamento básico seguro. A escassez da água exige, hoje, um comprometimento de todos em relação à conscientização pelo seu uso regulado e parcimonioso. No tocante à agricultura, novas técnicas devem ser adotadas no sentido de criar condições mais favoráveis para o cultivo a partir da utilização desse recurso escasso, tais como: • técnicas que objetivem o aumento da produtividade agrícola (por exemplo, criação de variedades de cultivo que demandem menos água; modificações que tornem espécies mais resistentes à seca); • introdução de sistemas mecânicos ou agronômicos para maximizar as safras com a água da chuva; • captação de água de chuva; • uso intensivo da agricultura orgânica; • mudanças no sistema de preparação do solo, com menor uso de água. 182 C E D E R J Gestão de Interface Empresa x Sociedade | A Onda Azul C E D E R J 183 A U LA 1 0 No campo da indústria, devem ser desenvolvidos novos sistemas de captação, tratamento, aproveitamento e reutilização da água, bem como a fabricação de produtos economizadores de água. A implementação dessas medidas vai certamente atenuar o agravamento da crise hídrica que já atinge diversos países do mundo e já pode ser vista como um flagelo em alguns países africanos e no nordeste brasileiro. OS NOVOS MODELOS EMPRESARIAIS DE GESTÃO SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS HÍDRICOS Muitas empresas, conscientes dos problemas que vêm afetando o meio ambiente, já estão gerenciando de forma sustentável o seu consumo de água. A Lwarcel, fabricante de celulose, foi a empresa vencedora da 3ª edição do Prêmio Fiesp de Conservação e Reúso da Água, realizada em março de 2008. Tudo começou em 2004 quando a empresa iniciou o processo de redução de consumo de água em suas plantas industriais. Hoje, a empresa já atingiu a marca de 23m3 de água economizada por tonelada de celulose. Para o gerente de controle de processos de qualidade e meio am- biente, Pedro Wilson Stefanini, a motivação para esse trabalho veio da dificuldade de se operar uma planta de celulose a partir de poços semi- artesianos. A dificuldadese transformou em conceito ou modelo. Analisemos alguns modelos bem-sucedidos da gestão sustentável da água: a Lwarcel Celulose adotou diversas práticas de reúso, reaproveitamento e redução do consumo de água, como reúso da água utilizada nas torres de esfriamento, reúso da água de resfriamento de amostra de condensados, reaproveitamento de água na máquina secadora e redução no consumo de água potável. Um outro modelo de gestão sustentável é o parque de diversões Hopi Hari. Localizado no Estado de São Paulo, na cidade de Vinhedo, é um exemplo de empreendimento sustentável com o foco na preservação de mananciais, tratamento de efluentes, captação subterrânea de água potável e gerenciamento de resíduos. O seu ponto forte é a conservação e o desenvolvimento dos recursos hídricos. A cada ano, o parque utiliza 187 milhões de litros de água potável captados de poços artesianos. Os efluentes são tratados na Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) e transformados em água de reúso, que é utilizada para lavagem de pisos, irrigação de áreas verdes e nas descargas dos banheiros do parque. 182 C E D E R J Gestão de Interface Empresa x Sociedade | A Onda Azul C E D E R J 183 A U LA 1 0 Um outro modelo de prática sustentável é a Dry Wash, empresa especializada em lavagem de superfícies pintadas, que desenvolveu uma tecnologia capaz de realizar lavagem de carros, aviões, orelhões, placas de sinalização, dentre outras, sem consumir água e com produtos à base de ceras vegetais biodegradáveis. Por último, destacamos o Hospital e Maternidade São Luiz, loca- lizado na cidade de São Paulo, que desenvolveu um sistema pioneiro de reaproveitamento de água: dos 165 m3 de água consumidos diariamente na lavagem das roupas do hospital, 123,7 m3 são economizados. Isso significa o reaproveitamento de 75% da água utilizada, gerando uma economia mensal de R$ 110 mil nas contas de água e esgoto. O efluente passa por um processo de purificação, tratado com produtos químicos (sulfato de alumínio), com a utilização de filtros de areia e carvão. Para o diretor do hospital, André Staffa Filho, “é um modelo que deveria ser seguido por outras instituições de saúde, em razão dos ganhos econômicos e ambientais”. O MARKETING DA ÁGUA A exemplo do que havia sido feito com o social, o ambiental, o cultural e o esportivo, as empresas descobriram na água um valioso produto de comunicação e marketing. Estimuladas pela mídia, que começou a premiar as iniciativas empresariais de redução do consumo da água e de combate à poluição dos rios, mares, lagos, lagoas e mananciais, essas empresas não pouparam esforços em investir no novo mercado da água. Assim, rapidamente a água tornou-se um bem de alto valor econômico e de grande poder de transformação dos negócios empresariais. Inicialmente como objeto das ações de gerenciamento, a água tornou-se posteriormente objeto de ações promocionais por parte das empresas e, desta forma, teve início o que denominamos marketing da água. Além de fonte de vantagem competitiva para as empresas, a água vem se tornando um veículo de comunicação e de ação de marketing, ou seja, as empresas começam a se valer da economia da água como uma oportunidade para desenvolver campanhas publicitárias, promocionais, com alto retorno institucional e de vendas. Cada vez mais, as empresas buscam associar suas marcas a iniciativas de economia de água e preservação dos recursos hídricos. 