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CAPA MODALIDADES DE ARTES MARCIAIS, ESPORTES DE COMBATE E LUTAS NOS JOGOS OLÍMPICOS DA ANTIGUIDADE E DA ERA MODERNA Organizador: Heraldo Simões Ferreira Contra capa Ficha catalográfica SUMÁRIO APRESENTAÇÃO .............................................................................. 13 PARTE I: OS JOGOS DA ANTIGUIDADE GREGA E AS MODALIDADES DE LUTAS PRATICADAS NO PERÍODO ............................................... 18 i OS JOGOS DA ANTIGUIDADE GREGA ........................................... 18 II AS MODALIDADES DE LUTAS NOS JOGOS OLÍMPICOS DA ANTIGUIDADE ................................................................................... 18 PARTE II: OS JOGOS DA ERA MODERNA E AS MODALIDADES DE LUTAS INTEGRANTES DO PROGRAMA OLÍMPICO ...................... 19 III JOGOS OLÍMPICOS DA ERA MODERNA ........................................ 19 IV MODALIDADE DE LUTA: BOXE ....................................................... 19 V MODALIDADE DE LUTA: ESGRIMA ................................................ 21 VI MODALIDADE DE LUTA: JUDO ....................................................... 24 VII MODALIDADE DE LUTA: KARATE .................................................. 27 VIII MODALIDADE DE LUTA: LUTA OLIMPÍCA ............................. 29 IX MODALIDADE DE LUTA: TAEKWONDO ................................... 37 PARTE III: MODALIDADES DE LUTAS NÃO OLÍMPICAS SITEMATIZADAS NO BRASIL – BRAZILIAN JIU JITSU E CAPOEIRA ........................ 37 X MODALIDADE DE LUTA: CAPOEIRA .............................................. 38 XI MODALIDADE DE LUTA: JIU-JITSU ................................................ 39 APRESENTAÇÃO DOS AUTORES ................................................... 40 APRESENTAÇÃO Este livro, uma obra composta pelos integrantes do Grupo de Pesquisa e Estudos em Educação Física Escolar-GEPEFE, da Universidade Estadual do Ceará, e por convidados externos, propõe-se a apresentar ao leitor a cultura das modalidades de lutas nos Jogos Olímpicos, tanto aqueles realizados na antiguidade grega, quanto os desenvolvidos na era moderna. O livro é composto por três partes, a primeira, integralizada pelos capítulos I e II. O primeiro capítulo discorre acerca dos Jogos Olímpicos da Antiguidade Grega, suas histórias, lendas e mitos. O segundo apresenta as modalidades de Lutas praticadas naqueles períodos, tais como Pugilato, Luta e Pancrácio, dentre outras. A segunda parte do livro se inicia no capítulo III, que nos oferece um panorama geral dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, apresentando sedes, países, participantes, símbolos e curiosidades. A partir do capítulo IV até o XI, são apresentadas as modalidades de Esportes de Combate presentes nos Jogos da Modernidade, disputados desde 1896, em Atenas, até os dias atuais, são elas: Boxe, Esgrima, Judô, Karate (estará presente nos Jogos de Tóquio, em 2020), Luta e Taekwondo. A terceira e última parte do livro, capítulo X e XI, trata de duas modalidades de lutas não olímpicas, mas que se tratando da cultura de combate no Brasil, não poderiam deixar de ser aqui registrados, a Capoeira e o Brazilian Jiu Jitsu. O texto se volta, inicialmente, para alunos e professores de Educação Física, já que se trata de um dos conteúdos da citada disciplina, as lutas, entendidas como um dos elementos da Cultura Corporal do Movimento. Todavia, também busca como público alvo, alunos, instrutores, monitores e professores de Artes Marciais e Esportes de Combate. Além desses, a obra se direciona também aos estudiosos e interessados na história e no movimento olímpico já que o texto oferece informações, resultados e curiosidades das modalidades de lutas integrantes dos Jogos Olímpicos. Boa leitura! Prof. Dr. Heraldo Simões Ferreira PARTE I: OS JOGOS DA ANTIGUIDADE GREGA E AS MODALIDADES DE LUTAS PRATICADAS NO PERÍODO “O homem, para ser completo, tem que estudar, trabalhar e lutar”. Sócrates Esta parte do livro, representada pelos capítulos I e II, volta-se para a origem dos Jogos na Antiguidade Grega, não somente os Olímpicos, mas outros que também transcorreram nesse período, tais como: Jogos Píticos, Ístmicos e Nemeus, conhecidos como Jogos Pan Helênicos. Os capítulos nos oferecem também histórias da mitologia e lendas de heróis e semideuses que povoaram o percurso dos jogos, embalados por trechos da Ilíada, de Homero. Ademais, no capítulo II, são detalhadas as modalidades de lutas presentes nos antigos jogos. I OS JOGOS DA ANTIGUIDADE GREGA Heraldo Simões Ferreira “Quem vencer em Olímpia gozará de uma calmaria doce como o mel”. Píndaro Entendemos por esporte uma ação institucionalizada regida por um conjunto universal de regras, que se desenvolve em forma de competição entre duas ou mais pessoas, e que possui como objetivo designar o vencedor ou registrar recordes (BETTI, 1991). O esporte da Era Moderna surge na Inglaterra no período da Revolução Industrial, quando os operários e a classe média, com mais tempo para o lazer, criam as manifestações que são conhecidas, tais como o futebol, o rúgby, o atletismo moderno e o boxe. Mas, e na antiguidade? Mais precisamente na Grécia, berço dos Jogos Olímpicos, como os esportes eram praticados? Quais as modalidades praticadas? E as modalidades de lutas, foco de estudo desta pesquisa, quais eram e como eram praticadas? Os Jogos Olímpicos1 não eram os únicos que aconteciam na sociedade grega, havia outros, entre eles: a) Jogos Píticos2, que ocorriam em homenagem ao deus da música e eram realizados no santuário de Apolo, em Delfos; b) Jogos Ístmicos , que aconteciam no santuário de Poseidon3, no istmo de Corinto, era uma homenagem ao deus do mar, por isso continham provas aquáticas, entre elas: o remo; e, c) os Jogos Nemeus, alocados no santuário de Nemea, dedicados a Zeus4 (FREITAS; BARRETO, 2008). O conjunto desses jogos era conhecido como Jogos Pan Helênicos. Nos Jogos Pan Helênicos, as modalidades de lutas sempre foram populares e bastante concorridas. A luta proporcionou situações de destaque nos jogos antigos, como retratadas a seguir. Muitos competidores famosos registraram suas conquistas nos Jogos da Antiguidade Grega. Platão (427-347 a.C) venceu a prova de luta para juvenis 1 Para saber mais sobre os esportes dos Jogos Olímpicos da Antiga Grécia assista ao vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=KQC-Xw5VjpE&feature=related 2 Jogos Píticos – A origem do nome se explica através do mito em que Apolo, apenas com um dia de vida, matou a serpente Pitão no local onde Delfos fora construído. As sacerdotisas de Delfos eram chamadas de pítias ou pitonistas. 3 Deus do Mar. 4 O pai de todos os deuses da mitologia grega. nos Jogos Ístmicos. O citado pensador possuía grande admiração pelas modalidades de combate. Em sua obra República, menciona que a sociedade grega deveria se preocupar primeiro com a ginástica, seguida da música e depois da educação dos guerreiros, porque a arte da luta da guerra era de extrema necessidade (FIGUEIREDO, 2006) Nos Jogos Nemeus, a luta entre Creugas e Damoxenus foi o evento de maior repercussão, sendo representada em escultura no Museu do Vaticano. No ano aproximado de 400 a.C., em Nemeia, os dois lutadores combateram por um longo período e não se chegoua uma decisão do vencedor, pois ambos acordaram em permitir que cada um desse um golpe final no outro sem defesa alguma. Creugas golpeou Damoxenus na cabeça sem qualquer efeito. Damoxenus golpeou Creugas com a mão aberta abaixo do braço do adversário, matando-o (DRAEGER e SMITH, 1969). Ainda havia, como assevera Godoy (1996), os Jogos Fúnebres, os mais antigos de todos os jogos da antiga Grécia. Estes jogos eram uma homenagem aos mortos, e possuíam uma gama de competições envolvendo lutas, corridas de cavalos e de carros. Segundo o autor citado, Homero em sua obra Ilíada5, cita que os Jogos Fúnebres eram realizados para honrar a lembrança de Pátrocolo, amigo de Aquiles6. Gregos, ambos lutaram na Guerra de Troia. Patrócolo combateu como um vencedor, mas foi morto quando tentava atingir o carro de Heitor, príncipe dos troianos. Posteriormente Aquiles vingou a morte de seu companheiro. A Guerra de Troia se passa no ano de 1250 a.C., e assim foi denominada pelo mesmo nome da cidade, localizada na Ásia Menor, Páris, príncipe de Troia, visitando a região do Peloponeso, conheceu Helena, esposa do rei Menelau, por quem se apaixonou. Páris, então, sequestra Helena e a leva para Troia. Na busca da vingança, Menelau solicita ajuda do irmão Agamenon, rei de Micenas, que convoca o exército grego para invadir a cidade e resgatar Helena. O guerreiro Aquiles fazia parte desse exército, juntamente. ao Patrócolo Após anos de luta, os gregos vencem a guerra. Aquiles era o melhor de todos os guerreiros gregos. Era admirado por sua beleza e 5 Poema épico grego que narra os acontecimentos ocorridos no período de pouco mais de 50 dias durante o décimo e último ano da Guerra de Tróia. 