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Imunologia MECANISMOS EFETORES DA IMUNIDADE HUMORAL – capítulo 13 Visão Geral da Imunidade Humoral ✓ As principais funções dos anticorpos são de neutralizar e eliminar micro-organismos infecciosos e toxinas microbianas; ✓ Anticorpos são produzidos por plasmócitos em órgãos linfoides e na medula óssea; ✓ Os anticorpos que medeiam a imunidade protetora podem ser derivados de plasmócitos produtores de anticorpos de vida curta ou de vida longa que são gerados pela ativação de células B virgens (naive) ou de memória. A primeira exposição a um antígeno leva à ativação de linfócitos B virgens e à sua diferenciação em plasmócitos secretores de anticorpos e células de memória. A exposição subsequente ao mesmo antígeno leva à ativação de células B de memória e uma resposta maior e mais rápida da produção de anticorpos. Os primeiros plasmócitos gerados no início de uma resposta imune tendem a ser de vida curta. Se um indivíduo imune for exposto a um micro- organismo previamente encontrado, a concentração de anticorpos circulantes produzidos pelos plasmócitos de vida longa proporciona proteção imediata contra a infecção. Ao mesmo tempo, a ativação de células B de memória gera mais explosão de anticorpos que promove uma segunda e mais efetiva onde de proteção. ✓ Muitas das funções efetoras dos anticorpos são mediadas por regiões constantes da cadeia pesada da molécula de Ig, e diferentes isotipos de cadeias pesadas de Ig atuam com funções efetoras diferentes. ✓ Apesar de muitas das funções efetoras dos anticorpos serem mediadas pelas regiões constantes da cadeia pesada da Ig, todas elas são desencadeadas pela ligação do antígeno às regiões variáveis do anticorpo. Neutralização de microrganismos e de toxinas microbianas Anticorpos contra micro-organismos e toxinas microbianas bloqueiam a ligação desses micro-organismos e dessas toxinas a receptores celulares. Dessa forma, os anticorpos inibem ou “neutralizam” a infectividade dos micro-organismos, bem como seu potencial de produzir efeitos danosos. Vários micro-organismos entram nas células do hospedeiro por meio da ligação de moléculas particulares de superfície microbiana a proteínas ou lipídios de membrana na superfície da célula hospedeira. Muitas toxinas microbianas também medeiam seus efeitos patológicos pela ligação a receptores celulares específicos. A maior parte dos anticorpos neutralizantes no sangue consiste em isotipo IgG; nos órgãos mucosos, o isotipo prevalecente é IgA. Os anticorpos neutralizantes mais eficazes são aqueles com afinidades altas para seus antígenos. Opsonização mediada por Anticorpos e Fagocitose Anticorpos do isotipo IgG cobrem (opsonizam) micro-organismos e promovem sua fagocitose pela ligação com receptores Fc em fagócitos. Fagócitos mononucleares e neutrófilos ingerem micro-organismos como um requisito para a morte e degradação intracelular. Esses fagócitos expressam uma variedade de receptores de superfície que se ligam diretamente aos micro-organismos e os ingerem, mesmo sem a presença de anticorpos, realizando, assim, um mecanismo de imunidade inata. A eficiência desse processo é aumentada se o fagócito puder se ligar à partícula com alta afinidade. O processo de cobertura de partículas para promover a fagocitose é denominado opsonização, e substâncias que fazem essa função, incluindo anticorpos e proteínas do complemento, são chamadas de opsoninas. ➢ Receptores de Fc em Leucócitos: Os leucócitos expressam receptores de Fc que se ligam às regiões constantes de anticorpos e, assim, promovem a fagocitose de partículas cobertas de Ig e liberam sinais que regulam as atividades dos leucócitos; outros receptores de Fc medeiam o transporte de anticorpos para diversos locais. Os receptores de Fc para diferentes isotipos de cadeia pesada são expressos em muitas populações leucocitárias e apresentam diversas funções na imunidade. Dentre esses receptores de Fc, aqueles que são mais importantes para a fagocitose de partículas opsonizadas são os receptores para as cadeias pesadas de anticorpos IgG, chamados receptores Fcγ. ➢ Citotoxicidade Mediada por Células Dependente de Anticorpo: As células natural killer (NK) e outros leucócitos ligam-se a células revestidas com anticorpo pelos receptores de Fc e as destroem. Esse processo é chamado de citotoxicidade mediada por células dependente de anticorpos (ADCC). a ADCC