Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SEGUNDA CÂMARA CÍVEL AGRAVODE INSTRUMENTO Nº 64173/2013 - CLASSE CNJ - 202 - COMARCA DE PRIMAVERADO LESTE AGRAVANTE:SCANIA BANCO S/A AGRAVADA: ALM TRANSPORTESE SERVIÇOSAGRICOLA LTDA Número do Protocolo: 64173/2013 Data de Julgamento: 12-03-2014 E M E N T A AGRAVODE INSTRUMENTO - AÇÃODE BUSCA E APREENSÃO - FINANCIAMENTO DE VEÍCULO (ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA) - DECRETO-LEI Nº 911/69 - LIMINAR DEFERIDA - PURGAÇÃO DA MORA DAS PARCELAS VENCIDAS DEVIDAMENTE CORRIGIDAS - POSSIBILIDADE - PRAZO DE CINCO DIAS A CONTAR DA JUNTADA DO MANDADO DE BUSCA E APREENSÃO - TEMPESTIVIDADE DO DEPÓSITO JUDICIAL - INVIABILIDADE DA INCLUSÃO DAS CUSTAS E HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS- VERBAS DE SUCUMBÊNCIA - RECURSO DESPROVIDO. O prazo de cinco dias para purgação da mora em Ação de Busca e Apreensão de contrato de aquisição de veículo com alienação fiduciária, inicia-se da juntada do mandado de busca e apreensão cumprido aos autos. O montante da dívida cobrada, objeto da purgação da mora, deve compreender somente as prestações vencidas devidamente corrigidas e encargos decorrentes da mora. Feito o depósito do valor devido, mister que haja a restituição do bem financiado e seja mantido o contrato, com a regular satisfação do débito ao credor fiduciário. Não se incluem na conta para purga da mora as custas processuais e os honorários advocatícios, porquanto constituem ônus de sucumbênciaque somente se tornam exigíveiscom o julgamento da ação. Fl. 1 de 8 SEGUNDA CÂMARA CÍVEL AGRAVODE INSTRUMENTO Nº 64173/2013 - CLASSE CNJ - 202 - COMARCA DE PRIMAVERADO LESTE AGRAVANTE:SCANIA BANCO S/A AGRAVADA: ALM TRANSPORTESE SERVIÇOSAGRICOLA LTDA R E L A T Ó R I O EXMA. SRA. DESA. MARILSEN ANDRADEADDARIO Egrégia Câmara: Recurso de agravo de instrumento interposto por SCANIA BANCO S.A visando a reforma da decisão proferida nos autos da Ação de Busca e Apreensão nº 2965-03.2013.811.0037 (Código 120483), ajuizada em face de ALM TRANSPORTES E SERVIÇOS AGRICOLAS LTDA, que deferiu a purgação da mora mediante o depósito pela requerida das parcelas vencidas da contratação, determinando ao autor, ora agravante, que lhe restitua o bem apreendido liminarmente, sob pena de multa diária no valor de R$ 1.000,00 (um mil reais). Em suma, sustenta o agravante que o depósito deveria ter sido efetuado no valor da integralidade da dívida, ou seja, parcelas vencidas e vincendas, de acordo com o estabelecido no §2º do art. 3º do Decreto-Lei nº 911/69. Alega ainda que o depósito não incluiu os encargos legais, custas e honorários advocatícios, fixados em 10% (dez por cento), devidos ao patrono do agravante. Ao final, requer o provimento do recurso para reforma da decisão, determinando-se a purgação da mora pelo valor integral da dívida (parcelas vencidas+ vincendas + honorários advocatícios), sob pena de não sendo feito, seja consolidado a posse e propriedade do bem em favor da instituição financeira. A liminarrecursal postulada foi deferida às fls. 58/59-TJ. Em contraminuta, pugna a agravada pelo improvimentodo recurso. As informações do juízo a quo sobrevieramàs fls. 109/111-TJ. É o relatório. Fl. 2 de 8 SEGUNDA CÂMARA CÍVEL AGRAVODE INSTRUMENTO Nº 64173/2013 - CLASSE CNJ - 202 - COMARCA DE PRIMAVERADO LESTE V O T O EXMA. SRA. DESA. MARILSEN ANDRADE ADDARIO (RELATORA) Egrégia Câmara: Extrai-se dos autos que SCANIA BANCO S/A ajuizou Ação de Busca e Apreensão (Código 120483) em face de ALM TRANSPORTES E SERVIÇOS AGRICOLAS LTDA., aduzindo que as partes firmaram Contrato de Financiamento com Garantia de Alienação Fiduciária - FINAME, através do qual a requerida emprestou da instituição financeirao importe de R$ 410.000,00 (quatrocentos e dez mil reais), para pagamento em 60 (sessenta) prestações, destinados à aquisição do caminhão trator marca Scania, modelo R 440 A 6x4, 2012/2012, Chassi nº 9BSR6X400C3811197, dado em alienação fiduciáriaao banco (fls. 26/38-TJ). Em sua inicial, afirmou que a requerida ficou inadimplente a partir da parcela nº 02, vencida em 17/12/2012, totalizando a dívida o montante de R$ 402.807,02 (quatrocentos e dois mil, oitocentos e sete reais e dois centavos), que compreende as parcelas vencidas e vincendas, devidamente corrigidas contratualmente, o qual postula seja considerado para efeito de