6 O melhor de todos os guerreiros gregos, admirado por sua beleza e capacidade de luta, era invulnerável em todo o seu corpo, exceto no calcanhar. capacidade de luta. Todo o seu corpo era invulnerável, exceto o calcanhar, local onde, posteriormente, foi abatido (FERREIRA, 2011). É importante ressaltar que os Jogos Fúnebres apresentavam duas provas de combate: o pugilato e a luta, das quais participou Ulisses (FIGUEIREDO, 2006). A seguir é apresentado um relato da Ilíada que cita as modalidades de lutas dos jogos: Então ele propôs prêmios para o pugilismo doloroso (…). E em pé, disse: - Atrida, e outros, convidamos, para estes prêmios, dois homens, os melhores, a que se batam erguendo altos os punhos. Aquele a quem Apolo tiver concedido a vitória, a juízo de todos os Aqueus, partirá levando a mula resistente para a sua tenda; o vencido ganhará a taça de duas asas. Imediatamente se levantou um homem bravo e grande, hábil pugilista, Epeu, filho de Panopeu. Deitou a mão à mula resistente, e exclamou: - Aproxime-se o que irá ganhar a taça de duas asas. Afirmo que nenhum outro Aqueu levará a mula, depois de me vencer no pugilismo; pois me gabo de ser o melhor. Declaro, e isto há de consumar-se: rasgarei a pele e machucarei os ossos do adversário que me aparecer pela frente; os seus amigos devem ficar ao pé, em bom número, prontos a transportá-lo e a tratá-lo, domado pelas minhas mãos. Ele disse, e todos, mudos, guardaram silêncio. Só Euríalo se levantou, homem igual a um deus, filho de Mecisteu, o príncipe nascido de Tálao, que outrora veio a Tebas, quando Édipo tombou estrondosamente, para o seu funeral; e ele venceu aí todos os filhos de Cadmo. O filho de Tideu, célebre pela sua lança, afadigava-se em torno de Euríalo, encorajando-o com as suas palavras, pois desejava bastante a vitória dele. Passou-lhe primeiro o cinto, depois lhe deu as correias, bem talhadas no coiro de um boi campestre. Os dois adversários, tendo-se cingido, vieram para o centro da arena, e, erguendo diante de si as suas mãos sólidas, os dois ao mesmo tempo, caíram um sobre o outro, enredando as suas mãos pesadas. Era terrível o estalo dos seus queixos, e o suor corria por toda a parte dos seus membros. O divino Epeu arrojou-se e atingiu Euríalo, embora este o espiasse, na face; e ele não se aguentou mais tempo em pé, pois os seus membros brilhantes desfaleceram. Tal como, ao agitar o Bóreas a água, um peixe salta sobre as algas da costa, e a vaga negra o recobre, assim, socado, saltou no ar Euríalo. Mas o magnânimo Epeu, segurando-o nos seus braços, endireitou-o; os seus companheiros rodearam-no, e levaram- no através da assembleia, arrastando os pés, cuspindo um sangue espesso, de cabeça pendente para o lado. Colocaram- no no meio deles e levaram-no, privado de sentidos; e eles próprios, abalando, transportaram a taça de duas asas. O filho de Peleu depôs logo, pela terceira vez, outros prêmios, os quais mostrou aos Dánaos, os da luta dolorosa: para o vencedor uma grande trípode, indo ao lume, que os Aqueus entre si a avaliavam em doze bois; para o vencido, expôs uma mulher; ela sabia fazer muitos favores, e avaliaram-na em quatro bois. Aquiles, de pé, disse aos Argivos: - Levantai-vos, vós que ides tentar mais esta prova! Ele disse. Avançou então o grande Ájax, filho de Télamon, e ergueu-se também Ulisses, o astucioso, conhecedor de tudo o que é vantajoso. Ambos, tendo-se cingido, vieram para o centro da arena, e envolveram-se estreitamente um ao outro nos seus braços sólidos, como as vigas que um carpinteiro famoso ajustou, no alto de uma casa, para obstar à violência dos ventos. As suas costas estalavam sob as suas mãos ousadas, duramente puxadas; o seu suor escorria. Tumores abundantes – sobre os seus flancos e os seus ombros – purpúreos de sangue, inchavam; mas eles não cessavam de desejar a vitória, pela trípode bem feita. Nem Ulisses podia fazer deslizar o outro, e levá-lo ao solo, nem Ájax, detido pela forte resistência de Ulisses. E, como eles aborrecessem os Aqueus de belas grevas, o grande Ájax, filho de Télamon, disse a Ulisses: - Descendente de Zeus, filho de Laertes, astucioso Ulisses, levanta-me ou levanto-te eu: Zeus fará o resto. Tendo dito ele levantou-se. Mas Ulisses não esqueceu a manha. Bateu-lhe com o calcanhar na curva da perna, fez vergar os seus membros, derrubou-o para trás; e sobre o seu peito caiu Ulisses. As tropas olharam e admiraram. Por sua vez, o divino, o resistente Ulisses levantou Ájax, mas pouco arrancando ao solo, sem o elevar mais acima; entretanto dobrou-lhe o joelho, e ambos caíram por terra, um ao lado do outro, e sujaram-se de poeira. Erguidos de um salto, eles lutariam uma terceira vez, se Aquiles em pessoa, levantando- se, os não houvesse travado: - Não insistais mais, não vos canseis mais em pegas dolorosas, a vitória pertence a ambos. Tomai prémios iguais, e parti, para deixar concorrer outros Aqueus. Ele disse. Os outros escutaram-no bem e obedeceram-lhe; e sacudindo a poeira, revestiram as suas túnicas (HOMERO, A Ilíada, s/d, p. 333-335) Figueiredo (2006) explicita que, pelo relato apresentado, fica evidente que há uma regulamentação diferenciada para a luta desarmada com objetivos de derrube, através de pegas e projeções, e outra com objetivos de ferida intencional com os punhos (pugilismo). Pela primeira vez na história escrita tal fato é observável. Godoy (1996) cita que também eram realizados os Jogos das Panateneias e os Jogos Heranos. Nas Panataneias eram realizados concursos de beleza, sacrifícios, eventos artísticos, hípicos, competições de atletismo e de lutas. Nas competições hípicas, havia um torneio muito perigoso que constava de uma corrida de carros puxados por cavalos e conduzidos por dois participantes. Enquanto um dos participantes dirigia o carro, o outro deveria saltar para fora e para dentro do carro em velocidade. No atletismo, havia uma prova de corrida com tochas, em quecada equipe continha quarenta integrantes, dispostos 25 metros de distância entre si. A tocha passava de mão em mão, e vencia a competição quem conseguisse acender primeiramente a fogueira na chegada. Esta prova era realizada para lembrar aos gregos o mito do titã Prometeu, que roubou o fogo dos céus para levar aos humanos. Em 380 a.C., Licurgo, um líder político de Atenas, iniciou a construção do Panatenaico, suntuoso estádio em forma de ferradura, para que ali fossem realizadas as provas das Panateneias. A decoração do Panatenaico superava ao Circo Máximo e ao Coliseu de Roma, reconhecidos monumentos da arquitetura da antiguidade (Id lb). Os Jogos Heranos eram organizados em homenagem a Hera, esposa de Zeus. Eram realizados no mês da virgem, junho ou julho atual, só mulheres competiam Os gregos estimulavam as mulheres a praticarem atividades físicas, pois achavam que assim teriam filhos saudáveis e fortes. Havia apenas uma prova que consistia de uma corrida de 162 metros. As mulheres corriam descalças e usavam uma roupa que cobria apenas o seio esquerdo (Id lb). De acordo com o autor referido, os Jogos Olímpicos eram o maior evento esportivo da Grécia Antiga. Eram mais importantes que todos os outros jogos. Também era uma forma de homenagear Zeus, o soberano do Olimpo7. Existem muitas versões para explicar a origem dos jogos da antiguidade, como também, muitos mitos gregos que tentam explicar o início das competições. Tal fato é um mistério, pois mito e realidade se confundem com os princípios da história grega (LOUREIRO; CARNEIRO, 2011) Há, por exemplo, a história mitológica que relata que o herói Pélope institui os Jogos em honra ao rei Oinomaos, pai de Hipodâmia. Esse rei propunha um desafio de corrida de biga para quem quisesse se casar com sua filha. Se o pretendente vencesse, casaria com Hipodâmia. Se fosse derrotado, seria morto pelo rei. Vários pretendentes já haviam morrido nessa disputa. 7 Local onde moravam os deuses da mitologia grega Pélope interessou-se pelo desafio. No entanto, ele utilizou uma estratégia traiçoeira, subornando o cocheiro do rei, Mirtilo. Este trocou as cavilhas de madeira das rodas do rei por pregos de cera. As cavilhas se romperam durante a prova, causando a morte de Oinomaos. Pélope casou-se, então, com Hipodâmia e instituiu os Jogos em memória à morte de Oinomaos. Outra versão do mito relata que os Jogos foram criados para celebrar a vitória dele (LOUREIRO; CARNEIRO, 2011). Segundo outra lenda registrada na antiga poesia grega, o semideus grego Héracles (conhecido como Hércules pelos romanos) foi o responsável pela fundação dos Jogos, após a conclusão de um dos seus 12 trabalhos. De acordo com o relato, Héracles instituiu os Jogos em comemoração a sua vitória sobre Áugias, um rei de Elis. Áugias tinha três mil cabeças de gado, mas toda a vizinhança sofria com o mau cheiro exalado por esse rebanho. Além disso, o solo já não era fértil devido a grande quantidade de esterco encontrado. Áugias prometeu dar uma décima parte de seu rebanho para quem fizesse a limpeza do estábulo em um dia. Héracles aceitou o desafio. Ele desviou o curso de dois rios, Alfeu e Peneu, fazendo com que as águas levassem todo o esterco que causava o mau cheiro, cumprindo o prometido. Após o feito, Áugias se recusou a pagar o combinado, despertando a cólera de Héracles. Para se vingar, Héracles matou Áugias e instituiu os Jogos Olímpicos em comemoração àquela façanha. Há quem diga que ele comemorou essa vitória fazendo uma clareira em um bosque sagrado em Olímpia e criou os Jogos para homenagear seu pai, Zeus. Uma particularidade interessante é o relato, o qual menciona que Héracles era neto de Pélope. Assim, é mais aceitável que a lenda de Pélope tenha precedido a de Héracles (LOUREIRO; CARNEIRO, 2011). Segundo uma versão mais provável, um rei grego da cidade de Elis, chamado