só acontece quando a célula-alvo está revestida com moléculas de anticorpo e a IgG livre no plasma não ativa as células NK nem compete eficazmente com a IgG ligada a células para a ligação a FcγRIII. O acoplamento do FcγRIII a células-alvo revestidas com anticorpo ativa as células NK para que elas sintetizem e secretem citocinas, como o IFN-γ, bem como para liberar o conteúdo dos seus grânulos, os quais medeiam as funções de morte deste tipo de células. ➢ Eliminação de Helmintos Mediada por Anticorpo: Alguns parasitas helmínticos são eliminados pela ação conjunta de anticorpos, eosinófilos e mastócitos, que medeiam a morte e a expulsão desses parasitas. Os helmintos (vermes) são muito grandes para serem internalizados por fagócitos, e seus tegumentos são relativamente resistentes aos produtos microbicidas dos neutrófilos e dos macrófagos. Eles podem, no entanto, ser mortos por uma proteína catiônica tóxica, conhecida como a proteína básica principal, presente nos grânulos de eosinófilos. Anticorpos IgE e, em menor extensão, anticorpos IgG e IgA que revestem os helmintos podem se ligar a receptores de Fc em eosinófilos e provocar a desgranulação destas células, liberando a proteína básica e outros conteúdos dos grânulos de eosinófilos e, assim, matar os parasitas. Além de ativar eosinófilos, os anticorpos de IgE que reconhecem antígenos sobre a superfície dos helmintos podem iniciar a desgranulação dos mastócitos locais através do receptor de alta afinidade para IgE. Os mediadores de mastócitos podem induzir broncoconstricção e aumento da motilidade local, contribuindo para a expulsão de vermes de locais como as vias aéreas e o lúmen do trato gastrintestinal. O Sistema Complemento O sistema complemento é um dos principais mecanismos efetores da imunidade humoral e é também um importante mecanismo efetor da imunidade inata. O sistema complemento é composto de proteínas séricas e de superfície celular que interagem umas com as outras e com outras moléculas do sistema imune de maneira altamente regulada para gerar produtos que funcionam para eliminar os microrganismos. As proteínas do complemento são proteínas plasmáticas normalmente inativas; elas são ativadas apenas em determinadas condições para gerar produtos que medeiam várias funções efetoras do complemento. ✓ O sistema complemento é ativado por microrganismos e por anticorpos que estão ligados aos microrganismos e outros antígenos. ✓ A ativação do complemento envolve a proteólise sequencial de proteínas para gerar complexos enzimáticos com atividade proteolítica. As proteínas que adquirem atividade enzimática proteolítica pela ação de outras proteases são chamadas zigomógenos. ✓ Os produtos da ativação do complemento tornam-se covalentemente ligados às superfícies celulares dos micro-organismos ou aos anticorpos ligados, a micro-organismos e a outros antígenos. Muitos dos produtos de clivagem biologicamente ativos das proteínas do complemento também se ligam covalentemente a microrganismos, anticorpos e tecidos nos quais o complemento é ativado. Essa característica assegura que a ativação completa e, por conseguinte, as funções biológicas do sistema do complemento sejam limitadas a superfícies de células microbianas ou aos locais onde há anticorpos ligados a antígenos e não ocorram no sangue. ✓ A ativação do complemento é inibidapor proteínas reguladoras presentes nas células normais do hospedeiro e ausentes nos micro-organismos. As proteínas reguladoras são uma adaptação de células normais que minimizam danos causados pelo complemente às células do hospedeiro. Os micro-organismos não possuem essas proteínas reguladoras, o que possibilita a ativação do complemento sobre as superfícies dos micro-organismos. ➢ Vias de Ativação do Complemento: Existem três vias principais de ativação do complemento: a via clássica, que é ativada por determinados isotipos de anticorpos ligados a antígenos; a via alternativa, que é ativada na superfície das células microbianas na ausência de anticorpo; e a via das lectinas, que é ativada por uma lectina plasmática que se liga a resíduos de manose em microrganismos. Embora as vias de ativação do complemento difiram na forma como são iniciadas, todas elas resultam na geração de complexos de enzimas que são capazes de clivar a proteína mais abundante do complemento, C3. As vias alternativas e das lectinas são mecanismos efetores da imunidade