pagamento, consoante §2º do art. 3º do Decreto-Lei nº 911/69, com a alteração dada pela Lei nº 10.931/04. Ao despachar o feito, a ilustre juíza a quo deferiu medida liminar pleiteada de busca e apreensão do bem (fls. 42/43-TJ). Na sequencia, apreendido o bem, sobreveio petição da requerida postulando a purgação da mora, mediante o depósito judicialdas parcelas vencidas (seis parcelas no valor de R$ 9.280,00 cada, tendo sido juntada guia de depósito no valor de R$ 62.000,00), e consequente restituição do bem (fls. 78/80; 46-TJ), o que foi deferido pela magistrada singular. Inconformado, o autor interpôs o presente recurso, objetivando a reforma da referida decisão para que seja determinada a purgação da mora pelo valor integral da dívida (parcelas vencidas+ vincendas+ honorários advocatícios), sob pena de não sendo feito, seja consolidada a posse e propriedade do bem em seu favor. Pois bem. Fl. 3 de 8 SEGUNDA CÂMARA CÍVEL AGRAVODE INSTRUMENTO Nº 64173/2013 - CLASSE CNJ - 202 - COMARCA DE PRIMAVERADO LESTE Consoante preceitua o §2º do artigo 3º do Decreto-Lei nº 911/69, efetivada a liminar “o devedor fiduciante poderá”, no prazo de cinco dias, a partir da execução da liminar, (art. 3º, §1º), “pagar a integralidade da dívida pendente, segundo os valores apresentados pelo credor fiduciário na inicial, hipótese na qual o bem lhe será restituído livre do ônus”. Importa lembrar que referido parágrafo leva à compreensão errônea de que o devedor fiduciário estaria obrigado a depositar o valor total do contrato para ter direito à devolução do bem. Pagar a integralidade da dívida pendente, em interpretação razoável e constitucional, significa purgar a mora pagando o débito em atraso, evitando os efeitos do inadimplementoe mantendo a função social do contrato. Entender o contrário é retirar a utilidade do instituto da purgação da mora, tal como disciplinadono inciso I, do artigo 401, do Código Civil, que o admite de forma a evitar a ruptura do vínculo contratual. Nessa toada, a purgação da mora nada mais é do que o cumprimento integral das obrigações contratuais inadimplidas, as quais, no caso, envolvem as prestações vencidas mais os encargos decorrentes da mora. Trata-se de instituto que visa possibilitar a execução do contrato, a despeito do inadimplementorelativo, tendo em vista que o cumprimento de seus termos interessa a ambos os contratantes. Desta feita, ainda que o contrato estipule que a inadimplência importa vencimento antecipado das obrigações, ou seja, exigibilidadeimediata da totalidade do débito, a purgação da mora pode ocorrer apenas com a quitação das parcelas vencidas. Isso porque, o pagamento de parcelas vencidas e vincendas não configura purgação da mora, e sim, cumprimento integral do contrato, situação que não se afeiçoa à intenção do legislador. Verifica-seainda que, o prazo de cinco dias para purgação da mora de contrato de aquisição de veículo com alienação fiduciária, inicia-se da juntada do mandado de busca e apreensão. É o entendimento dos Tribunaispátrios: “AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. Fl. 4 de 8 SEGUNDA CÂMARA CÍVEL AGRAVODE INSTRUMENTO Nº 64173/2013 - CLASSE CNJ - 202 - COMARCA DE PRIMAVERADO LESTE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA. DL Nº 911/69. PURGA DA MORA. PRAZO. É de cinco dias, contado da juntada do mandado de busca e apreensão cumprido nos autos, o prazo para a purga da mora, nos contratos de alienação fiduciária em garantia. Negativa deseguimento a Agravo de Instrumento em confronto com jurisprudência do TJRS.” (TJRS, 13ª Cível, RAI nº 70036384758, Relª. Desª. Lúcia de Castro Boller, j. em 16/12/2010). “[...] Assegura-se a oportunidade da purgação da mora, quando requerida dentro do prazo peremptório insculpido no §1º do art. 3º do Dec-Lei 911/69, tendo como termo inicial a juntada aos autos do mandado de busca e apreensão devidamente cumprido.” (TJMG, 17ª C. Cível, Processo nº 2.0000.00.497778-6/000, Rel. Des. WalterPinto da Rocha, j. em 13/10/2005). In casu, consoante se constata dos autos, a apreensão do veículo se deu em 28/05/2013 (fls. 44/45; 78-TJ) e em 29/05/2013 o requerido já peticionou requerendo a purgação da mora das parcelas vencidas e atualizadas, efetuando, na mesma data, o depósito no valor de R$ 62.000,00 (sessenta e dois mil reais), conforme se denota às fls. 78/80 e 