de Ifíto, foi informado pelo oráculo de Delfos que ele poderia salvar a Grécia da praga das guerras das cidades-estados, se ele iniciasse os Jogos Olímpicos. Na época, a Grécia não era um único estado (país). Era constituída por várias cidades-estados, que possuíam independência política e econômica (LOUREIRO; CARNEIRO, 2011). Essas cidades-estados, muitas vezes, eram rivais e havia muita guerra. O rei Ifíto estabeleceu uma trégua olímpica temporária e convidou todas as cidades-estados para se unirem e competirem em paz na cidade de Olímpia. Olímpia era dividida em uma área sagrada, chamada de Altis, e uma área secular (não religiosa). Na área sagrada, ficavam localizados os templos sagrados, incluindo o de Zeus e o de sua esposa, a deusa Hera; os altares, em que eram feitos os sacrifícios; e os Treasuries que eram pequenas construções, onde as oferendas, como vasos e estátuas, eram colocadas (LOUREIRO; CARNEIRO, 2011). O templo de Zeus era o maior da Grécia e possuía, em seu interior, a célebre estátua de Zeus, com mais de 12 metros de altura, confeccionada com ouro e marfim. Foi considerada pelos antigos uma das sete maravilhas do mundo. A área secular continha as áreas de treinamento e os locais de competição, incluindo o ginásio, a palestra, o estádio, o hipódromo, além dos locais utilizados para a administração dos jogos ou para receber hóspedes importantes. Apenas os sacerdotes e os agentes responsáveis por cuidar do santuário viviam em Olímpia. Durante as competições, além de atletas e espectadores, os comerciantes de todos os tipos se deslocavam para o local. Foi estimado, um número de pessoas presentes, maior do que 40 mil, nos Jogos Olímpicos. Realizados a cada quatro anos, durante quase 1.200 anos, de forma ininterrupta, os Jogos Olímpicos alcançaram seu apogeu nos séculos V e IV a.C. Tornaram-se o maior festival da Grécia Antiga. O evento foi tão importante que o tempo não era contado em anos, mas era medido pelo intervalo de quatro anos entre os Jogos. Esse período era chamado de Olimpíada (LOUREIRO; CARNEIRO, 2011). Outros autores, como Freitas e Barreto (2008), citam que os Jogos Olímpicos foram criados pelos gregos em 776 a.C. e:, na primeira edição dos jogos, só foi apresentada uma prova, a corrida. Após esta edição inaugural houve 293 edições. Os jogos faziam parte do calendário grego e, após a invasão romana, em 149 a.C., foi percebido uma dicotomia entre o estilo grego de competir, baseado no ideal guerreiro, em que se lutava pela glória pessoal, já na forma romana era o de participar das competições, pois o importante era competir para o público. Dessa forma, os jogos foram se tornando mais populares. Em 393 d.C., o imperador de Roma, Teodósio, converte-se ao cristianismo e proíbe todas as manifestações pagãs, dentre elas os Jogos Olímpicos. Os autores citados explicam que os vencedores dos jogos eram considerados semideuses e recebiam como prêmio uma coroa de louros ou ramos de oliveira silvestre8. Os campeões tornavam-se celebridades e possuíam muitos privilégios ao retornar para suas cidades de origem. Estátuas eram esculpidas, e versos eram compostos em suas homenagens, muitos eram eleitos para exercer cargos públicos (Id lb). Quando os campeões olímpicos voltavam à terra natal, teria outra grade festa. Algumas cidades construíam um arco do triunfo para receber os heróis, além das maravilhosas filas de cavalheiros. Naquela época tumultuada, os gregos abriam portões para os campeões olímpicos porque eles acreditavam que eles haviam sido abençoados por Zeus e que os inimigos não ousariam entrar na cidade por este portão. Na cerimônia de congratulações, coros cantavam odes, os polemistasfaziam discursos, e as pessoas mostravam seus elogios e admissões de várias maneiras. Os prêmios para os vitoriosos eram inicialmente ritualísticos como, por exemplo, na forma de estátuas; cerimônias religiosas etc. Depois, os campeões olímpicos passaram a obter outros privilégios: a alimentação seria garantida pela Cidade-estado, os melhores lugares nos teatros eram sempre reservados para eles etc. (CRI, 2011, s/p) Para Godoy (1996), as recompensas foram diversas. No início dos jogos, os atletas recebiam um pedaço de animal sacrificado a Zeus; a coroa de oliveira, segundo historiadores, só foi instituída a partir do sétimo Jogos Olímpicos. A coroa de oliveira era apenas simbólica, pois os vencedores recebiam homenagens como outras formas de recompensa. Poemas eram escritos, estátuas erguidas e o nome dos campeões gravados nos muros dos edifícios públicos (Id lb). As cerimônias de premiação aconteciam em dois momentos, segundo relatam Freitas e Barreto (2008, p. 16): 8 Oliveira Silvestre – Os gregos acreditavam que esta árvore possuía alma e era sagrada. Um mito diz que a árvore chegou à Grécia pelas mãos de Atena, a deusa da sabedoria. Ela e Poseidon, deus dos mares, lutaram pelo domínio da região, venceria quem oferecesse aos humanos algo de grande utilidade. Poseidon ofereceu o cavalo e Atena, por sua vez, domou o animal. Na pedra onde o cavalo surgiu brotou uma oliveira. A deusa ainda ensinou os gregos a preparar o azeite. Em homenagem a deusa a região disputada ganhou o nome de Atenas. Os ramos de oliveira, além de coroar os campeões dos jogos olímpicos, também eram utilizados em assassinos, em uma espécie de purificação antes da pena de morte. Logo depois da prova os espectadores arremessavam flores e amarravam fitas vermelhas na cabeça e nas mãos do campeão, enquanto o árbitro da prova lhe entregava um ramo de palma e uma coroa de ramos de oliveira, pinho ou louros. Nos últimos dias dos jogos, uma cerimônia reunia todos os premiados no templo de Zeus, mas sem a presença do público. Era praticamente uma cerimônia religiosa, em que cada campeão ouvia o anúncio de seu próprio nome, seguido dos nomes dos pais e cidade de origem, para depois ter a cabeça ungida com kotinos, óleo sagrada. Nos quadragésimos-sétimos Jogos Olímpicos, por decreto de Sólon, legislador em Atenas, o vencedor de cada prova deveria receber uma recompensa financeira, ter seus impostos isentos e possuir lugar de destaque em teatros e em cerimônias públicas. Em outras cidades, os vencedores recebiam casas e títulos de nobres. Na cidade-estado Esparta, esses vencedores recebiam o privilégio de combater ao lado do rei (Id lb). Os jogos eram regidos por leis específicas, como cita Godoy (1996): a) só poderiam participar das competições cidadãos gregos e livres; b) não poderiam ter sido penalizados pela justiça ou possuir comportamento imoral; c) cumprir o período de concentração pré-competição, classificar-se nas provas eliminatórias e prestar juramento; d) as mulheres casadas não podiam assistir aos jogos, se o fizessem eram arremessadas do alto do monte Typeu; e) era proibido matar o adversário ou provocar sua morte, f) da mesma forma, não era permitido comportamento desleal; g) também era proibido amedrontar os oponentes; g) os árbitros ou participantes corruptos eram punidos com chibatadas; h) havia vencedor por ausência de competidor adversário; i) não eram admitidas ofensas aos árbitros; j) havia a possibilidade de recorrer às decisões ao Senado Olímpico, porém, se o resultado fosse mantido, o competidor seria punido com chibatadas. REFERÊNCIAS BETTI, M. Educação Física e Sociedade. São Paulo: Movimento, 1991. CRI. Memórias olímpicas. Disponível em: <http://portuguese.cri.cn/183/2006/09/11/1@51074.htm>. Acesso em 13 de janeiro de 2011. DRAEGER, D.; SMITH, R. Asian Fighting Arts, Tokyo; New York; London: Kodansha, 1969. FERREIRA, H. S. Projeto Olimpíada e Cidadania. Jogos Olímpicos II: A Antiguidade Grega. Fortaleza: FDR, 2011. FIGUEIREDO, A. A. A. A Institucionalização do Karate. Tese de Doutorado em Motricidade Humana. Lisboa: Universidade Técnica de Lisboa, 2006. FREITAS, A. BARRETO, M. Almanaque Olímpico Sportv. Rio de Janeiro: Casa da Palavra: COB Cultura, 2008. GODOY, L. Os Jogos Olímpicos na Grécia Antiga. São Paulo: Nova Alexandria, 1996. HOMERO. A Ilíada. s/d, (p. 333-335). LOUREIRO, A. C. C.; CARNEIRO, R. F. de V. Os Jogos Olímpicos III: Era Moderna. Olimpíada e Cidadania/ Um grande salto profissional. Fundação Demócrito Rocha. Universidade Aberta do Nordeste, 2010 II AS MODALIDADES DE LUTAS NOS JOGOS OLÍMPICOS DA ANTIGUIDADE Heraldo Simões Ferreira "Vencer a si próprio é a maior de todas as vitórias". Platão 1 INTRODUÇÃO Segundo Godoy (1996), a programação dos Jogos Olímpicos da antiguidade, durante vários anos, ocupava apenas um dia, no qual aconteciam as cerimônias religiosas e a disputa da corrida, primeira modalidade olímpica. Após a inclusão de outras competições, de forma gradativa, o período foi se ampliando, até chegar ao sétimo dia. No primeiro dia, acontecia a cerimônia de abertura, com procissões, cerimônias religiosas, sacrifícios e banquetes. Neste dia, o desfile dos competidores era o grande destaque. As provas de corrida pedestre ocorriam na segunda data. O terceiro dia era dedicado ao pentatlo. As competições de lutas, pugilato e pancrácio eram realizadas no quarto dia dos jogos. O dia seguinte era exclusivamente para as provas juvenis. No sexto dia, o destaque era para as corridas de carro e de cavalos. No dia final, eram realizadas as cerimônias de encerramento dos jogos (Id lb). Os Jogos Olímpicos tiveram durante os anos, em seus programas de modalidades, várias alterações, mas basicamente os esportes eram divididos em cinco grupos (FREITAS; BARRETO, 2008): Corridas, Atletismo, Lutas, Pentatlo e Provas Hípicas. Os atletas competiam, em todos os esportes, sem nenhuma peça de roupa, existem versões sobre o surgimento deste hábito: I - Orsippos, cidadão de Megara, deixou cair sua túnica durante a corrida nos Jogos Olímpicos de 720 a.C., os outros competidores gostaram da ideia e resolveram imitá-lo. II - Os espartanos exigiram que a prática fosse adotada, a partir do século VIII a.C., para que todos os atletas competissem em igualdade de condições. III – Os próprios organizadores dos jogos fizeram a exigência, para evitar que as mulheres, para quem os jogos eram vetados, competissem disfarçadas de homens (FREITAS; BARRETO, 2008, p.20) De acordo com o site Wikipédia (2011), as datas de início de cada prova de esporte de lutas são: 708 a.C.: Luta; 688 a.C.: Pugilato; 648 a.C.: Pancrácio; 632 a.C.: Luta para rapazes; 628 a.C.: Pentatlo para rapazes (rapidamente abandonada); 616 a.C.: Pugilato para rapazes; 200 a.C.: Pancrácio para rapazes. A seguir, são descritas cada prova dos esportes de lutas, suas curiosidades, mitos, lendas e suas particularidades. 