inata, ao passo que a via clássica é um dos principais mecanismos de imunidade humoral adaptativa. O evento central na ativação do complemento é a proteólise da proteína do complemento C3 para gerar produtos biologicamente ativos e a subsequente ligação covalente de um produto de C3, denominado C3b, a superfícies celulares microbianas ou ao anticorpo ligado ao antígeno. A ativação do complemento depende da geração de dois complexos proteolíticos: a C3-convertase, que cliva C3 em dois fragmentos proteolíticos denominados C3a e C3b; e a C5-convertase, que cliva C5 em C5a e C5b. Por convenção, os produtos proteolíticos de cada proteína do complemento são identificadas por sufixos em letras minúsculas, sendo a referente ao produto menor e b ao maior. C3b torna-se covalentemente ligado à superfície celular microbiana ou a moléculas de anticorpos no local de ativação do complemento. A C5-convertase é montada após a geração prévia de C3b; e essa convertase contribui para a inflamação (pela geração do fragmento C5a) e para a formação de poros nas membranas dos alvos microbianos. • Via Alternativa: a via alternativa de ativação do complemento resulta na proteólise de C3 e na ligação estável de seu produto de clivagem C3b a superfícies microbianas, sem a participação de anticorpos. Quando C3 é clivado, a molécula C3b sofre uma alteração conformacional e o domínio tioéster se move, expondo a ligação tio éster previamente escondida. O C3 é clivado para gerar C3b, em um processo chamado hidrólise espontânea de C3. Uma pequena quantidade de C3b pode se ligar covalentemente a superfícies celulares, inclusive de micro-organismos, através do domínio tioéster, que reage com os grupos amino ou hidroxila das proteínas da superfície celular ou polissacarídeos para formar ligações amida ou éster. Se não ocorrer a formação dessas ligações, o C3b permanece na fase fluida e a ligação de tio éster reativa e exposta é rapidamente hidrolisada, inativando a proteína. Como resultado, a ativação do complemento não pode continuar. Quando o C3b sofre a alteração conformacional pós-clivagem, também ocorre a exposição de um sítio de ligação para uma proteína plasmática denominada fator B. O fator B, então, se liga à proteína C3b que se encontra covalentemente aderida à superfície de um micro-organismo e é clivado por uma serinoprotease plasmática chamada fator D, liberando um pequeno fragmento Ba e um maior o Bb, que permanece ligado ao C3b. O complexo C3bBb é a C3-convertase da via alternativa e tem como função clivar mais moléculas de C3. Quando o C3 é clivado, o C3b permanece aderido às células e o C3a é liberado. A via alternativa de ativação ocorre espontaneamente sobre as superfícies celulares microbianas e não sobre as células de mamíferos. A falta de proteínas reguladoras sobre as células microbianas permite a adesão e ativação da C3-convertase da via alternativa. Além disso, a proteína properdina pode se ligar e estabilizar o complexo C3bBb, o que é favorecida nos micro- organismos em oposição às células do hospedeiro. Algumas das moléculas de C3b geradas pela C3-convertase da via alternativa ligam-se à própria convertase. Isso resulta na formação de um complexo que contém uma metade Bb e duas moléculas de C3b, que funciona como a C5- convertase da via alternativa, a qual cliva a C5 e inicia a etapa posterior da ativação do complemento. • Via Clássica: a via clássica é iniciada pela ligação da proteína C1 do complemento aos domínios CH2 de IgG ou aos domínios CH3 de moléculas de IgM que estão ligadas ao antígeno. Entre os anticorpos IgG, IgG3 e IgG1 (em humanos) são ativadores do complemento mais eficazes do que as outras subclasses. C1 é um complexo de proteína grande e multimérico que liga-se ao anticorpo. A subunidade C1q é constituída por um arranjo radial de seis cadeias, cada uma das quais possui uma cabeça globular ligada por um braço semelhante a colágeno a uma haste central. Esse hexâmero executa a função de reconhecimento da molécula e liga-se especificamente às regiões Fc das cadeias pesadas μ e de algumas γ. Somente anticorpos ligados a antígenos, e não anticorpos livres circulantes, podem iniciar a ativação da via clássica. A razão para isso é que cada molécula de C1q deve se ligar a, pelo menos, duas cadeias pesadas de Ig e ser ativada e cada região Fc de Ig possui apenas um único local de ligação a C1q. Dessa maneira, duas ou mais regiões