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Responsabilidade civil
Profª camila arruda
Aula 8
Responsabilidade Civil nos Transportes. Transportes: Oneroso, Gratuito, Benévolo e de Interesse. 
Empresas de Transportes Públicos
Responsabilidade Civil dos Construtores e Incorporadores. Socialização dos Riscos e a Questão Securitária. 
Responsabilidades Civil das Instituições Financeiras, Bancárias e Securitárias
Responsabilidade Civil do Transportador.
O contrato de transporte, disciplinado pelo artigo 730 do Código Civil, pode ser definido como negócio jurídico bilateral, consensual e oneroso, pelo qual uma das partes (transportador ou condutor) se obriga a, mediante remuneração, transportar pessoa ou coisa a um destino previamente convencionado.
A definição legal deflui de duas espécies:
Transporte de coisas (arts. 743 a 756)
Transporte de pessoas (arts. 734 a 742).
O preço pago ao transportador recebe a denominação de “frete ou porte” no transporte de coisas, e de “ valor de passagem” no transporte de passageiros.
Transporte de coisas ou mercadorias
Os direitos e obrigações das partes envolvidas no transporte de mercadorias:
Obrigações do remetente: 
a) entrega da mercadoria em condições de envio;
pagamento do preço convencionado, ressalvada as hipóteses de este ser adimplido pelo seu destinatário;
 acondicionamento de mercadorias; 
declaração do seu valor e de sua natureza; 
recolhimento tributário; 
f) circulação no país somente de mercadorias permitidas.
2. Obrigações do transportador: 
Receber a coisa a ser transportada no dia, hora, local e modo convencionados;
Empregar total diligência no transporte de mercadorias posta sob sua custódia;
Seguir o itinerário ajustado, ressalvando as hipóteses de caso fortuito e força maior;
Entregar a mercadoria aos destinatários da mesma, mediante apresentação de recibo da qualidade de recebedor (conhecimento de transporte); 
Respeito as normas legais e somente expedir mercadorias de trânsito admitido no Brasil.
O conhecimento de transporte é documento derivado do próprio transporte, derivado do próprio contrato, que contém necessários dados de identificação da mercadoria (art. 744 do CC/2002).
A responsabilidade do transportador é de natureza contratual, uma vez que o transportador assume a obrigação, arcando com o dever de chegar até o destino, devidamente protegida e em perfeito estado de conservação.
A responsabilidade é limitada ao valor declarado da mercadoria.
Responsabilidade no transporte de pessoas
É a responsabilidade aplicada em caso de danos causado aos passageiros.
O transportador assume a obrigação do resultado, que tem valor imensurável por ter por objeto a vida.
Em todo o transporte de pessoas há, implicitamente, uma cláusula de segurança e de incolumidade.
Em decorrência do principio da função social do contrato e de regra ética de boa-fé objetiva (arts. 421 e 422 do CC) que o transportador tem o dever de levar o passageiro em segurança , até o local de destino.
A quebra dessa obrigação implícita no contrato impõe o reconhecimento da responsabilidade objetiva do transportador, que deverá indenizar a vítima independentemente de ter atuado ou não por dolo ou culpa. 
O princípio já aplicado anteriormente, veio previsto no CDC, que prevê a responsabilidade objetiva do fornecedor do serviço (art. 14), facilitando a compensação da vítima.
O serviço de transporte de passageiros- terrestre, marítimo ou aeronáutico é considerado indiscutivelmente uma atividade de risco, para que o Código Civil prevê a aplicação de regras de responsabilidade sem culpa da responsabilidade sem culpa, nos termos do artigo 927, parágrafo único.
A disciplina especifica do transporte de pessoas é feita a partir do artigo 734 do CC, que harmonizada com a Lei do Consumidor, prevê que:
		 Art. 734. O transportador responde pelos danos 	causados às 	pessoas transportadas 	e suas 	bagagens, salvo motivo de força 	maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da 	responsabilidade.