2. PENTATLO Figura 01: Atletas treinando para o Pentatlo Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI6939-15294,00.html A modalidade de luta fazia parte da disputa mais popular dos jogos, o Pentatlo. Era a grande prova dos jogos, e se competia na seguinte ordem: corrida (um stadion), arremesso, salto, lançamento e luta (disputado somente pelos atletas que ainda não tivessem sido eliminados) (FREITAS; BARRETO, 2008). O Pentatlo foi introduzido no programa olímpico no ano 708 a. C. por reclamação dos espartanos que afirmavam que os jogos possuíam muitas competições voltadas para a populaçãoem geral e quase nada de útil para a formação de guerreiros. Diante disso, foi, então, criado inicialmente para atletas soldados (FPPM, 2011). O filósofo Aristóteles já dizia: “os desportistas mais perfeitos são os pentatletas, pois, no seu corpo, a força e a velocidade combinam-se numa bela harmonia” (Id lb). Reforçando o pensamento: O Pentatlo foi assim criado para o atleta soldado e dele faziam parte o lançamento do disco e do dardo ou lança, o salto em comprimento, a corrida e o pancrácio, uma espécie de luta livre. O Pentatlo já era a competição que apresentava os melhores e mais completos atletas e ocupava uma posição de grande destaque nos Jogos Olímpicos, representando mesmo o seu clímax: o vencedor recebia a mais alta recompensa e o título de “Victor Ludorum”, tendo ainda que declamar, no “podium”, um poema para toda a audiência (FPPM, 2011, p.4) De acordo com os estudos de Godoy (1996), o Pentatlo (pente – cinco; azion – luta) fazia parte do programa do atletismo, e contrariamente a Freitas e a Barreto (2008), afirma que as provas eram, na ordem: lançamento do disco, salto em extensão, lançamento de dardo, corrida de velocidade e luta. Era uma prova muito complexa, pois exigia velocidade, força e precisão. Surgiu nos décimo-oitavo Jogos Olímpicos, em 708 a.C. e seu primeiro campeão foi o espartano Lampis. Como incluía cinco modalidades exigia de seus competidores habilidades distintas. O estudo se detém a descrever a modalidade de luta do pentatlo. Figura 02: Luta Fonte: http://veja.abril.com.br/especiais/olimpiadas/p_012.html A última modalidade da prova do pentatlo dos Jogos Olímpicos da antiguidade era a luta. Esta era conhecida como Luta Vertical. Os atletas ficavam em pé e poderiam agarrar o adversário, segurar seus braços ou pernas e tentar derrubá-lo. Acredita-se que a luta se encerrava após a terceira queda de um dos atletas (GODOY, 1996). Ainda citando o mesmo autor, um dos golpes mais utilizado e conhecido era o de Presa de Hércules, momento em que o lutador agarrava (cinturava) seu oponente pela cintura, suspendia-o e com um giro o arremessava ao chão. A luta era realizada em um solo de areia para amortecer as quedas. Após a realização do Pentatlo, o programa de atletismo dos Jogos Olímpicos se encerrava. 3. MODALIDADES DE LUTAS A verdadeira meta da luta é, sem dúvida, a vitória em si, e ela, sobretudo se alcançada em Olímpia, era considerada como a mais sublime da terra, já que garantia ao vencedor aquilo que no fundo era a ambição de todo o grego: ser - segundo a expressão de Eliano - admirado em vida e celebrado na morte." Jacob Burckhardt (CRI, 2011, s/p) Para Freitas e Barreto (2008), o grupo de lutas dos Jogos Olímpicos era constituído de três provas: Luta, Pugilato (percussor do boxe) e o Pancrácio (mistura de pugilato e luta). Os autores afirmam que as lutas estão entre os esportes mais antigos, praticados pelos homens. Os autores citam ainda que as lutas fazem parte da mitologia grega – como na Odisseia de Homero e na disputa entre Hércules e Anteo, filho de Poseidon – levavam multidões aos festivais e arenas. Apesar da identidade com a Grécia Antiga, há registros de combates entre lutadores no Egito, por volta de 2.400 a.C. Godoy (1996) afirma que esse grupo de modalidades, por ele denominado de Ataque e Defesa, gozava de grande prestígio e despertava imenso interesse entre os gregos. Dessas provas surgiram a Luta Greco Romana e a Luta Livre, o Boxe e o Vale Tudo, mais tarde conhecido como Mix Martial Arts-MMA ou Artes Marciais Mistas, tais como são conhecidas nos dias atuais. A fascínio dos gregos pelo esporte os levou a torná-la obrigatória nas escolas (CRI, 2011). Freitas e Barreto (2008) relatam que a origem da luta remonta a antiguidade grega, quando os exércitos helênicos se preparavam para os combates corpo a corpo. De acordo com Poliakof (1987, apud FRANCHINI, 2011, p 718): Na Antiguidade, o domínio das técnicas de luta, com e sem implemento, era muito importante para a manutenção e conquista de territórios. Assim, não é incomum encontrar todo um sistema de ensino e treinamento dessas técnicas em diversos povos desse período. Contudo, em tempos de paz, parte dessas técnicas foi ligeiramente modificada para formas mais amenas de combate, as quais poderiam ser praticadas com segurança e ainda assim manter os indivíduos treinados, algo muito importante se considerada a possibilidade de seu uso no campo de batalha. Nesse processo, várias dessas técnicas passaram a ter características de “jogos”, com regras específicas, que atraíam o público por seu caráter espetacular, como ocorria com os Jogos disputados em Olímpia e os jogos públicos com gladiadores em Roma. 3.1 Luta Figura 3: Luta Vertical Fonte: http://prof-adjr.blogspot.com/2010/06/verdade-olimpica-como-surgiram-os- jogos.html Nesta prova só era permitido lutar em pé e o objetivo era derrubar o adversário (FREITAS; BARRETO, 2008). As regras eram simples: quem derrubasse o adversário por três vezes no solo ganhava a disputa. Somente se o atleta tocasse o chão com as costas, quadril ou ombros é que havia a consideração de queda. Não havia tempo determinado para que a luta acabasse, assim as disputas eram intermináveis (GODOY, 1996). Os árbitros assistiam às lutas com varas nas mãos e faziam com que as regras fossem cumpridas tocando nos competidores com o implemento. Como necessitavam de grande preparo físico, o treinamento dos atletas era realizado de diversas formas: carregando fardos pesados, torcendo ferro, correndo contra cavalos e domando novilhos (OLIMPIA, 2011) 3.2 Luta Livre Figura 4: Luta Horizontal Fonte: http://muniqueartes.zip.net/ Segunda a lenda, Zeus, senhor do Olimpo, foi considerado o soberano do mundo somente após vencer em uma Luta Livre, seu pai Kronos. A competição era realizada no sistema de eliminatória simples, momento em que os vencedores vão se enfrentando e os derrotados vão sendo eliminados até que se chegue final. Os lutadores iniciavam a luta em pé e, após um desequilíbrio inicial de um dos atletas provocado pelo oponente, a luta se desenvolvia no solo com técnicas de torções e chaves de articulação. Vencia a contenda que conseguisse fazer o adversário desistir da luta ou então encostasse as costas do oponente junto ao solo por três vezes, não havia tempo limite de combate. Desta forma as lutas não tinham previsão para acabar (GODOY, 1996). Apesar de regras básicas, como não morder ou inserir os dedos nos olhos dos adversários, geralmente as lutas eram violentas. Leonidas de Micenas, duas vezes campeão dos Jogos Olímpicos, procurava quebrar os dedos dos oponentes para tirá-los de combate. O espartano Hipóstenes foi seis vezes campeão dessa prova, tendo inclusive um templo erguido em sua homenagem na sua terra natal, seu filho também foi vencedor em cinco edições dos jogos. Amesinas, campeão em 460 a.C., era pastor e treinava para a competição combatendo touros (Id lb). O autor citado anteriormente conta que o maior lutador dessa prova foi Milon, nascido em Crotona, seu maior mérito foi ter rompido com a hegemonia da vitória dos lutadores de Esparta. Milon era conhecido por sua força descomunal, mas também por ser autor da obra Physiká e ser aluno de Pitágoras. Milon estreou ainda jovem, no quinquagésimo-sétimo Jogos Olímpicos, no ano de 552 a.C., e foi campeão, fato incomum para um novato. Após isso, foi vitorioso em diversas edições dos jogos, e sempre que desafiado, aceitava e vencia seus confrontos. Durante vinte e quatro anos foiconsiderado o homem mais forte da Grécia e era comparado a Hércules. Sua dieta era composta de ingestão de 6,5 quilos de carne, 6,5 quilos de pão e 3 litros de vinho por dia. Seu treinamento era dividido em caminhadas diárias, carregando nas costas um bezerro. Como o ciclo olímpico durava, e até hoje é assim, quatro anos, o bezerro ia crescendo e com isso seu peso também aumentava. Após a prova dos jogos, quando se sagrava campeão, dava uma volta no estádio com o bezerro de quatro anos nas costas, agora já um pequeno touro e, ao final da volta, matava o animal com um soco na testa. Após o sacrifício em homenagem ao seu sucesso, depois de cozido, o touro era devorado por Milon, sozinho (Id lb). Milon se aposentou dos jogos em sua sétima olimpíada, quando, com quarenta e cinco anos, enfrentou Timasiteos, lutador muito mais jovem que soube, com o ímpeto de sua juventude, derrotar o campeão. Milon, aposentado, mergulhou em imensa tristeza a se ver esquecido, perder sua força e envelhecer. A lenda de sua morte conta que ao deparar-se com uma árvore separada ao meio quis parti-la, desferindo um golpe com a mão para atingir seu objetivo, entretanto já não mais portador de força extrema, sua mão ficou presa entre a árvore. Após imensa luta para se desvencilhar da situação e abatido pelo cansaço foi devorado pelos lobos que habitavam aquela região (Id lb). 