Fc precisam estar acessíveis para C1, para que a ativação da via clássica seja iniciada. Como cada molécula de IgG possui apenas uma região Fc, várias moléculas de IgG precisam ser aproximadas antes de se ligar a C1q, e esse agrupamento de diversos anticorpos de IgG apenas quando eles se ligam a um antígeno multivalente. Ainda que IgM livre (circulante) seja pentamérica, ela não se liga a C1q porque as regiões Fc estão em uma configuração que as torna inacessíveis a C1q. C1r e C1s são serinoproteases que formam um tetrâmero contendo duas moléculas de cada uma das proteínas. A ligação de duas ou mais das cabeças globulares de C1q a regiões Fc de IgG ou de IgM leva à ativação enzimática do C1r associado, que cliva e ativa C1s. C1s ativado cliva a proteína seguinte na cascata, C4, para gerar C4b. C4 é homóloga a C3, e C4b contém uma ligação de tioéster interno, semelhante àquele em C3b, que forma ligações covalentes do tipo amida ou éster com o complexo antígeno-anticorpo ou com a superfície adjacente de uma célula à qual o anticorpo está ligado. Esta ligação de C4b assegura que a ativação da via clássica prossiga sobre uma superfície celular ou complexo imune. A proteína seguinte do complemento, C2, forma então complexo com o C4b ligado à superfície celular e é clivada por uma molécula de C1s próxima para gerar um fragmento solúvel de C2b e um fragmento C2a maior que permanece fisicamente associado a C4b na superfície da célula. O complexo resultante, C4b2a, é a C3-convertase da via clássica; ela tem a capacidade de se ligar e clivar C3. A ligação deste complexo enzimático a C3 é mediada pelo componente C4b, e a proteólise é catalisada pelo componente C2a. A clivagem de C3 resulta na remoção do fragmento pequeno C3a; e C3b pode formar ligações covalentes com as superfícies das células ou com o anticorpo em que está ocorrendo a ativação do complemento. C3b, uma vez depositado, pode se ligar ao Fator B e gerar mais C3-convertase pela via alternativa. O resultado final das diversas etapas enzimáticas e da amplificação é que uma única molécula de C3 convertase pode levar à deposição de milhares de moléculas de C3b na superfície da célula em que o complemento é ativado. Os passos-chave iniciais das vias alternativas e clássica são análogos: C3 na via alternativa é homóloga a C4 na via clássica, e o Fator B éhomólogo a C2. Algumas das moléculas de C3b geradas pela C3-convertase da via clássica ligam-se à convertase (como na via alternativa) e formam um complexo C4b2a3b. Este complexo funciona como a C5-convertase da via clássica; cliva C5 e inicia as etapas terminais da ativação do complemento. • Via das Lectinas: a via das lectinas de ativação do complemento é desencadeada pela ligação de polissacarídios microbianos a lectinas circulantes, tais como a lectina ligadora de manose plasmática (MBL) ou as ficolinas, sempre na ausência de anticorpo. • Etapas Finais da Ativação do Complemento: as C5- convertases geradas pela alternativa clássica ou das lectinas iniciam a ativação dos componentes da via terminal do sistema complemento, o que culmina na formação do complexo citocida de ataque à membrana (MAC). As C5-convertases clivam C5 em um pequeno fragmento, C5a, que é liberado, e outro fragmento com duas cadeias C5b, que permanece ligado às proteínas do complemento depositadas na superfície da célula. C5b sustenta uma conformação transitória que é capaz de se ligar às proteínas seguintes da cascata, C6 e C7. O componente C7 do complexo resultante C5b,6,7 é hidrofóbico e se insere na bicamada lipídica das membranas celulares, onde se torna um receptor de alta afinidade para a molécula C8. A proteína C8 é um trímero composto por três cadeias distintas, uma das quais se liga ao complexo C5b,6,7 e forma um heterodímero covalente com a segunda cadeia; a terceira cadeia se insere na bicamada lipídica da membrana. Este complexo C5b,6,7,8 (C5b-8) inserido estavelmente tem uma capacidade limitada de lisar as células. A formação de um MAC completamente ativo é alcançada pela ligação de C9, o componente final da cascata do complemento, ao complexo C5b-8. C9 é uma proteína sérica que se polimeriza no local de ligação de C5b-8 para formar poros nas membranas plasmáticas. A entrada de água resulta em aumento osmótico e ruptura das células em cuja superfície o MAC foi depositado. ➢ Receptores para Proteínas do Complemento: Muitas das atividades