		Parágrafo único. É lícito ao transportador exigir a 	declaração do 		valor da bagagem a fim de fixar o 	limite da indenização.
A obrigação de segurança é tão importante que somente será ilidida em situações excepcionais de quebra de nexo causal, não se eximindo o transportador pelo fato de terceiro, nos termos da Súmula 187 do STF: 
		“A responsabilidade contratual do transportador, 		pelo acidente com passageiros, não é ilidida por 		culpa de terceiro, contra a qual tem ação 			regressiva”.
Tal preceito vem agora reproduzido pelo art. 735 CC:
	
	 Art. 735. A responsabilidade contratual do 	transportador por acidente com o 	passageiro não é 	elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação 	regressiva.
Somente o fortuito externo tem a capacidade de eximir o transportador, o mesmo não acontecendo no caso de fortuito interno.
Na visão de Carlos Alberto Gonçalves:
	“Somente o fortuito externo, isto é, a causa ligada à 	natureza, estranha a pessoa do agente e à máquina, exclui a 	responsabilidade deste em acidente de veículos. O fortuito 	interno, não. Assim, tem-se decidido que o estouro de 	pneus, 	a quebra da barra de direção, o rompimento do 	“burrinho” dos 	freios e outros defeitos mecânicos em 	veículos não 	afastam a responsabilidade do condutor, 	porque previsíveis e 	ligados a máquina.”
	
Em relação a assalto em transporte público, seria injusto a empresa de transporte ter que indenizar os passageiros pelo roubo ocorrido, do qual também foi vítima, ainda mais em se considerando ser dever do Estado garantir a todos a segurança pública, conforme estabelecido constitucionalmente.
Na visão de Gonçalves: o assalto a mão armada no ônibus, embora existam meios de evitá-lo, equipara-se a caso fortuito, assim considerado com imprevisível. 
Esse fato isenta a responsabilidade do transportador, ao fundamento do Estado dever prestar segurança pública (art. 144 da CF).
A responsabilidade do transporte em face do transporte de pedestres.
Muitas vezes, os acidentes podem atingir não só os passageiros, mas também pode atingir os transeuntes. 
Convém enfatizar que que os transeuntes não tem relação contratual com a empresa transportadora.
Transporte gratuito
Somente pode ser considerado transporte de cortesia, a carona desinteressada, por amizade ou sentimento íntimo.
As normas transporte gratuito foram estabelecidos no artigo 736 do CC:
	“Art. 736. Não se subordina às normas do contrato de transporte o feito gratuitamente, por amizade ou cortesia.
	Parágrafo único. Não se considera gratuito o transporte quando, embora feito sem remuneração, o transportador auferir vantagens indiretas.”
Pelas normas podemos analisar duas situações juridicamente distintas:
a) Transporte meramente gratuito ou de mera cortesia: havendo acidente e dano causado ao tomador da carona, entendendo que deve ser aplicado o sistema de regras do código civil, ou seja, pelo artigo 186, o juiz deve perquerir a culpa do condutor para efeito de impor-lhe a obrigação de indenizar.
b) Transporte interessado, sem remuneração direta (§ único do artigo 736): o condutor, embora não remunerado, experimenta alguma vantagem indireta, à custa do transporte do conduzido.
O transporte clandestino não recebe amparo legal, e qualquer acidente que venha a ocorrer em virtude do mesmo deverá ser juridicamente suportado pela vítima.
Se vier a óbito, não poderão seus parentes pleitear a indenização.
Transporte aeronáutico
Além de tratado no Código Aeronáutico (Lei 7565/86) , no CDC que alterou a matéria que foi tratada na Convenção de Varsóvia, que trata do transporte internacional de passageiros.
Em sendo atividade de risco, por consistir em um serviço de consumo, a responsabilidade do prestador é contratual, porém, objetiva.