3.3 Pugilato Figura 5: Pugilato Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI6939-15294,00.html O criador do Pugilato, segundo a lenda, foi Teseu, natural de Atena e conhecido por ter matado o Minotauro9, na Ilha de Creta. Os movimentos dessa luta lembram as técnicas do boxe atual. Não eram permitidos golpes com as pernas e tão pouco técnicas de desequilíbrio, somente a mão era utilizada para atacar (OLIMPIA, 2011). Historiadores afirmam que o Pugilato é um dos esportes mais antigos da humanidade, figuras rupestres mostram homens da pré-história praticando uma espécie de luta rudimentar utilizando somente as mãos por diversão ou autodefesa (FREITAS; BARRETO, 2008). Foi implantado no programa dos jogos em 668 a.C. e seu primeiro campeão foi o romano Onomaste. Era considerada, juntamente com o 9 Na mitologia grega, o Minotauro era, segundo sua representação mais tradicional entre os gregos antigos, uma criatura imaginada com a cabeça de um touro sobre o corpo de um homem Pancrácio, a luta mais violenta do programa olímpico. No princípio, era praticado sem nenhum tipo de bandagem ou proteção nas mãos, posteriormente, os atletas usavam tiras de couro, envolvendo os pulsos, os polegares e uniam os quatro dedos das mãos. Mais tarde, os competidores colocavam bolsa de chumbo ou ponteiras de metal nas tiras de couro, o que provocava golpes destruidores em seus oponentes (figura 07). Essas tiras evoluíram, e se transformaram em luvas, chamadas de cestos. Não havia um uniforme específico, na verdade os atletas competiam sem roupas, apenas com as tiras nas mãos e uma espécie de capacete que protegia o nariz e a testa (GODOY, 1996). O treinamento era feito através de corridas, movimentação e golpes ao ar (sombra) e com sacos de areia, para aprimorar a força e a técnica dos socos. A competição era realizada no centro do ginásio em uma marcação redonda, era proibido sair deste espaço e não havia divisão de categorias por pesos. O sistema era de eliminatória simples. As regras permitiam ataque com mãos abertas ou fechadas, não havia tempo determinado para terminar o confronto, porém durante a luta havia momentos de intervalo, para o descanso dos atletas. O vencedor era declarado após nocautear o oponente, ou quando este desistisse da luta (GODOY, 1996). A luta corpo a corpo era terminantemente proibida e o treinamento era semelhante ao atual: Os atletas golpeavam um odre (saco feito de pele de boi) inflado. Exercitavam-se também em movimentos de ataque e defesa e, nas representações, aparecem sempre nas pontas dos pés, o que nos faz pensar que saltitavam durante os movimentos da luta. O corpo a corpo era proibido. Nenhum golpe podia ser desferido com a intenção de matar. A luta se desenrolava em vários lances e terminava quando um dos competidores já não tinha mais condições físicas ou quando, levantando o braço, dava-se por vencido (OLIMPIA, 2011, s/p) Nos primeiros jogos, os lutadores do Pugilato eram técnicos, mas com o tempo o esporte passou a ser brutal e muito agressivo, as baixas eram comuns e os lutadores terminavam os embates com fraturas e lesões graves. Foram encontrados escritos que diziam: “Eu, Andreolos, lutei no Pugilato dos jogos da Grécia, perdi uma orelha, um olho e fiquei sem sentidos (...) estava preparado para retirar-me da arena, morto ou vivo” (GODOY, 1996). Os atletas, sem protetores bucais, tinham os dentes quebrados e os engoliam, como forma de não demonstrar que os golpes adversários estavam causando estragos (CRI, 2011). De acordo com Figueiredo (2006) a prática do Pugilato induzia seus praticantes a um treino especializado, produzindo uma profissionalização maior que nas outras lutas. Os materiais de treino eram os sacos para bater (khórykio), e uma espécie de estátua de homem com proteções (adriantes), havia também o treino individual de sombra (skiamakhía). Em alguns momentos da história, da prática dessa modalidade, eram permitidos golpes com os pés, porém passaram a ser proibidos, assim como a luta corpo a corpo, sendo considerados válidos apenas socos na altura da cabeça e do tronco. A luta entre Polideuces e Amico, reproduz um combate: E eles, uma vez reforçadas as suas mãos com tiras de pele de boi e enroladas as largas coreias à volta dos braços, reuniram- se no meio respirando morte um contra o outro (…) E este deteve-se, bêbado de golpes e cuspiu sangue vermelho. E eles, todos ao mesmo tempo, os caudilhos, romperam em gritos quando viram as funestas feridas em torno da sua boca e à sua mandíbula. Os seus olhos mergulhavam no seu rosto inchado. O soberano Polideuces confundia-o lançando as suas mãos por toda a parte com ameaças de golpes, mas quando se deu conta que já estava indefeso, alcançou-o com o punho nas sobrancelhas por cima do nariz, e descarnou toda a frente até ao osso. Ele, pelo efeito do golpe, ficou estendido de boca para cima sob o céspede florescente. Quando se levantou, renovou-se o violento combate, e tentavam acabar um com o outro golpeando-se com as duras correias. Mas o caudilho dos bébrices dirigia as suas mãos ao peito e longe do pescoço, enquanto que o invencível Polideuces lhe revolvia todo o rosto com golpes horríveis (…); golpeou-o com a sua pesada mão abaixo da fonte esquerda e deixou cair todo o peso do ombro. Brotou sangue negro rapidamente da fonte aberta e Polideuces acertou-lhe na boca com a esquerda e os dentes apertados rangeram; com golpes mais e mais violentos foi-o ferindo no rosto até lhe rasgar as maças do rosto. (LOPEZ, 2003, p.106). O profissionalismo nos esportes parece ter nascido do Pugilato. Os lutadores, além do treinamento exaustivo, estavam expostos a lesões constantes e não queriam mais lutar por apenas um ramo de oliveiras ou de louros, assim passaram a ganhar recompensas financeiras quando eram vitoriosos (GODOY, 1996). No Pugilato, aconteceram momentos vergonhosos, como o primeiro ato de covardia dos jogos, quando Serapião, natural de Alexandria, abandonou os jogos na véspera de sua luta, com medo. Também aconteceu, no Pugilato, o primeiro caso de suborno dos jogos, idealizado por Eupolos, oriundo da Tessália. Eupolos subornou cinco adversários, pagando-lhesuma quantia em dinheiro para facilitar sua vitória. Ao final da competição o subornador recusou- se a pagar o combinado por alegar que venceu sem a necessidade de facilitação por parte dos oponentes. Obviamente tal situação não foi aceita pelos adversários que o denunciaram no Senado Olímpico. Por este motivo, a partir desse evento, o juramento dos atletas foi instituído na abertura dos jogos (Id lb). O juramento era realizado na Sala do Conselho, ou Senado Olímpico. No ambiente os lutadores se comprometiam em manter um comportamento ético durante os jogos. Para amedrontar os competidores a sala continha diversas estátuas de Zeus, no intuito de mostrar aos atletas que a entidade estava observando tudo e se houvesse irregularidades sofreriam punições divinas (CRI, 2011). Outro fato relevante para ser destacado é que durante aos Jogos Olímpicos de 396 a.C.; evento ainda não permitido que as mulheres assistissem às competições, o Pugilato teve papel importante na mudança dessa determinação. Consta que Pisidoros, neto de um ex-campeão olímpico de grande reputação chamado Diágoras, foi treinado pela mãe, Calipátira. Durante as lutas do filho, Calipátira assitia a tudo das arquibancadas, coberta com um véu para encobrir sua identidade. Após a luta final, quando seu filho foi declarado campeão, Calipátira, movida pela emoção, saiu correndo para abraçar o herdeiro e deixou seu disfarce cair. Ao ser flagrada, cometendo uma heresia, teve sua condenação decretada: ser jogada do penhasco. O filho Psidoros, por ser campeão, pediu para que sua mãe fosse perdoada, pedido aceito por ser um campeão olímpico, pois tinha privilégios, dentre eles o de solicitar a revisão da pena de sua genitora. A partir desses jogos as mulheres puderam assistir aos jogos com restrições (GODOY, 1996). 