biológicas do sistema do complemento são mediadas pela ligação de fragmentos do complemento a receptores de membrana expressos em vários tipos celulares. o O receptor de complemento do tipo 1 (CR1 ou CD35) funciona principalmente para promover fagocitose de partículas recobertas por C3b e C4b e remoção dos imunocomplexos da circulação. É expresso principalmente em células derivadas da medula óssea, incluindo eritrócitos, neutrófilos, monócitos, macrófagos, eosinófilos e linfócitos T e B. o O receptor do complemento do tipo 2 (CR2 ou CD21) tem como função estimular as respostas imunes humorais, aumentando a ativação de células B por antígenos e promovendo a retenção de complexos antígenoanticorpo nos centros germinativos. CR2 está presente em linfócitos B, células dendríticas foliculares e em algumas células epiteliais. Liga-se especificamente aos produtos de clivagem de C3b, denominados C3d, C3dg e iC3b. Em humanos, CR2 é o receptor de superfície celular para o vírus Epstein-Barr, um herpes-vírus que causa a mononucleose infecciosa e também é associado a diversos tumores malignos. o O receptor do complemento do tipo 3, também chamado Mac-1 (CR3, CD11bCD18), é uma integrina que funciona como um receptor para o fragmento iC3b gerado por proteólise de C3b. Mac-1 é expresso em neutrófilos, fagócitos mononucleares, mastócitos e células NK. o O receptor de complemento do tipo 4 (CR4, p150,95, CD11c/CD18) é uma outra integrina com uma cadeia α diferente (CD11c) e a mesma cadeia β do Mac-1. o O receptor do complemento da família das imunoglobulinas (CRIg) é expresso na superfície de macrófagos no fígado e é conhecido como célula de Kupffer. ➢ Regulação da Ativação do Complemento: A ativação da cascata do complemento e a estabilidade de proteínas ativas do complemento são finamente reguladas para evitar a ativação do complemento em células normais do hospedeiro e para limitar a duração da ativação do complemento, mesmo em células microbianas e complexos antígeno-anticorpo. Diferentes mecanismos reguladores inibem a formação da C3-convertase nas etapas iniciais da ativação do complemento, quebram e inativam as convertases de C3 e de C5 e inibem a formação do MAC nas etapas posteriores da via do complemento. A atividade proteolítica de C1r e de C1s é inibida por uma proteína plasmática denominada inibidor de C1 (C1-INH). C1-INH é um inibidor de serinoproteases (serpina) que mimetiza os substratos normais de C1r e de C1s. Se o C1q se ligar a um anticorpo e iniciar o processo de ativação do complemento, C1-INH torna-se um alvo da atividade enzimática da ligação C1r2-C1s2. C1-INH é clivado e impede o acúmulo de C1r2-C1s2 enzimaticamente ativo no plasma e limita o tempo durante o qual C1r2-C1s2 ativo fica disponível para ativar as etapas subsequentes na cascata do complemento. Uma doença hereditária autossômica dominante denominada angioedema hereditário ocorre em virtude de uma deficiência de C1-INH. A montagem dos componentes das convertases de C3 e de C5 é inibida pela ligação de proteínas reguladoras para C3b e C4b depositados nas superfícies das células. Se C3b for depositado sobre as superfícies de células normais de mamífero, ele pode se ligar a várias proteínas de membrana, incluindo a proteína de cofator de membrana (MCP ou CD46), o receptor do complemento do tipo 1 (CR1), o fator de aceleração do decaimento (DAF) e uma proteína plasmática chamada Fator H. Ao se ligar a C3b ou C4b, essas proteínas inibem competitivamente a ligação de outros componentes da C3- convertase, como Bb da via alternativa e C2a da via clássica, bloqueando, assim, a progressão da cascata do complemento. MCP, CR1 e DAF são produzidas por células de mamíferos, mas não por microrganismos. Dessa maneira, esses reguladores do complemento inibem seletivamente a ativação dessa cascata sobre células hospedeiras e permitem que a ativação do complemento prossiga em microrganismos. O C3b associado à célula é degradado proteoliticamente por uma serinoprotease plasmática chamada Fator I, que só é ativa na presença de proteínas reguladoras. MCP, Fator H, C4BP e CR1, todos servem como cofatores para clivagem de C3b (e C4b) mediada por Fator I. Assim, essas proteínas reguladoras das células hospedeiras promovem a degradação proteolítica das proteínas do complemento. A clivagem de C3b mediada pelo Fator I gera os fragmentos chamados iC3b, C3d e C3dg, que não participam na