184 C E D E R J Gestão de Interface Empresa x Sociedade | A Onda Azul C E D E R J 185 A U LA 1 0 A Bombril, aproveitando as comemorações do Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho), lançou três promoções, tendo como foco principal a conservação e redução do consumo da água. A 1ª promoção, denominada "Economizando água, você sempre sai ganhando", foi realizada em parceria com as redes de varejo Carrefour e Champion nas cidades litorâneas e região metropolitana de São Paulo. Os consumidores que apresentassem as duas últimas contas de água demonstrando uma redução do consumo de, no mínimo 20%, recebiam brindes da campanha. A promoção também premiou os condomínios que atingissem aquela meta de redução do consumo de água. O síndico do condomínio premiado recebeu um kit Bombril com material de limpeza (desinfetantes, detergentes, limpadores e lã de aço). Em seguida, a Bombril lançou uma outra promoção, intitulada "Compre, ganhe". Os consumidores que, além de atingirem a meta de redução de 20%, comprassem o produto Bombril Practice Multiuso (que dispensa o uso de água), ganhariam outros brindes. A 3ª promoção – Concurso Cultural Bombril e Meio Ambiente – foi direcionada para as 55 mil pessoas cadastradas no Serviço de Atendimento ao Consumidor da empresa. Os cadastrados receberam por mala direta o informativo especial Espaço Bombril, juntamente com um cupom de inscrição, no qual deveria escrever uma frase sobre temas relacionados à ecologia. Os autores das melhores frases receberiam prêmios e todos os que enviassem frases concorreriam a mais de 40 prêmios. Quais os ganhos obtidos pela Bombril com a realização dessas promoções? ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ Resposta Comentada Foram três ações promocionais criativas e que geraram diversos ganhos para a empresa. O primeiro ganho foi de natureza institucional. A Bombril reforçou a imagem da marca, associando-a à ecologia e ao consumo consciente da água. O segundo ganho foi de natureza publicitária. Durante a campanha, a Bombril foi veiculada na mídia. O terceiro ganho foi sobre as vendas. A empresa aumentou a venda do seu produto Practice Multiuso, e seus parceiros receberam mais clientes em suas lojas. E, finalmente, o ganho do mailing (listagem de nomes), com a atualização do seu cadastro de clientes. Atividade 2 2 184 C E D E R J Gestão de Interface Empresa x Sociedade | A Onda Azul C E D E R J 185 A U LA 1 0 A SUSTENTABILIDADE EM EDIFICAÇÕES: O FOCO NA ECONOMIA DA ÁGUA A eficiência do uso da água é um dos principais elementos do conceito de sustentabilidade em edificações. Trata-se de um novo paradigma que vem sendo adotado em todo o setor de construção civil. Juntamente com outros elementos, tais como redução do consumo de energia elétrica em face do aproveitamento máximo da luz do sol, energia solar para aquecimento, tratamento de resíduos e o uso de materiais certificados, a redução do consumo da água constitui um dos fatores-chave do modelo de construção civil sustentável. São adotadas as seguintes medidas de economia de água: • captação da água da chuva para regar plantas e lavar áreas e calçadas; • reciclagem da água de pias e chuveiros para uso nos sanitários; • utilização de medidores de água (hidrômetros) individualizados nos condomínios. Esse modelo vem sendo adotado por todos os fabricantes e prestadores de serviços e órgãos financiadores do setor de construção civil em franco crescimento no Brasil e em todo o mundo. As empresas construtoras que adotam esse novo modelo buscam a certificação da edificação sustentável, que é conferida por diversas entidades internacionais, como, por exemplo, a Leadership in Energy & Environmental Design (Leed), o US Green Building Council (GBC) e a Alta Qualidade Ambiental (AQUA), fornecidapela Fundação Vanzolini em parceria com o instituto francês Centre Scientifique et Technique en Bâtiment (CSTB). A utilização de tais padrões sustentáveis aumenta inicialmente o custo da obra. No entanto, a médio e longo prazo a economia é enorme, pois reduz o consumo de água e energia, algo em torno de 30% a 35% nos custos operacionais. São exemplos de empreendimentos sustentáveis voltados para a economia do consumo da água os prédios residenciais e de escritórios denominados Ecoesfera no Estado de São Paulo. 