3.4 Pancrácio Figura 6: Pancrácio Fonte: http://judotradicionalgoshinjutsukan.blogspot.com/2009_01_01_archive.html O Pancrácio10 era a mistura da luta com o Pugilato, uma prova em que a técnica era superada pela brutalidade. Foi implantado no programa dos Jogos Olímpicos de 652 a. C., e seu primeiro campeão foi Lygdamis (GODOY, 1996). Pode ser considerada uma versão helênica das lutas modernas do vale- tudo. Na definição de um dos antigos discípulos de Platão, “uma competição que combinava a luta imperfeita com o pugilismo imperfeito” (FAPESP, 20110. A prova do Pancrácio era realizada em solo rígido e molhado, o que facilitava a queda dos competidores. A regra era simples, não haveria permissão para furar os olhos, morder ou arranhar. Tudo mais era permissível como: chutes, socos, cotoveladas, joelhadas, torções, estrangulamentos e imobilizações, estes eram os golpes preferidos. A luta começava com os adversários em pé e depois se desenvolvia no solo. Se um dos atletas estivesse caído e lesionado, a luta não era interrompida e o atacante continuava desferindo seus golpes. Pela brutalidade e violência da luta, o resultado final da contenda poderia ser mortal (GODOY, 1996). Os atletas, quase sempre guerreiros, nunca se declaravam perdedores, por isso dificilmente desistiam do combate, o que o tornava muito demorado. A crueldade dos regulamentos era inimaginável. Os atletas podiam fraturar os dedos das mãos e dos pés, agarrar as orelhas, cabelos e o nariz dos 10 Para saber mais sobre esta luta assista ao vídeo ‘Arma Humana – Pancrácio’ em: http://www.youtube.com/watch?v=xRbnMxfT3_g adversários, também era permitido o sufocamento, entretanto não poderia provocar a morte do oponente. O Pancrácio era muito violento devido à familiaridade dos gregos com as guerras (CRI, 2011) O termo Pancrácio vem do grego Pancratium (ou Pankratium) que significa poderes totais ou todo poderoso. O lutador dessa modalidade seria um atleta de inigualável força e coragem. Muitos historiadores afirmam que o criador dessa luta, segundo as lendas gregas, seria Hércules, porém outra corrente de estudiosos da cultura da Grécia antiga defende o nome de Teseu, por conta de sua luta contra o Minotauro, como o fundador dessa forma de combate. Há relatos que afirmam que os atletas se preparavam para suas lutas estrangulando leões, possivelmente desta alegoria é que se deve ter sido construída a lenda do primeiro trabalho de Hércules, na qual o mesmo combatia e vencia o Leão da Nemeia (DISCOVERY, 2011). Conforme atesta Figueiredo (2006), o termo Pancrácio significa “força completa” e tecnicamente incluía golpes de socos, chutes e joelhadas, inclusive dirigidas aos genitais; imobilizações no solo; chaves em articulações (tornozelos, joelhos, cotovelos, dedos, etc.) e estrangulamentos. O objetivo não era projetar o adversário ao solo, simplesmente, já que o combate poderia continuar mesmo após a projeção, pois a finalidade era a desistência ou impossibilidade de luta do adversário. Era permitido basicamente tudo, menos introduzir os dedos nos olhos ou no nariz. O sistema de disputa do Pancrácio era similar ao Pugilato: por sorteio, encontravam-se os opositores, e construíam-se a chave dos competidores, que por eliminatórias simples seria revelado o vencedor. Um relato de Filóstrato (Eikones, 2.6.4) citado por Lopez (2003, p. 106- 107) nos apresenta cenas de um combate de Pancrácio: O adversário colheu Arriquión pela cintura, com a intenção de o matar. Pressionou o cotovelo contra o seu pescoço, de maneira a cortar-lhe o alento. Além disso, cravou-lhe as pernas na zona inguinal e com a ponta dos pés agarrou-o por ambas as partes de trás dos joelhos. Quando a morte parecida ao sono já ia penetrando nos sentidos de Arriquión, diminuiu por um instante a pressão das pernas, com o qual nada pode fazer para à astúcia deste. Arriquión, com um pontapé, desprendeu-se de um dos pés e colocou ameaçado o costado direito do adversário porque agora o joelho pendurava-se solto, como que por assim dizer. Arriquión agarrou o adversário, que já não era adversário, firmemente pela virilha, apertando-a com todo o peso do seu flanco direito, pegou na ponta do outro pé com a parte de trás do joelho e, fazendo um movimento brusco para fora com toda a sua força, conseguiu que o tornozelo se deslocasse da articulação. Havia inúmeros críticos do Pancrácio, pela sua violência e brutalidade. Entre os críticos desta modalidade de luta, um relato de Luciano citado por Lopez (2003, p. 107-108) elucida o posicionamento de um cidadão grego: Queres-me tu dizer o que é que pretendem estas pessoas? Uns lançam-se a pontapear o adversário; ouros rodam conjuntamente abraçados pelo solo, como se fossem cães. E daí precipitam-se um contra o outro com a cabeça baixa, golpeando-se no crânio como bodes (…) aquele acaba de colher o adversário pelas pernas e golpeia-o contra o solo. Este recebeu um terrível murraço sobre o queixo, tem a boca cheia de sangue e de areia o desgraçado! Vai cuspindo com ela os seus próprios dentes! Eu gostaria de boa vontade saber para que serve tudo isto. Estas gentes têm o aspecto de serem verdadeiros loucos e creio que não vale a pena persuadisse se estão ou não em toda a sua razão. O Pancrácio era utilizado como base do treinamento dos soldados gregos, incluindo aqueles que pertenciam a Alexandre, o Grande. Estudiosos do assunto afirmam que existem diversos estilos de Pancrácio, com ramificações de lutas de solo (OLIMPIADASUOL, 2011) O maior campeão do Pancrácio foi Pulidamos. Conforme alguns estudiosos, que o lutador Pulidamos para se comparar a Hércules realizou feitos como: venceu um leão usando somente as mãos; combateu contra um touro e arrancou-lhe o casco; e lutoucontra três persas ao mesmo tempo, derrotando ambos, que vieram a falecer em virtude de seus poderosos golpes. A lenda de sua morte diz que o mesmo foi soterrado em uma gruta, pois havia entrado lá para fugir de uma tormenta e quando o teto ameaçou desabar, Pulidamos, confiando em sua força, tentou segurar o teto. De nada valeu seu esforço, foi esmagado pelas rochas (GODOY, 1996). Segundo historiadores, os espartanos não participavam do Pancrácio, pois para eles seria uma grande desonra participar de uma luta e ter de desistir por inferioridade (Id lb). 4 PROVAS JUVENIS E ARTÍSTICAS Além de todas as modalidades de lutas citadas, os jogos permitiam a participação em categorias de idades distintas. As provas para os jovens surgiram no trigésimo-sétimo Jogos Olímpicos, mais precisamente em 632 a.C. Nestes jogos, foram disputadas as modalidades de luta e de corrida. Nos jogos seguintes, o pentatlo foi disputado pela primeira vez e última pelos jovens, já que foi considerado muito violento para a idade jovial (GODOY, 1996) Em 616 a. C., nos quadragésimos-primeiros Jogos Olímpicos, o pugilato passou a fazer parte dos jogos juvenis. Muito tempo depois, na centésima quadragésima quinta edição dos jogos, o pancrácio também foi incorporado (Id lb). Com a chegada dos jovens à competição, havia duas categorias de idade: jovens – até dezoito anos e, adultos, acima da idade citada. Muitos autores e historiadores criticavam a inclusão dos jovens nos jogos, pois o treinamento era intenso e não favorável ao desenvolvimento físico dos não adultos. Aristóteles defendia que o exercício físico para os adolescentes deveria ser leve, sem exageros. As regras das competições eram iguais àquelas disputadas pelos adultos, não eram realizadas adaptações (Id lb). 5. CONCLUSÕES REFLEXIVAS Após o exposto, concluímos que os Jogos Olímpicos da Antiguidade possuíam em seu programa, se comparados com os Jogos Modernos, poucas modalidades de lutas, entretanto tais provas eram extremamente disputadas e algumas deveras perigosas. Verificamos também que os jogos da antiguidade eram realizados em várias cidades, porém o mais popular eram os Jogos Olímpicos, realizados em Olímpia. Os gregos se preparavam para as competições através de árduo treinamento que incluíam inclusive o cuidado de si, ou seja, o autoconhecimento. As recompensas que os campeões da época recebiam, em forma de ramos de louros ou oliveira, homenagens e privilégios, não se comparam com as recompensas financeiras de hoje, visto que o profissionalismo atingiu o esporte atual, trazendo consigo todos os benefícios e malefícios dessa prática. Observamos que as mulheres não tinham permissão para participar dos jogos, situação totalmente revertida nos programas dos Jogos Olímpicos da Modernidade, em que cada edição o sexo feminino foi ganhando o direito de participação integral. Percebemos que existia um método de treinamento dos atletas para os jogos, mas de forma empírica e rudimentar. Na atualidade, com o advento da medicina, da fisiologia e do treinamento desportivo, a preparação dos competidores é assombrosamente superior. Infelizmente, o sentido dos Jogos da Antiguidade, de celebrar e de não apenas competir, vem sendo pouco lembrado. Como legado positivo, observamos que muitas provas e modalidades de lutas daquele período sobreviveram até hoje. O Pentatlo, que continha às provas de lançamento do disco, salto em extensão, lançamento de dardo, corrida de velocidade e luta, alterou suas provas, e atualmente conhecido como Pentatlo Moderno, é composto de uma prova com cavalos, duelo com pistolas de fogo e espada, nado e corrida. Como se vimos, do Pentatlo original, somente a corrida permaneceu, mesmo assim alterada, pois na antiguidade era uma prova de velocidade, e hoje é uma prova