ativação do complemento, mas são reconhecidos por receptores em fagócitos e linfócitos B. A formação do MAC é inibida por uma proteína de membrana chamada CD59. Ele funciona por meio da incorporação de si mesmo nos MACs que estão sendo montados após a inserção de C5b-8 na membrana, inibindo, assim, a subsequente adição de moléculas C9. O CD59 está presente nas células normais do hospedeiro, onde limita a formação de MAC, mas está ausente em microrganismos. A formação do MAC também é inibida por proteínas plasmáticas como a proteína S, que funciona por meio da ligação aos complexos C5b, 6,7 solúveis e, assim, impede sua inserção em membranas celulares próximas ao local onde a cascata do complemento foi iniciada. ➢ Funções do Complemento: As principais funções efetoras do sistema do complemento na imunidade inata e na imunidade adaptativa humoral são promover a fagocitose de microrganismos sobre os quais o complemento é ativado, estimular a inflamação e induzir a lise desses microrganismos. • Opsonização e Fagocitose: os microrganismos sobre os quais o complemento é ativado pela via clássica ou pela via alternativa tornam-se revestidos com C3b, iC3b ou C4b e são fagocitados pela ligação dessas proteínas aos receptores específicos em macrófagos e neutrófilos. A ativação do complemento leva à geração de C3be de iC3b ligado covalentemente a superfícies celulares. Tanto C3b quanto iC3b atuam como opsoninas, em virtude do fato de que se ligam especificamente a receptores em neutrófilos e macrófagos. C3b e C4b ligam-se a CR1, e iC3b liga-se a CR3 (Mac-1) e CR4. A fagocitose de microrganismos dependente de C3b e de iC3b é um importante mecanismo de defesa contra infecções nas imunidades inata e adaptativa. Um exemplo da importância do complemento é a defesa do hospedeiro contra bactérias com cápsulas ricas em polissacarídios, tais como pneumococos e meningococos, que é mediada primariamente pela imunidade humoral. Os anticorpos IgM contra polissacarídios capsulares ligam-se às bactérias, ativam a via clássica do complemento e estimulam a eliminação das bactérias por fagocitose no baço. • Estimulação das Respostas Inflamatórias: os fragmentos proteolíticos dos complementos C5a, C4a e C3a induzem inflamação aguda, ativando mastócitos, neutrófilos e células endoteliais. Todos os três peptídios ligam-se a mastócitos e induzem a desgranulação, com a liberação de mediadores vasoativos como a histamina. Esses peptídios também são denominados anafilatoxinas. Em neutrófilos, C5a reforça a motilidade, a adesão firme às células endoteliais e, em altas concentrações, o estímulo do burst respiratório e da produção de espécies reativas de oxigênio. Além disso, C5a pode atuar diretamente sobre as células endoteliais vasculares e induzir aumento da permeabilidade vascular e expressão de Pselectina, o que promove a ligação de neutrófilos. • Outras Funções do Sistema Complemento: ao se ligar aos complexos antígeno-anticorpo, as proteínas do complemento promovem a solubilização destes complexos e sua eliminação por fagócitos. Se os imunocomplexos se acumulam no sangue, eles podem ser depositados na parede dos vasos e induzir reações inflamatórias que danificam os vasos e o tecido circundante. A formação de imunocomplexos pode exigir não apenas a ligação multivalente das regiões Fab de Ig a antígenos, mas também as interações não covalentes das regiões Fc das moléculas de Ig justapostas. A proteína C3d gerada a partir de C3 liga-se a CR2 em células B e facilita a ativação dessas células e o início das respostas imunes humorais. C3d é gerado quando o complemento é ativado por um antígeno, seja diretamente ou após a ligação ao anticorpo. A ativação do complemento resulta na ligação covalente de C3b e de seu produto de clivagem, C3d, ao antígeno. Os linfócitos B podem se ligar ao antígeno através de seus receptores de Ig e também, simultaneamente, ao C3d ligado ao antígeno por meio do CR2, o correceptor para o receptor de antígeno das células B, aumentando, assim, a sinalização induzida pelo antígeno em células B. Antígenos opsonizados também estão ligados a células dendríticas foliculares nos centros germinativos dos órgãos linfoides. As células dendríticas foliculares apresentam os antígenos às células B nos centros germinativos; este processo é importante para a seleção de células B de alta afinidade.
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