A responsabilidade civil do transportador pelo atraso e pelo extravio de bagagens é regido pelo CDC, aplicando-se o princípio da responsabilidade objetiva, considerando-se abusiva a cláusula que tira a responsabilidade do prestador.
Responsabilidadecivil dos construtores e incorporadores
Na visão de Venosa:
“A responsabilidade dos arquitetos, engenheiros, empreiteiros e construtores em geral guarda certas particularidades em relação aos demais profissionais liberais”.
A atividade desse profissionais é considerada perigosa, embora sua responsabilidade seja subjetiva, nos termos do artigo 14, §4º do CDC.
A responsabilidade da empresa é considerada objetiva, por força do risco criado (art. 927, parágrafo único do CC 2002) e se atuar no mercado do consumo, é o próprio CDC artigos 12 e 18).
Contratos de empreitada, construção e incorporação imobiliária
O contrato de empreitada (arts. 610 a 626 do CC) é o negocio jurídico entre as partes (empreiteiro) assume, mediante o pagamento de um preço a obrigação de realizar obra de interesse de outra (dono da obra), utilizando materiais próprios (empreitada de materiais) ou apenas a força do trabalho (empreitada de lavor).
O empreiteiro realiza a obra de acordo com o projeto estabelecido e responsabiliza-se tecnicamente pela execução e pelos riscos.
No contrato por administração, o construtor se obriga apenas a realizar a obra, correndo os riscos do por conta do proprietário, ficando os custos por sua responsabilidade.
CONTRATO POR INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA:
O incorporador obriga-se a construir as unidades imobiliárias, que serão repassadas aos adquirentes, na medida que estes pagam o valor acordado.
Trata-se de figura jurídica complexa, que aproxima três pessoas:
O construtor;
O incorporador;
O adquirente; 
Muito comum haver intermediação de instituição financeira para o financiamento da obra. 
Responsabilidade civil das instituições financeiras
Podemos sistematizar a responsabilidade civil das instituições financeiras sob uma tríplice perspectiva:
Responsabilidade civil em face dos seus agentes;
Responsabilidade civil em face dos seus clientes e consumidores;
Responsabilidade civil em face de terceiros.
Responsabilidade civil em face dos seus clientes/consumidores
Não existe a dúvida de que o cliente bancário é um consumidor.
A responsabilidade do agente financeiro perante ele é de natureza contratual.
Ao conceder empréstimos a instituição é fornecedor de um produto que é o dinheiro.
Na visão de Pablo Stolze:
	“Se o contrato de empréstimo (que é um contrato de adesão) estabelecesse taxa elevação de juros diária, não estaríamos diante de cláusulas abusivas vedadas pelo CDC?”
Responsabilidade civil pelo pagamento de cheque falso
Atividade bancária é serviço de consumo, o dano causado ao cliente, desde que não favorecido pela atuação deste, há de ser indenizado segundo os princípios da responsabilidade civil objetiva, pelo próprio banco sacado, sem prejuízo do exercício do seu direito de regresso contra terceiro, culpado pela subtração do talonário.
Se houver provas que o cliente atuou culposamente, facilitando a subtração ou deixando de sustar o cheque, poderá a defesa alegar culpa exclusiva da vítima para eximir-se de indenizar.
Responsabilidade civil pelo furto e roubo dos bens depositados nos cofres públicos
Havendo subtração de valores ou bens, deverá a instituição suportar o prejuízo, considerando-se a responsabilidade objetiva, nos termos do CDC.
O banco é o depositário de tais valores, devendo empregar todos o esforços e meios para a sua guarda e conservação.
A grande dificuldade se dá na fixação do quantum indenizatório, nos casos de furto e roubo de bens depositados em cofres alugados, uma vez que o banco não tem acesso ao que é depositado no cofre, para efeitos de mensurar precisamente o valor devido.
O juiz baseia-se na prova testemunhal para determinar com a máxima precisão o valor da indenização devida.

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