de resistência. O grupo de provas de lutas dos Jogos Olímpicos da Antiguidade era constituído de Luta, Pugilato e o Pancrácio (mistura de pugilato e luta). A luta foi sistematizada e dela brotaram a Luta Greco-Romana e a Luta Livre. Do Pugilato, surgiu o Boxe atual. Ambas modalidades de combate (Luta Greco- Romana, Luta Livre e Boxe) fazem parte do programa dos jogos modernos. O Pancrácio influenciou várias formas de luta contemporâneas, dentre elas o Vale Tudo, também conhecido como Mix Marcial Arts (Artes Marciais Mistas - MMA). Como observamos, os gregos influenciaram muito nos Jogos Olímpicos da era Moderna. Os princípios do atletismo moderno "mais rápido, mais alto e mais forte" ("citius, altius e fortius"), relativos aos atos de correr, pular e arremessar, foram instituídos em 1896, porém a filosofia contida neste lema está presente desde 776 a C. quando os jovens e soldados gregos competiam na busca da glória olímpica. REFERÊNCIAS CRI. Memórias olímpicas. Disponível em: <http://portuguese.cri.cn/183/2006/09/11/1@51074.htm>. Acesso em 13 de janeiro de 2011. DISCOVERY. Pancrácio. Disponível em: <http://www.discoverybrasil.com/artes_marciais_home/europe_intro/europe_pa ncracio/index.shtml>. Acesso em: 13 de janeiro de 2011. FAPESP. Os desafios de Olímpia. Revista da FAPESP. Disponível em: <http://www.revistapesquisa.fapesp.br/site_teste/?art=4114&bd=1&pg=1&lg=> Aceso em 24 de janeiro de 2011. FIGUEIREDO, A. A. A. A Institucionalização do Karate. Tese de Doutorado em Motricidade Humana. Lisboa: Universidade Técnica de Lisboa, 2006. FPPM. A história do pentatlo. Disponível em: <http://www.fppm.pt/historiapentatlo.pdf>. Acesso em 13 de janeiro de 2011. FRANCHINI, E. As modalidades de combate nos jogos olímpicos modernos. Disponível em: <http://olympicstudies.uab.es/brasil/pdf/79.pdf > Acesso em 12 de fevereiro de 2011. FREITAS, A. BARRETO, M. Almanaque Olímpico Sportv. Rio de Janeiro: Casa da Palavra: COB Cultura, 2008. GODOY, L. Os Jogos Olímpicos na Grécia Antiga. São Paulo: Nova Alexandria, 1996. OLIMPIA. Os jogos olímpicos na antiga Grécia. Disponível em: < http://olimpia776.warj.med.br/txt05.html>. Acesso em 13 de janeiro de 2011. OLIMPIADASUOL. Olimpíadas da Grécia Antiga. Disponível em: <http://olimpiadas.uol.com.br/2008/historia/grecia/arremesso-disco.jhtm>. Acesso em 13 de janeiro de 2011. WIKIPEDIA. Jogos Olímpicos da Antiguidade. Disponível em:<http://pt.wikipedia.org/wiki/Jogos_Ol%C3%ADmpicos_da_Antiguidade>. Acesso em 12 de janeiro de 2011. PARTE II: OS JOGOS DA ERA MODERNA E AS MODALIDADES DE LUTAS INTEGRANTES DO PROGRAMA OLÍMPICO. Citius, Altius, Fortius Lema Olímpico Nesta parte do livro, mais especificamente no capítulo III, são apresentados o histórico, os lemas, as sedes, mascotes, quadros de medalhas e curiosidades acerca dos Jogos Olímpicos da Era Moderna. Nos capítulos IV a IX são descritas as modalidades de lutas integrantes do programa olímpico, são elas: Boxe, Esgrima, Judo, Karate, Luta e Taekowdo. Nestes capítulos são apresentadas as origens, conceitos, principais fundamentos, curiosidades e aplicações para a Educação Física Escolar. III JOGOS OLÍMPICOS DA ERA MODERNA Bruno Feitosa Policarpo Luiza Lúlia Feitosa Simões Jefferson Campos Lopes Amizade, respeito e excelência Valores Olímpicos 1. INTRODUÇÃO A cultura ocidental deve muito aos antigos gregos. O legado deixado por essa civilização ainda hoje ecoa, com influência em setores tão distintos como a medicina, a geometria, a física, a arquitetura e o teatro, entre outros. Quando o assunto é esporte olímpico,as marcas se tornam ainda mais evidentes. Se o planeta, desde o fim do século IXX, celebra a cada quatro anos o maior evento esportivo da humanidade, isso só é possível porque, tempos atrás, há mais de 2.500 anos, os gregos lançaram a semente das Olimpíadas. Datam de 776 a.C. os primeiros registros históricos das Olimpíadas, época em que os vencedores começaram a ter seus nomes registrados. O termo “Olimpíadas” surgiu após o rei de Ilia, Iftos aliar-se ao monarca de Esparta, Licurgo, e ao rei de Pissa, Clístenes. No templo de Hera, a aliança foi selada, localizado no santuário de Olímpia (LOUREIRO; CARNEIRO, 2010). Ficou acertado que as Olimpíadas seriam realizadas a cada quatro anos. As competições eram vetadas às mulheres, que não podiam nem mesmo assistir às disputas, com exceção das sacerdotisas de Dêmetra. A tradição das Olimpíadas, entretanto, sofreria um duro golpe com a invasão dos romanos à Grécia, em 456 a.C.. Assim, a última Olimpíada da Era Antiga foi realizada em 393 a.C. (LOUREIRO; CARNEIRO, 2010). Foram necessários mais de um milênio e meio para que alguém tivesse a ideia de resgatar uma competição como nas Olimpíadas Antigas. O sonho de que o mundo pudesse juntar-se de tempos em tempos em um grande evento esportivo, coube a um pedagogo/historiador francês. Nesse contexto, o capítulo discorrerá sobre os Jogos Olímpicos da Era Moderna, enfatizando acontecimentos, ao longo da história, que contribuíram para transformar tal evento esportivo numa dimensão planetária, na qual se encontra atualmente. Inicialmente, abordaremos fatos históricos que nos últimos milénios provocaram o surgimento, a proibição e uma nova realização dos Jogos Olímpicos, assim como a exposição de todas as sedes das edições dos Jogos na Era Moderna; em seguida, apresentaremos os Símbolos Olímpicos que foram criados para representar os jogos e seus ideais, por fim, faremos considerações sobre o esporte como um componente crucial da sociedade contemporânea e seu legado olímpico. 2. RECORTES HISTÓRICOS DOS JOGOS OLÍMPICOS De acordo com registros oficiais, a celebração dos Jogos Olímpicos durou até o ano de 393 d. C., quando, por questões religiosas, a celebração foi banida pelo imperador romano, Teodósio I. A sua volta acontece quando os jogos foram reeditados em 1896, na cidade de Atenas, por iniciativa do educador francês Pierre de Frédy, o Barão de Coubertin (1863-1937) (INTERNACIONAL OLYMPIC COMMITTEE, 2016). O projeto de restauração dos Jogos Olímpicos como na Grécia Helênica foi apresentado em 25 de novembro de 1892, na ocasião do 5° aniversário da União das Sociedades Francesas de Esportes Atléticos, que teve como paraninfo o Barão de Coubertin. Naquela ocasião, ele manifestou seu desejo e intenções com relação aos Jogos: “É preciso internacionalizar o esporte. É necessário organizar novos Jogos Olímpicos” (LÓPEZ, 1992, p.21). Foi a paixão pelo esporte e pela educação a grande motivação da vida do francês batizado Pierre de Frédy. Nascido em uma família aristocrata parisiense, em 1863. Abandonou os planos de uma carreira militar por suas convicções sobre pedagogia e seu interesse por história. Sem acreditar no poder das armas e pregando a educação, tomou para si o desafio de fazer uma grande reforma no sistema de ensino francês. Seu principal combustível seria sua idealização da prática de esportes e da cultura corporal nas civilizações gregas antigas (AMARO, 2015). Coubertin começou por Paris. Primeiro, criou a liga de educação física francesa. Ainda na sua busca da educação pelo esporte, ele fez uma viagem aos Estados Unidos, onde ficou por quatro meses. Lá, conheceu um grande aliado, William de Sloane. O historiador/professor de línguas acreditou no sonho de Pierre, e como um dos maiores entusiastas do olimpismo fundou o Comitê Olímpico Americano (COUSINEAU, 2004). Assim, em junho de 1894, na Sorbonne, em Paris, diante de uma plateia que reunia aproximadamente duas mil pessoas, das quais 79 representavam sociedades esportivas e universidades de 13 nações, teve início o congresso esportivo-cultural, no qual Coubertin apresentou a proposta de recriação dos Jogos Olímpicos. Foi criado então um Comitê Olímpico Internacional (COI), formado por 14 membros. O presidente era o grego Dimitrios Bikelas, delegado da Sociedade Pan-Helênica de Ginástica. Coubertin assumiu a secretaria geral. Esse comitê se reuniu para definir aquilo que ainda hoje constitui a base da Carta Olímpica. (COUBERTIN, 2000). A partir da carta olímpica, nasceu o que chamamos de Olimpismo que não era um sistema de tipo institucional, mas encarnava uma postura ética do indivíduo e, a partir dele, de toda a humanidade. Dessa forma essa Educação Olímpica repousa ao mesmo tempo sobre ‘o culto ao esforço físico e o culto à harmonia - no gosto, portanto, pelo excesso em justaposição à moderação’. Certa vez, em 1918, Coubertin respondeu com a seguinte definição sobre o que era a Educação Olímpica: “É a religião da energia, o cultivo de intensa vontade desenvolvido através da prática de esportes masculinos, com base na higiene adequada e espírito público, rodeado de arte e pensamento” (COUBERTIN, 2000, p.493). Podemos verificar que a Educação Olímpica tenta prover uma educação universal ou desenvolvimento do indivíduo humano como um todo, em contraste com a educação cada vez mais especializada. Consequentemente, a Educação Olímpica somente pode se basear nos valores fundamentais da personalidade humana (MÜLLER, 2009, p.349). A Educação Olímpica de Pierre de Coubertin se multiplicou num legado internacional que foi muito além dos países e suas culturas, abrangendo a humanidade, envolvendo todos os tipos de pessoas e suas instituições. O legado de Coubertin pode ser observado no IOC Charter (Carta do COI) em vigor desde 2007. Essa carta faz várias referências ao conteúdo e à forma de Educação Olímpica tais como (GODOY, 2002): a combinação de esporte com cultura e a educação como pedra fundamental do Olimpismo na introdução do documento; o objetivo do Movimento Olímpico é contribuir para a construção de um mundo melhor e repleto de paz, especialmente através da educação pelo esporte; o COI tem compromisso com a ética esportiva e em particular com o fair play e para isso dá apoio à IOA e outras instituições dedicadas à ‘Educação Olímpica’. A carta do COI obriga os Comitês Olímpicos Nacionais a promover o Olimpismo em todas as áreas da educação, por exemplo, adotar iniciativas independentes para ‘Educação Olímpica’ através das Academias Olímpicas Nacionais. 