97-TJ. Assim, considerando que o pedido de purgação da mora fora protocolado dentro do prazo legal, a decisão a quo mostra-se escorreita, comportando a devida manutenção. A bem da verdade, conquanto a pendência de prestações, a partir da 2ª parcela da avença, vencida em 17/12/2012, já fosse suficiente para o manejo da actio de busca e apreensão, é certo que a demandada/recorrida efetuou depósito judicial de R$ 62.000,00 (sessenta e dois mil reais) (fl. 97-TJ), como valor entendido como devido, para fins de purgação da mora, ressaindo, daí, a aparência do bom direito. Desta forma, deve merecer credibilidade a intenção da requerida/agravada de quitar o débito pendente a fimde manter o contrato. Nesse sentido: “PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. PURGAÇÃO DA MORA. PARCELAS VENCIDAS ATÉ O CÁLCULO [...] O montante da dívida cobrada, objeto da purgação da mora, deve compreender Fl. 5 de 8 SEGUNDA CÂMARA CÍVEL AGRAVODE INSTRUMENTO Nº 64173/2013 - CLASSE CNJ - 202 - COMARCA DE PRIMAVERADO LESTE somente as prestações vencidas no momento do cálculo. Interpretação com base na antiga redação do art. 3º do Decreto-Lei n. 911/69 [...].” (STJ, 4ª Turma, REsp nº 882.384/GO, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. em 18/02/2010). “AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO - ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA - DECRETO-LEI 911/69 - PURGAÇÃO DA MORA - PARCELAS VENCIDAS - POSSIBILIDADE - ARTIGO 401, I, CPC - RECURSO PROVIDO. O montante da dívida cobrada, objeto da purgação da mora, deve compreender somente as prestações vencidas devidamente corrigidas e encargos decorrentes da mora. Assim, tem-se por desnecessária a exigência de depósito das parcelas vincendas, porquanto, a regra contida no art. 3º, §2º, do Decreto-Lei nº 911/69 não se sobrepõe às regras previstas no Código Civil, Código de Defesa do Consumidor e Constituição Federal.” (TJMT, 2ª Câmara Cível, RAI nº 110472/2012, Relatora Desa. MarilsenAndrade Addario, j. em 23/01/2013). Com essas considerações, nesta fase de cognição sumária, denota-se o acerto do decisum singular ao determinar a restituição do veículo à requerida, ora agravada, não merecendo prosperar os argumentos deduzidos pelo agravante, ante a demonstração neste agravo de instrumento de que houve o adimplemento das parcelas vencidas até o momento da interposição do presente feito. Por oportuno, ressalta-se que não encontra guarida a insurgência do agravante da não inclusão no montante devido para purgação da mora das custas processuais e dos honorários advocatícios, pois constituem ônus de sucumbência que somente se tornam exigíveiscom o julgamento da ação, não devendo, assim, compor a conta da purgação da mora. Vejamos: “[...] A verba honorária e as custas processuais não devem ser incluídas na conta de purgação da mora, vez que se tornam devidas quando do julgamento da ação. [...].” (TJMT, 1ª Câmara Cível, Ap 24365/2010, Rel. Des. João Ferreira Filho, j. em 22/11/2011, DJE 01/12/2011). Por fim, de se ressaltar que em razão de o bem ter sido removido da Fl. 6 de 8 SEGUNDA CÂMARA CÍVEL AGRAVODE INSTRUMENTO Nº 64173/2013 - CLASSE CNJ - 202 - COMARCA DE PRIMAVERADO LESTE Comarca, a multa diária deverá incidir no prazo de dez (10) dias a contar deste julgamento, se não for cumprida a ordem de devolução ao devedor fiduciante. Ante o exposto, revogo a liminar de fls. 58/59-TJ e nego provimento ao recurso, concedendo o prazo de dez (10) dias a contar desse julgamento para a incidência da multa diária, caso não seja cumprida a ordem. É como voto. Fl. 7 de 8 SEGUNDA CÂMARA CÍVEL AGRAVODE INSTRUMENTO Nº 64173/2013 - CLASSE CNJ - 202 - COMARCA DE PRIMAVERADO LESTE A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a SEGUNDA CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência da DESA. MARIA HELENA GARGAGLIONE PÓVOAS, por meio da Câmara Julgadora, composta pela DESA. MARILSEN ANDRADE ADDARIO (Relatora), DESA. MARIA HELENA GARGAGLIONE PÓVOAS (1ª Vogal) e DRA. FLAVIAC. DE AMORIM REIS (2ª Vogal convocada), proferiu a seguinte decisão: À UNANIMIDADE, NEGARAM PROVIMENTOAO RECURSO, NOS TERMOS DO VOTODA RELATORA. Cuiabá, 12 de março de 2014. --------------------------------------------------------------------------------------------------- DESEMBARGADORAMARILSEN ANDRADEADDARIO - RELATORA Fl. 8 de 8
Compartilhar