186 C E D E R J Gestão de Interface Empresa x Sociedade | A Onda Azul C E D E R J 187 A U LA 1 0 CONCLUSÃO A água antes era um bem natural, abundante e acessível a todos. Agora, ela se tornou um bem econômico limitado e escasso. Tal transformação da água, de bem natural para produto escasso, criou o novo paradigma da economia da água. Com isso, surgiram novas oportunidades de negócio para as empresas e um novo movimento de conscientização social e de novos desafios tecnológicos. Esses fatores contribuíram para o surgimento de um novo fenômeno – a Onda Azul – que representa uma tendência global na busca de soluções para a crise hídrica que se agrava em todo o mundo. Se prevalecerem o alto consumo e o grande desperdício de água nas cidades e no campo, na indústria e no comércio, nas residências e nos escritórios, vai faltar água e também vai faltar vida em todo o planeta. Quem melhor chamou atenção para esse problema foi o economista Jeffrey Sachs ao afirmar o seguinte: “A trajetória atual da atividade humana não é sustentável. Se continuarmos a agir da mesma forma com o planeta, sem mudar a tecnologia, a base de sustentação ambiental do bem-estar global entrará em colapso”. É um alerta para todos. As empresas já começam a fazer a sua parte e agora é o momento da sociedade civil entrar em cena com mais vigor e presença. Em alguns países, já observamos uma mobilização e conscientização na busca da preservação de nossas reservas fluviais e de um melhor aproveitamento de nossos recursos hídricos. É importante lembrar que a crise hídrica tem sido fonte de oportunidades para muitas empresas, pois elas aprimoram seus sistemas e modelos de gerenciamento de água, desenvolvem novas tecnologias, produtos e serviços. É o caso das empresas como Ambev, Coca-Cola, CVRD e muitas outras. 186 C E D E R J Gestão de Interface Empresa x Sociedade | A Onda Azul C E D E R J 187 A U LA 1 0 A Sharewater é uma empresa especializada no desenvolvimento de soluções para o uso racional dos recursos hídricos. A idéia do negócio foi desenvolvida por três estudantes do Programa de Uso Racional de Água da Universidade de São Paulo (PURA – USP). A empresa desenvolveu um sistema que objetiva minimizar o consumo de água para empresas e residências. Inicialmente, a empresa focou a racionalização do uso da água e a redução do seu consumo em condomínios e prédios residenciais através da implantação de um sistema de individualização da cobrança pelo consumo. Depois, passou a utilizar o conceito de aumento da oferta de água por meio de tecnologias para aproveitamento da água pluvial (de chuvas) e do lençol freático. Com essa nova tecnologia, a empresa ampliou seu mercado para grandes empresas (LOPES, 2008, p. A-14). Quais as principais inovações da Sharewater no campo do consumo da água? ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ Atividade Final 3 188 C E D E R J Gestão de Interface Empresa x Sociedade | A Onda Azul RESPOSTA COMENTADA A Sharewater é uma empresa especializada em soluções para o consumo da água. Sua primeira inovação foi o desenvolvimento de um sistema voltado para a minimização do consumo de água através da individualização da cobrança. A segunda inovação consistiu no desenvolvimento de uma tecnologia para reaproveitamento da água de chuva e dos lençóis freáticos. Com isso, a Sharewater ampliou o seu mercado para segmentos de empresas cujos modelos de gestão sustentável privilegiam a questão da água. A água, recurso essencial a todas as formas de vida, está escasseando para o consumo no nosso planeta. Patrimônio natural, tornou-se um bem econômico, fonte de lucro e razão para conflitos. A busca da racionalização e redução do seu consumo por empresas e indivíduos constitui o que denominamos economia da água. Como um produto de grande valor e demanda da sociedade, a água transformou-se em uma plataforma de negócio para as empresas. Algumas atuam no negócio da sua distribuição e de seu consumo. Outras criam produtos que geram economia do consumo. Há também as empresas que ingressaram no mercado de serviços de edificações sustentáveis e consultoria para soluções tecnológicas de economia de água. As empresas, sobretudo as de natureza industrial, investem pesado na compra e utilização de equipamentos economizadores de água e no combate à poluição de mares, rios, lagos e lagoas. Algumas empresas se posicionaram no mercado como líderes no ranking de redução do consumo da água (é o caso da Ambev e da Coca-Cola, por exemplo). Outras se destacaram no campo da tecnologia de reúso e reaproveitamento da água. R E S U M O INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA Na próxima aula, vamos estudar a onda cinza.
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