3. SEDES DOS JOGOS OLÍMPICOS Estaremos descrevendo abaixo através de uma análise sucinta os acontecimentos mais importantes das olimpíadas modernas de 1896 a 2016, com intuito de descrever o que foi cada uma das olimpíadas (HE, 2009). Os I Jogos Olímpicos da Era Moderna foram realizados em 1896, em Atenas, na Grécia, e contaram com a participação de 14 países e 241 atletas (LOUREIRO; CARNEIRO, 2010). As principais competições foram sediadas no Estádio Olímpico de Atenas, réplica dos antigos estádios gregos. Foi uma festa esportiva improvisada devido aos poucos recursos da época. Foram disputadas provas de atletismo, esgrima, luta livre, ginástica, halterofilismo, ciclismo, natação (realizadas em mar aberto – Baía de Zea) e tênis (FERREIRA, 2010). O primeiro medalhista de ouro da história dos Jogos foi o americano James Connoly, no salto triplo, que só teve seu ouro contabilizado no quadro de medalhas anos mais tarde, pois os vencedores, em Atenas, eram premiados com um diploma, uma coroa de ramos de oliveira e uma medalha de prata; osegundo colocado ganhava um diploma, uma coroa de louros e uma medalha de bronze; já o terceiro e os demais atletas ganhavam apenas uma medalha comemorativa (BARRETO; FREITAS, 2008). Na segunda edição dos jogos, em Paris, no ano de 1900, participaram 24 países com 997 atletas, destes, 22 mulheres (LOUREIRO; CARNEIRO, 2010). O Barão de Coubertin teve um desgosto em seu país, pois contra sua vontade, as mulheres foram admitidas nos Jogos. As francesas, Madame Brohy e Madame Onier, tiveram a honra de ser as primeiras mulheres a competir, em uma partida de críquete. A primeira campeã olímpica foi um inglesa, a tenista Charlotte Cooper. Os Jogos de 1900 ficaram marcados também pela insatisfação com a organização e pela oficialização de alguns resultados questionáveis (BARRETO; FREITAS, 2008). Os III Jogos Olímpicos ocorreram pela primeira vez na América do Norte, em Saint Louis, nos Estados Unidos, em 1904. Participaram 651 atletas, contando com apenas seis mulheres, de 12 países (LOUREIRO; CARNEIRO, 2010). Esses números foram sensivelmente inferiores aos da Olimpíada anterior em razão das dificuldades de mandar equipes para o outro lado do Atlântico, tomando como referência a Europa. Apenas 42 atletas não eram norte-americanos e pela primeira vez africanos participaram dos Jogos. O motivo é pitoresco, pois ambos os atletas (Len Tau e Jan Mashiani) estavam nos Estados Unidos para participar de uma exposição e resolveram competir na maratona. Em 1906, por questões de interesses políticos, a Grécia organizou uma Olimpíada de forma não oficial. O evento não teve destaque internacional, sendo que muitos países não estiveram presentes. Neste evento, fez parte um esporte muito curioso: o arremesso de pedras (BARRETO; FREITAS, 2008). Os IV Jogos Olímpicos tiveram como sede a cidade de Londres, em 1908. Foram partícipes 22 países e 2.008 atletas, incluindo 37 mulheres (LOUREIRO; CARNEIRO, 2010). Embora houvesse muita chuva durante a maior parte das competições, como também intermináveis discussões sobre os seus resultados, ainda assim a festa desses jogos superou as Olimpíadas anteriores a estes. Os atletas passaram a receber medalhas verdadeiramente em ouro, prata e bronze. A cerimônia de abertura teve o desfile das delegações e a maratona cresceu em distância passando a ter os atuais 42.195m (BARRETO; FREITAS, 2008). Em 1912, em Estocolmo, na Suécia, aconteceram os V Jogos Olímpicos da Era Moderna, que contou com a participação de 28 países e 2.407 atletas, destes, 48 mulheres (LOUREIRO; CARNEIRO, 2010). Foram os mais bem organizados até então. Os suecos souberam como divulgá-los e cuidaram de todos os detalhes técnicos necessários ao êxito de cada prova. O boxe esteve ausente, pois a lei sueca proibia a prática do esporte no país (BENEVIDES, 2010). Na maratona, foi registrada a primeira morte de um atleta (BARRETO; FREITAS, 2008). Em 1916, as Olimpíadas deveriam ocorrer na Alemanha. Porém, em função da Primeira Guerra Mundial, os VI Jogos Olímpicos foram cancelados. Pela primeira vez a bandeira olímpica foi hasteada, isso ocorreu na sétima edição dos jogos, na cidade de Antuérpia, na Bélgica, em 1920. Participaram 29 países e 2.626 atletas, incluindo 65 mulheres. (LOUREIRO; CARNEIRO, 2010). O juramento olímpico passou a fazer parte da cerimônia de abertura. Foi levado em conta que a Europa acabava de sair de uma guerra, os jogos tiveram êxito. Curiosamente, na Antuérpia, o tiro ao pombo também fez parte do quadro de jogos olímpicos. No ciclismo, a prova de estrada contou com um adversário inesperado: o trem, pois em seu percurso tinha uma passagem pela linha ferroviária (BARRETO; FREITAS, 2008). Os VIII Jogos Olímpicos foram sediados novamente em Paris, em 1924. Um total de 44 países e 3.089 atletas, destes, 135 mulheres, participaram dos jogos (LOUREIRO; CARNEIRO, 2010). Dessa vez os franceses deram ao acontecimento o destaque que ele merecia, redimindo-se da má organização de 1900. O tênis foi excluído do programa olímpico em razão de seu processo de profissionalização (BENEVIDES, 2010). O lema olímpico ‘Citius, Altius, Fortius’ (mais rápido, mais alto e mais forte) foi proposto por Pierre de Coubertin em 1894. Porém, o lema só foi assumido oficialmente nesta edição dos jogos (BARRETO; FREITAS, 2008). Os IX Jogos Olímpicos, em Amsterdã, na Holanda, realizado em 1928, apresentaram 46 países e 2.883 atletas participantes, incluindo 277 mulheres (LOUREIRO; CARNEIRO, 2010). Nunca até então, as mulheres tinham representado papel tão importante nas competições. Foi a primeira edição dos Jogos organizada totalmente sem a participação do Barão de Coubertin. A seleção uruguaia de futebol voltou a brilhar, conquistando o bicampeonato ao vencer a Argentina. As provas de atletismo foram as que mais atraíram a atenção do público, mas vale registrar que os holandeses organizaram os jogos com dificuldades, dispondo de poucos recursos financeiros (BARRETO; FREITAS, 2008). Em 1932, os jogos, em sua décima edição, voltam a cruzar o Atlântico e se realizam em Los Angeles, Estados Unidos. Os jogos foram compostos por 37 países e 1.332 atletas participantes, destacando-se 126 mulheres (LOUREIRO; CARNEIRO, 2010). O mesmo problema de 1904, a dificuldade que os europeus tinham para mandar equipes numerosas à América, voltou a contribuir para que o número de inscrições fosse baixo. Todavia, o êxito técnico foi indiscutível. Os norte-americanos remodelaram seu belo estádio - o Coliseu de Los Angeles - especialmente para a ocasião. Pela primeira vez, uma Vila Olímpica foi construída para uma edição dos Jogos (BARRETO; FREITAS, 2008). Os XI Jogos Olímpicos foram realizados na cidade de Berlim, Alemanha, em 1936, em pleno regime nazista. Participaram 49 países e 3.963 atletas, incluindo 331 mulheres (LOUREIRO; CARNEIRO, 2010). Os jogos foram transformados num gigantesco instrumento de propaganda do governo nazista, com o próprio Hitler acompanhando de perto todos os detalhes da organização. Movido pela ideia de superioridade da raça ariana, o chanceler alemão, não ficou para a premiação do atleta norte- americano negro Jesse Owens, que ganhou quatro medalhas de ouro. O basquete masculino estreou no programa olímpico com jogos disputados em quadra de tênis adaptada (BENEVIDES, 2010). Os alemães superaram em tudo os organizadores anteriores, mas não colheram os melhores resultados, como esperavam (BARRETO; FREITAS, 2008). Pelo fato do mundo estar mergulhado na II Guerra Mundial, não ocorreram jogos nos anos de 1940 e 1944, seriam as edições XII e XIII da competição. Os XIV Jogos Olímpicos, realizados pela segunda vez em Londres, no ano de 1948, foram compostos por 59 países e 4.104 atletas participantes, destes 390 mulheres. (LOUREIRO; CARNEIRO, 2010). Na opinião da maioria dos observadores, os efeitos da guerra ainda eram muito acentuados para que uma competição esportiva de caráter mundial se realizasse com êxito, apesar disso, os ingleses esmeraram-se na organização. O bloco de apoio do atletismo, no momento da largada, foi introduzido. A primeira deserção de atleta olímpico para o ocidente foi da tcheca Marie Provaznikova, que alegaria falta de liberdade expressão em seu país (BARRETO; FREITAS, 2008). A cidade de Helsinque, na Finlândia, em 1952 teve a honra de sediar os XV Jogos Olímpicos, com a presença de 69 países e 4.955 atletas participantes, destes, 519 mulheres (LOUREIRO; CARNEIRO, 2010). Organização perfeita, assistência técnica moderna, hospitalidade e muita ordem caracterizam o trabalho dos finlandeses. Os jogos marcaram o ingresso da URSS ao
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